"É tão estranho. Eu te amei profundamente, com certeza eu te amei. Eu me adaptei completamente a você, eu queria viver por você. Mas por continuar fazendo isso, eu simplesmente não consigo mais aturar a tempestade dentro do meu coração. Preciso revelar completamente meu verdadeiro eu por baixo da máscara sorridente".

Epiphany - BTS

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Apesar do inverno estar chegando ao fim, com as flores de cerejeira florescendo por toda a cidade, a noite estava especialmente fria e cruelmente bela. Enquanto caminhava calmamente pelas ruas, Jimin observava a paisagem com uma certa melancolia ao imaginar o que enfrentaria ao chegar ao seu destino. Não seria nenhuma novidade. Estava acostumado a lidar com a situação, já que essa deveria ser a quarta ou quinta vez em que se dirigia ao restaurante, somente aquele mês, para lidar com mais uma desilusão amorosa de Jungkook.

Ele sabia que não era nada demais. Felizmente, Jeon Jungkook era o tipo de pessoa que se apaixonava fácil e superava um término mais rápido do que qualquer outra pessoa. Tudo o que ele precisava era de algumas garrafas de vinho, algumas horas falando mal de quem ousou partir seu coração e uma palavras de apoio de Jimin para seguir em frente no dia seguinte.

Mas a verdade é que Jimin estava cansado da situação. Estava cansado de fingir que não se importava com as horas que passava ouvindo as declarações de amor de Jungkook para homens dariam valor ao rapaz doce, divertido, tímido, talentoso, lindo e de um coração gigantesco.

Jimin o amava. Muito além de uma amizade. Um sentimento que nasceu de uma simples atração física, logo se transformou em uma forte amizade e foi além do que deveria ter ido. Jimin sabia disso. Ainda assim, ele não poupava esforços para obter um pouco de atenção de Jungkook.

De maneira humilhante, Jimin se moldava para tentar agradar ao rapaz, em uma tentativa frustrada de se tornar dono de seu coração. Ele queria amar e ser amado. Queria ser o responsável pelos sorrisos bobos e fofos de Jungkook. Queria que ele o elogiasse para os seus amigos, assim como faz todas as vezes em que se apaixona por um babaca novo.

Mas há um limite para o quanto se pode mascarar seus verdadeiros sentimentos e mentir sobre quem se é realmente. Permanecer muito tempo com uma máscara sorridente quando tudo o que se deseja é chorar e se entregar a dor corrói a alma e afeta o coração que se torna frágil e vazio.

Jimin suspira e encara a entrada do restaurante conhecido com desânimo. Depois de respirar fundo para mais uma vez esconder seus verdadeiros sentimentos, ele bate em seu rosto algumas vezes e adentrar o lugar que mais havia visitado nos últimos meses.

O elegante restaurante possuía uma iluminação baixa e aconchegante, enquanto uma banda apenas instrumental tocava uma doce canção de amor internacional que Jimin já havia escutado alguma vez, mas não se recordava o nome. As mesas estavam repletas de casais e no balcão do restaurante, completamente isolado do restante das pessoas e com uma garrafa de vinho e mãos, Jungkook exibia aquela melancolia que Jimin já estava acostumado a ver.

O barman estrangeiro, John Tyree, que era acostumado a servir Jungkook e Jimin, ergue a cabeça e sorri contido ao reconhecer o rapaz que se aproximava com mais um sorriso forçado. John encara Jimin brevemente e parece se sensibilizar com a situação que o rapaz enfrentaria assim que alcançasse Jungkook. Aparentemente, ele era mais um que já havia notado os sentimentos de Jimin e suas tentativas fracassadas de ser correspondido.

— Boa noite. – John cumprimenta Jimin, enquanto limpa o balcão.

— Boa noite, John. -  Jimin responde sorrindo gentil e no mesmo instante, Jungkook se vira para o amigo.

— Jiminie! Por que demorou tanto? – Choraminga Jungkook, dando aquele olhar de cachorro abandonado que sempre mexia com o coração de Jimin. – Eu já estava preocupado.

— Eu tive que resolver alguns problemas antes de ir. – Jimin mente, dando um fraco sorriso. Ele se senta ao lado do rapaz e o encara com o rosto apoiado sobre o punho e o cotovelo sobre o balcão. – Então, depois de apenas uma semana de namoro, Bae Mi Nam terminou com você?

— Sim! Ele é um idiota. – Resmunga Jungkook, tomando mais um gole de vinho em seguida. – Ele disse que estava confuso e que precisava de um tempo para ter certeza se realmente queria ter um relacionamento sério comigo. Aquele babaca! Se ele não queria nada sério, deveria ter dito isso desde o início.

