É "ele", não "ela"! escrita por Linesahh


Capítulo 1
One-Shot


Notas iniciais do capítulo

SAHH NA ÁREA

E aí, pessoal, como vão?

Ok, confesso que devo estar “um pouco” viciada em Bakudeku, pois não consigo parar de pensar e ter ideias para fanfics sobre eles. Espero que curtam essa one que achei super divertida de escrever ❤️

Nos vemos nas notas finais

(Ps. Eu simplesmente estou APAIXONADA pela capa que a Line conseguiu fazer; ela realmente está evoluindo, que orgulho! ❤️)



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É "ele", não "ela"!

por Sahh

 

Havia acabado de dar sete da noite quando o celular de Midoriya Izuku tocou. O rapaz de madeixas verdes e olhos grandes e reluzentes largou o lápis que outrora usava para terminar uma dissertativa e espiou, curioso, o aparelho.

O nome piscando na tela o surpreendeu de várias maneiras — todas elas positivas. Tudo bem que era comum que eles se falassem mais ou menos naquele tipo de horário, mas as semanas anteriores haviam sido tão corridas que mal tiveram tempo para trocar ligações ou mensagens que durassem por mais de cinco minutos.

As provas finais estavam chegando, e, se antes havia vários despreocupados de plantão, estes agora encontravam-se atolados em estresse e pressão consideráveis, e corriam atrás de concluir os trabalhos e estudos necessários para obterem a tão almejada graduação o quanto antes.

Largando o que estava fazendo — no entanto, já ciente de que, assim como das outras vezes, não teriam muito tempo à disposição para “bater-papo” —, Midoriya, enfim, atendeu.

— Oi, Kac…

— Alô? Quem está… peraí — ouviu-se o que pareceu ser um baixo praguejo na outra linha, e logo alguns sussurros censuradores foram escutados: — Não, não, tem que deixar ele na mesa, se não ele vai cair...

Midoriya franziu o cenho. Não tinha sido Kacchan quem havia ligado? Mas o número era dele, afinal…

— Hum, licença, com quem estou falando? — Izuku indagou, confuso.

Mais alguns resmungos inaudíveis foram escutados até que a voz da pessoa, enfim, retornasse com maior clareza:

— Ah, desculpe, você deve estar meio perdido, né? — mesmo parcialmente agitado, o rapaz expressou-se de forma bastante tranquila e sociável. — Primeiramente; estou falando com Midoriya Izuku?

— Ah… sim, sou eu. — o esverdeado ainda tentava entender o núcleo daquela estranha conversa que o pegara despreparado. No momento, tudo o que queria saber era o motivo de aquele rapaz estar com o celular de Kacchan em mãos e (mais importante) onde o dito cujo estava. Antes, porém, de abrir a boca para questionar tudo isso, teve suas dúvidas respondidas com as próximas palavras do rapaz:

— Ah, que bom! Então, é o seguinte: meu nome é Kirishima Eijirou, e sou um amigo de Katsuki da faculdade. E cara… ele acabou exagerando feio na bebida, e pior que essa é a primeira vez que vejo isso acontecer com ele. Eu e Kaminari, um outro amigo do campus, estamos aqui tomando conta dele, pois ele acabou de apagar total.

O cenho de Midoriya foi se franzindo a cada sílaba dita pelo tal Kirishima, compartilhando da mesma reação desabituada em relação às condições atuais de Katsuki.

Bêbado? Aquilo quase nunca acontecia… Estava cada vez mais intrigado. O que de fato estava acontecendo?

Mais uma vez, foi lento demais para expor qualquer comentário.

— O estado dele tá péssimo, de verdade. Até o levaríamos de volta ao campus, se ele, por acaso, não nos matasse depois, é claro; é que ele passa longe de tudo o que pode acabar manchando o título de “aluno-estrela-da-advocacia” que ele carrega, sabe? Daí fica complicado levá-lo de volta para a faculdade…

Eram muitas informações para digerir, e Midoriya acabou sacudindo a cabeça para colocar os pensamentos em ordem.

