Corvo Branco escrita por Costtolinana


Capítulo 9
07. Os Próximos Cinco Anos (parte 2)


Notas iniciais do capítulo

Sim, eu voltei dos mortos.

Não tenho muita desculpa pela demora, aconteceram muitas coisas nesse tempo que precisaram da minha atenção e acabou consumindo muito de mim.

Tentarei não demorar mais para aparecer e postar mais capítulos, espero que consiga cumprir isso.

Então é isso, até mais.



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OITAVO ANO: GATO BRANCO



O tempo estava bem gostoso. Sentia o vento passar delicadamente por seus cabelos, os bagunçando ainda mais. Fechava seus olhos para aproveitar mais aquele momento e se sentir parte da natureza, parte da própria Mãe Mágica. Todos estavam de certa forma ocupados hoje. Seu pai Severus estava em uma convenção de pocionistas que estava acontecendo em Londres, seu pai James estava em casa soterrado de papelada do seu setor de aurores já que era chefe de esquadrão e responsável pelo treinamento de novos recrutas. Rose tinha ido para a casa de algumas meninas do povoado que fica em torno do casarão, ela realmente precisava de vez em quando conviver com outras garotas e Harry, ficou ali, sem nada para fazer além de contemplar as coisas e olhar para si mesmo, aproveitando daquele tempo sozinho com sua própria companhia. 

Resolveu caminhar um pouco pelo jardim e continuar curtindo aquele sentimento gostoso que habitava em seu peito. Ele sentia sua magia o abraçar delicadamente ao se conectar com o ambiente, o agraciando com uma sensação extremamente gostosa. Se espreguiçou como um gato, soltando um gemido de satisfação, Harry se levantou de sua almofada enorme e andou em direção ao jardim. 

As flores estavam lindas, todas desabrochadas exalando um doce aroma onde ele passava. As árvores frondosas ainda continuavam com sua imponência de sempre, mostrando para Harry que não importa a tempo, elas sempre iriam resistir a passagem das estações orgulhosas e fortes. 

Caminhando ainda olhando para as árvores, ele viu uma coisa. El estava deitada no enorme galho, parecendo feliz por sentir o frescor e o calor gentil que o dia proporcionava. Ficou ali, observando a cena até que um certo desejo invadiu sua mente, ele queria subir naquela árvore. Claro que ele sabia que não deveria fazer isso sem a presença de um adulto, seus pais já tinham avisado sobre isso inúmeras vezes para ele e sua irmã. Eles deveriam saber que, com o sangue de Severus e James correndo em suas veias, algumas regras acabariam sendo quebradas eventualmente. 

Sorriu para a sua pequena familiar deitada confortavelmente naquela árvore e se aproximou. El, sentindo a movimentação abaixo de si, abriu seus olhos claros como prata líquida e ficou a observar seu amado mestre. Ao tocar no tronco da grande árvore, Harry olhou mais uma vez para cima e se encheu de  determinação, era isso que ele queria, se provar de alguma maneira, correr algum risco. Mesmo que ele e Rose aprontassem muito juntos com toda a sua amada família, ele era o mais quieto dos dois enquanto Rose era a maluca que sempre saia correndo pelos lugares deixando todos desesperados com suas travessuras. Agora, sozinho ali, era sua vez de sentir um pouco da adrenalina que sua irmã vive se submetendo. Deve ser divertido no final das contas, se ela sempre se mete em confusão. 

Dando impulso, se agarrou na casca da árvore e foi subindo devagar, sem olhar para baixo com medo de desistir no meio do caminho. A cada pequeno passo que dava, se sentia mais confiante, cheio de coragem. Assim que terminou sua pequena escalada, olhou para os lados sem acreditar. Ele tinha feito isso, ele tinha feito! Olhando para El, que agora estava ao seu lado, sentiu o olhar profundo que sua pequena gata deu e sentiu um sentimento de orgulho através de seu vínculo compartilhado. Feliz, procurou uma posição mais confortável, o que não foi difícil já que aquela árvore era enorme. Agora mais confortável, possuía um sorriso aberto, observando o terreno de cima daquela árvore. Ficou ali, fazendo carinho em El enquanto se perdia na vista da sua casa e de um pedaço do povoado. Será que conseguiria ver Rose dali de cima? Como ela vai reagir quando ele contar o que tinha feito? Será que ela vai achar divertido? E seus pais, vão o colocar de castigo? Agora ele entendia do porque sua irmã sempre fazia esse tipo de coisa, era gostoso sentir o frio na barriga, o desafio, a sensação de vitória quando se consegue subir, era fantástico.  

Não sabia por quanto tempo  tinha ficado ali, apenas contemplando as coisas mas, sabia que estava perto do almoço. Logo seu pai estaria procurando por ele e com toda a sinceridade, por mais que aquela situação de puro desafio e traz aquela sensação gostosa, ele não queria experimentar a fúria de seu pai. Claro que ele pensou num possível castigo, isso não quer dizer que ele realmente queira sofrer tal penalidade. Olhou para baixo e veio o pensamento: como desço daqui? Subir foi fácil, até demais, ele conseguia ver para onde estava indo, facilitando seu trabalho. Agora descer… Deu um suspiro profundo enquanto se distraía coçando atrás da orelha de seu familiar. Olhava para baixo à procura de algo que ele não sabia, que o ajudasse a descer. Seria ridículo ser encontrado ali, preso em cima de uma árvore. Sabia que Rose jamais ia deixá-lo em paz com isso. 

Puxou o ar profundamente e se preparou para o que viria, ele precisava descer e era isso que ele faria. Com cuidado, Harry foi se movendo pelo grosso galho em que ele estava apoiado, dessa vez olhando para baixo. Ao chegar perto do tronco, resolveu que era hora de começar a sua descida. Um pé de cada vez ele colocou nos pequenos espaços na árvore, sempre procurando encaixar seu pé para ter a certeza de que não iria protagonizar um acidente. El apenas observava tudo do seu lugar, ainda naquele galho, passando através de sua conexão força e coragem para que ele chegasse ao solo em segurança. 

