Encontro escrita por carolxcullenx


Capítulo 1
Encontro


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Espero que gostem.



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Em algum lugar, muito longe, eu ouvia Rosalie quase sussurrando uma canção de ninar. Tentei desligar o rádio, para me concentrar no que mais importava naquele momento: Bella. Ela estava imóvel na maca, já há um dia inteiro, e eu só conseguia pensar que algo estava errado. Talvez eu não tenha agido rápido o suficiente. Talvez as lesões dela fossem profundas demais para o veneno curar. Talvez, talvez… Não conseguir ouvir a mente dela só tornava tudo pior. Eu estava em agonia.

            Parei para tomar consciência da cena ao meu redor pela primeira vez. A biblioteca, que havia sido transformada em centro cirúrgico, estava caótica e em nada parecia com uma biblioteca mais. Ninguém, além de Carlisle, entrou aqui depois que…

            Nós podemos limpá-la, trocar sua roupa. Você vai se sentir melhor - a voz de Alice entrou na minha cabeça. Adiantaria o que? - Você não pode passar dois dias aí dentro com ela assim.

     E então, ela estava ao meu lado com uma bacia cheia de água.

— Não consigo vê-la com clareza ainda, se é o que você pretende perguntar - disse, começando a passar a esponja nos braços de Bella - Está um pouco embaçado, mas não vejo nada de errado logo a frente. Vai ficar tudo bem.

       Parte de mim queria acreditar nas palavras dela, mas as visões de Alice eram subjetivas e mudavam o tempo todo. Nós ficamos em silêncio enquanto trabalhamos, eu tentei fazer tudo com o maior cuidado que pude, mas, ao final, não deve ter passado mais que trinta minutos. Ainda faltava muito. 

Eu já volto! - antes que eu pudesse impedir, minha irmã estava procurando um vestido azul.

Como se Bella fosse se importar com isso quando acordasse. Ela nunca se preocupou com suas roupas antes, não seria recém criada que isso mudaria. Recém criada. Como ela seria logo após a transformação? Será que ficaria como a maioria de nós, descontrolada e sedenta, sem poder se aproximar de humanos?

Não, Bella não era um monstro. Ela era boa, forte e, mais uma vez, havia provado ser melhor que eu. Enquanto eu fui um péssimo marido, ela esteve forte para gerar Renesmee até que nossa filha pudesse viver fora da mãe.

Ah, nossa filha. Eu disse tantas coisas, pensei tantas coisas antes de saber que ela também amava Bella. Eu queria me desculpar com as duas por isso. Passei tanto tempo imaginando que Renesmee era um monstro, como eu, sem perceber que ela era exatamente como a mãe. No segundo em que pude ouvi-la, eu soube. Ela não poderia ser um monstro, porque tudo que conhecia era o amor. O amor que Bella sentiu desde o primeiro momento, sem nem saber o que viria pela frente. Mas eu duvidava que, mesmo que soubesse o que enfrentaria, suas reações fossem diferentes porque essa era a minha Bella. Ela lutaria contra qualquer coisa para proteger as pessoas que ama.

Nossa filha. Nem se eu pudesse sonhar, teria imaginado isso. Quantas vezes ouvi sobre esse tipo de amor? As lembranças dos meus pais, embora ficassem cada vez mais distantes, ainda estavam em algum lugar na minha mente. Os tempos eram outros, é claro, mas ainda sim, os dois tinham sua forma de demonstrar afeto. E mesmo que não lembrasse tanto dos meus pais biológicos, eu tinha o amor de Carlisle e Esme, que era tão puro e sem interesses. Carlisle me criou para ser sua família, sua companhia e Esme me amou no momento em que nos conhecemos, eu era seu filho e pronto, ela não precisava de mais nada.

Quando coloquei os olhos em Renesmee pela primeira vez, finalmente compreendi o sentimento que ouvi tantas vezes nas mentes dos meus pais e de inúmeras pessoas com quem cruzei em todos esses anos. Eu achava que sabia o que era amor, mas naquele momento, entendi que não sabia de nada. Era como se toda a minha existência tivesse sido feita para me levar até aquele momento.

— Vá ficar com ela, eu cuido das coisas por aqui - Alice reapareceu ao meu lado, com o vestido azul em uma das mãos e uma escova de cabelo na outra. Se fosse em outra situação, ela estaria nas nuvens ao fazer Bella de boneca.

