Isso não é Romeu e Julieta escrita por Lady Black Swan


Capítulo 22
E você acha que homem pensa?


Notas iniciais do capítulo

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—BA-BA-DO! — Margot gritou como se pretendesse ser ouvida mesmo sem o intermédio de celulares.

Com certeza ligar para ela tinha sido uma má ideia, mas Julieta não tinha mais com quem falar — Helena até poderia ser uma opção, mas era melhor ficar longe do radar de Heleno, não que Julieta acreditasse na teoria de Romeu sobre ele ser um bruxo vidente, porque ele não sabia guardar segredo — e não era algo que queria falar por mensagem também.

—Dá pra falar mais baixo sua maluca?! — Julieta reclamou se virando na cama e pensando se deveria sufocar o aparelho com o travesseiro, antes que seus pais a ouvissem e acordassem lá no quarto deles.

—Não! Vai pegar os fones de ouvido!

Sua privacidade ou sua audição?

Julieta acabou escolhendo a primeira opção.

—Tá! Espera um pouco! — respondeu mal humorada — Pronto…

—AMIGA ME CONTA TU-DO, NÃO POUPE DETALHES! — Margot continuou histérica aos berros tal qual Edna Modas quando a mulher elástica ligou para ela, levando Julieta a afastar os fones dos ouvidos com uma careta — E O QUE MAIS?! O QUE ACONTECEU DEPOIS?!

—Depois nada.

—Nada?

—Nada.

Levou três segundos inteiros para Margot absorver aquela informação decepcionante, antes de…

—COMO ASSIM NADA?!

Julieta tinha certeza que terminaria aquela ligação com perda significativa da audição ou, no mínimo, um zumbido persistente nos ouvidos.

—O que mais você queria que eu fizesse?! — reclamou — Meus pais e Romeu estavam logo ali!

—Ah… certo, isso pode mesmo dificultar um pouco o clima… — Margot resmungou e, antes que Julieta pudesse começar a reclamar que ela estava levando suas fantasias e conclusões muito à frente, ela se recompôs: — Mas não torna impossível! E quanto ao Romeuzinho, como ele reagiu? Você partiu o coração do nosso querido?

—Romeu não viu nada, ele estava ocupado mergulhando para tentar pegar Aaron desprevenido. — Julieta respondeu — E por que é que eu partiria o coração dele?!

Margot suspirou.

—Como era mesmo…? “Se o amor é cego, nunca acerta o alvo”?

—Hã? — piscou confusa.

Mas Margot simplesmente mudou de assunto:

—E vocês conseguiram encontrar a misteriosa tatuagem schrödinger?

—Não. — Julieta fez uma careta — Isso é ridículo, acho que vou só perguntar para a mãe ou a irmã dele se as ver…

—A mãe e a irmã? — Margot interrompeu com tom sugestivo — Juju, querida, sabe qual foi a última vez que eu conheci a família de um chush meu?

—Que crush o que garota, ta doida?! — Julieta reclamou — Foi quando o Romeu e eu o levamos para casa depois que ele machucou o tornozelo no nosso aniversário…

—E falando na família de crush. — Margot a interrompeu de repente — Como é que vai o Heleno, aquele gostoso do seu tio?

—Caramba garota! — Julieta sentou-se na cama com o susto.

—E aquela viagem de campo, pela qual ele anda tão ansioso, é em família?

—Como você sabe da viagem?! — se surpreendeu.

—Posso ter encontrado e estalkeado um pouco as redes sociais dele. — respondeu despreocupadamente.

—Você é doida por acaso?!

—É em família ou não? — insistiu.

—É.

—E para onde vamos?

—Acabei de dizer que é uma viagem em família!

—Hum… — fez uma pausa — Romeuzinho vai?

—Claro.

—Então quando vamos?

Eles saíram sábado, bem cedo pela manhã, embora, para a grande decepção de Margot, Heleno não estivesse entre os integrantes do, tão ansiado, passeio, pois ele e a irmã haviam contraído catapora, exatamente quatro dias depois de ter comentado que eles nunca haviam tido catapora, como Romeu fez questão de salientar.

Aparentemente era verdade a história de que gêmeos sempre adoeciam juntos.

