Capítulo 16: Armadilhas

O único som perceptível na cozinha era o fio de água que escorria desde a jarra até ao copo. Lara posou a jarra e levou a bebida até Grace. A última encontrava-se sentada com uma mão na testa e outra pousada na pequena mesa de apoio.

- É melhor beberes isto. – Lara estendeu o copo mas Grace não lhe tocou, fazendo a rapariga suspirar.

Tinha contado tudo por tudo a Grace, mas esta continuava céptica.

- Grace… - Lara agarrou na mão desta. – Sabes que tu és como uma segunda mãe para mim e a Alicia também te adora. Por isso, qual seria o prazer de inventarmos esta história?

Grace olhou para Lara. A sua menina era tão linda. Se tudo aquilo era verdade, como é que se foi meter numa alhada daquelas.

- Lembras-te do dia em que desmaias-te quando entraste no quarto dos meus pais? – Grace acenou afirmativamente. – Tu pensaste que tinhas visto os piratas…

- Eu já sei o que vai dizer. – Grace suspirou. – Eu não pensei, vi, certo?

- Sim. Mas nesse mesmo dia eu perguntei-te se acreditavas que uns piratas do século XVIII, podiam vir parar cá. – Lara sorriu docemente. – Tu disseste que havia mistérios que o homem não entendia e que até era bom que isso acontecesse por causa da Alicia.

- Parece que tenho razão. Se quem está na sala é o… - Grace calou-se de repente. - … aquele pirata bonito, a menina Alicia deve estar radiante!

- Nem imaginas o quanto! – Lara sorriu abertamente. Finalmente Grace parecia estar a quebrar.

- Digamos que isso é tudo verdade… - Grace começou.

- Grace, já disse que é! – Exclamou Lara.

- Eu sei. Mas não está à espera que espalhe a mensagem que Cristo desceu à Terra e toda a gente acredite! – Grace fez o seu sorriso acolhedor e Lara sentiu-se mais confortável. – O que eu não entendo é como é que a menina Alicia é a louca de amores pelo pirata e a menina Lara é que acaba grávida!

Lara ficou sem saber o que dizer. Nem ela própria sabia a resposta. Fora tudo tão rápido.

- Aconteceu Grace. E não vou voltar atrás. – Lara afirmou.

Grace ficou olhando Lara, mas ambas foram interrompidas pela chegada de Alicia e Will. Grace olhou Will de alto a baixo com ar de inspeccionador e este ficou sem jeito.

- Grace, acho que já estás em condições de seres apresentada ao melhor Capitão dos sete mares, Will Turner! – Alicia sorriu triunfante e Lara rolou os olhos. Se Jack estivesse ali era capaz de dar um tiro em Alicia. "Mas por falar em Jack, onde ele está?", pensou.

- Bem que a menina tinha razão. – Grace levantou-se e continuou a olhar para Will de forma séria. – O rapaz é mesmo bonito! – Grace sorriu amistosamente e abraçou Will não o sufocando por pouco.

- Ainda bem que compreendeste! – Alicia sorriu.

- Ainda estou meia receosa em acreditar numa coisa dessas. Mas realmente não há dúvidas! O rapaz é a cara chapada do tal que a menina gosta…

- Ele é o tal, Grace! – Alicia agarrou Will e este olhou para Lara pedindo socorro.

- Pois. Mas a menina Elizabeth que não sei onde anda também é muito parecida e até… - Grace fez uma pausa. – O tio dela tem parecenças com o tal capitão "Barbagrossa"!

- Barbossa! – Exclamaram os três em uníssono.

- Ou isso. Só falta conhecer o seu pretendente, Lara! – Grace olhou para Lara. – E pai do seu filho!

- Sempre é verdade! – Will continuava espantado com a notícia. Nunca pensou ver Jack ser pai e o facto de este conquistar todos os rabos de saia que apareciam à frente, inclusive Elizabeth, deixava-o preocupado. Tudo o que menos queria era ver a melhor amiga de Alicia sofrer por aquele desmiolado. – Quando lhe vais contar?

