Still in love escrita por Aislyn


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!~



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/801765/chapter/1

Aquele não era o primeiro dia dos namorados que comemorava mas, por algum motivo que não queria pensar muito, era o primeiro que realmente queria fazer algo especial. Mikaru não cansava de repetir sobre a data ser meramente comercial, onde as lojas se aproveitavam para vender mais, contudo, aquele ano parecia diferente. A cidade era a mesma em sua aparência, com casais andando pra todo lado e as decorações típicas para atraí-los, com chocolates e doces ganhando um lugar à frente das vitrines.

 

Se tudo era o mesmo, então o que havia mudado? Porque ele queria comemorar. Queria comprar algo para o namorado. Seus sentimentos em relação à Katsuya não haviam mudado, não achava que gostava mais ou menos dele, então não entendia o que podia ser. Não era algo que havia mudado nele, supunha.

 

Infelizmente, suas experiências amorosas não eram abrangentes o suficiente. Sabia que queria comemorar, sabia o que a data simbolizava, mas não sabia como proceder. O que seria bom o bastante para Katsuya? Ele era do tipo flexível e tinha certeza que, se perguntasse, o rapaz aceitaria qualquer coisa que viesse de si, até mesmo uma simples bala o faria sorrir. E Mikaru não queria aquilo. Não queria que ele se satisfizesse com tão pouco.

 

E, assim como suas experiências eram poucas, seus amigos eram em menor número ainda. Pelo menos os que confiava para conversar a respeito. Então, ali estava ele, abusando de Takeo mais uma vez em busca de algo que servisse como uma luz para colocar seu plano em prática.

 

— O que você e Izumi costumam fazer nessas datas? – Mikaru estava jogado no sofá de três lugares, uma almofada apoiada sobre o colo e outra no chão alguns passos à sua frente. Havia jogado no gato do amigo instante atrás, quando o felino se eriçou para seu lado, pronto para atacá-lo.

 

— Bom, a gente comemora todo ano, mas não quer dizer que seja algo mirabolante. – Takeo estendeu-lhe uma caneca com chá, depositando alguns salgadinhos na mesa de centro. A combinação fez Mikaru torcer o nariz – Saímos pra jantar, trocamos presentes, ficamos na varanda conversando e bebendo. Você já saiu em vários encontros duplos com a gente, não devia ser nenhuma novidade.

 

— Sim, mas antes eu só seguia o fluxo. Katsuya queria ir, eu queria vê-lo feliz, então ia também. Ano passado dei uma torta pra ele mas não posso dizer que foi por vontade própria. Mesmo que eu tenha concordado em comemorar, fui levado pelo momento, porque você e as meninas do café compraram algo pra mim também. Acho que esse é o primeiro ano que quero fazer por minha iniciativa.

 

— Eu não conheço muito Kurosaki, mas sei que ele vai topar qualquer coisa com você, Mikaru. Não precisa planejar demais ou se desgastar com isso. Você pode levar ele pra jantar ou só dar chocolates.

 

— Esse é o problema, Shiro. Ele sempre diz que gosta de qualquer coisa vinda de mim. – até um cumprimento mal humorado, pensou – Ele não devia ser assim! Eu não ia reclamar se ele exigisse algo mais… sabe…

 

— Caloroso? – Shiroyama riu sacana, mas entendeu o que o amigo quis dizer. Mikaru não fazia o tipo carinhoso, era de se esperar que Katsuya quisesse algo mais romântico, pelo menos em datas especiais – Não dá pra fazer muito nesse caso, o garoto está apaixonado. – comentou despreocupado.

 

— Essa fase já não devia ter passado? – a pergunta saiu num resmungo e foi o suficiente para arrancar uma risada de Shiroyama.

 

— Passou pra você? Não gosta dele mais?

 

— … gosto. – respondeu após tomar um longo gole do chá – Mas eu não aceito tudo que ele propõe.

 

— Porque você é mais racional, mais velho, tem mais experiência… são vários motivos. Não muda o fato que você também está apaixonado e demonstra da sua forma. Ele enxerga isso, por isso aceita o que tem a oferecer. Kurosaki sabe diferenciar quando vem algo ruim também, te dá espaço quando precisa.

