No spoilers, please escrita por Foster


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Oieee!
E cá estou com minha última contribuição para o Junho Scorose 2021! Obrigada à Tahii e Miss A que idealizaram esse projeto lá em 2020, já quero o Junho Scorose em 2022 ♥ Obrigada à Trice que betou e me tranquilizou sobre a história e também à Tahii, que também leu ♥
Essa fic é uma farofa que só, surgiu quando eu escutava "I love you 3000", da Stephanie Poetri (https://www.youtube.com/watch?v=2z5un3c8hbo). A fic não segue a letra da música (mas estou com planos pra uma, talvez kaka), mas é fofa então recomendo escutarem!
Espero que gostem ♥



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29 de abril de 2019

16h23

Rose não sabia exatamente quando sua vida havia se tornado um filme de comédia - e Deus que a protegesse, porque parecia que era uma comédia romântica -,  mas não tinha muito tempo para pensar profundamente a respeito. Afinal, estava correndo pelas ruas de mãos dadas com seu melhor amigo, Scorpius Malfoy, falhando miseravelmente em passarem despercebidos na multidão, já que ele possuía uma enorme mancha de sorvete de morango na roupa e ela algumas pipocas enroscadas no cabelo. 

Cada vez mais afastados do cinema em que uma sequência digna de um framboesa de ouro de tão escrachada e patética se desenrolou, Rose conseguia sentir seu estômago se afundar enquanto tentava decidir o que era pior: 1) perder a exibição de Vingadores: Ultimato, pela segunda vez e ter que ficar à mercê dos spoilers novamente, ou; 2) nunca mais poder retornar naquele cinema depois de terem causado um escândalo, ou; 3) ter que olhar para a cara de Scorpius Malfoy assim que parassem de correr, enfrentar a realidade de que haviam se beijado e responder à pergunta que ele havia feito. 

Mas, antes, era necessário voltar um pouco mais cedo naquele mesmo dia e entender como diabos ela havia se enfiado naquela situação.

 

29 de abril de 2019

15h37

Rose estava irritada o dia inteiro. Bom, se fosse considerar há quanto tempo estava irritada, teria que admitir que já fazia algumas semanas. Mas, parando para pensar de verdade a respeito, talvez ela estivesse irritada desde que se entendia por gente. E a culpa era totalmente dele

Ser melhor amiga de Scorpius Malfoy desde o jardim de infância havia sido inevitável, para o desespero de seus pais, que nunca foram com a cara um do outro para começo de conversa. No entanto, quando se estudava na mesma escola, ainda mais sendo vizinhos de apartamento e tendo os mesmos amigos, ficava difícil não se aproximar com a convivência e, no caso deles, desenvolver uma amizade extremamente forte. Nada além disso, em hipótese alguma, evidente.

Apesar do laço de anos, Rose precisava admitir que não era fácil ser amiga de Scorpius, ainda mais naquele dia em específico, em que parecia que ele estava se esforçando mais do que o normal para irritá-la, como se os dois tivessem sete anos de idade novamente. 

A ruiva já estava pronta há quinze minutos e nada do energúmeno aparecer. Astoria Malfoy havia passado pela sala umas quatro vezes oferecendo água, café e pedaços de bolo para tentar acalmá-la, sem sucesso. Todos sabiam que, quando Rose e Scorpius estavam se provocando, não havia muito o que pudesse ser feito e, naquele momento, o loiro estava se atrasando de propósito, apenas para torturar a amiga, o que abria margem para uma pequena guerra em que tréguas não seriam cogitadas.

 Draco Malfoy, que estava sentado numa poltrona fazendo algumas anotações em seu tablet, suspirou pesadamente quando a voz de Scorpius soou estridente do banheiro ao som de “Hopelessly devoted to you” em plenos pulmões. 

Rose teria rido em outras ocasiões e cantarolado junto, pois era tão fã de musicais - em especial Grease, embora considerasse as músicas muito melhores que a narrativa em si do filme em questão, por conta do final que ela particularmente reputava detestável, em uma discordância nada fora do normal com Scorpius - quanto o loiro, mas como no momento estava querendo matá-lo, a cantoria não ajudava a acalmá-la em nada, pelo contrário, apenas a deixava mais propensa a perder seu réu-primário. Olhando em retrospecto, ela sequer fazia ideia de como ainda não havia perdido-o.  

— Quando os filhos vão para a faculdade nós esperamos que eles voltem mais maduros e deixem de lado as palhaçadas da juventude — Draco comentou, encarando Rose por cima dos óculos quadrados. — Você tem alguma ideia de em que momento Scorpius se perdeu e voltou a ser quem era com dezoito anos? — um grito estridente e longo concluiu a performance de Scorpius, apenas para dar início a “You’re the one that I want”, e o patriarca balançou a cabeça negativamente. — Desculpe, eu disse dezoito? Quis dizer dez anos. 

Rose, embora repleta de raiva, precisava ser justa. Scorpius havia amadurecido muito desde que entraram na faculdade, mesmo que seu comportamento naquele dia fosse totalmente contraditório. Ele estava prestes a se formar em jornalismo, estagiando para um famoso site de cultura pop,  o Hoggy’s, para o qual escrevia e fazia vídeos-resenhas, com potencial de efetivação assim que possível e, até mesmo, algumas propostas de outros veículos. Com tudo isso, a vida que ele levou durante o primeiro ano do curso, com festas todas as semanas e assistindo a algumas aulas de ressaca, foi se esvaindo aos poucos. Foi uma grande surpresa, tanto para Rose quanto para Albus, que demoraram um pouco a diminuir o ritmo universitário desregrado e a focar mais na carreira profissional - ela, conseguindo um trabalho em uma editora e ele, criando animações de maneira independente. 

No entanto, Scorpius possuía um pequeno problema: quando voltava para a casa dos pais - como era o caso daquele final de semana em específico, para o aniversário de Astoria -, sua versão adolescente retornava, e situações como a do atraso proposital aconteciam com mais frequência que o considerado adequado. E a enlouqueciam de forma absurda. 

Antes que Rose pudesse responder a Draco, no entanto, Scorpius passou pela sala apenas de toalha, ainda cantarolando “You’re the one that I want”, enquanto caminhava até a geladeira. Os três observaram com incredulidade ele levar uma vida para procurar o que quer fosse o que estivesse procurando, até fechar a porta da geladeira, virar-se e falar com a maior naturalidade.

— Oh, Rose, você está aí? 

Com o rosto assumindo um tom escarlate, como sempre ficava quando estava estressada, Rose levantou do sofá em um pulo, marchando até Scorpius, usando a bolsa que carregava para bater nas costas dele e conduzi-lo para o quarto enquanto o xingava. 

— Seu ridículo, eu te odeio, sabia? Vai logo colocar a porcaria de uma roupa ou eu juro que mato você. 

— Ai, Rose, calma! Calma! Foi só uma brincadeirinha, eu já estava indo me trocar! — tentou se explicar ao passo que protegia a cabeça dos golpes. 

Astoria controlava o riso e Draco balançava a cabeça negativamente, lançando um olhar desgostoso para a mulher:

— Acho que perdemos a Rose em algum ponto também. Coitado do Weasley. 

 

 

— Rose, eu já pedi desculpas — Scorpius tentava se explicar de novo ao dirigir o carro lentamente, acompanhando os passos apressados de Rose, que tinha decidido sair sem ele e caminhar até um ponto de ônibus. — Entre no carro, não posso andar tão devagar nessa rua.

