Magnificently Cursed escrita por violet hood


Capítulo 3
III: how does it start?


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde!
Muito obrigada por todos os comentários no capítulo anterior, vou terminar de responder agora
E obrigada Isa G, prongs, Daniel Ferreira e AccioPandas por favoritarem a fic ♥

música do título: i'm with you - vance joy



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Hermione chegou na capital três dias depois, ocupada demais com todos os preparativos da festa de noivado para parar e conversar com a filha. Rose não tinha muito o que fazer, ela também não sentia vontade de ajudar em algo. Não era como se aquele fosse o casamento dos sonhos dela, preferia deixar que sua mãe fizesse todas as escolhas.

A primeira coisa a se fazer era enviar os convites para a festa de noivado. Hermione havia feito a lista completa de convidados e Ron precisava apenas aprovar. Porém, ele não ficou muito feliz em ver Leo Black na lista.

— Ele é um visitante importante e está hospedado no palácio real — explicou Hermione. — Também não queria ter que convidá-lo. Mas ignorá-lo seria desrespeitar Durmstrang.

No fim a mãe estava certa e não tinha nada que Ron poderia fazer.

Pensar que Leo Black estaria em sua festa de noivado, deixava Rose apreensiva. Ele não havia demonstrado saber nada sobre a marca dela quando conversavam, mas aparentemente, Lorde Black era parente do Príncipe de Durmstrang. Poderia saber muito mais do que deixava transparecer.

Quais eram as chances de ele revelar a alma gêmea de Rose no meio de festa de noivado dela?

Rose tentou ao máximo não pensar naquela possibilidade. Precisava ser um pouco mais positiva e imaginar que as coisas poderiam sim dar certo para ela.

Enquanto os preparativos para festa aconteciam, os Scamander e os Weasley se encontravam quase todos os dias para jantarem juntos. Lysander era idêntico ao irmão, Rose sentiu um pouco envergonhada por passar quase a noite toda sem saber diferenciar os dois.

Rolf e Luna Scamander eram exatamente como Rose se recordava de ter visto em bailes e festas anos atrás. Usavam roupas em cores chamativas, como um amarelo e um rosa muito forte, e sempre conversavam sobre assuntos estranhos que Rose não entendia bem. Mas apesar de tudo, achava-os um casal adorável. Realmente era o tipo de casal que dava para ver de longe que eram almas gêmeas, as roupas e assessórios exagerados, até suas risadas combinavam.

Rose sentiu pena dos filhos, os pais de fato se amavam, e eles nunca conseguiriam ter algo assim, já que não possuíam alma gêmea. Rose jamais poderia ser o amor da vida de Lorcan, por mais saudável que fosse a relação dos dois.

Mas Lorcan nunca parecia estar triste quando estava na companhia dela. Sempre sorria, e tentava explicar melhor as histórias dos pais para que ela não se sentisse excluída.

Rose o admirava muito, além de ser muita grata por tudo que ele havia feito por ela. Tinha sorte de ter encontrado Lorcan e faria o possível para que ele fosse feliz do seu lado.

***

Diferente da última festa, Rose não poderia escolher entre os vestidos mais simples para usar. Sua mãe havia chamado a melhor costureira do país para preparar todos os vestidos que precisaria usar até o casamento, o de hoje era um azul. Na parte de cima era um pouco mais claro que o azul escuro dos olhos de Rose, e ia escurecendo em degradê até o final do vestido que terminava em um azul marinho, como os olhos dela.

A mãe de Rose a havia presenteado com um lindo colar de safira e brincos combinando, a exata cor dos olhos dela. Qualquer um conseguia ver que Rose Weasley era a estrela da noite, e ela estava tentando o seu melhor para se mostrar uma noiva feliz.

Não que Rose estivesse triste, mas ainda era estranho pensar que a vida de Rose havia mudado completamente desde que acordou com o nome de Scorpius Malfoy gravado em seu corpo. Ela teve que deixar toda a sua juventude para trás e, em menos de seis meses, estaria casada com um homem que até alguns meses antes apenas conhecia de vista.

Porém, Lorcan parecia bem mais feliz que ela na festa de noivado, os dois cumprimentavam juntos os convidados, e o sorriso de Lorcan era o maior de todos ali.

Alguns nobres estavam claramente descontentes com o noivado. E ver a cara de desgosto de Adam McLaggen enquanto cumprimentava um Lorcan sorridente, quase fez com que Rose começasse a rir.

Até havia se esquecido de uma das suas maiores preocupações. Leo Black estava elegante como sempre, acompanhado de seu guarda, Anthony Zabini.

— Parabéns pelo noivado — disse educadamente apertando a mão de Lorcan.

— Obrigado, Lorde Black — respondeu o noivo de Rose.

Lorde Black sorriu e virou-se para Rose. Ela colocou mão sobre a dele, e sentiu um calafrio lembrando-se da cena que havia acontecido na festa do palácio.

— Você está linda esta noite, Lady Rose — falou antes de aproximar os lábios de sua mão.

— O-obrigada — gaguejou, descompassada com a sensação que ele havia causado mais uma vez nela. Rose não entendia o porquê de ficar assim quando ele a tocava, ou o motivo do seu coração bater mais rápido. Ele não era o primeiro nobre a cumprimentá-la, então por que Leo Black era diferente dos outros?

Rose só torceu para que Lorcan não tivesse notado.

A festa ocorreu como esperado e, felizmente, Rose havia perdido Lorde Black e o guarda de Durmstrang há muito tempo na multidão. Ela tentou se distrair dançando com Lorcan e falando com os convidados.

Outros primos de Rose estavam ali, como o irmão mais velho de Roxanne, Fred Weasley II, acompanhado de sua esposa, Thea Weasley, uma jovem carismática que era bem mais baixa que ele. Victoire também estava lá com seu marido Teddy Lupin, ela estava grávida de seu primeiro filho, e Rose era grata que todos queriam falar com a prima, tirando um pouco da atenção dela. Não sabia até quando seria capaz de aguentar toda aquela conversa fiada, e moças da nobreza a bajulando.

Molly Weasley II e Lucy Weasley também estavam presentes. Elas eram duas primas que Rose não mantinha contato, provavelmente porque o pai delas, Percy Weasley, não se dava muito bem com o restante da família. Lucy era mais nova, com quatorze anos. Mas Molly era alguns anos mais velha que Rose e já tinha recebido uma marca.

