Summer Love escrita por Morgan


Capítulo 1
01: You were mine for the summer


Notas iniciais do capítulo

Nasceu minha segunda filha!! Antes de tudo, eu queria agradecer a Lady Anna por ter lido antes e se apaixonado por elas exatamente como eu e obrigada a Foster por ter feito essa capa linda (e combinado na hora de fazer a gêmea dela escrita pela Anna que sai dia 26 também!!). Obrigada de novo para Trice que betou ela inteirinha e ainda aturou meus surtos de insegurança ♥

'Summer Love' foi a primeira ideia que eu tive para o Pride e eu fiquei realmente animada com ela desde então, principalmente por ter me inspirado na falecida One Direction, mas ela foi um pouco mais difícil do que eu esperava para escrever hahaha. Inclusive foi The Line que conseguiu me tirar do bloqueio que o meio dessa one me causou. PORÉM, ela saiu e é isso que importa, então eu realmente espero que vocês gostem de conhecer um pouco da Molly, da Anastacia e da Romênia delas.

Beijo para prongs, siaht e Saint Jily que postam fics junto comigo hoje!

Boa leitura ♥



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Molly Weasley nunca foi como os seus primos. Teria dado tudo para ser, mas simplesmente não era. Não era alta e magra como Victoire, não tinha longos cabelos loiros e brilhantes como Dominique, não era tão inteligente quanto Rose, nem tão divertida quanto Roxanne ou Lily Luna. Não era nem mesmo tão bonita quanto a sua irmã mais nova. Amava todos eles, é claro, não tinha nenhuma dúvida disso, contudo, conseguiria facilmente passar despercebida se, no lugar de Weasley, usasse o sobrenome trouxa da mãe.

Molly era normal. Nem demais, nem de menos, era como ela definiria a si mesma se pedissem. Não tinha esperanças de ser parecida com as primas. Não era. Começando pelo fato de ser a única de todas elas que era lésbica. Sabia que Dominique era bissexual, a prima havia se assumido no quinto ano quando começou a sair com uma garota. Foi tudo normal na escola, afinal, ninguém iria se atrever a mexer com Dominique, mas, em casa, foi diferente. Ninguém disse nada a ela – jamais fariam isso sabendo que Fleur Weasley colocaria a casa abaixo se sentisse que Dominique estava sofrendo algum tipo de preconceito, porém, Molly lembrava-se, como se tivesse acontecido há apenas alguns segundos, quando viu a sua mãe inclinar-se em direção a Angelina, a esposa de seu tio George, apenas para dizer:

— Pelo menos ela é bissexual e não... você sabe. Ainda pode ficar com um rapaz.

Pelo menos ela é bissexual e não lésbica. Era isso que a mãe queria dizer. Isso que a mãe mal conseguira dizer.

Isso que Molly era.

Molly sabia que era lésbica desde os 13 anos quando Maya Thomas-Finnigan, sua melhor amiga, teve a maior queda do mundo por um garoto qualquer da Corvinal, fazendo Molly perceber que todas as suas amigas gostavam de um garoto, mas não ela. A ruiva tinha olhos unicamente para Lina Bell, a artilheira do time da Grifinória.

Demorou muito para Molly entender que o que sentia por Lina não era apenas admiração. Não gostava de ir aos jogos de quadribol somente para torcer pelos primos e, quando a pegavam olhando demais para Lina, a resposta "o cabelo dela é lindo, não é? Será que consigo amarrar o meu assim?" poderia ser convincente para os outros, entretanto, não para Molly. Não de verdade. Ela conhecia a si mesma melhor do que isso.

Então ela soube. Gostava de Lina. E, depois de Lina, gostou de outras. Molly gostava de garotas. Apenas de garotas. Sabia que não tinha nada de errado nisso, mas sempre que pensava em contar para alguém, além de Maya, desistia. As palavras de sua mãe sobre Dominique a acertando com força e como ela não havia conseguido nem sequer dizer a palavra.

Iria dizer um dia, no entanto, não tinha pressa para isso. Nunca havia se apaixonado, então qual era o ponto? Para a Weasley, fazia sentido entrar em guerra com a mãe apenas quando fosse necessário.

Molly também gostava muito de Hogwarts, mas ainda se sentia imensamente feliz ao lembrar que este seria seu último ano no castelo. Seus N.O.Ms haviam sido muito bons e tinha certeza que os N.I.E.Ms também seriam, principalmente quando Maya a obrigava a estudar tardes inteiras na biblioteca. Molly gostava de tudo, mas só amava os dragões.

Quando tinha 11 anos, seu tio Charlie estava voltando para Romênia quando parou em sua casa. Era uma tarde ensolarada e Molly havia passado o verão inteiro remoendo como seria ir para Hogwarts – os "é tudo normal, Molly, eu garanto" de Victoire não haviam servido para nada – e seu tio chegou com uma caixa presa a sua vassoura. Sua mãe não estava em casa e, por isso, foi tão fácil para Molly se esgueirar para perto da vassoura, enquanto Charlie e Percy conversavam, e abrir a caixa, deixando sair um pequeno filhote de Olho de Opala com as suas escamas claras, íris verdes e expressão curiosa. Molly pensou ser a coisa mais bonita que já havia visto. Seu pai entrou em pânico assim que notou, mas, quando isso aconteceu, Molly já estava sentada com o filhote brincando com os seus pés. Seu tio garantiu que era uma das espécies menos agressivas que existiam, porém, ainda ficou surpreso com o quanto Molly era boa com ele.

Aquela foi a primeira e única vez que Molly vira um dragão tão de perto até o verão dos seus dezessete anos.

A ideia de passar o verão na Romênia, ajudando seu tio Charlie no Santuário de Dragões foi motivo para uma longa discussão em casa. Seu pai era a favor, mas Audrey Weasley preferia morrer a aceitar aquilo.

— Molly, você está sendo tola. Não pode estar falando sério. Não pode querer mesmo sair por aí brincando com dragões. Será que você não vê o estado caótico que Charlie sempre está? – Foi a resposta de sua mãe.

— Eu gosto disso, é o que eu quero fazer...

— Você não sabe do que gosta ainda, querida. Você não acha perigoso?

— Para pessoas despreparadas, sim, não para Charlie – Intrometeu-se Percy. – Ele é um profissional. Eu acho uma boa ideia, se é o que você acha que quer fazer após Hogwarts, querida.

