Trevo de Quatro Patas escrita por Maremaid


Capítulo 2
Cérbero faz uma aumiga


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente ;)
Voltei com mais um capítulo para vocês, espero que gostem e boa leitura!



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Nico acordou com o sol batendo em seus olhos. Droga, ele havia se esquecido de fechar as cortinas antes de dormir! Enfiou a mão de baixo do travesseiro e pegou seu celular, checando as horas. 9:46 da manhã. Ele pensou em virar para o outro lado e dormir mais um pouco, mas lembrou-se do cachorro.

Levantou-se e foi ao banheiro; depois, se dirigiu ao local onde havia colocado Cérbero na noite anterior.

Ontem, antes de dormir, Nico ficou pensando qual seria o melhor lugar para deixar o cão. Não podia deixá-lo solto pelo apartamento; além de fazer as necessidades, poderia também roer algum objeto. Pensou no banheiro, mas achou que o cão poderia dar um jeito de abrir a tampa e tomar água da privada. Obviamente deixá-lo dormir em seu quarto estava fora de cogitação, então o único lugar que havia restado foi a área de serviço. Ele certificou-se de colocar os produtos de limpeza e o cesto de roupa suja para o alto e colocou a cama de Cérbero lá, com as tigelas de água e ração. Forrou o chão com alguns jornais velhos, apenas por garantia. O cão reclamou um pouco, soltando uns ganidos baixos e arranhando a porta para sair, mas logo parou e dormiu. Parecia que Nico não era o único que estava exausto. 

Assim que ele abriu a porta, Cérbero levantou a cabeça e saiu da sua cama, abanando o rabo. O filhote tentou pular na sua perna, mas ele deu um passo para trás.

— Nem pense nisso! — ele ralhou.

Nico encheu a tigela de ração e recolheu os jornais molhados. Aproveitou enquanto o cachorro estava entretido com a própria comida e foi preparar o seu café da manhã. Claro que Cérbero veio pouco tempo depois, olhando para ele e soltando uns latidinhos de indignação por não receber nada.

— Você acabou de comer! — Nico revirou os olhos para o filhote.

Caramba, como um cachorro tão pequeno podia estar sempre com tanta fome?  Parecia até que tinha três cabeças! 

Nico passou o resto da manhã checando e respondendo alguns e-mails do trabalho. Depois, preparou uma refeição rápida e voltou para o computador. Achou melhor terminar logo um projeto que precisava entregar e que acabou esquecendo-se de fazer ontem por causa do cachorro. Nico adorava trabalhar em home office: podia fazer o seu próprio horário, poupava dinheiro almoçando fora, não pegava trânsito, podia usar roupas velhas e, o melhor de tudo, não precisava socializar com os seus colegas. Ele apenas precisava ir à empresa uma vez por semana para reuniões ou para buscar algum material.

Quando Nico finalmente terminou, já era metade da tarde. Ele espreguiçou-se na cadeira, sentindo as costas doerem um pouco e seus pés tocaram em algo macio. Foi então que notou que Cérbero estava deitado debaixo da mesa, mordiscando um de seus tênis — que ele lembrava muito bem de ter deixado na sala. Deveria ter imaginado que quando um filhote estava quieto demais era porque estava aprontando.

— Seu pestinha! — ele pegou o tênis todo babado pelo cadarço, achou seu outro par no meio do caminho e o colocou no pequeno tanque na área de serviço. Daria um jeito nisso depois.

Checou o horário e percebeu que ainda era cedo, então pensou que poderia aproveitar e ir ao tal parque de cães que Reyna, sua amiga, havia lhe recomendado. Ela tinha dois cães e sempre os levava lá.

Ele se levantou e pegou algo que estava jogado no sofá.

— Ei, coisa peluda, que tal um passeio? — Nico chacoalhou a guia no ar. Cérbero começou a latir sem parar, parecendo animado. — Achei que você concordaria mesmo.

***

Assim que Nico chegou ao parque, ele se arrependeu imediatamente de ter saído de casa. Estava quente, muito quente. E todo mundo sabia que roupas pretas e sol não combinavam nadinha.

Foi difícil controlar o cão, pois ele parecia animado demais com o passeio: queria correr, cheirar outras pessoas e animais, rolar na grama, tudo, menos fazer o que deveria fazer! Será que Hades não o levava ao parque com frequência? Só isso explicava a euforia excessiva do filhote.