Não sabia muito bem o que tinha ocorrido, Percy era reservado demais para contar para alguém. Porém, Lily, como grande fofoqueira que era, havia dito para Rose anos atrás, que a alma gêmea de Molly era uma mulher, e que Percy não havia aceitado bem.

Não era incomum que pessoas tivessem almas gêmeas do mesmo gênero, e alguns até mesmo ficavam juntos apesar do preconceito. Contudo, isso era mais comum de ocorrer com o restante da população, os nobres eram obcecados em continuar sua linhagem e isso não seria possível se seus filhos ficassem com alguém do mesmo gênero.

Apesar de Molly ter uma alma gêmea e todo mundo saber disso, ela vivia como se não possuísse marca alguma. E Rose se perguntava se um dia Percy a forçaria a se casar com um homem.

Tanto Molly quanto Lucy pareciam deslocadas das outras pessoas, Rose estava surpresa que Percy havia aceitado o convite. No fim, os únicos primos dela que não estavam lá eram Louis — novo demais para esses eventos — e Dominique, que morava em outro país. Rose esperava que Dominique pudesse estar em seu casamento, ela sentia tanta falta da prima. Sempre que conversava com Roxanne notava que uma parte importante da amizade delas estava faltando. Queria poder ter Dominique do seu lado, para que pudesse se despedir de sua juventude junto com as pessoas que mais haviam feito parte dela.

Apesar da companhia dos primos, Rose já estava cansada demais na metade da festa. Ela não era a pessoa mais sociável do muito, e sentia toda sua força de vontade para socializar se esvaindo do seu corpo mais e mais a cada segundo que passava.

Precisava tomar um ar fresco, além de que seus pés a estavam matando. Eles não haviam sarado desde a última festa, e Rose tinha certeza de que terminaria aquela noite com ainda mais bolhas do que antes.

Caminhou até os jardins, como estava pouco iluminado não esperava ver ninguém por ali. Mas estava enganada, Lorde Black a viu assim que entrou no jardim, e Rose sabia que era tarde demais para fugir.

— Vejo que também está cansada, Lady Rose — comentou. Rose notou que igualmente como na noite no palácio, o Lorde não estava acompanhado de seu guarda. Rose sempre o viu um pouco atrás de Leo Black, perguntou-se se o homem estava ali, escondido em algum canto.

Rose sorriu, lembrando-se de ser educada.

— Sim — admitiu. — Mas não queria interrompê-lo. Irei procurar outro lugar para descansar.

O Lorde riu.

— Você vai me deixar constrangido assim, Lady Rose — comentou, deixando-a confusa. — Essa é a sua casa, não quero te expulsar do seu jardim.

— Não se preocupe — disse rapidamente. — Você é um convidado, não me importo em ir para outro lugar.

Leo Black franziu o cenho.

— Esse jardim me parece grande demais para nós dois. Tenho certeza de que não tem problema em dividirmos — pontuou.

Entretanto, Rose também tinha certeza de que teria muitos problemas se fosse vista em um jardim escuro com outro homem, na sua festa de noivado. Não sabia se as coisas funcionavam diferentes em Durmstrang, mas Rose não conseguia imaginar um local que aquilo poderia ser uma boa ideia.

Estava prestes a tentar falar o que estava pensando mais educadamente, quando o embaixador foi mais rápido.

— Sente-se — pediu apontando para um banco que estava entre os dois. Vendo o quanto Rose estava relutando, ele acrescentou: — Por favor.

Sentindo que não tinha escolha, Rose atendeu ao pedido.

Leo Black se aproximou com passos largos. E puxou de dentro do paletó alguns curativos.

— Notei que seus pés estavam machucados na última festa, Lady Rose — explicou. Rose ficou sem reação, tinha certeza de que havia disfarçado bem a dor nos pés tanto na última vez quanto agora, afinal ela já havia feito aquilo diversas vezes antes. — Imagino que tenha saído para tomar um ar pelo mesmo motivo. E se me permitir...

Rose encarou a mão dele entendendo aonde o homem queria chegar.

— Você quer... — começou sem saber como completar aquela frase. Rose nunca se imaginou na situação que um homem do temido reino de Durmstrang estaria pedindo para fazer um curativo nos pés dela.

— Se você quiser, é claro — ressaltou, rapidamente. — Posso deixar que faça sozinha, mas sou muito bom com curativos.

Sentia que precisava beliscar o próprio braço para ter certeza de que aquela cena era real. Talvez Rose estivesse passado mal com a dor e acabou desmaiando, e agora estava tendo o sonho mais bizarro de todos.

Mas Lorde Black, parado na sua frente com os curativos na mão, parecia real demais para ter saído de um de seus sonhos.

Rose engoliu em seco, ainda sem saber o que poderia dizer. Talvez a melhor coisa a se fazer era sair correndo sem olhar para trás, porém duvidava que conseguisse ir muito longe com aqueles pés.

E os curativos eram muito tentadores, Rose ainda teria horas de festa para aguentar antes que pudesse jogar os saltos altos o mais longe possível.

— Tudo bem — disse, evitando pensar mais sobre o assunto e sabendo que estava fazendo uma escolha a qual se arrependeria depois. — Você pode fazer o curativo.

Leo Black sorriu vitorioso, Rose notou que ele tinha pequenas covinhas em cada bochecha, e era a primeira vez que o via abrir um sorriso tão grande.

O Lorde se agachou, e ela percebeu o quanto aquela situação ficaria complicada se alguém os visse. Mas só a restava torcer para que mais ninguém resolvesse caminhar pelos jardins.

Ele tirou os sapatos com cuidado, mas, mesmo assim, Rose não conseguiu segurar o som de dor que saiu pelos seus lábios. Ela olhou para os próprios pés e viu que eles estavam ainda piores do que havia imaginado, e era bem constrangedor que um Lorde estivesse vendo aquilo.

Porém, o homem não demonstrou nenhuma repulsa ao ver os pés dela.

— Deve estar doendo muito — comentou, parecendo estar preocupado com ela.

— Está tudo bem — disse Rose. — Já estou acostumada a usar esses sapatos.

