Trevo de Quatro Patas escrita por Maremaid


Capítulo 7
Nicorella e o príncipe Raio de Sol


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente! Sextou e TDQP chegou!, uhu!

Só posso dizer uma coisa: preparem o coração rs
Boa leitura!



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Nico saiu da cama perto do meio-dia, ainda sentindo-se exausto. Ele mal pregou os olhos durante a madrugada e não foi por causa do temporal. O que tirou seu sono foi um certo rapaz loiro e muito bonito que morava do outro lado do corredor e que atendia pelo nome de Will Solace. 

Passou horas preso em um dilema: ir ou não ir ao parque de diversões? Por fim, parou de chover e ele tomou isso com um sinal que deveria ir. Esse seria o único jeito de descobrir quais eram as reais intenções de Will, se era apenas um convite simples entre vizinhos ou algo a mais.

Nico preparou uma refeição rápida e depois desceu com Cérbero — que parecia impaciente demais — para o seu passeio. Ele sabia que Will costumava sair para correr nos finais de semana, mas não o encontrou.

Ao voltar, ele sentou-se no sofá e tentou ler um manuscrito que deveria começar a traduzir na próxima semana, mas estava com tanto sono que dormiu ali mesmo. Acordou meio desnorteado e percebeu que já eram quase 5:30 da tarde. Droga, ele iria se atrasar! Levantou-se e foi correndo tomar banho.

Voltou para o quarto só de cueca e começou a remexer no guarda-roupa, jogando cabides e mais cabides de roupas em cima da cama. Espera, o que ele estava fazendo? Por que estava tão preocupado em encontrar a “roupa perfeita”? Talvez isso nem fosse um encontro! Deveria se arrumar do seu jeito habitual, como se ele não tivesse grandes expectativas para a noite. Sim, essa era definitivamente a melhor opção.

Então colocou uma camiseta preta de uma banda desconhecida que gostava, calça jeans preta rasgada nos joelhos e um de seus inúmeros All Star. Já estava saindo do quarto quando lembrou que poderia estar um pouco frio na volta, então voltou e pegou a sua jaqueta favorita, estilo aviador. Olhou para o celular e notou que faltavam poucos minutos para às 6 da tarde. Porcaria! Saiu correndo do quarto, quase tropeçando em Cérbero no caminho.

 — Ei, não faça bagunça enquanto eu estiver fora, ok? — Nico olhou de forma séria para ele. O filhote colocou a língua para fora e abanou o rabinho na sua melhor atuação de anjinho.

Pegou a carteira, as chaves e saiu apressado do apartamento. Chegou ao saguão ainda meio ofegante e olhou em volta, procurando pelo vizinho. Avistou Will perto das correspondências, falando com uma mãe e uma garotinha que, pelo que ele se lembrava, moravam no quinto andar. 

Pelos deuses, Will estava incrivelmente bonito hoje! Usava calça jeans de lavagem clara, camiseta laranja e All Star amarelo nos pés. Em qualquer outra pessoa, essa combinação — um pouco colorida demais para o gosto de Nico — pareceria simples, mas tudo ficava bem em Will. 

Foi então que Will olhou para o lado e viu Nico, deu um sorriso enorme e acenou. O garoto desviou o olhar, fingindo reparar num vaso de plantas perto da entrada, sentindo o rosto queimar. Seu vizinho despediu-se rapidamente das duas e veio na direção dele. 

— Oi — ele parou em frente de Nico. 

— Oi. — Nico tentou soar despreocupado, mas estava praticamente surtando por dentro. — Estou atrasado? 

— Relaxa, eu cheguei adiantado — ele sorriu. — Vamos?  

Nico assentiu e o seguiu para fora do prédio. Will parou em frente a uma Suzuki Hayabusa dourada. Se essa moto não chamasse atenção pelo tamanho, certamente chamaria pela cor.  

— Hm, pensei que você tinha um carro — Nico observou. Ele já tinha visto o vizinho algumas vezes com um carro vermelho. 

— Está na oficina — ele bufou, colocando o capacete. — A moto é do meu pai, ele ama dourado. 

Ah, agora tudo fazia sentido.

— Podemos ir no meu carro — sugeriu. Ter que passar vários minutos com o corpo de Will colado ao seu não parecia uma boa ideia no momento.

— Você limpou a areia de ontem? — Will estreitou os olhos para ele.

— Hm, não. — Ele havia esquecido totalmente de limpar o carro, até a caixa de transporte de Cérbero ainda estava lá.

— Eu sabia. — Will pegou o capacete reserva e estendeu em sua direção. — Aqui, pegue.

— Valeu — respondeu. Ele enfiou o capacete na cabeça, sem saber ao certo como usar aquilo.

— Di Angelo, você nunca usou um capacete antes? — Will riu, divertindo-se com a cena de Nico tentando ajeitar o capacete no pequeno espelho da moto. — A cinta jugular não pode ficar larga.

— Cinta... O quê? — ele parou o que estava fazendo e olhou para o vizinho.

— Isso — ele apontou para a tira que ficava presa no capacete. — Tem que regular para ficar certa no seu queixo. Assim. 

Ele roçou os dedos no pescoço de Nico, enquanto ajeitava a regulagem da cinta e afivelou em volta do queixo do garoto, que não se mexeu em nenhum momento. Só quando Will se afastou é que Nico soltou o ar que ele nem sabia que estava prendendo. 

Will sentou na moto e colocou a chave na ignição.

— Suba — ele deu um tapinha no banco, apontando o lugar atrás dele.  

Certo, Nico podia fazer isso! Bastava manter certa distância entre eles. 

— Ok... — Nico sentou-se, tentando ficar o mais longe possível. O que era bem difícil, considerando o pouco espaço do assento.  

— Caramba, eu não vou te morder! — Will olhou por cima do ombro e deixou escapar uma risadinha. — Segure-se direito ou você vai cair. 

Ele puxou as mãos de Nico e as envolveu em volta da sua cintura, deixando o garoto praticamente colado nas suas costas. Assim como naquele dia que estava doente, o perfume de Will invadiu novamente suas narinas. Agora ele conseguia sentir o cheiro melhor e percebeu que era algo aromático e meio apimentado. Fechou os olhos por alguns segundos e se concentrou… folhas de louro?! A fragrância era reconfortante, como um dia quente e ensolarado, mesmo que ele sempre tivesse preferido o oposto disso. Até agora

— Melhor assim — a voz de Will saiu um pouco engasgada. Nico pensou que deveria ser por causa do capacete, pois não conseguia ver o seu rosto agora.  — Vamos! 

Will deu partida e Nico fechou os olhos, tentando não pensar muito em como ele conseguia  sentir o abdômen definido do vizinho por baixo da camiseta, conforme seu peito subia e descia. 

***

Já estava começando a escurecer quando Will desligou a moto e parou no estacionamento que ficava na entrada do parque. Nico seguiu o vizinho pela trilha de cascalhos, tentando ajeitar os fios no reflexo da tela do seu celular. Seu cabelo sempre escolhia os piores dias para se rebelar contra ele!  

Eles entraram na fila da bilheteira.  

— Em qual brinquedo vamos primeiro? — Will virou-se, ficando de frente para Nico.  