Harry estava indo bem, um passo de cada vez. Ele não entendeu porque o seu pé tinha escorregado e como ele começou a cair. Sua única reação foi fechar seus olhos o mais forte possível e esperar o choque do seu corpo com o chão. Quando percebeu que estava demorando demais, se viu suspenso no ar, sendo segurado pela mão por uma garota. 

Era pequena, parecia ter por volta dos seis ou sete anos. Seus cabelos brancos caíam em cascata pelas costas em ondas perfeitas. Seus olhos eram claros, como se fossem prata líquida e sua pupila era estranha, apenas uma listra na vertical. O que mais o chamou atenção foram as outras coisas que ela tinha: um par de orelhas de gato e um rabo peludo em riste, como se estivesse em alerta.

— Ora, você bem que poderia ser mais cuidadoso. Queria mesmo me matar? — falava calmamente, ainda segurando Harry pela mão — Acho melhor descermos antes que você consiga realmente se acidentar — disse puxando o menino com apenas uma mão, para o galho que ela agora estava. 

Sem fala, Harry se viu vidrado naqueles olhos bonitos e familiares, que agora a sua dona o auxiliava na descida. Ao chegar são e salvo no chão, Harry pode finalmente respirar aliviado. Ele meio que prometeu a si mesmo que demoraria muito para ele tentar subir em uma árvore novamente. 

A garota veio em sua direção, tocando o seu rosto, verificando se tinha ferimentos. Ao ver que não tinha acontecido, ela sorriu brevemente e se esticou, se espreguiçando. Harry olhava aquilo fascinado, principalmente pelo rabo que ia e vinha de um lado para o outro. 

Olhou para suas mãos, depois para o galho de onde havia descido. Estava faltando alguma coisa, algo importante. Ele não estava sozinho no galho, sabia que não. Ele tinha sua familiar no mesmo galho que ele, aproveitando o dia gostoso. Ela não estava mais ali e essa garota tinha o salvado, então…

— El? — perguntou incerto.

— Sim? — respondeu a garota com orelhas de gato e olhos prateados.

— É você mesmo? — ainda se sentia incerto

— Sabe, pensei que você ia demorar mais para entender quem eu era.  

— Como eu posso ter certeza de que é você? — estava olhando para ela profundamente, procurando qualquer fundo de mentira. 

Foi quando ele sentiu. Aquilo que ele sempre sentia desde que seu relacionamento com El foi crescendo e se fortificando, desde o momento que sentiu o calor do seu pequeno corpo em suas mãos. Ali ele sabia que ela estava falando a verdade, aquela era realmente a sua querida El.

— Como? — foi a pergunta que saiu pela sua boca.

— Explico depois. Agora vamos almoçar. Você precisa se alimentar bem para crescer saudável e eu realmente estou querendo aquele pedaço de bife que o Sr. James me prometeu esta manhã — segurou sua mão com delicadeza, um pequeno calor preenchia seu ser sempre que ela o tocava.

 Era parecido com o calor que sentia quando sua irmã o tocava, como seus pais, como seus padrinhos e como Tom. Era algo precioso que ele gostava, era o que o fazia orbitar por essas pessoas de modo tão intenso.  

Caminhando junto dela, ainda sentindo seu calor passando pela sua mão, Harry se deixou ser guiado para casa, onde Tina esperava por ele no acesso ao jardim.

— Jovem mestre estava demorando, Tina estava preocupada — falava nervosa

— Olá Tina, eu estou bem, não precisava se preocupar.

— É trabalho de Tina cuidar da saúde da família Potter-Prince, Tina zela pela família dela — falava apressada torcendo os dedos em seu uniforme bordado com os símbolos das famílias Potter e Prince.

— Tudo bem, Tina, ele estava comigo — disse El sorrindo levemente.

— Se estava com a pequena gata então meu Jovem Mestre estava seguro — sorria daquele seu jeito simples e cativante para um elfo doméstico — O almoço está pronto, o Mestre James está esperando pelo Jovem Mestre à mesa.

— Obrigado, Tina, irei lavar as mãos primeiro. E Rose, ela vem? 

— Não, a menina Rose vai almoçar na casa da criança trouxa, volta para casa somente no fim do dia.

— Tudo bem, obrigado por me avisar — disse por fim se encaminhando para o banheiro

— Como quiser — fez uma leve reverência e partiu.

Ainda segurando a mão de sua familiar agora crescida, Harry lavou suas mãos e se encaminhou em direção à mesa na sala de jantar. Ao chegar perto de seu pai, o viu já sentado servido do maravilhoso almoço feito por Tina, que sempre parecia se superar a cada  prato que fazia. Olhando para ele, esperou ser notado pelo mesmo, o que não demorou para acontecer.

— Boa tarde, Harry, venha, sente-se e coma alguma coisa — James olhava apenas para seu filho. Percebendo pouco tempo depois a presença da garota, franziu o cenho, olhando atentamente para ela.

— Harry, querido, quem é a sua amiga? — perguntou olhando para as mãos dadas das crianças.

— Olá, Sr. James, não me reconhece mais? — sorriu tranquilamente para o homem.

— Deveria? — perguntou intrigado.

— Creio que sim, já que o senhor me prometeu um bife suculento hoje pela manhã, não lembra? — sorria abertamente para James, mostrando seus dentes brancos com os caninos afiados.

— Pai, esta é a El — respondeu Harry — De alguma maneira ela ficou assim.

James ainda desconfiado, olhou melhor para a menina ao lado do seu filho, procurando ver alguma ponta de mentira. Observando melhor, percebeu as orelhas e a calda que pareciam com de um gato que balançava para lá e para cá, animado. 

— El? 