— Esse país é tão rico, deveriam investir em sapatos mais confortáveis — retrucou, enquanto começava o curativo. Rose tentou ao máximo não soltar gemidos de dor, mas não conseguia controlar as caretas. Por sorte, o Lorde estava focado demais em seus pés para encará-la.

— Nós temos sapatos confortáveis — falou Rose, sentindo uma necessidade de defender o país do estrangeiro. — Eles só não estão na moda.

— Pois deveriam estar. Uma moda confortável é muito mais saudável do que esses sapatos que nem parecem que foram feitos para pés humanos.

Rose precisava concordar. Contudo, mesmo assim, ele era um homem estrangeiro e ela duvidava que ele entendesse algo da moda de Hogwarts.

Leo Black terminou o curativo no pé direito e passou para o pé esquerdo de Rose.

— Não vai fazer com que a dor passe totalmente — explicou. — Mas acredito que vai ajudar a não piorar.

Rose assentiu, observando-o em silêncio enquanto ele tocava com delicadeza nos pés dela. As mãos do homem eram grandes e ásperas, bem diferente das pequenas mãos macias de Rose. Mas ele parecia fazer todo o esforço possível para não a machucar mais, como se seus pés fossem feitos de vidro.

— Pronto! — exclamou assim que terminou, auxiliando Rose a colocar os sapatos de novo. A dor ainda estava lá, porém os curativos criavam um forro macio que faziam com que a dor diminuísse.

O Lorde se sentou ao lado dela, na outra ponta do banco, mantendo uma distância segura entre os dois.

— Muito obrigada, Lorde Black — agradeceu sincera. — Se precisar de algo pode me pedir, tentarei ajudá-lo.

Rose não sabia muito bem que ajuda poderia oferecer para um lorde, que parecia estar se virando muito bem sozinho, mesmo estando em outro país. Todavia, ela ainda era a filha do dono da casa, e essa era sua festa de noivado, então precisava se mostrar educada.

— Tem algo que eu quero, Lady Rose — disse pensativo. Rose o encarou surpresa e ele continuou: — Acho Lorde Black muito formal, você pode me chamar só de Leo.

Rose riu, como se ele tivesse falado algo absurdo. Eles nem ao menos eram amigos, e tinham conversado duas vezes na vida. Como poderia chamar o embaixador de Durmstrang só pelo nome?

— Então você teria que me chamar só pelo meu nome também — respondeu brincando.

— Tudo bem! — Leo Black sorriu. — Vou te chamar apenas de Rose agora, Rose.

Rose ficou sem palavras. Ela queria mostrar o quanto aquela ideia era um absurdo e não o fazer chamá-la pelo nome.

— Espera... — começou, sua voz saiu baixo, quase um sussurro.

O Lorde não a ouviu, ou fingiu que não ouviu.

— É uma linda festa, Rose — comentou, olhando em volta.

Rose fez uma careta, a única coisa em volta dos dois eram plantas. E ela duvidava que ele se sentisse bem-vindo na casa de Ron Weasley. Rose tinha certeza de que o pai não tratava o estrangeiro muito bem nas reuniões políticas.

— É igual todas as festas — comentou, sentindo-se confortável o bastante para ser sincera. Não sabia se aquilo era o resultado de Leo Black já ter visto os seus pés ensanguentados e cheios de bolhas, ou se era porque ele a estava chamando pelo nome.

O Lorde riu da sinceridade dela.

— Não estive em muitas festas em Hogwarts, então tudo é novidade para mim.

Rose nunca pensou que uma festa em um país vizinho fosse ser muito diferente. Mas fazia sentido, apesar de Hogwarts e Durmstrang compartilharem o mesmo idioma, a história dos dois reinos era completamente diferente. Rose imaginou como um país tão militar celebraria um noivado.

Sem conseguir conter sua curiosidade perguntou:

— E como são as festas em Durmstrang, Lorde Black?

O embaixador fez uma careta.

— Lorde Black... — comentou ofendido.

Rose bufou, mas no fundo estava se divertindo com a reação exagerada dele.

— Você não espera que eu realmente o chame pelo nome?

— Mas foi o meu pedido — disse fazendo um bico, que não combinava em nada com seu rosto másculo. Porém, Rose precisava admitir que era um pouco fofo. — Contarei tudo sobre festas em Durmstrang quando você me chamar pelo meu nome.

Rose revirou os olhos.

— Está parecendo uma criança — murmurou, sem conseguir conter um sorriso. Rose rapidamente olhou em volta, certificando-se que não tinha ninguém por perto. — Tudo bem... Leo.

Leo sorriu, como quando havia conseguido convencer Rose de fazer os curativos em seus machucados, e mais uma vez as covinhas apareceram em suas bochechas.

— As festas em Durmstrang são um pouco... — disse pensativo, buscando as palavras certas. — Caóticas.

Rose pensou na imagem do povo de Durmstrang que tinha na cabeça, completos bárbaros, fazendo uma festa. Entretanto, nem Leo, a Princesa Rhiannon ou até mesmo o guarda, Anthony Zabini, pareciam se encaixar nela.

Leo continuou:

— Mas também são extravagantes, e com diversas comidas deliciosas — falou sorrindo, enquanto recordava da sua casa.

— Você deve sentir falta de casa.

— Sim — respondeu. — Mas sinto menos falta do que imaginei.

Só então Rose parou para pensar que Leo era mais velho que ela, não sabia quantos anos ele tinha, mas para ser embaixador precisava pelo menos ter dezoito anos. Isso queria dizer que ele tinha uma alma gêmea, ou não tinha uma marca.

Desde que os estrangeiros tinham chegado, Rose nunca pensou que poderia ter alguém em Durmstrang esperando pela volta deles.

Sentiu uma pontada no coração tentando imaginar quem seria a alma gêmea de Leo Black.

— Você tem uma alma gêmea? — perguntou sem pensar, arrependendo-se logo em seguida.

Leo não pareceu se importar com a pergunta, ele encarou Rose sorrindo, mas parecia ser um sorriso triste.

— Tenho.

— Ela deve sentir sua falta — disse, imaginado que esse fosse o motivo para o seu sorriso.

Parte de Rose não queria saber nada sobre a outra pessoa e, uma outra parte dela, desejava saber tudo sobre quem era a pessoa com o nome gravado em alguma parte do corpo de Leo.

Ela não entendia o porquê de se sentir daquele jeito, considerando que saber mais sobre a alma gêmea dele era como se torturar. Mas Rose preferia não pensar sobre o assunto naquele momento.

