Nosso Namorado escrita por Lola Royal


Capítulo 1
Parte I


Notas iniciais do capítulo

Olá!



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Dia dos namorados, a data mais cheia de romantismo entre todas. Eu não conseguia deixar de sorrir durante aquele sábado, mesmo enquanto lavava a pilha de roupas sujas da semana, estava muito feliz, nada tiraria o sorriso do meu rosto.

Terminei de me arrumar para sair e sorri ainda mais, era tão bom saber que meu namorado médico, super ocupado, conseguiria sair comigo aquela noite. Por pouco tempo, certo, ele teria de estar no novo plantão às oito, mas as duas horas ao lado dele já seriam excelentes para mim.

Chequei mais uma vez minha bolsa, que já estava arrumada desde a manhã. Documentos, fones de ouvido para caso fosse preciso na volta para casa, carregador portátil afinal meu celular descarregava muito rápido, um batom, o presente de James, alguns chicletes e camisinha. Talvez nosso jantar fosse rápido e desse tempo de transarmos, eu contava com isso.

Meu celular, ainda fora da bolsa, vibrou informando que eu tinha uma nova mensagem. Peguei ele de cima da cama, desbloqueei com minha senha que era a data de nascimento do meu namorado e li a mensagem de Rose.

rose: ainda tá em casa? 

Rosalie era minha melhor amiga e noiva do meu irmão, nós duas tínhamos nos conhecido na faculdade quando fomos colocadas para dividir o dormitório.

bella: já estou de saída, o que foi?

rose: o otário do seu irmão esqueceu de reservar um restaurante para irmos hoje, agora teremos de comer em casa!!!

rose: odeio ele

bella: eu te avisei que ele era esquecido quando você começou a dar em cima dele, agora aguenta

rose: aff

rose: capaz dele até esquecer que vamos nos casar daqui três meses

bella: bem capaz mesmo

rose: acha que eu devo fazer greve de sexo hoje como punição?

bella: EU NÃO QUERO SABER DA SUA VIDA SEXUAL COM MEU IRMÃO!!!!!

rose: como você é chata, cunhadinha… que seja, vou parar de te alugar, vai logo atrás do seu médico gostosão

bella: vou mesmo, beijinhos!

Enfiei meu celular, já desligado, na bolsa e deixei o quarto em direção à saída do apartamento. Angela, que dividia o local comigo, estava desde cedo com seu namorado e só voltaria para casa na segunda-feira.

Peguei minhas chaves no suporte perto da porta e deixei o apartamento rumo ao jantar especial com meu amado namorado.

xxx

Conheci James no hospital, eu estava acompanhando meu irmão que tinha quebrado o braço ao tentar consertar o telhado de sua casa, fui até a lanchonete comer algo enquanto o otário do Emmett fazia um raio-x e encontrei o amor da minha vida. James estava atrás de mim na fila e me alertou a não comer o sanduíche de peru.

É horrível, não faça isso com seu estômago, mas se fizer posso te receitar um remédio para ficar bem. Ah, vou precisar do seu número para saber se o medicamento fez efeito.

Foi com aquele flerte bobo que acabamos dividindo uma mesa, eu comendo uma fatia de bolo e ele tomando um copo gigantesco de café. Descobri que ele era alergista, tinha trinta e cinco anos e estava em New York desde novembro de 2019, mas tinha nascido e sido criado em Los Angeles, onde também fez faculdade.

Aquele dia quase esqueci que estava acompanhando meu irmão, tiveram até de me chamar pelo sistema de som do hospital. Acabei voltando para junto de Emmett, mas antes dei meu número para o médico e ele me deu o seu, dois dias depois saímos juntos, no terceiro encontro ele me pediu em namoro.

Fizemos um ano de namoro em Janeiro, sendo assim o dia dos namorados de 2021 era nosso segundo juntos e eu esperava passar todos os outros ao lado daquele cara incrível que eu amava tanto. Já imaginava toda minha vida junto de James, uma vida perfeita e tranquila, talvez nos mudassemos para uma cidade mais tranquila, ele atenderia em um consultório particular e eu teria meu escritório de advocacia próprio.