Audrey riu secamente, aproximando-se da filha.

— Molly, querida, eu planejei o verão inteiro para nós duas. Se você deixar essa ideia de lado, eu pensei que poderíamos começar uma dieta, você vai começar o seu sétimo ano em Hogwarts tão linda! Todos os garotos vão olhar para você!

Molly ficou pasma, sentindo os cantos de seus olhos arderem. O toque da mãe, que segurava suas mãos, era como uma lava que a queimava por inteiro. A garota simplesmente não teve palavras.

Ao contrário de seu pai.

— O que disse?

— Um verão de cuidado, Percy, reeducação alimentar, exercícios... Fazem milagres por dois meses. Você pode ficar tão bonita, Mol...

— Molly não precisa de uma dieta para ficar bonita, ela já é linda o suficiente como é.

Audrey piscou, soltando as mãos da filha.

— Sim, mas ela pode ficar mais. É só isso que estou dizendo.

— Eu sei exatamente o que você está dizendo e não achei adequado, Audrey – Percy ficou de pé, deixando a papelada do Ministério que lia de lado. – Molly, suba, vá arrumar suas malas.

Molly, que ainda fitava a mãe, virou-se lentamente quando as palavras de Percy foram processadas pela a sua mente.

— Malas?

— Sim. Você está indo passar o verão com seu tio Charlie.

— Percy!

Molly não esperou ouvir mais nada, apenas atravessou a sala correndo, deixando seus pais, que se encaravam com raiva para trás, ouvindo apenas a última parte da discussão dos dois antes de fechar a porta.

— Você não tem o direito...!

— Eu não tenho? Você acha que você tem o direito de dizer isso para nossa filha?! Ela não precisa ficar magra para ficar bonita, Audrey! Ela é bonita como é. Não, Molly é linda, e quer trabalhar com dragões e, se é isso que ela quer, então é isso que ela vai fazer. Isso não é discutível. Caso você não tenha percebido, a maioridade bruxa é diferente da maioridade trouxa.

Sua mãe não se despediu no dia seguinte, mas Molly não se importou. Estava indo para Romênia e isso era tudo que importava. E ter sido defendida pelo pai também fez com que o seu coração ficasse um pouco melhor. Sua mãe sempre havia feito comentários sobre seu corpo, a maioria deles sempre o comparando com o de Lucy, porém, geralmente, eram feitos mais abertamente quando estavam sozinhas. Não era nada que ela não estivesse acostumada, então logo deixou de lado, mesmo que doesse mais do que gostaria de admitir quando se lembrava.

O Santuário de Dragões da Romênia ficava no sul da Transilvânia em Sibiu. Primeiro Percy e Molly pararam no centro da cidade, onde encontraram Charlie antes de seguirem para a Secretária de Segurança Mágica e registrar Molly como visitante. A garota tinha certeza que assinou alguns papéis com o seu pai, mas mal conseguia se lembrar daquilo. Tudo que conseguia perceber era o quanto a cidade era linda – muito mais bonita do que nos mais vívidos sonhos que havia tido sobre esse dia.

Sibiu era perfeita com seus prédios tradicionais e casas de tons terrosos uma ao lado da outra. Molly não poderia nunca pensar outra coisa. E cada coisa que via a deixava ainda mais encantada. Quando seguiram para o norte da cidade, adentrando a área de preservação onde o Santuário ficava, o queixo de Molly caiu. O local ficava distante dos trouxas, totalmente cercado por árvores e pequenas cabanas pelo meio do caminho, que Charlie logo explicou serem de alguns voluntários.

Havia até mesmo um lago. Agora Molly entendia perfeitamente porque seu tio não fazia nenhuma questão de voltar para casa. Era como estar eternamente de férias.

Aos poucos, Molly percebeu como seu tio era importante na fundação. Sua casa ficava muito próxima ao centro de treinamento de dragões e não era nada pequena. O quarto de hóspedes era espaçoso e Molly tinha certeza que o tio havia tentado decorar especialmente para ela, já que haviam girassóis na larga janela e um sofá cor-de-rosa claro. Havia até mesmo alguns livros sobre dragões no canto da mesa de cabeceira.

Após guardarem as malas, os dois seguiram para o local de trabalho. E, para a surpresa de ninguém, não houve uma pessoa sequer que não parasse para cumprimentar Charlie Weasley e, por consequência, Molly também. Ela não se importava, gostava do sotaque romeno dos moradores e de como eles sorriam amigavelmente para ela. Molly podia ser muitas coisas, contudo, sempre fora amigável e simpática e gostava quando as pessoas eram com ela também.

Molly sempre imaginou que ver os dragões de perto seria diferente. Sabia há bastante tempo que era aquilo que queria fazer para a sua vida, por isso sempre imaginou que os encontrar seria como ter a plena certeza que a sua mãe exigia dela. Seria como se apaixonar, porém ainda mais surpreendente. Mágico – por mais irônico que soasse.

E ela realmente sentiu tudo isso, mas não quando olhou para o dragão Negro das Ilhas Hébridas com suas asas semelhantes às de morcegos e rabo em formato de flecha, o qual era balançado de um lado para o outro agressivamente enquanto chamas saíam de sua boca. Não.

Molly sentiu que o seu mundo parou quando viu a garota que estava pendurada no alto da grade da jaula que prendia o espécime. Ela passava de um lado para o outro com facilidade, fugindo do fogo do dragão enquanto empunhava sua varinha com uma mão e puxava uma corrente na outra, tudo com um sorriso destemido no rosto. Assim que avistou Charlie, a garota piscou, saltando de volta para o chão como se fizesse aquilo todos os dias.

— Esse desgraçado queimou uma mecha do meu cabelo! – Essa foi a primeira coisa que Molly ouviu a romena dizer.

Seus cabelos iam até o ombro em um maravilhoso tom de castanho claro e Molly logo viu a mecha sobre a qual ela se referia, brilhando em uma cor mais escura que o comum bem na frente de seu rosto todo salpicado de sardas.

— Eu já te disse para usar a touca protetora e você ignora. Só vai aprender quando ficar careca como Stuart. – Retrucou Charlie. Ele tocou o ombro de Molly, despertando-a levemente do transe. – Esta é minha sobrinha, Molly Weasley. Vai passar o verão conosco. Molly, esta é...

