A Maravilhosa Loja de Argoluli — O Terrível escrita por Félix de Souza


Capítulo 1
Uma loja muito exclusiva




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Havia uma loja tão exclusiva, que encontra-la, exigia convite de fregueses que a frequentaram ao menos três vezes.

Atravessando sua porta, armas desapareciam apenas para reaparecer somente na saída.

Aos olhos de Razarthan parecia uma loja comum, exceto por dois detalhes.

A garantia que todo objeto à venda era mágico e, uma múmia, vestida como um aventureiro, com um gibão-de-couro completo no centro da sala. Aos pés da múmia, um pentagrama semiapagado que instintivamente todos dentro do salão evitavam, ele mesmo inclusive.

Logo viu algo que lhe chamou atenção.

— Que faz esse anel? _ Indagou o rapaz, observando o anel com joia em formato de olho.

— É um dos meus preferidos. _ Respondeu animado, Argoluli, proprietário e comerciante da loja — Um anel de invisibilidade suprema.

— Balela! _ Riu Razarthan. — Como “suprema”? Qual a diferença de um anel de invisibilidade “comum”?

— Toda! _ Disse o vendedor sorrindo. — Seu usuário não só ficará invisível, como não poderão ouvi-lo, fareja-lo ou adivinhar aonde vai.

Assim, de posse do anel, somente a ética impediria Razarthan, o ladino, “testar” o anel.

Desculpem a piada.

— Ele é seu, amigo, por apenas… _ Argoluli, quando percebeu o que tinha acontecido, suspirou fundo e disse para si. — Nunca aprendem. _ Em seguida exclamou.

— Demisário! _ Foi o que Razarthan antes de partir.

Era maravilhoso no principio. Ninguém seria capaz de deter Razarthan. Espalhou-se o boato de que o fantasma de Doomlore voltou. Não importava, esse era Razarthan.

Ninguém podia vê-lo, ou ouvi-lo, e depois de certo tempo, se deu conta de que ele não conseguia retirar o anel.

Argoluli se esquecera de mencionar? Acredito que não.

Por conta disso não negociava suas aquisições, invisível e inaudível, estava isolado do mundo.

Comida não era problema, certa noite dormiu na cama do rei de Doomlore. Cometeu atos impublicáveis, porém gradualmente foi corroído pela solidão e pouco a pouco a sensação de que estava morto em vida, a impressão de que realmente virara um fantasma, lhe dominava. Adoecia e ninguém podia ajuda-lo, o tempo passava sempre igual, dia após outro, apenas solidão e tédio. Como se tivessem o jogado numa cela e destruído a chave.

Quase enlouquecendo, tempos depois de muito procurar, encontrou numa taverna, o sujeito que lhe deu o maldito convite, roubou-lhe outro e retornou a loja.

Neste dia estava lotada. Desesperado para livrar-se do anel, procurou Argoluli pelo salão, quando viu sua cabeça reconheceu pela orelha deformada por alguma cicatriz antiga adiante, próximo ao balcão, correu tão apressado, que ignorou a ausência da múmia aventureira, e um pentagrama se acendeu sob seus pés. O atarracado vendedor notou.

— Olá, amigo. Quanto tempo? _ Sussurrou aproximando-se. — Como disse outrora, não posso vê-lo, ouvi-lo, ninguém pode fareja-lo. Lembra-se?

Mesmo sem que ele mesmo pudesse ver, Razarthan suava frio, antevendo o que viria acontecer, diante o tom divertido de voz do vendedor.

— Entretanto, não contei sobre a maldição de sair sem pagar. Não posso retirar o anel, e acontece do meliante sempre voltar e tentar devolver. Logo tomo minhas precauções e preparo a armadilha mágica que ativou. _ Apontou o pentagrama, enquanto sorria para um cliente desconfiado. Dando tempo para Razarthan, imóvel, avaliar mais a fundo a situação.

— Não. _ Sussurrou o ladino em vão. — Por favor.

— Entenda a situação. Nada posso fazer. Porém, desejo recuperar o meu anel. Logo… _ Fez uma pausa dramática olhando na direção de Razarthan como se pudesse vê-lo. — Ficará aí quietinho até não aguentar mais. Sem conseguir sentar ou mudar de posição. A exaustão, fome, sede, agonia. Noites insones. Dores nos ossos, fraqueza na carne, loucura na mente. Implorando pela morte, em vão. Agonizando até morrer.

Apodrecera, sem exalar cheiro. Sua carne secará, quando cair o anel dos seus dedos, enfim, o resgatarei.

Razarthan gritou. Fosse ouvido, seria a personificação do desespero. Procurou suicídio pela sua própria adaga.

Não a encontrou.


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