Segunda chance escrita por Laura Vieira, WinnieCooper


Capítulo 39
Capítulo 38




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— Querida venha! Traga seu querido irmão. - Clara olhava Marcela andando quase entrelaçando as pernas com sua taça de dry martini ainda em mãos, lembrou dos contos de fadas que leu quando nova, parecia estar sendo atraída por uma bruxa má. Como a bruxa do João e da Maria com a casa de doces, só que no caso o que a atraia era dinheiro.

Clara parou de andar e olhou o irmão apreensiva.

— Não gosto dela. - Júnior falou primeiro. - Tem certeza que ocê quer vender suas pinturas pra ela?

— Eu não quero, vamos embora? - respondeu com medo.

— O que foi queridos? - Marcela perguntou rude. Não havia gostado dos cochichos.

— Tô aqui explicando pra minha irmã que a gente vai ter que ir porque nois temo que volta pra fazenda, vai escurecer e amanhã a gente traiz os quadro pra senhora. - Júnior pegou a irmã pelo braço e começou a caminhar para trás.

— Mas já estão aqui, vamos terminar isso de uma vez.

— Marcela quer que eu use de força maior? - o pai de Ana perguntou, estava atrás deles impedindo que fossem correndo para o elevador.

— Marcela? A senhora não chama Muriel? - Clara perguntou transtornada.

— Muriel Marcela meu anjo. Eu chamo Muriel Marcela.

Júnior sentiu um arrepio passar por sua espinha, se lembrou da conversa que havia tido com a mãe poucos minutos atrás.

— Marcela? Nossa mãe contou pra eu sobre uma Marcela! - ele olhou para Clara lhe jogando a informação, todo o quebra-cabeça se formava em seu cérebro. - Marcela é a mulher que acabou com nossa família, a que fez nossa mãe mudar pra europa com ocê e deixa meu pai aqui no Brasil comigo sem saber da sua existência. - Júnior explicou para a irmã sem receio dela escutar. - Vamo embora!

Clara começou a correr para o elevador ao mesmo tempo em que era puxada pelo cabelo por Marcela não deixando ela andar, Júnior tentou soltar a irmã quando sentiu algo pontudo em seu pescoço. O pai de Ana lhe apontava um revólver. 

— É melhor os dois ficarem quietos, porque eu não tenho nada a perder aqui, ao contrário de seus pais. - Marcela disse sorrindo.

xx

Catarina e Petruchio já haviam brigado entre si de todas as formas possíveis. Haviam acusado um ao outro de interesseiros, oportunistas e  os demais sinônimos, Catarina lhe arremessou todos os copos do estabelecimento. Os ânimos estavam tão aflorados que não perceberam o sumiço dos filhos. Foi então que a mulher se sentiu tonta e precisou sentar.

— …Agora vai se fingir de inocente. Vai falar que tá passando mal porque não quer ouvir mais verdades.

— Não, Petruchio, estou passando mal de verdade. - Catarina abaixou sua cabeça sentindo calafrios. - Por que tudo tem que ser tão difícil entre a gente? O nosso casamento, a nossa separação, a nossa reconciliação!

— É sempre ocê que deixa tudo mais difícil. - estava irredutível ainda abominando o que o dinheiro podia fazer com eles. - Primeiro a herança de sua mãe, agora a herança de seu pai. É sempre assim entre a gente, como um carma. 

— Eu não escolhi as condições de meu pai para receber a herança dele! - Catarina berrou cansada, chorando. - Ele não queria me ver sozinha na velhice, por isso foi atrás de você para garantir que estivéssemos juntos e construíssemos nossa família, por isso colocou essa cláusula na herança! Ele tentou me ajudar a não ficar solitária, mas como sempre ele quis mandar em minha vida e eu odeio isso! - ela chorava cansada, ainda sentindo-se fraca.

— Então por que ocê não me conto?

— Porque eu tive medo, porque eu não queria te chatear, porque eu não quero essa herança dessa forma! Eu não quero dinheiro nenhum Petruchio, acredite em mim!