 

— Isso é ridículo. Piegas. – Mikaru teria acrescentado mais se algo não tivesse mudado seu foco de atenção – Tire sua bola de pelos de perto de mim, Shiro! Ele está tentando me atacar desde que me sentei aqui!

 

— Junai? Ele não vai te atacar. Só está curioso.

 

Mikaru não acreditava naquilo. Aquele olhar mortal e esnobe estava focado em sua direção. O gato só estava esperando se distrair para então arranhá-lo todo.

 

— Podemos conversar em algum lugar longe dele? Talvez a varanda?

 

Takeo acenou com descaso, chamando o gato pra perto, que foi se acomodar ao seu lado, ronronando com o carinho dispensado.

 

— Voltando ao assunto, tem alguma ideia do que quer fazer? Algum lugar pra ir?

 

— Um pouco de privacidade seria bom, pra fazer qualquer coisa. Eu gosto dos pais do Katsuya, mas faz algum tempo que não ficamos a sós. Até mesmo quando ficamos na clínica depois do horário, alguém aparece para atrapalhar. Há poucos dias foi Mayu quem invadiu minha sala.

 

— Pegou vocês sem roupa? – a risada veio fácil, mas Shiroyama a conteve diante do olhar de Mikaru. Não haviam chegado tão longe – Há quanto tempo não dormem juntos?

 

— Eu não sou um pervertido como você e Izumi que não aguentam ficar um dia sem por as mãos um no outro!

 

— Mas santo também não é. Sério, não só sexo, mas quanto tempo não ficam juntos, uns beijinhos mais longos e mão boba, dormir abraçadinho…

 

Silêncio. Mikaru desviou o olhar, dando de ombros. Na verdade, não lembrava a última vez que tiveram um momento assim. Saíam pra jantar, para alguns passeios, mas como frequentavam lugares públicos, não é como se acontecesse muita coisa. Em casa era uma situação delicada; de um lado tinha o quarto dos sogros, do outro o da cunhada, se fossem para o andar de baixo, logo alguém aparecia chamando para jantar ou avisando que iam sair, perguntando se queriam alguma coisa. O clima sempre era podado.

 

— Preciso comprar uma casa pra mim.

 

— Uma ideia sensata. – Takeo zombou – Eu sei que gosta deles, parecem ser legais, mas você não faz o tipo que gosta de brincar de família grande e feliz por muito tempo. Nenhum de nós dois, na verdade. O que está esperando? Já deu tempo das coisas esfriarem com seu pai, não é? Pode extravasar um pouquinho e achar um lugar bom.

 

— Só eu sei o quanto sinto falta da minha privacidade. – confirmou num suspiro – Mas fico com receio de parecer ingrato. Eles me ajudaram muito e vão querer saber o motivo…

 

— Eles sabem que foi por conta da falência da empresa que você mudou pra lá e nós dois sabemos que você nunca precisou de ninguém pra te sustentar. Encontre uma casa, agradeça a ajuda e avise que está indo embora e levando o filho deles junto. Não precisa dar grandes satisfações.

 

— Não sei se Katsuya vai querer vir junto. Antes ele estava tentando ser mais independente, por isso aceitou morar comigo, mas agora que tem a casa dele…

 

— Acha mesmo que ele vai ficar lá? Duvido! Aposto com você! – Shiroyama estendeu a mão, lançando o desafio.

 

— Tem certeza? – Mikaru apertou a mão do amigo, mas não queria alimentar esperanças. Gostava de morar sozinho, mas o tempo que passou com Katsuya foi bom. Queria tê-lo por perto, se possível.

 

— Absoluta!  – Takeo sorriu confiante – Então o primeiro passo pode ser esse, achar um lugar pra vocês. Depois pode elaborar algo pra completar; um jantar, petiscos e bebidas na varanda, como fazemos aqui, mas só vocês dois. Ele vai gostar.

 

— Parece simples demais… – Mikaru ainda queria algo especial, mas não sabia o que. Só sabia que Katsuya merecia.

 

— Você não vai gostar da próxima ideia, mas acho que Hayato pode ajudar. – como esperado, Kazunari fechou a expressão, tamanho desgosto – Katsuya conversa bastante com ele, pode ter comentado algo que gosta, algum lugar pra ir. Pergunte a ele.