Dois filhos, quem sabe até três, um cachorro e um gato. Uma casa na árvore, uma piscina no quintal também seria muito legal.

Meu coração se aqueceu no frio de fevereiro ao imaginar nossa vida juntos, desci do carro dando boa noite ao motorista e andei rapidamente até o interior do restaurante, louca para ver James. Sabia que ele já devia estar lá, ele era muito pontual e eu tinha me atrasado alguns minutos.

Era um restaurante simples e pequeno, a recepcionista já até me conhecia, ficava perto do hospital onde tínhamos nos conhecido e James sempre me levava lá. Foi o mesmo lugar do nosso primeiro encontro, era especial, um cantinho nosso.

— Bella! — a recepcionista, chamada Leah, arregalou os olhos quando me viu.

— Oi, querida, tudo bem? — perguntei tirando meu casaco e luvas, entregando para ela, querendo que a mulher os colocasse no armário atrás do balcão da recepção.

— Be-Bella — Leah gaguejou, estava meio pálida, mal conseguiu segurar minhas coisas.

— O que foi? Estou feia? — perguntei rindo, passando a mão por meus cabelos castanhos. Eles eram naturalmente ondulados, mas eu tinha feito chapinha e estavam bem lisos.

— Não… — Ela engoliu em seco. — Bella, escuta, é que… — Leah foi interrompida pela porta do restaurante se abrindo, um casal de idosos entrou, o homem já dizendo o nome que tinham na reserva em um tom de voz grosseiro.

— Vou te deixar trabalhar, Leah — sussurrei e me afastei, antes de mandar o velho tomar no cu por ser rude, poderia acabar criando problemas para a garota.

Ela tentou falar mais alguma coisa, mas se viu obrigada a atender o casal. Eu segui para o salão do restaurante, sabia em qual mesa James estaria, na nossa preferida.

Só não sabia que ele estaria acompanhado, beijando outra pessoa. 

— James! — eu gritei, sem me dar conta de que estava atraindo todos os olhares do restaurante para mim.

O cara beijando meu namorado me olhou primeiro, ele era quase tão branco quanto eu — que na adolescência era chamada de albina pelos valentões da escola —, tinha olhos claros e cabelos ruivos, algumas sardas no rosto que naquele instante estava confuso me encarando, ele também parecia ser novo, não devia ter nem trinta anos. Então, James me olhou também, olhos presos em espanto e boca tremendo.

James levantou da mesa e caminhou até mim, andou tão rápido que quase tropeçou no meio do caminho. Segurou em minhas mãos e disse:

— Linda, eu posso explicar.

— Não, você não pode! — continuei gritando. — Você está me traindo, seu filho da puta, isso não tem explicação — abaixei um pouco meu tom de voz.

— James, o que está acontecendo aqui? — o cara, que segundos antes estava enfiando a língua na boca do médico, perguntou ao parar perto de nós dois. — Quem é essa mulher?

— Eu sou a namorada do James! — gritei para o ruivo, ele riu e disse:

— Impossível, eu sou o namorado do James. — Ergueu a mão esquerda e mostrou uma aliança prata fina, uma idêntica a que o médico diante de mim tinha. 

Quando James apareceu usando aquilo, em Abril do ano passado foi com a desculpa de que tinha encontrado a velha aliança do seu avô já falecido. Isso queria dizer que… James estava me traindo com aquele cara ruivo cheio de sardas há quase um ano!

— Cretino! — Me soltei de James e bati no seu rosto, ele fez careta, mas não disse um pio em protesto, sabia que merecia apanhar.

— Ei, tá doida? Não bate nele, sua maluca! — O ruivo me afastou de James e me fuzilou com olhos verdes.

— Ele é meu namorado, você é o amante dele, seu babaca! — gritei para o cara de vinte e poucos anos. — James e eu começamos a namorar em janeiro do ano passado.

— James, quem é essa surtada? — ele perguntou para o médico, que estava olhando para o chão naquele momento. — E por que ela está dizendo que é sua namorada desde janeiro do ano passado? — Se voltou para mim. — E para que fique claro, eu namoro James desde dezembro de 2019.