Seu orgulho gritava para que não entrasse no veículo, porque Scorpius tinha um maldito sorrisinho de lado no rosto, indicando que, no fundo, estava se divertindo com aquela situação. Além do mais, ele sabia o quão aquele dia era importante para ela e estava fazendo pouco caso. Porém, ela também sabia que, se fosse de ônibus, além dos trailers— que amava ver -, corria o risco de perder também os cinco primeiros minutos do filme ou até mais. E, como se tratava de Vingadores: Ultimato, qualquer segundo perdido era um risco enorme - como bem soube desde que o filme foi lançado e, infelizmente, não havia conseguido assistir. 

Rose já tinha visto pelo menos três spoilers grandes na brincadeira ridícula do twitter de “spoiler sem contexto” - que de fora de contexto não tinham nada, já que a maioria dava dicas bem óbvias - e visto um gif ou outro do filme. Por mais que silenciasse as palavras e tivesse parado de seguir contas que, com certeza, comentariam sobre o filme, as informações estavam em todos os lugares. 

Ale´m disso, ainda tinha o fato de que, caso chegasse à pé ao cinema, as chances de pegar spoilers na saída seriam bem maiores do que se fosse de carro. Por isso, querendo morrer por dentro e tentando manter uma pose plena por fora, Rose suspirou e parou de andar, fitando Scorpius - que tinha um sorriso de canto idiota ao perceber que ela cederia. 

Se fosse qualquer outro filme, ela não daria esse gostinho a ele.

— Só porque você se manteve fiel a nossa tradição e vai ser o único a assistir o filme comigo. 

Em partes era um pouco verdade, ainda que a questão dos spoilers a caminho tenha pesado. Ela, Scorpius e mais alguns amigos possuíam o costume de assistirem juntos a todos os filmes da Marvel que tinham sido lançados desde o primeiro Homem de Ferro. Na época, foi por puro acaso: era aniversário de Scorpius e todos preferiram assistir ao DVD que Draco havia acabado de comprar - e que, evidentemente, foi parar direto na coleção de repeteco de Scorpius. Quando o segundo filme foi lançado, dois anos depois, ele despretensiosamente convidou quem havia assistido o primeiro em sua casa para irem ao cinema e, assim, começaram uma tradição. Iam quando dava, às vezes semanas depois do lançamento, até 2012, com o primeiro Vingadores e um mar de spoilers.

Desde então, o grupo havia combinado de, não importasse o que, veriam os filmes na estreia ou, no máximo, na mesma semana. E estavam conseguindo, na medida do possível, fazer isso, embora alguns membros do grupo acabassem se afastando e outros entrassem no lugar. Filmes mais importantes, como os dos Vingadores, eram sagrados. Assim, Rose ter perdido a estreia do último filme de os Vingadores— o evento da década para ela, para seu grupo de amigos e para boa parte do mundo - havia sido devastador. Ela não teve escolha, porque estava presa na Romênia por conta de problemas com documentos perdidos durante a visita que fez ao seu tio Charlie durante suas férias e jamais iria assistir por lá sem eles. Rose não recebeu a mesma consideração por parte dos amigos, mas não podia exatamente julgá-los, pois estava sendo um horror assistir com atraso. 

— Vou rever — Scorpius corrigiu com um sorrisinho que a fez querer socá-lo — Pela terceira vez, diga-se de passagem. 

— Você vai ser o pior tipo de jornalista, sabia? — Rose resmungou enquanto entrava rapidamente no carro para, enfim, irem ao cinema. — Tem acesso antecipado e fica usando isso para torturar os outros. Ridículo. 

— Eu faço um jogo psicológico e você cai, simples — ele deu de ombros, passando a mão nos cabelos ainda molhados. 

Rose tentou esconder um sorriso ao ver que ele vestia uma camiseta do Homem de Ferro, que havia sido presente dela, pois ela mesma usava um presente dele: uma camiseta do Homem Formiga e da Vespa, por ser seu filme favorito da franquia, como amante de comédia que era - mesmo que o posto tivesse quase sido tomado por Thor: Ragnarok

— Você é péssimo e todo seu fandom na internet concorda. 

Rose ainda estava indignada com a quantidade absurda de seguidores que o amigo vinha ganhando desde que começara a apresentar os vídeos sobre filmes e séries no Hoggy’s. O que mais tinha eram comentários nas fotos dele chamando-o de lindo ou, vez ou outra, ofendendo-o por alguma opinião controversa, o que ele amava fazer, diga-se de passagem. Até mesmo Rose estava sendo alvo de alguns fãs malucos, que encontraram o perfil dela e comentaram em algumas fotos dos dois, questionando se eles eram namorados. 

A suposição, é claro, acabou virando uma piada interna entre os dois, que se viam constantemente comentando as coisas um do outro como se, de fato, fossem um casal, alimentando a fanfic das autodenominadas scorsetes. Desde então, a própria Rose começou a ganhar seguidores e, quando menos esperava, estava postando sobre seu dia nas redes sociais mais do que costumava fazer, algumas vezes até arriscando algumas publicações de looks

Eventualmente, as coisas começaram a sair de controle, com ambos precisando esclarecer aos pais de que tudo não passava de uma piada, especialmente após o surto de Ronald com uma ligação de quase uma hora ao entrar em pânico com a notícia falsa do namoro. Scorpius apenas ria, dizendo que, eventualmente, os boatos parariam. O problema era que não pararam, culminando em acontecimentos confusos há exatamente um mês. 

 

29 de março de 2019 

11h27

— Hm, Rose? — Lorcan Scamander, designer na editora em que Rose trabalhava, aproximou-se um tanto quanto hesitante da mesa dela, que prontamente abriu um sorriso, empertigando-se na cadeira. 

Há meses ambos estavam em um jogo de flerte na sala do café, dedicando os quinze minutos diários a compartilharem histórias, indicarem filmes e músicas um para o outro e rirem dos vídeos virais da semana, que Lorcan sempre salvava no celular e, vez ou outra, mandava para ela fora e durante o expediente. 

Finalmente ela havia tomado a dianteira e o convidado para sair. Embasbacado, mas genuinamente feliz, Lorcan respondeu que sim, porque estava querendo fazer aquilo há muito tempo, só lhe faltava coragem. Rose achou a coisa mais adorável do mundo e estava contando os dias para sair com ele. 

O dia do encontro havia chegado, iriam a uma exposição de arte e depois jantariam em um bom restaurante. O restante da programação não havia sido combinado, porém, se tudo corresse bem, Rose não hesitaria em convidá-lo para sua casa ou em aceitar o convite dele. Se havia algo sobre Rose era que ela era uma pessoa com iniciativa. Sempre foi e sempre seria. Às vezes, toda essa atitude assustava, mas na grande maioria das ocasiões, impressionava. Por isso, não tentava ser outra coisa além de sua melhor versão. Não ligava para o que suas tias iriam achar ao saber que ela usaria um vestido rosa com estampa de morangos com uma lingerie sexy por baixo, pensando em transar com um cara no primeiro encontro. Ninguém nunca a impedia de fazer nada que ela queria.

Pelo menos até agora.

— Oi, Lorcan! — falou animada, embora estivesse percebendo que a feição do loiro não era exatamente promissora. — Hm, tá tudo bem? 

— Essa semana não nos falamos direito depois que combinamos o encontro… — ele parecia procurar as palavras certas, como se estivesse sendo uma tortura ter aquela conversa. Rose sentia o estômago acidificar. Ele iria cancelar o encontro? Por Deus, se ele ao menos tivesse feito isso antes dela aceitar o maldito cupom de Dominique para aquele abatedouro que a prima chamava de clínica de depilação. Onde estava com a cabeça para fazer aquilo? Uma vez para nunca mais, isso era certo. 

— Sim, é verdade, as coisas ficaram uma loucura com o atraso dos lançamentos, não é? — tentou sustentar o tom amigável e não deixar sua mente fantasiosa começar a trabalhar em cima dos motivos pelos quais Lorcan estaria cancelando o encontro. Havia sido um imprevisto familiar? Ele havia se arrependido? Ela entendeu os flertes de maneira errada? Oh, céus, por que ele simplesmente não desembuchava ao invés de ficar brincando com a maldita caneta enquanto parecia ter se esquecido de como articular palavras?