— Ah, sim, entendo, entendo… — apertou os lábios, sem saber exatamente por onde começar seu “interrogatório”. — Hum, ele… pelo menos está bem?

Certamente poderia ter feito uma pergunta mais objetiva, mas o fato era que essa tratava-se da preocupação que ocupava o topo da lista na mente cada vez mais conturbada do esverdeado ante a situação. Para sua sorte, logo recebeu a confirmação de Kirishima, o que deixou-o um pouco mais aliviado.

— Sabe, um pouco antes de apagar, ele mandou a gente ligar para a “desgraça do amor da vida dele” e pedir para que viesse buscá-lo. Ele falou com essas palavras mesmo; acho que foi a coisa mais sóbria que ele disse hoje, na verdade…

Midoriya ergueu uma sobrancelha. Agora estava explicado o motivo de terem lhe ligado…

Respirou fundo, exausto. Não estava contando com uma dessas para fechar seu horário de estudos naquela noite, e o curso de letras mostrava-se cada vez mais desafiador do que inicialmente tinha pensado, mas…

A quem queria enganar? Lá no fundo, felicitou-se — e muito — com a ideia de encontrá-lo antes da data marcada.

Com o interior agora mais tranquilo, relaxou o braço na mesa à frente, já abrindo a boca para confirmar que já estava indo…

… Até travar completamente com a pergunta que Kirishima fez em seguida:

— Vem cá, você sabe quem é ela?

A falta de reação foi inevitável. Midoriya não entendeu nada.

— … Como?

— A garota que ele tá pedindo para vir buscá-lo, sabe? — Kirishima explicou, sua naturalidade totalmente ignorante à crise desentendida que ia ganhando uma força descomunal no interior de Izuku. — Antes não tínhamos certeza, mas agora está óbvio que deve ter sido por causa dela que ele se embebedou desse jeito. Parecia estar com muita saudade, sei lá.

Midoriya ficou ainda mais paralisado. Começou a suar frio.

— “Saudade?”...

— Você deve ser amigo dele, né? — o outro continuou, normalmente. — Não sabíamos para quem ligar, e ele com certeza ficaria puto se os pais dele soubessem disso, então vimos seu nome entre os contatos e ligamos. Você conhece a garota? Porque ele com certeza tá precisando dela. — deu uma risadinha nervosa.

Midoriya precisou de alguns segundos para fazer do silêncio seu maior aliado para recapitular tudo o que tinha acabado de escutar. Estava perplexo. Totalmente. O que aquilo significava?

Não… Ele não podia, em hipótese alguma, estar fazendo papel de trouxa, podia? Seria um completo absurdo, não tinha como ser isso...

De uma forma ou de outra, as palavras do tal Kirishima já tinham adentrado em sua cabeça com tudo, e Izuku sabia que não haveria previsões para elas irem embora tão cedo. Os lábios rijos tremiam, assim como a mão ainda mantendo o celular na orelha; seus olhos, anteriormente límpidos e calmos, refletiam, agora, um verdadeiro cenário de paralisia e desfoque, e seu corpo inteiro ficou num estado de tensão pura.

Antes mesmo de perceber, sua voz finalmente saiu; clara e com um controle que, por dentro, Midoriya praticamente não tinha:

— … Eu a conheço sim. Mas ela não pode ir agora. — mentiu, mal pensando nas próprias palavras. — Mas eu estou livre, posso ir buscá-lo. Onde vocês estão?

Não reconhecia a calma e a seriedade contida em seu ato, no entanto, Midoriya somente escutou com atenção o endereço e, após garantir que não demoraria a chegar, desligou o telefone.

