O beijo, quadro de 1859 escrita por Lumii


Capítulo 1
O beijo (1859)


Notas iniciais do capítulo

Boa noite.

Fanfic inspirada em fotos inspiradas por um quadro hahaha
A arte inspirando a arte em diversos formatos.


Link da inspiração no disclaimer da fanfic.

Boa leitura! :)



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Estava frio.

O Sol brilhava com intensidade no céu e um turista desavisado poderia acreditar que estava calor ao observá-lo de dentro de algum estabelecimento.

Sasuke, porém, já estava a tempo suficiente estudando em Milão para saber que aquele Sol não seria suficiente para aquecer quem quer que fosse.

Naruto, por outro lado, parecia não ter essa noção ainda.

— Não entendo pra que tanta blusa.

Sasuke revirou o olho, desistindo daquela discussão que ele sabia que não levaria a lugar nenhum. Não era como se Naruto corresse o risco de morrer de hipotermia. Ele estava de casaco, talvez não com a quantidade de casacos suficientes para que a temperatura ficasse confortável, mas isso era um problema dele.

— Se você diz, dobe...

Conhecer Naruto foi um acaso do destino. Acaso esse que era um tanto quanto curioso.

Com sua pele bronzeada, olhos azuis e cabelos loiros totalmente indomáveis, Naruto era filho de uma japonesa e de um italiano. Ele sempre viveu no Japão com sua família e no ano anterior viajou para a Itália em um intercâmbio.

A parte curiosa era que a mãe dele, Kushina, era amiga de sua mãe. Elas até se seguiam nas redes sociais e saíam juntas ocasionalmente, mas Sasuke jamais soube da existência ou proximidade da família.

Ou jamais prestou atenção, o que era uma possibilidade bem plausível.

E foi assim que eles se aproximaram, através de suas mães, em uma inversão curiosa de como geralmente as coisas se desenrolavam na infância.

Eles faziam parte do mesmo curso e sala no intercâmbio e eventualmente Naruto viu uma foto de Mikoto no Instagram dele, puxando papo na mesma hora.

Ou seja, ele estava na Itália há bastante tempo. Não tinha justificativa para que fosse enganado pelo Sol.

Sem querer alongar a discussão, Sasuke praticamente ignorou o assunto e eles saíram do apartamento. Naruto insistiu em continuar comentando sobre o excesso de blusas e sobre como ele sentiria calor até mais ou menos metade do caminho, quando começou a passar as mãos nos braços de forma discreta.

Sasuke sorriu de canto.

— Eu avisei.

— CALA A BOCA, TEME!

A resposta escandalosa fez com que alguns transeuntes os encarassem e Sasuke revirou os olhos.

— Para de dar chilique.

Naruto mostrou-lhe o dedo do meio e Sasuke o empurrou de leve com o ombro. O amigo retribuiu e assim eles foram se empurrando e praticamente aos tropeços em direção ao local marcado.

xXx

O caminho até a Pinacoteca de Brera não era longo, mas decididamente poderia ter sido mais curto se não tivesse sido permeado de provocações e interrupções. Ao chegarem lá, logo avistaram o grupo de amigos que os aguardava próximo à entrada.

Sakura e Ino conversavam de forma agitada a respeito de uma foto que iriam tirar em algum lugar específico do museu, enquanto Shikamaru fumava em silêncio.

Sasuke quase riu do olhar que ele deu quando viu que se aproximavam.

— Naruto e Sasuke, graças aos céus. Não aguentava mais ser vela.

Ino revirou os olhos.

— A gente já falou que você se limita a vela porque quer.

Sakura arregalou os olhos e deu um leve soco na namorada, enquanto Naruto gargalhou.

— Shikamaru, como que você recusa algo assim?

Ele apenas revirou os olhos.

— Para de ser tapado, você sabe que ela só disse isso por causa da Temari. Vamos entrar logo, pelo amor de Deus.

Sasuke confessava que não estava muito animado para esse passeio. Não porque não gostava de museus, muito pelo contrário, mas porque ir com aquela galera era garantia de muita risada, piada e gritaria em um ambiente que ele só queria apreciar.

Mas ele estava enganado, pelo menos em partes.

Apesar das ocasionais piadinhas e conversas paralelas, a maior parte do passeio foi bem contemplativa.

Até aquele quadro.