— Ela não sente minha falta — respondeu triste. — Não estamos juntos.

Rose o encarou confusa, com certeza qualquer pessoa de Durmstrang teria sorte em tê-lo como alma gêmea.

— Por que não? — perguntou.

Leo a encarou nos olhos, ele ainda sorria, como se aquilo não o machucasse. Porém o seu sorriso era o mais triste que Rose já tinha visto.

— Minha alma gêmea me odeia — respondeu.

— Como ela poderia odiá-lo? — questionou, sem conseguir entender. — E por que ela o odiaria?

Leo suspirou.

— Não sei, mas espero um dia poder descobrir — respondeu dando de ombros. Ele se levantou. — Acho que já está na hora de voltar. Vão notar se o estrangeiro e a noiva desaparecerem por muito tempo.

Rose concordou.

— Sim, claro.

Ela ainda estava processando a conversa dos dois e toda a informação que havia recebido sobre a alma gêmea de Leo. Também estava se sentindo extremamente envergonhada, era óbvio que o assunto o havia deixado desconfortável.

Antes de partir, Leo disse:

— Bem, espero que você seja feliz. Com a escolha que você fez.

Rose continuou sentada no banco por mais alguns minutos, ainda mais confusa com as últimas palavras dele.

A festa continuou normalmente, Rose retornou para o salão de baile ainda tentando se recuperar do que havia acontecido no jardim, e muito confusa com a última fala de Leo.

Ela também não falou mais com o embaixador pelo restante da noite e, quando o olhar de Rose encontrava ele no salão, Leo nunca olhava de volta para ela. Como se aquele momento entre eles nunca tivesse acontecido.

Rose sabia que era melhor assim, ela deveria manter o foco em Lorcan e nos outros convidados. Era a festa de noivado dela, afinal, e Rose estava com dificuldades em parar de pensar em um homem que não era seu noivo.

Leo Black não era sua alma gêmea, mas quase conseguia fazê-la esquecer que sua alma gêmea era Scorpius Malfoy, quando seus pensamentos estavam focados nele. Rose precisava lembrar que Leo iria embora do país em algumas semanas, e eles nunca se veriam de novo. O que com certeza era melhor para os dois.

Quando a festa acabou, Rose se sentia mais cansada do que nunca, era realmente desgastante fazer uma festa de noivado, e ainda ter que conversar com todos os convidados.

Assim que entrou em seu quarto e tirou os sapatos, Jane ficou assustada com o estado dos pés de Rose. Mas Rose sabia que estariam piores se não fossem os curativos improvisados de Leo, realmente haviam ajudado a aliviar um pouco da dor que ela sentia.

Jane logo tratou de buscar uma pomada e fazer um curativo melhor nos pés dela, o que deixou Rose muito grata. Queria poder ficar em casa com sapatos mais confortáveis por alguns dias, porém sabia o quanto noivados eram agitados e Rose dificilmente seria deixada em paz até estar casada.

Naquela noite, estava tão exausta que caiu no sono assim que deitou a cabeça no travesseiro. Era raro que Rose não passasse horas se revirando na cama, pensando na marca na perna e temendo os pesadelos.

Porém, essa foi a primeira noite que Rose conseguiu dormir bem desde seu aniversário, Scorpius Malfoy não apareceu para matá-la em seus sonhos. Contudo, ao invés dele quem estava com Rose era Leo Black. O Lorde sorria para ela enquanto eles conversavam no jardim, sentados no mesmo banco que tinham se encontrado no baile, só que, dessa vez, a distância havia diminuído e seus corpos quase se tocavam.

Rose acordou com Jane abrindo suas janelas.

— Dormiu bem? — perguntou, como sempre perguntava toda as manhãs.

— Sim — respondeu Rose. Era o que sempre dizia, mesmo com os pesadelos, mas, finalmente, ela não estava mentindo.

A lembrança do seu sonho fez com que Rose corasse, porém, para sua sorte, Jane estava ocupada demais organizando as coisas no quarto para notar.

Rose colocou as mãos nas bochechas, sentindo-se boba por ter tido aquele tipo de sonho. Se ela não estava tendo pesadelos com Scorpius Malfoy, deveria pelo menos estar tendo sonhos com Lorcan. E não com um homem que ela mal conhecia.

— Você tem muita coisa para fazer hoje — comentou Jane entrando no quarto de vestir de Rose. — Sair com a Duquesa e sua futura sogra. E de noite um jantar no palácio.

— Jantar no palácio? — perguntou Rose, confusa, enquanto se levantava. Fez uma careta quando seus pés machucados tocaram o chão.

Jane saiu do quarto segurando um vestido rosa simples.

— Sim, seus pais não te contaram? — Rose negou e ela continuou: — O Rei convidou vocês para um jantar.

Rose mal havia se recuperado da noite anterior e agora veria Leo de novo? Era impossível que ele não fosse convidado para o jantar, como hóspede no palácio.

Pensar em Leo Black era frustrante, tinha algo nele que intrigava Rose, e talvez fosse o fato dele ser possivelmente próximo a alma gêmea dela. Mas ela sabia que manter contado com ele só a traria problemas.

Não era como se Rose fosse conversar com ele em um jantar com os pais presentes também. Poderia sobreviver a mais uma noite no mesmo ambiente que Leo, precisava acreditar nisso.

— O que está fazendo sonhando acordada? — questionou Jane, balançando as mãos na frente do rosto de Rose para que ela acordasse. — Precisa começar a se arrumar.

Deixou que Jane a guiasse até o banheiro, quem sabe molhar o rosto com água gelada fosse o que Rose precisasse para acordar.

Ela tinha muitas coisas para fazer e não podia arranjar mais um problema se envolvendo com Leo Black.

***

Rose não tinha certeza do que esperava quando foi convidada por Luna Scamander para ir às compras, mas com certeza não havia sido isso.

Para falar a verdade, ela estava temendo um pouco que sua futura sogra quisesse escolher roupas novas para o seu guarda-roupa. Luna havia aparecido com um dos vestidos mais peculiares que Rose já tinha visto: era amarelo da cor da gema do ovo, e a saia possuía diversos desenhos de girassóis. Rose não saberia o que dizer caso recebesse uma roupa assim.