O esverdeado ficou por alguns minutos no mesmo lugar, imóvel. Enfiou o rosto nas mãos, sem saber o que achar, pensar, questionar... As informações estavam totalmente embaralhadas em sua cabeça, mas, a cada segundo que passava, elas iam montando um quebra-cabeça que Izuku, definitivamente, não estava gostando...

“Eu não posso perder tempo aqui”, puxou o celular de volta e, de repente, já sentiu o conhecido líquido morno deslizar por suas bochechas, sem pausa. Não, não; não era hora de chorar — não ainda. Por isso, limitou-se em apenas limpar as lágrimas com o peito da mão enquanto, com a outra, acertava a rota que iria seguir até o local onde, aparentemente, Katsuki estava desmaiado na companhia dos amigos.

Rapidamente vestiu um casaco, pegou as chaves do carro, trancou o apartamento e desceu até o estacionamento. Logo, já se encontrava na estrada, e a noite fresca foi uma boa pedida para que, talvez, Midoriya conseguisse esfriar os pensamentos tumultuados e o coração batendo com demasiada força e crueldade acerca da dúvida esmagadora que o circundava.

Havia mentido para o tal Kirishima quando falou que chegaria logo; a viagem demoraria pelo menos duas horas e meia, visto que ele e Katsuki estavam fazendo faculdade em cidades diferentes. Sua omissão sobre tal fato foi feita apenas com o objetivo de segurá-los no bar.

Respirou fundo. Midoriya nunca havia enxergado, na distância em que se encontrava de Kacchan, a ideia de que alguma infidelidade pudesse ocorrer. Sempre confiou cegamente nele. Ainda que fossem namorados que, por causa das circunstâncias atuais, não se viam ou se falavam com muita frequência, o único problema que Izuku via nessa situação era a falta que sentia do loiro. Mas, agora...

Os olhos voltaram a queimar com força, e as mãos agarraram o volante com ainda mais intensidade. Não conseguia evitar; as coisas que tinha escutado pelo telefone martelavam em sua cabeça da forma mais bruta que já havia sentido na vida.

Afinal... Como assim? Que garota era aquela? “Saudades”? Não... Não estava entendendo absolutamente nada! E, também, desde quando Kacchan tinha interesse pelo sexo feminino? Ele nunca contou nada disso para si!

“Com certeza deve ter sido para causar alguma segurança ilusória em mim”, comprimiu os lábios, amargo. “Afinal, a lista de pessoas que ele poderia acabar se interessando seria reduzida pela metade, desse jeito...”

Ainda assim, não era nem a questão da infidelidade aquilo que estava o dilacerando por dentro; e sim, algo ainda pior...

Ao se dar conta do núcleo dos próprios pensamentos, Midoriya parou no mesmo segundo. Não... não concluiria nada antes da hora, mesmo que seu cérebro já tivesse montado a história toda. Em primeiro lugar, sabia que só teria as respostas para suas dúvidas na manhã seguinte; seria inútil ter pressa. Kacchan não conseguiria dizer nada concreto nas próximas horas, portanto, não devia se apressar.

Desse modo, planejou tudo: pegaria Kacchan com seus amigos e o levaria para o apartamento, exercendo nele os devidos cuidados; e, na manhã seguinte, Izuku iria normalmente para a aula, pois não podia ficar faltando. Por isso, deixaria apenas um bilhete ao lado da cama, informando Katsuki que era para esperá-lo chegar para que conversassem. Simples assim.

E, dependendo de como seria a verdade, lidaria com ela de cabeça erguida. Se fosse para cair, cairia com dignidade.

 

◾◾◾

 

Talvez tivesse sido a luz do Sol penetrando pela fresta da janela a primeira coisa a fazer com que Katsuki começasse a se dar conta dos próprios pensamentos, pois, de repente, sua mente parecia levianamente desperta.

No entanto, essa condição foi desprezada no instante em que, ao expirar, adentrou, por suas narinas, aquele cheiro tão doce e familiar; o qual, nos últimos dias, esteve fazendo-o delirar intensamente por sua falta.

