I - Herdeira da Noite: Êxodo escrita por Elizabeth Charpentier


Capítulo 7
Capítulo Seis




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Uma música clássica encheu os seus ouvidos e preenchia o ambiente com a melodia arrastada. Sua cabeça latejava tanto que até mesmo seus olhos pulsavam e doíam na mesma medida. Sentia algo quente escorrendo por sua nuca e testa, causando arrepios à medida que o líquido quente passava por sua pele.

Forçou seus olhos a abrirem, mas a luz forte a cegou, fazendo-a fechá-los no mesmo instante. A música que ecoava no ambiente a estava irritando e os acordes agudos latejavam em seus ouvidos, fazendo-a cerrar os dentes. Tentou mexer seus braços, mas algo forte a amarrava no lugar em que estava sentada, impedindo-a de se movimentar.

Abriu seus olhos novamente e desta vez conseguiu mantê-los abertos, mesmo com o incômodo. Olhou ao seu redor e parecia estar em uma espécie de porão mal cuidado. As paredes de concreto estavam sujas de mofo e com algumas coisas verdes que não conseguia identificar, talvez musgos. O cheiro de álcool e coisas guardadas, apesar de ser uma combinação estranha, se alastrava pelo lugar. Uma mesa de metal, parecida com mesas que médicos usavam em centros cirúrgicos, estava a poucos metros à sua frente coberta por um pano grosso e, mesmo sem saber o que estava embaixo dele, Nyssa sentiu um arrepio percorrer sua espinha com receio do que poderia ter ali.

Olhou para seu próprio corpo e viu manchas de sangue em sua blusa branca, suas mãos amarradas nos braços da cadeira e cordas passando ao redor de seu corpo, mantendo-a ereta e totalmente presa ao móvel. As amarras estavam deixando sua pele vermelha e irritada, machucando-a ainda mais toda vez que tentava se mexer para se soltar.

— Nyssa... — uma voz murmurou atrás dela. Nyssa tentou virar seu pescoço, mas a forte dor em sua nuca a impossibilitou.

— Rosemary? — chamou seu nome e apenas recebeu um gemido em resposta. — Você está bem? Droga. — praguejou, movendo-se inutilmente no lugar para tentar se soltar.

Ouviu uma porta sendo aberta atrás de si e seu coração deu um salto. Ouviu o barulho de algo sendo arrastado pelo chão de concreto bruto e logo Rosemary foi trazida até a sua frente, sentada e amarrada em uma cadeira, da mesma forma que Nyssa. Uma mulher desconhecida se pôs ao lado de Rosemary e deu uma leve batida em seu ombro.

A ruiva podia apenas ver suas costas esguias e altas, o cabelo negro combinando com sua roupa. Os dedos finos brincavam com uma mecha do cabelo de Rosemary e dali ela conseguia ver suas unhas pintadas de vermelho sangue.

— Encontro de família, hã? — encarou Nyssa com seus olhos totalmente pretos. — Acho que você esperou por isso por um loooongo tempo, não é Rose? — disse arrastando um pouco as palavras.

Nyssa as olhou confusa, encarando aquela criatura que ainda se mantinha posta ao lado de Rosemary, sem entender direito o que ela queria dizer com "encontro de família". Rosemary continuava com o olhar entristecido e a ruiva conseguiu perceber que ela estava chorando, mas logo levantou o olhar e gritou.

— Deixa-a em paz!

O demônio apenas riu e foi em direção à mesa de metal, arrastando-a para o lado de Nyssa com um barulho alto e desnecessário. Ela conseguiu olhar por uma fresta que tinha entre o pano e a mesa e conseguiu ver alguns objetos prateados ali.

— Com medo de que eu a machuque? — perguntou o demônio, passando seus dedos gélidos levemente pela bochecha da mais nova. — Ela é importante demais para algo de ruim acontecer, mas isso não quer dizer que eu não vá brincar um pouquinho com ela ou com você. — seus olhos negros voltaram a encarar Nyssa. — É uma pena você não saber do porquê de estar aqui e quem é realmente, as coisas seriam muito mais divertidas.

Andou lentamente em direção a Rosemary, com seu olhar fixado e um sorriso predatório. Nyssa começou a se remexer e a gritar para que a deixassem em paz, xingando-a de cada coisa que passava em sua mente naquele momento. Onde poderiam estar os garotos? Será que eles tinham recebido a sua mensagem? A criatura se irritou com a agitação e se virou novamente para ela, colocando um pano em sua boca.

— Bem melhor assim.

Voltou seu olhar em direção a Rosemary e pegou uma pequena lâmina que estava em sua cintura e passou levemente pelo seu braço desnudo, murmurando algo para ela que Nyssa não conseguiu entender.

