Isso não é Romeu e Julieta escrita por Lady Black Swan


Capítulo 1
Às vezes o amor vem predestinado...


Notas iniciais do capítulo

Bem vindos!



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Todos os dias cerca de 211.000 novas vidas vêm ao mundo, portanto não é uma grande coincidência que uma menina e um menino possam nascer no mesmo dia e no mesmo hospital… mas certamente é uma coincidência muito peculiar que uma Julieta e um Romeu nasçam no mesmo dia, e quase na mesma hora, no mesmo hospital.

Ah sim, e por acaso o dia em que nasceram Romeu e Julieta foi 12 de junho: O dia dos namorados.

Simples coincidência? Ou destino?

Seria esse, talvez, um amor predestinado?

Essa foi a história que Valerie escutou de uma entusiasmada enfermeira novata ao ir visitar sua primeira sobrinha no hospital.

—Então há um Romeu nesse mesmo hospital? — perguntou sorridente.

—E por pouco não nasceram na mesma hora, também! — contou-lhe a enfermeira — Mas o menino, nosso Romeu, veio treze minutos antes dela!

Aquilo fez Valerie rir, mas também lhe deu inspiração para algo, ela estava terminando seu curso de fotografia e tinha uma câmera novinha em casa, havia inclusive feito o ensaio de grávida de sua cunhada, então por que não fazer um ensaio fotográfico com os bebês?

Primeiro falaria com Maria Alice, e depois procuraria a mãe de Romeu, mas desde que as famílias não se convertessem em inimigos mortais como os Capuleto e os Montecchio, certamente não haveria grandes problemas… e felizmente as mães adoraram aquela ideia de tal forma que mal conseguiam expressar, pois já haviam descoberto sobre o bebê uma da outra no mesmo dia em que nasceram e encantadas não perderam tempo em se conhecerem e tornarem-se amigas, as duas estavam em quartos separados, mas Romeu e Julieta haviam sido postos em berços vizinhos no berçário, e uma semana mais tarde foram também levados ao “estúdio” de Valerie para fazer seu ensaio fotográfico, fotos essas que foram emolduradas e espalhadas pelas casas de ambas as famílias, que se tornaram muito próximas enquanto Romeu e Julieta cresciam inseparáveis.

Eles estudaram juntos desde o jardim de infância, aprenderam a andar de bicicleta juntos quando tinham cinco anos e fizeram aula de natação juntos aos nove, embora Julieta tenha largado as rodinhas mais de meio ano antes de Romeu, e uma vez quase tenha se afogado porque achou que depois de três aulas já era uma excelente nadadora e pulou na parte mais funda da piscina, restando assim a Romeu jogar-lhe uma boia salva vidas enquanto gritava até que um adulto viesse — mas quando a instrutora chegou Julieta já havia conseguido chegar à beira da piscina, graças à boia que Romeu lhe jogou.

E sendo tão próximos desde o nascimento, não foi de se estranhar quando Romeu foi o primeiro a notar a mancha clara que começou a surgir na pele de Julieta:

—Julys, o que é isso no seu braço?

—O que? Onde? — Julieta ergueu ambos os braços.

—Aqui atrás. — Romeu pegou seu pulso direito e o ergueu — Bem debaixo do seu cotovelo.

A mancha tinha um formato irregular muito semelhante ao mapa da Oceania e não era maior do que uma moeda de R$ 1,00, mas ainda assim mostrava-se claramente demarcada contra a pele marrom da menina.

—Não sei. — a garota respondeu.

Romeu pressionou a ponta do polegar ali.

—Dói?

—Não.

—Coça?

—Acho que não… um pouco, eu acho.

Ele soltou-a.

—Talvez seja uma marca de nascença?

Julieta fez uma careta.

—Ela não estava aí ontem. — argumentou.

Mas por fim os dois acabaram por deixar aquele assunto de lado.

No entanto aquela mancha foi apenas a primeira, pois naquele mesmo dia Julieta também notou uma segunda mancha surgindo em seu calcanhar esquerdo, e mais outra na lateral esquerda de suas costas à altura da cintura — essa última era a maior de todas, pois já era maior que sua própria mão — o que estava acontecendo? Nenhuma daquelas manchas estava ali até o dia anterior.

E quando sua mãe a foi pentear e notou a pequena mancha localizada no lado esquerdo de seu pescoço, na curva do ombro, e lhe perguntou sobre aquilo Julieta mostrou-lhe também as outras manchas, e tão logo Maria Alice reconheceu do que aquilo se tratava, ela puxou a filha para si e abraçou.

Dias mais tarde o diagnóstico médico foi simples e direto: Vitiligo.