É. Certamente aquilo se tratava de um sonho miserável para consolá-lo de sua solidão atual. Se abrisse os olhos, nem ferrando que o encontraria ali, naquele dormitório da faculdade que compartilhava com Kirishima. Por isso, manteve as orbes vermelhas bem fechadas. Não queria que tudo acabasse; que aquele sentimento aconchegante fosse embora. Conseguia sentir a superfície lisa e confortável do colchão abaixo de sua bochecha, e céus, a textura parecia tanto com a da cama dele...

Maldito sonho fodidamente enganador.

Havia outras provas que reforçavam que Katsuki estava somente preso em um sonho e não acordado; e elas começavam na condição atual em que se encontrava sua cabeça. Lembrava-se de ter bebido na noite anterior — o que era algo que quase nunca fazia — e, por isso, seu corpo desacostumado normalmente acabava por sofrer as consequências rápido demais. No entanto, não sentia dor alguma nas têmporas; justamente aquilo que estaria sentindo se estivesse acordado. Sua cabeça estava ótima, o que, mais uma vez, revelava que ele estava apenas num sono pacífico.

“Eu até acreditaria estar acordado se estivesse com Deku aqui”, ponderou, ressonando calmamente. Afinal, nas raras vezes em que havia exagerado na bebida e acordava sem enxaqueca alguma, foi porque o esverdeado quem tinha cuidado perfeitamente de si.

“Deku...”, franziu o cenho em contrição, apertando a colcha macia e cheirosa da cama. “Que caralho de separação escrota essa, hein?...”

De repente, um som específico cortou seus pensamentos; um som distante e — estranhamente — familiar. Um barulho que sempre vinha da vizinha chata do andar de cima, que batia no tapete com uma vassoura para tirar o pó e, por conseguinte, levava Deku a fechar as janelas naquele exato horário.

Sim. Definitivamente só poderia escutar aquele som se estivesse no apartamento dele.

— Deku?! — abriu os olhos, mas, a princípio, não viu ninguém. Levou alguns segundos para refletir que a janela do outro lado realmente não pertencia ao seu dormitório — assim como a vista também já conhecida. Não tinha erro; aquele era o quarto do apartamento de Midoriya!

O que significava...

— Estou aqui, Kacchan.

A voz que cortou o ambiente limpou cada pensamento de dúvida que Katsuki tinha, sobrando apenas o momento em que virou a cabeça e se deparou com Deku lhe encarando.

Não foi mentira que se perdeu por alguns segundos naquele rosto angelical, mas que, por vezes, causava sentimentos mais quentes, desejosos e extasiantes que Katsuki acreditava ser capaz de sentir. As mechas verdes e onduladas estavam como da última vez, assim como seu rosto limpo e repleto das mais adoráveis sardas. E quanto aos olhos…

Estes lhe encaravam com um brilho nada receptivo.

— Deku… — a surpresa ante aquele semblante inusitado do esverdeado fez com que Katsuki não soubesse bem o que dizer. Antes, quando não quisera abrir os olhos (assim como durante todas as semanas anteriores), só sonhava com a ideia de vê-lo e tê-lo inteiramente para si, matando por completo aquela saudade fria e endurecida; agora, no entanto, não achava brecha alguma que indicasse que poderia agir como bem quisesse com o rapaz. — O que… por que estou aqui? Você…

Midoriya suspirou. No fim, havia jogado todo o planejamento da noite anterior no lixo. Após agradecer aos amigos de Kacchan por tomarem conta do loiro, ele e Katsuki só foram chegar no apartamento de madrugada. Assim como das outras raras vezes em que teve que cuidar do namorado embriagado, Midoriya fez vários chás, compressas e remédios para evitar que ele tivesse dor-de-cabeça quando acordasse. Assim que amanheceu, porém, sua mente crítica e questionadora não foi capaz de fazer seu corpo se mover para outro lugar senão permanecer acima da cama, de pernas e braços cruzados, esperando Katsuki acordar.