—Ele deve ter comentado porque alguém por perto pegou catapora, pare de dizer que Heleno é um bruxo, Romeu. — Julieta retrucou.

—Por que você só não me avisou que Heleno não viria mais? — Margot lamentou-se sentada entre eles no banco de trás do carro.

—Não tinha ninguém doente perto deles! — Romeu insistiu. — E o namorado da Helena só foi ficar doente dois dias depois!

—Helena tem um namorado? — Julieta e o pai perguntaram ao mesmo tempo.

De repente percebendo que havia falado demais, Romeu arregalou os olhos e tampou a boca com ambas as mãos, ele se esqueceu de que Heleno havia dito no grupo que Helena achava que ninguém sabia.

Às vezes era difícil lembrar que o pai de Julieta era irmão mais velho dos gêmeos.

—Sr. Capellete, quando a gente vai chegar? — Margot perguntou — E para onde vamos?

—Você veio sem nem saber isso?! — Romeu se assustou.

Margot encolheu os ombros.

—Juju só me disse para trazer biquíni.

—Não me chame de “Juju”. — Julieta reclamou — Mas você vai adorar, é uma linda chácara onde podemos andar a cavalo e têm muitos porcos e galinhas para alimentarmos, papai nos leva todo ano e, antes disso, vovô sempre o levava junto com tia Valerie, isso, claro, até ele decidir, no ano passado, que não tinha mais idade para isso e a viagem ficou a cargo do papai…

—Porcos e galinhas? — Margot gritou a um fio da histeria.

—Ela está brincando, não tem porco nem galinha nenhuma. — Romeu desmentiu — É um hotel pequeno e bem legal, e só têm cachoeiras… mas toma cuidado para não ficar muito na beira e ser empurrada de lá.

Julieta gargalhou por um momento.

—Ah… — ela parou pensativa — Será que foi por isso que vovô disse que estava velho demais para isso? Achei que como ele e a vovó não vieram a tia Valerie viria com o Benjamin, mas…

Deu de ombros.

—E antes que eu me esqueça, nova regra: ninguém vai empurrar ninguém da cachoeira. — Maria Alice afirmou seriamente — Entendeu Julieta Alice?

Julieta girou os olhos e resmungou um “ta bom” não muito convincente.

—Mamãe disse que estava muito cansada para uma viagem longa e papai decidiu ficar com ela, eu também não queria vir esse ano… — Romeu confessou — Mas eles acharam que eu já estava passando tempo demais jogando no computador e me expulsaram… nunca mais faço piadas na mesa.

—O que você disse? — Margot perguntou.

—Perguntei quanto XP eu ganhava comendo a macarronada. — suspirou encolhendo-se com a risada das meninas. — Só espero que ela também estivesse brincando quando disse que ia aproveitar minha ausência para reformar meu quarto e transformar em um quarto de bebê.

Para o alívio de Margot, Romeu disse a verdade: não havia qualquer porco ou galinha nas proximidades, mas com certeza havia uma pequena surpresa esperando-os…

—¡Mis amigos! — Aaron acenou-lhes da frente do hotel, com uma toalha em volta do pescoço, quando Romeu e Margot desceram do carro.

Margot cobriu a boca com a mão para esconder o sorrisinho cínico que pairava ali, então agora estava explicado porque Juju queria tanto evitar que ela viesse junto…

—Mas o que é que você está fazendo aqui?! — Julieta reclamou saindo do carro — Está nos seguindo agora?!

Ou talvez não…

—Sou eu quem devia estar dizendo isso, mi bien, afinal nós estamos aqui desde o começo da semana! — Aaron respondeu ajeitando os óculos escuros.

—Nós? — repetiu.

¡Mis amigos, que coincidencia! — Alejandro os cumprimentou saindo atrás do filho com os braços abertos. — ¡Bienvenidos!

Apesar da barba por fazer e embora fosse ligeiramente mais baixo e magro que o filho, de certa forma Aaron lembrava muito ao pai dele, eles até tinham a pinta no mesmo lugar no queixo.

—Esse cara de novo não… — Julieta teve impressão de ouvir o pai resmungando, mas quando o olhou, ele estava ajeitando os óculos e acenando com um sorriso cordial: — Olá, que surpresa!