— Anastacia Sorin – interrompeu, estendendo uma mão decidida em direção a Molly. Seus dedos estavam sujos e, até mesmo um pouco queimados, mas Molly nem sequer ligou. Agarrou a mão de Anastacia na mesma hora. – Prazer em conhecê-la, Molly – ela se virou para Charlie, abrindo um sorriso divertido. – Vocês, homens adultos, precisam parar de achar que podem fazer tudo por nós. Até nos apresentar.

Molly riu antes que pudesse se controlar e, então, foi a sua vez de receber um sorriso de Anastacia junto de um arquear de sobrancelhas.

— Lá vem você – murmurou Charlie. – Quer saber? Acho que não deveria ter apresentado vocês duas. Sorin não é uma boa companhia para você, Molly.

Anastacia passou as mãos pela sua jaqueta de couro antes de cruzar os braços.

— Eu sou sempre uma boa companhia, e entendo muito mais de dragões do que seu tio cinquentão aí, Molly. Não sei por que ele é o chefe.

A romena piscou seus olhos azuis em direção a Molly, que começava a sentir-se muito mais do que patética por continuar em silêncio. Sabia muito bem que havia acabado de conhecer Anastacia, mas não conseguia evitar a sensação nervosa que a percorria, como se estivessem em um campo minado e qualquer coisa que Molly falasse poderia estragar tudo.

Não que houvesse um "tudo", entretanto, Molly não queria atrapalhar, caso viesse a ter.

Levou, provavelmente, uma semana inteira para que Molly conseguisse ter uma conversa significativa com Anastacia. Até então, tudo que a mais nova fazia era seguir Charlie pelo Santuário, fazendo anotações e ajudando a alimentar os dragões mais calmos.

Anastacia não parecia tão interessada em tentar ter uma amizade com Molly também, já que tudo que fazia era trocar alguns poucos cumprimentos, fazer suas obrigações o mais rápido que podia e sair sem avisar a ninguém. Tudo que Molly queria era saber para aonde diabos ela ia, e ela disse tudo isso para Maya em uma carta, que foi respondida na noite de sábado em forma de um berrador que Molly mal conseguiu acreditar estar recebendo.

— Molly Weasley II! Você me fez gastar 5 galeões em um berrador! – "Eu fiz?" – Porém, não tinha o que fazer. Se eu não falasse com efeito, você nunca me ouviria! Pelos meus cálculos, essa carta vai chegar no sábado, seu primeiro fim de semana em outro país. Acerte dois apanhadores com um balaço só, Mols, e peça para a única garota da sua idade te mostrar a cidade natal dela, pelas barbas de Merlin! Tenho certeza que ela não morde. Vá falar com ela e depois me conte tudo. Não me mande nenhuma carta até ter notícias interessantes. Tchau, saudades!

Molly revirou os olhos quando o papel se desfez na sua frente. Maya era sempre muito dramática, mas tinha mesmo um ponto. Pedir para conhecer a cidade seria uma boa se Anastacia não tivesse sumido há horas. Com um suspiro, a ruiva puxou seu casaco amarelo e saiu do quarto a caminho da varanda.

Gostava como a Romênia era de dia, em especial o Santuário. Barulhento, agitado, com conversas em todos os idiomas imagináveis, chamas, rugidos, sol e Sorin correndo de um lado para o outro, um pouco irresponsável, mas sempre corajosa, lidando com os dragões mais violentos e dando as respostas mais afiadas para todos os homens que tentavam menosprezá-la. No entanto, também adorava estar ali à noite, quando todas as pessoas sumiam para dentro de suas cabanas a fim de cuidar dos ferimentos acidentais feitos em mais um dia de trabalho e tudo que restava era o silêncio e alguns grilos à distância, pois até mesmo os dragões estavam calmos, agora que não precisavam lidar com ninguém os importunando. A brisa fresca era como nada que Molly já havia experimentado. Morava em Londres; e a Inglaterra tinha o péssimo hábito de possuir praticamente apenas um clima.

Estava quase voltando para o quarto quando um barulho de motor se fez presente, logo antes da entrada da casa ser totalmente iluminada pelo farol da moto que a invadia. Molly franziu o cenho, sem entender. Estava prestes a chamar o seu tio quando a moto estacionou não muito longe dela e o motorista tirou o capacete.

Molly teve a certeza de que jamais respiraria normalmente de novo.

Anastacia balançou a cabeça de um lado para o outro, deixando que seus cabelos voassem e se assentassem da maneira que preferissem, abrindo um longo e divertido sorriso para a ruiva.

— Boa noite, Molly.

— Oi – Respondeu a ruiva, ainda atordoada com a chegada inesperada da outra. – Meu tio está lá dentro, você quer...

— Não, não! – Interrompeu na mesma hora. – Já lidei com Charlie Weasley demais por uma semana inteira.

Molly não conseguiu evitar que a sua cabeça tombasse um pouco para o lado, como sempre acontecia quando precisava entender algo confuso. Mesmo que fosse confuso unicamente para ela.

— Sei que você é nova na cidade, então vim te chamar para dar uma volta. Ninguém merece passar o sábado à noite com o tio, francamente.

Molly não sabia o que dizer. Parecia uma piada do destino. Ou um presente. Ou talvez os dois ao mesmo tempo, ela não sabia. Talvez pudesse ser uma piada depois, contudo, naquele momento, com Anastacia Sorin sentada em cima de sua moto azul-escura, apontando para o capacete reserva com um sorriso de lado que fazia sua covinha despontar de uma forma que Molly só conseguia pensar ser a sua própria perdição pessoal... Bem, parecia um presente.

Molly Weasley teve a certeza de que tudo aquilo era um presente quando pulou na garupa de Anastacia, sem se importar com o que o seu tio acharia e seguiram para o centro da cidade, onde a romena mostrou a avenida principal da pequena região, lotada de bares familiares e poucas festas totalmente destinadas aos jovens. Pelo menos não para que todos vissem. Teve certeza que aquilo era um presente quando, no domingo, Anastacia apareceu de novo, e, principalmente, quando tudo se repetiu em cada fim de semana.

Estar com Anastacia era diferente. Molly não havia percebido nenhum sinal de que a garota poderia gostar dela – pelo contrário. Durante a semana, Anastacia almoçava com Molly e Charlie, sempre rindo e comentando sobre o que viram, fosse em uma barraca ambulante qualquer, na lagoa ou nos pontos turísticos mais famosos da cidade que ela havia feito questão de levá-la.