Petruchio se sentiu arrependido na mesma hora, Catarina estava tão frágil, não podia cair na armadilha de Serafim novamente como da outra vez, era ele que plantava a semente do ódio entre ambos, agachou na frente da onde ela estava sentada, segurou sua mão preocupado.

— Eu tenho medo de te perder meu favo de mel. Eu tenho medo de te perder de novo por causa de dinheiro. Me perdoa. Me perdoa? - Petruchio implorou.

Catarina sentiu o clima bem mais ameno, como se a tempestade tivesse enfim passado e agora só restava a calmaria e a bagunça deixada.

— Você nunca mais vai me perder. Eu não quero cometer o mesmo erro duas vezes… - Catarina acariciou o rosto de Petruchio com os dedos levemente. - Eu quero nossa segunda chance por completo. Com nenhuma herança com condição nos atrapalhando e com nosso bebê vindo com saúde, para enfim termos nossa família. - ela pegou a mão dele e posicionou em cima de sua barriga.

Petruchio arregalou os olhos, sentiu suas pernas tremendo, seu coração disparou, sua mão tremia ligeiramente quando pousou seu olhar no ventre de Catarina.

— Um bebê? - sussurrou incrédulo.

— Ou dois, ainda não dá pra saber. - Catarina respondeu chorosa vendo ele aproximar o rosto de sua barriga e a abraçar pelo tronco, como da primeira vez.

— Um bebê pra eu ser um pai por inteiro. Pela primeira vez. - ele disse beijando o ventre de Catarina.

— E eu uma mãe por inteira, pela primeira vez.

— Nossa família completa, pela primeira vez. - ele ergueu seu tronco a encarando.

— Numa segunda chance. - Catarina abaixou seu rosto até o dele e o beijou com paixão, Petruchio retribuiu passando seu dedo entre os fios do cabelo dela. O beijo tinha gosto de recomeço e esperança, Catarina queria se agarrar a esse sentimento que a preenchia por inteira. O beijo era como uma dança harmoniosa com o ritmo ora rápido e urgente, ora lento e cauteloso, o retrato do beijo era quase um espelho dos sentimentos de ambos.

Catarina saiu de seus braços para respirar lhe dando pequenos beijos por sua face.

— Por que a gente tem que ser assim? Não posso lhe dar a notícia que vai ser pai novamente de uma forma calma? Eu até comprei uma roupinha e sapatinhos para lhe contar hoje a noite quando ficássemos a sós em nosso quarto. Mas o anúncio nunca é calmo com a gente.

Ela se levantou e foi até o balcão, pegou o pacote que havia escondido e mostrou a ele. Petruchio abriu com um brilho no olhar. Era um macacão de crochê todo branco, fazia pai com um sapatinho de crochê também branco. Sua pálpebra se encheu de lágrimas e ele só conseguiu dizer:

— É perfeito. A gente não comprou nenhuma roupa da outra veiz, num é? - ela negou com a cabeça se lembrando que da última vez ele não pôde aproveitar quase nenhum momento da gravidez com ela. Petruchio guardou a roupa e voltou a lhe beijar agradecido, no mesmo instante uma dúvida surgiu. - Mas Catarina, não é perigoso essa gravidez na sua idade?

— Não sou feita de açúcar Petruchio. - ela retrucou sentindo o carinho dele em sua barriga, ele havia se agachado e a abraçado na cintura, a barriga de Catarina parecia um novo vício. - Mas é um pouco delicada, o doutor me disse que preciso tomar vitaminas e que tenho que ser um pouco mais cautelosa, pelo menos nos três primeiros meses para não perder o bebê. Eu não posso perder esse bebê.

Ela falava enquanto ele passava a ponta do nariz num vai e vem em seu ventre. Petruchio se levantou quando ouviu a explicação da gravidez delicada e pegou outra cadeira para Catarina voltar a se sentar e colocar seus pés.

— Então ocê vai ser uma menina comportada! Nada de emoções fortes. Nada de vasos!

— Oras Petruchio. - Catarina riu quando sentiu ele lhe fazendo massagem nas costas. - Justo agora? Após o encontro tranquilo que tivemos depois que descobriu as condições de eu receber a herança de papai…

— Foi um erro, desculpa eu, agora nois não vai brigar por nove meses. Ocê vai ver, vou me comportar.