    Toquei a bochecha de Bella antes de sair e, ao passar pela porta, foi como se o rádio tivesse sido ligado de novo. Descendo a escada, todos os pensamentos na casa invadiram minha mente, mas eu não queria pensar em outros problemas agora. Os únicos pensamentos que me interessavam eram os da bebê nos braços de Rosalie.

— Minha vez agora - pedi.

 

  Eu tinha que admitir que Rosalie me surpreendeu, no final das contas. Ao contrário do que ouvi nas mentes de alguns membros da família - e de fora também, não posso esquecer dos três lobos que ficaram aqui durante esse período - ela não estava fazendo tudo aquilo apenas para ter a família perfeita que não pôde ter durante sua vida humana. Desde o início, ela foi o suporte de Bella. Fez o que todos nós deveríamos ter feito. Eu devia desculpas a ela também.

   Renesmee estava levemente diferente da última vez que a vi, há pouco mais de duas horas. Seu rosto era a união exata das características de Bella com as minhas, um acontecimento genético perfeito, mas eu achava que ela estava ficando mais parecida com a mãe. Ou talvez fosse o amor pelas duas que me fazia querer ver somente o que fosse Bella ali.  Com um dia de vida ela parecia ter um mês, talvez quase dois, continuava se desenvolvendo muito rápido e seu olhar demonstrava isso. Os olhos da cor de chocolate, idênticos aos da mãe e que eu tanto adorava, faziam parecer que ela era muito mais velha. Se não fosse seu dom, ela poderia muito bem se comunicar apenas com os olhos.

— Você está com fome? - perguntei. Apesar de ser metade humana, ela preferia se alimentar de sangue, mesmo que estivéssemos tentando fazê-la gostar da fórmula para bebês. Eu não conseguia julgar, no entanto, o cheiro era muito ruim, mesmo para comida humana.

 Ela colocou a mãozinha no meu pescoço, como se eu não conseguisse ler sua mente, e mostrou a imagem que vinha repetindo para todos no último dia: a mãe. Bella era a segurança que ela conhecia e que, de repente, não estava em nenhum lugar por perto. Ela queria a mãe e me perguntava se já podia vê-la novamente.

— Ainda não.

     Seus lábios formaram um biquinho adorável, assim como os que Bella fazia, e ela resmungou. Podia ser muito esperta, mas ainda era um bebê.

— Hora do jantar da monstrinha - Jacob apareceu, me tirando do meu momento perfeito. É claro, ele sempre tinha que estragar as coisas.

— Eu irei alimentá-la hoje, Jacob.

— Mas…

— Mas nada. Ela ainda é minha filha e eu ainda não decidi se vou te deixar vivo.

Parecia que não nos livraríamos dele tão facilmente, já que o cachorro teve um imprinting. Pelo menos isso garantia a segurança de Renesmee, já que Sam, ou qualquer um dos lobos, não podia fazer mal a ela. Eu tive que ler todos os pensamentos de Jacob para me certificar que não havia nada de errado ali e muito do que vi lembrava das primeiras vezes em que nos encontramos, só que direcionados a outra pessoa agora: ele via minha filha com muito respeito, com uma quase devoção. Não havia interesse algum ali - e isso era ótimo para a integridade dele. Eu esperava que continuasse assim por muito tempo.

Ele me passou um copo de metal e eu segurei para que ela jantasse. Nós tentamos com uma mamadeira, mas seus dentes rasgaram o material do bico na primeira vez que ela fechou a boca. Pensando agora, era até engraçado e parecia óbvio que não daria certo, mas é isso que pais de primeira viagem fazem, não é? Não nascemos sabendo e eu duvido que exista algum livro de “como criar seu bebê metade vampiro e metade humano” disponível nas livrarias americanas.

Uma parte de mim, a que insistia em manter o adolescente de 17 anos vivo, estava apavorada. Eu tentava manter essa parte controlada porque, bem, agora alguém dependia de mim. Mais que isso, esse bebê não tinha passado tempo algum com a mãe e eu era a família dela até esse momento, então não podia existir espaço para medo. Bella não teria medo, ela nunca teve, e cuidar bem da nossa filha era o mínimo que eu devia a ela nesse momento. A outra parte, a racional, estava extremamente grata à minha família porque, sem eles, eu provavelmente não conseguiria. Só fazia um dia e todos haviam feito tanto por mim, por Renesmee e por Bella.