Nico não era do tipo que ia muito a parque de diversões. Havia ido algumas vezes com as irmãs quando era mais novo. E foi uma vez com Reyna e uns colegas da faculdade também. Mas era a primeira vez que ele ia sozinho com outro garoto, o que fazia aquilo parecer ainda mais com um encontro. Mesmo que ele tivesse quase certeza que não era esse o caso no momento.  

— Não sei, você pode escolher — ele deu de ombros e então apontou para frente com a cabeça. — A fila está andando. 

Will virou-se novamente para frente e deu alguns passos, colocou as mãos no bolso da calça e ficou chutando a terra no chão, parecendo impaciente. Nico conteve um sorriso pensando que ele parecia uma criança que nunca tinha ido ao parque de diversões antes. 

Eles compraram vários bilhetes e Nico pagou por metade deles, mesmo Will dizendo que não precisava porque tinha o convidado. 

— Já sei por onde vamos começar! — Will estalou os dedos, assim que eles entraram.

Antes que Nico pudesse perguntar algo, Will segurou sua mão, o puxando em direção à montanha-russa. Parecia um ato tão simples, mas foi o suficiente para deixar o coração de Nico acelerado. 

Eles mal haviam saído da montanha-russa quando Will anunciou: 

— Ok, o próximo será o navio pirata! — E então arrastou ele novamente.

Em seguida, eles foram aos balanços voadores, carrossel — que Nico ficou reclamando estar muito velho para isso, mas foi mesmo assim —, no elevador e em outra montanha-russa. 

— Foi tão divertido! — Will ainda estava eufórico quando eles saíram do último brinquedo. 

— Achei bem mais ou menos — Nico coçou o ouvido direito com o mindinho, que ainda doía um pouco após todos os gritos que ouviu.

— Céus, você é difícil de agradar, hein? — ele revirou os olhos, mas estava com um sorrisinho no rosto, como se estivesse divertindo-se em implicar com o vizinho. — Você vai escolher o próximo então.

— Ok. Que tal... — Olhou em volta, procurando algo interessante. — O trem-fantasma?

— Trem-fantasma?! — Will engoliu em seco. Ele estava tentando disfarçar, mas dava para ver que não havia gostado muito da sugestão.

— Está com medo, Solace? — zombou. 

— Claro que não! — o vizinho respondeu com a voz mais elevada. — Vamos lá!

Will foi marchando na frente, fingindo uma coragem que ele claramente não tinha. Mesmo que o nome do brinquedo tivesse a palavra “trem”, os vagões eram separados entre si e, em cada um, só cabia duas pessoas. O espaço era pequeno, então toda vez que Will respirava ou se mexia, seu braço roçava no de Nico — que não estava usando mais a jaqueta —, fazendo com que os pelos do seu braço ficassem arrepiados.

O brinquedo começou a andar e Will continuou fingindo que estava bem, isso até o primeiro monstro aparecer. Ele deu um grito e agarrou o braço de Nico. O garoto não sabia se ria do jeito exagerado dele ou entrava em pânico pelo contato repentino. 

— Ah! — Will percebeu onde suas mãos estavam e afastou-se rapidamente, se recompondo. — Desculpa.

— Tudo bem... — murmurou em resposta.

O vagão fez uma curva para a direita e uma bruxa saltou na frente deles dando uma gargalhada maléfica. Nico olhou para Will e, mesmo no escuro, percebeu que ele estava com a mão na boca, tentando não gritar. 

Como se soubesse que estava sendo observado, Will virou a cabeça, encarando Nico. Ele desviou o olhar rapidamente. 

— Posso segurar sua mão? — Will murmurou no escuro, deslizando a mão pela barra e encostando o dedo mindinho na mão de Nico.

“Isso não quer dizer nada, ele só está com medo e precisa de contato humano. Não se iluda, não se iluda!”, Nico ficou repetindo para si mesmo mentalmente.

— Ok. — Ele disse por fim, virando a palma da mão para cima, deixando que o vizinho a segurasse. Mesmo que Will estivesse com medo, sua mão continuava quente.

Sempre que algum monstro aparecia, Will fechava os olhos e apertava a mão de Nico com firmeza, parecendo ter medo que ele pudesse escapar. Seus ombros se sacudiam levemente também, mas ele não gritou mais.

“Queria que o trajeto fosse mais longo”, Nico pensou quando eles chegaram à última curva. Mas logo se sentiu um pouco mal por estar se aproveitando de um momento de fraqueza do outro.

O último monstro apareceu, Will apertou sua mão mais uma vez e o brinquedo começou a perder velocidade, parando na estação. As pessoas começaram a sair, mas Will não se mexeu, ainda estava segurando a mão de Nico e parecendo em transe. 

— Ei, Solace. Você está bem? — Nico bateu o seu braço de leve no braço do outro, tentando chamar sua atenção. — Precisamos sair. 

Will piscou com força, parecendo voltar a si.

— Sim, graças a você — ele de um pequeno sorriso, apertou a mão de Nico gentilmente antes de soltá-la e saiu do brinquedo. 

Nico olhou para sua mão vazia e a fechou em punho, não conseguindo evitar se sentir um pouco feliz por dentro. Ele levantou-se e apressou-se em sair do brinquedo antes que levasse uma bronca de algum funcionário.

— Eu preciso urgentemente de açúcar! — Will anunciou assim que Nico o alcançou no lado de fora e então saiu correndo na direção da barraca de algodão-doce.

“Ele só tem tamanho, é uma criança por dentro”. Nico revirou os olhos, mas tinha um leve sorriso no rosto enquanto ia atrás dele. 

Um grupo de garotas — que deveriam estar no Ensino Médio ainda — pararam atrás deles na fila. Elas estavam dando risadinhas e cochichando, apontado para Will. Nico escutou uma das garotas falar: “Uau, ele é muito gato!”. Elas não estavam erradas, Will tinha um porte atlético de dar inveja e era tão lindo quanto um deus grego. Mas, mesmo assim, Nico não gostou do jeito que elas olhavam para seu vizinho, quase o despindo com os olhos. Se pudesse fazer o chão desmoronar sob os pés delas, elas já estariam enterradas até o pescoço. 

Pelos deuses! Nico estava parecendo uma pessoa incrivelmente ciumenta agora, não é? Ele não tinha nenhum direito de pensar assim, afinal, ele e Will não tinham nada! Ao lembrar-se disso, ele sentiu um aperto no coração.

— O que foi?  — Will semicerrou os olhos e ofereceu algodão-doce para ele. — Você está estranho.

Nico não sabia ao certo se Will havia escutado a conversa das garotas.  Afinal, um cara bonito como ele deveria receber elogios com tanta frequência que nem dava grande importância para isso. 

— Sou sempre estranho. — Nico resmungou, pegando um pedaço generoso de algodão-doce. Ele não gostava muito de doces, mas precisava de açúcar também no momento. 

— Eu não te acho estranho.

Nico olhou para ele, surpreso. Enquanto pensava em algo para responder, Will mudou de assunto:

— Quer ir lá?  — ele apontou para as barracas onde ficavam os jogos de pontaria.