 

— Pra me zombar depois? Não, obrigado.

 

— Mikaru, você é bem egocêntrico quando se trata do Hayato, não é? Acha que ele passa o dia todo pensando em formas de te prejudicar, quando na verdade ele só quer manter uma relação amigável.

 

— Não somos amigos. – declarou sem rodeios, recebendo um revirar de olhos.

 

— Se dependesse só dele, é bem possível que fossem, mesmo eu achando isso bizarro. Mas estou falando de algo mais… profissional, talvez. Um coleguismo.

 

Mikaru negou a oferta, mudando de assunto. Disse a si mesmo que não queria ser influenciado na hora de decidir o que fazer para o White Day, mas se viu obrigado a falar com Shiroyama. Era seu amigo e podia lhe dar boas sugestões, mas falar com o namorado dele estava fora de cogitação.

 

Passou o restante da tarde implicando com o amigo e sua combinação vergonhosa de lanches para servir com um chá, afirmando que os ingleses ficariam indignados caso descobrissem aquilo, ao que Takeo rebateu perguntando quantos países ofenderia se soubessem de sua combinação de vinho e pipoca.

 

* * *

 

Suspirou fundo antes de entrar na sala da gerência, sabendo que ia se arrepender do que ia fazer, mas tendo a certeza que ia se arrepender mais por não tentar. Fechou a porta após sua passagem, murmurando um cumprimento para o sócio enquanto depositava a mochila no sofá, a seguir voltando para a mesa onde Izumi trabalhava, puxando a cadeira e sentando à sua frente.

 

— Preciso falar com você. – Mikaru anunciou em tom sério, atraindo um olhar de igual teor, mas depois tentou se corrigir. Precisava fazer direito – Preciso… da sua ajuda.

 

Hayato entreabriu os lábios, chocado. Se segurou para não olhar pela janela, contendo o comentário sobre chover canivetes. Sua consciência que o aconselhava sobre Mikaru, e que curiosamente tinha a voz de Takeo, pediu para evitar piadinhas.

 

— Ah, claro… o que posso fazer por você?

 

— Preciso falar sobre Katsuya. – ia ser mais difícil do que imaginava. Não conseguia se ver pedindo conselhos para o sócio. Na verdade, mal mantinham uma conversa normal que não girasse em torno da cafeteria que administravam.

 

— Aconteceu alguma coisa com ele? – Hayato se endireitou na cadeira, preocupado. Esperava que não fosse outro ato rebelde do rapaz. Uma vez havia sido o suficiente para fazê-lo brigar com Takeo e descontrolar Mikaru.

 

— Não… ele está bem. Eu… tsc… – não entendia porque se reprimia tanto na frente de Izumi. Precisava confiar mais na palavra de Takeo; o mundo deles não girava ao seu redor – Quero fazer algo para o White Day. Shiro disse que talvez ele tenha comentado com você sobre algo que gostaria para a data.

 

Ok, aquilo sim foi surpreendente, mas Izumi tentou não deixar transparecer demais. Mikaru pedindo sua ajuda era raro. Pedindo ajuda para fazer algo com o namorado, era praticamente um milagre. Respirou fundo, buscando na mente qualquer informação que pudesse vir a ser útil.

 

— Certo, como vocês costumam comemorar? Assim posso ver o que já fizeram e o que pode ser interessante agora.

 

— Você e Shiro convidam pra jantar fora ou pro apartamento de vocês, só tenho isso de base.

 

— Mas ano passado nós passamos sozinhos, eu e Takeo. Vocês passaram em branco?

 

— Eu dei uma torta de chocolate pra ele. E esse ano ele me deu flores e bombons… – assumiu sem muita vontade.

 

— Que tal um jantar à luz de velas? – mas emendou ao ver a careta de desgosto de Mikaru – Não estou te dizendo pra cozinhar. Você pode só decorar a mesa, ou fazer uma reserva num restaurante e pedir pra fazerem isso. Vai ser diferente dessa vez, já que serão só vocês dois.

 

— Certo… – mas a expressão de Kazunari deixava óbvio que ele não gostou da ideia.

 

— Hmm e parque de diversões? Takeo gosta muito e acaba me arrastando com ele. Katsuya pode gostar.