Até o dia em que Anastacia resolveu que Molly precisava conhecer o local que consagrou Sibiu como a Capital Europeia da Cultura dos trouxas.

— Você está na Transilvânia, Weasley! Precisa conhecer os lugares mais famosos, senão, sobre que coisas incríveis vai contar quando voltar para sua escola de gente rica?

Sem conseguir controlar, Molly soltou uma risada alta, que sua mãe odiaria e diria ser falta de educação. Imediatamente levou sua mão à boca, tentando se controlar, mas tudo que Anastacia fez foi abrir um sorriso pequeno e puxar a mão de Molly para baixo com delicadeza. O sol da tarde iluminava o rosto de Sorin, deixando seu cabelo ainda mais claro e suas sardas brilhando, como pontos estrelados no céu.

Ou talvez fosse apenas Molly encantada por cada traço novo que descobria na garota à sua frente que nunca se importava com o quão alto ela ria.

Molly desejou dizer que tudo de mais incrível que existia na Romênia já estava ali, segurando sua mão, e era sobre Anastacia Sorin que gostaria que fossem suas histórias.

— Eu não deveria falar sobre os dragões já que foi por eles que vim?

— Não seja boba, dragões existem em qualquer lugar. E ainda tem milhares de livros sobre eles.

— Não é a mesma coisa – respondeu Molly de imediato, enquanto Anastacia abria uma pequena porta e entrava, ainda puxando a ruiva pela mão. A escada era longa, estreita e escura, mas Anastacia subia como se fizesse aquilo todos os dias.

Levou algum tempo para chegarem no topo, e Molly reclamou o bastante sobre isso. No entanto, quando finalmente atingiram o destino final, a Weasley ficou completamente sem ar ao aproximar-se da pequena janela da Torre do Conselho.

Molly conseguia ver toda a cidade de Sibiu dali e, se tentasse o bastante, conseguiria até mesmo ver o início do Santuário de Dragões à distância.

— As casas parecem tão pequenas – disse Molly, encantada pela grande praça ao lado, com algumas lojas ainda abertas e os grupos de jovens reunidos pelos cantos. As luzes da cidade iluminavam o rosto da ruiva, como em um show particular. Molly gostava disso. – Quando estamos lá embaixo parece tudo tão bonito, mas aqui de cima...

— Esse é um dos meus lugares favoritos.

— Eu entendo o tio Charlie por não voltar para casa. Eu também não voltaria se pudesse.

Anastacia riu.

— Perde o encanto depois de um tempo, acredite em mim.

— Não perdeu para você.

— É só porque você está aqui, então ela fica mais bonita – Anastacia deu de ombros e Molly não conseguiu evitar desviar o olhar. Seus olhos abandonaram a vista brilhante de Sibiu, apenas para flagrar Anastacia a encarando.

— Não acho que eu faça tanta diferença assim – comentou nervosamente.

— Você faz toda diferença, Molly. Na verdade, faz um tempo que, por causa de você...

Anastacia foi interrompida antes que pudesse terminar sua frase, pois, na mesma hora, o ponteiro do relógio da torre alcançou a meia-noite, provocando uma batida ensurdecedora. Molly tampou os ouvidos com as mãos enquanto Anastacia, com uma careta insatisfeita, puxava-a pelo braço, afastando-a da janela e do relógio. O movimento, rápido e um tanto desesperado, fez com que Molly tropeçasse nos próprios pés, caindo no chão e levando a outra consigo.

No chão, as batidas da torre pararam e a única coisa que ainda ressoava pelas paredes antigas de um dos marcos históricos mais antigo de Sibiu eram as risadas de Anastacia e Molly quando seus olhos se encontraram.

— Eu não sabia... Merlin, não sabia que era tão tarde – Sorin balançou a cabeça, frustrada, mas Molly não estava mais ligando para isso.

Anastacia estava tão perto que suas pernas estavam praticamente entrelaçadas e a mão dela ainda repousava em seu braço, pronta para afastá-la do barulho que já não existia, e tudo que Molly conseguia pensar era na forma que Anastacia havia a olhado antes de serem interrompidas. A romena pareceu entender e, lentamente, sua própria risada foi morrendo também.

— Você queria dizer alguma coisa? – perguntou Molly. Sua voz era baixa e carregada de toda a ansiedade que era possível depositar em cinco palavras. Os lábios avermelhados de Anastacia se abriram, sua respiração falhou e os seus olhos percorreram todo o rosto de Molly, como se precisasse ter certeza de que a ruiva estava ali.

Por um segundo, Molly deixou-se imaginar o que aconteceria se Anastacia dissesse o que ela mais queria ouvir. Contudo, não foi o que aconteceu.

— Por causa de você eu percebi que é bom ter uma amiga da minha idade por aqui.

Molly sentiu-se murchar e teve certeza que Anastacia percebeu isso, pois, na hora seguinte, a garota já estava no próprio quarto, sentindo seu peito afundar. Sabia que havia gostado de Anastacia Sorin no primeiro segundo que a viu. Podia parecer bom, e talvez até fosse, mas Molly não se importava. Não costumava se enganar com os seus sentimentos, assim como não costumava esquecê-los de maneira fácil. Porém, o que ela sabia fazer e que, na maioria das vezes, ajudava, era ignorá-los. Molly sempre conseguiu ignorá-los e conviver pacificamente com eles, mesmo quando não correspondidos. Mas não sabia se conseguiria fazer isso nesse caso, pois, pela primeira vez, Molly não achava ser coisa da cabeça dela. Estava na Romênia há um mês e havia conhecido mais coisas com Anastacia do que conhecera a vida toda em Londres. Não podia ser só ilusão quando sentia os olhos azuis de Anastacia a queimando quase o tempo todo.

Entretanto, sua certeza foi diminuindo aos poucos quando, na semana seguinte, Anastacia praticamente fugia de qualquer lugar em que Molly estivesse de maneira tão óbvia que até mesmo Charlie Weasley foi capaz de notar e ele nunca havia sido conhecido pelas suas percepções sociais.