- Contar? Como assim contar? – Grace arregalou os olhos. – A menina ainda não contou?

- Na verdade eu estou à espera do melhor momento…

- Estás à espera que ele fuja, isso sim! – Grace esbracejou.

- Já agora onde anda o Jack? – Lara olhou para Will.

- Digamos que eu sou o único que aqui resta. – Will disse. – Roubaram a bússola e as armas e o Jack e o Barbossa foram atrás de uma pista e até agora não voltaram.

- E tu vieste até aqui e nem te lembraste que eles já podiam ter chegado ao motel? – Lara abanou a cabeça e encaminhou-se para a sala.

- Na verdade estou preocupado. A Calipso também não aparece e a Elizabeth também desapareceu. – Will continuou.

- Quem é a Calipso? – Perguntou Grace.

- A tal deusa que eu falei. – Lara pegou nas chaves do carro. – Temos de voltar para o motel. Eles podem lá estar.

- E é bom que saiamos já! – Alicia tornou a olhar pela janela e lamentou-se não ter uma pistola à mão para fazer tiro ao alvo.

- Porquê? – Lara questionou. A resposta surgiu no momento em que olhou pela janela.

Entraram pela entrada interior da garagem. Os gritos das fãs que se acumulavam eram estridentes.

- Meninas tenham cuidado. Não acredito que vieram para cá armados! – Grace olhava-os com um misto de preocupação e ansiedade. – Não se metam em confusões.

- Deixa estar Grace. Para quem já enfrentou gigantes, insectos e um cão mitológico, isto não é nada! – Lara entrou para o carro e ligou o motor.

A garagem abriu e a rua estava deserta. As fãs estavam concentradas na porta da frente, mas mal saíram para o exterior, um grupo de raparigas cercou o carro e não o deixaram arrancar.

- O que é que fazemos? – Perguntou Lara enquanto buzinava, numa tentativa de afastar as raparigas histéricas que abanavam o carro.

- Isto é sem dúvida o momento mais ASSUSTADOR da minha vida! – Will estava em pânico. Uma coisa rara em alguém que além de pirata estava condenado a vagar pelos sete mares.

Alicia estava em ponto de ebulição, mas a gota de água foi o pedido de uma fã.

- Orli, dá-me um autógrafo no meu soutien! – Gritou uma rapariga mais nova que Alicia.

- Alicia abriu o vidro, colocou a cabeça e os braços de fora e agarrou no pescoço da jovem.

- VOLTAS A DIZER ISSO E EU FAÇO-TE NUM OITO, SUA RANHOSA DE MEIA TIGELA! – gritou enquanto abanava a cabeça e deixava as outras fãs estáticas.

- Agarra-me nessa doida! – Lara gritou para Will. Este agarrou Alicia pela cintura e puxou-a para dentro. Aproveitando a distracção das fãs, Lara meteu prego a fundo e rumou para fora da rua.

- Mas tu perdeste o juízo? – Lara perguntou, enquanto Alicia se tentava recompor, embora sentisse o sangue a fervilhar.

- E depois. Já viste aquilo? Pareciam um bando de loucas à procura do apocalipse! – Exclamou Alicia.

- Mesmo assim não era razão para atacares uma delas. – Lara disse, fazendo com que Will concordasse com a cabeça.

- Queria ver se acontecesse o mesmo com o Jack! – Alicia cruzou os braços e olhou pela janela.

O Ford Focus percorria o caminho da marginal. Segundo Will, Jack e Barbossa tinham seguido em direcção à praia, mas até agora nem sinal deles.

- O melhor é mesmo regressar ao motel. – Lara aconselhou.

- Por acaso não tens aí a bússola do Jack? – Perguntou Alicia.

Lara olhou de relance para esta. Jack continuava com a bússola do tempo, que agora tinha sido roubada, e Lara tinha em sua posse a outra bússola. Vasculhou no bolso dos jeans e encontrou a dita bússola.

