When Darkness Shines Brightest escrita por darling violetta


Capítulo 4
Sonho sem fim, final




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Ciel permaneceu parado por alguns segundos, tentando entender o que acontecera. Ele viu Sebastian, contudo, ele agia e se mostrava diferente do usual. Também não se lembrava de Ciel. O demônio parecia melhor sem ele, na verdade.

Balançando a cabeça para se livrar dos pensamentos, Ciel precisou esquecer de Sebastian para se concentrar em sua missão. Ele precisava descobrir alguma coisa, qualquer coisa, que acalmasse seu coração para assim aceitar sua nova vida.

Ciel refez seus passos, voltando para a carruagem que o esperava. Exigiu ser levado à biblioteca. Ele sabia que guardavam alguns jornais mais antigos e decidiu começar sua pesquisa por ali.

Encontrando a seção certa, Ciel puxou uma pilha de jornais. Buscou em sua memória datas importantes, algo que resumisse os últimos sete anos.

Começou por uma data mais antiga, e encontrou a notícia da morte de sua tia Madame Red. Dada como assassinato passional, seu corpo foi encontrado junto de seu mordomo Grell.

Ciel folheou um pouco mais e lia inúmeras matérias sobre crianças desaparecidas. Ele e Sebastian acabaram com os culpados há quase quatro anos. Também encontrou uma matéria sobre o Campania, navio que afundou, onde descobriu que toda a família Midford perdeu a vida.

Continuou procurando e, todas as vidas que salvou nos últimos 7 anos, estavam todos mortos. Era como se nunca os tivesse salvo. Sentiu um aperto em seu coração. Sua família estava viva, mas a que custo? Dezenas, talvez centenas de pessoas inocentes se foram em troca.

Olhou os jornais mais recentes. Num deles havia uma foto em preto e branca de um rosto familiar. Seus cabelos estavam mais curtos, o olhar triste e seu rosto feminino possuía hematomas. Mey-rin.

Ciel sabia que sua empregada foi uma assassina de aluguel, mas, desde que a contratou, ela estava fora desta vida. Era extremamente leal, assim como os demais. Na matéria, Mey-rin estava condenada à sentença de morte. Outra vida que não conseguiria salvar.

Com um suspiro pesado, desistiu dos jornais. Viu o suficiente. Deixou-os onde estava e saiu.

Do lado de fora, procurou a carruagem, sem encontrar. O maldito empregado se foi. Amaldiçoou baixo e desceu as escadas. Perdeu a noção de quanto tempo ficou na biblioteca, mas o céu escureceu e a noite ficava mais fria. Abraçou-se como um vento frio e cortante passou por ele.

Andou um pouco, tentando, com sorte, encontrar a carruagem. Em vão. O homem medroso realmente se foi. Ciel segurou a cartola para o vento não levá-la uma outra vez.

Um papel amassado voou em seu rosto. Com uma nova maldição e prestes a jogá-lo fora, o desenho chamou sua atenção.

Em letras desbotadas lia-se "FREAK SHOW: o homem mais forte do mundo". E abaixo, também desbotado, havia o desenho de um rapaz. Mesmo através do desenho, era reconhecível como sendo Finny, o jardineiro. O rapaz estava em um circo dos horrores, onde seres humanos diferentes eram exibidos como atração. Impossível dizer se por sua própria vontade ou não.

Ciel embolou o papel e atirou na rua. Soltou um grito de frustração. Estava sozinho e irado. E pior. Pela primeira vez em tempos, não sabia o que fazer.

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Enquanto andava sem rumo, ele pensou em como nada fazia sentido. Sua mente estava um turbilhão. Pensamentos a mil.

Mas, enquanto andava, sentiu como se algo o seguisse. Ciel parou em seu caminho e viu uma sombra mais a frente. Ela diminuía de tamanho, como se o que o seguisse agora se afastasse. Ciel apressou os passos para encontrar a pessoa. Vislumbrou uma silhueta conhecida e, desta vez, estava sozinho.

"Sebastian!" Gritou.

O homem virou para trás e deu um sorriso. Ciel correu e o empurrou contra a parede. Embora o mordomo fosse mais forte, ele foi pego de surpresa.

"Ora, ora. Nos encontramos outra vez."

"Não brinque comigo, Sebastian! O que está acontecendo? Por que está me seguindo?"

Sebastian com um gesto gentil empurrou o rapaz para longe. Pela sua expressão, o jovem estava atordoado. Não era difícil ver a confusão e o incômodo em seu rosto.

"Em primeiro lugar, não sei o que quer dizer. Segundo, tirava uma folga de minha senhora. Vê?"

Sebastian ergueu o charuto aceso quase no fim. Para sua surpresa, o garoto parecia ainda mais frustrado. E, embora não fosse sua obrigação, ele sentia como se devesse cuidar do rapaz.