Minha filha também reconhecia isso, já que todos os rostos passavam constantemente por seus pensamentos. Era uma experiência peculiar observar sua mente, porque eu nunca tinha prestado muita atenção em pensamentos de bebês ou crianças. Enquanto eu olhava, ficava cada vez mais fascinado com a forma que sua cabecinha organizava as coisas. Ela havia associado o momento da alimentação a cuidado e pensava em mim, Rosalie, Jacob e Esme - nessa ordem.  A hora de trocar de roupa era todinha de Alice e ela já tinha aversão a laços e roupas cheias de babados - exatamente como a mãe. Ao pensar na hora que Carlisle fazia as medições com a fita métrica, ela tinha um sentimento parecido com tédio. Ela também já sabia o que era brincar e associava a Emmett, Jasper, Rosalie, Jacob e a mim - e isso me deixou com um pouquinho de ciúmes, já que era o último, mas quantas vezes eu havia brincado com ela no último dia?

O ponto comum de todas as lembranças dela me deixou com a sensação de coração apertado, uma reação psicológica, é claro, mas que se assemelhava ao que os humanos sentiam. Em todos os quadros, ela se perguntava onde a mãe estava. O tempo todo, Bella era uma grande interrogação em sua mente. Por que ela não está aqui?

— A mamãe está dormindo, eu já te disse - respondi, passando a mão por seus cachos, que tinham a mesma cor do meu cabelo, mas o formato era igual aos do avô.

  A próxima sequência de pensamentos foi algo parecido com birra, eu acho. Renesmee me bombardeou com a mesma imagem de Bella - a única que ela tinha - repetidas vezes, e empurrou o copo com as mãos. Ela me perguntava porque a mãe estava dormindo há tanto tempo, se ela mesma já tinha acordado algumas vezes. Sua lógica tinha sentido, mas eu não tinha como explicar que sua mãe estava passando por uma transformação. E aí algo me ocorreu.

   O coração de Bella estava batendo em um ritmo que demonstrava que a transformação ainda levaria um tempo para ser concluída, então não teria problema algum em levar Renesmee para vê-la, certo? Eu esperava que sim.

— Escute, nós vamos fazer uma coisa - sussurrei, bem perto do rosto dela. Mesmo que todos fossem ouvir, era bem mais legal pensar nisso como um segredo só nosso - Mas você tem que prometer que vai ficar quietinha no meu colo, tudo bem?

  Ela colocou a mãozinha no meu queixo e concordou. Ajeitei seu corpinho em meus braços e subi a escada com uma velocidade quase humana, sob os olhares e pensamentos curiosos de todos que estavam no ambiente.

   O que ele pensa que está fazendo? Rosalie e Jacob, surpreendentemente, pensaram a mesma coisa, em um tom não muito agradável. Ignorei, ela era minha filha e eu sabia o que era melhor.

    Oh, finalmente, querido. Vocês merecem um momento sozinhos. Esme, sempre maternal.

   Isso não vai dar certo. Jasper, com seu pessimismo de sempre. Eu quis chutá-lo.

Ah, ele vai deixar a monstrinha feliz. Emmett era mais positivo, apesar de ter uma inclinação para ficar ao lado de Rose ele não conseguia saber o que ela pensava.

   Carlisle e Alice estavam na biblioteca, que havia sido limpa e parecia um pouco mais com uma biblioteca agora, e se viraram quando entrei.

— Edward, o que…? - meu pai começou, mas foi interrompido pela risada cheia de sinos de Renesmee, que imediatamente reconheceu a mãe.

 Bella ainda estava na mesma posição, é claro, mas agora estava limpa, com o vestido azul e com o cabelo escovado. Apesar de ainda não ter muitas mudanças físicas, ela já estava um pouco diferente da lembrança que Renesmee tinha.

   Meu bebê se agitou no colo e esticou os braços para frente, ela queria chegar mais perto.

— Estamos seguros? - perguntei.

— Acredito que sim. O processo ainda vai demorar algum tempo, mas mantenha uma distância, por garantia - Carlisle pediu - Ficaremos aqui.