Porém, para o seu alívio, Luna havia levado a Duquesa e a filha para uma loja de acessórios. Mas não eram acessórios comuns — nada era comum com Luna Scamander —, eram pedras de diversos tipos e tamanhos, algumas em joias e outras em enfeites para decorar a casa.

Rose não estava acostumava a sair para comprar joias novas, sempre tinha alguém para ir em sua casa com todas as joias mais bonitas e caras disponíveis. Então, ela não sabia muito bem como aquelas lojas normalmente se pareciam, no entanto, duvidava que elas tivessem o cheiro forte e doce como a daquela, e também a decoração colorida e exagerada.

Hermione, igualmente, parecia observar o lugar com curiosidade e estranhamento e, vendo a mãe, Rose percebeu que aquele local deveras não era um lugar que nobres costumavam frequentar.

— Achei! — exclamou Luna contente. Ela caminhou pelas prateleiras com objetos, sem que nenhum funcionário fosse atrás para pegar o que ela estava procurando, como normalmente acontecia em lojas frequentadas por nobres.

Não tendo mais o que fazer, Hermione e Rose seguiram Luna pela loja até chegarem em uma prateleira cheia de itens que possuíam uma mesma pedra rosa, que Rose não lembrava de ter visto antes.

Luna pegou um colar com a corrente dourada de outro e um pingente em forma de gota. A mulher colocou o colar na frente de Rose como se estivesse imaginado como ficaria nela.

— Perfeito — disse contente.

Rose olhou para mãe que também parecia completamente perdida. Entretanto, Luna não aparentava notar a confusão nos olhos delas.

— Vamos levar! — exclamou e, na mesma hora, uma funcionária apareceu para receber o pedido. Um serviço totalmente diferente do que Rose estava acostumada.

Sabia que precisava perguntar, ou Luna nunca a explicaria.

— Qual pedra é essa que estamos comprando?

Luna a encarou chocada na mesma hora, parecendo ter lembrado agora que precisaria explicar o que estava acontecendo.

— Ah sim! Esqueci de explicar — comentou rindo de si mesma, Rose e Hermione apenas sorriram, sem saber como reagir. Luna apontou de novo para a prateleira com as pedras rosas — É quartzo rosa, uma pedra ótima para o coração. Espero que possa intensificar a sua capacidade de amar, e melhorar o relacionamento entre você e Lorcan.

Rose concordou, mostrando que havia entendido. Mas ainda estava confusa, Luna a deu uma pedra e parecia pedir para que ela amasse Lorcan. Rose se sentia péssima em saber que não conseguiria corresponder a expectativa da sogra, poderia amar Lorcan, porém nunca da maneira que Luna queria.

A tarde com Luna havia sido menos estranha do que Rose esperava. Apesar da ida à loja de pedras, o resto seguira com tranquilidade. As três foram até um famoso salão de mulheres, local no qual as nobres se reuniam para conversar e tomar um chá. Luna contou histórias estranhas, que Rose e Hermione fingiam entender. E, depois, a Duquesa comentou sobre os preparativos do casamento, e que apenas o vestido de noiva faltava ficar pronto.

Em alguns dias, haveria outra festa, dessa vez na mansão Scamander. Luna estava cuidando de todos os preparativos, e Rose não conseguia imaginar como aquele evento seria.

Não se sentia extremamente animada para nada que envolvesse toda a preparação do casamento, queria apenas se casar e acabar logo com tudo aquilo.

Quando voltaram para casa, Rose não teve nem tempo para descansar. Tinha que se preparar para o jantar no palácio. E para ver Leo Black de novo.

Rose usou um vestido vermelho, que não era tão formal, somente o bastante para um jantar com o Rei. Normalmente ela não teria de pensar tanto no que vestir, caso fosse se encontrar apenas com a família, não era como se seu tio fosse achar desrespeitoso se ela não aparecesse com a roupa mais bonita do seu armário. Contudo, não seria apenas um jantar em família, teriam outros convidados.

Rose se sentia quase como no dia do baile, escolhendo suas roupas e esperando que Leo Black não fosse notá-la. Mas agora era diferente, ele havia a notado. O que fez com que Rose passasse mais tempo analisando os vestidos que possuía. Ela queria parecer arrumada, porém não tão arrumada que ele notasse que Rose havia se esforçado mais do que o normal.

Jane não conseguia entender, porque Rose estava perdendo tanto tempo encarando as roupas, e Rose claramente não falaria sobre Leo com ela. Então, revoltada e sem paciência, a criada decidiu que seria o vestido vermelho e ponto final. Deixando Rose sem alternativa, todavia, assim que vestiu a roupa pensou que aquele era o vestido perfeito. Chamava atenção, mas não tanta atenção. Exatamente como ela queria.

— É um colar bonito — comentou Jane, escolhendo as joias de Rose, enquanto ela se olhava no espelho. — Mas muito simples para o vestido que está usando.

Rose foi até onde a criada estava para ver que colar era. Jane segurava uma pequena caixa com o colar que Luna havia dado a ela horas atrás.

Lembrou-se das palavras da futura sogra, sobre aquela pedra ajudar Rose a intensificar sua capacidade de amar, ela ainda estava confusa com o que Luna queria dizer com aquilo. Será que ela conseguia ver que Rose havia desisto do amor depois de ver quem era a sua alma gêmea? Não planejava se apaixonar, não esperava ver Lorcan mais do que como um amigo. E duvidava que uma pedra bonita fosse capaz de mudar isso.

Mas Rose se sentia mal por Luna, entendia que como mãe ela queria que o filho fosse feliz, e que se apaixonasse por alguém.

— Vou usar — decidiu. O mínimo que poderia fazer era usar o colar sempre que pudesse, talvez ele fosse mesmo capaz de fazer com que seu coração fosse capaz de amar. Não acreditava, no entanto Luna merecia que ela tentasse.

— Esse colar? Com esse vestido? — questionou Jane como se ela fosse louca. — É melhor usar algo com um pingente maior.

— Esse está perfeito — assegurou. — Você escolheu o vestido, então deixe que eu escolha o colar.

Jane revirou os olhos.

— Tudo bem, mas nem vai parecer que está usando alguma joia com esse colar.

Jane colocou o colar no pescoço dela e, assim que se olhou no espelho, Rose notou que a corrente era maior que imaginava, e o pingente quase sumia em suas roupas. Mas, de qualquer modo, Rose se sentiu bem por ter escolhido aquele colar.