"Posso levá-lo para casa, se quiser. Então você me conta o que te aflige."

"Por que quer me ajudar?"

Deu de ombros. Deu uma última tragada no charuto e o jogou fora. Assoprou a fumaça longe.

"Talvez eu goste de você."

*******************************

Ciel assistiu como Sebastian chamou uma carruagem para eles. Ajudou o garoto a subir, depois também subiu e sentou de frente a ele. Sentiram a carruagem começar a se mover, seguindo as indicações dadas por Ciel.

A noite parecia escura, no entanto o garoto não tirava os olhos da estrada. Sentia os olhos vermelhos sobre ele, analisando-o de cima a baixo. Sebastian sempre parecia ler sua alma, e mesmo neste mundo isso não havia mudado.

Ainda em silêncio, voltou os olhos ao mordomo. Encararam um ao outro pelo que pareceu uma eternidade. Foi Ciel quem decidiu quebrar o gelo.

"Você… já teve um sonho, um sonho tão vívido que quando acordou a realidade não parecia real?"

"Talvez." Sebastian franziu o cenho. Não entendia ao certo o questionamento. Abriu a boca para falar, contudo o balanço da carruagem diminuiu até cessar.

O condutor desceu e abriu a porta. Sebastian deu um bom vislumbre da mansão e assoviou. Sua atual senhora não tinha a metade da riqueza. Passado o choque inicial, desceu e ajudou Ciel a descer. Estava sem as luvas e sentiu uma corrente de eletricidade correr pelos dois. Balançou a cabeça, mandando o pensamento inoportuno para longe.

"Espere aqui." Sebastian exigiu, ao qual o homem assentiu.

Então ele e o jovem se dirigiram para a entrada da grande mansão. Ciel mal tocou na porta e ela se abriu. Rachel não demorou em abraçá-lo. Vincent e o gêmeo vinham logo atrás, seguido por um homem já de idade.

"Meu menino, eu estava preocupada com você."

"Todos nós estávamos." A expressão de Vincent não era nada feliz.  "Um dos servos disse que você o obrigou a levá-lo à Londres."

"Com licença…" Todos voltaram a atenção ao homem bonito que acompanhava o garoto. "Acho que devo me retirar…"

"Quem é você?" Indagou Vincent.

"Um amigo. Agora adeus."

Sebastian deu as costas à família, contudo sentiu alguém agarrar sua mão. Olhou para trás e era o garoto.

"Acho que precisamos conversar. Todos nós…"

Vincent, Rachel, Ciel, Sebastian e o senhor, que ele descobriu ser um médico, se reuniram no escritório de Vincent. O chefe da família se sentou em sua poltrona enquanto eles ouviam o que o garoto tinha a dizer. Ele explica sua ideia do que estava acontecendo, e o médico fazia anotações. Os demais ouviam atentos e um tanto preocupados.

"Certo, talvez eu possa estar errado e o sonho fosse realmente vívido, mas não consigo me livrar desse sentimento." Ciel decidiu seguir o instinto, acreditando que algo estava errado.

"Querido…" Era Rachel, tentando soar compreensiva. "Seu pai e eu estamos vivos, seu irmão também…"

"E demônios não existem." Seu irmão acrescentou."

"Bem…" Todos olharam para Sebastian. "Só porque nunca vimos um demônio não significa que não existam. A maioria acredita em um deus que nunca viram." Fez uma pausa. "Se eu era um demônio, como você me invocou?"

"Sacrificando a alma do meu irmão morto." Ele não sabia como continuar. Soava muito irreal dito em voz alta. "Eu não sou louco."

"Ninguém disse que era." O médico se pronunciou. "Apenas deixe-me ver como posso ajudá-lo."

Sem muita alternativa, Ciel assentiu. Vincent o conduziu até o quarto e fechou a porta. Não trocaram nenhuma palavra e o silêncio era horrível.

Vincent voltou para o escritório após deixar o filho no quarto. O comportamento do garoto o deixava desnorteado. Fechou a porta atrás de si com um suspiro ruidoso. Todos esperavam sua volta para discutir a situação.

"O que ele tem?" Sua voz soou cansada.

"O que o jovem mestre pode estar exibindo é estresse ou algum colapso mental, como esquizofrenia. Os pacientes afetados apresentam um cisma entre pensamento, emoção e comportamento."

"Bem, ele falou de um sonho muito vívido. Talvez ainda esteja preso nele."

O médico levou a mão ao queixo, pensando na hipótese.

"É possível." Disse. "Mas se ele é incapaz de deixar aquele mundo, pode ser perigoso tanto para ele quanto para os outros."

"Quão perigoso?" Rachel abraçou o marido.

"Confundindo o real com o irreal, ele pode machucar alguém ou a si próprio caso se sinta ameaçado."