- E para que é que isto vai servir? – Perguntou.

- Segundo o Jack mostra o que mais desejamos! – Exclamou Will.

Alicia arrancou a bússola das mãos desta e fixou o ponteiro que rodava até parar… no sentido do banco traseiro.

- É melhor seres tu a tentar. – Aconselhou Alicia.

Lara olhou a bússola e esta apontou um caminho: sempre em frente. Mas no momento seguinte, um barulho esquisito fez com que olhassem para a frente do carro.

- Eu não acredito! – Lara exclamou. Parou o carro. Pelo capô do carro começava a sair um leve fumo.

Lara saiu e abriu o capô e o ar encheu-se de fumo branco.

- O que é que se passou? – Alicia abriu a porta.

- O carro sofreu sobreaquecimento. Por inacreditável que seja acho que perdemos água pelo caminho! – Lara olhou para trás. Um rasto de água ficava para trás.

- Isso é grave? – Perguntou Will. Percebia tanto de carros como uma cenoura.

- Acabamos de ficar sem meio para seguirmos a pista. – Alicia bufou. Estavam parados no meio da marginal e algumas pessoas ficaram olhando.

- Eu posso tentar ajudar… - Will ofereceu-se mas Alicia travou-o.

- Achas mesmo que eu vou te deixar sair aqui? Para seres atropelado por um bando de fãs loucas em biquíni? – Alicia olhou-o nos olhos.

- Gente, estamos com um problema. – Lara entrou de novo no carro e virou-se para trás.

- Mas que grande novidade! – Exclamou Alicia.

- O carro precisa de ir para um mecânico e existe aqui um perto. Acontece que não quero deixar o carro sozinho. – Lara explicou.

- Vão lá vocês e eu fico aqui a guardar. – Will ofereceu-se.

- Não. Tu não sais mas também não ficas aqui sozinho! – Exclamou Alicia.

- Deixa de ser ciumenta mulher! – Lara deu uma gargalhada. – Ok. Fiquem os dois e eu vou lá. Qualquer coisa telefona para o meu telemóvel.

Lara saiu e Alicia ficou séria.

- Estou com um pressentimento esquisito. – Disse a rapariga.

- Ainda vais a tempo de ir com ela. – Will disse. Mas Alicia estava dividida. Se a Elizabeth estivesse ali, ao menos ficava com Will e assim já podia acompanhar Lara. "E deixar os dois sozinhos?", pensou. Era má ideia. Ficou vendo Lara entrar numa rua e a torcer para estar errada.

Lara caminhava pela rua que dava para uma bifurcação. Uma tabuleta tosca indicava o mecânico e Lara seguiu por aí. Quando chegou à garagem uma sensação de desânimo invadiu-a. Estava fechada. Por infelicidade era o dia de folga. Lara encostou-se ao portão ferrugento e suspirou. Por alma de quem é que o Jack tinha decidido ir atrás de algo sem avisar? Sorriu. Não havia explicação. De Jack Sparrow pode vir tudo.

Sentiu uma tontura. Agachou-se e esperou até esta passar. Começou a pensar no que tinha acontecido. Grace já sabia de tudo e não duvidava que esta estivesse no exacto momento a telefonar aos seus pais em pleno pranto. Depois pensou no que acontecera depois.

- Alguém rouba as armas e a bússola aos três. – Falou para si mesma. – No mesmo dia a Elizabeth desaparece e a Calipso evapora-se no ar. Já para não falar na avaria do carro.

- Lara? O que estás aqui a fazer? – a voz conhecida fez Lara se levantar de um salto.

- Thomas? – Lara recuperou do susto. – Ainda bem que apareceste!

- Oh, fico muito contente de pela primeira vez te ver radiante por me veres!

Lara sorriu. – Estou com um problema. O meu carro avariou na marginal e o mecânico está de folga. Será que podias dar uma mãozinha?