— Você ainda vai sair comigo? Mesmo com… Você sabe… 

Rose piscou uma vez.

Piscou duas. 

— Com o quê?

— Você namorando o Malfoy… Bem, não sei se isso é recente ou não, se vocês estão em um relacionamento aberto ou o quê. Só que eu realmente não queria ir a um encontro com você se esse for o caso, porque sério, Rose, eu gosto mesmo de você e não sei se conseguiria entrar numa espécie de relacionamento a três ou coisa do tipo. Quero dizer, não que você seja obrigada a me corresponder e a iniciar um relacionamento comigo, é claro, até porque aparentemente você já está em um. E não que nosso encontro necessariamente também vá resultar em um namoro, afinal precisamos ver se nossa química chega no campo físico da coisa. Não que eu esteja me referindo a sexo, quis dizer beijo. Mas também não precisamos nos beijar nesse encontro, você que sabe. Ah e também não que não vamos transar, quero dizer, só se você quiser, é claro. E precisamos considerar qu-

— Espera — Rose quase implorou, sentindo o cérebro entrando em combustão com tantas informações de uma só vez. Para quem parecia incapaz de formular palavras até um minuto atrás, Lorcan parecia ter muita coisa a dizer e estava metralhando-a com rapidez.

O rapaz inspirou fundo, retomando o ar após tanto tempo falando coisas quase desconexas, enquanto Rose travava o maxilar. 

Era óbvio que essa história não iria morrer tão cedo, Scorpius era um idiota de supor que a internet esquecia as coisas. Era claro que certos assuntos recebiam menos atenção depois de algum tempo, mas ela ainda recebia comentários sobre ser a namorada do Malfoy mesmo tendo parado de comentar nas fotos deles há semanas. Lorcan, de certo, deve ter visto alguns desses comentários e tirado conclusões - totalmente com fundamentos, por conta da brincadeira idiota dos dois. 

Por isso, Rose deu seu melhor sorriso para Lorcan, tranquilizando-o. Achava o rapaz um fofo, o que havia se intensificado após o discurso acelerado dele e definitivamente ela não queria mais que aquela fanfic mirabolante ficasse no meio do caminho. 

— É só uma brincadeira entre nós porque os fãs dele juram que somos um casal. Encenamos algumas coisas, mas já faz um bom tempo que paramos. 

— Eu talvez tenha stalkeado algumas fotos antigas — Lorcan admitiu, passando a mão pela nuca e Rose sorriu. — Mas vi um comentário dele na foto que você postou hoje de manhã e… Bem, o que mais eu poderia pensar?

Rose franziu o cenho, procurando imediatamente o celular que havia deixado de lado por toda manhã, já que possuía um número absurdo de papelada para preencher pelo atraso nas impressões. 

A foto em questão era da roupa que Rose havia escolhido: da cintura para cima, vestia uma blusa de gola alta branca e um blazer preto, além de ter o cabelo preso em um coque. Na sequência, uma foto da cintura pra baixo, com sua calça de girassóis e sapatos amarelos. As publicações em que ela fazia contrastes como aqueles sempre rendiam um engajamento muito alto e, para variar, a leva de scorsetes sempre comentavam algumas coisas. 

Rolando suas notificações, Rose viu que Scorpius estava respondendo a vários comentários. Clicou para ver um por um e as respostas deles.

 

laneenal00: não me admira o malfoy ter se apaixonado!!! que mulher

scorpiusmalfoy: tenho sorte pra caramba mesmo

.

lil_annie: esse tipo de look não te favorece em nada. talvez se você perdesse uns dez quilos, quem sabe

scorpiusmalfoy: esse tipo de comentário não agrega em nada, além de ser ridículo e enojante. talvez se você fosse mais educada e menos preconceituosa, não receberia uma notificação judicial por ataque virtual :)

laneenal00: SCOROSE VIVÍSSIMO, SCORPIUS PERFEITO DEFENDENDO O MOZÃO, O CHUTE NA HATER DESGRAÇADA

geekmary: a rose é linda e o scorpius um fofo defendendo em todos os comentários. ninguém precisa de comentários tóxicos por aqui @lil_annie, vaza daqui e melhore

.

sophieee_: que poder! muito pepper potts vibes na primeira foto e muito rose weasley na segunda!!! 

scorpiusmalfoy: prazer, iron man!

 

O comentário com referência a Tony Stark e Pepper Potts era um dos mais curtidos e Rose não sabia onde enfiar a cara ao ler tantos surtos. Por que diabos Scorpius precisava ser famosinho e ter arrastado ela para o meio daquilo? Claro que ela vinha adorando as interações, porque muitos dos fãs eram realmente fofos e super comunicativos, no entanto, naquela leva vinham alguns haters, que Rose sempre fazia questão de ignorar, limitando-se a apagar o comentário e bloqueá-los, afinal, nem sequer os conhecia e estava bem com seu corpo. Não precisava desse tipo de toxicidade em sua rede social e muito menos levar isso para sua vida pessoal. Estava pouco se lixando se suas escolhas de roupas pareciam excêntricas ou se “ficariam melhores em corpos mais magros”. Sentia-se linda e não eram meras haters que estragariam sua felicidade.  

A questão era que ela não gostava quando Scorpius inventava de responder prometendo processos, porque isso sempre acabava se desenrolando de uma forma nada saudável, com mais xingamentos envolvidos, embora, no fundo, gostasse da proteção do amigo. No começo do sucesso dele, Rose passava horas nos comentários do vídeo retrucando todo e qualquer hater que surgisse. Agora, já não se preocupava tanto, considerando que os próprios fãs davam conta do recado por ela. 

Fora que, de todas as maneiras, ela e Scorpius haviam combinado de deixar aquela história morrer, e ele respondendo aos comentários não era a melhor forma, muito pelo contrário. Não era de se estranhar que Lorcan estivesse inseguro com aquela situação. 

Por isso, Rose garantiu a Lorcan que aquilo não se passava de uma tática protetiva de Scorpius e certificou-se de que o encontro deles estava de pé. Antes, no entanto, ela iria acabar com aquela história de namoro de uma vez por todas. 

— Scorpius, vamos almoçar juntos em trinta minutos no restaurante de sempre. É bom que esteja lá — mandou um áudio rápido, checando o relógio e resolvendo acelerar suas demandas. 

Só retornou a pegar o celular quando já estava saindo para o restaurante de comida árabe que ficava bem localizado entre o trabalho dela e de Scorpius, a mais ou menos oito minutos de caminhada para os dois. Scorpius havia mandado vários áudios de poucos segundos, que a enlouqueciam. Ele parecia incapaz de mandar tudo que precisava dizer em um áudio só e o mesmo acontecia com mensagens. Sempre que ela lhe fazia uma pergunta, recebia uma metralhadora de respostas curtas, que poderiam facilmente ser reduzidas a uma frase de duas linhas. 

Enquanto andava a passos rápidos pela calçada, Rose foi escutando os áudios, que eram basicamente variações dos surtos do rapaz:

 

“Bom dia para você também, lindeza!”

“Nossa...”

“Por que sinto que estou encrencado?”

“Não é nada demais, é?”

“Rose, você não pode soltar uma bomba assim”

“Do nada, cara…”

“Tem relação com os comentários da foto?”

“Rose, você é linda, sabe disso né?”

