Ladrões e Piratas escrita por Sirena


Capítulo 14
Capítulo 14




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A baía da Úrsula ainda parecia um oceano obscuro carregado de mistérios. Essa foi à impressão que Gil teve enquanto terminava de verificar uma última vez o barco a motor que ele e Harry usariam para a corrida.

— Tudo certo? Ganha quem chegar a Ilha dos Condenados primeiro. – explicou, embora Gil já soubesse.

A Ilha dos Condenados era um pequeno pedaço de terra atrás da Ilha dos Perdidos, tão minúsculo que mal poderia se chamar de Ilha. Cercado por uma neblina densa era onde atualmente ficava a Fortaleza Proibida de Malévola. O castelo negro era perigoso demais para ficar em Auradon e foi movido para lá, passando as duas últimas décadas sob a barreira, assim como a Ilha dos Perdidos. E agora, estava livre da barreira e cheio de guardas prostrados para impedir que antiga feiticeira voltasse ao seu antigo lar.

— Acho que o motor aguenta até lá. – Gil afirmou, pulando para dentro do barco e observando a competição.

Duendes em jangadas, bruxas em caldeirões gigantes que com certeza tinham como verdadeira finalidade cozinhar pessoas. Desiree e Bonny estavam na corrida com um barco a vela, Gonzo e Jonas pegaram um barco a remo do Lost Revenge emprestado. Uma e Audrey competiriam juntas, também com um barco a motor. O delas tinha sido pego no Porto Real, pertencia à família de Audrey e Harry tinha certeza que deveria ser estupidamente rápido.

Olhou em volta ansioso.

CJ e a namorada, Freddie Facilier, competiriam num barco a vela que haviam comprado em Auradon. Harriet competiria sozinha em seu barco a motor.

Por mais que soubesse que CJ estava ainda mais ansiosa que ele pela chance de ganhar um navio, torcia muito para que nenhuma das irmãs ganhasse. Não só porque ele também queria o navio, como também porque não queria nem mesmo imaginá-las em alguma situação de risco.

Não que fosse especialmente próximo delas. Na verdade, os três sempre seguiram caminhos bem diferentes. Harriet estudando em Dragon Hall, Harry em Serpent Prep no outro lado da Ilha e CJ largando a escola e sempre vadiando por aí. Mas, independente de proximidade, queria as duas seguras. 

Todos estavam prontos para a corrida.

Cidadãos da Ilha traziam bancos e cadeiras para se sentarem nas docas e assistirem, com bebidas e lanchinhos. Alguns cidadãos de Auradon também tinham vindo para o evento, seguravam lenços e olhavam ansiosos para a água.

O mar não parecia agitado, embora nunca se desse para ter certeza na baía da Úrsula. Cerrou os olhos, analisando as águas e pôde perceber lá no fundo, a imagem trêmula de guardas com caudas de peixe e lanças de ouro. Tentou confortar-se com isso.

Respirou fundo.

Tudo estava pronto e a corrida estava para começar. Apenas aguardavam ansiosos, sob o sol quente que agora banhava a Ilha, que o Capitão Gancho desse sinal de inicio.

— Colete salva-vidas?

— Tá aqui.

— Corda?

— Quatro metros.

— Um arpão pra gente sabotar os outros competidores?

— Um arpão e um gancho.

— Ótimo. – Harry sorriu.

— A gente devia mesmo sabotar? Achei que estávamos tentando ser do bem.

— É, mas... Ainda é a Ilha dos Perdidos. E ainda é uma competição organizada por um vilão. Ninguém espera um jogo limpo.

— Okay. – Gil murmurou. — Ah, eu também trouxe um lanchinho pros tubarões e crocodilos. Caso eles queiram perseguir a gente, podíamos jogar na água pra distraí-los...

— Muito esperto. – Harry sorriu, passando o gancho com delicadeza pelo rosto do namorado, carinhoso e com olhos bobos. Gil sorriu pensando em como ele estava bem mais carinhoso desde a última discussão dos dois.

Nas docas, Jay observava a corrida, trouxe um telescópio para poder ver melhor quando todos estivessem mais longe do que sua vista alcançava.

A multidão aplaudiu quando o Capitão Gancho apareceu, em seu típico casaco vermelho e dourado, o chapéu pirata sobre os cachos longos e o gancho brilhando refletindo a luz do sol. O pai de Harry claramente sabia fazer uma entrada triunfal.

Seu imediato, Smee, o acompanhou até o palanque, carregando uma caixa preta.

Os olhos azuis do capitão miraram o oceano dramaticamente, em seguida passaram pelos barcos dos competidores. O velho pirata não disse nada enquanto abria a caixa e pegava uma pistola dentro dela.

Os competidores se prepararam.

As mãos do público se retorciam em ansiedade.

O Capitão atirou para o ar.

As águas se agitaram com o movimento de dezenas de barcos largando o cais ao mesmo tempo. Algumas jangadas viraram e duendes caíram ao mar. O caldeirão das bruxas parecia estar encontrando uma verdadeira dificuldade para sair do cais.