Nico podia ter só 20 e poucos anos por fora, mas, por dentro, ele era um velho completo. Odiava pegar sol e se exercitar. Bastaram apenas alguns minutos para que ele ficasse cansado; enquanto isso, o cão continuava totalmente enérgico.

Ele achou um banco que ficava embaixo da sombra de uma enorme árvore e resolveu sentar-se um pouco para descansar. Cérbero parecia ter odiado a ideia, pois não parava de puxar a guia, certamente ansioso para correr mais um pouco pelo parque. Ele avistou um carrinho de food truck não muito longe de onde estava. Não havia muita fila naquele momento, então achou melhor comprar algo para beber antes que ficasse desidratado. Amarrou a guia do cão no pé do banco.

 — Ei, eu já volto. Comporte-se. — Nico avisou, apontando o dedo indicador de forma autoritária para Cérbero, que estava entretido mordiscando a grama e nem sequer olhou para ele.

“Ótimo, até mesmo um cachorro me ignora agora!”,  Nico pensou, revirou os olhos e andou em direção ao food truck.

Apenas alguns minutos depois, ele já estava retornando para o seu banco, tomando sua água gelada e refrescante. Tudo parecia melhor agora que ele havia matado a sua sede, mas, espera, havia um problema: Cérbero havia sumido!

Nico até olhou em volta, se certificando de que não havia se enganado e amarrado o cão em outro banco, mas estava no lugar certo. Será que alguém havia o roubado? Bem, ele podia ser de raça, mas seria difícil alguém pegar um cachorro em plena luz do dia sem alguém ver. Sem falar que a pessoa provavelmente o devolveria assim que percebesse o quanto aquele pestinha dava trabalho.

Então como diabos esse cachorro conseguiu escapar em tão poucos minutos?

Enquanto Nico tentava entender o que havia acabado de acontecer, seu celular começou a tocar: Bianca. Por que ela tinha que ligar justo agora? Ele não podia dizer que havia perdido o cachorro! Sua irmã costumava ser gentil e compreensiva, mas surtaria se soubesse disso. Então ele achou melhor ignorar a ligação e falar com ela só quando o problema estivesse resolvido — isso se ele conseguisse mesmo achar o cachorro, claro. 

Ele começou a andar pelo parque em busca de Cérbero, olhando para todos os lados, mas não era uma tarefa fácil com tantos cachorros em volta. Depois de intermináveis minutos, que mais pareceram horas, Nico avistou o filhote na entrada do parque, perto de um cachorro e um cara. Ele correu até lá.

— Finalmente te achei! — Nico queria brigar com o cão, mas estava praticamente sem fôlego. Apoiou uma das mãos no banco mais próximo, respirando com dificuldade. Assim que o viu, Cérbero imediatamente veio na sua direção e o cheirou como se quisesse dizer: “Olá, humano, você demorou!”.

Antes que o filhote resolvesse fugir de novo, ele rapidamente pegou a guia, segurando-a com as últimas forças que lhe restavam. Atirou-se no banco, limpando a testa com a mão livre, enquanto respirava com dificuldade.

Enquanto Nico se concentrava em recuperar suas forças, uma risada alta chamou sua atenção. Ele abriu os olhos e estava prestes a xingar o indivíduo que ousara rir do seu desespero, mas quando finalmente prestou atenção no dono da voz, ficou sem palavras.

 Era o tal cara que estava com o cachorro enorme de pelagem preta: ele era jovem  — provavelmente, apenas alguns anos mais velho do que Nico —, tinha cabelos pretos bagunçados, olhos verde-mar, e segurava um copo de refrigerante azul.

Primeiro, Will; agora, esse garoto! Certamente, Cérbero tinha uma ótima utilidade: ele atraía caras bonitos com olhos claros. Seria possível que esse cachorro pudesse mesmo trazer um pouco de sorte para a vida azarada de Nico?

— Desculpe, não estava rindo de você — o garoto tratou-se de se explicar rapidamente. — Eu apenas me lembrei de quando algo muito parecido aconteceu comigo. Cara, você parece morto! Aposto que o perdeu por causa da guia.

