Partilhar escrita por WinnieCooper


Capítulo 6
Jantares


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigada Little Alice por favoritar essa fic. Sobre o capítulo, ficou um pouco maior que os outros por motivo de ser um Capítulo especial. Temos algumas questões que acontecem por aqui. Íris é uma personagem de Anny, mas desde que ela me apresentou eu a tornei namorada de Hugo e é isso. Matei Huly na minha vida.
Tomara que gostem ❤️



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Scorpius começou a decorar certas manias e preferências de Rose; como ela prometera, ele de fato aprendeu a fazer o café do jeito que ela um dia definiu como "elixir da sobrevivência" — forte (mas não tão forte!) e doce (mas não tão doce a ponto de ser enjoativo!).  Respeitava os horários dela de assistir novelas — eram sagrados e ele não podia rir, pois, recebia um discurso de como estava sendo preconceituoso com produções que sequer conhecia. Rose, por sua vez, também aprendia cada vez mais sobre o amigo: sua rotina consistia em correr com o cachorro, trabalhar e brincar com o cachorro na volta do trabalho. Ao menos era essa a rotina antes dela chegar, ela imaginava; agora, Scorpius também amava conversar com ela depois do trabalho e prestava atenção quando ela o ensinava o passo-a-passo do café perfeito e sobre feitiços de organização (ele se esforçava muito para não rir a cada vez que ela o encarava, fazia um floreio com a varinha e enfatizava: "Agora literalmente é só deixar a mágica acontecer!  ‘Tá vendo, Scorpius? Não é tão difícil!"). Mas, o ponto alto do dia de ambos era a recém-adquirida rotina de assistir a seriados antes de dormir. Nos finais de semana, chegavam a varar a madrugada com Gryffin a tiracolo, cobertas e um balde de pipoca. E, assim, em pouco tempo estavam aprendendo o dia-a-dia um do outro.

— Meu pai está para Lorelai, só que calado, assim como eu estou para Rory, mas falando igual a Lorelai… — ele disse no final de mais um episódio da série que acompanhava. 

Rose colocou um ponto final no que digitava em seu computador. Finalmente havia conseguido escrever seu artigo, o mais importante até então, o mais difícil e, ironicamente, o mais curto. 

— Esses jantares são tão difíceis assim? — perguntou preocupada. Scorpius insistia em afirmar que os jantares de seus avós eram muito parecidos com os do seriado. 

— Bom, tem vezes que me divirto, como o último que contei que estávamos juntos. Foi o melhor carneiro com batatas que comi na vida! Sério! Até a comida estava mais saborosa.

Rose não tinha medo nenhum dos Malfoys, foi por isso que sugeriu:

— Posso ir com você no próximo.

Pensar em Rose indo à casa de seus avós trazia a Scorpius as mais diversas preocupações. Várias possibilidades passavam pela do jovem agora, pois, sabia que o ambiente em que Rose crescera não era nada parecido com o dele. Afinal, já havia passado dias na Toca e lembrava perfeitamente da avó calorosa, do avô educado e o ambiente acolhedor que eles proporcionavam aos netos — nada parecido com a mansão fúnebre que ele a levaria para jantar e muito menos com seus avós frios e rancorosos. 

— Não acha cedo? 

— Não, afinal um dos motivos de estarmos juntos é para isso, não é? Eu vou amar, juro. — ela sorriu, mas ele ainda não estava convencido. — Meu pai me liga duas vezes por dia, sabe? Ele quer muito que eu vá jantar com eles sábado. Pensei que talvez pudéssemos ir juntos. — sugeriu. 

Quando entrou de cabeça nessa ideia e a convenceu de que seria ótimo fingirem um relacionamento, esqueceu de certas partes do que seria esse relacionamento. Seria covardia dizer que tinha medo do pai dela? Quando ela não tinha nenhum medo de encarar seus avós?

— Pode marcar. — lhe entregou um sorriso amarelo tentando manter a calma. 

xx

        Kat observava a amiga sorrindo olhando para o celular, ela ria enquanto seus dedos digitavam algo muito rápido. 

— Em qual capítulo estamos na série da sua vida? — perguntou curiosa. 

Rose a encarou tentando entender suas meias-palavras. 

— No dos jantares. — disse por fim lembrando de seu compromisso da noite e do sábado. 

— Apresentação oficial para a família? Está ficando sério. Quer dizer, ele queria te levar para conhecer a família dele desde o princípio, não é? 