— Sou péssimo de mira — Nico deixou escapar com um suspiro. 

— Relaxa, posso ganhar qualquer prêmio que você quiser. 

— Pare de se gabar — revirou os olhos. 

— Não estou! — Will levantou as mãos. — Eu era do clube de arco e flecha na faculdade. Consigo acertar um alvo até de olhos fechados. 

— Ok, agora você está mesmo se gabando. 

— Talvez só um pouquinho — ele admitiu, com um sorriso travesso no rosto e correu para a barraca. 

Bem, Will não estava exagerando: ele era realmente muito bom nisso.

— Quer jogar? — Will ofereceu o arco para Nico, após acertar novamente a flecha bem no centro do alvo, o que significava 10 pontos, a maior pontuação do jogo. 

— Não, valeu.   

— Você está desistindo antes mesmo de tentar! 

Nico bufou, mas pegou o arco, segurando meio desajeitadamente. Das suas três tentativas, apenas uma acertou a área externa do alvo, resultando em 2 pontos.

— Viu? Eu te disse que era ruim. 

Will retirou um bilhete do bolso e colocou sobre a mesa, dizendo que queria mais uma jogada.

— Primeiramente, você nem está segurando o arco direito — Will posicionou-se ao lado dele, ajeitando os dedos de Nico da maneira correta. — Em segundo lugar…

Will continuou falando, mas Nico não estava mais prestando atenção. Ele só conseguia pensar em como o rapaz estava próximo dele, na sua respiração fazendo cócegas no seu pescoço e em suas mãos quentes e macias cobrindo as suas. 

—… Entendeu? 

— Hã?! — ele perguntou distraído. 

— Nico, você ouviu alguma coisa do que eu disse? — Will o encarou com um olhar desconfiado. 

— Claro — falou com firmeza. 

Mentiroso. — Will curvou os lábios para cima em um sorrisinho irritante. — Vou te mostrar como se faz. 

Will passou um braço em volta de Nico e segurou a mão que estava o arco; a outra, colocou na mão de Nico que segurava a corda. Se antes achava que eles já estavam próximos, agora os dois estavam praticamente fundidos um no outro.

Nico fechou os olhos por um momento e murmurou um palavrão quase inaudível. Will estava tão concentrado que pareceu não notar nada. Em seguida, a corda foi puxada para trás e a flecha foi disparada, acertando o meio do alvo. O processo foi repetido mais duas vezes, fazendo Nico acertar três disparos perfeitos. Quer dizer, Will acertou, ele foi apenas um fantoche guiado por aquelas mãos.  

— Isso! — Will comemorou, sorrindo. Quando ele virou o rosto a fim de olhar para Nico, seus narizes se encostaram levemente um no outro. Droga, eles estavam perto demais! 

O sorriso no rosto de Will havia sumido, ele o encarava fixamente com aqueles grandes olhos azul-claros e a boca entreaberta. Nico quase poderia sentir o ar saindo dos seus pulmões por causa do jeito que Will olhava para ele.

— Que fofos! — disse a funcionária da barraca, que presenciou a cena com a mão no peito, parecendo emocionada. 

Estavam tão concentrados olhando um para o outro naquele momento que se assustaram com o comentário e se afastaram automaticamente. Nico quase deixou o arco cair no chão, sentindo o rosto queimar. Will desviou o olhar, mas suas orelhas estavam vermelhas. 

—  Não precisam ficar com vergonha! Estamos no século XXI, ninguém vai punir vocês dois por ser amarem  — A mulher continuou, achando graça no jeito deles. 

— Nós não... — Nico balançou as mãos, tentando negar. 

A funcionária da barraca franziu o cenho, confusa, olhando para o garoto de preto.

— Por acaso, você está tentando me dizer que vocês não são um casal? — ela parecia um pouco decepcionada.  

— Hã, eu… — ele parou, não sabendo ao certo o que dizer.

“Infelizmente, nós não temos nada, mas bem que eu queria”, Nico pensou tristemente.  

— Na verdade, este é o nosso primeiro encontro. — Will coçou a nuca, parecendo meio sem jeito.

Nico arregalou os olhos, totalmente em choque. Encontro? Ele tinha ouvido corretamente? 

— A-há, eu sabia! Estou muitos anos trabalhando aqui, sei reconhecer um possível casal quando eu vejo — ela sorriu. —  Ah, pode escolher o seu prêmio. Qualquer um!

— Ah, não! — Will negou, com um sorriso simpático no rosto. — Não joguei o suficiente para ganhar algo grande. 

— Vou juntar o jogo de vocês dois, mas… — ela inclinou-se para frente e colocou o dedo indicador nos lábios, pedindo segredo. — Se alguém perguntar, eu não fiz isso. 

— Obrigado, moça! Você é muito gentil. 

— “Moça”? — Ela mexeu nos cabelos pretos que estavam começando a ficar grisalhos, parecendo tímida de repente. Will conseguia causar esse efeito até nas mulheres mais velhas. — Nossa, me sinto dez anos mais nova depois disso!  

Will poderia ter escolhido qualquer prêmio na barraca, mas optou por um cachorro de pelúcia pequeno. 

— Olha, parece o Cérbero! — ele chacoalhou na frente do rosto de Nico, parecendo extremamente feliz. 

Nico, que até então estava quieto ouvindo a conversa de Will com a funcionária, murmurou um “sim” e segurou o bicho de pelúcia com firmeza contra o peito, ainda tentando se recuperar do choque ao ouvir a palavra “encontro”.  

— Você quer ir à roda-gigante? — Will perguntou. — Não tem muita fila agora. 

Nico apenas balançou a cabeça em concordância. Se fosse depender das suas pernas trêmulas, provavelmente teria ficado plantado ali por mais um bom tempo, mas Will segurou seu pulso levemente, o guiando até o próximo brinquedo.

Quando eles estavam na fila para a roda-gigante, Nico cruzou os braços, fazendo com que o  “Cérbero de pelúcia” ficasse esmagado contra o seu peito. 

— Ei, Solace — ele o chamou.

— Sim? — Will, que estava na sua frente na fila, respondeu sem se virar. Ele parecia bem concentrado enquanto contava quantas pessoas estavam na frente deles. 

Mesmo assim, Nico respirou fundo e disse: 

— Você não deveria ter mentido para a funcionária da barraca. 

Will parou de contar e inclinou-se um pouco na direção de Nico para que só ele pudesse ouvir. 

— Quem disse que eu menti? — ele deu uma piscadinha e virou-se novamente para frente, continuando a sua contagem como se nada tivesse acontecido.

Espera, agora Nico estava confuso. Será que eles estavam falando da mesma coisa? Will havia elogiado a mulher quando a chamou de moça, mas também falou que era o primeiro encontro deles. Afinal, sobre qual dessas duas coisas ele estava se referindo ao dizer que não mentiu?  

Nico estava prestes a confirmar isso, mas o funcionário chamou os próximos na fila e  isso incluía os dois. Eles sentaram em silêncio e puxaram a trava de segurança. 