“Não preciso te dizer isso sempre, você tem espelho em casa”

“Eu sei que você não gosta que eu responda, mas porra…”

“Rose…”

“Rooooose”

“Ok, você está brava comigo”

“Sei o que fazer pra você me desculpar”

“Me aguarde”

 

Riu consigo mesma ao guardar o celular depois de ouvir toda aquela sequência de áudios. Tinha certeza de que ele se atrasaria um minuto ou dois porque, se iria se desculpar com ela, usaria a tática clássica que combinaram aos dez anos de idade. Sempre que um magoava o outro, era quase uma obrigação trazer uma bala de alcaçuz e um bilhete. Ao decorrer dos anos, os dois perderam as contas de quantas balas e bilhetes foram trocados, porque acabaram banalizando um pouco o significado apenas como desculpa para os doces e mensagens engraçadinhas. 

Ao chegar no local de sempre, cumprimentou os funcionários com um largo sorriso e se dirigiu até a mesa que costumavam escolher. Pediu uma água com gás para si e uma soda italiana para Scorpius. Sempre começavam as refeições assim antes de pedirem qualquer coisa. Em menos de três minutos Scorpius surgiu, com a respiração entrecortada, e duas balas de alcaçuz em uma mão, enquanto na outra segurava um bilhete em um papel azul. 

— Ok, primeiro isso, pra ir amolecendo o seu coração — ele estendeu a bala e, assim que Rose a pegou, Scorpius acomodou-se de frente para ela. — Não me bata depois de ler o bilhete.

Se é um bilhete de desculpas, não deveria me motivar a te detestar ainda mais, não é? — questionou com a sobrancelha arqueada, enquanto mordiscava o doce. Scorpius assentiu, entregando o papelzinho a Rose. 

 

“Claramente eu não sou o herói típico… É clichê usar uma citação do seu primeiro herói favorito para esse bilhete? Talvez. Mas espero que isso seja o suficiente para me desculpar por ter agido no calor do momento e não o propulsor para você me bater e me chamar de presunçoso por me comparar ao Tony Stark. Só quero que fique claro que eu não ligaria de bancar o Homem de Ferro por você quantas vezes fossem necessárias.”

 

Ao terminar de ler, Rose ergueu os olhos, um tanto quanto atordoada e Scorpius logo se apressou em esclarecer:

— Você é minha melhor amiga. Não podia ver aquele comentário ridículo e ficar quieto. Foi mais forte do que eu. 

— Tudo bem, Scorpius, eu sei exatamente como é. Acho que também ativo meu lado de heroína quando se trata de você — ela fez uma careta ao se lembrar que chegou a derrubar a conta de um hater dele por isso. Scorpius riu alto com a lembrança, jogando a cabeça para trás. O garçom se aproximava com as bebidas que Rose havia pedido.

— A presidente do meu fã clube mal sabe que minha fã mais empenhada é você. 

Era — ela corrigiu, recostando-se mais na cadeira e erguendo o dedo. — Ando muito ocupada e as scorsetes dão conta do trabalho. Até demais, eu diria. E é por isso que eu queria falar com você.

— Rose, eu falei sério sobre as medidas legais. As pessoas que dizem gostar do meu trabalho não podem simplesmente ir no seu perfil falar merda — Scorpius agora estava sério, olhando com intensidade para Rose. — Vou dar um jeito de acabar com isso tudo, sério. 

— Não tem como controlar ataques online, Scorpius — Rose deu um sorrisinho de lado, bebericando sua água. — Mas agradeço sua preocupação, mesmo — ela alcançou a mão dele que estava estendida sobre a mesa e a segurou com força. Os olhos cinzentos de Scorpius caíram sobre os dedos, agora entrelaçados. — Eu queria falar, na verdade, para acabarmos de vez com essa história de namoro. Eu sei que muitas pessoas já sabem que é ironia e tudo o mais, mas muitos acreditam nisso de verdade, e seus comentários não estão exatamente colaborando… 

— Bem, eu não resisti — ele deu de ombros, voltando a sustentar o olhar de Rose. — Você é linda. E estilosa. Talvez eu tenha me empolgado no papel de seu namorado de mentirinha, mas não é de surpreender, qualquer um ficaria rendido tendo você como namorada — Rose precisou de alguns instantes para processar aquela declaração, que parecia ter um peso maior pelo fato de estarem de mãos dadas.

Como se percebessem exatamente ao mesmo tempo, Rose e Scorpius soltaram os dedos, mas ainda mantendo as mãos se tocando levemente. O olhar dele parecia ansioso pelo rumo da conversa e Rose não tardou a preencher o silêncio opressor que se formava entre eles, afinal ela própria não aguentaria sustentar aquilo por muito tempo. Havia sido um momento… intenso. 

— Se eu tivesse um fã clube, o presidente iria morrer de ciúmes do quão você é empenhado em me enaltecer — o comentário foi o suficiente para reestabelecer o clima leve, tão logo Rose e Scorpius compartilhavam sorrisos enquanto o garçom se aproximava para anotar o pedido clássico de ambos para a entrada: falafels, kibe cru, pão sírio, babanagush, homus e coalhada seca.

— Você queria falar sobre outra coisa? — Scorpius questionou quando o garçom se afastou e Rose empertigou-se, desejando não estar com a mão tão próxima da dele por algum motivo que não compreendia. Por isso, fez que ia tomar mais um gole da bebida e depois passou a tamborilar os dedos na mesa.

— Bem, sim e não. É meio que sobre isso. Os comentários fizeram o Lorcan achar que estamos namorando e isso quase estragou meu encontro de hoje a noite. 

Scorpius piscou uma vez.

Piscou uma segunda vez.

Empertigou-se na cadeira e franziu o cenho.

— Desde quando você vai sair com o Lorcan?

Foi a vez de Rose franzir o cenho.

— Eu jurei que tinha te contado que convidei ele pra sair no começo da semana. 

Você o convidou? — agora ele tinha as sobrancelhas erguidas. Rose revirou os olhos. — Ele te cozinhou esse tempo todo e não teve a decência de te convidar? 

— Ele é tímido — ela esclareceu, mas Scorpius parecia genuinamente indignado.

— E ele ainda se sente no direito de te questionar com quem você está saindo ou não?

— Scorpius, não tenta fazer disso uma coisa que não é. Não é nada disso que você está pensando. 

— Claro que não — ele murmurou, parecendo um pouco irritado.

Rose sabia que Scorpius sabia ser excessivamente protetor quando se tratava de amizades e com ela não era diferente - na realidade, era até pior. Ela se lembrava de Scorpius dando um soco na cara do ex-namorado de Albus ao pegá-lo em flagrante traindo o amigo. Vários pretendentes dela também já receberam alguns ultimatos por parte dele. E era o mesmo com as namoradas interesseiras de Anthony Zabini ou os idiotas que Dominique namorava. Por esse motivo, Rose demorou a falar de Lorcan. Na realidade, teria mantido segredo por muito mais tempo se Scorpius não tivesse percebido todos os sinais de que ela estava de rolo com alguém, afinal sorrisos e o celular apitando a cada cinco minutos eram fortes indícios. 

Desde então, vinha acompanhando as reações de Scorpius às interações que ela tinha com Lorcan no trabalho e sempre notava o olhar silencioso de repreensão. Scorpius não achava que Lorcan merecia Rose por estar demorando tanto para tomar uma atitude, mas Rose achava uma bobagem. Lorcan e ela tinham um ritmo próprio, diferente dos relacionamentos express que Scorpius cultivava e que sempre costumavam acabar tão rápido como começaram. 

— Não preciso desse seu olharzinho julgador hoje. Amanhã podemos nos encontrar e eu faço você engolir tudo o que você disse sobre o Lorcan — de maneira infantil, Rose lhe deu a língua e os olhos de Scorpius voaram para cima dela. 

— Amanhã? Você não vai me ligar para contar hoje a noite?