Molly se sentiu tão mal que desejava ficar no quarto todas as manhãs ao invés de ir para o Santuário. Nem mesmo ajudar a suturar a asa de um dos dragões machucados ajudou a melhorar o seu humor. Estava envergonhada. Havia sido muito óbvia? Havia deixado Anastacia desconfortável? Mas ela não havia dito nada! Como ela não poderia ter tanta certeza sobre os seus sentimentos? Era impossível. Com um aperto no peito, Molly conseguiu pensar em algo pior do que ser recusada romanticamente.

Anastacia havia enjoado de sua companhia? Percebido como era chata? Seus primos nem sequer estavam por perto para serem comparados a ela, como isso poderia ter acontecido tão facilmente?

Na sexta-feira haveria algum tipo de feira tradicional da cidade, então Charlie deixou que a maioria dos funcionários do Santuário saíssem mais cedo. Molly não tinha interesse algum nisso, é claro. Não gostaria de ir à feira com seu tio, nem com os seus amigos. Nem mesmo com alguns colegas que ela havia feito. Sua mente estava totalmente ocupada por Anastacia. Deve ter sido por isso que, sem pensar no que poderia acontecer, Molly resolveu que já estava pronta para algemar um dos dragões que havia acabado de voltar de um passeio. Puxou a varinha do bolso, jogou a corrente por cima de seu ombro e aproximou-se do Rabo-Córneo Húngaro, que logo mexeu sua cauda, quase acertando Molly com os seus espinhos.

Mal havia ficado de pé quando chamas vieram na sua direção e Molly teve que correr para trás de uma das pequenas paredes para se proteger. Respirou fundo, apertando a touca protetora que havia recebido do tio e conjurou um escudo. Esperou que o dragão olhasse para o outro lado e correu até ele, jogando a corrente em uma de suas patas como um gancho, que automaticamente se trancou. Molly abriu um sorriso vitorioso. Tudo que precisava agora era puxá-lo para trás das grades. Estava correndo para perto da jaula quando o Rabo-Córneo Húngaro a acertou com sua garra livre.

— MOLLY!

A ruiva havia caído a alguns metros de distância. Suas costelas ardiam e toda a parte de trás de seu corpo latejava pelo impacto ao cair no chão, mas nada disso pareceu importante quando a primeira coisa que Molly viu ao abrir os olhos foi Anastacia.

— Você está bem?!

Anastacia estava abaixada ao seu lado, parecia procurar por fraturas expostas com uma expressão preocupada. Molly se sentou, vendo seu tio logo atrás da romena, prendendo o dragão que ela havia falhado em manter comportado. Sempre parecia tão fácil para Charlie.

— Você está louca? Está querendo se matar, Molly?! – questionou Anastacia depois de perceber que Molly ficaria bem. – Sabe o que é aquilo? É um Rabo-Córneo Húngaro! Você nunca leu um livro na sua vida? É o dragão mais perigoso de todos! Foi um desse que quase matou Harry Potter!

Molly sentiu suas narinas expandirem-se, mal conseguindo controlar a frustração que borbulhava dentro de si.

— É óbvio que eu sei de tudo isso, Sorin. Harry Potter é o meu tio, caso você não saiba!

Molly nunca havia usado a "Carteirada-Harry Potter" como alguns de seus primos, mas não conseguiu evitar naquele momento. Harry havia salvado o mundo e nunca pediu nada em troca por seu ato, no entanto, isso não queria dizer que ele não era como uma instituição heroica e eterna para a maioria dos bruxos. Molly nunca gostou de contar vantagem sobre a sua família para os outros, especialmente quando sabia que seu pai não fez parte do seleto grupo da Ordem da Fênix, como seus tios, nem muito menos gostava de falar sobre aquela época. Mas Anastacia não parecia se afetar com nada daquilo, apenas cruzou os braços e olhou para Molly por cima do pedestal imaginário que ela parecia sempre estar.

— Então você devia saber melhor.

— Talvez eu precise saber melhor sobre muitas coisas, já que pensei que éramos amigas e você está me ignorando há uma semana. Se eu soubesse que só precisava quase morrer para ter a sua atenção teria feito isso antes. Me pouparia muito tempo.

Anastacia revirou os olhos, um pouco de ar saindo de sua boca junto com a curta risada de escárnio que ela soltava.

— O mundo não gira ao seu redor, Weasley.

E, sem mais uma palavra, Anastacia deu as costas a Molly e saiu. A ruiva sentiu os seus olhos arderem, mas se recusou a chorar. Não choraria por isso. Não forçaria ninguém a falar com ela. Charlie se aproximou.

— Imaginei que tinham brigado, mas não sabia que era tão sério.

— Eu não briguei com ninguém, tio. Foi tudo ela. Eu não faço ideia do que aconteceu.

Charlie suspirou.

— Anastacia é... complicada. Seu coração está no lugar certo, mas ela geralmente não sabe o que fazer com isso.

— O que você quer dizer?

— Ela não é boa com sentimentos demais, é só isso – explicou. – Ela é boa com dragões, provavelmente é a melhor funcionária que eu já tive por aqui. É boa em brigar e xingar as pessoas que a irritam sem pensar nas consequências, com certeza, mas não é muito boa quando... – Charlie hesitou, encarando Molly por um momento, como se pensasse se deveria mesmo terminar de falar. – Quando seus sentimentos são bons. Anastacia não é o tipo de pessoa acostumada com sentimentos bons, Mols.

— E o que eu tenho a ver com isso? Eu deveria ensiná-la a tratar uma pessoa bem?

— Não – respondeu Charlie de imediato. – Mas vocês podem se ouvir. Afinal, você não vai ficar aqui para sempre. Estou indo para a feira. Talvez você devesse procurar perto do lago.

A ruiva mordeu o lábio inferior, passando as mãos pela roupa suja de areia, para ganhar tempo, porém, logo percebeu que não precisava pensar em nada. A única coisa que precisava era ir até Anastacia e foi isso que fez. Correu em direção ao lago o mais rápido que pôde, parando no tablado ao observar a figura da garota sentada na ponta da plataforma de madeira. Molly foi até ela devagar, sem dizer nada ao se sentar ao lado dela, os pés balançando sobre o lago, sem nunca o alcançar realmente.

— Desculpe pelo jeito que falei com você – disse Molly. – Só estava frustrada.

— Não, eu também fui grossa com você. Sinto muito. Por isso e por ter te evitado todos esses dias.