— Sim, Sr. James, sou eu. Quem mais saberia que o senhor gosta de colecionar cartões de sapos de chocolate? Ou que sempre que quer se distrair da papelada do seu trabalho fica jogando sozinho snaps explosivos? Ou ainda-

— Certo, certo, entendi, você fala a verdade — disse desesperado — Não precisa contar tudo. Ainda bem que Severus não está por perto — suspirou colocando a mão no peito. 

Ela soltou uma gargalhada e olhou para o desespero do homem à sua frente. Ela gostava dele, do seu jeito atrapalhado e divertido, brincalhão. Sempre James enchia o rosto de Harry de sorrisos e isso, era a coisa mais importante para ela. 

— Venha, pequena, sente-se para comer com a gente — apontava para a cadeira à sua frente — Até porque você disse que eu estou devendo a você um belo bife, não é mesmo? — sorria para a menina que deixou sua cauda em riste com olhos brilhando. 

Harry, que via tudo isso, apenas sorria ternamente. Sentindo as emoções pelo vínculo estabelecido com sua familiar, apenas achava graça de tudo que estava acontecendo. Sentou em sua cadeira, se serviu e começou a comer tranquilamente, com El ao seu lado e seu pai a sua frente, todos fazendo a refeição em um silêncio confortável.

Em meio aquele silêncio, Harry tinha inúmeras perguntas fervilhando em sua cabeça. Porque El estava assim? Porque ela não contou para ele antes? Pensar que ela não confiava nele para contar esse segredo o deixou desanimado. Eles estavam juntos a um tempo agora, ele deveria saber que ela poderia se transformar assim. Será que ela poderia fazer isso quando quisesse ou somente era algo que acontecia de vez em quando? Será que só aconteceu porque ele estava em perigo? Inúmeras questões ficavam ali, flutuando, o distraindo, o que fez mal o tocar na comida. 

Sentiu uma pequena mão, menor do que a sua tocando a sua perna. Ao olhar para a dona da mão que o tocava, viu seu sorriso singelo e um olhar cheio de promessas. “Confie em mim” dizia. E ele não tinha outra opção a não ser confiar. 

Assim que o almoço terminou, James deixou as crianças sozinhas, achando que seu filho poderia tirar suas dúvidas mais tarde, ele ainda precisava terminar seu trabalho que parecia nunca terminar. 

Harry a seguiu calado em direção ao seu quarto, onde entrou e fechou a porta. Foi em direção a sua cama e se sentou ali, de frente para a garota de orelhas e rabo de gato. 

— Bom, pequeno mestre, faça as suas perguntas — ela sorria olhando para ele, com suas mãos entrelaçadas em cima de sua coxa.

— Você ainda é um gato?

— Claro que sim, faz parte da minha natureza.

— Então, como você ficou assim?

— Por sua causa.

— Minha causa? Não sei ao certo o que eu fiz

— Na verdade foi por causa da sua magia. Ela se fortaleceu o suficiente para que eu pudesse mudar de forma. Acho que isso foi uma coisa que minha senhora esqueceu de lhe dizer quando ela me entregou de presente a você.

— A quanto tempo você consegue ficar assim?

— Faz alguns dias na verdade — disse com sua voz mansa. Percebendo a feição triste no rosto do menino, se apressou logo a dizer — Não fique com essa cara, não era que eu queria mentir para você, eu só estava me acostumando primeiro com minha nova condição.

— E então?

— Então que eu realmente me sinto feliz que agora você saiba, mesmo que tenha sido de uma maneira que eu não programei. 

— Você é pequena…

— Bom, você não é muito sutil, sabia?

— Desculpe

— Meu corpo tem a aparência de uns seis anos agora. Mesmo que em anos de gato eu seja mais velha do que você, meu corpo está acompanhando o crescimento do seu corpo devagar.

— Quer dizer que você vai envelhecer mais?

— Não sei, isso é uma coisa que eu não sei te responder.

Harry olhou no fundo dos olhos cristalinos e deu o sorriso mais sincero.

— Bom, já que você está assim, podemos brincar?

— Claro — El desceu da cama e ofereceu sua mão mais uma vez para Harry.

Assim que ele a pegou, foram juntos novamente para o jardim, onde se divertiram com as brincadeiras favoritas de Harry. Quando Rose e Severus chegaram em casa e viram o que tinha acontecido, receberam a notícia com certa festa, principalmente Rose que agora teria uma menina, mesmo que fosse a gata do seu irmão, com quem conversar. 



● ● 

 

Uma coisa que aconteceu depois da revelação de El é que todos se acostumaram rapidamente com a situação. Quando contou para seus familiares e seus amigos sobre a pequena gatinha branca que se transformava em uma pequena menininha de olhos prateados todos concordaram que ela já era parte deles de qualquer maneira. Rose ficou apenas um pouco desanimada por saber que seu Eros, o seu familiar em forma de pardal, não poderia se transformar em humano também, o que logo foi superado quando ele mostrou finalmente suas habilidades de metamorfo, se transformando em um belo corvo branco. 

Harry estava mais uma vez escrevendo em seu caderno, o dia estava nublado e uma chuva ameaçava cair em pouco tempo. Estava deitado no chão do seu quarto de barriga para baixo, usando um lápis para escrever. Por mais que penas sejam usados em seu mundo, preferia muito mais a simplicidade de um lápis e uma borracha, ajustando seus escritos sempre que necessário modificações. Sua fiel amiga estava deitada em sua forma felina em suas costas, aproveitando do calor do corpo quente de Harry para se sentir confortável, estando relaxada. 

— Será que assim está bom? O que acha El? — perguntou para a gata que apenas soltou um miado fino — Acho que você tem razão, Lucia deveria alertar sobre o livro. Como será que eu farei isso? — fez uma expressão pensativa olhando para o nada, tentando criar um caminho para seu personagem. 