— ¡Sí!

Alejandro concordou alegremente, e parecia prestes a dizer mais alguma coisa quando uma voz irada se sobressaiu por suas costas:

— ¿Con quién estás hablando ahora, idiota? ¡Será mejor que no hayas vuelto a invitar a ninguno de tus amigos borrachos!

—No cariño, ¡mira quién está aquí!

Então Aaron estava dizendo a verdade no final das contas e os D’Ávila realmente estavam coincidentemente hospedados ali, no hotel que os Capellete e os Monteiro passavam as férias todos os anos, desde o inicio da semana.

—Então é por isso que você simplesmente sumiu! — Romeu exclamou enquanto conversavam no saguão do pequeno hotel — Nós já estávamos realmente pensando se a Japonese Doll não tinha achado seu endereço e Lorde Zucker e Miragem estavam apenas fornecendo um álibi a ela!

Aaron deu uma gargalhada tão alta que assustou as recepcionistas com quem os pais de Julieta estavam falando no balcão e fez a mãe dele olhá-lo de cara feia.

—O que? Ela ainda está brava por aquilo?

—Você a fechou no galpão e ficou segurando a porta com os zumbis lá dentro!

—Um sacrifício para salvar o grupo… — Aaron deu de ombros.

—Então sacrifique a si mesmo!

Margot cutucou Julieta com o cotovelo.

—Do que eles estão falando?

—Jogos com certeza, nem tente entender. — Julieta girou os olhos e olhou para os pais ainda junto ao balcão da recepção — Por que estão demorando tanto…?

—Nós descobrimos esse lugar tem poucas semanas, acho que alguém no trabalho de mi padre falou para ele. — Aaron recomeçou a falar de repente — É realmente um lugar muito maneiro, sentimos como se nunca mais quiséssemos ir embora, não é Adila?

Adila estava deitada em um sofá ali perto com um tablet.

—Ah é, é lindo. — respondeu sem nem desviar os olhos da tela.

—Ela ainda não acabou de acordar. — Aaron contou-lhes.

—Julys. — Romeu segurou seu cotovelo — Olha o pé dela.

Havia qualquer coisa demarcada no tornozelo esquerdo de Adila, eles não conseguiam ver com certeza daquela distância e talvez fosse apenas um sinal de nascença um pouco grande, mas mais provável é que fosse…

—Então aquela é a tal tatuagem de schrödinger que tem mantido nosso pobre Romeuzinho insone todo esse tempo. — Margot comentou, semicerrando os olhos e ajeitando os óculos para tentar ver melhor o desenho. — Mas o que está desenhado ali?

Afinal aquele cretino do Aaron nunca havia dito que a tatuagem havia sido nele próprio.

—Não me chame de Romeuzinho! — Romeu reclamou.

—E a mãe dele pode te garantir que ele já passava noites em claro muito antes disso. — Julieta acrescentou.

—Em que quarto vocês estão? — Aaron perguntou, ignorando o assunto — Talvez fiquemos lado a lado!

—O tio Carlos não disse quais são os nossos quartos… — Romeu começou a dizer.

—Eu não acredito nisso Carlos André! Como você não sabia que precisávamos de reservas?! — Maria Alice reclamou caminhando a frente do marido com passos largos.

—Mas… com eu ia saber que precisávamos fazer reserva com antecedência? — Carlos André tentava se justificar, vindo atrás da esposa, que nem queria olhar na cara dele — Viemos aqui todos os anos, e geralmente com um número muito maior de pessoas, e mesmo assim nunca deu problema…

—Porque o seu pai sempre fazia as reservas! —Maria Alice virou-se com ares de quem estava pronta para estrangular o marido.

E Julieta escondeu o rosto entre as mãos, seu pai parecia sempre tão calmo e pouco impulsivo que ela se esquecia de que ele também podia fazer besteira, “e você acha que homem pensa?”, nunca um meme pareceu tão real em sua vida.

—E se tivermos que dormir ao relento? — Romeu perguntou virando-se preocupado.

—Não vamos dormir ao relento, Romeu! — Julieta retrucou.

—Acho bom, porque eu sou altamente alérgica ao sereno. — Margot estremeceu abraçando a si mesma.