Queria tirar aquilo a limpo o mais cedo possível; mas, primeiro, tinha que agir com sensatez.

— Olha, Kacchan, tome isso e vá para o banho. — o olhar de Midoriya estava firme e objetivo, e Bakugou atentou-se à mão que era-lhe estendida, a qual possuía, em sua palma, uma pílula que provavelmente evitaria futuras enxaquecas.

“Depois quero falar com você.”

As palavras finais de Deku não relaxaram em nada o interior confuso e alerta de Katsuki. Era como se Midoriya estivesse lhe impondo um… decreto.

Arqueou a sobrancelha, mas decidiu não dizer nada. Somente pegou o remédio enquanto observava Izuku desviar o rosto para outra direção, os olhos carregando uma gravidade que não era nada comum de se vir do esverdeado.

“Talvez eu tenha dito alguma merda para ele quando não estava em mim…”, considerou enquanto saía da cama, pegando uma muda de roupas em seu espaço reservado no guarda-roupa e se dirigindo ao banheiro. Aquela teoria era bem válida, mas não deixava de ser inusitada; afinal, Deku uma vez lhe disse que ele não era de falar muito quando estava grogue.

De toda forma, fez o que lhe foi pedido — ou talvez mandado — sem reclamar; debaixo da água morna e acolhedora, Bakugou permitiu-se imaginar o que exatamente havia acontecido. A última coisa que pensou que ocorreria quando decidiu extrapolar na bebida lá no bar era acabar junto da pessoa que mais queria estar na companhia no momento.

Era para ele estar feliz, mas a expressão rígida e incomodada de Midoriya perturbou seus pensamentos. O que tinha acontecido?...

Buscou terminar o banho rapidamente, vestindo-se e tomando o remédio que lhe foi entregue. Fez sua costumeira higiene matinal também, apesar de já ter passado do horário de fazer isso. O barulho chato da vizinha limpando o tapete havia lhe dado alguma referência do período em que aquele dia se encontrava, afinal.

Não costumava ser um cara inseguro — longe disso, por favor —, mas Katsuki não escondeu o alívio ao ver que suas vestes e pertences continuavam exatamente no mesmo lugar; o tom significativo que Midoriya usou nas últimas palavras o fizera fantasiar um cenário em que o esverdeado terminava consigo por algum motivo.

Enfim; preocupações que não passavam de baboseiras. Estava imaginando demais, que piada…

Todavia, a situação mudou radicalmente quando voltou para o quarto e, após subir na cama, perguntar a Deku o que estava acontecendo.

Midoriya não titubeou. Encarando Bakugou diretamente nos olhos, a primeira coisa que soltou foi:

— Kacchan, é melhor nós terminarmos.

Bakugou conseguiu escutar toda sua confiança e tranquilidade, anteriormente juntadas, rachar e quebrar igual vidro.

Ficou, puramente, desconcertado.

— O quê? — piscou, não entendendo absolutamente nada. — Que porra é essa, Deku? Como assim “terminar”?

O semblante de Midoriya pareceu vacilar um pouco, mas já parecia ter tomado uma decisão.

— Você ouviu bem. — Izuku confirmou, categórico. Coçou a nuca, desviando as orbes ainda firmes e resistentes. — Olha, eu sei que os relacionamentos hoje em dia estão mais “modernos” e essas coisas, mas em momento algum lembro de a gente ter combinado que o nosso teria qualquer "liberdade" como essas que vemos por aí.

Não levou nem dois segundos para Bakugou sacar o que estava havendo.

— Acha que estou te traindo? É isso o que está dizendo?

Midoriya mostrou-se um tanto tenso com o timbre alterado com o qual Bakugou se expressou, mas nem por isso se desfez das próprias conclusões.