— Scorpius… Não seja ingênuo — Rose deu de ombros, sorrindo de canto e surrupiando o copo de soda italiana de maçã verde dele para dar um gole. — Além do mais, eu sei me virar muito bem, não preciso do seu discurso protetor mais uma vez. Caso tenha se esquecido, tenho uma taxa de sucessos em relacionamentos bem mais alta que a sua. E depois da Freya Chang, sua moral pra falar para qualquer um “tomar cuidado” antes de mergulhar de cabeça numa relação caiu pra zero — ele parecia levemente chocado com tudo o que Rose dissera, mas não falou nada, para estranheza dela, que tinha certeza que ouviria a mesma ladainha de sempre. 

Mais tarde naquele dia, o encontro com Lorcan aconteceu. Foi ótimo e o pós melhor ainda. Não enviou a mensagem para Scorpius no dia seguinte, porque de fato não queria o amigo se intrometendo mais em sua vida e tinha certeza de que, enxerido como era, o loiro não demoraria a ligar pedindo detalhes. Contudo, isso não aconteceu naquele dia. Nem no outro. 

Nas semanas seguintes, Scorpius mandava algumas mensagens curtas em intervalos de dias longos demais, por estar ocupado com toda a demanda para o Hoggy’s, e ele e Rose não tiveram mais oportunidade de almoçarem juntos, porquanto ela também estava atarefada até o pescoço com os problemas na logística dos livros que, finalmente, haviam sido impressos após o atraso. 

Rose e Lorcan não estavam tendo muita energia para outros encontros, o que, em partes, era bem decepcionante, considerando que ela havia de fato se divertido. No trabalho, por vezes roubavam alguns beijos aqui e ali, mas o alerta de Rose estava piscando, fazendo-a odiar admitir que talvez Scorpius estivesse certo sobre Lorcan não parecer tão disposto quanto ela, o que ia de encontro com o discurso confuso que o mesmo tinha feito ao descobrir que ela e Scorpius estavam “juntos”.  

 Naquele momento, ela só queria o colo do amigo e uma luz. Pouco se importava se, no quesito romântico, Scorpius fosse um fracasso. Quando o assunto eram conselhos, ele sempre acertava. Era irritante, evidente, mas o desgraçado tinha razão em tudo. Por outro lado, não era exatamente isso que ela, Al, Anthony e todos os amigos de Scorpius  queriam: que ele parasse de se intrometer na vida alheia? O problema era que, de alguma forma, não parecia certo, pois a decisão aparentava ter colocado milhas de distância na relação dos dois. Ou talvez fosse só coisa de sua cabeça.

 

29 de abril de 2019

15h34

Apesar do mês em que praticamente não se falaram, Scorpius se prontificou a ir com ela ao cinema quando ninguém mais o fez. Embora estivesse se sentindo aliviada por ter a companhia dele, Rose não conseguiu evitar se sentir um pouco tensa. Não obstante o receio que teve, agora o silêncio que cultivavam no carro, não parecia tão ruim, afinal sentia-se confortável na presença do amigo, e toda a tensão que sentiu na expectativa de revê-lo após semanas um tanto quanto afastados, havia desaparecido. Tudo ficaria bem desde que Scorpius não a questionasse sobre Lorcan, porque ela não saberia como explicar que o amigo tinha razão. Mais uma vez. 

Mas era evidente que Scorpius perguntaria. 

— Nem perguntei sobre seu encontro. Foi o quê, há duas semanas?

Rose o olhou com descrença.

— Scorpius, faz um mês. Exatamente um mês, inclusive. Nosso último almoço no Niazi, antes de você sumir. 

— Ficou tudo uma loucura no trabalho, me desculpe por isso. Esse final de semana sou todo seu para compensar — ele sorriu abertamente e Rose revirou os olhos. — E da minha mãe, é claro. Mas sério, me fale sobre o Scamander. 

— Ah, foi um encontro excelente — e era verdade —, depois fomos para meu apartamento — também era verdade, mas por que era estranho falar aquilo? — e foi tudo ótimo também. — outra verdade. — Ótimo. Ótimo mesmo.

Scorpius a olhou de canto de olho, nitidamente julgando-a. 

— Se você dizer “ótimo” mais uma vez eu acredito.

— Foi mesmo ótimo! — Rose se defendeu, aumentando um pouco o tom de voz. Scorpius conseguia ser tão prepotente e julgador que ela não queria entrar naquele assunto, até porque ela era orgulhosa e teimosa e não desejava dar o braço a torcer e dizer que ele estava certo. De novo.

— Mas…

Ela hesitou por alguns segundos, cogitando se seria uma má ideia sair do carro em movimento. Não estavam em velocidade tão alta e o cinema já estava perto, de qualquer forma.

— Mas não teve um segundo encontro. 

Aquela resposta deveria bastar, mas Scorpius não deixaria passar tão batido. Ela já podia ouvi-lo dizer:

— Eu te avisei. 

Ridiculamente previsível. 

— Scorpius, não é bem assim.

— Ele disse que o encontro foi ótimo, que deveriam repetir, mas nunca pede para repetir. No máximo te beija a cada dois ou três dias apenas pra não fazer com que você se esqueça de que ele está por aí. Ele continua te cozinhando, parabéns, Rose. 

Ela conseguia sentir o sangue ferver. Sabia que aquela era a interpretação mais óbvia, porém não achava que Lorcan estivesse fazendo aquilo com o único intuito de “cozinhá-la”. Acreditava que ele era tímido demais. O grande problema era que Rose não queria entrar em algo com alguém que não estava disposto e, a cada dia, passava a concordar com o ponto de vista de Scorpius sobre o assunto. Se Lorcan, ao menos, tivesse coragem de dizer o que queria de verdade… 

— Olha, Scorpius, eu não quero exatamente falar sobre esse assunto, ok?

— Segunda, quando voltarmos para Londres, vou dar um ultimato nele e resolver tudo num estalar de dedos. 

Scorpius riu baixinho e Rose o fuzilou com o olhar.

— O que foi agora?

— Nada.

Scorpius

— Rose, não me faça falar — Scorpius avisou, tentando manter a expressão séria. 

— Ai meu Deus — ela levou a mão à testa. — Isso é um spoiler não é? — Scorpius se manteve em silêncio. — Mas ok, eu imaginei que pra resolver tudo alguém precisaria estalar os dedos. 

Silêncio. 

— A questão é quem, não é? 

— Olha só, já chegamos! — Scorpius anunciou e Rose mergulhou no banco do passageiro. 

— Por favor, vamos logo pegar pipoca e entrar na sala antes que eu descubra o plot inteiro por sua causa. 

Scorpius virou-se, indignado, para ela. 

— Por minha causa?

— Você falhando na missão de não reagir a nada. Essa sua cara entrega tudo.

— Tudo o quê? Como, em nome de Odin, minha cara entrega um enredo de três horas?

— Entregando! juntando todos os spoilers malditos que peguei esses dias e uma possibilidade de plot com esse final do estalo se formando na minha cabeça. 

Ambos saíram do carro, batendo as portas com mais força que o normal, e Scorpius seguiu Rose para pegar pipoca, apressado e ainda indignado. 

— Uau, com toda certeza você desvendou o enredo mantido a sete chaves do filme mais importante da década pros fãs da Marvel com uma reação minha e meia dúzia de gifs na internet. Alguém deveria te chamar pra fazer teorias no reddit e tentar ganhar algum dinheiro com isso, sabia? 

— Não seja um pau no cu — a ruiva revirou os olhos, olhando para o painel em cima da bilheteria e vendo que todos os ingressos para as sessões daquele dia estavam esgotadas. Ainda bem que tinha comprado com antecedência. 

— Um pau no cu? — a voz de Scorpius soava mais estridente e ela soube que estava tirando-o do sério. 