— Por que você fez isso?

— Acho que precisava pensar.

Molly balançou a cabeça, assentindo, mesmo que não entendesse. O silêncio preencheu as duas, o sol já começava a desaparecer ao longe, mas o lago continuava tão lindo quanto no primeiro dia de Molly no país.

— Posso te fazer uma pergunta, Weasley?

— Claro.

— O que você quer fazer? Quando Hogwarts acabar de vez, você vai voltar para cá?

A ruiva suspirou, olhando em volta por um segundo. Anastacia Sorin confundia seus sentimentos enquanto a fazia flutuar, Molly sabia disso. No entanto, quando olhava para o Santuário ao seu redor, para o instituto de pesquisa ou para os dragões que eram cuidados, alimentados ou soltos, tudo aquilo também parecia se encaixar na pessoa que ela gostaria de ser.

— Sim. Acho que sim. É preciso começar de algum lugar, não é?

Anastacia sorriu.

— É claro.

— Ana...

— Eu gosto de você – interrompeu Anastacia, virando-se para Molly, que engoliu qualquer outra palavra que planejava sair. – Gosto tanto de você que minha cabeça parou de funcionar, Molly.

— Você fugiu porque gosta de mim?

— É um modo de dizer.

Molly riu.

— Você sabe que eu gosto de você. Caramba, eu gosto de você desde que coloquei meus olhos em você, Anastacia.

A Weasley sentia seu coração bater tão forte que tinha receio que pudesse ser ouvido. A garota de olhos azuis sorriu, estendendo a mão para tocar o rosto suave de Molly. Seus lábios formigavam em antecipação e, quando Anastacia aproximou-se, Molly soltou um suspiro involuntário logo antes de sentir a maciez da boca da garota na sua. Molly deixou que suas mãos caminhassem pelos braços de Anastacia antes de estacionarem na sua nuca, puxando-a cada vez mais para perto.

Molly sentia que seria capaz de explodir se isso não fosse atrapalhar o beijo que dividia com Anastacia Sorin. Naquele momento, Molly não se importava com nada que não fosse os lábios colados nos seus e nas mãos que percorriam seu corpo com ansiedade e avidez. O mundo poderia desabar ao seu redor contanto que não invadisse a sua própria bolha, que foi a melhor forma que Molly conseguiu para descrever a sensação de estar ao lado da garota.

Anastacia era como uma força da natureza e Molly sentia-se completamente presa no campo gravitacional dela. As duas saíram do tablado e caminharam despreocupadas de volta para a casa de Charlie Weasley, trocando beijos e carícias no meio do caminho, entorpecidas pelo desejo que pulsava dentro de ambas.

Naquela noite, Anastacia não voltou para casa, e nem na noite seguinte ou na que veio depois dela. As pessoas costumam dizer que quando você está feliz ou se divertindo, o tempo passa mais rápido, mas para Molly era justamente o contrário. Quando estavam deitadas em sua cama, com seus dedos entrelaçados, mirando o teto enquanto sussurravam coisas aleatórias uma para outra, Molly sentia que o tempo havia congelado e aquele quarto era o único lugar do mundo que continuava a existir.

Anastacia fez Molly se sentir única, importante e suficiente – exatamente como era. Molly nunca havia visto alguém a olhar com tanto carinho antes. Nunca havia tido alguém para sussurrar em seu ouvido o quanto não conseguia manter as mãos longe. E nunca havia precisado pedir para que jamais fizessem isso, porque tudo que Molly queria eram os toques de Anastacia.

Quando resolveram ficar juntas, tudo pareceu melhorar. Molly parecia aprender muito mais fácil e era tão boa quanto a romena na hora de controlar os dragões. E, para alívio de Charlie Weasley, Molly conseguiu ser persuasiva o suficiente para fazer Anastacia finalmente usar os equipamentos protetores. De dia, as duas cuidavam do Santuário, corriam para cima e para baixo, queimavam-se, caíam e, algumas vezes, ficavam longe, quando Molly ajudava no laboratório de pesquisa. Depois saíam de moto, Anastacia queria mostrar cada pequeno lugar importante de Sibiu, cada museu, monumento ou simplesmente um lugar muito bonito para se estar com a pessoa de quem você gosta. Faziam tudo isso enquanto contavam uma a outra sobre si mesmas.

Molly contara sobre a mãe e seus pensamentos tortos, mas também sobre como o pai e a irmã mais nova eram doces, enquanto Anastacia dividia a história de perder a mãe, que havia nascido na Noruega, cedo demais. Ela também contava sobre como havia sido estudar em Balauritz, a escola de magia e bruxaria da Romênia. Não era tão grande quanto Hogwarts, muito menos paga, o que sempre fazia Anastacia se dirigir aos alunos da escola inglesa como "ricos".

Molly gostava, ora, gostava de tudo que Anastacia fazia, mesmo que, em alguns momentos, quisesse apenas se esgueirar para o próprio quarto com ela para que pudessem ficar juntas e sozinhas. Afinal, Molly voltaria. Seu coração batia forte por Anastacia, era verdade, mas o Santuário de Dragões se provava cada dia mais ser o local que Molly gostaria de trabalhar.

As duas garotas haviam combinado silenciosamente de não conversarem sobre a partida de Molly no fim do mês de agosto, assim como não haviam rotulado o próprio relacionamento ainda. Molly contou que era lésbica e Anastacia contou que não gostava de definir o que era com uma só palavra, mas as duas sabiam que se gostavam. Isso pareceu o bastante. Não era algo com que Molly se preocupava. Sabia que havia algo de especial entre elas, que não seria ignorado ou esquecido, mesmo que precisasse que ficar um ano fora, pois, assim que o seu sétimo ano terminasse, Molly embarcaria de volta para Romênia. De volta para Anastacia Sorin.

Ao menos foi isso que a Weasley havia planejado no início de tudo. O problema, Molly percebeu quando uma coruja de seu pai chegou, combinando a hora que a buscaria no fim da semana, era que o tempo apenas parecia congelado quando estavam protegidas pelas quatro paredes de seu quarto. Para o restante do mundo, ele continuava funcionando. E conforme o sábado se aproximava, mais Anastacia parecia retraída e distante e mais Molly entendia que, mesmo sendo apenas um ano, sentiria mais falta de Anastacia do que poderia sequer colocar em palavras. No entanto, mesmo não sabendo como faria isso, gostaria que pudessem conversar, só que Anastacia continuava fugindo e alguns jogos Molly simplesmente não podia jogar.