— Isso é o de menos, Kacchan. — assegurou, sério. — Claro que também não estou nada feliz com isso, mas o principal é que…

— É sério que você acha que estou te traindo? — Bakugou avançou e o pegou pelos ombros, seus olhos escarlates presos na cor esmeralda surpresa a frente. — Quem te falou essa merda?

A voz de Midoriya vacilou:

— … Seus amigos, eles… eles me perguntaram sobre a garota que você queria que fosse buscá-lo ontem…

— Quê? Mas… de onde saiu esse caralho de garota? — Bakugou soltou-o, confuso e irritado. — Se eu falei sobre alguém, esse alguém era você, oras!

— Então me diz! — Midoriya inesperadamente perdeu a paciência, espantando Katsuki deveras. — Me diz por que eles pensaram que você, por todo esse tempo, era comprometido com uma garota e não comigo! — seus olhos se encheram de mágoa. — Você… por acaso tem vergonha de mim?...

Katsuki engoliu em seco. Merda… havia sido pego totalmente desprevenido por aquele tipo de interpretação.

— Mas, Deku!...

— Aquele Kirishima e Kaminari falaram comigo quando eu fui te buscar, Kacchan. Eles disseram que não faziam ideia de quem seria a tal “garota-dona-do-seu-coração”, pois nunca a apresentou para ninguém. Tudo bem; você pode não ter omitido que era comprometido para eles, mas isso não explica o fato de todos acharem que é com uma mulher que você está se relacionando. O que há, hein? Tem vergonha de dizer que está com um homem, é isso?

Em meio a todo aquele desabafo sincero e doloroso, finalmente Katsuki entendeu o núcleo central do problema. E pior: não achava as palavras certas para se defender, pois realmente não sabia como fazer isso.

Estava desnorteado, e todas aquelas queixas entristecidas e desconsoladas de Midoriya levaram sua mente a rememorar todas as vezes em que costumava citar sobre seu relacionamento na faculdade. Agora que lembrava… nunca chegava a dar um entendimento de "gênero" sobre a questão de seu companheirismo. Sempre que perguntado, somente respondia que era comprometido e pronto; nunca havia parado para pensar que, com seus esclarecimentos “rasos”, as pessoas poderiam acabar especulando sobre uma garota; em seu íntimo, na verdade, sempre achou que elas tinham conhecimento de que era o contrário.

Levou a mão à boca, suspirando profundamente e com raiva de si mesmo. Como nunca havia reparado nessa negligência sua? Deku tinha razão para se sentir humilhado.

— Olha, Deku — começou, hesitante. A verdade é que sentia-se estúpido demais, achando que sua explicação não superaria a mágoa que o esverdeado estava sentindo. Midoriya nem sequer lhe olhava, as íris verdes e cabisbaixas presas na cama e uma das mãos esfregando, sôfrego, o antebraço. Katsuki sentiu o interior desmoronar. — Eu… realmente nunca cheguei a especificar sobre meu relacionamento com os outros, e sinto muito por isso. Não notei que estava sendo o maior babaca.

O semblante desanimado de Izuku não sofreu grandes alterações.

— E se você estiver mentindo? — Midoriya levantou a questão complicada. — Como eu poderia ter certeza, afinal?

Bakugou praguejou mentalmente. Tudo bem, ele merecia aquela desconfiança no fim das contas. Mas, agora… o que exatamente tinha que fazer para provar sua inocência?

Pensou em talvez enviar, todos os dias, cartões contendo as declarações mais bregas possíveis para Izuku, mas descartou a ideia na hora. Foi o próprio Deku quem o desafiou a fazer isso na época em que se mudou, e Bakugou, logicamente, o mandou se ferrar. Jurar fazer coisas radicais, como pular de uma ponte, também não seria o suficiente; já havia feito algo parecido quando eram mais novos.

Então...