Jimin retira a jaqueta que usava, desviando o olhar, apenas para controlar o “eu te avisei” preso em sua garganta. Desde que conheceu o personal trainer, Jimin soube que ele era somente mais um que queria ter algumas noites divertidas com Jungkook antes de desaparecer com uma desculpa esfarrapada. E ele havia avisado sobre suas suspeitas, mas como sempre, os conselhos e avisos de Jimin foram ignorados.

— Idiota! Se ele acha que eu me importo, ele está muito enganado. Bae Mi Go, onde você estiver, espero que saiba que eu não me importo com você e já te esqueci! – Exclama Jungkook, já afetado pela bebida.

— É Bae Mi Nam. – Jimin o corrige, dando um suspiro entediado.

— Isso! Aí está a prova de que eu já o esqueci. – Argumenta Jungkook, terminando de beber o vinho que estava em sua taça. – Agora eu só preciso encontrar um homem muito mais divertido, bonito, inteligente e que me ame muito mais do que esse idiota. Eu definitivamente irei encontrar, não é, Jiminie?

— É claro. – Concorda Jimin e ele pode ver a discreta expressão de repreensão de John. Dando de ombros e fingindo não notar, Jimin volta sua atenção a Jungkook, sorrindo com falsa positividade. – Não há nada que nosso Jungkookie não possa fazer. Não é à toa que você é chamado de Gold Maknae.

— Obrigado, Jiminie. Você me conhece melhor do que ninguém e é o único que parece me entender. – Comenta Jungkook, dando um sorriso doce. – A sua positividade e alto astral sempre consegue me fazer sair da fossa. Você é de longe a melhor pessoa desse mundo.

Ele suspira e pega a mão do Park. Por alguns instantes, seus olhos negros se fixam sobre os castanhos de Jimin. Há uma conexão que os deixam atordoado por alguns instantes até que Jungkook parece despertar da hipnose e desvie o olhar. O mais novo dá um fraco sorriso e enche a taça com vinho.

— É por isso que você sempre será o meu melhor amigo, Jiminie. Um amigo para toda a vida. – Continua o rapaz, bebendo seu vinho de forma melancólica. Ele então se vira para Jimin e ergue sua taça, dando um pequeno sorriso, que combinava em nada com a alegria que costumava exalar. – Bom, espero poder contar com você para ser meu padrinho de casamento e dos meus filhos.

Aquelas palavras atingem o coração de Jimin como lâminas afiadas. Ao ponto dele nem mesmo notar a leve amargura presente no tom de voz de Jungkook. John, que continuava a observar os amigos com curiosidade, dá um suspiro cansado e se afasta para atender a um novo cliente que havia se sentado no balcão isolado do restaurante.

— Oh, você está sem vinho. Eu vou pedir para John pegar uma taça. Te servirei a sua bebida alcóolica preferida. – Informa Jungkook, mas a risada sarcástica e carregada de mágoa pega o mais novo de surpresa.

— Vinho não é a minha bebida alcóolica preferida. – Confessa Jimin, sentindo seu coração pesado e cansado.

— Como não? Você sempre me disse que vinho era a sua bebida alcóolica favorita. – Jungkook encara Jimin com evidente confusão.

— Vinho é a sua bebida favorita, Jungkook. – Responde Jimin, frustrado. – A minha bebida alcóolica favorita é cerveja.

— O quê...? – Balbucia Jungkook, atordoado com a atitude repentinamente fria de Jimin. – Não! Impossível. Eu tenho certeza de que você gosta de cerveja. Você me disse isso.

— Eu menti para você, Jungkook! Eu simplesmente menti! – Exclama Jimin, alterando o tom de voz. Isso pega o Jeon ainda mais de surpresa.

— Como...? – Murmura Jungkook, completamente perdido.

— John, poderia me trazer uma caneca de cerveja? – Pede Jimin ao barman assim que ele os alcança, ignorando a reação de Jungkook. Ele estava tão frustrado, magoado e cansado, que já não se importava mais em esconder sua verdadeira personalidade.

O barman se surpreende ao ler o clima pesado que havia se formado ao redor dos dois amigos pelo pouco tempo em que ele havia se afastado. Jungkook parecia estar em estado de choque, enquanto Jimin exibia uma expressão severa e melancólica.

— Claro, Jimin. – Concorda John ao acordar de seus pensamentos, passando a encher a caneca grande de cerveja para o rapaz, assim como ele gostava de beber todas as vezes em que Jungkook apagava e ele finalmente sentia que poderia ser quem ele realmente era.

— Obrigado. – Jimin agradece, recebendo a caneca de cerveja.