Se havia algo que Rose e Scorpius possuíam em comum, isso era a falta de paciência, o que geralmente resultava em brigas estrondosas e atitudes por completo impensadas. Não à toa as balas de alcaçuz haviam sido inventadas como uma forma de declarar trégua. 

— Sim — provocou, enquanto fazia o pedido de um dos combos favoritos dos dois: pipoca metade doce e metade salgada e um milkshake de morango para dividir no lugar do refrigerante. Scorpius tamborilava os dedos no balcão, olhando de forma raivosa para a amiga, que tentava manter o rosto impassível. 

— Eu seria um pau no cu se te contasse quem morre no final.

Rose arregalou os olhos. O atendente ofereceu a maquininha para que o pagamento fosse feito e, para ganhar algum tempo, ela se prontificou a pagar. 

— Você paga a próxima — informou autoritária e Scorpius assentiu, ainda irritado. Com medo de que o amigo fosse dizer alguma coisa, Rose pegou o comprovante de compra e se dirigiu apressada até a área de retirada, mas Scorpius não estava menos irritado do que um minuto atrás.

— Eu seria um pau no cu, se começasse soltando alguns spoilers simples, como o fato deles encontrarem o Thanos nos primeiros minutos de filme. 

Rose soltou um gritinho indignado, a mente entrando em combustão.

— Como assim encon- Não! Eu não quero saber! Cale a boca, Scorpius. 

— Ou talvez como um rato tira o Scott do reino quântico. 

— Um rato?! Scorpius — ela empurrou o amigo com uma mão, desesperada. — Pare de me infernizar, que saco! 

Assim que as pipocas e os milkshakes ficaram prontos, Rose pegou as suas e começou a se dirigir a passos largos o mais longe possível de Scorpius. Com sorte, ele pararia de atormentá-la. Mas, antes que pudesse chegar até o banheiro feminino, onde se refugiaria até o começo do filme, caso ele insistisse naquela infantilidade, Scorpius se colocou diante dela. Como Rose estava com as duas mãos ocupadas, só restava performar uma dança com Scorpius, indo para um lado, enquanto ele ia para a mesma direção, impedido que ela passasse por ele. 

— Um certo personagem ficou muito inteligente.

— Que spoiler, bobo, Scorpius, isso nem faz sentid- MEU DEUS COLOCARAM O HULK INTELIGENTE NO FILME? — Rose sentia que ia desmaiar. Havia assistido vídeos demais de teorias e, se Scorpius estivesse falando sério, ela estava vibrando por ter acertado algumas. O problema era que ela não queria descobrir assim. Por isso, avançou para cima dele, os olhos em chamas. — Você quer calar essa boa por bem, ou por mal?

— Que ameaça adorável — sorriu zombeteiro, dando passos para trás conforme Rose tentava tirá-lo do caminho, mas com os braços abertos para que ela não passasse por ele. — Realmente, estou sendo um pau no cu. E eu seria ainda mais se disse que o Tony Stark…

Ok, aquele era o limite de Rose. 

Já não bastava ter chorado copiosamente em Vingadores: Guerra Infinita com seu herói favorito levando um golpe que por alguns instantes ela acreditou ser fatal e o fato dele ser deixado às traças no universo, sem os amigos que haviam virado pó e totalmente ferrado, Rose não iria aguentar receber qualquer notícia que fosse daquela magnitude por uma mesquinharia de Scorpius. Só porque ela falou a verdade! 

Rose precisava que Scorpius calasse aquela maldita boca grande, porque sabia que ele estava empenhado em contar o que fosse possível para irritá-la e, nesse ritmo, sua experiência seria totalmente arruinada. 

Naquele momento, Rose não pensou muito a fundo sobre o que estava prestes a fazer. Apenas ficou na ponta dos pés e grudou sua boca na de Scorpius, que imediatamente se calou, deixando as palavras desconexas morrerem. 

Rose só se deu conta do que estava fazendo quando sentiu a respiração pesada do amigo em seu rosto, pego desprevenido pela situação. Ela apertou mais os olhos, não querendo encará-lo, até porque, a cada segundo que passava, ficava mais estranho o fato de que ela não havia desgrudado a boca da dele ainda. 

Céus, o que diria quando se separassem? E por que diabos ele ainda não havia se afastado? E por que ela também não se afastava? 

Respirando fundo para tomar coragem, Rose se afastou e abriu os olhos. Encontrou os olhos acinzentados de Scorpius parecendo estarem fora de órbita, como se ele estivesse atordoado, e os lábios levemente entreabertos. Quando a ruiva fez menção de dar um passo para trás para conferir maior distância entre eles após aquela atitude completamente impensada - mas que deu resultados, felizmente -, foi a vez de Scorpius se inclinar para beijá-la. 

Dessa vez Rose foi quem se surpreendeu, soltando uma lufada de ar e mantendo os olhos abertos. Mas algo estava diferente. Por algum motivo, Scorpius havia resolvido beijá-la de volta. Talvez fosse uma vingança, por ela tê-lo pegado de surpresa e Rose estava preparada para criticar a devolutiva tão infantil quanto o ato dela, até perceber que Scorpius estava tentando aprofundar um beijo e que, quem sabe estivesse ficando louca, mas também queria fazer o mesmo. 

Já havia pensado em como seria beijar Scorpius, até porque ele sempre tivera uma certa fama de ser bom no que fazia, contudo sempre que o pensamento lhe ocorria, tratava logo de afastá-lo para longe. Afinal, era apenas uma mera curiosidade e não uma vontade de fato. 

Agora, trocando saliva com o melhor amigo de infância, Rose não conseguia deixar de pensar que, apesar de inédito, parecia um ato familiar. Porventura fosse o conforto do momento, o sabor de canela das balas que Scorpius sempre mantinha no carro ou o cheiro de alcaçuz e limão-siciliano que parecia impregnado nele. Beijá-lo não era estranho. Parecia que Rose já havia feito aquilo várias e várias vezes. E, acima de tudo, Rose estava gostando.

Quis senti-lo mais perto de si e, sem pensar muito sobre o que estava fazendo, Rose envolveu o braço esquerdo ao redor do pescoço dele. Só havia se esquecido de um detalhe: o pequeno balde de pipoca que segurava. Portanto, assim que o puxou para perto, também trouxe uma onda de pipocas doces e salgadas, agora caindo sobre o ombro de Scorpius e a cabeça de Rose. 

— Puta que pariu — resmungou limpando um grão doce que havia grudado em sua sobrancelha e tentando, sem muito sucesso, retirar os grãos que estavam em seus cabelos. 

Estava irritada pelo momento ter sido arruinado, até que ergueu os olhos na direção de Scorpius, que tinha o cenho franzido, o olhar ainda atordoado e os lábios reprimidos. 

Foi quando se deu conta de verdade do que haviam acabado de fazer. Ciente de que seu rosto deveria estar da cor de seus cabelos, Rose virou de costas para Scorpius, incapaz de encará-lo.

Que merda havia acontecido? Por que seu maldito coração não podia simplesmente sossegar? Evidente que não era todo dia que se beijava o melhor amigo com tanto fervor, mas, mesmo assim, não deveria ser nada demais. Ela não ficou tão atordoada ao beijar Lorcan. Meu Deus, Lorcan. Não eram exclusivos nem nada disso, mas como explicaria a ele que tinha acabado de beijar o melhor amigo que até um mês atrás ela jurava que não era mais do que isso - contrariando todas as fofocas e os comentários no Instagram? 

— Hm, Rose? 

Ela se fingiu de surda.

— Rose?

Talvez fosse uma boa ideia se afastar até conseguir retornar à sua cor original, por isso começou a dar alguns passos sem saber exatamente o local que estava indo. 

Obviamente Scorpius a seguiu.

 — Rose, não finja que eu não existo. Não depois do nosso beijo. 