— Eu te dou minha palavra de que não estou mentindo. — Katsuki atraiu o olhar de Izuku após soar claro e objetivo. Deu uma pausa, continuando: — E, para você acreditar em mim, estou trancando minha faculdade agora mesmo. Onde você colocou a droga do meu celular, por falar nisso?…

Tentou procurá-lo, mas o discreto sorriso que se abriu em seu rosto revelava que não precisava mais disso; foi palpável quando um peso de mil quilos pareceu ter saído dos ombros de Midoriya, que suspirou em total alívio.

— Ah, Kacchan! Por um momento pensei que tudo fosse terminar… — choramingou, escondendo o rosto nas mãos.

Katsuki revirou os olhos, humorado. Lógico que envolver a faculdade mostraria para Deku que estava com a ficha limpa; afinal, Izuku sabia que Katsuki só faria um absurdo desse nível se fosse por ele.

Mas... a quem queria enganar? Bakugou tinha ficado tão apavorado quanto o outro com a ideia de um término.

— Não vá chorar, hein, Deku? Achei que já tinha superado essa fase. — amolou, e o esverdeado soltou um riso tímido, fazendo uma grande ternura inundar a cor escarlate dos olhos de Katsuki. — Me desculpa, tá?

— Não, tá tudo bem. Eu é que peço desculpas, na verdade. — Midoriya uniu os indicadores, sem-graça. — Talvez eu tenha me precipitado, mas… Estou feliz por, pelo menos, estarmos juntos agora. — abriu um puro sorriso.

O loiro compartilhou da mesma empolgação; no entanto, manteve o ar orgulhoso e provocante de sempre.

— Vem cá, nerd.

Katsuki, então, avançou e o segurou pelo rosto, distribuindo incontáveis beijos na extensão das sardas salpicadas enquanto se inclinava sobre o corpo do agora risonho namorado, prensando-o contra o colchão.

Logo, foi a vez das bocas se encontrarem, e não podia-se dizer que o quarto não subiu de temperatura com os beijos profundos e ardentes que passaram a ser trocados. Normalmente era comum que se empolgassem depois de tanto tempo sem se ver pessoalmente, mas, daquela vez, em que ambos sentiam como se tivessem acabado de “recomeçar” após se livrarem daquela breve "crise-de-relacionamento", tudo o que queriam era se perder no amor, desejo e — principalmente — na saudade que sentiam um do outro. Os próximos beijos passaram a ser mais lentos e insinuantes, os lábios incitando ambos os hormônios através do deslocamento calmo e prolongado pelos pescoços e clavículas, estimulando novas cargas de ânsia e suspiros sempre que retornavam ao contato com ainda mais lascividade.

— Acha mesmo que eu perderia meu tempo — Katsuki subiu a face, pressionando os lábios demoradamente na testa do menor. — com uma mulher sem-graça? — desceu novamente para sua boca, completamente ébrio.

— Eu fui um tonto… — Midoriya lamentou durante uma breve pausa para respirar, um pouco constrangido. — Vamos somente esquecer tudo isso... — suspirou.

Katsuki sorriu. Não podia ter escutado ideia melhor.

— Já esqueci, nerd… — recomeçou, assim, os beijos voluptuosos, agora ofertando carícias que conduziriam aquele momento para o que realmente queriam; e, se mesmo assim, Deku não conseguisse esquecer toda aquela história, Katsuki ainda tinha toda a tarde e a noite à disposição para ajudá-lo nisso.

 

◾◾◾

 

Na manhã seguinte, Bakugou acompanhou Deku até a faculdade. O carro que pertencia a ambos, como sempre, ficaria com o esverdeado, enquanto que o loiro pegaria o primeiro ônibus de viagem para voltar a sua faculdade.

Assim que saíram, se despediram; no entanto, percebendo os olhares curiosos dos jovens ao redor — que certamente perguntavam-se sobre o “amigo” que saíra do carro junto do tímido e inteligente Midoriya Izuku —, não hesitou em recompensar o namorado por todo aquele tempo sem evidenciar o verdadeiro relacionamento que tinham.