— Se cerveja era sua bebida alcóolica preferida, por que me disse que vinho era sua bebida predileta quando nos conhecemos? – Indaga Jungkook, finalmente se recuperando da surpresa.

— Porque era sua bebida preferida e eu queria me aproximar de você. – Responde Jimin, após dar um generoso gole em sua cerveja. – Eu esperava que você me notasse se compartilhássemos dos mesmos gostos. Patético, não é?

— Te... notasse? – Repete Jungkook, sussurrando para si mesmo. Ele estava tão confuso e surpreso com as reações e palavras ditas por Jimin, que nem mesmo era capaz de processar as informações.

— Sabe, Jungkook, é tão estranho. Eu tenho te amado profundamente por tanto tempo. Eu te amo tanto que palavras não são capazes de expressar o tamanho desse sentimento. Eu me adaptei completamente a você. Eu simplesmente desejei viver por você. Mas por continuar fazendo isso, eu simplesmente não consigo mais aturar a tempestade dentro do meu coração que tem me destruído cada vez mais, dia após dia. – Confessa Jimin, deslizando o dedo pela boca da caneca em suas mãos, enquanto seus olhos permanecem fixos no líquido dourado, evitando olhar para Jungkook.

— O... quê...? – Jungkook balbucia mais uma vez.

— Eu sei que a culpa não é sua. Você não tem culpa do meu coração egoísta e do meu desejo de querer ser a sua primeira escolha. Não foi você que me pediu para mentir sobre mim mesmo. Fui eu quem se aproximou de você pela primeira vez com segundas intenções e pateticamente acabou se apaixonando tanto que se tornou um grande e ridículo mentiroso. – Jimin solta uma risada amarga e bebe mais de sua cerveja, criando coragem para finalmente encarar os olhos de Jungkook. - Eu sou quem eu deveria amar em primeiro lugar, mas você sempre foi a minha prioridade. É por isso que eu não me importava de beber vinho, mesmo quando desejava saborear uma boa cerveja. Eu não me importava de assistir filmes de heróis com você, ainda que eu não me importasse de fato com esse gênero.

— Jimin... – Sussurra Jungkook, tentando absorver as informações.

— Eu tenho esperado pacientemente pelo dia em que você me amaria da mesma forma que eu te amo, Jungkook. Dia após dia. Ano após ano. Eu tenho ouvido você se envolver com idiotas que não fazem o mínimo para te fazer sorrir, enquanto eu esperava ansiosamente pelo momento em que eu finalmente teria a chance de ser algo além de um amigo para você. – O Park continua a falar, tomando mais de sua cerveja em seguida. – Esse sou eu, Jungkook. Eu estou longe de ser alguém positivo. Uma pessoa egoísta que esconde seu verdadeiro eu atrás de uma máscara com a intenção de fazer você se apaixonar.

— Por que nunca me disse que se sentia assim? – Questiona Jungkook, parecendo compreender algo que não fazia sentido em sua mente.

— Porque eu esperava que milagrosamente você se apaixonasse por mim e perceberia que na verdade, o verdadeiro amor da sua vida sempre esteve ao seu lado. Porque pateticamente eu esperava uma declaração de amor semelhante as que você dava para todos os outros caras com quem você se envolveu, que me faria sentir como se todos esses anos em que meu coração sofreu por não ser correspondido tivessem valido a pena. – Explica Jimin, suspirando. Ele ergue a caneca vazia em direção a John, que entende o desejo do rapaz e não demora a se afastar para encher a caneca com mais cerveja. – Mas hoje, enquanto conversava você, eu tive uma epifania. Eu me enchi desse sentimento que expressa uma súbita sensação de entendimento e compreensão da essência de algo. Para você, eu sempre serei seu melhor amigo. Nada mais do que isso.

— Isso não é verdade. – Garante Jungkook, sentindo-se frustrado. – Você está completamente enganado.

— É mesmo? – Questiona Jimin com desdém. – No que eu estou enganado?

— Eu também amo você, Jiminie. Eu tenho te amado desde a primeira vez que meus olhos se fixaram em você. Mas eu sempre houve uma espécie de barreira invisível que me impedia de me aproximar por completo de você. – Confessa Jungkook com tanta sinceridade, que por alguns instantes, Jimin se esquece de como se deve respirar. – Eu achei que essa fosse sua forma de me fazer entender que eu sempre seria como um irmão mais novo para você. E de certa forma, eu aceitei essa situação, porque sabia que não era bom o bastante para você, Jimin.

— O que quer dizer com isso? – Pergunta Jimin, atordoado.