Seu coração batia forte em seu peito e o medo a fez esquecer de qualquer dor que passava em seu corpo. Sabia que ela faria algo de ruim a Rosemary e por isso sentia cada vez mais medo e desespero por estar amarrada a maldita cadeira sem poder fazer nada. Não conseguia nem ao menos alcançar a faca que estava presa na parte de trás de sua bota para cortar a maldita corda.

O demônio colocou mais força na ponta da lâmina, fazendo-a cortar a pele, manchando o chão de sangue. Fez um corte passando por todo seu antebraço. Rosemary não gritou ou disse qualquer coisa, mantendo seu olhar preso no chão aos seus pés enquanto continuava sendo cortada em diversos lugares.

Não sabia dizer quanto tempo havia passado e durado, mas quando o demônio se virou limpando o sangue da lâmina em um pano, boa parte da pele exposta de Rosemary estava cortada e sangrava. Nyssa sentiu seus olhos marejarem e seu estômago embrulhar, mas engoliu o bolo que se fez em sua garganta e tentou controlar suas emoções.

— Rose não quer falar, mas será que ela vai abrir a boca quando eu arrancar toda a sua pele? — seu olhar agora era direcionado para a ruiva com um sorriso diabólico no rosto.

— Não toque nela. — Rosemary disse pausadamente, abrindo seus olhos e tomando um olhar ameaçador, o que fez com que o demônio risse.

— Acha que essa carinha...

Um estrondo a interrompeu, fazendo com que ela olhasse apavorada para algo atrás de Nyssa. Deu um passo para trás e abaixou o olhar sem dizer uma palavra.

— Qual é a dificuldade de vocês simplesmente fazerem o que eu mando? — uma voz feminina soou raivosa. — Agora limpe essa sujeira! — ordenou.

Nyssa ouviu passos atrás de si enquanto o demônio se apressava em limpar o sangue do chão. Permaneceu imóvel, tentando entender o que acontecia ali e quem era aquela que havia chegado. Sua mente trabalhava na tentativa de achar alguma explicação para o que estava acontecendo, mas nada de racional passava por ela. O corpo sangrento de Rosemary continuava a embolar seu estômago, mas não de nojo, e sim de medo.

Uma mulher parou a sua frente e a encarou com seus olhos brancos.

— Desculpem-me pelos modos de meus subordinados, eles são um pouco apressados, por assim dizer. — gesticulou com sua mão, afastando o demônio e pedindo para que ela se retirasse.

Ela se sentou na cadeira ao lado do aparelho de som e ajeitou sua jaqueta de couro. Nyssa havia visto poucas coisas sobre demônios com olhos brancos, considerados como do alto escalão do inferno, extremamente raros e letais. Estamos ferradas, pensou.

— Aliás, sou Banshee, creio que já sabe quem sou, então pularei essa parte. — encarou Rosemary. — Já sabe o porquê de eu estar aqui, não é?

Rosemary assentiu, mas dessa vez ela não estava apavorada, estava confiante. Seu rosto estava erguido e ela olhava diretamente para Banshee como se estivesse encarando uma simples humana, e não um demônio que poderia matá-la em questão de segundos se quisesse.

— Você sabe que eu não direi ou farei nada pra você. — murmurou.

— Infelizmente eu já esperava que você diria isso. — disse se levantando. — Mas você sabe que eu tenho meus meios para descobrir o que eu quero.

Banshee foi em direção a mesa de penal e retirou o pano, mostrando todo tipo de instrumento metálico e afiado. Nyssa arregalou os olhos e o medo cresceu dentro de si novamente. Não aguentaria passar por isso ou ver Rosemary sendo torturada, e o medo da ideia de perdê-la a assolou. Queria poder se levantar e protegê-la por algum motivo desconhecido, além da preocupação normal e de salvar uma inocente.

Depois de pegar algum instrumento que não conseguiu enxergar, andou lentamente em direção à Rosemary, girando a ponta afiada em seu dedo indicador. A música havia mudado para algo sombrio, como se estivesse acompanhando o que acontecia ali. Nyssa fechou seus olhos, impotente. Aquilo estava sendo agonizando e sentia sua garganta fechar.

A não ser pela música, tudo ficou em um absoluto silêncio. Não conseguia ouvir nem os passos de Banshee, então criou coragem para abrir seus olhos e suspirou aliviada, vendo as costas de Castiel a sua frente. Ele e Banshee se encararam por um tempo, até que ela começou a rir.

— Novamente salvando o dia, não é Castiel? — continuou rindo e começou a girar a lâmina em seu dedo. — Mas eu acho que desta vez você está tão curioso quanto eu.

— Solte-a. — ordenou.

Banshee estalou a língua e parou de rir. Olhou sério em direção ao anjo e jogou a faca em algum canto da sala.

— Você não pode simplesmente aparecer e interromper meu trabalho, anjo!

— Fui mandado para protegê-la e é isso que farei.