Puxou-o pelo braço, ofertando em Izuku um baita beijo ousado e sem um pingo de lentidão ou superficialidade; foi firme no enlace da extensão de sua cintura, assim como no contato longo e intenso das bocas que nunca cansariam de se viciar ainda mais uma na outra. Logo, o “show” para os boquiabertos de platão terminou, e Katsuki observou, com ar leve e zombeteiro, a imagem de Midoriya se dirigindo à entrada da faculdade com o rosto em brasas.

Suspirou em alívio. Finalmente aquele desentendimento infernal havia sido resolvido devidamente.

“Agora…”, Katsuki se retirou do campus, sua mente já montando a imagem do rosto dos dois palermas em específico. “Só falta uma coisinha para ser acertada.”

Várias horas mais tarde, Katsuki se encontrava em um dos quartos dos dormitórios do campus, observando, com expressão fechada, os rostos culpados de Kirishima e Kaminari.

— Pô, cara, foi mal por causar toda essa bagunça entre você e o tal Midoriya. — Kirishima coçou a nuca, ainda digerindo toda a história que Katsuki tinha acabado de esclarecer.

— Também não tinha como a gente saber, né? — Kaminari até tentou se defender, mas decidiu que era melhor assumir o próprio erro. — Mas, mesmo assim, sentimos muito.

— É bom que sintam mesmo. — Bakugou falou, somente. Ergueu-se da cama, e, calmo, saiu do quarto e fechou a porta.

Os dois rapazes que permaneceram no cômodo se entreolharam em alerta. Aquilo não era um bom sinal…

E, infelizmente, seus medos se tornaram realidade assim que giraram a maçaneta para sair do quarto e, inacreditavelmente, foram recebidos pelo suave som da tranca impedindo-a de ser aberta.

— Ei, Katsuki, que palhaçada é essa, cara? — Kaminari reclamou em frustração, enquanto Kirishima correu até a janela e foi surpreendido com a tranca que fora propositalmente forçada, impossibilitando-a de ser aberta.

— Merda, ele quer mesmo acabar com a gente… — Eijirou suspirou, voltando para a porta. — Bakugou, abre logo, vai!

— Se ferrem aí, idiotas. — Katsuki, do outro lado, girava as chaves no indicador com satisfação. — Ah, e antes que os retardados esqueçam: — aproximou a cabeça da superfície da porta. — Sempre foi “ele”, e não “ela”. Enfiem isso na cabeça, caralho!

Mais praguejos e lamentos indignados foram escutados, mas Bakugou não deu a mínima. Somente girou o corpo e se deparou com vários curiosos no corredor, que observavam a cena com certa surpresa e temor nas faces.

Como sempre, aproveitou perfeitamente da situação.

— Escutem bem; se algum de vocês, palermas, ousar libertá-los antes das provas finais, terão que lidar comigo. Os manés entenderam? — arqueou a sobrancelha, ameaçador.

— Mas você sabe que eu compartilho o quarto com o Kaminari, cara. — Sero Hanta relembrou-o, desanimado. — Como que faço pra dormir agora?

Katsuki crispou os lábios.

— Se vira. Eu tô caindo fora. — jogou o casaco por cima do ombro e passou por aquele bando de perdedores.

Afinal, era isso o que acontecia com aqueles que ousavam acionar, mesmo que por acidente ou por mínimo que fosse, alguma insegurança em Midoriya Izuku.


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Notas finais do capítulo

Confesso que fiquei com pena do Kirishima e do Kaminari, coitados. Mas não dá para imaginar o Bakugou deixando isso quieto, né?

“Garotas”? Que loucura é essa?
Todo mundo sabe que o Bakugou é LOUCO pelo fofo do Midoriya ❤️

Espero que tenham gostado, e, se sim, fiquem à vontade para dar suas opiniões; vou adorar lê-las

Até



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