Uma doença de pele sem causa conhecida e não contagiosa que causa a perda gradativa de pigmentação, a doença possui um avanço completamente imprevisível e pode afetar qualquer parte do corpo, inclusive cabelos, interior da boca e olhos, mas embora não ofereça riscos diretos à saúde, o vitiligo também não possui cura.

As manchas de Julieta seguiram, crescendo e se alastrando, até que não passasse despercebida a mais ninguém que a visse, as pessoas se distanciavam dela na rua, olhavam-na e comentavam indiscretas, na escola aos poucos a apontaram, e isolaram, e não demorou a que rissem e lhe caçoassem também, chamaram-na “Nescau mal mexido”, “malhada”, “retalhos”, e muitas coisas mais, até que por fim Julieta deixou de ir à escola, trancou-se em seu quarto e não houve quem a pudesse tirar de lá.

—A escola tem sido muito difícil para ela, embora não tenha conseguido que me dissesse muita coisa. — lamentou-se Maria Alice à sua cunhada.

—E quanto ao acompanhamento psicológico? — Valerie questionou torcendo a trança entre as mãos — Quando vai começar?

Maria Alice hesitou.

—Logo.

—Logo?! — Valerie arregalou os olhos — Por Deus, Maria Alice! O que você e meu irmão estão esperando ainda? Já faz quase um ano que minha sobrinha recebeu o diagnóstico e o médico os avisou que um acompanhamento psicológico lhe seria muito importante...!

—Eu sei! — Maria Alice exclamou pondo a cabeça entre as mãos — Mas André foi contra! “Ela não precisa dessa baboseira” ele disse, “o tratamento vai fazer as manchas sumirem” ele disse! E agora o que quer que eu faça se nem sequer a podemos tirar do quarto?!

Valerie suspirou.

—Benji está muito preocupado com Julieta também, ele queria vir, mas eu achei melhor…

As duas calaram-se ao ouvirem a campainha e Maria Alice apressou-se a ir ver de quem se tratava.

—Como está Julieta? — Vanessa perguntou já entrando — Romeu me contou o que aconteceu ontem na escola, e que ela não foi à escola hoje.

—O que aconteceu na escola?! — Maria Alice agarrou a amiga pelos ombros — Vanessa diga-me logo, Julieta não me diz nada! Ela trancou-se no quarto e se recusa a ver qualquer pessoa...!

E estava tão absorta que nem sequer deu-se conta de que a amiga não havia chegado sozinha: Trazendo o violão do pai, Romeu esgueirou-se por de trás das duas mulheres e correu ao quarto de Julieta, bateu ali apressadamente, mas para a sua surpresa a porta encontrava-se destrancada.

—Julys? — sussurrou abrindo a porta.

Mas apenas o silêncio e a completa escuridão o receberam.

—Julys? — chamou novamente, arriscando-se um passo adentro e fechando a porta atrás de si.

Já havia estado naquele quarto uma centena de vezes antes, mas nunca antes o havia visto tão escuro, nem mesmo quando dormia ali, pois Julieta sempre mantinha uma luz noturna ligada próxima à sua cama.

—Julys? — cuidadosamente ele começou a tatear seus passos através da penumbra até a janela do outro lado do cômodo, onde abriu as cortinas para que a luz entrasse e só então se virou a procurando — Julys eu fiquei preocupado, eu… trouxe o violão do meu pai…

—Vá embora Romeu.

A voz abafada de Julieta respondeu por fim, embora Romeu não a visse em lugar nenhum.

—Julys? Onde você está? — Não houve resposta. — Hum… eu aprendi uma canção nova. — contou olhando ao redor, ainda a procura dela — E pensei que talvez…

—Não quero ouvir música nenhuma. — Julieta respondeu novamente.

E Romeu franziu o cenho deixando o violão de lado, pois havia tido a impressão de que Julieta estava lhe respondendo de debaixo da cama.

—E o que quer fazer? — perguntou se aproximando com cuidado.

—Quero ficar sozinha. — ela soluçou.

Romeu ajoelhou-se ao lado da cama e abaixou-se para olhar ali debaixo.

—Não quer sair daí? — perguntou compassivo.

—Não! — Julieta sacudiu a cabeça afundando o rosto sobre seus braços cruzados sem sequer lhe dirigir o olhar — Quero ficar aqui para sempre!

E assim permaneceu até que, surpresa, foi empurrada para o lado enquanto Romeu também se arrastava para debaixo da cama e tomava lugar ao seu lado.

—O que está fazendo? — perguntou boquiaberta.

Romeu ajeitou-se ao seu lado.

—Se está dizendo que vai ficar aqui, então vou ficar com você. — declarou passando delicadamente o braço em volta de seus ombros e a aproximando mais de si.

E fungando Julieta se recostou mais a Romeu… pois às vezes o amor já lhes vem predestinado.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem!



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