Assim que o Duque e sua família chegaram no palácio, eles foram guiados pelos guardas até a sala na qual os moradores já aguardavam. Rose sentia seu corpo tremer em antecipação, mas fez o melhor para esconder seu nervosismo. Já bastava seu pai que não estava nada feliz de ter que jantar com pessoas de Durmstrang, e havia reclamado do tio Harry o caminho inteiro até o castelo.

Hermione também preferia que a filha não chegasse tão perto dos estrangeiros, porém pedia para Ron se acalmar, era só por algumas horas e Rose não teria que falar com eles.

Quando a porta da sala se abriu, todos já estavam presentes aguardando os últimos convidados.

Os quatro fizeram uma reverência educada, que normalmente não fariam se só a família estivesse presente.

— Entrem — pediu Harry apontando para os assentos vagos. — Sei que estão muito ocupados com o casamento, mas não podia deixar de convidá-los para jantar.

O cômodo era espaçoso e tinha uma porta que levava para a grande sala de jantar. Normalmente, em jantares como aquele, eles se reuniam ali para conversar enquanto a comida era preparada e servida.

Ron e Hermione se sentaram próximos ao Rei e a Rainha, para que pudessem conversar melhor. Já Rose e Hugo como mais novos, foram até onde os primos estavam. Rose quase suspirou aliviada ao constatar que estava longe de Leo Black, e do seu guarda, que também havia sido convidado.

— Está tudo bem, Vossa Alteza — disse Hermione enquanto se sentava. — Tem muito tempo desde a última vez que jantamos juntos.

A Duquesa estava sendo formal por conta dos convidados presentes. Contudo, Ron logo comentou:

— Não precisa ser tão formal assim, querida.

Ron claramente falava aquilo para mostrar que não se importava em ter que agir formalmente, porque não respeitava aquelas visitas.

Rose queria poder repreender o próprio pai, ele agia como uma criança às vezes. Sabia de quem Hugo havia puxado a péssima atitude.

Harry sorriu, como se não tivesse notado o comportamento de Ron.

— Ron está certo — concordou. — Estamos em família aqui, nossos dois convidados não vão se importar. Lorde Black é primo do Rei Draco, estou certo?

Leo concordou.

— Sim, Vossa Alteza.

— Aposto que não precisa ser tão formal quando está conversando com ele.

Leo soltou uma risada baixa.

— O povo de Durmstrang é um pouco formal demais, Vossa Alteza — respondeu. — Preferia até que fossem menos formais.

Um mordomo apareceu em seguida avisando que o jantar já estava servido. A ordem na mesa não era muito diferente da do lugar em que estavam no outro cômodo. Rose se sentou ao lado de Lily, com Hugo na sua frente.

Notou que Lily estava mais quieta que o normal. Mas a conhecia bem o suficiente para saber que ela só estava agindo assim, porque não podia reclamar de Leo, Anthony Zabini ou da Princesa Rhiannon com os três sentados na mesma mesa.

E, por mais que Harry e Ginny estivessem sorridentes puxando assunto, o restante da mesa encontrava-se em um clima tenso. James Sirius respondia uma ou outra pergunta que o pai fazia e Rhiannon não falava nada. Rose nem ao menos se recordava se já havia escutado a voz da mulher.

Albus também parecia estar bem desconfortável. E Hugo segurava seu garfo com mais força que o normal, e parecia ficar irritado a cada palavra que Leo Black falava.

Rose estava tentando se distrair com sua comida, quando ouviu a tia a chamando:

— Rose — disse Ginny, chamando a atenção de Rose. — Como estão os preparativos para o casamento, querida?

— Estão ótimos, tia — respondeu. A verdade era que Rose não tinha muita ideia do que estava acontecendo, só seguia o que sua mãe dizia.

— Estou tão animada para termos outro casamento na família — comentou feliz. — Faz tanto tempo desde o último.

O último casamento foi o de James Sirius, e não foi o dia mais alegre para mais da metade da população de Hogwarts. Mas Ginny parecia se recordar da cerimônia com carinho.

Às vezes Rose achava que os tios viviam em uma realidade alternativa. Não era como se James tivesse se casado com uma desconhecida de outro reino e era incapaz de amá-la. E agora poderia perder seu posto de futuro rei, porque ninguém parecia querer aceitar Rhiannon como rainha.

— Sim — concordou Harry contente. — Esse casamento será o maior evento do ano. Lorde Black até concordou em ficar mais para a cerimônia.

Rose encarou o tio como se não estivesse escutado direito. Ficar? Ele estaria presente no casamento dela? Aquilo não estava nos planos de Rose.

Ron parecia tão alarmado quanto Rose, encarando Harry, parecendo capaz de assassinar o Rei naquele mesmo momento. O que não seria uma escolha sábia.

— Ficar? — perguntou quase em um sussurro, falando mais consigo mesmo. Porém, todos estavam em um silêncio absoluto, então não era difícil de escutar.

— Vai ser uma honra comparar ao casamento de sua filha, Vossa Graça — disse Leo olhando para Ron.

Rose temeu que o pai pudesse começar um escândalo na mesa de jantar. Por sorte, Harry interveio antes que algo pudesse acontecer.

— Estamos todos muito felizes com a sua presença — falou, mas a expressão dos presentes na mesa mostrava o contrário. Harry chamou o mordomo. — Acho que já está na hora da sobremesa.

Assim que aquele jantar desastroso acabou, todos voltaram para a sala anterior, para conversar e tomar um chá. Evidente que o clima não era o melhor de todos.

— Não acredito que meu pai fez isso — sussurrou Lily, indignada, dividindo um sofá com Rose. — Nem ao menos consultou o tio Ron antes de tomar a decisão.

Rose realmente não queria falar sobre aquilo, ainda mais com Leo Black apenas alguns metros de distância dela. Não era como se ela detestasse a ideia dele em seu casamento, os dois haviam se dado bem na festa de noivado de Rose. Mas ela preferia botar um ponto final na relação estranha que eles tinham formado, antes do seu casamento.

Ainda temia que ele estivesse ali com segundas intenções. E, para piorar, ela tinha tido um sonho agradável com o homem.

Era muito para lidar, não precisava que Lily insistisse em conversar sobre o assunto.

