Apollonia escrita por Aarvyk


Capítulo 1
Fulminàre


Notas iniciais do capítulo

Uma pequena one-shot de como foi o ponto de vista de Apollonia quando conheceu Michael.



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Ela caminhava sob o sol da Sicília com a doçura e a ousadia batendo em seu coração, os lábios avermelhados tremeluziam conforme conversava com as zias e primas, tomada pelo ócio calmo das manhãs inocentes de verão. Seu vestido de um vinho rosado caía-lhe pelo corpo com certa simplicidade, contrastando com a pele creme escura que possuía e com seu corpo jovial.

Apollonia era bela, vivaz e pueril. Uma típica italiana de rosto ovalado, cabelos castanhos fustigantes e olhos negros oblíquos que mais pareciam de uma beleza greco-romana. Ela era como uma flor desabrochando ao mundo, ansiava por tudo o que aquelas terras podiam lhe dar, mesmo que ingênua em suas ambições e com certa inocência no coração. Nada poderia deter sua vontade de viver, era como uma cidadela imperial ao Adriático, clamando pela grandeza que poderia conquistar.

E com os risos altos das primas, a garota seguiu o trajeto pela estrada entre os arbustos floridos. Carregava consigo uma cesta de palha com algumas sullas cor-de-rosa da estação, contemplando as ruínas de Palermo à medida que se aproximava de casa. Deu alguns passos ligeiros em uma parte do caminho, sem sequer notar que tinha se distanciado das zias. Podia ser tão avoada as vezes que já fazia parte de seu charme natural; a distração era como uma arte tentadora para sua juventude.

Estava quase vendo a mureta de pedra ao vislumbrar algumas silhuetas se remexendo entre os laranjais. Apollonia parou abrupta no mesmo instante, havia perdido o fôlego e a calmaria como se tivesse sido tomada por um terremoto. Logo a sua frente, dois pastores de luparas nos braços a encaravam com certa indecência. Pôde escutar um deles falar algo sobre sua beleza aos companheiros, citando até mesmo o nome de Jesus Cristo. No entanto, o olhar de Apollonia foi completamente fisgado para o rosto estrangeiro entre os dois italianos.

Seu coração pulsava forte no peito, o sangue corria acelerado em seu corpo curvilíneo, e a garota pareceu sentir-se tonta por todos os momentos em que os dois olhares se mantiveram em contato. Era um homem de estatura mediana, suas feições eram finas e maduras, os lábios estavam entreabertos em puro êxtase, e o nariz parecia um pouco torto. Porém, Apollonia nem chegou a notá-lo em meio aos sentimentos que irrompiam dentro de si. O homem possuía uma formosura desconhecida, uma aparência gentil e intrigante que a comovia como uma nau ao mar. Seu olhar intenso exalava o desejo fogoso que se firmava e a prendia naquela sensação.

Entretanto, em um gesto rápido, a garota suspirou antes que perdesse a sanidade, rompendo o transe que a mantinha ali. Logo, virou-se para as zias e as primas, receosa de que alguém tivesse visto o que se passou.

Mesmo que negasse, Apollonia sabia o que aquilo significava. Ela fora pega pelo raio, e seu destino não pertencia mais a si mesma.


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Notas finais do capítulo

Há uma lenda na Sicília de que as mulheres são mais perigosas que armas.
E quando se é atingido pelo raio, não há como escapar.