Catarina riu, estava adorando a face Petruchio pai zeloso consigo, quando se lembrou dos filhos.

— Nossos filhos! - exclamou preocupada se sentando ereta na cadeira procurando eles pela loja com o olhar. - Onde estão?

A essa altura já imaginava os dois descobrindo que teriam um irmão ou irmã, mas eles não estavam em lugar nenhum. Petruchio correu para a porta com medo de estarem trancados dentro da loja como da última vez, mas ela estava entreaberta, como antes.

— Sumiram!

— Dona Catarina? - um homem, o dono do comércio ao lado, o que ela havia pedido emprestado o telefone logo de manhã, apareceu na porta. - Sua irmã Bianca está no telefone da loja, pediu para lhe chamar urgente.

— Bianca? - Catarina levantou num salto assustada, seu coração se apertou em preocupação, não sabia porquê, mas presenteia o pior.

Petruchio tentou impedi-la de ir, argumentou que ele poderia falar com Bianca em seu lugar, que achou ela muito ansiosa e estava preocupado com o bebê, Catarina gritou que estava bem e que ela falaria com a irmã.

— Catarina, Clara e Júnior chegaram bem na loja?

— Como assim Bianca? - Não havia entendido a pergunta dela.

— Saíram há poucos minutos de casa com os quadros de Clara na carroça, não falaram o que iam fazer com as pinturas. Achei estranho, resolvi te ligar.

— A Clara trouxe os quadros dela na cidade hoje? - Catarina tentava raciocinar diante das informações que Bianca lhe entregava.

— Mimosa trouxe hoje de manhã com seu Calixto, logo depois da aula, Clara veio almoçar em casa com Laura e foi passear com Miguel com três quadros na mão, foi vender para uma mulher rica num hotel que está passando férias no Brasil. Laura me contou.

Um arrepio passou por sua espinha quando ouviu "mulher rica" e "hotel" juntos na mesma frase. Suas pernas bambearam e ela puxou um banquinho para se sentar. Petruchio olhou para ela preocupado.

— Que mulher é essa Bianca? Sabe o nome? - pediu urgentemente.

— Não sei, mas achei estranho que ela passou aqui agora com Júnior, acredito que foram vender os restantes dos quadros, achei Clara triste e ao mesmo tempo esperançosa, falava de um cheque para Júnior quando ele reclamava sobre carregar a carroça com os quadros pesados, falava que o dinheiro poderia salvar o casamento de vocês.

Catarina relou sua mão na testa, Clara queria vender os quadros para conseguir dinheiro e não vê-los mais brigar como faziam há pouco?

— Quanto tempo passamos brigando? - perguntou a Petruchio ainda com o fone no ouvido. - Acha que ela foi para onde? - perguntou para Bianca.

— Achei que poderiam ter ido para loja, depois fiquei preocupada e resolvi te ligar, talvez foram vender esses quadros para a mesma mulher do período da tarde. Só consigo pensar nisso. Não me passou uma boa impressão tudo isso.

— Fez bem Bianca, obrigada, vou atrás deles de alguma forma.

Catarina desligou o telefone, agradeceu o dono e voltou com Petruchio para a loja para conversarem. Narrou tudo o que havia ouvido da irmã.

— …Ela ouviu nois brigano e achou que nosso problema era dinheiro?

— Não devíamos brigar assim na frente deles. - Catarina negou com a cabeça preocupada, lembrava da filha chegando abalada do passeio com Miguel comendo doce de leite antes de Petruchio chegar raivoso. - Clara sabia das condições para eu receber a herança de papai e sabia que você detestaria saber disso. E depois que eu gritei que estávamos atolados em dívida ela… aí Petruchio, quero estar enganada mas...Preciso confirmar tudo com Miguel! Vamos até a minha antiga casa, pergunto a Filomena onde ele está trabalhando e vamos atrás da Clara e Júnior. Não estou com um pressentimento bom.

— Não é bom ocê ficar andando de carroça nesse sol.

— Não sou feita de açúcar. - reclamou quando o Petruchio relou em sua barriga.