— Meu Deus, vamos realmente falar sobre isso? — ela sussurrou em um tom choroso. 

— Hm, sim? Porque, apesar de não parecer, temos mais de vinte anos e não somos duas crianças pra simplesmente ignorarmos isso.

— Interessante você falar sobre maturidade. 

— Ah é? Me conte mais sobre como você sai beijando por aí todo mundo que você deseja calar a boca. 

 — Eu não saio beijando todo mundo por aí! — revidou, virando-se para encarar o amigo. 

Péssima ideia ter parado.

Péssima ideia ter dito aquilo.

Péssima ideia ter sequer beijado-o.

Porque era óbvio que Scorpius perguntaria: 

— Então por que você me beijou?

Rose era uma pessoa que costumava ter respostas na ponta da língua para tudo, desde as mais engraçadinhas até as mais mal educadas, para horror de sua mãe, Hermione. 

Mas ali, encarando o melhor amigo que acabara de beijar e percebendo que queria beijá-lo de novo só para ele parar de lhe fazer aquelas perguntas, Rose realmente não sabia o que dizer. Por isso, foi sincera:

— Eu não sei. 

— Não sabe? 

— Não sei — repetiu com firmeza, desviando o olhar dele. 

— Rose, que porra…

— Eu não sei porque eu beijei você, Scorpius! Não sei! — falou em um tom de voz alto e, no instante seguinte, ela conseguiu ouvir em alto em bom som duas vozes estridentes exclamarem:

O quê?

Rose e Scorpius se viraram rapidamente, procurando a origem do som, para encontrarem duas adolescentes claramente vestidas para assistirem aos Vingadores.

— Eu disse que aquele tweet sobre ele e a Rose serem só amigos tirando uma com nossa cara era mentira — a mais baixinha falou, cutucando a amiga, que revirou os olhos.

— Essa conversa dos dois parece de namorados, pra você? Ela acabou de dizer que não sabe porque beijou ele.

— Oh, meu Deus — a garota virou para os dois, estupefata. — Foi o primeiro beijo de vocês

Rose e Scorpius se entreolharam por alguns instantes. Ela claramente queria matá-lo, porque se as tais scorsetes resolvessem soltar essa bomba na internet, sua vida viraria um inferno de novo. Ele, por outro lado, parecia pedir desculpas pelo acontecido, embora, no fundo, acreditava que tudo aquilo era mais culpa de Rose do que dele. 

Foram despertados por um flash, voltando a atenção para as meninas, que olhavam animadas a foto no celular. 

— Vocês tiraram uma foto sem nossa permissão? — Rose questionou, incrédula, já imaginando a reação de seu pai com a notícia. Ao menos o beijo em si não havia sido fotografado, então seria fácil desmentir aquela situação. 

— Ah, Hannah, você colocou metade do seu dedo na câmera! — a mais alta reclamou.

Rose não teve tempo nem de pensar no sermão que iria dar para convencê-las a não registrarem o momento, pois Scorpius a puxou pela mão e saiu correndo.

— Scorpius, que merda é ess- 

Ela não entendeu porque pararam de supetão, por isso xingou alto ao bater nas costas dele, até perceber que Scorpius trombara em um segurança, fazendo uma lambança com o milkshake e com a pipoca que ainda tinha em mãos. 

— Nossa, me desculpe, eu não vi você aí… — ele pedia enquanto tentava inutilmente limpar o terno do homem de quase dois metros de altura, que não tinha o semblante mais amigável do mundo. — Sinto muito mesmo. 

No instante seguinte, as duas adolescente apareceram correndo, gritando:

— Segure eles! 

Rose quis matar a baixinha escandalosa que havia dito aquilo, porque, fora de contexto, dava a entender que ela e Scorpius eram uma espécie de criminosos. O fato de Scorpius ter sujado o segurança de milkshake enquanto corria não ajudava a melhorar a situação, portanto não foi uma surpresa quando ele prontamente esticou a mão para segurar Scorpius pelos ombros, mas Rose, no desespero, puxou Scorpius e correu o mais rápido que podia.

— Rose, por que você correndo? Vai parecer que somos suspeitos! — Scorpius gritou, tentando puxar a amiga de volta, mas apenas a possibilidade de ver a cara dela e de Scorpius estampada nas redes sociais sem que eles sequer tivessem processado o que acontecera, era demais. Não seriam duas adolescentes enxeridas que complicariam ainda mais sua vida, não mesmo. 

— Só… Corre! 

Manter-se em atividade era uma forma de evitar a pergunta que parecia ecoar em sua mente.

“Por que você me beijou?”

Rose poderia ter feito qualquer coisa para calar a boca de Scorpius - claro que a grande maioria das alternativas eram tão infantis quanto a atitude dele em contar deliberadamente spoilers, porém a quem ela podia culpar se ele despertava esse lado dela? Além do mais, Scorpius que havia começado. 

No entanto, ela resolveu beijá-lo. 

A questão era que Rose não havia pensado quando decidiu fazer isso. Apenas foi lá e fez. Teria sido um selinho rápido que poderia muito bem ter passado como um momento incomum entre amigos, mas nada sério. Se não fosse por Scorpius retribuindo o beijo e aprofundando-o. 

A compreensão a fez parar de correr quase que de súbito e Scorpius trombou com ela. Com o susto, ele imediatamente tentou se equilibrar, segurando-a nos braços para que não caísse, pois, se isso acontecesse, ele acabaria caindo por cima dela. 

Pouco se importando com a quase queda, Rose virou para encarar Scorpius com os olhos semicerrados. 

— Eu não te beijei. Eu te dei um selinho. Você que deu um selinho de volta e enfiou sua língua na minha boca. Então você me beijou. 

— Que diferença selinho e beijo fazem? 

— Então você considera que beijou o Albus no sexto ano?

— Ok, você tem um ponto — Scorpius fez uma careta e respirou fundo, ainda sem soltar Rose. — Que porra estamos fazendo? Parece que somos dois adolescentes. 

— Eu sei — Rose gemeu, sentindo vontade de enfiar sua cabeça em um buraco. — Mas eu falei sério quando disse que não sabia porque tinha te beijado. Eu só… Beijei. 

— Eu acho que te beijei de volta porque queria saber a sensação… Por completo — ele franziu o cenho ligeiramente ao falar, os olhos caindo instintivamente sobre os lábios de Rose. — Não é como se eu nunca tivesse pensado sobre isso. Mas não do jeito convencional. É difícil explicar... 

— Eu sei, eu também — Rose admitiu. Entendia o que Scorpius queria dizer, afinal nunca o vira como um potencial amoroso. Não até sentir os lábios dele no dela. Aparentemente, Scorpius pensava da mesma forma. 

— Depois que nos beijamos eu fiquei.... Confuso. 

Ela engoliu em seco. Não era de fugir das situações, mas só naquele dia já deveria ser a terceira ou quarta vez que desejava estar em qualquer lugar menos na frente de Scorpius.

— Depois que aquelas duas apareceram e quiseram tirar uma foto do que provavelmente é o momento mais confuso que eu tenho em anos... Não seria exatamente uma boa forma de anunciar que isso aconteceu. 

— Imagine meu pai vendo uma foto e uma fofoca dessas na internet — Rose gemeu só de imaginar e Scorpius riu pelo nariz, assentindo. — E o Lorcan então, depois que garanti que eu e você não tínhamos nada? 

No mesmo momento em que Rose disse o nome de Lorcan, Scorpius parou de sorrir, passando a franzir o cenho. 

— Você não ia acabar as coisas com ele?

— Eu não disse exatamente isso — defendeu-se imediatamente, embora não soubesse muito porque tinha feito aquilo. Afinal, não sabia se tinha muito espaço para Lorcan na sua vida antes, ainda mais agora. Fora que aquela atitude defensiva claramente não havia agradado Scorpius.