— Está tão visível assim o meu cansaço? — Nico se endireitou no banco. E lá estava ele pagando mico na frente de outro cara bonito! 

— Só um pouquinho — o garoto de olhos verdes deu uma risadinha. — Você precisa sempre se certificar que a guia está bem presa antes de deixá-lo sozinho, mas eu aconselharia mesmo não deixar. Eles costumam ter uma força sobre-humana quando se motivam com algo, principalmente em um parque cheio de cães correndo por todos os lados.

— Eu deixei ele sozinho por uns 5 minutos só. — Nico explicou-se, tomando um grande de gole da sua água.

— Eu entendo, parece mágica. Você não imagina como a Sra. O’Leary consegue ser rápida quando quer.

— Quem?! — perguntou confuso. 

— Minha cadela — ele fez carinho no enorme cachorro peludo, que até então Nico achava ser macho. A cadela abanou o rabo, mas logo voltou sua atenção para Cérbero que tentava mordiscar sua orelha. Nem mesmo a diferença de tamanho fez o filhote se desanimar em brincar com a sua nova amiga.

Nico fez uma careta. Quem nome horrível para uma cachorra!  

— Um nome diferente, não é? — ele disse, como se pudesse ler os pensamentos de Nico. — Eu não escolhi, quando eu a ganhei já tinha esse nome, achei melhor não trocar porque ela já parecia acostumada. E o seu cachorro?

Bem, o filhote não era tecnicamente seu, mas Nico achou que o Sr. Olhos Verdes-Mar não precisava saber dessa informação.

— Cérbero. — Disse e então acrescentou: — Já veio com esse nome também.

— Eu gostei, combina com ele! — ele olhou para Cérbero e fez carinho na cabeça do filhote.

Nico assentiu, sem saber o que falar. Ele não era muito bom em manter diálogos com outras pessoas, principalmente com caras bonitos.

O silêncio foi quebrado por um celular tocando. Nico pensou que era Bianca ligando novamente, mas era o celular da pessoa ao seu lado. Ele olhou para algo na tela, franziu o cenho e botou de volta no bolso. 

— Desculpe, preciso ir. Minha mãe está me esperando para jantar. — Sr. Olhos Verdes-Mar levantou-se e Nico fez o mesmo, no automático. — Ah, que cabeça a minha! Eu nem me apresentei: sou o Percy. — E ergueu a mão em sua direção.

Nico ficou encarando a mão Percy por alguns segundos, sem saber o que fazer. Ele não gostava de contato físico com estranhos, mesmo sendo um estranho bem bonito.

— Nico — acabou apertando a mão dele, no fim das contas.

— Bem, te vejo por aí, Nico — o outro garoto sorriu. — Tchau!

— Tchau — ele murmurou, vendo Percy se afastar com a sua cadela.

Nico definitivamente precisava agradecer muito Reyna por ter recomendado esse parque a ele.

***

Quando estava saindo do parque, Nico resolve retornar a ligação da irmã. E, sem querer, acabou deixando escapar o que havia acontecido no parque.

Eu sabia que alguma coisa assim iria acontecer! — ela exclamou do outro lado da linha.

— Você não parece a mesma Bianca que ontem estava desesperada me pedindo um favor! — ele devolveu.

— Porque eu não sabia que você ia perdê-lo no segundo dia!

— Eu já te disse que eu não o perdi...

— Claro que não, ele apenas resolveu dar um passeio sozinho pelo parque — ela ironizou.

— O importante é que eu logo o encontrei e não aconteceu nada de ruim.

Bianca deu um longo suspiro. Nico quase podia ver a irmã do outro lado da linha massageando as têmporas.

Da próxima vez, amarre bem a guia para ele não escapar. Ou simplesmente não o deixe sozinho.

— Agora eu já sei — Nico murmurou, lembrando-se que Percy havia falado a mesma coisa para ele antes.

Quando Nico já estava na quadra onde ficava seu prédio, ouviu alguém gritar:

— Ei, vizinho!

Antes mesmo de se virar, Nico já sabia que era Will apenas pelo arrepio que sentiu na nuca. Quando olhou por cima do ombro, avistou seu vizinho acenando alegremente para ele do outro lado da rua.