Quando o brinquedo começou a subir, Nico sentiu o estômago um pouco embrulhado. E ele sabia que não tinha nada a ver com os vários brinquedos que tinha ido antes. A culpa era toda de Will, era seu vizinho quem fazia Nico ter essas sensações estranhas e calafrios na espinha. E ele não gostava de se sentir assim, como se não tivesse mais controle dos próprios sentimentos. Estar apaixonado poderia ser uma droga.

— Uau! — Will exclamou, olhando de forma fascinada para os lados. — Dá para ver o parque todo daqui!

Nico não disse nada. Ele estava tão ocupado com seus devaneios que nem ouviu. Will deslizou no banco, fazendo seus ombros e braços se encostarem. 

— Nico? — Will tocou a mão dele, fazendo o outro se sobressaltar. 

— Hm? O quê?! — ele olhou confuso para Will.

 — Você está quieto demais. Está sentindo tontura, falta de ar ou algo do tipo? 

Nico se controlou para não revirar os olhos. Will estava o tratando como um paciente de novo? Justo nesse momento? Inacreditável!  

— Estou bem, não tenho medo de altura — respondeu apenas.

— Sério? Ah, que bom! — Ele sorriu, parecendo aliviado. — É que sua mão está tão gelada. Sabe o que dizem? "Mãos frias, coração quente". 

Sim, Nico conhecia esse ditado. Bianca sempre falava isso a ele, mas ele não acreditava nessas baboseiras. E ia dizer isso ao vizinho quando reparou que Will ainda estava com a mão sobre a dele na barra. 

— Só estou com frio! — ele retirou a mão e empurrou o cachorro de pelúcia no peito de Will. — Segure isso! — e então tirou a jaqueta da cintura, tentando vesti-la desajeitadamente no pouco espaço que tinha.

E teria acertado o cotovelo no rosto do vizinho se Wil não tivesse desviado bem a tempo.

—  Você quase arrancou meu nariz fora, sabia? — ele falou de forma dramática, mas estava sorrindo.

— Foi mal! — murmurou, incapaz de olhar para o vizinho agora. 

Naquele momento, o brinquedo parou quase no topo. Agora, só havia Will, Nico e um céu estrelado ali.

— Ugh, você parece uma criança. 

— Hã?! 

— Sua gola está para cima. — Will riu e então colocou as mãos no colarinho da jaqueta dele, a ajeitando. Isso fez com que eles ficassem cara a cara. — Por que você está tremendo? Ainda está com frio ou... eu te deixo nervoso?

Cuidado! Perigo, perigo! Seu cérebro alertou. 

— Frio! Estou com frio! — afirmou de maneira não muito convicta.

Nico e Will moravam na Califórnia e era primavera, mas costumava ventar à noite porque a cidade era perto do litoral. E, naquele momento, eles estavam mais ou menos a 20 metros do chão e havia vento. Estava um pouco frio, mas nada em que Nico não pudesse aguentar. O grande problema era o rapaz ao seu lado que o fazia sentir calafrios pelo corpo.  

— Então devo te esquentar? — ele questionou, um sorriso sexy surgindo em seus lábios. 

Céus, o que havia acontecido com Will? Por que estava agindo como se… estivesse flertando com ele? Não, isso não podia ser real. Nico queria tanto ser correspondido que já estava imaginando coisas! 

— Ei, Solace — tirou as mãos de Will da sua jaqueta. — Pare de me provocar.

O sorriso de Will sumiu.

— Não estava te provocando, eu só estava...

Droga! Nico sabia como essa frase terminaria, já tinha ouvido isso outras vezes. De repente, sentiu-se furioso.

— ... Só estava brincando? — completou, interrompendo o outro. — Quer saber, Solace? Estou de saco cheio das suas brincadeiras!

— Nico...

— Qual é a porra do seu problema, hein? — Nico continuou. — Até duas semanas atrás, a gente era praticamente dois estranhos que moravam no mesmo andar! E então foi só o Cérbero aparecer para você se aproximar de mim! Isso não parece estranho para você? Porque, para mim, parece.

— Nico... — Will tentou falar mais uma vez.

— Olha, eu já moro naquele prédio tempo suficiente para saber que esse é simplesmente o seu jeito, mas você deveria tomar mais cuidado. Porque eu não sou como as outras pessoas, ok? Se você agir assim todo legal e gentil comigo eu vou acabar entendendo errado! 

Enquanto Nico falava, Will desviou o olhar por um momento e olhou para baixo.

— O que foi? Está pensando em fugir de novo? — debochou. — Igual você fez ontem na praia? Se você não quiser quebrar alguns ossos no processo, sugiro que fique aí sentado! 

— Eu não ia fugir... — Will murmurou baixinho, mais para si mesmo. — Aposto que as outras pessoas da roda-gigante estão escutando tudo.

Nico o ignorou e continuou:      

— Você sempre age assim, como se tivesse me testando! Sempre que nós estamos próximos demais, você simplesmente me olha de um jeito que eu não consigo decifrar, mas logo depois se afasta e muda de assunto! Eu não consigo te entender!

— Nico! — Will exclamou, o segurando pelos ombros e o encarou bem nos olhos. — Será que você pode, por favor, calar essa sua boca por um minuto e me escutar?

— Eu não quero ouvir suas desculpas esfarrapadas! — esbravejou, mexendo os ombros para se soltar, mas o aperto de Will era firme. — Será que dá para você me soltar? Não vou a lugar nenhum!

— Ok, certo. — Will retirou as mãos e soltou um suspiro alto. — Céus, você está me deixando louco...! — bagunçou os próprios cabelos, parecendo frustrado.

Nico deu uma risada debochada.

— Ah, eu estou te deixando louco? Essa é boa! É você quem está bancando o cara enigmático aqui e me enlouquecendo!

— Se você me interromper mais uma vez, eu juro que vou... — Will deixou a frase no ar. O tom da sua voz dizia que ele estava falando sério.

Mas Nico não tinha medo do perigo.

— Você acha mesmo que eu tenho medo de você, Sola... — começou, mas não conseguiu terminar de falar, pois foi interrompido abruptamente.

De tudo que poderia acontecer naquele momento, essa era a última coisa que Nico poderia imaginar. Pois Will havia colocado as duas mãos no seu pescoço e o puxado para frente até suas bocas se chocarem, onde ele sugou os lábios do outro suavemente. 

Nico foi tão pego de surpresa que nem sequer moveu um músculo do corpo inteiro. Quando deu por si, Will já estava se afastando. O “beijo” — se é que um mero encostar de lábios poderia mesmo ser chamado assim — não deveria ter durado mais do que uns 5 segundos.  

— Ok, não era assim que eu imaginava ter essa conversa, mas você não me deu outra alternativa! E eu não vou pedir desculpas pelo o que acabou de acontecer porque eu não estou arrependido. — Will deixou claro. — Você quer mesmo saber por que eu sempre “fujo” de você? — ele fez aspas no ar. — Porque eu sabia que se eu não me afastasse eu ia acabar te beijando! E eu não sabia se você também queria. Quer dizer, eu achava que sim, mas eu não tinha certeza... não podia simplesmente arriscar e correr o risco de ganhar um soco bem na cara. Por que você acha que eu te convidei para vir aqui hoje? Porque eu queria ter um encontro com você! Só eu e você, sem cachorro. Para a gente falar sobre qualquer coisa que não fosse na porcaria do adestramento! Para você me notar como alguém além de um vizinho que estava te ajudando! Ah, e caso ainda não tenha ficado claro: sim, eu usei Cérbero como desculpa para me aproximar de você!