Estava no quarto, arrumando as malas como seu tio havia instruído quando Anastacia apareceu na janela.

— Oi.

Molly a olhou por alguns segundos antes de voltar a dobrar as suas roupas.

— Vamos conversar, Mol.

— Agora você quer conversar – Molly riu, fechando a mala.

— Eu sempre quero conversar com você.

— Não. Por algum motivo que eu desconheço, você consegue fazer tudo, menos conversar sinceramente. Vou embora amanhã, Ana, e você simplesmente sumiu nos últimos dias. Você não sabe o quão longo um ano é?

Anastacia suspirou.

— Quero te mostrar uma coisa.

— Não. Chega de turismo.

A garota saltou da janela, puxando Molly pela mão, colando seus corpos um no outro.

— É o último, eu juro. Guardei para o final.

Os olhos azuis de Anastacia pareciam brilhar e, antes que Molly pudesse responder, Anastacia a puxou para um beijo forte, rápido e intenso, deixando ambas sem ar quando se afastaram. Molly aproximou-se novamente, colando suas testas uma na outra.

— Você vem comigo?

— Eu vou para qualquer lugar com você.

*

Molly caminhou lentamente em direção à ponte, tocando de leve o parapeito metálico e as flores vermelhas ali. Já havia visto pontes maiores, muito mais ornamentadas ou em locais com paisagens mais bonitas. Existiam várias em Londres que Molly nunca havia reparado direito, mas agora tudo que conseguia pensar era em como seria bom mostrá-las para Anastacia. Estava prestes a dizer isso quando a garota parou ao seu lado.

— Sabe que ponte é essa?

Molly negou com a cabeça.

— Podul Minciunilor – continuou ela. – Significa "A Ponte das Mentiras".

— Por quê? É preciso mentir para ficar aqui? – perguntou Molly, rindo.

— Existem várias lendas. Dizem que haviam muitos mercadores aqui, tentando enganar os seus clientes. Outra diz que aqui era o ponto de encontro de militares com as suas namoradas. Eles não apareciam, deixando as garotas aqui até perceberem que haviam mentido para elas.

— Homens – resmungou Molly.

— Também dizem que é aqui que casais juram amor eterno, ou onde as garotas juravam que eram virgens, o que descobriam ser mentira depois do casamento e, como punição, elas eram atiradas daqui, já que havia sido neste local que haviam mentido para os seus maridos.

Molly fez uma careta.

— Essa é só muito machista. E meio macabra.

— A mais famosa, e a minha favorita, diz que a ponte vai cair se contarmos uma mentira estando aqui – Anastacia desviou o olhar, fitando Molly. – Temos que ser sinceras aqui.

Molly virou-se, puxando Anastacia pelo braço. As duas ficaram frente a frente pela primeira vez desde que chegaram na Ponte das Mentiras.

— Vou sentir sua falta – Molly disse, segurando o rosto de Anastacia e colocando uma mecha de seu cabelo atrás da orelha. – Mas vou voltar, você sabe. Isso aqui é o que eu quero fazer.

Anastacia engoliu em seco. Todo seu corpo parecia colapsar sob o toque de Molly e, mais de uma vez, tudo que ela queria fazer era continuar fugindo, mesmo sabendo que jamais se perdoaria se fizesse isso com Molly.

— Minha mãe morreu há alguns anos – começou Anastacia. – Desde então somos apenas meu pai e eu. E ele... Ele não é o tipo de pessoa que você deseja estar por perto. Acho que alguém tão boa como você não deve nem sequer ser autorizada a chegar perto de alguém como ele – Anastacia riu, mas Molly continuou séria, reparando como os olhos da garota que gostava pareciam vermelhos. – Mas minha mãe, ela era sensacional, Mol. Você amaria conhecê-la, e ela amaria você.

— Tenho certeza que sim, Ana – falou Molly involuntariamente. Anastacia parecia nervosa e triste, suas palavras se atropelavam, como se ela estivesse prestes a chorar e a Weasley não sabia o que fazer.

— Minha mãe sempre sonhou que pudéssemos morar onde ela nasceu. É por isso que eu trabalho tanto, até mesmo em empregos trouxas. Ela sempre quis uma filha na faculdade, sabe, bruxa ou não. Sempre quis realizar o sonho dela.

O silêncio tomou conta das duas, porém, ao contrário do silêncio confortável que conseguia coexistir com as duas quando estavam passeando pelo Santuário de mãos dadas, apenas admirando a natureza que as cercava, este parecia gritar dentro de Molly de uma forma especialmente dolorosa.

— Eu sempre soube que teria que ir embora daqui, mas quando você apareceu... – Anastacia negou com a cabeça. – Eu comecei a pensar que talvez não fosse tão ruim ficar aqui se você voltasse.

A mão de Molly que acariciava o rosto delicado de Anastacia caiu lentamente conforme as palavras acentuavam-se em sua mente.

— Por isso você sumiu depois do relógio.

Não era uma pergunta e, ainda assim, a romena assentiu.

— Não estava brincando quando disse que gosto tanto de você que minha cabeça para de funcionar. Mas isso... Isso eu não posso fazer. Pode não ser o seu último verão, Molly, mas é o meu.

Molly deu um passo para trás. Precisava de distância para que o seu cérebro conseguisse compreender tudo que acontecia.

— E o que isso significa? Que você vai embora e nunca mais nos veremos?

— O verão já está acabando, Molly.

— Como você... – a ruiva hesitou, soltando uma risada nervosa logo depois. – Como você pode dizer isso tudo tão fácil?

— Molly, você vai para o seu último ano e eu preciso... Tenho coisas a cumprir.

— Nós podemos escrever, podemos nos ligar, como os trouxas fazem, podemos nos ver. Nós somos bruxas, podemos até aparatar! Não precisamos...! Nós não fomos só um verão, Ana, nós...