Will usava regata e um short de corrida. Por mais que ele tivesse todo aquele ar de “garoto surfista”, Nico sempre o via usando jeans, camiseta e tênis durante a semana, provavelmente por causa da faculdade. Nico quase não saía de casa, principalmente nos finais de semana e muito menos a pé, então dificilmente encontrava algum conhecido. 

— Ah, droga... — Nico murmurou baixinho, enquanto olhava Will atravessar a rua e vir na sua direção. Ele queria sair correndo, mas suas pernas não se mexiam.

Ele não estava triste por encontrar Will, pelo contrário, ver esse cara sempre era um prazer e tanto. E esse era o problema.

O que foi? — Bianca perguntou. Ele estava tão atordoado que até havia se esquecido que a irmã ainda estava na linha.

— Hm, não é nada. Preciso ir. Tchau — ele desligou bem na hora que Will chegou.

— Oi, rapazes! — ele colocou os óculos de sol na cabeça e deu um grande sorriso, mostrando seus dentes estupidamente brancos e bem alinhados. Abaixou-se e fez um carinho rápido em Cérbero.

— Hm, oi.

Seria difícil manter uma conversa com Will sem reparar nas gotículas de suor escorrendo pela sua pele bronzeada. Ou como sua regata estava praticamente colada no seu peito definido. Ou que seu short era mais curto do que deveria e dava para ter uma bela visão das suas coxas torneadas. Ou...

Idiota, pare de babar pelo seu vizinho gostosão! Sua consciência ralhou com ele.

— Está tudo bem com você? — Will perguntou, lançando aqueles grandes olhos azuis na direção do garoto.

Nico desviou o olhar, sabendo que deveria estar olhado para o vizinho de um jeito um tanto indecente e perguntou-se mentalmente se Will havia notado. 

— Claro... — tentou disfarçar.

— Você parece mais exausto do que eu. — O lábio superior de Will tremeu, como se ele estivesse se controlando muito para não sorrir.  — E eu estava correndo.  

— Ah, fomos ao parque e...

— Deixe-me adivinhar: Cérbero fugiu. — ele completou.

Nico olhou para ele, totalmente sem palavras. Não sabia se estava mais surpreso por Will ainda lembrar o nome do filhote ou por ter acertado o que tinha acontecido.

— Você não parece ser do tipo que vai ao parque se exercitar, sem ofensas. — Will explicou, apontando para suas roupas pretas. — Você levou Cérbero para passear, ele fugiu e você precisou correr para pegá-lo. Certo?

Ele assentiu, envergonhado. Ótimo, agora seu vizinho deveria achar que Nico não conseguia dar conta nem de um filhote desse tamanho!

 — Relaxa, essas coisas acontecem. — Will colocou a mão no ombro de Nico, em um sinal de apoio. — Ele ainda é novo e tudo é diversão nessa fase.

O toque repentino pegou Nico de surpresa e ele deu um passo para o lado, se afastando do vizinho.

— O que foi? Eu disse algo errado? — Will estreitou os olhos, sem entender a reação exagerada de Nico.

— Não, é que... — Começou a falar, sem saber como concluir a frase. Como ele poderia dizer que odiava contato físico sem parecer um esquisitão? 

— Ah, foi mal! Esqueci-me que estava todo suado. Sem falar que não somos tão próximos ainda, não é? — ele riu. — Minha mãe sempre me diz que eu não sei o que é espaço pessoal e fico invadindo a privacidade dos outros sem perceber.

A culpa não era de Will, era Nico quem não sabia socializar com os outros sem surtar.

— Tudo bem — foi tudo que Nico pôde dizer quando eles já estavam em frente ao prédio.   

Eles subiram as escadas da entrada e esperaram o elevador sem falar nada. Quando chegou, Will entrou primeiro e se apoiou no corrimão. Nico entrou logo em seguida e ficou do lado oposto com o cachorro — o que não deixava tanto espaço assim entre eles, pois o elevador era pequeno. 

— Talvez Cérbero precise de adestramento — Will disse, quebrando o silêncio.

— O quê?! — Nico olhou para ele.

— É que eu fiquei pensando... acho que você deveria ensinar algumas coisas para ele. Só o básico mesmo, para que ele te obedeça.

Por que Nico deveria adestrar Cérbero? O cão nem era dele! Seu pai poderia fazer isso quando voltasse de viagem. Isso não era problema dele! 