— Além disso, Júnior levou a carroça.

— Vamos de carro de aluguel. É uma emergência!

Petruchio concordou, também estava preocupado.

Catarina começou a lembrar da filha chegando na loja, toda triste, chorosa, se lembrou dela lhe abraçando e do cheiro enjoativo do perfume que sentiu em seu pescoço…

— Meu Deus Petruchio! - Ela sabia de quem pertencia aquele cheiro, jamais esqueceu o cheiro enjoativo que sentiu pela primeira vez que cruzou com aquela mulher na sala da casa de seu pai. - É ela! É ela!

Catarina olhou o marido apavorada. Petruchio negou com a cabeça sem entender.

— Marcela esteve com Clara hoje! Ela voltou!

— O que que é que é que ocê tá dizendo? - Petruchio sentiu um calafrio passar por seu corpo.

— Eu senti o perfume dela! Quando abracei a Clara eu senti! Meu olfato fica super poderoso por causa da gravidez, como pude ignorar esse sinal? Meu Deus como sou burra! - Catarina bateu a palma da mão em sua própria testa enquanto andava de um lado para o outro. Petruchio segurou suas mãos para que ela não se batesse novamente. - Por que eu não percebi? Os sinais estavam todos ali! Por que?

— Não é possível ela tá no Brasil pra se vingar, ela não pode… - Petruchio tentava justificar o injustificável quando via a mulher quase chorar de desespero em sua frente.

— Ela me avisou que eu não poderia nunca mais te ver, Heitor estava me sondando! Ela sabe que estamos juntos novamente. Ela está com a Clara! E com o Júnior também! Ela vai se vingar! - relou a mão na barriga como sinal de proteção para o bebê, um turbilhão de lembranças caiu em seu colo e ela se lembrou de mais de quinze anos atrás. Tudo se repetia. - Petruchio não posso perder meus filhos! Eu não posso! - Chorava pensando no pior.

— Calma, ocê não pode ter fortes emoção por causa do bebê, lembra disso! Calma! Vamo atrás do Miguel, ele deve ajudar a gente e depois se a Marcela tiver por trás disso, eu memo dou um jeito nela.

— Pro meu antigo apartamento! Precisamos ir para lá! - Catarina enxugou as lágrimas de seus olhos e se recompôs, se Marcela estivesse por trás de tudo, ela descobriria e acabaria com ela. Não tinha mais medo e não iria mais fugir como fez da última vez.

xx

Elisa havia tomado sua decisão, não podia mais adiar, tinha que ser naquele mesmo dia, por isso foi até o cinema, observava Miguel no emprego novo varrendo o ambiente,
se aproximou dele:

— Ei, feliz em te ver trabalhando. - lhe entregou um sorriso sincero.

Ele a olhou surpreso e coçou seu cabelo da nuca.

— N-não é o me-e-elhor empre-e-e-go do mu-u-undo mas…

Elisa sentiu um aperto no peito ao ver ele gaguejando.

— Mas é um emprego e está ajudando a sua mãe com esse trabalho, como queria.

Ele concordou com a cabeça não muito certo do que lhe responder.

— E foi a Clara que conseguiu esse emprego para você… - ela concluiu chateada.

— C-Clara me aju-u-udou, mas…

Ele gaguejava, Elisa sabia que ele estava nervoso.

— Está ansioso? Quer conversar? - perguntou preocupada.

— Elisa e-eu pre-e-eciso fala-a-ar com vo-o-ocê.

— Eu primeiro. - pediu. Foram para um lugar mais reservado. Sentaram-se num banco um em frente ao outro. - Eu estou terminando com você. - Elisa disse de uma vez, Miguel arregalou os olhos. - Não posso viver uma mentira e você não pode viver se sentindo culpado por não ser por inteiro meu. E eu não posso me sentir culpada em ter um relacionamento pela metade porque não tive coragem o suficiente para deixar você partir. Você gosta da Clara.