—E se encontrarmos um urso? — Romeu agarrou o braço de Julieta, arregalando os olhos.

—Não tem ursos no Brasil, menino! — Julieta afastou sua mão com uma tapa.

—No estaría tan seguro, ¿qué pasa con el oso hormiguero?

Aaron comentou, fazendo o amigo empalidecer.

—E eu posso até imaginar o porquê: as pessoas perto dele devem parecer formiguinhas!

Comentou com um fio de voz, já quase sentindo os joelhos cederem.

—Espera! — Julieta ergueu uma mão — Você entendeu o que ele acabou de dizer?

—O que importa o que ele disse? — Margot passou as mãos pelos cabelos, nitidamente nervosa — Eu não quero dormir no mato!

—Oh, pensando bem, eu acho que aqui no Brasil, oso hormiguero, se traduz como tamanduá… — Aaron comentou casualmente, ignorando Margot.

—Ah, você acha?! — Julieta agarrou-lhe a camisa irritadamente — Há quanto tempo você mora aqui? Porque parece que só esquece nosso idioma nos momentos mais convenientes possíveis!

—Ele sempre faz isso mesmo! — Romeu o acusou.

—Eu vou dormir no carro! — afirmou Margot, mesmo que, na verdade, ninguém parecesse nem estar ouvindo-a — Vocês que se virem!

—Ai garota, dá pra se acalmar um pouco? — Julieta girou os olhos dando uma tapa “delicada” em suas costas — Ninguém vai dormir no mato, tá? No máximo nossa viagem só foi um pouco encurtada e teremos que ir embora hoje ao invés de amanhã à tarde…

—Oh amigo, parece que está encrencado com a patroa, não é? — Alejandro riu seguindo Carlos André.

Mas o pai de Julieta, que mulher e filha acreditavam não ter nenhum espírito competitivo — ou que, no mínimo, havia sido completamente obliterado morando com aquelas duas mulheres — de repente simplesmente não quis dar o braço a torcer e simplesmente estudou o peito e gabou-se orgulhoso:

—Na verdade tudo isso foi planejado: vamos acampar essa noite! Porque eles disseram lá no balcão de atendimento que há vagas para campistas! Surpresa!

Julieta sabia que o pai sempre tinha material de camping no porta-malas do carro, mas mesmo assim já devia fazer uns cinco anos que eles não acampavam — não desde que Romeu e o pai dele simplesmente confundiram uma coruja com o “homem mariposa”, seja lá o que fosse isso — então devia ser a mentira mais descarada da vida dele, mas ainda assim é claro que ainda haveria alguém tolo o bastante para acreditar:

—É sério isso?! — Romeu perguntou indignado, levando a mão ao peito.

E agora Margot havia sumido também, provavelmente tinha voltado para o carro para tentar dirigir sozinha de volta para casa…

—Aí tio! — Margot chamou do sofá, junto a Adila, já com o celular na mão — Qual a senha do wi-fi?

—Eles têm wi-fi? — Romeu animou-se instantaneamente, já se afastando a passos largos — Eu vou ficar com tio Alejandro!

Alejandro direcionou um irritante sorriso vitorioso para Carlos André.

—Parece que você está ficando sem crianças, amigo. — comentou.

—Ah é? Pois então eu vou pegar as suas! — Carlos André respondeu de repente — Aaron, Adila, vamos acampar! — Uma mensagem chegou quase instantaneamente no celular de Alejandro, que riu e mostrou-a a Carlos André. —… Aaron! Vamos acampar!

Pelo visto Aaron havia herdado a risada escandalosa do pai também.

Papá sempre faz amizades aonde quer que vá. — Aaron, que era o único que tinha ficado ao lado de Julieta, comentou.

Mas sinceramente Julieta não sabia dizer se eles estavam ou não se dando bem… de qualquer forma, foi necessário as esposas os separarem:

— ¡Hombre me vas a matar de verguenza! — Mariangel reclamou puxando o marido pelo braço — Vamos logo e deixe o pobre homem em paz! AARON ANDA LOGO VOCÊ TAMBÉM! — ela inclinou a cabeça pedindo desculpas à Maria Alice — Sinto muito, espero que se resolvam logo.