O fim de tarde foi passado assim, Harry sempre perguntava coisas a gata branca que sempre respondia com diversos tons de miados, dos agudos até os mais graves, e ronronares. Quando menos se percebeu, já tinha escurecido e estava na hora do jantar. 

Desceu as escadas pulando de dois em dois degraus, cantarolando uma melodia que tinha ouvido em um sonho que teve na semana passada. Era acompanhado pela sua fiel companheira, que sentia de longe o cheiro gostoso do jantar. Todos já estavam ao redor da mesa esperando os dois, Rose estava impaciente. 

— Demorou, hein.

— Desculpa, perdi a noção do tempo.

— No que está trabalhando agora, querido? — perguntou seu pai James sorrindo.

— É na minha história, papai. Estava pensando em como minha protagonista vai avisar aos outros os perigos do livro negro.

— E como é esse projeto? 

— Bom, é um livro cheio de histórias em que a protagonista tem que juntar todas, se não, pode acontecer algo muito grave. 

— Vejo que está muito adiantado. Espero que consiga terminar sua história.

— Obrigado, papai. 

E todos foram fazer sua refeição na mais bela paz. 

“Se perguntava como tinha acabado naquela situação. Ali, parado em frente a rainha, em meio a toda aquela multidão que esperava por seu poema. Tinha sigo coagido pelos guardas, segundo eles, a rainha se interessou por seus poemas e tinha o convidado para declamá-los em sua presença no palácio real. Sem muita escolha, seguiu com eles, escoltado pelos guardas, para o que seria sua maior provação. 

Chegando em frente a rainha, declamou seus melhores poemas, sempre mostrando seu fervor em cada frase, em cada palavra. A majestade sorria, absorvendo cada palavra, cada coisa que saiu de sua boca. No fim, depois dos aplausos dela e de sua corte, ela deu a ordem.

‘Faça algo em minha homenagem’

Aflito, se encontrava olhando para ela. Não era assim que as coisas funcionavam. A inspiração era algo único, que aparecia quando se sentia especialmente tocada com algo que ele experienciou. 

‘Faça algo que me exalte’ demandou mais uma vez.

Não podia. Ele não poderia exaltar outra mulher além de sua amada. Luna era tudo que ele tinha e nada poderia ser maior ou melhor do que ela.

‘Não posso’ foi o que respondeu.

‘Como assim não pode? Por acaso sabes quem eu sou?’ disse a Rainha em sua fúria ‘Sabes o poder que eu tenho?’ 

‘Sei que Vossa Majestade é detentora de grande poder, mas, não posso trair meu coração exaltando outra a não ser aquela que detém meu amor. Minha alma como poeta não me permitiria cometer tal crime’ disse com humildade.

‘Pois muito bem, se não podes fazer o que desejo, também não poderás mais viver. Se preferes sua alma de poeta à sua vida a perderás aqui esta noite.’

Com um gesto, um guarda chegou por trás dele, desembainhou sua espada. Com um suspiro triste, olhou para o céu esperando seu destino, esperando seu algoz fazer o serviço. 

Sorriu triste. Saiu nessa viagem sem saber aonde isso o levaria. Deixou sua amada para trás para seguir aquilo que seu coração mandava. Agora, olhando para trás, via onde seu coração o levou, não poderia estar mais feliz. Viveu uma vida plena, sorriu e sofreu como desejava, foi feliz. Seu único arrependimento foi deixar Luna para trás. Mesmo assim, respeitou a si mesmo e ao seu amor, sua alma estava feliz. E assim foi a última vez que ele suspirou.”

Acordou assustado. Foi real demais, como se ele realmente tivesse sido aquele homem. Angustiado, sentiu alguém sussurrar palavras de consolo, alisar seus cabelos. Quando conseguiu focar seus olhos, percebeu El ao seu lado, em sua forma humana, sorrindo para ele de modo gentil.  

— Tudo vai ficar bem, não se preocupe — dizia enquanto fazia um carinho gostoso em si. 

— E se aquele sonho voltar? — perguntou sonolento.

— Eu estarei aqui, ao seu lado.

— Promete?

— Prometo

— Jura de dedinho?

— Eu juro.

Gentilmente pediu espaço para ele e se deitou ao seu lado, ainda fazendo carinho em seus cabelos. 

— Boa noite, Harry.

— Boa noite, El.

E assim os dois entraram tranquilos para a terra dos sonhos, sabendo que um cuidaria do outro se algo acontecesse. 




● ● 





NONO ANO: NOVOS MAROTOS



    — Voltem aqui seus pestinhas! — Sirius gritava correndo atrás de cinco crianças.

— Que é isso, Sirius, você ficou bem mais bonito assim — disse Draco rindo enquanto corria.

— Ora seu pequeno — perseguia com fervor os pequenos que gritavam e gargalhavam em meio a perseguição.  

    Remus que veio ver o que tinha acontecido ficou estupefato quando o olhou. Cabelo, sobrancelhas, todos os pêlos de seu rosto estavam pintados de arco-íris. Não somente isso, diversos desenhos de unicórnio o enfeitavam. Sua pele mudava de cor, sempre brilhando em neon. Ao vê-lo, não teve jeito, caiu na gargalhada. O som do seu riso foi tão alto que chamou atenção dos outros adultos da casa. 

— Mais o que- — foi apenas o que Lily disse antes de começar a rir. 

Bellatrix riu de maneira maníaca enquanto Severus estava com uma câmera em mãos tirando uma foto de com um sorriso malicioso.  Todos eles riam do pobre homem que se sentia derrotado e cansado. As crianças riam de longe, para não caírem nas garras do animago. Sirius suspirou, choramingando em direção ao seu marido que agora mais controlado, confortava o homem. 

— O que aconteceu? — perguntou Remus.

— Esses pestinhas, modificaram meu shampoo e meu sabonete, me deixando assim. E agora Remy, o que eu faço? Como eu vou ficar com minha beleza estragada? — fazia beicinho enquanto era confortado pelo seu marido.