Ouvir aquilo tirou o resto do meu chão, então eu era a amante, não o ruivo?

Nós dois encaramos James esperando respostas, ele continuou fitando o chão, entretanto se pronunciou.

— Ninguém é amante, eu namoro os dois — James murmurou. — Edward desde 2019 e Bella desde 2020. É isso.

— E nos fez vir juntos para cá por que é um sádico? — indaguei gritando mais um pouco, éramos a atração do restaurante. E por ser cedo, seis e pouco da tarde, a maioria ali eram pessoas mais velhas.

— Não, eu acabei trocando os horários — sussurrou. — Era para te encontrar aqui às nove, Bella. — Olhou para mim, os olhos azuis que eu amava estavam presos em pavor. — Quando te vi aqui percebi que tinha dado o mesmo horário para ambos.

— Espera, espera! — o tal Edward exigiu. — Você realmente namora essa mulher?

— Sim, lindo, eu namoro — respondeu. — Amo muito vocês, me apaixonei por ela, mas continuava apaixonado por você, não poderia deixar nenhum dos dois. Eu venho desde o ano passado criando coragem para propor um trisal para vocês, mas sempre amarelava quando ia tocar no assunto. Agora que vocês se conhecessem talvez…

— Eu não vou participar de um trisal! — dei um berro e alguém no restaurante gritou:

— Nos anos setenta participei de um, foi muito bom!

Eu ignorei, não iria fazer parte de um trisal e ponto final.

— Vocês dois se dariam muito bem — James falou baixinho e tentou fazer carinho no braço de Edward, mas o ruivo afastou a mão do médico.

— Vai se foder, James. Você enganou a gente por um século e agora quer que viremos um trisal? Isso é a coisa mais escrota que já ouvi. Deveria ter terminado comigo quando se apaixonou por essa aí. — Apontou para mim.

— Tenho um nome, me chamo Isabella — resmunguei e cruzei os braços.

— Eu não ligo — Edward resmungou de volta.

— Oi, com licença — um homem vestido de terno se aproximou, junto dele estava Leah. — Vou pedir que se retirem do restaurante, estão criando um tumulto com toda essa baixaria.

— Esse loiro aí gosta de dar o cu, mas também come boceta? — Um homem sentado em uma mesa próxima perguntou. — Que horror, onde nossa sociedade vai parar?

— Eu sou bissexual, não tem nada de errado em amar homens e mulheres — James se defendeu.

— É, para de ser ignorante, seu babaca! — gritei com o cara, que revirou os olhos, mas acrescentei para James. — Não tem mesmo nada de errado amar mulheres e homens, mas tem tudo errado em trair sua namorada.

— Eu fui traído primeiro — Edward lembrou, mostrei o dedo do meio para ele e o cara de terno, que lembrei ser o gerente do restaurante, voltou a falar.

— Por favor, se retirem — implorou.

— Eu vou me retirar mesmo, nunca mais piso na bosta desse restaurante, vou para sempre ter pessímas lembranças daqui. — Peguei minhas coisas que estava nos braços de Leah e naquele momento uma luz se acendeu em cima de mim e perguntei a ela. — Você sabia que esse filho da puta tava me traindo?

— Ele sempre vinha aqui com o Edward — sussurrou.

— Leah, você deveria ter me contado que James estava me traindo! — o ruivo esbravejou para a recepcionista.

— Não é meu trabalho interferir na vida pessoal dos clientes — sussurrou.

— E eu te dava gorjetas altas! — exclamei. — Podia ter tido mais sororidade comigo. Quer saber, tchau, chega dessa palhaçada.

— Bella, espera, vamos conversar melhor — James implorou. — Vamos lá para meu apartamento, Edward, vem com a gente.

— Nunca mais olha na minha cara, James! — Edward também pegou seu casaco, luvas e gorro das mãos de Leah. — Para mim você morreu.

— Eu amo vocês — James choramingou.

— Ama a gente porra nenhuma, estava usando nós dois. E para mim você também morreu, nunca mais olha na minha cara.