— Ele me obedece. — Nico mentiu, querendo botar um ponto final na conversa.

— Sério? Não parece. — Will deu um sorriso zombeteiro. — Eu sinto que ele te leva para passear, e não o contrário.

Então era por isso que todo mundo que passou por eles hoje ficava os encarando e disfarçando a risada? Nico estava acostumado com olhares estranhos, mas era por causa do jeito que se vestia e como agia ao falar com alguém. Agora, o olhavam porque ele não sabia manter um filhote na linha também? Era só o que lhe faltava!  

— São apenas três semanas — ele deu de ombros, como se não tivesse muita importância. E para ele não tinha mesmo.

— E você acha pouco? Quando você disse “um tempo” achei que seria, sei lá, alguns dias! Três semanas é quase um mês, isso é muita coisa para um filhote. Se ele não aprender as regras básicas agora, vai ser mais difícil depois. Não se esqueça de que você é apenas o tutor temporário dele, quando ele estiver acostumado com seu apartamento, terá que ir embora. É muita coisa para um cachorro tão novo assimilar de uma vez só.

— Sério? — Nico perguntou. Ele não tinha cogitado essas coisas até agora. 

— Claro! Você precisa ensinar, pelo menos, os comandos básicos para que Cérbero te obedeça. Principalmente na rua, com a presença de outras pessoas e animais que possam o distrair. E terá que fazer isso sem gritar com ele. — Will explicou. Nico revirou os olhos. — Não me olhe assim, todo mundo acaba gritando com os cães no começo. Eles não são como os humanos, não entendem quando você briga por eles terem destruído o seu sapato, ou derrubado o vaso de planta.  Para os cães, o que melhor funciona é o “sistema de recompensa”: se ele fizer algo certo, você o elogia e dá um petisco. Mas quando ele fizer algo de errado e você não o recompensá-lo por isso, aprenderá que você não aprova o seu comportamento.

— Como você sabe tudo isso? Será veterinário? — Ele deixou escapar em um tom surpreso E quando viu Will olhando para ele de um jeito engraçado tratou-se de completar: — Hm, quer dizer, você está na faculdade, não é?

— Sim, estou fazendo mestrado. — Will respondeu e, depois de uma pequena pausa, continuou: — E você?

— O que tem eu?

Os lábios de Will tremeram, em uma tentativa falha de não sorrir.

— Você ainda está na faculdade?

— Ah... — ele ficou surpreso pela repentina curiosidade de Will sobre sua vida, pois eles nunca haviam conversando sobre assuntos pessoais. — Não, eu já me formei. Na graduação.

— Hm, entendi. — Ele assentiu, não parecendo totalmente satisfeito com a resposta. — Mas você quase acertou: eu quero mesmo ser médico, só que de humanos. 

— Legal... — Nico disse, pois não conseguia pensar em mais nada para falar.

Naquele momento, as portas se abriram, avisando que eles haviam chegado ao sétimo andar.

— Que cara é essa? — Will perguntou. — Você não consegue me imaginar usando um jaleco branco?

— Hm, consigo — ele respondeu, sentindo seu rosto ficar quente.

Claro que Nico conseguia imaginar Will Solace usando um jaleco... principalmente se ele estivesse usando apenas isso.

— Se precisar de ajuda, pode falar comigo. Você não precisa gastar contratando um treinador para apenas algumas aulas. — Will parou no meio do corredor e olhou para Nico. — Tudo que você precisa está no YouTube

— Vou pensar — Nico respondeu, tentando não parecer feliz demais com a proposta.

— Certo, me avise quando você tiver uma resposta definitiva. — Will abaixou-se para coçar a orelha de Cérbero. — Tchau, amiguinho. Tchau, Nico.

— Tchau — ele andou rapidamente na direção do seu apartamento, resistindo a vontade de virar-se e olhar Will, uma última vez, usando aquele traje esportivo que caía muito bem nele.

No princípio, Nico havia achado a ideia do treinamento absurda, mas talvez ele pudesse fazer esse sacrifício em prol de um bem maior: passar mais tempo com Will. 

Mesmo que fosse falando sobre cachorros. 


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Notas finais do capítulo

Será que Nico aceitará mesmo a ajuda de Will para adestrar o filhote? Saberemos no próximo capítulo!

Até sexta-feira que vem! õ/



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