Harry e Gil já tinham uma boa dianteira graças à potência do motor. Harry sentiu certo alivio notando que a falta de ventos fortes estava atrasando bastante CJ.

Harriet por outro lado, estava com uma boa dianteira deles, percebeu fazendo careta.

— Uma tá usando magia? – Gil questionou, se segurando para não cair do barco. Apesar do motor ser novo, as tábuas eram velhas e rangiam, água entrando pelo fundo. Os dois estavam conscientes da chance do barco se desmantelar e acabarem tendo que nadar de volta para costa.

Harry fez careta. O barco de Uma já era veloz o bastante sem que a capitã usasse magia, mas era possível ver seu colar de concha brilhar enquanto ela usava para que as ondas empurrassem mais rápido ainda.

— Ela vai virar nesse ritmo. – deu de ombros.

— Tenho certeza que ela consegue impedir isso com magia. – Gil murmurou.

Harry resolveu ignorar e manter o foco em pilotar. Logo teriam de virar... Sentiu o barco dar um puxão para trás como se um peso enorme tivesse caído nele. Olhou, assustado.

— CJ! – Gil explicou, fazendo careta.

O arpão tinha uma corda amarrada, atravessou a madeira do barco. A água estava subindo mais e eles perceberam que não seria nada esperto puxar já que ficariam com um rombo no fundo. Viu de longe, CJ e Freddie segurando a outra ponta da corda. Estavam usando o barco deles para avançarem na corrida.

— Demônio. – resmungou. — Gil, assume aqui!

Ele e Gil trocarem de lugar às pressas, o barco balançando demais. Harry tentou usar o gancho para cortar a corda e fez careta percebendo que era grossa demais. Estavam perdendo velocidade e as tabuas rangiam, mais e mais água entrando... Com certeza estavam prestes a afundar...

— Coloca! – jogou um dos salva-vidas para Gil e colocou o outro, ainda focado em cortar a corda.

Se pelo menos conseguissem isso...

O barco de CJ alcançou o deles.

— Adeus, menos malvados do que eu! – CJ riu usando um facão para cortar a corda. O vento agora soprava mais forte e graças a água no barco já não estavam indo tão rápido quanto antes. Não foi difícil para a irmã o ultrapassar.

— Estamos em quarto! – Gil bufou, virando o barco.

A neblina da Ilha dos Condenados já era visível e sabiam que logo seria difícil continuar a ver o caminho.

— Gil! Aquele musgo que usamos para tapar os buracos do navio da Uma... Tem um pouco aqui?

Gil olhou sobre o ombro por um momento, mas logo voltou a prestar atenção no mar a sua frente.

— Esse pote aí no fundo! – gritou, acima do vento gelado. — Harriet está perto! Acha que consegue lançar o arpão no barco dela?

— Um instante, querido!

Harry fez o melhor possível para afastar a água do caminho enquanto passava o musgo ao redor do buraco que o arpão de CJ havia feito. Ainda tinha água no barco, mas pelo menos não entraria mais, pensou. Amarrou a corda no arpão e pulou sobre o bico de proa, quase caindo do barco.

Já estavam perto da Ilha dos Condenados. A neblina densa e encantada da Fortaleza Proibida rodopiava ao redor deles, fazendo seus braços arrepiarem. Gil fez um esforço para não olhar para trás. Sabia que era apenas a neblina amaldiçoada fazendo-o sentir como se tivesse alguém atrás de si...

— Bonny tá na nossa cola! – Harry gritou, olhando para trás.

— Pelo menos é a Bonny, não um fantasma. – Gil resmungou, mais aliviado.

— O que?

— Joga isso logo!

Harry cerrou os olhos, tentando discernir o contorno do barco da irmã à distância. Mas a neblina era densa demais...

Resolveu arriscar o golpe de sorte e jogou o arpão com toda força que pôde. Quase esqueceu de segurar a outra ponta da corda.

— Ajuda! – pediu, o peso indicava que havia sim conseguido cravar a lança em algum lugar...

Gil saiu de trás do leme bufando e torcendo para não haver pedras no meio do caminho enquanto ia ajudar Harry a segurar a corda.

— Vai pro leme, eu seguro aqui! – disse.

Harry concordou.

Gil tropeçou pra frente e xingou, irritado.

— Cortaram a corda!

— Já estamos perto!

E estavam.

Mesmo com a névoa era possível discernir a costa da Ilha dos Condenados, mais e mais perto...

Mas, não eram os primeiros a chegar.

Harry desligou o motor, sem ver sentido em continuar.

Podia ver há alguns metros dali Uma usando os tentáculos para puxar Audrey de volta para o barco, indicando que a princesa devia ter caído e por isso ela teve de parar, dando espaço para ser ultrapassada.

E, na praia, Freddie e CJ pulavam, gritavam e se beijavam, comemorando a vitória.

— Droga. – Gil resmungou pulando para o lado do namorado. — Ela vai ficar bem, tá?

Harry não respondeu.


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