Com um estalar de dedos, Banshee sumiu. Castiel se aproximou de Rosemary, tocando levemente em seu rosto e todos os machucados em seu corpo foram curados. Ele a soltou das amarras e andou em direção à Nyssa, a soltando também.

— Obrigada. — agradeceu enquanto massageava seus pulsos. — O que diabos ela queria com nós duas?

— Isso é assunto para outro momento.

Da mesma forma que Rosemary, Castiel curou os poucos ferimentos do corpo de Nyssa, e, em um piscar de olhos, estavam novamente na casa, em sua sala de estar. Os garotos estavam sentados e pularam de susto quando as viram, mas logo tratam de se levantar preocupados.

— Você está bem? — Dean perguntou à Nyssa, segurando seu rosto entre suas mãos e a balançando para todo lado, procurando qualquer sinal de machucado, a deixando tonta.

— Droga, estou bem. — reclamou enquanto respirava fundo e sentia sua visão voltar ao normal.

— Conseguiu afastar o demônio? — Sam perguntou.

— Sim, creio que Banshee e seus lacaios vão se afastar por um tempo.

Nyssa queria perguntar novamente o motivo daquilo tudo e saciar sua curiosidade, mas sabia que não seria respondida novamente, então deixou para lá.

— Estou cansada... Não seria melhor se voltássemos para o hotel? — perguntou colocando as mãos no bolso da calça, se sentindo desconfortável ali.

— Vocês podem dormir aqui se quiserem. — propôs Rosemary. — Não quero ficar sozinha e também está muito tarde para dirigirem por aí. Seria uma forma de eu agradecer a tudo o que fizeram.

— Concordo. Podemos ficar esta noite e garantir que ninguém venha atrás de você. — respondeu Dean.

Revirou os olhos pelo relaxamento de Dean, mas todos acabaram cedendo e decidindo por dormir ali. Mas antes que pudessem subir para os quartos, Sam impediu que Castiel sumisse.

— O que elas queriam com as duas?

Castiel encarou Rosemary por um momento, que balançou levemente a cabeça para os lados em negativa. Nyssa suspirou frustrada, mas de alguma forma ela conseguiria as respostas que precisava.

(...)

Acordou no outro dia com uma puta dor de cabeça. O que quer que Castiel tenha feito com ela para curá-la, isto não se aplicava a longo prazo. A luz que passava pelas frestas da cortina fazia seus olhos arderem e a irritavam. Colocou o travesseiro por cima da sua cabeça e gemeu. Sentiu uma movimentação ao seu lado, mas não ligou e continuou na mesma posição até sentir um tapa forte em sua coxa.

— Cacete! — gritou, se levantando na mesma hora e vendo o sorriso zombeteiro de Dean, que estava na beirada da cama. — Argh, eu te mato Dean! — praguejou enquanto jogava um travesseiro em sua direção.

Massageou sua coxa enquanto resmungava palavrões em direção a ele, que ainda ria a sua frente.

— Por que me acordou assim?

— Já está na hora do almoço e temos que ir logo para o hotel e voltar para Sioux. — respondeu, já indo em direção a porta e saindo do quarto.

Bufou, se levantando e indo em direção ao banheiro. Tomou uma ducha rápida e vestiu as mesmas roupas de ontem, já que não havia trazido uma muda de roupa. Andou em direção à porta, mas o porta retrato em cima da cômoda chamou a sua atenção. Nele havia uma mulher e uma garota, ambas com os cabelos ruivos brilhando por conta da luz do sol. A mulher parecia ser Rosemary, um pouco mais jovial do que agora. A garota estava apoiada nela, rindo de algo. Nyssa encarou a garota e sentiu seu coração bater rápido demais.

Saiu do quarto com o porta retrato em suas mãos e foi em direção a cozinha, onde Sam, Dean e Rosemary estavam sentados ao redor da mesa, conversando sobre alguma coisa.

— O que é isso? — perguntou tentando transparecer calma enquanto entregava o porta retrato para Rosemary. — Por que estou nessa foto com você?

Engoliu o bolo em sua garganta e respirou fundo, tentando barrar as lágrimas que queriam escorrer pelo seu rosto. Não fazia sentido ela estar naquela foto e muito menos de Rosemary não ter dito nada sobre isso antes. Sua cabeça estava a mil e não conseguia pensar em nada claramente.

Sam e Dean a olharam espantados, revezando os olhares entre as duas.

Rosemary ficou em silêncio por um bom tempo, encarando a foto.

— Diz alguma coisa! — gritou quando percebeu que ela não responderia. A essa altura, algumas lágrimas escorriam por seu rosto, mas logo tratou de limpá-las com as costas de sua mão, irritada.

— Eu havia esquecido completamente desta foto. — murmurou. — Mas sente-se, será uma longa história. 

 


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