Nico piscou, incapaz de dizer qualquer coisa.

— E se eu te disser que você não entendeu errado? Pelo contrário, você entendeu completamente certo. — Will disse, olhando fixamente para Nico. — Sabe, para um cara inteligente, até que você é bem lerdinho às vezes. Estou dando em cima de você, caramba! Eu gosto de você, Nico di Angelo!

— O-o q-quê?! — Nico balbuciou, totalmente atônito. Will havia falado tão rápido, ele nem sabia se havia entendido tudo direito.

— Agora, já não sei se tomei mesmo a decisão certa... — Will desviou o olhar, encarando o bichinho de pelúcia no seu colo. — Você simplesmente ficou parado igual uma estátua quando eu te beijei. — Ele arriscou olhar uma vez para Nico. — Caramba, foi tão ruim assim?

— Não! — Nico exclamou alto, então desviou o olhar e respondeu com uma voz mais baixa. — Você só me pegou de surpresa.

— Sério? — ele perguntou e Nico só assentiu dessa vez. — Bem, eu apreciaria se você fechasse os olhos e retribuísse da próxima vez então — deu uma risadinha sem graça. 

— Próxima vez?! — perguntou perplexo.

Nico nem conseguia acreditar que, depois do fiasco que foi o primeiro beijo deles, seu vizinho queria mesmo repetir. Caramba, então Will realmente gostava pra valer dele!  

— Sim — ele riu. — Por quê? Você não quer?

— Cla-claro que eu quero!

— Céus, você fica absurdamente fofo quando está nervoso! — Will bagunçou os cabelos de Nico, fazendo o coração dele quase parar na boca por um segundo. 

— Eu não sou fofo! — Nico franziu o cenho e cruzou os braços. Will abafou uma risadinha, provavelmente achando que ele ficava ainda mais fofo fazendo birra.

— Discordo. Eu te acho completamente adorável. — Will sorriu e inclinou-se um pouco para frente, apertando levemente as bochechas dele. Mas assim que ele abaixou o olhar, encarando a boca do outro, seus sorriso descontraído sumiu e ele umedeceu os próprios lábios. — Essa seria uma boa hora para você fechar os olhos.

Nico piscou, demorando alguns segundos para processar a informação. Só então fechou os olhos com força e esperou.

Ele sentiu as mãos de Will, que estavam na sua bochecha, desceram gentilmente por seu rosto até pararem na sua nuca, o puxando para mais perto. Podia sentir a respiração irregular do vizinho fazendo cócegas no seu rosto e aquele perfume delicioso que ele usava também. Foi então que os lábios de Will tocaram os seus novamente.

Will tinha gosto de algodão-doce que eles haviam comido mais cedo. Seus lábios eram incrivelmente macios e se encaixaram perfeitamente nos seus, pareciam feitos sob medida. O beijo foi lento, nem Will nem Nico pareciam estar com pressa, como se quisessem explorar a boca um do outro com calma. 

De repente, a roda-gigante de um solavanco e voltou a se mexer, assustando os dois que acabaram se afastando. Eles se entreolharam, Will soltou uma risadinha e Nico não pôde deixar de rir junto com ele. Will pegou a mão dele e apoiou seus braços em cima da barra.

Nico olhou para as mãos deles entrelaçadas, sem ainda acreditar no que havia acabado de acontecer. Ele achava que, a qualquer momento, iria acordar na sua cama e perceber que tudo isso não passava de um ótimo sonho. Com a mão livre, ele beliscou a perna e quando sentiu uma leve dorzinha soube que era mesmo real.

Um primeiro beijo na roda-gigante. Nico nunca achou que protagonizaria uma cena tão clichê em toda a sua vida! Mas, querem saber? Às vezes, clichês podiam ser incrivelmente bons e deliciosos. 

Os dois estavam em silêncio enquanto o brinquedo descia lentamente.

— Então... você gosta mesmo de garotos — Nico disse, como se a ficha dele tivesse caído só agora.

Will jogou a cabeça para trás e soltou uma gargalhada alta.  

— É sério que você está falando sobre isso depois da gente se beijar?

— Eu só queria ter certeza... — Nico murmurou, sentindo o rosto ficar vermelho. Ainda bem que estava escuro o suficiente para o outro não ver.   

— Certo, então vou esclarecer tudo para não restar mais dúvidas: sim, eu gosto de garotos também. Eu sou bissexual. — Will explicou. — E você gosta só de garotos, certo?

— Sim, sou gay. — Nico assentiu. — Você já sabia? Digo, antes de hoje.

É claro que Nico não estava escondendo isso de propósito, afinal, já havia saído do armário faz tempo, mas também não saía pelas ruas enrolado na bandeira LGBTQIA+ anunciando que era gay. Ele sabia que às vezes era melhor não falar nada, caso contrário, uma pessoa que você considerava apenas um amigo poderia simplesmente se afastar por achar que o garoto gay tinha segundas intenções com o cara hétero. Sim, isso realmente aconteceu uma vez com Nico.  

— Hm, vejamos... — Will levantou a mão livre e começou a contar nos dedos. — Primeiro: você disse que nunca namorou uma garota e ficou sem reação quando perguntei sobre um garoto. Segundo: você sempre ficava nervoso quando eu estava muito perto de você, ou quando eu te tocava. Terceiro: você costumava me olhar de um jeito meio estranho, praticamente me devorando com os olhos. Conclusão: sim, eu tinha certeza que você não era hétero. Apenas não sabia se você agia assim comigo por apenas me achar um “colírio para os olhos” ou por que sentia algo por mim também.  

— Segunda opção... — Nico deixou claro. — E eu não te devoro com os olhos! — tentou se defender.

Claro, de tudo que Nico poderia falar em sua defesa, tinha que ser justo isso! O que ainda era uma mentira, porque ele sabia que realmente olhava para o vizinho de um jeito meio indecente às vezes.

Will mordeu o lábio, tentando não rir.

— Bem, se serve de consolo, eu já fiz o mesmo com você. — Ele revelou e então sussurrou perto do seu ouvido: — Só que eu sou bem mais discreto.  

Pelos deuses! Como Nico nunca havia reparado nisso? Will tinha razão: ele era mesmo lerdo.  

Quando o brinquedo finalmente parou, Will o ajudou a descer e eles saíram de mãos dadas. Já na rua, Will lhe entregou o cachorro de pelúcia para ele e soltou a sua mão. Nico deveria ter feito uma expressão muito esquisita, pois Will riu e disse:

— Ei, relaxa. Seu cadarço está desamarrado — ele simplesmente abaixou-se e apoiou o tênis de Nico na perna para amarrar. — Não quero que você tropece e se machuque.