 

— Sim, pode… – quem não gostava era ele. Sair descabelado de alguma atração durante um encontro era tudo que precisava.

 

— Que tal uma aliança e um pedido de casamento? Nenhum de vocês dois usa anel, não trocaram nem como compromisso de namoro?

 

Hayato viu que poderia estar no caminho certo ao não receber uma resposta rápida e atravessada. Mikaru começou a enrubescer, mas conseguiu se recuperar antes de perder a compostura.

 

— Não pretendo ficar noivo o resto da vida como você e Shiroyama. Se for fazer isso, será pra levar a sério, então prefiro esperar o momento certo.

 

— Isso dói, sabe? Não é como se eu quisesse enrolar a esse ponto…

 

— Devia desistir da ideia.

 

— Nunca!

 

Falar do seu casamento não concretizado foi mais ofensivo do que as brigas usuais que tinha com Mikaru. Ele e Takeo iam casar, sim. Um dia… Só estavam esperando algo, seja lá o que isso fosse.

 

Mikaru entendeu a conversa como encerrada, se perguntando mais uma vez o motivo de ter se dado ao trabalho de ir até ali falar com Izumi. Não ia conseguir nada que fosse útil. Era melhor voltar pra casa e analisar sozinho o que fazer. A única lição que tirou das conversas com o casal de amigos foi que podia fazer qualquer coisa, Katsuya aceitaria tudo que viesse de si.

 

— Você vai comemorar o aniversário do Katsuya junto com o White Day ou pensa em fazer separado? Assim eu e Takeo podemos comemorar com vocês também.

 

— Aniversário? – aquilo pegou Mikaru desprevenido. Como assim ele faria aniversário tão próximo da data? Conferiu o calendário fixado na parede da sala da gerência, puxando na mente a data certa, praguejando baixinho ao notar que apenas uma semana separava as duas comemorações. Já não tinha o suficiente com uma data só?

 

— Você esqueceu, não é? Não te culpo… – Izumi tentou soar solidário – Takeo faz aniversário perto do Valentines. Costumo me perguntar se faço algo separado ou comemoro as duas datas juntas.

 

— Vou fazer separado. Katsuya vai querer comemorar o aniversário com a família. A irmã dele deve pensar em algo também. Vou focar apenas no White Day. Acho que já me decidi.

 

Não tinha muita certeza de nada, mas tendo o aniversário do namorado vindo a seguir, seria mais fácil planejar. Não precisava ser muito marcante e, mesmo se fosse um desastre, o aniversário poderia encobrir qualquer memória ruim.

 

Só precisava de algo para fazerem sozinhos.

 

* * *

 

A semana seguinte de Mikaru foi dedicada a encontrar uma casa e um presente, além de anotar todas as ideias, da mais idiota até a mais improvável, do que poderiam fazer. Um piquenique estava fora de cogitação, não teriam privacidade em um lugar público. Um jantar seria comum demais, eles já faziam isso normalmente. Não era uma boa época para viajar, o namorado não ia largar o trabalho com tão pouco tempo para remarcar consultas ou avisar os clientes.

 

As lojas não cansavam de lembrá-lo da proximidade da data. A cada dia que passava a decoração ficava mais marcante e os casais pareciam brotar na sua frente. Ficava exasperado ao constatar que seu tempo estava acabando e não havia saído do lugar. As casas que olhou pareciam boas, mas quando analisava o quesito segurança, um apartamento seria melhor. As decoradoras que costumavam trabalhar consigo praticamente surtaram com a ideia de um espaço para trabalharem do zero, desde cores até móveis e Mikaru sabia que precisava de paciência e tempo para lidar com elas, mas eram coisas que não dispunha no momento.

 

E ainda faltava o presente… Comprou alguns chocolates e marshmallows por recomendação de uma vendedora, mas parecia padrão demais.

 

* * *

 

Já era tarde da noite quando enfim desistiu de suas buscas. Naquele horário, nenhuma loja decente estaria aberta.

 

Foi com pesar que adentrou a casa, esperando não acordar ninguém enquanto subia as escadas, mas o lugar permaneceu em completo silêncio, sem sinais que alguém ouviu sua chegada, nem mesmo o namorado. Imaginou que ele estaria dormindo e planejou deixar os presentes em sua mesa de estudos, mas não encontrou o rapaz no quarto.