            Assenti. Teria que ser o suficiente.

— Veja, Renesmee, essa é a sua mãe - peguei sua mão e levantei na direção de Bella, mas ainda estávamos a uma distância segura - Ela está dormindo agora, mas logo estará conosco - eu esperava que fosse logo mesmo.

   Com a mão livre, ela tocou meu pescoço novamente e me mostrou algumas cenas do seu dia, mas com a figura de Bella inserida nelas. Se eu pudesse chorar, com toda certeza estaria com os olhos cheios de lágrimas agora.

— Isso mesmo, ela fará todas essas coisas com você.

    Ela riu novamente, estava muito feliz. Em sua mente, uma explosão de cores se misturava às cenas que ela estava imaginando.

— Quer ouvir uma história? - perguntei. Ela fez que sim e eu pensei rapidamente em como tornar a narrativa do dia em que vi sua mãe pela primeira vez mais simples para que ela compreendesse facilmente. Era uma vez? Não. Em uma terra muito distantecéus, Edward, você passou tantas vezes pela faculdade e não consegue adaptar uma história para sua filha - Eu e sua mãe nos conhecemos na escola - comecei, mas fui interrompido por um resmungo. Claro que Renesmee ainda não sabia o que era a escola.

  Ouvi Carlisle e Alice rirem atrás de mim e mais risos no andar de baixo. Eu teria que me esforçar mais.

— Certo, vou explicar melhor - ela me olhou atenta - antes de encontrar com sua mãe, eu a vi na mente de muitas pessoas. Ela era nova na cidade, então todos estavam muito curiosos. Confesso que toda essa animação me fez ficar desinteressado no começo. Eu passei alguns dias fingindo que ela não existia, sabia? - ela estranhou e não entendeu como isso era possível - Você vai entender um dia.

 Continuei contando sobre os primeiros dias, pulando a parte em que eu fugi para não admitir que estava apaixonado - ela ainda não precisava saber que eu fui covarde daquela forma. Enquanto eu falava, Renesmee tentava criar as imagens em sua mente, unindo o pouco que conhecia às minhas palavras. Quando eu relatava algo mais feliz, ela adicionava mais cores. Nossa dinâmica se tornou interessante, principalmente porque ela já conseguia entender muitas coisas e questionava o que ainda não compreendia e, assim, passamos um bom tempo ali. Em um determinado momento, as imagens que ela colocava na minha mente começaram a ficar embaçadas, com algumas falhas, e eu soube que era a hora do seu cochilo. Os únicos pais do mundo que não precisam dormir e nossa filha estava aprendendo uma ótima rotina de sono. Irônico.

Permaneci no mesmo lugar, quase encostado na grande janela que pegava grande parte da parede, para prestar atenção em seus sonhos e fiquei feliz com o que vi. Ela havia deixado os questionamentos um pouco de lado e estava bem satisfeita por poder criar mais imagens da mãe. Eu já pensava em outras histórias para contar quando ela acordasse.

Você está fazendo um ótimo trabalho, filho - Carlisle pensou - Bella ficará feliz.

  Eu esperava mesmo que ficasse. Talvez eu levasse mais cem anos para reparar a forma como a tratei nas últimas semanas, mas faria isso de bom grado. O arrependimento já era uma constante em minha existência, principalmente nos últimos anos, e sempre estava associado às atitudes que eu tomava pensando ser o melhor para Bella, porque de alguma forma a situação sempre terminava com ela ferida de alguma forma. Quando a deixei para caçar James e ele conseguiu alcançá-la antes de mim; quando fugi após seu desastroso aniversário, deixando-a exposta a tantos perigos em Forks e depois quando ela foi atrás de mim na Itália; quando Victoria nos encontrou durante a batalha com os recém criados e, por fim, quando julguei que seria melhor interromper sua gravidez. Cego querendo protegê-la do que considerei um grande perigo, eu não pensei no que ela queria.

 Olhando para Renesmee dormindo tranquilamente no meu colo, tentei afastar esses pensamentos. Eu não tinha o poder de alterar o passado, mas tinha o de tentar ser o melhor pai possível para ela. E eu seria exatamente o que ela precisasse que eu fosse, mesmo não fazendo a menor ideia de como criar uma garotinha, eu me esforçaria para ser muito melhor daqui para frente do que tinha sido até aqui.