Rose observou todos no cômodo e logo notou que Albus não estava presente, aparentemente havia sido mais esperto que ela para fugir quando ninguém estava olhando.

Inventou uma desculpa que precisava ir ao banheiro para fugir de Lily e sair dali.

Rose encontrou Albus em um dos corredores vazios e escuros do palácio. Ele estava apoiado na parede, olhando para a janela, a única luz que entrava ali era a da lua.

— Albus? — chamou, aproximando-se dele. — Você está bem?

Rose se apoiou na parede, com a janela entre os dois.

Albus mostrou um sorriso fraco ao olhar para ela.

— Sim — respondeu. — Apenas cansado.

Rose havia notado que a aparência do primo não estava tão boa desde que os convidados de Durmstrang haviam chegado.

— Eles te deixam desconfortável? — perguntou e, quando Albus a encarou confuso, Rose acrescentou: — Os estrangeiros de Durmstrang.

— Acho que eles deixam todo mundo desconfortável — disse em um tom de piada, mas nenhum dos dois riu.

Rose pensou na pressão que Albus sofria para tirar o trono do irmão mais velho. Agora com os visitantes, os nobres conversavam ainda mais entre si que não queriam a Princesa Rhiannon como rainha. Alguns diziam que assim que ela assumisse o trono, Durmstrang iria anexar Hogwarts ao seu território.

Sabia que era uma ideia absurda, contudo quanto mais tempo passavam mais pessoas acreditavam nela.

Como se soubesse exatamente o que Rose estava pensando, Albus disse:

— Não nasci para ser rei — falou, olhando para a janela ao invés de olhar para ela. — James estudou e treinou sua vida inteira para isso. Eu não posso ser rei.

— Também quero que James seja nosso futuro rei — concordou Rose. — Mas não acho que você seria tão ruim. Imagina se a gente dependesse da Lily?

Albus riu alto com o comentário.

— Estaríamos perdidos.

— Tenho certeza de que ela baniria todo mundo que não gosta.

Albus concordo, sorrindo.

— E proibiria festas de chá.

— Tá vendo? Você não seria tão ruim — apontou. — Mas tenho certeza de que tio Harry não irá te forçar a seguir esse rumo. E James está mais preparado.

Albus suspirou, o sorriso sumindo de seu rosto.

— É que olhar para eles é lembrar constantemente que a maior parte desse país quer que eu seja algo que nunca quis ser. Que nunca vou poder ser — desabafou.

— Você não vai ser rei. E nem vai ter que se casar com alguém que não gosta, como Katherine Wood.

Albus fez uma careta ao ouvir o nome da mulher.

— Nem me lembre disso. Ela não para de me mandar cartas.

Rose riu.

— E você responde? — perguntou curiosa, mas já imaginando a resposta.

— Nunca! Eu queimo todas! — exclamou Albus, fingindo estar ofendido com a pergunta dela. Eles riram, mas, assim que a risada morreu, o Príncipe soltou um suspirou cansado: — Será que é tão difícil de entender que eu só quero ser um príncipe solteirão vivendo confortavelmente e trabalhando o mínimo pelo resto da vida?

Rose o empurrou de leve.

— Como você é folgado — reclamou. — Mas talvez pudesse ter seguido os seus passos. Vivendo como solteirona o resto da vida.

— Ainda dá tempo para desistir do casamento — sugeriu Albus.

Rose soltou uma risada, mas não disse mais nada. Era bom se aproximar de Albus de novo, e também gostava de imaginar outras possibilidades para o seu futuro. Porém, sabia que ela não poderia escolher ficar solteira, era mais seguro que se casasse. Mesmo que Scorpius Malfoy nunca a procurasse.

Os primos ficarem em silêncio e observaram a passagem por um tempo. Só então Rose notou que aquela janela dava para o jardim da Princesa Rhiannon, com todas as flores de Durmstrang.

Não tinha conseguido observar bem o jardim da primeira vez que passou por ele enquanto conversava com Lily. Mas, agora, com a luz da lua as flores pareciam mais bonitas ainda do que durante o dia. Elas aparentavam brilhar no escuro, algo que Rose nunca tinha visto antes.

— É melhor voltar — disse Albus, quebrando o silêncio e fazendo com que Rose desviasse o olhar. — Você vai voltar?

Rose queria olhar aquela vista mais um pouco.

— Depois.

Albus concordou se distanciando da parede.

— Foi bom conversar com você, Rose — admitiu, sorrindo timidamente. — Obrigado.

Rose sorriu. O primo era, com certeza, uma companhia melhor que a irmã mais nova. Amava Lily Luna, mas não conseguiria conversar relaxada com ela como conseguia com Albus.

A amizade entre eles era tão natural, que Rose se perguntava como haviam perdido contado ao longo dos anos. Talvez pudesse aproveitar que estava se mudando para capital e certificar que não se distanciassem novamente.

Observou enquanto o primo ia embora, até que ele sumiu no corredor escuro.

Retornou seu olhar para o jardim, não sabia quanto tempo havia passado. E provavelmente deveria voltar, antes que Lily, Hugo, ou pior, seu pai fossem atrás dela.

Respirou fundo. Desejava poder entrar naquele jardim e sentir o cheiro das flores. Porém, Rose sabia que não poderia entrar. Era o jardim de Rhiannon, um pequeno pedaço de Durmstrang em Hogwarts.

Rose ouviu passos no corredor.

— Albus? — chamou, sem conseguir enxergar a pessoa no escuro.

— Desculpa decepcionar, Rose — respondeu uma voz que Rose reconhecia com facilidade.

Leo Black deu mais alguns passos para frente, entrando na parte do corredor que estava iluminada.

Rose tentou olhar em volta para ver se mais alguém estava ali. Temia que Hugo fosse aparecer gritando por ela como da última vez que encontrou o Lorde em um dos corredores do palácio.

— Príncipe Albus está no salão, conversando sobre espadas com seu irmão — disse achando que ela estava procurando pelo primo. — Ou melhor, ele está quieto enquanto Lorde Hugo fala tudo.

Rose se viu sorrindo com o comentário, realmente era algo que Hugo faria.

— E por que está aqui? — perguntou, cruzando os braços. — Costuma andar pelos corredores procurando esbarrar com damas distraídas?

Leo riu com a pergunta dela. E deu mais alguns passos ficando bem na frente de Rose.