— Elisa e-eu…

— Shiu. - ela relou o dedo nos lábios dele o fazendo se calar. - Minha vez. Não minta para mim, eu te conheço bem demais para ser enganada e não mereço isso. Eu não quero viver um amor pela metade, eu não quero ter que te dividir com o fantasma da Clara, eu quero ser por inteira de alguém que me queira por inteira. Então eu estou te libertando para me libertar. Dói demais agora, é como se eu estivesse pegando uma faca e apunhalando meu próprio peito, machuca, sangra. Mas eu sei que tenho que arrancar o curativo agora, deixar minha ferida secar sem tampar. Porque senão, a ferida ficará maior e impossível de se curar. - terminou com lágrimas nos olhos.

Miguel entortou seu pescoço para baixo e não conseguiu a contradizer.

— Me descu-u-ulpe, e-eu so-o-ou muito gra-a-to por tu-u-udo o que fe-e-ez por mim. Não que-e-eria te ma-a-achucar.

Elisa o abraçou e lhe deu um beijo suave na bochecha.

— Seja feliz. Eu serei feliz também.

Miguel não conseguiu se desfazer do abraço. A segurou como se fosse a última oportunidade de se despedir da pessoa que fez tanto por si. Não queria machucar ninguém, mas acabou fazendo chorar as duas garotas que mais se importava no mundo naquele dia, se sentia péssimo. Foi quando o gerente do cinema o chamou.

— Garoto, sua mãe está no telefone. Quer falar com você.

Miguel olhou para Elisa sem saber o que fazer.

— Vá, pode ser urgente.

Se despediu de Elisa um pouco ainda transtornado com todos os acontecimentos, quando ouviu a voz urgente de Catarina do outro lado da linha.

— Miguel, a Clara sumiu! Pegou seus quadros na casa de Bianca e parece que foi vendê-los para uma mulher rica num hotel, você sabe quem ela é e seu nome? Qual hotel ela está hospedada? Sinto que não é algo bom! Meu coração está apertado! Miguel me ajude! - Catarina falava atropeladamente.

— Fui ma-a-ais cedo com Cla-a-ara nesse hote-e-el, é um hote-e-el luxuo-o-oso chamado Gra-a-and Royale.

— Grand Royale. - Catarina anotou o nome num papel.

— A mu-u-ulher rica se cha-a-ama… Murie-e-el.

— Muriel? - por um momento ela se sentiu aliviada. Mas Petruchio que estava ao seu lado ouviu o nome e não ficou nada aliviado.

— Catarina! Muriel é o outro nome da Marcela! Era o nome que o pai dela chamava ela e dizia que era da mãe dele, que era de um anjo como ela. É claro que ele só dizia porque achava que a filha dele era inocente, mas de anjo a Marcela não tinha era nada…

Catarina não estava ouvindo ele divagar, assim que ele falou que Muriel era o outro nome de Marcela ela desmaiou.

Miguel ficou esperando na linha, mas ninguém lhe respondeu. Seu coração estava apertado, Clara estaria em perigo? Ela havia lhe dito que não havia gostado da mulher dos quadros, que não iria mais se encontrar com ela, que seu santo não havia batido com o dela…. então por que ela teve de mudar de ideia? Por que foi vender os quadros a ela novamente? Ele não poderia ficar ali sem ir atrás dela.

Pediu para o gerente para sair, lhe foi negado o pedido, era seu primeiro dia, mesmo assim Miguel não estava se sentindo bem em não agir. Acabou saindo escondido, prometeu a si mesmo que voltaria rápido e foi correndo para o hotel.

xx

Júnior não estava gostando nada daquilo, ele e Clara haviam sido colocados dentro de um quarto e trancados enquanto a mulher e o pai de Ana discutiam no cômodo ao lado.

Ele pegou um copo, colocou na porta para tentar ouvir alguma coisa, as palavras estavam um pouco abafadas, mas conseguiu ouvir algumas frases.

"...Eu não estou com eles para pedir dinheiro, também não tenho medo de ser presa, entenda, para mim é tudo ou nada!"

— Estou indignada que em mais de quinze anos, nossa mãe nunca me contou o que ela lhe contou nesta tarde. - Clara estava com os braços cruzados na frente do corpo, pensava no que o irmão havia acabado de lhe contar. Sobre Marcela ser o pivô de toda a separação dos pais e o motivo deles terem crescido sem o conhecimento um do outro.