Eles foram embora sem nem parecerem se lembrar de que ainda tinha outra filha, que deixaram para trás, deitada no sofá… e tampouco ela percebeu a ida deles.

—Ah, não tem problema, bom vê-los novamente. — Maria Alice sorriu cordialmente… antes de virar-se furiosa para o marido: — Ninguém vai acampar aqui Carlos André!

—Ah, mas… Julieta e eu adoramos…

—Então faça isso como um programa pai e filha, eu odeio acampar!

Carlos André arregalou os olhos.

—Sempre acampávamos quando estávamos namorando!

Maria Alice cobriu o rosto com as mãos e puxou a respiração com força, como se estivesse contando até dez antes de recomeçar a falar:

—Sim, mas agora estamos casados e eu não tenho mais que me dar a esse trabalho.

—Como as…?

—Mas já que já estamos aqui nós vamos até as cachoeiras e vamos nos divertir, mas vamos embora ao anoitecer, entendeu?

—Espera, Maria Alice, me explica…

—Agora eu preciso ligar para a mãe de Margarida para avisá-la que voltamos ainda hoje e também para Vanessa e avisar ela para apressar a reforma no quarto do bebê. — ela o cortou se afastando.

—O que?! — Romeu gritou dos sofás.

Mas, com tudo resolvido, e a certeza que ninguém dormiria no meio do mato, os cinco finalmente começaram a fazer a trilha que os levaria para o igarapé e as quedas d’água, era um caminho um pouco tortuoso e talvez Maria Alice ainda estivesse zangada com o marido já que manteve o máximo de distância possível dele, mantendo-se no final da fila durante todo o trajeto enquanto Margot, por outro lado, aproximou-se de forma nada discreta de Julieta:

—Ei amiga. — cochichou ao ouvido dela, enlaçando os braços das duas — Se precisar ficar sozinha com o colombiano encrenca, me dá um sinal que eu te dou cobertura!

A resposta de Julieta foi empurrá-la para longe e correr para perto de Romeu sem dizer uma palavra sequer.

—Julys, o que foi? — ele assustou-se — Um urso?!

—Não tem ursos no Brasil, Romeu!

—O Homem mariposa?

—Eu nem sei do que você está falando!

Margot estalou a língua, talvez Juju tivesse sacado na hora que, em troca, iria pedir a ajuda dela com Heleno mais tarde.

Julieta era mais esperta do que parecia, mas não importava mais cedo ou mais tarde ela estaria chamando-a de “tia Margot”.

Quando em fim chegaram ao lugar de águas cristalinas, pequenas quedas d’água e cercado por uma natureza verde exuberante, que Romeu e Julieta alegremente haviam descrito como “um pedacinho do céu na terra”, Margot só conseguiu pensar em crimes nunca resolvidos e… talvez em sucuris e onças.

Ah que seja! Ela não iria desperdiçar o lindo biquíni que tinha comprado só para aquela ocasião, mesmo depois da sua amiga traíra não avisar que o tio gatinho não estaria lá.

—Sai debaixo! — Romeu gritou correndo para a água e se jogando com a imprudência de uma criança de três anos de idade.

—Romeu, você pareceu uma rã! — Margot gritou-lhe rindo.

—Ele sempre fica mais confiante quando consegue enxergar o fundo!

Julieta riu ao lado dela, enquanto Romeu acenava empolgadamente da água para elas.

—Mi bien, Margarida, aqui estão vocês! — Aaron aproximou-se, ainda de bermuda e camiseta, embora completamente ensopado. — Querem apostar corrida?

—Eu estou fora! — Romeu gritou da água.

—Eu prefiro ficar boiando na santa paz. — Margot respondeu já se afastando.

Se já era ruim competir contra Julieta em terra firme, ela nem queria imaginar na água… e não parecia que havia qualquer salva-vidas gato por ali também.

Covardes.

Julieta virou-se com os braços cruzados para Aaron.

—E você nada bem?

—Ora, é claro! — Aaron respondeu já se alongando — Como acha que fugimos dos hipopótamos do meu tio e chegamos aqui?

—O que?!

—Ganhaquemchegaraooutroladoprimeiroevoltarumdoistrêsejá!