Pisei firme para fora do salão do restaurante, ainda ouvindo o burburinho de todos ali. Torcia para ninguém ter nos gravado, ou minha carreira estaria comprometida com um vídeo viral daquela humilhação toda.

Quando cheguei do lado de fora do restaurante comecei a chorar e foi chorando como um bebê que segui até a estação de metrô mais próxima. Não queria voltar para casa ainda, precisava clarear minha mente depois de tudo aquilo.

Na estação eu sentei em um banquinho e fiquei com o rosto entre as mãos, deixando o choro vir. Pensava em como tinha sido enganada e como fui boba achando que teria a vida dos sonhos ao lado de James, um ano naquele relacionamento, um ano perdido.

— Você sabia que ele era bi? — Me assustei ao ouvir a voz de Edward, ergui o rosto e vi o ruivo parado na minha frente.

— Sabia — respondi soluçando, ele assentiu e sentou junto de mim. — Ele foi honesto sobre isso, contou logo no primeiro encontro. Você sabia?

— Sim. — Ele também estava chorando, só que mais silenciosamente do que eu.

— Como vocês dois se conheceram?

— Ele é meu alergista — Edward disse e eu acabei soltando uma risada involuntária. — Acho que vou ter que procurar outro médico, não é?

— É, vai sim.

— Não sei o que fazer agora — murmurou.

— Ah, tem vários alergistas na cidade, calma.

— Não, não sobre isso. — Revirou os olhos. — Não sei o que vou fazer agora que levei um chifre e perdi o amor da minha vida.

— É seu primeiro chifre?

— Sim.

— Quantos anos você tem, Edward?

— Vinte e cinco.

— Meu Deus, tão novo. — Ele bufou.

— E você?

— Trinta e dois, esse é meu terceiro chifre. O primeiro foi quando tinha dezesseis, o segundo com vinte na faculdade, mas nunca dei um flagra igual hoje, nem amava tanto assim os outros caras, então esse está bem mais doloroso de enfrentar.

— Eu só namorei outra menina antes de ficar com James — ele sussurrou.

— E terminou com ela quando se assumiu gay?

— O quê? Não, eu não sou gay, sou bissexual também, terminei com ela porque Jessica se mudou para a Austrália. 

— Ah sim, é faz sentido, por isso James queria que eu ficasse com você também e virassemos um trisal. Como se eu fosse me relacionar com um cara de menos de trinta anos.

— Trisal o caralho, como ele pode fazer enganar a gente, cara? Que babaca!

— Eu queria queimar o apartamento dele.

— Ajudei James a escolher aquele apartamento — contou e limpou o rosto cheio de lágrimas. — Como ele conseguiu enrolar a gente por tanto tempo? Você nunca suspeitou de nada?

— Nunca, sempre acreditei quando ele falava que estava muito ocupado trabalhando em dois hospitais. Será que ele realmente trabalha em dois? Eu o conheci no New York Presbyterian Hospital. 

— Conheci ele no New Yorks Hospital Med Center-Queens — Edward disse. — Sabia do outro hospital, mas nunca fui lá, só ia com ele no restaurante lá perto. Eu também nunca conheci ninguém que trabalhava com ele no Presbyterian, James falava que não era próximo de ninguém lá.

— Ele falava o mesmo sobre as pessoas do Queens para mim. — Suspirei. — Ele conseguiu enganar a gente direitinho. Qual era a desculpa para não te apresentar a família dele?

— Que eles tinham se afastado quando ele se assumiu bi na faculdade, que por isso ele também veio para New York, queria ficar longe deles.

— É, talvez isso seja verdade. Mesma mentira para o lado daqui. Deus, eu sou corna! — Chorei mais um pouco.

— Tecnicamente o corno sou eu, comecei a namorar James primeiro.

— Eu não sou amante, nem vem.

— Que seja, é melhor eu ir. — Ele se levantou quando o trem parou na plataforma. — Não foi bom te conhecer, Isabella.

— Pode me chamar só de Bella.

— Tanto faz, eu nunca mais vou te ver.