Ao avistarem O Beijo, quadro de Francesco Hayez datado de 1859, Ino e Sakura começaram praticamente a pular de animação, enquanto tiravam o espelho da bolsa e retocavam a maquiagem dos olhos e boca.

Sasuke encarou a obra por alguns momentos e depois alternou o olhar para as amigas, Shikaramu e Naruto que riam de alguma coisa que ele não tinha percebido.

— Que merda tá rolando?

Naruto o encarou.

— Você não viu aquela trend com esse quadro?

Sasuke revirou os olhos. Era óbvio que não e Naruto sabia bem o porquê — sua completa falta de vontade de ficar rolando o feed das redes sociais.

— Claro que não.

Ino riu e encarou Sakura, que retocava o delineado enquanto tentava ficar séria.

— Dizem que esse quadro exerce uma certa influência sobre quem o observa. Então tem um desafio: Ficar ao lado do quadro e simular a pose sem beijar a outra pessoa. Se vocês não resistirem e se beijarem, alguém tem que bater a foto e você tem que postar.

Naruto riu, assim como Sakura. Ela quase borrou o delineado no processo. Shikamaru riu pelo nariz e murmurou algo parecido com “vocês são muito problemáticos”.

Sasuke também riu, mas do absurdo que aquilo era.

— Mas isso é uma completa idiotice. Por que as pessoas fariam isso?

Sakura pegou o pulso de Ino e a puxou para perto do quadro enquanto respondia:

— Porque é divertido. Mas deve ter algum fundo de verdade, né, porque muita gente não resiste.

Sasuke revirou os olhos.

— Você está falando isso com base em que, exatamente?

Mas nenhuma delas respondeu, porque já estavam se ajeitando para Naruto bater a foto. Não passou despercebido para Sasuke que eles não simularam a cena sem se encostar em nenhum momento.

— Ué, desistiram de testar a teoria?

Foi a vez de Naruto responder:

— Pra que, Sasuke? Elas namoram, óbvio que vão ter atração e vontade de se beijar.

Sasuke balançou a cabeça em negativa e já se afastava em direção a outros quadros daquele corredor quando Shikamaru falou:

— Aposto que você e Naruto não conseguiriam resistir.

O desafio lançado soou tão absurdo aos seus ouvidos que ele cambaleou ao virar-se para encarar os amigos. Naruto parecia surpreso também;

— Que?

— Exatamente o que você ouviu. Você e Naruto são os únicos aqui que podem testar a tese, porque eu estou quase namorando e elas já são namoradas. Vocês dois estão solteiros e não tem nada um com o outro. São as cobaias perfeitas — Seu sorriso tinha um toque malicioso quando ele completou — E eu aposto que não conseguem.

O silêncio prevaleceu por alguns segundos. Sasuke alternava inconscientemente o olhar entre as pessoas ali presentes e, ao olhar para Naruto, viu o momento em que sua expressão de surpresa se transformou em determinada, completamente inspirado pelo desafio idiota e sem sentido.

Ele o encarou de volta com o rosto decidido e um sorriso convencido.

— E então, Sasuke-teme?

Ino gargalhou e Sakura falou, talvez um pouco alto demais:

— Eu aposto um rodízio de pizza que eles não resistem também.

Sasuke revirou os olhos.

— Isso é idiota, tô fora.

Mas ao virar as costas, a voz de Ino veio cortante.

— Isso é medo de não resistir a esse ragazzo?

Todos riram com a escolha da palavra em italiano e Naruto completou em um tom jocoso:

— Tudo bem, eu também não resistiria a mim.

Sasuke sabia que era uma armadilha.

Ele sabia que seus amigos sabiam que ele odiava, com todas as suas forças, perder qualquer coisa. Principalmente se isso tinha algo a ver com o loiro idiota.

Ele inspirou profundamente, tentando invocar o adulto que sabia possuir dentro de si, mas que naquele momento claramente tinha deixado de existir.

— Pois que seja. Aposto que o dobe não resiste 1 minuto com o rosto tão perto de mim.

As garotas gritaram e até Shikamaru gargalhou, mas Sasuke só tinha olhos para Naruto e para o desafio que tinham em frente.

Eles se posicionaram ao lado do quadro, corpos quase se encostando e rostos muito próximos. Ele sentia a respiração quente contra seu rosto e estava pronto para contar vitória quando Ino falou:

— Vocês precisam simular, sabe? Mãos e corpos, etc. Só não pode beijar.