— Como vocês fizeram isso? — disse James curioso.

— Ora Tio Jamie, nós vimos algo escondido no seu escritório. — disse Neville com um sorriso travesso.

— Eu sei que o senhor disse que não deveríamos entrar lá mas, Rose acabou se escondendo lá quando brincávamos de esconde esconde — continuou Tom

— Eu achei nas gavetas alguns papéis de brincadeira — Rose complementou

— Daí fomos ao laboratório do padrinho quando ele não estava olhando e preparamos tudo. Claro, tomando cuidado para não tocar em nada perigoso — Draco ergueu as mãos tentando apaziguá-los. 

— Só que precisávamos de alguém para testar— Harry sorria docemente — Pensamos em Tia Lily mas ela é muito esperta.

— Papai e mamãe me conhecem demais para saber que eu estava aprontando — Alice e Frank olharam para seu filho afirmando com a cabeça.

— Tio Jamie e o padrinho são difíceis de pegar. Principalmente o padrinho. 

— Tia Bella é maluca, ninguém sabe como ela iria se vingar da gente

— Tivemos pena de aprontar com Tio Lucius e Tia Cissa — Tom sorriu para eles — Só sobrou mesmo o pai Remus e o Papai Sirius. E sabemos qual é o elo mais fraco. 

Os adultos olhavam para as crianças como se crescessem uma terceira cabeça. Como os pequenos pensaram em tudo isso? Eles pensaram e armaram e isso os surpreendeu.

— Bom, isso foi realmente inesperado — Alice olhava para os adultos na sala.

— Não nega que eles tenham pegado a parte mais inteligente da família — Lily estufou o peito orgulhosa.

— Quieta, Lils, é claro que eles puxaram a mim — Severus apontava para seu peito.

— Culpa sua, James, quem mandou deixar uma coisa assim acessível? — Narcisa olhava intensamente, quase o dissecando com o olhar. 

— Em minha defesa, eu nunca pensei que eles iriam mexer naquela gaveta.

— Certo — disse a mulher desconfiada. 

As crianças sempre pareciam que estavam aprontando alguma coisa. Os adultos estavam em alerta, se eles fizeram uma brincadeira com Sirius qualquer um poderia ser um alvo em potencial. Severus era o único que parecia nunca se preocupar com nada além de suas poções. Era como se as crianças soubessem que brincar com ele estava fora dos limites. O sorriso sarcástico dele enervava os outros. 

As brincadeiras sempre eram as mais inofensivas, mudança de cor ou fazer crescer cabelo ou ficar careca. Eles adoravam ser os resultados e o rosto dos adultos surpresos. Todos sabiam que eles eram os culpados, nunca ninguém foi pego. 

 

●  ●



Era Junho, faltavam poucos dias para o aniversário dos gêmeos. Narcisa e Alice estavam animadas planejando tudo para que ficasse perfeito. Ninguém era maluco de se meter, não se quisessem ser arrastados ao ritmo frenético de compras e decoração. Até Lily, que era conhecida como uma força da natureza, tinha medo das duas juntas. 

As crianças não se importavam muito, seus dias eram sempre divertidos quando passavam juntos e o aniversário era mais um dia assim, animado e cheio de alegria. 

Dessa vez, ela seria na mansão Malfoy e Lucius sempre corria de sua esposa se escondendo em seu escritório. Narcisa corria para cima e para baixo, sempre resolvendo alguma coisa. Frank aproveitava seu trabalho como auror para se esconder, ele não era maluco de se colocar em frente a sua esposa agora. 

  Os pequenos estavam comendo sanduíches e tomando refrescos para se livrar um pouco do calor daquele dia muito quente. Mesmo com roupas leves, ainda suavam, por isso, relaxavam embaixo de uma grande árvore perto dos pavões albinos dos Malfoy. 

— Eu sinto que estou me desfazendo e virando um poço de gosma — Neville estava deitado e largado na grama, sentindo sua camisa grudar em seu corpo.

— Nesse momento queria apenas um pouco de vento fresco — Harry respirou profundamente olhando para o céu.

— Bem que poderia chover, não acham? — Tom bebia seu suco com alegria, aproveitando do gelado do líquido. 

— Vamos, não é tão ruim assim — Draco sorria para seus companheiros.

— O quê? Você é maluco? Eu sinto que vou morrer desidratada. 

— Você é mole, Rose, isso sim. 

— Como se atreve, seu loiro encardido?

— Gente, vamos nos acalmar, sim? — Harry tentou sorrir mesmo desanimado com aquele clima. 

— O que está acontecendo? — Corvus se aproximou levantando uma sobrancelha.

— Draco está apenas sendo uma peste, como sempre — Rose estava emburrada, com braços cruzados. Ele estirou a língua para ela antes de dizer:

— Você que é uma chata, todos sabem disso.

— Bom, já que vocês estão bem o suficiente para brigarem, tenho uma proposta. 

— Qual?

— Uma guerra de balão d’água. O que acham? — disse um Corvus animado, com um sorriso de orelha a orelha. 

— Eu topo!

— Eu também.

— Acho que vai ser divertido, tem água no meio afinal

— Então, vamos. 

Os pequenos agora se levantaram com energia renovada, pulando em animação, esquecendo um pouco o calor. 

Corvus tinha preparado um balde cheio de bexigas, que estava sendo carregada por um elfo doméstico. 

— Chegamos, senhores e senhora — fez uma reverência para eles — Aqui está o prometido. Vamos, cheguem mais perto, dêem uma olhada na mercadoria. 

— Assim eu fico com medo de você, sabia? — Rose sorria abertamente.

— Assim você me magoa, querida. — fez uma cara desolada e sorriu logo em seguida.