"O que podemos fazer?"

"O melhor no momento seria interná-lo. No sanatório, seu filho receberá tratamento adequado."

Tanto Rachel quanto Vincent assentiram. Fariam qualquer coisa pelo bem do filho. O verdadeiro Ciel apenas concordou com os pais, já Sebastian se absteve de uma opinião por ser um intruso ali.

Vincent guiou o médico e o restante do grupo para o quarto do filho. A porta estava entreaberta e o quarto, escuro. Seu coração parou uma batida como ele abriu a porta e não encontrou o garoto pendurado na janela.

"Filho!" Rachel sussurrou na intenção de trazer seu garoto de volta.

"Todas as pessoas que eu salvei, tudo que sou. Se eu não fizer algo, tudo isso vai embora."

"Irmão…"

"Isso acaba agora!" Vincent exigiu.

"Isso nunca acaba!" Gritou Ciel. "Eu não pedi essa vida, eu não escolhi isso. Mas aconteceu e se eu puder fazer alguma coisa, eu farei. Eu queria ser normal, mas não tive essa escolha desde os meus 10 anos."

"Filho, isto é loucura! Você precisa de tratamento."

"Por favor, fique."

Mas Ciel balançou a cabeça.

"Não é real. Eu perdi vocês há muito tempo."

"Mas nós estamos aqui com você. Por que o outro mundo seria melhor?"

"Porque tem que ser. Adeus."

Ciel deixou seu corpo cair para frente. Vincent e Sebastian correram, sem contudo conseguir alcançá-lo. Viram com horror o corpo caído metros abaixo sob gritos histéricos de Rachel e alguns empregados. O sangue vermelho formava uma poça debaixo dele. Era o fim.

************************

A chama de velas iluminava o corredor escuro. Sebastian abriu a porta do quarto de seu mestre devagar. Há um dia e meio encontrou seu mestre desacordado na banheira. Desde então ele dormia e o mordomo não sabia o que fazer. Ciel não tinha ferimentos além do corte em sua mão, então não havia motivos para ele não acordar.

Depositou o candelabro na mesinha ao lado da cama para observá-lo. O rosto de Ciel se contorcia em dor, como se ele sofresse. Havia uma bandeja de prata com um prato de sopa já fria também ao lado da cama. Mesmo com seu mestre desacordado, Sebastian preparava as refeições na esperança de vê-lo desperto.

Observou por um longo minuto o rosto do menino, ainda sem reação. Suspirou e pegou a bandeja e o candelabro. Estava prestes a sair quando ouviu um soluço baixo. Mais que depressa largou a bandeja e aproximou outra vez a chama das velas do rosto de Ciel.

Uma lágrima solitária escorreu por seu rosto indo manchar o lençol branco. Foi uma surpresa ao ver aquele par de olhos bicolores outra vez abertos.

"Mestre…" Sussurrou.

"Saia." A voz de Ciel saiu baixa e cortada por um soluço. Mais lágrimas molharam o lençol. Sebastian apenas assentiu e saiu. Estava a alguns metros de distância quando sentiu um aperto em seu estômago. A bandeja caiu de suas mãos, fazendo uma grande bagunça, mas ele não se importava.

Rapidamente voltou ao quarto do mestre.

"Mestre!" Gritou, pela primeira vez em sua existência, sentindo medo. A cena à sua frente fez seu estômago se retorcer de novo.

A arma que Ciel sempre guardava debaixo do travesseiro estava agora apontada para seu rosto. Caminhos de lágrimas manchavam seu rosto. Sebastian se aproximou. Segurou ambas as mãos de Ciel, abaixando a arma.

"Por favor, mestre, eu imploro. Não faça isso!"

"O que é isso para você?"

"Você ainda não terminou sua vingança, mestre. Não posso…"

"Estou tão cansado. As coisas que vi e fiz…" Encarou o mordomo. "É uma ordem, Sebastian! Mate…

Sebastian ajoelhou-se diante de seu mestre. Perdendo todo o decoro, abraçou sua cintura.

"Por favor, não. Seja o que for que está sentindo agora, apenas irá torná-lo mais forte amanhã. Apenas… fique comigo…"

A arma caiu no colchão macio. Sebastian se ergueu e guiou Ciel de volta a posição deitada. Passando ainda mais dos limites, o mordomo deitou ao seu lado sob as cobertas, envolvendo o garoto em seus braços.

Mesmo que Ciel o odiasse no dia seguinte, não conseguia evitar. Um arrepio percorreu o corpo de Ciel quando sentiu aqueles braços ao redor dele.

"Ficarei feliz em levar sua alma na hora certa, mestre. Apenas ainda não é o momento. Eu garanto que ficarei a seu lado até o fim. E este ainda não é o fim." Uma lágrima solitária escorreu por seu rosto. "É uma promessa…"


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