Refúgio subterrâneo, 1 dia após a partida da equipe de resgate

A partida de Jacob era como um borrão em minha mente. A lembrança de acenar até que ele desaparecesse de vista, a dor em meu peito crescendo a cada passo que ele dava para longe de mim faziam com que o desejo de ir atrás dele aumentasse, mas eu havia prometido ficar e esperar e isso era torturante.

No primeiro o abrigo parecia mais sombrio e silencioso do que nunca. Eu podia sentir a preocupação de todos que tinham visto um ente querido seu partir pesando no ar, mas buscamos manter a rotina do abrigo, cada um fazendo suas tarefas buscando refúgio em suas obrigações diárias.

 Apesar de Sarah não demonstrar sua saudade ela estava visível em seus olhos, eu havia percebido que seu comportamento estava diferente, ela estava mais recruza em seu quarto e havia rejeitado até mesmo brincar com os garotos do abrigo que tinham a idade dela. Mas isso era compreensível, ela era só uma menina que havia perdido a mãe e agora corria o risco de perder seu pai e seu melhor amigo.

Apesar de também estar preocupada decidi tentar anima-la, entrei no quarto com uma pequena caixa nas mãos, ela me olhou curiosa com aquele olhar que me lembrava os de Jake e eu sorri fazendo o convite de forma animada -  Sarah, que tal jogarmos cartas para passar o tempo?

Ela fez um bico lindo e se sentou na cama deixando um de seus livros ao seu lado- Eu gostaria, mas... eu sinto falta do papai e do Seth.

Me aproximei da cama e sentei ao seu lado - Eu também sinto, mas sei que eles estariam felizes em saber que estamos nos divertindo enquanto eles não estão aqui.

Ela pareceu pensativa – Acho que tem razão - Respondeu com um sorriso tímido,

— É claro, principalmente o Seth, ele não vai gostar de saber que a garotinha dele ficou presa nesse quarto.

Sarah concordou, abri a caixinha e tirei as cartas as espalhando entre nós. Minutos depois as cartas dançavam entre nossos dedos, e a cada jogo, como esperado, Sarah se mostrava uma adversária formidável, vencendo uma partida atrás da outra.

— Uau, Sarah! Você é realmente boa nisso! – Falei após perder pela vigésima vez.

— É, eu li uns livros com alguns truques! Ela falou distribuindo as cartas.

— Então esse é seu segredo? Cruzei os braços e ela cobriu os lábios com as duas mãos, e uma sessão de cócegas foi iniciada por mim.

Rindo, continuamos a jogar, e por algumas horas, a saudade deu lugar à alegria e ao som de nossa risada. Era um pequeno momento de normalidade em um mundo que havia sido virado de cabeça para baixo.

Refúgio subterrâneo, 5 dias após a partida da equipe de resgate

A rotina é tudo o que tinha. Ajudando com as tarefas, lendo livros antigos, mas nada preenchia o vazio. À noite, a cama parecia muito grande, muito vazia sem ele.

Eu buscava me distrair de alguma forma, na maioria das vezes estava na cozinha, via ali um espaço para contribuir e me conectar com os outros. Enquanto descascava batatas e cortava legumes, ouvia as histórias e preocupações daqueles que compartilhavam o mesmo espaço comigo.

— Sabe, Nessie, no começo eu tinha um certo receio, mas agora vejo que você é uma boa menina. – Disse Mary, uma das cozinheiras enquanto eu entregava a ela os legumes cortados.

Dei um tímido sorriso – A senhora também é muito gentil.

— E você ajuda muito! Disse a outra mulher.

— Você é tão vítima dos vampiros quanto nós humanos. Afinal, todos nós queremos viver em paz.

Pela primeira vez em três meses eu me senti acolhida. A aceitação das mulheres era um lembrete de que, apesar das diferenças, havia mais semelhanças unindo-os naquela luta pela sobrevivência.

Refúgio subterrâneo, 10 dias após a partida da equipe de resgate

Eu caminhava pelos corredores silenciosos do abrigo, e percebi que a saudade de Jacob não era apenas uma emoção; era uma presença constante, quase tangível. Ele estava em cada canto sombrio, em cada sussurro do vento que se infiltra lá de cima.

Parei diante da porta da sala de reuniões e sorri, lentamente abri a porta e entre naquele lugar que ele havia feito de quarto para me dar conforto em meio ao caos.  Olhei para a mesa de reuniões e sobre uma cadeira avistei sua camiseta, me aproximei a pegando com ambas as mãos e fechei os olhos, ela estava impregnada com seu cheiro, e eu me agarrei a ela como se pudesse trazer parte dele de volta para mim.

Refúgio subterrâneo, 15 dias após a partida da equipe de resgate

Quinze dias se passaram desde a partida da equipe de Resgate, o abrigo subterrâneo tornou-se meu mundo. As paredes de pedra, que antes me pareciam seguras e acolhedoras, agora parecem frias e confinantes. Cada dia que passa sem Jacob é um lembrete da distância que nos separa.

Nos últimos 15 dias me vi em um papel que nunca imaginei assumir. No abrigo, as pessoas começaram a me ver como a substituta de Jake, uma responsabilidade que pesava sobre meus ombros tanto quanto a ausência dele em meu coração.

A realidade da partida de Jacob havia me atingido com força total. Eu sabia que ele tinha que ir, mas isso não tornava a despedida menos dolorosa. As pessoas do abrigo começaram a me procurar por orientação e conforto, foi quando percebi o quanto de responsabilidade Jacob Black tinha, ele não era apenas o líder, o alpha que havia criado um abrigo para proteger as pessoas, ele era algo mais, um amigo que todos tinham em momentos difíceis. Eu precisava fazer o meu melhor para ser forte por eles, para ser dar a todos o que esperavam de mim.

A segurança do abrigo sem Jacob e os outros lobos era uma teia frágil, mas necessária. Homens corajosos, junto com Cam, Bil e Ben, que apesar de serem jovens eram lobos ágeis e fortes, assumiram a responsabilidade de vigiar a floresta ao redor, mantendo-nos a salvo de ameaças invisíveis.

A cada manhã, eles partiam, desaparecendo entre as árvores, e a cada noite, eu esperava seu retorno, cada vez mais ansiosa.

Como qualquer outra manhã desde nossa organização nós esperávamos para a troca de turno, eu não podia sair do abrigo pois meu cheiro atrairia qualquer vampiro a cerca de um quilometro por isso Cam era o responsável para lidera-los.

— Eles estão atrasados – eu falei um pouco ansiosa, não sabíamos como havia sido a noite da equipe responsável por isso aquele atraso era algo preocupante.

— Você conhece Bill e Ben, Nessie, eles sempre mudam de caminho.

Eu suspirei – Eles sabem que não podemos brincar.

— Meu Deus Nessie, você está pior que o tio Jay, você precisa relaxar – Disse Liah em um tom zombeteiro fazendo Can rir.

— Onde está a nossa doce e meiga Nessie – Cam me provocou.

Dei um pequeno riso que se desfez quando o impensável aconteceu. Meus olhos se direcionaram para a floresta quando o cheiro do sangue invadiu minhas narinas com um aroma tão doce que aguçou meus sentindo. Entre as arvores um dos homens surgiu, cambaleante, ferido mortalmente. Imediatamente Cam e Liah correram para ajuda-lo, o trazendo para dentro do abrigo.

Suas palavras eram sussurros de despedida e alerta.

— Fomos descobertos... vampiros na floresta...