— Eu sempre machuco aqueles que amo. Aqueles que eu nunca deveria machucar. De maneira inconsciente, eu tenho a tendência a desejar a mais bela das rosas e quando eu finalmente a tenho, acabo esmagando-a até as pétalas caírem. Eu sempre acabo quebrando os corações mais carinhosos com palavras impensadas que não se pode retirar em momentos inoportunos, porque sou idiota demais para lidar com o amor. – Jungkook suspira e encara o vinho em sua taça. – Mas eu não consigo me afastar de você, Jiminie. Porque eu te amo mais que tudo e não posso perder você. Ainda que para ficar ao seu lado eu precise ficar com caras idiotas na tentativa de preencher meu coração vazio e solitário, eu o faria sem hesitação.

— Você... realmente me ama? – Sussurra Jimin, incrédulo. – Eu... quer dizer, você não está dizendo isso só por que está bêbado, certo?

— Isso responde a sua pergunta? – Indaga Jungkook e antes que Jimin tivesse a chance de questionar o que ele queria dizer, sua boca é coberta pela de Jungkook de forma faminta.

A eletricidade que percorre sua pele, enquanto suas línguas se encontram faz o corpo de Jimin estremecer. Tudo havia acontecido de forma tão inesperada que demora um tempo até que o Park entendesse o que estava acontecendo. No entanto, ao invés de se afastar e exigir por mais respostas de Jungkook, assim como sua mente exigia, Jimin aproxima ainda mais os corpos e assume o controle da loucura que cometiam no restaurante sem se importar com a presença das outras pessoas.

Quando se afastam em busca do fôlego que perderam, eles se encaram por alguns instantes e acabam sorrindo, incapazes de controlar o sentimento de satisfação e de realização de algo como um sonho que ambos compartilham há anos sem que soubessem.

Jungkook pega as mãos de Jimin, tremendo de ansiedade e pavor. Jimin sorri ao perceber que o mais novo estava realmente nervoso. Assim, ele permanece quieto, esperando pacientemente pelo que Jungkook hesitava tanto em dizer. Por fim, o rapaz suspira e beija as mãos do outro.

— Jiminie, eu não levo jeito para o amor. Tive mais relacionamentos do que gostaria em uma tentativa frustrada de esquecer você. Eu sempre acabo machucando as pessoas. Ainda assim, você estaria disposto a me dar uma chance de me fazer dedicar todos os dias de minha vida a tentar te fazer feliz? – Pergunta Jungkook, encarando Jimin com ansiedade.

— Isso é um pedido de casamento? – Brinca Jimin, simplesmente porque estava tão extasiado que nem mesmo conseguia reagir de maneira séria.

— Bom, era um pedido de namoro, mas se estiver disposto, podemos ir agora mesmo atrás de um cartório para realizar nosso casamento. – Retruca Jungkook, dando um sorriso traquina. Apesar disso, Jimin conhecia Jungkook o suficiente para saber que apesar do tom de brincadeira, ele estava dizendo a verdade e estava mesmo disposto a realizar um casamento, se Jimin dissesse “sim” para a ideia maluca.

— Você está realmente bêbado. – Comenta Jimin, acariciando o rosto corado de Jungkook. O que de certo modo também era verdade. O Jeon nunca foi muito tolerante a álcool e jamais teria coragem suficiente para fazer o que está fazendo e menos ainda dizer o que estava dizendo na frente de tantas pessoas no restaurante, se estivesse sóbrio.

— Talvez... – Sussurra Jungkook, desviando o olhar. Jimin ri e o mais novo arregala os olhos, voltando a encará-lo. – Mas tudo o que eu disse até agora é verdade. Eu realmente amo você, Jiminie. Seja meu namorado.

Jimin prende o riso e finge pensar no assunto. Ele estava ciente dos olhares curiosos e julgadores das pessoas que estavam no restaurante. Jimin também sabia que deveriam lidar com muitas coisas no futuro. Mas ele amava Jungkook e não era capaz de ver o seu próprio futuro sem que o garoto de sorriso fofo e corpo de tirar o fôlego.

Jungkook encara Jimin com expectativas. Tinha medo de ser rejeitado. Na verdade, tudo havia acontecido de maneira tão repentina que ele até mesmo cogitava se tudo não fazia parte de um sonho. No entanto, suas teorias desaparecem por completo ao ver o lindo sorriso de Jimin e perceber que ele era a razão do brilho em seus olhos encantadores.

— Sim, Jungkook. Eu aceito ser seu namorado. – Concorda Jimin, acariciando as bochechas do agora namorado.

Eles se beijam mais uma vez. John sorri diante do casal, aliviado por ver que mais uma história de amor que passava por aquele restaurante havia resultado em um conto com um final feliz. Afinal, depois de tanto tempo observando aqueles dois, ele tinha a certeza de que eles viveriam seu tão sonhado e desejado “felizes para sempre”.