— Fica quieta… - pediu sussurrando.

"Você sabe que não sou sequestrador, eu achei que havia me chamado para o hotel como seu convidado e que pudesse me ajudar em alguma vingança contra Catarina, que envenenou a cabeça da minha filha com ideias modernas".

— É impressionante como pode chegar de repente e roubar toda confiança da nossa mãe toda para você! Gêmeo preferido mesmo!

— E ocê com nosso pai, acha que eu consigo um tiquinho do que ocê consegue com ele? - Júnior virou para ela lhe respondendo tirando o copo da parede. - Eles querem tirar todo o atraso de anos e anos que a lonjura deixou. Nossa mãe se sente muito culpada de ter me deixado, então ela tenta se aproximar de eu contando as coisas e me pedindo pra contar coisas da minha infância pra ela. Tenta entender ela.

Clara compreendia o que o irmão falava, mas ainda sentia certos ciúmes de sua mãe nunca lhe confiar certas informações importantes. Se Catarina tivesse lhe contado desde o começo sobre Marcela,  ela não teria caído naquela armadilha. Júnior voltou a ouvir. Desta vez a voz de um homem diferente surgiu.

"O carro está lá embaixo Marcela, para onde pretende levá-los? Os funcionários do hotel pareceram um pouco desconfiados".

"Eu sei Heitor, é por isso que não podemos ficar mais aqui. Iremos para a fábrica dele!"

"Minha fábrica? Não quero ser cúmplice de você!" O pai de Ana retrucou.

"Já está envolvido nisso, é melhor colaborar!"

A maçaneta começou a girar e Júnior guardou o copo no criado mudo ao lado.

— Vocês irão descer como dois adolescentes comportados sem chamar atenção, ou então eu mato os dois e acabo com minha vingança sem avisar seus pais antes! - Marcela os ameaçou.

Clara olhou para ela brava, pegou o copo que o irmão havia guardado e arremessou na cabeça dela. Marcela desviou no último segundo.

— Por que quer se vingar? Já não basta ter separado nossos pais, ter arruinado nossa família, por quinze anos?! - Clara gritou ao mesmo tempo em que Heitor segurava seus braços com força para trás.

— A sua mira é tão boa quanto a da sua mãe querida, por sorte eu sempre fui muito excepcional em desviar dos vasos lançados por ela! Catarina nunca me acertou um sequer! Acredita?

Júnior resolveu colaborar, tinha um plano, deixou que o pai de Ana segurasse seus braços para trás e tentou andar o mais normalmente possível, enquanto Clara tentava se desvencilhar de Heitor de todas as maneiras. Por fim começou a gritar.

— Pare com isso garota! Achei que fosse mais inteligente. - a arma usada anteriormente foi parar nas costas de Clara desta vez, Heitor tampou sua mão com um sobretudo e fez Clara congelar de medo e começar a andar e colaborar para que ninguém no hotel notasse nada de anormal no grupo de três adultos e dois adolescentes.

Ela observava os funcionários trabalhando por todos os lados com os olhos arregalados, mas ninguém pareceu notar seu grito mudo. Quando pisaram porta a fora quis berrar. Antes que fizesse isso outra voz gritou:

— CLARA!

— MIGUEL! - ela gritou de volta sem acreditar que ele estava do outro lado da rua, chegando como um super herói para lhe salvar.

— Seu capacho é realmente bem eficiente. - Marcela admitiu raivosa quando percebeu o adolescente chegando perto deles. - Só que burro também, precisamos levá-lo!

— Mas eu estou segurando a garota. - Heitor respondeu.

Marcela bufou e reparou que Júnior permanecia tranquilo e colaborando. Foi até o empresário e mandou que segurasse Miguel que corria para eles como uma mosca se atraindo para um foco de luz.

Em meio a troca de mãos, Júnior conseguiu se desvencilhar e saiu correndo.

— Não deixe ele fugir, não deixe! - Marcela gritou raivosa. Heitor tirou a arma de trás de Clara e apontou para ele.

Clara correu, conseguiu chegar até Miguel que estava no meio da rua.