Rose não estava prestando atenção em Kat, apenas ria observando a tela de seu aparelho. 

— Meu pai é sempre meu pai, tá de mau-humor porque disse que o Scorpius ia comigo jantar no sábado. 

— Ele vai jantar na casa de seus pais? — em algum momento, Kat achou que esse dia chegaria, porém, não tão cedo. 

— Olha só o que ele me mandou! 

Rose entregou seu celular a amiga que passou os olhos nos dizeres de seu pai.

Ron: P/ um jantar tão especial, me diga oq ele gosta de comer. 

Rose: Comida italiana dos trouxas é sua preferida.

Ron: Ótimo!! Providenciarei um clássico de outro país, então. Quem sabe da Índia com seus temperos fortes? Talvez fazer algum legume, berinjela ele n deve gostar, sabe se ele tem pavor a cebolinhas? Quem sabe faço um prato cheio de legumes variados, alguns ele deve odiar. Melhor! Ele tem intolerância alimentar? Alergia a camarão? Seria ótimo!!

Rose: É melhor o senhor se comportar, senão não vou.

Ron: O que acha de o chamar para jogar xadrez???

Rose: Prometa que não o chamará para jogar xadrez com vc!!!

— Seu pai sabe usar o celular para mandar mensagens? 

— Sim, e faz compras com cartão de crédito, é um grande entusiasta de documentários, assiste diversos dos mais variados, além de amar reality shows de comida e reforma de casas. Praticamente um trouxa.

Ela parecia feliz, Kat ficava aliviada de a ver assim, tão leve e sorridente, sem a nuvem negra que a perseguia dias atrás, estava vendo uma face de sua amiga que não conhecia. Não parecia mais uma velha ranzinza o que a fez lembrar de outra coisa. 

— E o seu artigo? 

— Terminei! — Rose abriu seu notebook, fez uns comandos com os dedos e virou a tela para a amiga. — Revisa para mim? Só para ver se não deixei passar nenhuma palavra errada. 

Kat concordou com a cabeça e começou a ler o artigo. Era pequeno para a amiga que amava falar e escrever - às vezes até demais. Quando falavam sobre assuntos que considerava chatos e irrelevantes, como as tendências da moda casamenteira, Rose escrevia tanto que Kat tinha que cortar metade quando ia revisar. Por isso, pensou que quando pegasse um artigo que a amiga sempre quis escrever fosse encontrar uma bíblia. Entretanto, não foi isso o que aconteceu. Se surpreendeu tanto que não deixou de comentar:

— O que aconteceu com você que escreveu tão pouco? 

Seus olhos passavam rapidamente pelas palavras digitadas. Não passavam de mil, mas eram frases bem características dela como: "Os relacionamentos hoje em dia são vazios e frágeis, acabam no primeiro problema que aparece…". "A maioria dos jovens procura liberdade e não cumplicidade quando estão juntos…". Só por essas duas frases, já sabia que seu chefe não iria gostar muito do que leria. 

— Achei que fosse mudar seu texto, você falou que não estava gostando do que estava escrevendo. — Kat comentou observando a amiga vendo vídeos em seu celular enquanto anotava informações num pedaço de papel. 

— Eu mudei. — Rose respondeu sem olhá-la. 

— O que está fazendo? — a amiga de trabalho de Rose estava curiosa. Ela parecia assistir um vídeo de receita. 

— Quero cozinhar para Scorpius no domingo. Sabe? Vamos passar por dois jantares difíceis hoje e amanhã, porque eu tenho certeza que meu pai vai implicar com ele. Então vou fazer alguma coisa domingo. 

Você cozinhando para um homem? — não deixou de exclamar espantada. 

— E qual é o problema? — perguntou brava olhando para ela. 

— Nenhum. — negou automaticamente voltando a ler o artigo dela, que dizia exatamente o contrário do que ela vivia em seu relacionamento de mentira com Scorpius.

xx

Rose parecia animada parada em frente a porta da mansão Malfoy. Não era o caso de Scorpius que estava tenso imaginando tudo o que ela poderia passar. 

— Eu sei que minha ideia inicial de fingirmos um relacionamento era para dar uma lição neles. Mas se quiser desistir eu vou entender. Já está me ajudando na minha profissão e…

— Está brincando? Eu vou amar esse jantar! — parecia animada para entrar no abatedouro.

