De certa forma, aquela noite estava sendo a mais estrelada do ano. Todos olhavam para os céus e faziam seus pedidos enquanto diversas estrelas cadentes passavam voando pelo céu. Crianças brincavam de achar formas nas estrelas enquanto estavam deitadas em suas camas. Para todos eles, era apenas uma bela noite.

Longe de suas consciências puras e inocentes, em um lugar que poucos podiam ver ou chegar lá, uma confusão se alastrava. Uma pequena garota corria entre as árvores por caminhos que ela conhecia tão bem quanto sua própria essência. Não olhava para trás com medo do que pudesse ver, com medo de ver sua possível morte chegando.

Ela sabia que havia feito algo de muito errado e que eles iriam puni-la da pior maneira que existisse, mas aquilo poderia valer a pena, tinha que valer a pena. Sabia que poderia não surtir efeito agora, mas sabia que num futuro não tão longe tudo entraria nos eixos.

Ela continuou a correr, correu tanto que sentia suas pernas doerem a cada passo, seu pulmão pedindo cada vez mais por ar; contudo ela não podia parar, apesar de saber que só estava ganhando alguns segundos.

Viu uma forte luz chegando perto de si e sentiu um baque forte em suas costas, que a fez cair ao chão. Virou-se rapidamente e viu a silhueta do anjo a sua frente. Outros dois seguraram seus braços e a levantaram do chão, levando-a para um lugar que ela desconhecia. Ela podia sentir o peso daquele lugar que poucos iam, podia ouvir os gritos agonizantes de algum lugar perto dali. Ela sabia que ali seria seu fim, onde passaria seus últimos minutos.

Colocaram-na de joelhos e acorrentaram suas mãos nas algemas no teto. Aquilo não era muito comum, mas segundo Ele, era um bem maior para todos. Os anjos se preparam, afiaram suas adagas e partiram para o ato. Como uma última forma de punição antes de sua morte, ela teria que ter suas asas arrancadas antes de ser apunhalada. E assim foi feito. Apesar de a garota implorar para que parassem ou seus pedidos de morte, eles não pararam até que a última pena fosse arrancada de suas costas.

Agora, ela estava jogada no chão, vendo seu sangue esvair de sua casca cada vez mais. Então ela teve uma ideia, outra ideia maluca, mas que ela teria que tentar. Levantou-se rapidamente em um momento de descuido dos anjos e pulou da janela a sua frente e correu aos tropeços até a fenda mais próxima. Encarou a paisagem abaixo de seus pés e respirou fundo, olhou para trás e, em um adeus silencioso e com uma promessa silenciosa de que tudo daria certo, pulou.