Marcela não acreditou na cena que estava vendo, seus dois patos voando em liberdade e seus dois capachos protagonizando um filme de comédia de Charlie Chaplin. Pegou a arma da mão de Heitor e voltou a apontar para Clara. Mandou que Heitor e Assunção corressem atrás de Júnior.

Não queria chamar a atenção para a fuga, mas parecia que todos os notavam. Chegou perto de Clara a passos rápidos enquanto ela abraçava Miguel trêmula. 

— Vá para o carro andando, sem chamar atenção!

Clara olhou para ela raivosa, a arma estava em sua cintura novamente, num movimento rápido, cuspiu no rosto de Marcela.

— Atira!

— N-não! - Miguel gritou desesperado.

Marcela fungava sentindo o cuspe de Clara descer por seu rosto.

— Você é igual à sua mãe, então… - Marcela desta vez apontou o revólver na cintura de Miguel. Clara arregalou os olhos e fez não com a cabeça desesperada. - Os dois para o carro sem causar alarde, AGORA!

Miguel segurou a mão de Clara fortemente e ambos foram até o carro sem que chamassem atenção.

Júnior correu o mais rápido que conseguiu para longe, correu até sentir que não conseguia respirar mais. Virou numa esquina bastante movimentada e se encolheu atrás de um vendedor ambulante. Colocou um chapéu e um óculos, tentou se camuflar. Viu o pai de Ana andando por todos os lados tentando encontrá-lo com o tal de Heitor ao lado. Esperou que desistissem e torceu para que a irmã estivesse bem.

xx

Petruchio sentiu Catarina tão frágil em seus braços, ajeitou ela no sofá da casa de Filomena e pensou se deveria ligar para o médico dela. Ao mesmo tempo ficou pensando nos filhos que talvez estivessem correndo riscos no mesmo momento. Se viu numa encruzilhada, estava sem saída. A certeza que tinha era o nome do hotel em um pedaço de papel e que se não fosse rápido para lá poderia ser tarde demais.

— Filomena ocê cuida dela. Cuida dela pra mim, Catarina tá grávida.

Filomena se espantou com a informação, mas ficou feliz apesar de estar preocupada.

— O senhor pode ir, cuidei de dona Catarina durante tanto tempo, sempre que ela precisar de mim estarei presente.

Mas antes que ele se ajeitasse para ir embora, Catarina abriu os olhos assustada.

— Petruchio, Petruchio… - chamou ele um pouco atordoada.

— Tô aqui, tá tudo bem. - Petruchio segurou na mão dela que estava trêmula. - Ocê fica aqui nos cuidados da Filó que eu vô atrás da Clara e do Juninho no hotel.

— Não não não! Eu vou com você!

— Catarina ocê acabou de desmaiar. Não vai fazê bem nem pro bebê e nem pr'ocê. Lembra o que o doutor disse de emoção fortes.

— Eu te avisei que a Marcela estava na espreita. Eu sabia que o Heitor iria contar a ela assim que eu voltasse ao Brasil sobre a nossa convivência! Eu senti o perfume dela em Clara! Eu e só eu tenho um assunto inacabado com ela de anos atrás quando ela me ameaçou com meus filhos ainda na barriga!

Catarina estava irredutível, Petruchio preocupava-se cada vez mais.

— Mas Catarina, o bebê, ocê tem que pensar no bebê.

— Petruchio, são nossos filhos! - ela pediu chorando a ele. - Como posso ficar aqui se ela está com nossos filhos? Não vou me perdoar se algo acontecer com eles.

— Arriégua! - ele coçou a nuca tentando pensar numa solução. - Então ocê fica no carro, e eu entro no hotel atrás dela!

Catarina concordou com a cabeça, concordaria com tudo o que ele lhe propusesse só para conseguir chegar no hotel.

— Vem com nois Filo, vem com nois que ocê cuida dessa teimosa no carro pra mim.

Filomena concordou com a cabeça e os três foram enfim para o hotel sem saberem que estavam indo viver a mais terrível das sensações: se sentirem impotentes perante aos riscos que os filhos estavam correndo.

 

 


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