**

 Scorpius estava nervoso. Rose nunca o vira pular tanto de um lado para outro. Parecia não conseguir ficar parado. 

— Está tudo bem? — ela perguntou quase rindo, sabia que ele estava ansioso por causa do jantar na casa de seus pais. 

— É que só agora estou achando que estamos indo rápido demais nesse lance de jantar com a família. — ele quase suava frio pensando que encararia os pais dela como namorado dali alguns minutos. 

— Na verdade, minha mãe não gostou muito que viemos morar junto antes de você se apresentar a eles oficialmente como meu namorado, sabe? Mas meu pai te idolatra, vai dar tudo certo. 

Ok, além do pai dela, tinha a mãe que o detestava agora. Tudo caminhando para o colapso da noite. 

**

Astória foi a única a abraçar quando ambos entraram finalmente na mansão.

— Estou tão feliz de ser você a primeira e última namorada oficial que ele nos apresenta. 

Rose lembrava-se da mãe de Scorpius quando era nova, sempre bonita ao ponto de ser estonteante, correta em seus ensinamentos ao filho e nada careta. Draco, que estava ao lado da esposa, a cumprimentou com um aperto de mão. Não eram eles que lhe provocavam receios, mas sim os avós que cochichavam à distância sobre suas roupas e seus cabelos laranjas.

— Como vai, senhora Malfoy? — chegou perto da avó de Scorpius esticando brevemente sua mão.

Ela não lhe respondeu, mas apertou sua mão brevemente.

— Como vai, senhor Malfoy? — o avô, por outro lado, ignorou a mão esticada dela, mas respondeu:

— Dotado de saúde e consciente, eu diria ótimo.

Ela sorriu e voltou para ficar ao lado de Scorpius que engolia em seco com medo da reação dos dois enquanto colocava a palma de sua mão em seus ombros apertando indicando apoio.

— Aceitam uma bebida? 

Quando ela negou com a cabeça a pergunta da avó dele e disse que preferia vinho a whiskey de fogo, e sentou-se na sala da lareira enquanto o avô dele lia o jornal indignado com várias notícias, entendeu a constante comparação que fazia aos jantares da série que assistiam juntos.

— Impressionante como esse governo ultimamente só pensa em nos transformar em trouxas com certas atitudes. — Lucius ralhou com o jornal depositando ele de lado indignado.

— O que aconteceu exatamente? — Scorpius perguntou, previa o caos, mas mesmo assim resolveu arriscar a pergunta.

— O Ministro aprovou uma lei para que as crianças bruxas participem das campanhas de vacinação dos trouxas. 

— E qual é o absurdo nisso? — Rose prontamente respondeu. — Minha mãe sempre vacinou meu irmão e eu, as vacinas dos trouxas são importantes, nos protegem de doenças como tuberculose e paralisia infantil, fora vários outros benefícios. As crianças trouxas não podem sequer estudar sem se vacinar, foi uma luta de muitos anos até minha mãe conseguir aprovar esta lei. 

— Tinha que ter o dedo da sangue-ruim nisso... — comentou num sussurro, mas todos ouviram.

Rose suspirou chateada diante do apelido preconceituoso que só havia lido em livros históricos, mas nunca ouvira em voz alta, nem por estudantes, nem por membros de sua família. 

— Minha mãe é nascida-trouxa, e tenho muito orgulho de ser mestiça por causa dela! Ser sangue-ruim não tem nada a ver com linhagem sanguínea, ou não ter nascido em berço de ouro. Tem a ver com caráter. 

Scorpius procurou a mão de Rose e a segurou apertando-a em solidariedade. Nunca acreditou que seu avô fosse falar tais palavras na frente dela, mas, ao mesmo tempo, a agradecia por ser tão segura de si e se defender sem medo algum do que poderia ouvir a seguir.

Permaneceram em silêncio depois da frase de Rose, esperando a hora do jantar enquanto sua avó saía da sala constrangida e ia atrás dos elfos da casa para saber como estava tudo na cozinha.

**

Resolveu entregar um ramalhete de rosas a Hermione, insistiu com Rose para pararem, antes de irem ao jantar, numa floricultura, afinal precisava se desculpar de alguma forma de ter “roubado” sua filha do lar sem antes se apresentar como namorado oficial. Ele suava frio quando Rose tocou a campainha.

Rose queria rir, mas entendia seus medos e receios, apesar da mentira, se apresentar a família da namorada era real. 