 

Voltou para o corredor, a luz do abajur de Mayu sendo visível através da brecha da porta, então a família estava presente. Eles não saíam e deixavam sua cunhada sozinha, exceto se o irmão estivesse em casa para cuidar da menina.

 

Para onde Katsuya teria ido àquela hora? A clínica estava fechada, teria visto as luzes caso o namorado estivesse atendendo alguma emergência. Enviou uma mensagem para o celular do rapaz enquanto se dirigia à sala para esperá-lo, ouvindo o toque conhecido vindo daquele mesmo cômodo. Foi só ao caminhar até o sofá que Mikaru encontrou quem procurava, agora acordado devido ao som do celular.

 

— O que está fazendo aqui? Não é confortável para dormir. – Mikaru sentou no carpete à sua frente, observando-o esfregar os olhos para espantar o sono antes de sentar no chão também.

 

— Estava te esperando. Só não esperei pra jantar, você demorou demais. Mamãe separou um pouco pra você – o comentário leve arrancou um pequeno sorriso de Mikaru, que negou com um aceno.

 

— Não precisavam se dar a esse trabalho. Eu costumo comer na rua, só esqueci de avisar que ia demorar. Sinto muito.

 

— Tudo bem. Era algum jantar de negócios?

 

— Não. Felizmente não preciso me forçar a ir nesses eventos para conseguir um contrato. Mas já que estamos falando da minha saída, tenho duas notícias: uma razoável e outra talvez não muito agradável.

 

— Começamos com a ruim então?

 

— Estou procurando uma casa pra comprar. Imagino que seus pais vão perguntar se aconteceu alguma coisa, se fizeram algo que não gostei, mas sinto que já dei trabalho demais pra eles e os negócios estão indo bem, então queria recuperar um pouco da minha vida antiga de volta.

 

— Sabia que ia conseguir crescer com a empresa de novo, mas foi mais rápido do que imaginei. Quando nos mudamos? Já tem algum lugar em vista? Eu posso ajudar olhando em imobiliárias e podemos usar nossa folga pra escolher os móveis.

 

— Você vai vir comigo? – Shiroyama havia ganhado a aposta.

 

— Claro. Ou está pensando em me deixar pra trás?

 

— Pensei que ia preferir ficar por aqui, afinal a clínica é no andar de baixo. Mudar pra longe vai envolver pegar trânsito, acordar mais cedo, entre outras dificuldades. Talvez você escolhesse ficar aqui no meio da semana e ir pra minha casa no sábado, como fazia antigamente.

 

— Eu fazia aquilo porque estava começando com as coisas da clínica e estava desorganizado com meus horários, mas agora já sei como funciona. Era bom quando éramos só nós dois.

 

— Um pouco de privacidade realmente vai ser bom pra gente…

 

Katsuya entendia bem o que Mikaru falava, afinal também sentia falta de um momento só deles. Aproveitou a brecha para se inclinar na direção dele, mas foi afastado quando o beijo começou a ficar intenso demais.

 

— E a outra notícia? – Kurosaki questionou a contragosto, ainda mantendo a proximidade de antes, apoiando uma mão em sua cintura.

 

— Já passou da meia-noite… – Mikaru comentou após conferir seu relógio de pulso, puxando a mochila para perto – Eu também estava à procura de um presente para o White day, mas não encontrei nada que parecesse bom o suficiente pra você, então peguei alguns chocolates e…

 

Enquanto puxava os pacotes com doces para fora da mochila, uma caixinha se enroscou nos laços e foi juntamente puxada, rolando no carpete até parar a uma curta distância dos dois rapazes. Katsuya encarou atento enquanto Mikaru sentiu-se gelar até a alma. Havia colocado no fundo, mas com o movimento no carro, devia ter mudado de posição.

 

— Aquilo também é parte do presente?

 

— Talvez. – Mikaru confessou sem evasivas. Não adiantava esconder ou desconversar agora que ele havia visto – Eu ia esperar até seu aniversário para decidir se entregava.

 

— Você pode esperar, se achar melhor. – Katsuya se inclinou para pegar a caixinha, curioso para ver o conteúdo, mas se conteve enquanto estendia de volta para Mikaru.