Nico não conseguiu desviar o olhar. Essa era uma cena clichê bem comum nos filmes — principalmente em romances adolescentes — e ele sempre considerou algo tão ridículo, como se a mocinha fosse incapaz de fazer um nó no próprio cadarço e precisasse do cara bonitão para isso. Mas ao ver Will amarrando o seu cadarço, Nico finalmente entendeu porque as garotas sempre suspiravam nessa parte do filme. Poderia ser um gesto cavalheiro, mas também significava “não se machuque, eu me importo com você”. Ele se sentiu como a Cinderela quando o príncipe enfim colocou o sapatinho de cristal em seu pé. Só que, diferente do conto de fadas, a magia do encontro deles não terminaria à meia-noite.  

Ao levantar-se, Will deu um sorriso enorme para ele. Mesmo sem perceber, Nico sorriu de volta, sentindo-se extremamente feliz. Quando o vizinho ia pegar a sua mão novamente, alguém pulou nas costas dele. Literalmente. 

Dios mío! É mesmo você! — disse o garoto desconhecido. Ele tinha cabelos encaracolados e orelhas pontudas, usava uma camisa branca, suspensório e calça jeans escura. Parecia um elfo do Papai Noel, porém latino, já que falava espanhol. 

— Leo?! — Will virou-se e olhou para o garoto recém-chegado, com uma expressão no rosto que Nico não conseguiu decifrar. — Oi, cara! 

— Senti sua falta, Raio de Sol — o elfo agarrou o braço de Will e fez biquinho. 

“Raio de sol”? Quem era esse garoto para ficar chamando Will assim? Eles pareciam íntimos demais, Nico não estava gostando nada disso. 

— Ei, não seja pegajoso! — Will reclamou, mexendo os ombros para se soltar. — Você veio sozinho?

— Não, não! Cal foi ao banheiro, estava esperando ela quando te vi.  — Leo respondeu e olhou para o lado, finalmente vendo Nico parado perto deles. — Quem é o seu amigo?

— Ah, esse é… — Will começou. 

Leo o interrompeu, dando um passo para frente e surpreendendo Nico ao pegar sua mão. 

 — Olá, sou Leo Valdez!  — ele o cumprimentou freneticamente. — E você? 

— Nico di Angelo — respondeu, puxando a mão de volta. 

E então Leo desatou a falar sobre como conhecia Will desde o tempo de escola. E sobre mais um monte de coisa que Nico não conseguiu acompanhar, pois o elfo falava rápido demais quando se empolgava. Ele apenas balançava a cabeça, fingindo prestar atenção. 

Olhou de soslaio para Will, tentando pedir ajuda. Porém seu vizinho estava distraído, parecia estar procurando por alguém.

— Ah, lá está a Calipso! — ele apontou para alguém no meio da multidão, então acrescentou com ênfase: — Sua namorada.

Uma garota de vestido vermelho com uma trança caindo sobre um dos ombros se juntou a eles. 

— Nossa, a fila do banheiro estava enorme — a garota segurou o braço direito de Leo e sorriu. Ela era um palmo maior do que ele, e não estava nem usando salto. — Oi, Will. Oi, garoto que não conheço. 

— Ah. Esse é o Nico, amigo do Will. — Leo o apresentou para a namorada.

Era a segunda vez que Leo se referia a ele como um “amigo” de Will. Em outra ocasião, Nico não teria se incomodado com isso, afinal, deveria ser o que qualquer um pensaria ao vê-los andando por aí juntos. Mas agora parecia estranho, porque amigos não se beijavam na roda-gigante... 

Will abriu a boca para falar algo, mas Leo foi mais rápido: 

— Para onde vocês vão agora? 

— Hm, eu estava pensando no carrinho bate-bate. — Will comentou, olhando para Nico. 

— Que coincidência, nós também! — Leo exclamou, totalmente animado. — Podemos ir juntos!

Ótimo. Vendo a animação de Leo em reencontrar seu velho amigo, Nico chutaria que eles teriam companhia pelo resto da noite.  

 ***

Quando eles foram ao carrinho bate-bate, Nico bateu no carrinho de Leo várias vezes. Totalmente sem querer, é claro.

Agora, eles estavam na praça de alimentação. Nico estava morrendo de fome, então ele pensou que poderia aturar isso por mais algum tempo desde que pudesse comer. Eles pediram hambúrgueres, um balde de batata frita e refrigerantes grandes. Will não parecia muito feliz com tanta “comida industrializada”, mas como ele estava em minoria teve que aceitar.   

Will, Leo e Calipso conversavam animadamente, botando o assunto atrasado em dia. Nico ouviu tudo em silêncio, sentindo-se um intruso ali. Parecendo perceber o seu incômodo, Will colocou a mão na sua perna por baixo da mesa, o confortando, sem mudar a expressão no seu rosto enquanto respondia algo que Leo havia lhe perguntado. 

Nico apertou os lábios, tentando não sorrir. Achou melhor focar na sua comida e deu uma mordida enorme no hambúrguer. 

— Ei, tem molho no seu queixo — Calipso o alertou.

— Ah, valeu — Nico respondeu, passando as costas da mão no rosto. — Saiu?

— Ainda tá sujo. Espere — Leo se meteu na conversa, inclinando-se sobre a mesa na direção de Nico. 

— O que você está fazendo?! — Will o impediu no meio do caminho, segurando seu pulso com firmeza. 

— Eu só ia dar um guardanapo para ele! — Leo mostrou o papel em sua mão. — Pelos deuses! Não precisa ficar nervosinho. 

— Valeu... — Nico murmurou baixinho e pegou o guardanapo, limpando a boca em seguida.

Nico olhou de soslaio para Will, que estava com os braços cruzados, ainda parecendo irritado. Calipso ficou quieta, só observando a situação.

— Se alguém visse a cena de fora acharia que vocês estão namorando! — Leo forçou uma risadinha, ao perceber que o clima havia ficado meio tenso na mesa deles.

— Não somos namorados… — Will deixou claro. Ele olhou para os amigos; depois, para Nico. — Ainda — completou. 

O coração de Nico quase parou ao ouvir isso. Ele tomou um gole de refrigerante para esconder o sorriso que estava se formando no seu rosto.  

— Espera! Espera! — Leo exclamou, totalmente confuso. — O que foi que eu perdi aqui? 

— Não é óbvio? — Calipso revirou os olhos, jogando uma batata frita na boca. — Você atrapalhou o encontro deles.

— Encontro? — ele olhou para Will. — Por que você não me falou isso antes? 

— Você não me deixou explicar… — Will forçou um sorriso, provavelmente se controlando para não bater no amigo.

— Desculpa, cara! Acho que me empolguei, fazia tempo que a gente não se via. — Leo coçou a nuca, parecendo constrangido. — Mas isso é uma ótima notícia! Podemos sair todos juntos, eu sempre quis ir a um encontro duplo!

— Calma, Valdez. Você vai assustá-lo, esse é o nosso primeiro encontro. — Will explicou ao amigo em um tom de voz baixo, mas Nico conseguiu ouvir.

— Foi mal, foi mal!  — ele jogou as mãos para cima, se rendendo. E então olhou para a namorada ao dizer: — Poxa, Cal, você deveria ter me dito isso antes! 

— Eu pensei que você tinha percebido, seu tapado — ela amassou o papel do seu hambúrguer e colocou na bandeja, a empurrando para longe. — Será que podemos ir agora? Você prometeu que a gente ia às barracas de jogos de pontaria.