— “Dar um ultimato e resolver essa situação” significa o quê então?

— Eu…

— Você não sabe — Scorpius completou, respirando fundo e soltando-a levemente. Rose teve a impressão de que estava arruinando com o que quer que estivesse acontecendo entre os dois, mas o que poderia fazer? Sua mente estava uma loucura. — E acho que perdemos o início da sessão — murmurou irritado ao conferir o relógio. Rose suspirou pesadamente, encostando-se na parede de um estabelecimento próximo. 

— Não podemos voltar lá tão cedo depois daquela cena. 

— O segurança deve trocar no turno da noite, podemos voltar lá mais tarde — o tom de voz dele era hesitante e não à toa. Iriam simplesmente assistir ao filme lado a lado durante três horas depois de tudo aquilo? 

tudo esgotado por hoje. 

— Podemos ir amanhã. 

— Scorpius, é o aniversário da sua mãe. Não vai rolar. Relaxa. 

Eles se encararam por alguns instantes. Rose sabia que ele tinha muitas coisas a dizer, pois ela também queria. O problema era que, antes, precisava compreender os próprios sentimentos. Aparentemente Scorpius também, porque optou em permanecer em silêncio.

— Vamos para a casa, pode ser? 

Preencheram o silêncio no carro com o rádio e trocaram alguns olhares durante o percurso. De volta ao prédio, frente a frente no elevador, continuaram se olhando. Ao chegarem no andar de Rose, ela se despediu com um rápido aceno, virando-se apenas quando as portas se fecharam. 

Ela foi direto para o banheiro, ignorando os questionamentos de seu pai e sua mãe, mas ouviu claramente quando Ron disse:

— Se aquele cara de fuinha a magoou, eu juro que mato ele. 

— Não se intrometa, Ronald. Você não sabe o que aconteceu.

E Rose agradecia imensamente pelas duas pestinhas não terem tirado foto alguma, pois tudo o que ela não precisava naquele momento era seu pai tendo um chilique. 

Mais tarde naquela mesma noite, Rose estava ignorando suas redes sociais por alguns motivos: 1) não queria pegar ainda mais spoilers sobre o filme; 2) se tivesse algum bafafá no fandom de Scorpius, ela não queria saber; 3) Scorpius sempre postava memes ótimos no twitter e ela não resistiria a dar like, o que poderia abrir margem para uma conversa que ela não queria ter. 

Rose estava preparada para colocar Clueless e se apaixonar pelo Paul Rudd pela milionésima vez, quando ouviu uma batida na porta. Só poderia ser sua mãe, por isso gritou para que ela entrasse. Ouviu outra batida e revirou os olhos, levantando-se para abrir a porta, até que reparou em um envelope vermelho debaixo da porta. 

Ao pegá-lo, retirou um bilhete:

 

“Bala de alcaçuz infelizmente não passa por debaixo da porta, mas mesmo se passasse, eu não perderia a chance de te convencer a abrir a porta para mim. Desculpe por arruinar esse dia, mas acho que ainda posso ajeitar as coisas.”

 

Rose abriu a porta revirando os olhos, mas com um sorriso brincando em seus lábios. Nada a preparou para Scorpius Malfoy vestido de Homem de Ferro - em uma versão muito, mas muito menos elegante - parado em sua porta, com várias balas de alcaçuz na mão, e com Ronald Weasley no final do corredor, sendo arrastado por Hermione para deixá-los à sós. 

— Eu fui um idiota querendo te dar spoilers gratuitos, mas isso estranhamente desencadeou algo… Interessante — era uma forma de definir o que havia acontecido entre eles. — E já que não podemos pisar naquele cinema tão cedo, eu fiz algumas pesquisas, acionei alguns contatos… E consegui dois assentos para a sessão de cosplay da meia noite naquele cinema do outro lado da cidade. Então, se quisermos chegar a tempo, precisamos arranjar uma fantasia pra você, no melhor estilo cospobre, e arranjar um jeito de voar pra lá o mais rápido possível. 

— Acho que tenho uma ideia bem prática, me dê quinze minutos. 

Não muito tempo depois, Rose e Scorpius corriam apressados pelo lobby do prédio em que seus pais moravam, vestidos como versões pouco elaboradas de Pepper Potts e Tony Stark. Assim que entraram no carro, Scorpius se irritou com o maldito capacete, que mais parecia um trambolho, e Rose riu, ajudando-o a retirar a peça da fantasia.

— Onde foi que você arranjou isso? 

— Eu e Albus fizemos algumas fantasias para o baile de Halloween no ensino médio, mas nunca chegamos a usar porque ficaram horríveis — ele lançou um olhar de pena para o objeto, colocando o cinto de segurança. Rose balançava a cabeça negativamente, com um sorriso estampado no rosto. 

— Isso com toda certeza teria sido melhor que aquela coisa ridícula que foi vocês dois vestidos de bananas de pijama, por Deus. 

— Não queríamos parecer toscos.

— Mas ficaram — Rose devolveu e Scorpius fez uma careta. 

— Obrigado pela parte que me toca. 

— Disponha! — respondeu risonha, enquanto observava Scorpius atentamente. 

Talvez ela e ele tivessem muitas coisas para processar e tantas outras para conversar, mas, de toda forma, ele era seu melhor amigo. A pessoa que ela se sentia mais segura no mundo inteiro, atrás apenas de seus pais. Rose confiava em Scorpius de olhos fechados. 

O beijo havia mexido com ela e, mais do que isso, parecia reconfortante, familiar e… Certo. 

Por isso, não se conteve em arriscar mais uma vez, dessa vez completamente ciente do que estava fazendo ao puxá-lo para um beijo, aproveitando para percorrer os dedos pelos fios loiros que já conhecia tão bem e sentindo novamente o gosto de canela misturado com alcaçuz. 

Scorpius não demorou a correspondê-la, soltando o cinto se segurança para ter mais mobilidade e segurando o rosto dela com firmeza. 

E lá estava novamente: a sensação de estarem fazendo a coisa certa. 

Separaram-se quando o ar se fez necessário e Scorpius tinha um sorriso divertido no rosto, com os olhos brilhando em expectativa. 

— Isso quer dizer que o Lorcan está fora de jogo? 

— Há um tempo — admitiu, pendendo a cabeça para o lado e permitindo-se olhar de verdade para seu melhor amigo (e, depois daquele dia, algo a mais, quem sabe). 

— E nós dois…?

Rose ajeitou-se no banco, demorando para responder de propósito, enquanto colocava seu cinto de segurança. Por fim, olhou para Scorpius, segurou o queixo dele, e disse:

— Sem mais spoilers

Scorpius sorriu em resposta, assentindo com a cabeça e dando um beijo rápido em Rose antes de finalmente arrancar com o carro. 

 


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Notas finais do capítulo

Eu gosto muito dessa Rose, que é decidida, linda, estilosa, não leva desaforo para casa, entre tantas outras qualidades a mais. A Bree Kish, modelo que usei pro cast, é maravilhosa e me passa muito essa vibe. Ela é uma inspiração pra mim e usou o maravilhoso vestido rosa de moranguinhoooos!
Acho que a Rose e o Scorpius aqui vão a um nível muito alto de infantilidade em alguns, mas quem não se transforma um pouquinho perto dos amigos de infância, não é mesmo? hahaha Eu acho eles uns fofos!
Esperam que tenham gostado dessa minha versão de childhood friends to lovers! Quis fazer algo mais simples, com um final mais aberto e quem quiser, estou cheia de spoilers para dar sobre o que penso do futuro dos dois! hahaah
Se você leu até aqui, muito obrigada ♥ Sigo postando Sex On Fire e Switch-In no decorrer do mês, espero vocês lá! Beijos ♥



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