Ele falou tão rápido que Julieta nem conseguiu entendê-lo e, quando se deu conta, o cretino já havia pulado na água e saído nadando como se realmente houvesse hipopótamos o perseguindo.

—Ei! Espere aí seu cretino!

Gritou pulando atrás dele na água.

Seria um milagre se nenhum dos dois tentasse afogar o outro até o fim do dia.

E por que não? Um ou dois corpos boiando na água só completariam o cenário perfeito que Margot havia imaginando.

—Geralmente a minha filha é um pouco mais animada, ela adora tanto a água que quando era pequena transformou o carro do avô em uma piscina. — Mariangel contou recostando-se em uma boia circular — Mas de manhã costuma ter dores de cabeça… — ela girou os olhos — E mesmo assim não para de olhar para aquelas telas, mesmo eu já tendo dito que isso só piora!

—Ah eu entendo, Julieta também nunca me escuta. — Maria Alice concordou — Na verdade ela e Romeu não costumam interagirem muito com outras pessoas, por isso eu fico feliz de vê-los se entrosando mais.

Não muito longe dali, Margot pulava nas costas de Romeu e quase o afundava dentro da água.

—Isso me lembra, AARON SE AQUIETA MENINO, VOCÊ VAI INCOMODAR OS OUTROS BANISTAS! Por que vocês não almoçam conosco? — Mariangel a convidou.

—Ah não, não queremos incomodar…!

—Não é incomodo algum, ALEJANDRO ACHO MELHOR ISSO NÃO SER CERVEJA, EU TE DISSE PARA NÃO BEBER HOJE! Apenas venham, por favor, e eu também quero agradecer por terem levado Aaron a praia naquela vez.

—Não foi nada, como eu disse, eu realmente gosto de ver as crianças interagindo mais…

—AARON DESÇA DESSA PEDRA AGORA!

—Com outros amiguinhos.

—Então é perfeito, afinal as crianças se divertem tanto quando estão juntas!

Sim, porque com certeza Romeu estava se divertindo como nunca, enquanto Margot agarrava seus ombros e tentava afundar sua cabeça.

—Vamos lá, Romeuzinho! Só uma vez! — ela insistia.

—Eu já disse que não, e pare de me chamar de Romeuzinho! — Romeu recusou tentando desvencilhar-se.

—O que está acontecendo agora? — Julieta perguntou se aproximando.

—Julys! — Romeu libertou-se de Margot, para pular sobre Julieta, abraçando-a — Ela quer me fazer de trampolim!

—Para de drama, Romeu, só me deixa subir nos seus ombros! — Margot reclamou com as mãos nos quadris.

—Isso parece divertido. — Julieta concordou. — Eu também quero fazer.

—Julys! — Romeu afastou-se ultrajado.

Mas ela deu as costas a ele, e pegou Aaron pelos ombros.

—Vai! Mergulha!

Ordenou só lhe dando tempo para pedir que, pelo menos, fosse uma de cada vez.

Apesar dos ânimos dos mais novos, não houve grandes incidentes quando os dois grupos se juntaram para almoçar mais tarde, exceto por Alejandro colocando pimenta no prato de Carlos André sem que ele tivesse pedido e Mariangel precisando gritar três ou quatro vezes com os filhos para que eles esperassem meia hora antes de voltarem para a água, às vezes ela sentia-se como se tivesse três filhos no lugar de dois.

Mas bastou que ela se distraísse por dois segundos para que o mais novo sumisse.

Aaron gostava de subir até a área mais alta da trilha, perto da cachoeira, sem nenhum motivo específico — afinal não é como se ele fosse tentar descer o morro em uma prancha de skate desenfreada como um garotinho de quatro anos de idade… de novo — mas aparentemente hoje ele não havia sido o único a ter aquela ideia.

— ¡Mi bien! — exclamou alegremente, sobressaltando Julieta — O que está fazendo aqui?

Julieta olhou-o mal-humorada.

—Por sua culpa ele fugiu. — acusou, guardando o celular no bolso da bermuda.

—Quem?

—Havia um pássaro muito bonito naquela árvore ali, meu pai saberia que pássaro era, mas você o espantou. — explicou olhando em volta — Meu pai e eu subimos aqui para tirar fotos, mas ele deve ter ido por outro lado…

—Então você está sozinha aqui, mi bien? — Aaron aproximou-se.