Cumprimentou a mãe dela que agradeceu as flores e foi depositá-las num vaso na cozinha. Hugo e a namorada também estavam lá jogando videogame e pararam para dizer oi.

— De algum jeito eu sabia que esse dia chegaria. — foi o que seu suposto cunhado lhe disse quando apertaram as mãos.

Lembrava-se de Hugo como o irmão protegido de Rose que amava coisas dos trouxas, era esquisito e vivia com um boné na cabeça. Este Hugo era diferente, parecia responsável e confiante, mas, apesar de tudo, conservava os costumes trouxas. Scorpius disse oi a namorada dele, que era totalmente diferente do que havia imaginado para uma namorada de Hugo: ela era trouxa, gorda, usava roupas coloridas e seus cabelos eram de diferentes cores, parecia um arco-íris.

— Prazer, sou Íris. 

Imediatamente entendeu tudo e nunca achou que um nome combinasse tanto com uma pessoa. 

Ronald observava-o de canto. Parecia gravar cada movimento seu só esperando que falhasse.

— Soube que o senhor é um grande fã dos Cannons. — Scorpius lhe deu um sorriso de lado vergonhoso enquanto cumprimentava seu “sogro”.

— Sim, uma pena que hoje não falaremos de quadribol.

Scorpius engoliu em seco enquanto Rose lançava um olhar cortante para o pai. 

— Pai!

— Estou me comportando. — ele se justificou para Rose. 

Por um momento, o loiro pensou que o jantar poderia ser pior que o da noite anterior.

**

— Peço desculpas pelo inconveniente. Os nossos elfos atrasaram  e apesar das constantes instruções que dei a eles parece que não adiantou de nada. Sinto falta dos tempos em que não precisava falar nada e eles apenas adivinhavam o que queria. 

Narcisa falava pela milésima vez a respeito do jantar ter atrasado míseros cinco minutos; eram tantos pratos na mesa que parecia os banquetes de Hogwarts. Três frangos assados, arroz temperado, uma travessa enorme de purê de batatas, cenouras cozidas, outros legumes espalhados nos cantos, três tipos diferentes de caldos e um porco assado inteiro no centro. 

Rose seguiu em silêncio entregando apenas sorrisos falsos as diferentes frases que soltavam à mesa. Mas observar aquele amontoado de comida a fez remexer um antigo costume na casa de seus pais e um ensinamento de Hermione Granger veio a sua língua e ela não deixou de falar: 

— Vocês vão doar parte da comida? 

O desperdício de comida era um assunto sério em sua casa, uma vez seus pais haviam discutido por jogarem fora as cascas dos pães que ficavam vagando nos sacos plásticos.

— Não, somos só nós. Quis trazer um cardápio variado para que se sentisse à vontade para comer o que mais gostasse. 

— Entendo, mas certamente a senhora há de me dar razão que três frangos assados é um exagero. — a jovem ruiva não conseguiu ficar calada diante da recepção estranha e exagerada da avó de Scorpius. 

— Certamente está estranhando o banquete. — Lucius comentou com a mulher. - Weasleys não tem o costume de uma mesa farta. É isso que dá se reproduzirem feito coelhos.

— Não estou estranhando a fartura. Minha família apesar de grande passa muito bem, obrigada. O que estou estranhando é o exagero. Por exemplo, duas carnes são desnecessárias. 

— Eles são assim querida, de alguma forma iam arranjar jeito de te humilhar. Devem ter parado no tempo acreditando que os Weasleys não tem dinheiro. — Astória comentou com a nora, num sussurro tão alto que todos compreenderam. — Quer dizer, para eles era humanamente impossível ter mais de um filho, ter uma alimentação normal em casa e sobrar dinheiro.

— Nunca quis humilhar ninguém. — Narcisa automaticamente se defendeu. — Não coloque palavras na minha boca. 

— Podemos só começar a jantar? — Draco se pronunciou após ficar muito tempo calado prevendo discussões entre sua mãe e esposa. 

Serviram-se, Rose saboreou a comida, sem a carne, faria um pequeno protesto diante do desperdício. A avó de Scorpius reclamava que o molho do porco não havia ficado igual ao do restaurante que havia comido na semana anterior. 

— ...Eu ainda consegui a receita do molho, mas a incompetente da Elfa não conseguiu reproduzir. 