— É, não pise mais em Manhattan e eu não piso no Queens.

— Com prazer. — Ele se virou de costas e percebi que estava usando um casaco da estilista Alice Brandon. Ela ficava cada vez mais conhecida em New York, também era do Queens. Eu tinha várias roupas da lojinha online dela.

— Esse casaco da nova coleção da Alice Brandon é lindo, até pensei em comprar um desse de presente para James.

Edward olhou para mim novamente e falou:

— Alice é namorada do meu irmão mais velho.

— O quê? — gritei sem conseguir acreditar.

Ele riu.

— Pois é, eu dei até uma camisa dela para James hoje.

— Por isso ele não foi comigo num evento que ela fez no shopping mês passado, ela o conhece?

— Sim, ano passado nós dois viajamos com ela e meu irmão no verão para a França.

— Ele viajou no verão passado? Aquele safado, eu fui visitar meus pais em Seattle e James disse que iria precisar ficar trabalhando, mas estava era na Europa!

— Que seja, adeus, Isabella.

— Só Bella. Ei, espera! — Me levantei. — Você bem que podia me apresentar para sua cunhada, não é? Eu acabei não conseguindo falar com ela no shopping em janeiro, estava cheio e tive de ir trabalhar em um caso urgente.

— Não sei se isso é uma boa, é melhor nos afastarmos aqui e nunca mais olharmos um na cara do outro.

— Sério, eu amo as roupas da Alice, me deixa conhecer ela. — Coloquei as mãos na frente do corpo em posição de implorar. 

— É dia dos namorados, ela tá ocupada com meu irmão.

— Pode ser amanhã, que tal?

— Eles viajam amanhã para Miami, só voltam em Março.

— Então hoje, rapidinho, prometo nunca mais te pedir nada.

Edward resmungou, olhou do trem para mim e acabou cedendo.

— Eles estão na casa dela, mas promete não ficar indo até lá depois, não seja uma stalker maluca.

— Eu não sou, juro. Sei como a prisão é, meu pai é policial e eu sou advogada.

— E eu não ligo, vamos logo. — Segurou na manga do meu casaco e me fez andar com ele até o trem.

Não tinha lugar para sentar, ficamos em pé e Edward falou:

— O que você ia dar de presente para o James?

—  Passagens para a Argentina, eu vou para lá mês que vem a trabalho e queria ele junto comigo, ficaria lá duas semanas e ele me encontraria na segunda para curtirmos.

— Qual mentira ele iria contar para mim? — Edward deixou seus ombros caírem e encarou o chão.

— Trabalho, era como ele se livrava da gente. Pensar que ele tinha até dois grupos de amigos o do hospital do Queens e o de Manhattan só para conseguir enrolar a gente.

Um lugar ficou vago e Edward rapidamente sentou.

— Deveria ser educado e me deixar sentar — falei para o ruivo. — Sou mais velha e esses saltos estão me matando.

— Problema é seu. — Ele tirou seu gorro e bagunçou os cabelos acobreados. 

— Mal educado — reclamei. — Então, você faz o que da vida, Edward? Além de ser amante do meu namorado… Ex-namorado agora.

A senhora sentada perto me olhou com desconfiança, mas não disse nada.

— Sou professor de história.

— Ah sim, legal. Era uma das minha matérias favoritas na escola. Você dá aula para ensino médio?

— Ainda não, vou começar a lecionar para ensino médio no próximo semestre. Então, quer dizer que você é advogada? Tipo The Good Wife?

— Ela também foi traída, né?

— Você que é a amante.

— Não é uma profissão tão emocionante quanto a TV faz parecer — comentei ignorando o que ele disse. — E a sua?

— Um monte de aluno chato e pais mais chatos ainda, queria ter nascido herdeiro.

Eu tive de rir.

— É, também queria ter nascido herdeira, talvez eu encontre um velho rico agora que me banque.

— Boa ideia — falou e deu um sorriso pequeno. — Não sei como James achou que daria certo essa história de trisal, você e eu somos tão diferentes, as únicas coisas em comum que temos é querer um sugar daddy, termos profissões chatas e gostar das roupas de Alice.