— Claro, baby! Deixa com o Leozinho aqui! Vou conseguir todos os prêmios que você quiser! — Leo levantou-se, pegando a bandeja dele e da namorada. Então deu um sorrisinho sacana ao olhar para os dois. — Divirtam-se, casal. E não se esqueçam de usar proteção! Tchauzinho.

— Leo! — Will advertiu, ficando com a ponta das orelhas vermelhas. Agora Nico sabia identificar quando o vizinho ficava envergonhado.

Leo apenas deu um sorriso endiabrado em resposta e saiu apressado atrás de Calipso, que já estava longe. 

— Desculpa por isso. — Will virou-se para Nico, parecendo meio constrangido.

— Tudo bem, Raio de Sol. — Nico murmurou, dizendo o apelido como se fosse algo muito enjoativo. 

— Foi um apelido que ganhei no Ensino Fundamental, por causa do meu sobrenome! — ele tratou-se de explicar. — Todos meus amigos me chamavam assim!

— Ok… — cruzou os braços e desviou o olhar. 

— Por acaso, você ficou com ciúmes? — Will tinha um sorrisinho convencido e muito irritante nos lábios.

— Claro que não! — ele exclamou um pouco alto demais. Olhou em volta, mas as pessoas das mesas próximas estavam concentradas nas suas próprias conversas e não repararam em nada.

Will inclinou-se para frente e se apoiou na cadeira de Nico. 

— E você realmente não tem motivos. Sabe por quê? — ele se aproximou mais um pouco. Nico achou que Will ia beijá-lo bem ali no meio da praça de alimentação, mas ele desviou no último segundo. —  Porque eu só tenho olhos para você — sussurrou no ouvido dele, fazendo um arrepio passar por todo seu corpo.

E então Will se afastou rapidamente, deu um sorriso e disse:

— Coma seu hambúrguer antes que esfrie.

***

Quando eles saíram da praça de alimentação, quase todos os brinquedos já estavam desligados. O parque fecharia em meia hora. Já estava tão tarde? A noite havia passado incrivelmente rápida. 

Nico não queria ir embora, mas Will precisava acordar cedo para estudar. E ele também teria que ir à Editora no dia seguinte. O caminho para casa passou voando, pois quando Nico percebeu, eles já estavam em frente ao prédio em que moravam. 

Nico desceu e tirou o capacete. Will ergueu o cachorrinho de pelúcia para ele, que negou. 

— É seu. Nós dois sabemos que foi você quem ganhou — falou, sabendo muito bem que não teria ganhado nada se fosse depender das suas péssimas habilidades de pontaria. 

— Minha intenção era mesmo ganhar algo e te dar de presente. — Will admitiu, ainda com o braço estendido na direção dele.  — Por favor, fique. 

— Bem, obrigado, então — Nico se deu por vencido e resolveu pegar a pelúcia, mas Will não a soltou totalmente, deixando seus dedos se tocarem levemente. Olhou para cima e encontrou os olhos do vizinho.  

— Nico, eu... — ele começou, parecendo sem jeito. 

— Estou interrompendo algo? — uma voz disse em algum lugar atrás deles.

Nico virou a cabeça e deparou-se com uma garota de cabelos lisos e escuros, com os braços cruzados, parada na calçada os encarando.

“Sim, você está nos interrompendo!”, ele gritou mentalmente quando a reconheceu. “Péssima hora, irmã!”.

— Bianca! Oi! — Nico deu um passo para trás, se afastando de Will. — O que você está fazendo aqui?

— Você não atendeu minhas ligações, só dava caixa postal. Liguei para a Reyna, mas ela disse que não tinha falado com você hoje — ela explicou. — Fiquei preocupada.

— Ah… — Nico tirou o celular do bolso e checou. Cinco chamadas perdidas de Bianca e duas de Reyna. — Desculpa, estava no silencioso. 

— Tudo bem — ela sorriu e então olhou para o garoto loiro parado ao lado da moto, então de volta para o irmão. — Você não vai me apresentar o seu amigo?

Bianca estava fingindo ou realmente não se lembrava de Will? Ela o conhecia! Quer dizer, eles nunca haviam conversado pessoalmente, mas ela já havia visto o vizinho do irmão no prédio várias vezes, tanto que ficava implicando com Nico e dizia: “Ei, pare de babar no seu vizinho gato, ou ele vai acabar percebendo”.

Will deu um passo para frente e sorriu, erguendo a mão para a garota.

— Oi, me chamo Will. Sou... — ele olhou de soslaio para Nico, que estava balançando a cabeça para ele, meio desesperado. Então completou: — Sou vizinho do Nico.

— Vizinho? Ah... — Bianca murmurou de um jeito meio robótico. Pelo Tártaro, por que ela era tão má atriz?! — Oi. Eu sou a Bianca, a irmã do Nico.  — e apertou a mão dele.

— Eu sei — ele sorriu. Bianca ergueu uma sobrancelha, parecendo desconfiada. — Quer dizer, vocês são tão parecidos! Óbvio que são irmãos!

— Sei… — ela não parecia nada convencida disso. — Então, onde vocês estavam até essa hora?

— Fomos ao parque de diversões. — Will explicou. 

— Só vocês dois? Tipo… um encontro? — ela perguntou.

Essa era Bianca di Angelo, sua irmã nada sutil. 

— Ei, Bianca! — Nico exclamou, pegando o braço da irmã. — Você deve estar cansada de me esperar. Que tal subirmos? Eu te dou um copo d’água!

— Ok...  — ela estreitou os olhos, ainda parecendo desconfiada. — Estou mesmo com um pouco de sede. 

— Então... Tchau, Will — Nico disse por cima do ombro, arrastando a irmã para longe. — A gente se fala outra hora. 

— Ah, ok. Claro! — Ele concordou e acenou, ainda parado ao lado da moto. — Prazer em te conhecer, Bianca! 

— Igualmente! Tchau! — Bianca acenou meio desajeitadamente, porque Nico não parava de puxá-la. 

Ele praticamente arrastou a irmã pelos degraus e agradeceu mentalmente por ver um casal saindo do elevador, já entrando imediatamente. Ele apertou o número 7 no painel, encostou-se à parede e manteve o olhar fixo na porta, torcendo para que o elevador chegasse logo ao seu andar. 

— Vocês estavam mesmo em um encontro? — Bianca perguntou após alguns segundos. Ele resolveu ignorar a irmã, fingindo não ter ouvido nada. — Eu sei que você me ouviu — ela estava com um sorrisinho nos lábios, Nico podia ver isso pelo reflexo do espelho.

O elevador finalmente chegou e Nico saiu a passos largos até a sua porta. Quando abriu, a primeira coisa que viu foi uma bola de pelo abanando o rabinho. Cérbero parecia tão feliz, como se não tivesse ficado sozinho em casa por horas. Cachorros eram realmente muito fáceis de agradar.

— Ei, fofinho! Nossa, como você cresceu! — Bianca se abaixou, fazendo carinho na cabeça dele. — Ainda se lembra de mim?