As palavras sumiram para Molly, como geralmente acontecia quando ela se sentia nervosa. Seu peito subia e descia de forma acelerada. Anastacia desviou os olhos por um segundo, como se não tivesse coragem de olhá-la. Molly abriu a boca novamente. Tudo que queria dizer era que elas não haviam sido apenas um verão, não haviam sido algo que pudesse ser desfeito com uma simples despedida. Molly gostaria dizer que nunca a haviam olhado da forma que Anastacia a olhava, que nunca haviam adorado seu corpo da mesma forma que Anastacia fez e ela nunca havia sentido tanto carinho e desejo por uma só pessoa. Molly queria dizer que sabia que a felicidade existia cada vez que a tocava e a fazia sorrir ou suspirar; ou os dois. Queria que Anastacia soubesse que o azul cristalino dos olhos dela havia sido feito unicamente para mirar os seus castanhos. Mas Molly não podia dizer nada disso.

Então tentou resumir da melhor forma que conseguia.

— Anastacia, eu...

— Não diga isso – interrompeu Anastacia, dando um passo na direção dela e segurando o rosto de Molly. – Não diga isso, Molly, por favor – pediu novamente. – Não me olhe assim. Nós tivemos tudo isso! Tivemos a Romênia, tivemos o verão inteiro!

— Não é o bastante!

Molly se soltou e Anastacia deu alguns passos para trás. A ruiva sentia tanta vontade de chorar, que seria possível ser partida ao meio por isso, mas não conseguiria. Não ali, com ela, naquele momento.

— Não prometa que vai me escrever ou ligar – disse Anastacia com a voz entrecortada, fazendo Molly perceber que algumas lágrimas escorriam em seu rosto. – Só prometa que vai lembrar. A única coisa que eu preciso que você prometa é que vai lembrar de nós, que você foi o meu amor de verão. Você sempre vai ser o meu amor de verão.

— Isso é ridículo.

Molly não entendia. Como Anastacia podia dizer que gostava dela, chorar e dizer tudo isso e, ainda assim, ir embora sem nem sequer dar a elas a oportunidade de tentar?

— Eu sinto muito, Molly, mas não deixe as coisas mais difíceis.

— Você diz todas essas coisas, mas ninguém está te obrigando a nada, Anastacia! Como você pode estar tão conformada? Por quê?!

Anastacia passou as mãos nervosamente pelo cabelo.

— Porque você foi minha! – exclamou, suas palavras ecoando pela rua vazia. – Você foi minha durante o verão, Mol, e nós tivemos tudo eu poderia imaginar, mas não podemos ir além disso, e eu sei! Eu aceito, porque tudo com você valeu a pena. Eu não mudaria nada. Não podemos apenas ter algo bonito?

Molly balançou a cabeça, contudo, antes que pudesse dizer algo, Anastacia já havia se aproximado novamente.

— Só lembre de mim, Mol, porque eu vou me lembrar de você. Sempre que o céu estiver cinza ou quando o sol estiver brilhante demais, sempre que eu precisar lembrar do que é me sentir feliz na minha própria pele... Vou me lembrar de como foi amar você durante o verão.

Molly não respondeu nada, apenas terminou com a distância entre os seus corpos e a beijou. Suas bocas atingiram uma a outra como se estivessem em uma guerra, em um beijo desesperado, nervoso, talvez irritado, e com toda a saudade antecipada que existia dentro delas. A mão de Anastacia cercou o pescoço de Molly enquanto a outra apertava sua cintura.

As garotas pararam o beijo devagar, sem se moverem um centímetro sequer, sentindo, enquanto podiam, o calor do corpo uma da outra.

— Vou me lembrar de você – Molly disse depois de um tempo. – Vou sempre lembrar que tivemos tudo.

Anastacia assentiu, devagar, soltando-se de Molly.

— Boa sorte na Noruega.

— Boa sorte na sua escola de ricos.

Molly tentou sorrir, mas foi em vão. Não sabia o que esperava além de tudo que havia sido dito na Ponte das Mentiras, mas, quando Anastacia continuou dando passos para trás e subitamente aparatou, Molly sentiu-se frustrada e abandonada. Seu ar pareceu sumir todo de uma vez enquanto se apoiava no parapeito. Sentia-se mais do que frustrada ou triste, sentia-se enganada. Não por Anastacia, que nunca prometera nada, mas por si mesma; por ter se deixado imaginar que poderia ir embora e voltar e a garota de seus sonhos ainda estaria ali, pronta para ela.

No dia seguinte, quando seu pai chegou e não disse uma palavra, apenas ficou ao lado da filha e observou uma garota de jaqueta de couro se despedir de todos no Santuário, até mesmo dos dragões, Molly percebeu que ele sabia. Sentiu que Percy Weasley até mesmo a entendia pela forma que apertava seu ombro como quem sabia que a filha precisava de apoio.

Anastacia sorria, recebendo presentes e abraços de quase todas as pessoas, porém, quando estava prestes a subir em sua moto, voltou-se para janela de Molly, capturando seu olhar uma última vez. Não houve sorriso ou aceno. Apenas o azul encontrando o castanho pela última vez.

A ruiva estava feliz por ter tido Anastacia Sorin durante o verão e sempre ficaria, fosse por 2 dias, 2 meses ou 2 anos. Ter Anastacia fez com que Molly percebesse que alguém poderia olhá-la daquela forma especial, como Teddy sempre havia olhado Victoire, e ela não precisaria se parecer com a prima para isso. Estar com Sorin durante o verão trouxe todos os sentimentos e sensações que Molly nunca pensou ser capaz de sentir ou provocar em alguém, e isso era bom, mesmo que fosse a última coisa que parecesse naquele momento.

Agora, com o seu primeiro coração partido, Molly conseguia ver como Anastacia em sua porta, dois meses atrás, havia sido um presente e uma piada ao mesmo tempo. Mas não se importava, pois, se possuísse um vira-tempo, ainda viveria naquele momento o quanto pudesse, mesmo sabendo que durante todo o verão, Anastacia apenas gostaria dela, enquanto Molly a amaria cada dia mais, fosse no verão ou em qualquer outra estação do ano.

 


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Notas finais do capítulo

Escrever essa história foi um desafio porque, como sempre, as coisas acabam saindo do meu controle no final, como se tivessem vida própria hahahah. Enfim, espero muito que vocês tenham gostado e possam me dizer o que acharam nos comentários ♥

Eu volto dia 19 com 'Unrequited' sobre Louis Weasley e Lysander Scamander; mas todos os dias tem fics incríveis saindo diretamente no twitter do @pridemonthffs, vale totalmente acompanhar!! Até a próxima ♥