— Pois é.

Ficamos calados por um tempo, duas paradas depois a senhora de antes desceu e sentei ao lado de Edward.

— Não acredito que descobri a traição de James justamente no dia dos namorados — murmurei voltando a chorar. — Ele destruiu a data para mim, nunca mais irei ser feliz no dia 14 de fevereiro.

— Podia ser pior — Edward falou de volta.

— Duvido.

— Duvida mesmo? — Ele enfiou a mão no bolso de sua calça e tirou uma aliança dourada, eu prendi a respiração, Edward respondeu a pergunta em meus olhos. — Ia pedir o James em casamento durante o jantar — confessou e voltou a chorar também. — Achei que estava na hora certa de darmos o próximo passo. Já tinha até pedido para Alice começar a fazer minha roupa para o casamento, sou um grande tolo, não sou?

— Ah, Edward. — Foi tudo que consegui falar.

Ele voltou a guardar a aliança no bolso e limpou o nariz na manga de seu casaco.

— Pior que gastei a maior grana nessa aliança de merda, vou ficar pagando até ano que vem e ficar lembrando daquele cretino.

— Sinto muito, ele deveria te reembolsar, podemos processar ele.

— Não vou processar nosso namorado, Isabella.

—  Nosso ex-namorado! — frisei. — Nunca mais iremos voltar a ficar com aquele homem traidor de uma porra.

Ele suspirou alto e vi que talvez Edward pudesse acabar voltando com James.

— Edward, nem pensar em voltar para ele.

— Eu amo ele.

— Eu também amo, tá? Mas James não merece a gente e como mais velha e com mais experiência. — Mesmo chorando ele resmungou e revirou seus olhos verdes para minha frase. — Não vou te deixar voltar para as garras daquele mau caráter.

— Sei lá, talvez ele te esqueça e me peça perdão.

— Edward, ele mentiu para você por mais de um ano, tinha uma amante. — Apontei para mim mesma. — E até outros amigos só para não deixar os dois mundos dele se cruzarem.

— Mas ele era tão carinhoso comigo — sussurrou, aquela altura estava aos prantos. — E caralho, ele era tão bom na cama.

— É, ele era mesmo — tive de concordar. — Cara, teve uma vez que ele me comeu numa viagem de barco que… — Edward me encarou com ódio.

— Ele dizia para mim que enjoava em barcos!

— Já sabemos que ele mentia muito, não é mesmo? 

— Será que eu realmente sou alérgico a frutos do mar ou ele mentiu sobre isso por não curtir e não querer ir a esse tipo de restaurante?

Gargalhei, Edward sorriu outra vez.

— Você fez o teste de reação?

— Fiz, mas já comi frutos do mar e nunca tive nada.

— É melhor não ficar arriscando.

— Que saco. — Ele tirou seu celular do bolso, espiei e vi que o contato amor tinha lhe mandado uma dezena de mensagens, mas o aparelho estava no silencioso. — Ele não te enviou nada? — Obviamente as mensagens eram de James.

— Meu celular está desligado e não vou ligar agora, não é um bom momento para ler as mensagens dele. 

— É, tem razão, vou desligar o meu também. Mas acho que deveria bloquear James primeiro.

— Boa ideia, vamos fazer isso agora. 

Peguei meu celular também, o liguei e enquanto eu bloqueava o contato de James no meu Edward fazia o mesmo no dele. Fui muito forte e ignorei todas as mensagens que o médico tinha me enviado, eu não iria ceder, nunca voltaria para um cara que tinha me feito de palhaça.

— Agora faz todo sentido ele não ter nenhuma rede social — comentei, Edward não disse nada, ele apenas apoiou sua cabeça no meu ombro e chorou tão alto que parecia estar apanhando, todos no vagão se viraram para olhar.

Primeiro me assustei pelo contato, porém acabei sendo boazinha e o envolvi com um braço.

— Calma, vamos superar esse traidor mentiroso.


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Notas finais do capítulo

Beijinhos!
Lola Royal.
13.06.21



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