— Claro que ele se lembra da pessoa que cuidou dele por uma noite. — Nico ironizou, revirando os olhos. Ele passou reto, indo direto até a cozinha e encheu um copo de água bem gelada para a irmã. — Aqui. 

— Obrigada — ela pegou o copo d’água e tomou um  grande gole. — Você não vai mesmo me contar?

Inferno! Por que Bianca era tão insistente?

— Somos só vizinhos, ok? Ele me convidou porque não queria ir sozinho e eu aceitei, simples assim — ele deu de ombros, indo em direção ao seu quarto.

Nico poderia ter falado a verdade, mas ele conhecia bem a irmã mais velha que tinha. Sabia que isso só deixaria Bianca ainda mais empolgada, o enchendo de perguntas.

— Nico, eu te conheço desde que você nasceu. — Bianca o seguiu. — Você pode enganar os outros, mas não a mim.

Nico a ignorou e mudou de assunto:

— Será que você pode me dar um pouco de privacidade? — ele parou e colocou a mão no batente da porta, impedindo a passagem dela. — Quero trocar de roupa.

— E desde quando existe privacidade entre irmãos? — ela questionou. — Além disso, já vi você pelado muitas vezes. Eu até ajudei a trocar suas fraldas!

— Sua mentirosa! — disparou, apitando o dedo indicador na direção da irmã. — Você é apenas 2 anos mais velha do que eu. Quando eu era bebê, você ainda nem sabia usar a privada sozinha!   

— Mas eu sempre ajudava a mamãe a trocar suas fraldas! — ela rebateu, mostrando a língua.

Nico revirou os olhos. Afinal, ele sabia como sua irmã conseguia ser insuportavelmente teimosa quando queria.  

— Ok, entre. Vou pegar uma roupa e me trocar no banheiro. — Ele se deu por vencido e entrou no quarto.  

— Pelo Tártaro! O que aconteceu aqui? — ela exclamou, vendo várias peças de roupas e cabides jogados na cama. — Parece que passou um furacão!

Droga, Nico estava com tanta pressa que até mesmo havia se esquecido de guardar tudo antes de sair!

— Você estava tão nervoso assim para o seu encontro? — Bianca debochou, dando ênfase na palavra “encontro”. — Não acredito que você tinha tantas opções de roupa e saiu vestido desse jeito. Você realmente teve sorte que seu vizinho não saiu correndo assim que te viu.

Nico virou e encarou a irmã.

— Qual é o problema com a minha roupa? — ele cruzou os braços, pedindo por uma explicação. 

— Bem, acho que não posso falar nada sobre o seu visual “emo gótico trevoso” porque você sempre se veste assim, mas por que você colocou essa jaqueta horrorosa? Você claramente tinha opções melhores! — ela pegou uma jaqueta jeans escura no meio do monte de roupas e mostrou para ele. — Como essa!

— Horrorosa?! — sua boca formou um “o”, chocado pelo insulto da irmã. Como ela ousava falar assim da sua jaqueta favorita? — Foi você quem me deu essa jaqueta de presente!

— Eu sei disso. Mas isso foi... sei lá, 5 anos atrás?! — ela chutou, não parecendo saber a data exata. Na verdade, Nico já tinha aquela jaqueta há 6 anos, ganhou de presente da irmã quando entrou na faculdade, mas não a corrigiu. — Já está na hora de você jogar ela no lixo e comprar outra!

— Eu não vou jogar fora! É a minha jaqueta favorita! Coisas boas acontecem quando eu estou com ela! — ele deixou escapar e se arrependeu profundamente disso logo depois.

— Hm, ok... Mas quando você diz “coisas boas”, isso se aplica a noite de hoje também? — questionou, erguendo uma das sobrancelhas.

— Bem, hoje foi divertido... — ele se limitou a responder e começou a pegar as roupas em cima da cama para guardar.

— Defina divertido — ela pediu, colocando uma jaqueta no cabide sem ele precisar pedir ajuda.    

Nico bufou.

— Inferno, Bianca! Sua vida é assim tão chata para você querer saber tudo o que acontece na minha?

— Minha vida é ótima e você sabe disso. — Bianca deixou claro e então pegou a mão do irmão gentilmente. — Nico, você já pode ser um adulto, mas sempre será meu irmãozinho querido, ok? Eu apenas me importo com você e quero o seu bem. Se você está feliz, eu fico feliz. Se você está triste, eu também fico triste.

— Eu sei... — ele deu um suspiro. Afinal, o sentimento era mútuo. — Desculpa.

Bianca sorriu de um jeito carinhoso e então ele soube que a irmã não havia ficado chateada.

— E você está feliz hoje, por mais que tente fingir que não. Você gosta dele, não é? — ela perguntou. Nico desviou o olhar e evitou a pergunta. — Qual é, não tente me enganar! Eu vi as mãos de vocês se tocando quando cheguei!

— Se você viu, então por que ficou fingindo que não sabia de nada? — ele bufou.

— Porque eu queria que você me contasse por vontade própria! — Bianca disse como se fosse óbvio. — Ele gosta de você também, eu percebi pela forma como te olhava.

Sua irmã poderia ter sido solteira pelos 26 anos de sua vida, mas ela era boa em detectar essas coisas. Tudo graças aos milhares de filme de romance que assistia.

Imediatamente, Nico lembrou-se do beijo e esboçou um sorriso sem perceber.

— Merda! Você está sorrindo?! — Bianca parecia em choque, como se essa fosse a primeira vez na vida que ela estivesse vendo isso, o que não era verdade. — O que aconteceu de tão especial? Ele pegou na sua mão? Disse que gostava de você? Vocês se beijaram?

Ela estava só fazendo suposições, mas certou em cheio. Nico apertou os lábios, tentando não sorrir de novo.

— Eu sabia! — ela deu pulinhos, parecendo extremamente animada. — Eu quero saber tudinho!

Viram? Era por isso que Nico evitava falar sobre sua vida amorosa com a irmã, ela sempre se empolgava demais. 

— Ei, nada de interrogatório! — Nico reclamou e sua irmã fez biquinho, não parecendo satisfeita. Ele suspirou, sabendo que havia perdido mais uma batalha. — Eu posso te dar uma versão resumida dos acontecimentos, ok? É pegar ou largar.

Talvez fosse melhor deixar de fora a parte que Nico se exaltou e “brigou” com Will na roda-gigante. Tinha certeza que ela bateria na própria testa e o xingaria por ser tão idiota. Afinal, ele mesmo estava se sentindo um idiota agora por ter agido assim.  

— Okay! — Bianca soltou um gritinho de animação e o abraçou. — Ah, estou tão feliz por você!

Nico detestava abraços, mas mesmo assim não afastou a irmã. Afinal, ele estava extremamente feliz naquela noite e ninguém, nem mesmo a sua irmã com a sua curiosidade enorme, iria estragar isso. 

Pelo jeito, a noite seria bem longa.


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Notas finais do capítulo

Finalmente esses dois se entenderam! A partir de agora, começa a fase "diabetes" da fic, com direito a muitos momentos de fofura do nosso casalzinho favorito ♥

No próximo capítulo, um "incidente" pegará Nico e Will de surpresa. O que será?

Bom feriado e até sexta-feira que vem! õ/



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