 

— Eu fiquei me perguntando se seria uma boa época, se não estaria tarde demais para um anel de compromisso.

 

— Hmm nunca ouvi falar que tinha uma data específica pra isso. – na verdade, já havia pensado em comprar alianças para os dois, mas como nunca viu Mikaru usando jóias além do relógio, imaginou que ele não gostasse de acessórios, então acabou deixando a ideia de lado.

 

— Você pode ficar com ele, se quiser. – Mikaru não chegou a pegar de volta, empurrando-a na direção oposta – Um presente pelo White day e pelo seu aniversário. Se não quiser usar não tem problema.

 

Katsuya não conseguiu conter o sorriso, ignorando completamente a última parte. Como ele poderia não querer usar? Era um absurdo!

 

Cheio de expectativa, intercalou olhares entre o namorado e a caixinha em suas mãos, jogando o bom senso para o alto enquanto o abraçava apertado, agradecendo pelo presente. Da outra vez que Mikaru lhe entregou uma caixinha, ela continha uma chave, a chave que abria a porta da casa onde estavam naquele momento, um presente pra lá de extravagante. Dessa vez tinha certeza que o conteúdo era outro: o que havia imaginado que ganharia como seu presente de formatura.

 

Estava tão perdido em seus pensamentos do passado que, só quando voltou à realidade é que notou que foi correspondido. Mikaru não costumava gostar muito daquelas demonstrações de afeto, mas já tinha um tempo que vinha notando mudanças em suas atitudes. Mikaru sempre foi atencioso, do tipo que prestava atenção em toda e qualquer palavra que dissesse, mas ultimamente andava mais carinhoso, se aproximava e o tocava com mais frequência, lhe dava beijos pela manhã quando acordava primeiro e o procurava em suas horas de pausa, fosse para contar alguma novidade ou somente dividir a companhia.

 

Afastou-se do abraço a contragosto, a curiosidade falando mais alto com o conteúdo. Abriu a caixinha com cuidado, as alianças tão discretas quanto imaginou que seriam. Eram em cor prata, típico para se usar entre namorados, afinal as douradas normalmente eram destinadas ao casamento, contudo, quando retirou a dupla do encaixe, notou que no outro lado havia pequenos detalhes no contorno: um deles parecia a letra V enquanto o outro parecia ter o numeral 3. Ou seria a letra M? Somente com as duas unidas é que foi possível notar que formavam um coração.

 

— São lindas. – queria comentar mais, pontuar o quanto combinavam com os dois, mas mal conseguia tirar o sorriso de sua face para formular uma frase decente.

 

Separou a menor delas, a que formava a parte de cima do coração, entre o indicador e médio, estendendo a outra mão na direção de Mikaru, pedindo que lhe estendesse a sua, mas então outro pensamento bobo cruzou sua mente. A sua seria do tamanho certo? Lembrava de não notar Mikaru usando jóias, mas não é como se usasse com frequência também.

 

Ia descobrir em instantes.

 

Deslizou a aliança pelo dedo de Mikaru, murmurando que combinava com ele. Lisa e simples, sem pedras ou desenhos complexos, mas com o nome de ambos gravado na parte interna, como notou no momento que estendeu a outra para que fosse posta em si.

 

— Como sabia o tamanho? – girou com a peça no dedo, sem conter a surpresa por servir tão bem.

 

— Foi fácil, só precisei de um barbante… – deu de ombros, satisfeito – Você quase acordou algumas vezes, mas consegui.

 

— Quando fez isso? – Katsuya tinha certeza que não tinha o sono pesado. Não àquele ponto.

 

— Isso importa? – Mikaru lhe presenteou com um pequeno sorriso e emendou sem esperar resposta – Vem, vamos dormir. Temos o dia todo pela frente para aproveitar.

 

— O que mais planejou?

 

Katsuya seguiu o namorado para o quarto, animado com a ideia de aproveitarem durante o dia todo. Mikaru não tinha planos definidos, mas decidiu não ignorar as ideias dos amigos. Podiam sair para almoçar e também fazer um piquenique, talvez até mesmo ir ao cinema. O importante era fazerem juntos, independente do que fosse.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

~Fim.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Still in love" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.