Todos chegaram mais perto do balde, observando os balões coloridos cheios. Era como um canto de sereia, parecia que estavam sendo chamados por aquele desejo de brincar. Tom foi o primeiro deles. Segurou o balão, o jogando um pouco para cima, sentiu seu peso. 

— Bom, que os jogos comecem — e jogou o balão em Harry.

A partir daí foi uma grande bagunça. Todos corriam e gritavam quando eram acertados por um balão, sentindo a água molhar suas roupas e trazer um pouco de alívio e frescor naquele dia quente. O balde parecia que sempre repondo o estoque de balões, que parecia nunca acabar, fazendo a brincadeira durar mais. Quando terminaram, estavam ofegantes, molhados e alegres. Os sorrisos que adornavam seus rostos foi o que os adultos encontraram, se perguntando o que tinha de fato acontecido com eles quando não estavam olhando. Definitivamente aquela tinha sido uma das melhores ideias. 

 

●  ●



O dia chegou. A decoração estava a todo o vapor, elfos domésticos trabalhavam levando e trazendo coisas com ordens de uma Narcisa e uma Alice autoritárias e frenéticas. Tudo tinha que ser perfeito. Todos fugiram assim que tiveram a primeira oportunidade. Se antes da data elas estavam malucas, agora estavam no pico. As crianças sempre sabiam onde se esconder e os adultos inventavam qualquer coisa para se manter distantes.   

Os mais novos estavam trancados na sala de música, quase ninguém ia lá. Eles conversavam baixinho, esperando que nenhum adulto os encontrasse. 

— E o que vamos fazer? — Rose falou.

— Como assim?

— É nosso aniversário, precisamos fazer alguma coisa para impressionar todo mundo. 

— Tipo o quê? — Neville agora olhava para ela curioso.

— Não sei, qualquer coisa. Ideias?

O silêncio pairou por alguns minutos, como se a resposta fosse brotar do nada. 

— Já sei! E se olharmos o caderno de brincadeiras? Sempre tem ideias ótimas. 

Houve um aceno de cabeça de todos os outros, achando a ideia uma boa coisa. Chamando um elfo doméstico, conseguiram o item e começaram a planejar. O caderno de brincadeiras foi algo feito pelos marotos: James, Sirius, Remus e Peter. Era onde anotavam suas ideias e brincadeiras de maior sucesso. Desde o dia em que as crianças roubaram do escritório de James, os adultos tentaram de todas as maneiras recuperá-lo, o que se provou uma tarefa muito difícil.  Folheando as páginas, procurando a brincadeira perfeita, eles acharam o que poderia ser a melhor coisa de todos os tempos. Só tinha um detalhe: eles precisavam da ajuda de um adulto e eles já sabiam quem seria a pessoa perfeita para auxiliar nessa tarefa. 

— Quer dizer que vocês querem a minha ajuda para aprontar na festa? Vocês estão malucos? Se algo der errado hoje, Narcisa e Alice vão morrer do coração, nem quero pensar o que elas vão fazer quando colocar as mãos em um de vocês.

— Sabemos disso — falou um Draco com um brilho nos olhos.

— Mas é nosso aniversário, temos o direito a uma brincadeira, não temos? — Harry sorria de modo perverso.

— Por favor, realmente precisamos de ajuda — Rose fazia olhos de cachorrinho.

—E porque eu?

— Você é bom com feitiços e poções — Tom disse com olhar clínico.

— Você tem uma varinha — Neville apontou para o objeto escondido na manga.

— E você gosta de ver o circo pegar fogo — Harry sorriu maliciosamente.  

Passou alguns segundos de deliberação até que eles ouviram um “Tudo bem, vou ajudá-los”. Eles pularam e deram vivas, felizes que sua amada brincadeira seria um sucesso com certeza. 

De tardezinha, uma boa hora para se começar uma festa, todos estavam reunidos para a comemoração. Dessa vez, havia mais convidados além de sua amada e grande família. Alguns amigos de seus pais e outros adultos conhecidos estavam na festa. Tudo estava perfeito, bebida e comida à vontade, um parquinho foi montado para as crianças se divertirem e havia um vai e vem de elfos domésticos servindo os convidados. Todos sorriam e conversavam alto, aproveitando o belo momento de conforto e paz. Na hora dos parabéns, brindaram ao nono ano dos gêmeos, que estavam vestindo roupas com tons combinando, ideia de Alice. 

Após os parabéns, era hora de cortar o belo bolo recheado e apetitoso encomendado a uma doceria fina e cara. Todos se deliciaram com a sobremesa que parecia se desmanchar na boca. Todos estavam satisfeitos e felizes com a chegada do final da festa. Foi quando uma coisa estranha começou a acontecer. 

Um dos convidados começou a cantar. A cada tentativa de falar, uma nova canção saia de sua boca. No outro lado do salão, outra pessoa começou a cantar. E outra, e mais outra. Quando perceberam, todos estavam em uma grande cantoria desorganizada. Os convidados estavam divididos entre o desespero e a diversão, Sirius acabou entrando na brincadeira e começou a cantar uma ópera. Narcisa que não sabia o que fazer, começou a dar ordens aos elfos em uma voz desafinada, tentando saber o que tinha acontecido. Em um lugar reservado, as crianças observaram tudo gargalhando à vontade. Algumas se contorciam no chão de tanto rir, se aproveitando da desgraça dos adultos. 

Com a confusão instalada, os convidados começaram a cobrar uma posição para que o responsável fosse pego e desfizesse a brincadeira. Não tiveram muito sucesso, já que ninguém fazia ideia que as crianças estavam metidas na confusão. Um a um, os convidados foram embora. Alguns felizes pela boa festa, outros revoltados sem saber quando o efeito passaria. Quando todos foram embora, as crianças resolveram aparecer com um olhar inocente no rosto. Bellatrix olhou para eles com suspeita, sabendo que a culpa tinha que ter sido daqueles pestinhas. 