De repente arregalando os olhos, Julieta abaixou-se para pegar um galho comprido do chão, e empunhou-o contra Aaron com uma espada.

—Fique onde está! — ordenou.

Aaron deteve-se, erguendo as mãos.

—O que…?

—Aquilo que aconteceu antes, no meu aniversário e na praia… — Julieta praguejou mentalmente quando mordeu o lado interno da bochecha acidentalmente — Não vai se repetir!

Aaron se agachou para deixar seus olhos à altura dos olhos dela, e apoiou o rosto entre as mãos.

—Por quê? Foi ruim?

—Não, não foi, mas… e tire esse sorriso ridículo da cara! — Quando Julieta ameaçou acertá-lo com aquele galho, Aaron caiu na gargalhada — Só fique longe e esqueça, eu não estou interessada.

Aaron caiu sentado no chão e suspirou.

Oiga, mi bien, pela minha experiência, quando se gosta de uma experiência, mesmo que afirme que não voltará a repeti-la, vai eventualmente o fazer quando tiver a chance.

Mas de que experiência aquele sujeito estava falando? Julieta se levantou, ainda sem largar o galho.

—Se estamos resolvidos, então… — ela começou a se afastar.

—Mas se você não está interessada, não há nada que eu possa fazer, porém eu estava pensando em te mostrar a minha tatuagem dessa vez…

Cretino.

Julieta congelou no lugar.

—Você não tem mesmo uma tatuagem… tem?

Ela olhou-o por cima do ombro, sem saber o que odiava mais naquele instante: sua própria curiosidade, ou o sorriso ridículo dele.

Porém… se ele tinha mesmo uma tatuagem ou não, essa não era sua chance?

Afinal já havia deixado tudo claro entre eles… Julieta largou o galho.

Quando de repente Alejandro caiu aos berros do alto da cachoeira, Maria Alice, que estava tirando algumas fotos de Margot, colocou-se de pé com um salto.

—Julieta Alice! — gritou furiosa.

Porém quem estava lá no alto não era sua filha e, com um sorriso desconcertado e inocente, Carlos André acenou com o boné na mão.

—Acho que ele escorregou no limo, querida! — gritou por cima do som da água para a esposa.

—Alejandro sempre desperta o que há de mais idiota nas pessoas, é quase como uma habilidade inata. — Mariangel comentou calmamente — Olhe só para mim que engravidei e casei com esse paspalho… e minha mãe me avisou sobre ele!

Mas onde estava Julieta? Já fazia algum tempo que ela havia subido a trilha com o pai, dizendo que iria tirar fotos, mas não parecia que tio Carlos estivesse com ela… a menos que ela tivesse empurrado o pai de Aaron da cachoeira e tio Carlos tivesse assumido a culpa em seu lugar, o que não era totalmente impossível também, mas de qualquer forma, Romeu acabou subindo a trilha atrás da amiga.

Por sorte não foi difícil encontrá-la, pois já estava prestes a chamá-la quando a avistou ali perto.

—Ah, Julys, eu estava…!

Julieta separou-se rapidamente de Aaron, empurrando-o contra a árvore perto deles e forçando-o a soltá-la.

—O que foi mulher? — o rapaz, que não havia escutado a chegada do outro, reclamou levando as mãos às costas com uma careta de dor — Achei que estávamos bem, mas por que sempre acaba me bat…?!

Julieta o calou com uma cotovelada na barriga.

—O-oi Romeu! — disse apressadamente, com o roso vermelho e a mão sobre a boca — O que foi?

Ele não tinha visto, não é? Ele com certeza não tinha os visto…!

—M-mas o que vocês estão fazendo? — Romeu perguntou abismado.

—Romeu! — Julieta simplesmente não sabia para onde olhar — Olha! Eu achei a tatuagem!

Exclamou puxando o colombiano pelo braço para sua frente, como uma espécie de barreira entre eles, e erguendo lhe a camisa.


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Notas finais do capítulo

Sinceramente eu achei que esse capítulo foi muito diálogo para pouca ação... mas foi o que saiu.
Até a próxima!



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