— É claro — concordou brincando. — E pelo visto dei sorte hoje.

Rose revirou os olhos, ainda sorrindo.

— Vão notar se você sumir por muito tempo — comentou. Era estranho como Rose nem ao menos havia pensado em chamá-lo de Lorde, depois que Leo a pediu para chamá-lo pelo primeiro nome. Ela se sentia confortável demais ao lado dele, como se fosse amigos.

Rose não sabia se poderia pensar naquele homem que mal conhecia como amigo. Principalmente quando Leo ainda poderia estragar o seu casamento.

— Precisava de um ar — explicou. — Não estava mais aguentando os olhares do Duque, nunca pensei que fosse possível morrer por causa de um olhar, mas talvez seja.

Rose jogou a cabeça para trás se sentindo extremamente envergonhada.

— Desculpa — disse. — Meu pai pode ser um pouco...

Desagradável? Infantil? Rose não sabia qual seria o adjetivo certo para descrever as atitudes de Ron.

Leo acenou com a cabeça, mostrando que entendia o que ela queria dizer.

— Está tudo bem. Prefiro a sua companhia mesmo do que as dos outros — assegurou. Rose arregalou os olhos, chocada com as palavras dele. Leo poderia estar falando aquilo apenas como amigos, mas não parecia algo certo a se dizer a uma mulher que estava noiva. Contudo, ele não deixou que ela falasse algo, rapidamente mudando de assunto: — E os seus pés? Ainda estão doendo?

Rose resolveu que era melhor não o pressionar pelo o que ele havia dito.

— Sim, estou cuidando deles, e colocando curativos — respondeu. — Obrigada, estariam piores caso você não tivesse ajudado.

Leo sorriu, contente com a resposta dela.

— Estou sempre a disposição para fazer curativos em seus pés — disse, parecendo ser sincero.

Rose riu, sem entender como ele conseguia falar uma frase daquelas com o rosto sério. Também esperava nunca mais precisar dos serviços dele, por mais agradáveis que tivessem sido. Ainda era melhor manter uma distância segura entre os dois, que não envolvesse Leo tocando em seus pés.

Assim que eles ficaram em silêncio, Leo desviou o olhar do rosto dela, só então notando a vista da janela.

— É um lindo jardim — comentou.

— Sim — concordou Rose observando as flores mais uma vez. — É incrível.

— São mais bonitas ainda em Durmstrang — disse Leo. — O solo de Hogwarts não é igual.

Rose não conseguia imaginar como as flores poderiam ser mais bonitas do que já eram. Ela se sentia hipnotizada pela beleza delas e, por um momento, imaginou como seria vê-las em Durmstrang. Porém rapidamente empurrou aqueles pensamentos para longe.

Rose nunca saberia, porque ela nunca iria para Durmstrang.

Encarou Leo de novo, ele ainda olhava as flores, parecendo alheio ao olhar dela. Provavelmente sentia falta de casa, por mais que tentasse não demonstrar.

Rose não conseguia entender, porque ele parecia tão determinado em se aproximar dela. A única explicação possível era que sabia que a sua alma gêmea era Scorpius Malfoy.

Entretanto, uma parte de Rose desejava que não fosse por isso. Mesmo que tivessem conversado três vezes, notou que gostava da companhia do homem. Não queria pensar que ele possuía segundas intenções com ela. Mas seria muita ingenuidade desconsiderar tais pensamentos.

— Por que é tão amigável comigo? — questionou séria.

Leo a encarou, parecendo ter sido pego desprevenido com a pergunta repentina.

Porém, não precisou pensar muito antes de responder:

— Quero ser seu amigo. Não tenho muitos amigos em Hogwarts.

Rose sabia que aquela era a pior desculpa do mundo. Tinha certeza que “fazer amigos” não estava nas missões de Leo Black como embaixador.

— Então, por que eu? Tenho certeza de que existem outras opções de amigos mais apropriadas.

Que não são mulheres noivas de outros homens, completou mentalmente.

— Não acho — retrucou Leo, pensativo. — Acredito que você seja a amiga perfeita. Temos muito em comum.

Rose soltou uma risada sarcástica. O que eles poderiam ter em comum? Almas gêmeas de Durmstrang?

— Temos algo em comum? — indagou arqueando uma das sobrancelhas.

Leo pensou bem por alguns segundos antes de responder. Rose estava curiosa para ver até onde ele ia com aquelas desculpas.

— Nós dois... — iniciou devagar para criar um suspense. — Ficamos muito bem de vermelho.

Rose riu sendo pega de surpresa com a resposta.

— Que desculpa é essa — murmurou em voz baixa. — Isso não é um motivo bom! E eu nunca te vi de vermelho, pode estar mentindo.

Desde que se conheceram, Leo havia usado roupas escuras como preto e azul marinho.

— Se você não acredita posso te mostrar — retrucou desafiador. — Na próxima vez que nos entrarmos usarei vermelho. Você vai ver como fico bem de vermelho.

Para falar a verdade, Rose duvidava que alguma cor ficasse ruim em Leo Black. Parecia impossível que um homem como aquele conseguisse ficar feio. Entretanto ela jamais diria aquilo em voz alta.

— Tudo bem, vou esperar por essa.

Rose se afastou da parede decidindo que realmente deveria voltar. Se Ron notasse que só Rose e Leo não estavam presentes, ficaria louco. E, se Hugo os encontrasse de novo, não iria concordar em não contar para o pai como da outra vez.

— Já vai? — perguntou Leo, com uma expressão triste no rosto.

Rose precisava sair o mais rápido possível, porque não duvidava que ele fosse capaz de fazê-la ficar quando a encarava assim.

— Preciso voltar — disse. — Ou meu pai pode aparecer aqui e realmente tentar te matar.

Leo fingiu uma expressão de assustado, fazendo com que ela risse.

— Vá! — exclamou como se estivesse com medo. — Não planejo ser assassinado pelo Duque essa noite.

Ela riu com o comentário dele. Por mais um momento, Rose observou Leo, que já havia voltado a olhar para a janela, e depois se virou para finalmente ir embora.

Rose não reparou, mas estava sorrindo o caminho inteiro de volta para sala.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Comentários são sempre bem-vindos ;)
O próximo sai algum dia semana que vem (correndo para escrever!!)
Beijos, Violet