- Claro Lara. Se for algo que possa resolver aqui estou eu. – Thomas sorriu mas depois ficou sério olhando para Lara. – Estás bastante pálida hoje.

- Não é nada de especial. – Lara já ia puxando Thomas mas uma tontura mais forte fez esta desabar.

- Eu bem disse que não estás com bom aspecto. – Thomas segurou-a e esta apoiou-se na parede.

- Isto passa. – Lara fechou os olhos numa tentativa do enjoo passar.

- Ali na esquina há um café. Vamos lá, tomas um copo de água e depois vamos ver o carro. – Thomas ajudou-a a caminhar.

- Thomas, a sério não é preciso. Daqui a pouco isto passa. – Lara sentia-se demasiado fraca.

Thomas não respondeu e levou Lara até ao café. Mas antes de lá chegar uma mulher aproximou-se.

- A menina não parece bem. Posso ajudar? – Perguntou a mulher.

- Ela não se está a sentir bem. – Thomas explicou.

- Talvez um pouco de água lhe faça bem! – A mulher esticou uma garrafa de água e Thomas agarrou-a.

- Bebe um pouco Lara. – Thomas deu-lhe a água, mas Lara recusou. Algo não estava bem. Mas estava tão fraca que acabou por beber. Não soube quanto tempo passou desde que bebeu a água até começar a ficar tudo escuro à volta. No momento seguinte, a sua mente era apenas um lugar vazio preenchido a negro.

- Já se apagou. – A mulher disse. – Pega nela e leva-a para o carro. – Ordenou com voz áspera.

- Sim, grande Éris. – Thomas pegou em Lara e deitou-a no banco traseiro do carro estacionado. A rua estava deserta. Era bastante apertada e apenas continha umas casinhas de pescadores e a tal garagem.

Éris olhou em volta. Sorriu maleficamente e entrou no carro.

Alicia tinha mudado de estação de rádio cem vezes depois de Lara sair. Já tinha passado mais de meia hora e esta ainda não tinha voltado. Ligou para o telemóvel e deu caixa postal.

- A Lara nunca tem o telemóvel desligado. – Alicia começou a entrar em pânico.

- Acho que há algo por detrás disto tudo. O carro avariar agora pode ter sido só uma…

- Armadilha! – Alicia desesperou-se. De repente o telemóvel tocou e Alicia atendeu rapidamente.

Grace estava sentada em frente ao televisor de espanador na mão e com os olhos pregados no vazio. Esteve quase a ligar para o casal Stevens mas depois não teve coragem. Se alguém lhes dissesse a verdade que fosse Lara. A campainha tocou freneticamente e Grace arrastou-se até à porta. Abriu e Elizabeth entrou de rompante e com cara de pânico.

- Grace onde está a Lara? – Perguntou completamente transtornada.

- Saiu com a menina Alicia e o senhor Will. – Grace disse com naturalidade, deixando Elizabeth confusa. – Já sei de tudo menina Elizabeth Swan!

- Oh, eu não sabia. Mas eu tenho de falar com a Lara urgentemente!

- Se não tivesse passado a noite fora talvez ainda a apanha-se! – Grace exclamou com ar reprovador.

- Acredita Grace. Foi por uma boa causa. – Elizabeth agarrou nos ombros desta. – Se já sabes de tudo eu posso dizer. A Lara corre perigo. Eu preciso de avisá-la!

Grace arregalou os olhos e ao primeiro não soube o que fazer. Depois decidiu agarrar no telefone.

- Só telefonando é que os achamos. Eles foram atrás dos outros dois piratas. O esquisito que por sinal é pai do filho da menina Lara e o seu tio!

Elizabeth engoliu em seco e deu um sorriso amarelo. Aguardou que Grace fizesse a chamada.

- A Lara tem o telemóvel desligado. Vou tentar a menina Alicia. – Grace marcou o número e Alicia atendeu. – Alicia, ainda bem que atendeu. Têm de vir já para casa. A menina Elizabeth apareceu e não traz boas notícias.

Continua…