Copperspoon escrita por Jupiter vas Normandy


Capítulo 1
Único - O mundo que jamais será.


Notas iniciais do capítulo

Sugiro ler ouvindo a música Brigmore Lullaby, da trilha sonora de Dishonored 2: https://www.youtube.com/watch?v=jgw01KAlcRU



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/802190/chapter/1

O mundo jamais seria perfeito. A filha de Jessamine, Emily, garantiu isso com as próprias mãos, ao atravessá-la com a espada do pai, aquele gesto que destruiu tudo.

Ela não era mais Delilah Kaldwin I, a Imperatriz. Em seus últimos minutos, voltou a ser Delilah Copperspoon, filha de uma criada. Era uma usurpadora, e era assim que seria lembrada. Vendo os planos de todos aqueles anos ruírem em instantes, junto ao sangue que fluía em uma poça cada vez maior ao seu redor e o gosto metálico invadindo-lhe a boca enquanto se afogava, não lhe pareceu certo sorrir, mas ela sorriu.

Delilah Copperspoon, a usurpadora.

Combinava com ela, tinha que reconhecer. Antes a palavra a enfureceria como uma ofensa. Ela era a filha mais velha do Imperador Euhorn Kaldwin. O trono era seu direito. Mas como tudo mais, isso lhe fora negado. Sua herança, seu direito sempre visível à distância na Torre Dunwall, porém, inalcançável. Ela cresceu nas ruas e na prisão dos devedores, ao lado da mãe enferma e miserável. É… Usurpadora soava bem, era o bastante para ela. Delilah sempre precisou lutar, a sua vida inteira tinha sido uma batalha. Seu reinado foi curto, mas ninguém lhe deu o trono, ela lutou e o tomou com as próprias mãos, e isso sim tinha valor. Era mais do que Jessamine podia dizer. Jessamine, sua irmã mais nova, que recebeu fácil a atenção do pai de ambas e da Corte, apenas por ser uma Kaldwin legítima.

Delilah não era uma pessoa boa, não havia ilusões. Abriu caminho até o trono rasgando o Império das Ilhas ao meio, cada nova vítima se unia à pilha de corpos que a levava cada vez mais alto, e Dunwall sofreu mais do que qualquer outro lugar. A capital estava irreconhecível, irrompera por seus portões, distorcendo-a fogo e cinzas como se sua mera presença fosse venenosa. Agora, em questão de instantes, Delilah seria apenas mais um corpo na pilha. Mas a garota lhe enfurecia mais que tudo, de pé ao seu lado, a espada pingando com o sangue de Delilah. Ela parecia tanto com a mãe. Eram os olhos de Jessamine esperando para testemunhar seu último suspiro.

Delilah podia não ser uma boa pessoa, mas tornaria o mundo um lugar bom, ou ao menos melhor do que às ruínas ao seu redor. Ruínas criadas por suas mãos, mas não importava. Mesmo que queimasse aquele império inteiro, o reconstruiria das fantasias de seus sonhos, de suas pinturas. “O mundo como deveria ser.” Passara sua vida fantasiando o mundo perfeito em que Euhorn tivesse cumprido a promessa que fez a filha mais velha, em vez daquele em que a língua de um nobre era tão mentirosa quanto a de qualquer escória. O mundo perfeito em que ela se chamasse Delilah Kaldwin, e o povo a amasse como a imperatriz legítima. Onde não haveria fogo ou cinzas, veneno ou sangue. O mundo como deveria ser, e agora, jamais será. Mas isso era problema para a garota. Ainda que o reinado de Emily fosse longo, ela não conseguiria apagar as cicatrizes que deixara em seu caminho.

Seu corpo enfraquecido deixou um último suspiro escapar entre os lábios, mas sua alma sorria ao partir para o Vazio. Porque o mundo não era perfeito, e porque o seu nome era outro.

Delilah Copperspoon.

Delilah morreu com o humilde nome de sua mãe nos lábios e o sangue nobre de seu pai no chão.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada por ler e espero que tenham gostado ♥