Sasuke revirou os olhos, se questionando o porquê de se sujeitar a certas coisas, mas quando Naruto levou a mão em seu rosto e colou seus corpos, ele percebeu a bobagem que fez.

De repente, tudo mudou de perspectiva e ele se tornou muito mais consciente da situação em que se encontrava: A mão bronzeada segurando-o daquela forma pelo rosto, seus corpos muito mais próximos do que jamais estiveram, sua própria mão mantendo-o perto pelo ombro.

Sasuke engoliu em seco, encarando os olhos azuis a sua frente sem saber exatamente como sair daquela situação e — pior — se queria mesmo sair.

Daquela distância, Naruto era lindo.

Claro que ele sempre achou o outro rapaz bonito, mas vê-lo de perto era ver pequenos detalhes que normalmente passavam despercebidos: os cílios claros, as sardas na região do nariz, uma cicatriz fina e leve sobre o olho direto, o rubor nas bochechas bronzeadas.

E foi quando ele voltou a encarar os olhos azuis que ele viu. Ele viu o momento em que a determinação de Naruto se apagou, dando lugar a outro sentimento, e os olhos deixaram de lhe encarar para observar sua boca. Nesse mesmo momento sua respiração ficou ofegante.

Sasuke não sabia bem ao certo quanto tempo tinha passado, só sabia que havia um esforço imenso da sua parte para não sucumbir ao que queria. Um desejo tão intenso que ele se surpreendeu como nunca havia percebido.

Ou, talvez, como nunca quis se permitir perceber.

Naruto parecia estar em algum tipo de dilema também, porque seus olhos não ficavam mais do que poucos segundos encarando os seus. Sempre se moviam para baixo.

E foi preciso poucos segundos naquela situação para Sasuke perceber: Ele também queria.

E assumir que essa certeza existia foi o suficiente para que sussurrasse baixinho:

— Naruto...

O outro encarou seus olhos mais uma vez e nenhuma outra troca se fez necessária. Ele o beijou, juntando seus lábios em um beijo que nada tinha de inocente, calmo ou de cauteloso.

Era firme, desejoso e intenso.

Era certeiro, inacreditável e faminto.

Era como ter algo que sempre desejou, mas sem perceber há quanto tempo desejava.

E Sasuke só se viu fora daquela bolha que o beijo criou entre eles quando a voz de Shikamaru se sobressaiu.

— Pelo amor de Deus, Ino, vão chamar o segurança daqui a pouco. Faz alguma coisa!

Sasuke se afastou com certa relutância, ficando ciente das gargalhadas das amigas e do riso nervoso de Shikamaru.

Nada daquilo importava.

Ele encarou os olhos muito azuis de Naruto e gostou do que viu refletido ali. Não havia medo ou arrependimento, mas uma certeza cristalina e um fogo que com certeza estava nos seus olhos também.

E ele provavelmente teria ficado ali, encarando-o por mais tempo, se Shikamaru não tivesse soltado uma risada e chamado seu nome.

— Sinceramente, Sasuke, eu esperava mais de você. Não pensei que você fosse cair nessa baboseira toda que a Ino inventou.

Ele piscou forte, finalmente encarando algo além do loiro a sua frente.

— O que...?

Ino gargalhou ainda mais, respondendo em meio a lufadas de ar:

— Não tem boato ou desafio nenhum. As pessoas só gostam de tirar foto aqui. Mas nossa... essa ideia saiu muito melhor do que o esperado.

Sasuke a encarou, fuzilando-a com o olhar. A mão de Naruto rapidamente alcançou a sua e ele se xingou mentalmente ao perceber que aquilo o acalmou.

O loiro aproximou-se, sussurrando em seu ouvido.

— Vamos sair daqui e... conversar.

O tom dele era risonho, com certeza achando graça da piada que eles protagonizaram, mas também era promissor.

E Sasuke sabia que não conseguiria dizer não mesmo que quisesse.

 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado hahaha

Ficou bobinha, mas gostei de escrever. Fazia meses que nada saía :3

Para quem lê minhas outras fanfics: Não desisti. Eu vou voltar, rs.

Só não está fácil hahahaha

To sempre falando bobagem no twitter, pra quem quiser: @lumii_uchiha.



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