  Quase como uma resposta aos meus pensamentos, o coração de Bella mudou de ritmo e as visões de Alice ficaram mais claras. Nós ainda não sabíamos quanto tempo levaria, mas ao final, ela estaria bem. Mesmo que as visões não fossem exatas, a cena que vi me deixou bem mais leve: Bella e eu correndo pela floresta, ela ainda com o vestido azul, mas ele não estava mais intacto. Tudo bem por mim, contanto que ela estivesse bem.         

— Obrigado por isso, Alice - agradeci, genuinamente.

— O que perdi, crianças? - Carlisle perguntou num tom muito baixo, para garantir que a bebê não acordasse.

— Consigo ver Bella claramente agora, deu certo - Alice respondeu, no mesmo tom. Para a nossa audição, era como se estivéssemos falando normalmente, mas um humano jamais conseguiria entender uma palavra.

  Ao mesmo tempo, ouvi suspiros aliviados lá embaixo. O peso estava sendo retirado dos ombros de todos nós.

 Mergulhado nos sonhos de Renesmee, perdi a noção do tempo. Seus pensamentos continuaram dançando sobre as novidades que ela aprendeu naquela tarde, com uma empolgação tão inocente e infantil que me deixou hipnotizado. Fazia tempo que eu não ouvia coisas tão simples.

 Quando o sol estava começando a baixar no céu, Esme apareceu na biblioteca e eu percebi que havia ficado sozinho em algum momento. Ela parou ao meu lado e me observou, sorrindo.

Meu doce Edward… Você sabe que está fazendo um ótimo trabalho, não sabe? Sei que pode parecer estranho ou apavorante agora, mas você saberá o que fazer - ela começou, se comunicando comigo pelos pensamentos - As coisas não têm sido fáceis para vocês dois, mas vão melhorar, eu garanto. Já estão melhorando, olhe só que coisinha maravilhosa vocês fizeram. Quem poderia imaginar? Você me fez uma avó! Ah, Edward, eu te amei tanto desde o início, estou tão realizada em te ver como um pai.

  E logo, éramos dois emocionados. Ainda bem que não tínhamos lágrimas, porque do contrário, estaríamos encharcados.

— Eu também te amo, mãe. Obrigada por nunca ter desistido da minha felicidade.

— Jamais faria isso - dessa vez ela verbalizou sua frase e eu sabia que era uma afirmação que valia para todos - Agora… é hora de acordar essa mocinha, não queremos estragar a rotina noturna dela.

Esme começou a cantar baixinho, mas foi o suficiente para que Renesmee despertasse. Logo, seus olhos estavam bem abertos, procurando algo e seus pensamentos estavam muito confusos. Tentei identificar o que ela buscava e fui atingido por uma onda de ciúme quando entendi. Até agora, ela havia dormido poucas vezes, mas nunca despertou no meu colo e estava procurando os rostos que já associava a esse momento. Nenhum deles era o meu.

 Minha mãe também percebeu a agitação repentina dela e agiu mais rápido que eu.

— É o seu papai que está aqui, está tudo bem - disse, na voz mais maternal que existia.

 E, como mágica, ela se acalmou. Seus pensamentos passaram de confusos a questionadores novamente, ela queria saber mais sobre Bella. Tudo bem, eu contaria tudo que pudesse.

As próximas horas passaram como um flash, entre histórias - umas mais editadas que as outras, admito, pausas para explicações e as lindas imagens que sua mente pintava, nós nos conectávamos cada vez mais. Eu queria que ela criasse comigo o mesmo vínculo que havia criado com os outros, enquanto eu passei quase um dia inteiro fissurado esperando alguma reação de Bella, precisava correr atrás do prejuízo que eu mesmo havia criado e - modestamente - acho que estava me saindo bem. Ela até bebeu um copo inteiro daquela nojenta fórmula para bebês em troca de ouvir mais uma história. Bem espertinha.

 Quando a lua já estava alta no céu, ela começou a mostrar cenas borradas mais uma vez e eu soube que estava na hora de dormir. Rosalie apareceu e pediu para levá-la, mas Renesmee não queria ir. Ela começou a lutar contra o sono, insistindo em ficar perto de mim e de Bella. Depois de uma breve conversa e a promessa de que continuaríamos amanhã, ela aceitou ir para os braços da tia e logo adormeceu.