— Tudo bem, como se desfaz isso? — Remus cantava uma balada com sua pergunta.

— Não sabemos do que estão falando — Tom resolveu cantar também, fingindo que estava sob efeito da brincadeira. 

— Vocês não enganam ninguém, como fizeram? — Severus estava irritado e curioso ao mesmo tempo. 

— Usamos o caderno.

— Era uma boa ideia, tinhamos que usar

— Mas como fizeram isso? Não tinha como fazer  sozinhos — James sorria encantado que sua brincadeira favorita tinha sido usada novamente. 

— Nós somos uma espécie de prodígios? — Draco olhava com a sua feição mais inocente. 

— Vocês tiveram ajuda — Alice fez uma careta sem acreditar que um deles estragou assim a sua festa. 

— Era nosso aniversário

— Queríamos que fosse especial

— Que ninguém esquecesse de hoje

— Duvido que algum deles vai esquecer de fato

— Daqui a pouco todos vão sorrir ao se lembrar da nossa pegadinha

Entre olhares bravos, risonhos e perplexos, os adultos resolveram se recolher naquela noite. Não era como se aquilo fosse durar para sempre, então deixar passar era a única coisa que eles poderiam fazer. 

No dia seguinte, quando todos estavam reunidos para o café da manhã, a pergunta ainda pairava no ar. Quem foi a pessoa que os ajudou? Qual dos adultos foi o grande sabotador da festa? Esse era o mistério que pairou pelo ar por alguns dias até ser esquecido. Ninguém percebeu um sorriso pequeno de Lily quando todos não estavam olhando. 








※  ※  ※








DÉCIMO ANO: OS GÊMEOS-QUE-SOBREVIVERAM




    Era um dia relativamente frio e por isso, todos estavam na sala perto da lareira, aproveitando o tempo juntos. James e Severus conversavam baixinho, discutindo freneticamente suas opções. Desde o dia em que Voldemort desapareceu, o mundo mágico ovacionou Rose e Harry, afirmando que os dois, juntos, eliminaram o grande Lorde das Trevas que aterrorizou o mundo bruxo. O casal optou por isolar seus filhos da fama, os protegendo das fofocas e de todas as coisas que poderiam ser faladas sobre eles. Infelizmente, sabiam que isso não poderia durar por muito tempo. Os dois tinham crescido e no ano seguinte eles iriam para Hogwarts, não poderiam ficar no escuro. Havia chegado a hora dos dois saberem sobre seu legado. Severus achava que ainda era cedo demais, que deveriam esperar mais um tempo. James discordava disso. Para ele, quanto mais cedo os dois soubessem e se preparassem, poderiam enfrentar a situação da melhor maneira possível. 

    Em meio à discussão, os gêmeos brincavam de snap explosivos junto de Eros e El. Eros agora se transformava em vários pássaros, estava aninhado em uma almofada como um canário. El estava deitada perto do fogo, parecia uma bolinha. 

    — Queridos, venham aqui, por favor — Severus os chamou com receio em sua voz. 

    — O que houve, papai? — Harry olhou preocupado. 

    — Nada demais, apenas eu e seu pai precisamos falar com vocês — sorriu. Seu pequeno Harry sempre foi doce e se preocupava com os outros. 

    Os dois foram guiados a se sentar entre seus pais. Os dois homens olhavam sérios um para o outro, se comunicando sem palavras. Olhando para os mais velhos, os gêmeos esperaram, sabendo que o que viria era algo muito sério. 

    — Há muito tempo — começou Severus — Existia um Lorde das Trevas. Um homem perverso que habitava o mundo bruxo. Ele feriu várias pessoas e matou muitas outras. Ele queria dominar o nosso mundo e machucar os nascidos trouxas e trouxas.

    — Eu e seu pai lutamos contra ele quando éramos mais jovens. Queríamos um mundo melhor, sem dor e sem morte. 

— Então, o que aconteceu? — Rose perguntou curiosa. 

— Muita gente saiu ferida. Perdemos amigos importantes para nós e o desespero e a dor tomaram conta de tudo. Nós ainda tínhamos esperança que poderíamos vencer, apesar de tudo. 

— No meio de tudo isso, eu e seu pai resolvemos nos casar. Não sabíamos se iríamos sobreviver no dia seguinte, por isso, achamos a melhor ideia. 

— Certo, vocês se casaram e depois? — perguntou Harry com olhos curiosos. 

— Mesmo em meio a escuridão, decidimos ser uma família. Eu e James queríamos ter filhos, mas somos dois homens, como podem ver. Foi quando sua Tia Lily veio com a solução: poderíamos ir ao mundo trouxa e fazer algo chamado inseminação artificial. Esse procedimento inventado por eles tira um óvulo da mulher e insere espermatozóides do homem, no caso, nós dois, na esperança de gerar um bebê. Tivemos sorte que na primeira tentativa deu certo. 

— Quando vocês nasceram foi um dos dias mais felizes da minha vida. Ver vocês e pegá-los no colo foi a coisa mais maravilhosa de toda uma vida. 

— Você, Rose, nasceu parecida com Lily, com seus cabelos ruivos e olhar forte. Já você, Harry, herdou os cabelos rebeldes de seu pai James junto dos olhos verdes dela. Vocês dois eram os bebês mais lindos que eu já tinha visto em minha vida inteira. 

— Isso quer dizer que Tia Lily na verdade é nossa mãe? — Rose tinha olhos arregalados com a confissão. 

— Tecnicamente apenas. Vocês nasceram dela, mas desde o início foi para realizar nosso sonho. Eu e Severus desde sempre nos planejamos para sermos seus pais — James sorria com ternura — Agora eu aconselho não chamarem sua tia de mãe, com toda certeza ela vai esganar vocês — riu abertamente. 

— Sim, e depois? O que aconteceu com a guerra? 

— Nós ainda continuamos a lutar pelo bem do povo bruxo e infelizmente nós estávamos perdendo. Esse Lorde das Trevas tinha muitos seguidores que eram chamados de Comensais da  Morte. Eles espalharam terror e medo por todos os lugares. 

— Foi em meio a isso tudo que uma profecia surgiu. Ela dizia que iria nascer não um, mas dois, nascidos no final do sétimo mês, que seriam marcados como seu igual, que teriam um poder que o Lorde desconhece, que nasceriam com o poder de derrotá-lo de uma vez por todas. E isso fez o homem se desesperar.

— Começou uma caça a crianças que nasceriam no fim de julho. Ele estava desesperado, com receio de sua queda. 

— Foi quando ele soube de gêmeos que estavam nascendo em julho. Lily teve de se esconder até o momento do parto, já que estava sendo caçada. Lucius foi muito útil nesse tempo, despistando a maioria dos Comensais que vieram atrás de vocês. 

— Tio Lucius? O que ele tem haver com isso? — Harry perguntou confuso. 

— Ele era um Comensal da morte.

— Ele era um Comensal? Ele queria nos matar? — havia medo em sua voz.

— Calma, Rose. Lucius era um espião. Seu pai o forçou a receber a marca negra, ele não queria machucar pessoas. Ele pediu ajuda a Alvo Dumbledore, em troca de espiar para ele. 

— Quem é esse homem?

— Ele é o diretor de Hogwarts e fundador da Ordem da Fênix, um grupo que lutou ativamente contra o Lorde das Trevas, visando o melhor para todos. Continuando, quando vocês nasceram, nos escondemos de todos. Somente algumas pessoas sabiam onde estávamos. Seus avós, Lily, Sirius, Remus e Dumbledore. 

— Naquela época, a nossa esperança estava diminuindo e, cada vez que um de nós precisava sair, achávamos que nunca mais iria voltar. Um dia, nós dois precisamos sair em uma missão, atender a um chamado de ajuda. Deixamos seus avós cuidando de vocês. A casa estava sob o feitiço Fidelius, então achávamos que nada de mal poderia acontecer com os dois. Não sabíamos que tínhamos um traidor entre nós. 

— O Fidelius é um feitiço que esconde o lugar, fazendo as pessoas esquecerem que ele existe. Só quem sabe é o fiel do segredo, a pessoa que pode dizer aos outros onde fica o lugar que estávamos escondidos. A pessoa que conhecia o segredo da nossa casa, era um amigo do seu pai chamado Peter Pettigrew. O conhecíamos desde o dia que entramos em Hogwarts e desde então ele era nosso amigo. 

— E cadê ele? Nunca ouvi falar — Harry olhava de um para o outro.

— Ele está em Azkaban, a prisão dos bruxos. Não sabíamos que ele era o espião e foi ele que disse ao Lorde onde estávamos. Quando saímos, ele achou que era o melhor momento de atacar, o que foi um erro. 

— Sua avó era muito boa em runas, uma mestra no assunto. Não sabíamos, mas ela fez um ritual de proteção em vocês dois. Só descobrimos porque encontramos resquícios de algumas runas nas paredes e no chão em volta dos berços. Quando ele os atacou, junto do sacrifício da sua avó, ativou o encantamento que usava o sangue para repelir qualquer coisa. Quando ele jogou em vocês a maldição da morte, ela refletiu e acabou o acertando. 

— Depois disso, ele sumiu. Quando achamos vocês, estavam chorando e os seus avós já estavam mortos. A única coisa que marcou naquela noite e mostra que vocês sobreviveram foram as marcas de vocês. O raio em sua testa e a meia lua em seu pescoço. Por causa disso, desde aquele dia, o mundo bruxo os chamam de os gêmeos-que-sobreviveram, já que ninguém tinha sobrevivido a maldição da morte. 

— Certo, é muita informação — Harry colocava a mão em sua cabeça. 

— Eu tenho uma pergunta: vocês o chamam de Lorde das Trevas e tudo o mais, então, qual é o nome dele? 

— Muitas pessoas ainda têm medo de pronunciar seu nome, depois de tanta destruição que ele causou. As pessoas os chamam de Você-sabe-quem ou Aquele-que-não-deve-ser-nomeado. Seu nome é Lorde Voldemort. Esse nome ainda inspira medo das pessoas que viveram na guerra. 

— Por que estão nos contando isso somente agora? — Rose tinha uma cara emburrada. 

— Vocês eram muito novos para entender o que isso significa. Ano que vem vocês dois irão para Hogwarts, precisam saber o que esperar das pessoas e da sua fama. Acredite em mim, as pessoas vão prestar muita atenção em vocês e tratá-los como celebridades. Só queríamos que tivessem uma infância mais normal possível, longe disso tudo.

— Espero que vocês entendam que não contamos antes para proteger vocês. Infelizmente não podemos fazer isso para sempre. Terão pessoas que assediarão vocês, que tentarão tirar proveito de sua fama. Cabe a vocês se protegerem desse tipo de pessoas. 

Os gêmeos olharam um para o outro, se comunicando através do olhar. Harry sabia exatamente o que sua irmã sentia: medo. Aquilo tudo era demais e desconhecido, algo que eles nunca iriam imaginar. Saber que tantas pessoas ficariam atrás deles por algo que nem mesmo sabiam que tinham feito causou tensão em seus corpos. Pensavam se eles seriam capazes de enfrentar o mundo que esperava muito deles, aquele lugar um pouco cruel e selvagem que iriam querer se aproveitar dos dois. Eles sabiam que isso poderia significar. Com um olhar determinado, Harry apertou a mão da sua irmã, tentando passar conforto. Quando Rose olhou com mais atenção, viu o que aquilo significava. “Não importa o que aconteça, estaremos sempre juntos”. 

Naquele momento, a profecia não importava. A única coisa que importava era sua família. E não importava o que acontecesse, eles dariam um jeito nas provações que viriam. 




 


















  











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