 Durante a madrugada, eu me dediquei a aprender o que podia sobre bebês. Sim, Edward Cullen, em cem anos você poderia ter guardado um tempo para isso e não precisaria aprender tudo em uma noite, mas eu não imaginava que seria pai um dia. Eu estava decidido a passar o dia todo com a minha filha e queria estar bem preparado para isso. Claro que os bebês humanos eram muito mais complexos e eu poderia apenas dispensar mais da metade do conteúdo que encontrei ao buscar na internet, mas algumas coisas poderiam ser bem interessantes.

Ela precisaria de comida humana em algum momento, então eu deveria aprender a cozinhar comida de bebê, certo? Ou então, qual era o nível de claridade que uma cortina deveria bloquear para não atrapalhar seu sono? Será que ela precisava de um berço ou uma cama era o mais apropriado? Com certeza ela não passaria o resto da vida dormindo nos braços de alguém. Com o tempo, algumas dúvidas muito específicas foram surgindo e a internet já não poderia me ajudar mais. Eu estava ficando ansioso novamente, voltei para Bella.

— Bella, você pode me ouvir? - apertei sua mão - Bella, me desculpe… eu te amo.

 Nenhuma reação. Eu sabia, pelas visões de Alice, que a transformação seria concluída com sucesso e Bella ficaria bem, mas não conseguir saber o que ela estava sentindo me deixava frustrado. Todos os sentimentos ruins que eu havia enterrado no último dia estavam querendo retornar.

— A monstrinha acordou e está procurando por você - Emmett disse, aparecendo em uma árvore próxima a janela.

   Um sorriso apareceu em meus lábios. Parece que minha missão de recuperar o tempo perdido estava mesmo sendo bem sucedida.

— Olá - anunciei, chegando na sala onde quase todos estavam em volta da neném que rolava no tapete. Essa era uma coisa que os bebês humanos faziam quando tinham por volta de cinco ou seis meses, mas ela era extraordinária, então tudo era acelerado.

Nós passamos parte da manhã nos conhecendo novamente. Cada vez mais, ela tinha curiosidade de saber mais detalhes das histórias que eu contava para poder montar suas representações imaginárias, o que me obrigava a ser mais criativo para não decepcioná-la ou acabar falando demais. E a cada nova frase que trocávamos, eu sentia aquele amor devastador crescer mais dentro de mim, como se fosse possível.

Logo após o meio dia, as coisas começaram a mudar. O coração de Bella estava batendo cada vez mais rápido e isso só podia significar que acabaria em breve.

Eu olhei Renesmee mais uma vez e, internamente, implorei para que ela entendesse.

— Eu preciso ir, mas prometo que volto logo, tudo bem? Você vai ficar com a tia Rose e com Jacob agora.

 Não precisei de muito, os dois nomes pareciam palavras mágicas e ela esqueceu de mim. Novamente, subi as escadas em um ritmo lento, quase humano, ouvindo como as batidas pareciam mais frenéticas a cada segundo. Quando olhei para Bella, sua aparência já estava muito diferente, muito mais próxima da visão de Alice.

— Carlisle - chamei, com a voz baixa, mas sabendo que ele ouviria de qualquer lugar da casa.

— Está quase acabando - ele disse.

— Logo - Alice concordou - Vou chamar os outros. Rosalie…?

— Sim, mantenha o bebê longe.

 Mal terminei de falar essa frase e os dedos de Bella se moveram. Um movimento depois de quase três dias. Eu não acreditava em um Deus, mas Bella acreditava, então, decidi que o agradeceria por isso. Obrigada por deixá-la em segurança. Obrigada por me dar uma família. Obrigada por cuidar de tudo.

  Quase como uma resposta, o corpo de Bella se arqueou e bateu de volta na maca em uma fração de segundo. Estava no fim. Seu coração estava a caminho da última batida. O som que eu tanto amava soaria pela última vez. E aí, aconteceu. Aquele coração bateu por mais duas vezes e parou. Todos seguraram suas respirações também e a sala ficou em silêncio.

Eu me virei e me preparei para o segundo encontro daqueles últimos dias. O encontro definitivo.

E então, Bella abriu os olhos.


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Notas finais do capítulo

Me deixem saber o que acharam ♥