— Gostou da comida, querida? É um pouco difícil engolir o jantar nesta casa, mas com o tempo eu me acostumei. — Astória fingia não ouvir os resmungos de Narcisa e dava atenção a Rose. 

— Está tudo maravilhoso, pode parabenizar a Elfa para mim. — encarou a matriarca para que entendesse suas palavras. 

— Não comeu a carne, por isso não viu o erro no molho. — Narcisa remendou. 

— Na verdade, não como carne durante a semana, esqueci de dizer isso a Scorpius. Me desculpe — Rose virou seu rosto ao jovem dando uma piscadela a ele imperceptível. 

— Não come carne? É vegetariana? 

— Oh, não! — Rose automaticamente negou com a cabeça a pergunta da sogra. - Meu pai é fascinado por documentários, e assistiu um que falava sobre a indústria alimentícia. Descobriu as atrocidades com os animais e o quanto nosso mundo é poluído, devastado e como o clima é afetado e que se ficarmos sem comer carne durante um dia na semana diminuímos a emissão de gás carbônico na atmosfera e economizamos mais de 3 mil litros de água por dia. A partir desse dia diminuímos o consumo em casa e me acostumei a não comer durante a semana, substituímos por outras proteínas, como o ovo. 

— Eu não sabia disso, vou começar a aderir. — conversava com a sogra como se fossem amigas. 

— De que adianta não comer a carne se ela já está morta, cozida e estirada no centro da mesa? Os malefícios já foram feitos. — Lucius comentou. 

— Concordo. — ela respondeu. — Não comi em forma de protesto. 

Scorpius reconheceu o tom de voz que Rose usava no jantar, não era na defensiva como escutava agora sua avó retrucar dizendo que só fez tudo com a melhor das intenções, era audacioso e corajoso, usava quando queria escancarar verdades nos olhos de pessoas preconceituosas no castelo. 

— Eu sei que a senhora é generosa e dotada de boas intenções. — Rose confirmou com a cabeça. — Afinal, é mãe e como mãe sabe da importância de escolher o lado certo na hora certa. 

Era a primeira vez que Scorpius se mantinha quieto num jantar tão intimidador, sabia que Rose não precisava de ajuda quando queria dizer o que pensava, ela estava muito bem amparada com sua razão e sua vontade de gritar aos sete ventos as verdades que havia estudado.

— O que está querendo dizer? — Lucius perguntou notando ironia na frase da jovem.

— Ora, provavelmente o senhor deve saber o que a sua mulher fez em nome do amor de mãe. 

Talvez estivesse exagerando um pouco, mas já que havia começado, prosseguiria.

— Meu padrinho nunca conta nada sobre a época de guerra, sobre tudo o que passou, mas uma história ele contou e aposto que os senhores conhecem. 

Scorpius não fazia ideia do que Rose falava, estava curioso e receoso ao mesmo tempo, porém, não mais que seus avós que pareciam em pânico. 

**

 — O que achou do cardápio? — Ron perguntou ao genro observando cada movimento de suas mãos e de seus lábios ao comer. Aparentemente ele adorava cebolinha e não tinha alergia a camarões.

— Tudo muito... Saboroso, a Rose… Me disse... Que o senhor... Cozinhava bem, mas não sabia… Que era... Tão bem assim. — Scorpius respondeu entre engasgos de nervosismo.

— Pode deixar que vou dizer isso ao restaurante que encomendei a comida. — Ron deu um sorriso de lado enquanto recebia um tapa quase imperceptível de Hermione nos ombros.

— Pai, por favor! — Rose o repreendeu olhando feio para ele.

— Foi ele que cozinhou. — Hugo contou a Scorpius com um riso quase escapando de seus lábios. 

— Realmente, não é alérgico a camarão, que pen.. Bom. — aquele “que bom” parecera “que pena” aos ouvidos de Scorpius. — Gosta então de comidas trouxas?

— Comidas trouxas amo, algo que Rose ama todos os dias. — ele sorriu amarelo a ele odiando o que havia falado logo em seguida. — Quer dizer, algo que amo que ela me ensine a amar todos os dias.

Ron encarou a mulher e negou com a cabeça, sussurrando algo inaudível, que Scorpius entendeu como: “Não sabe nem falar”.

— Trate de ajudá-lo… — o sussurro que Hermione deu em repressão a ele foi bem audível.

Ron suspirou e olhou novamente o loiro, que engoliu em seco.

— Como anda seu emprego?

— Ganhamos o último jogo! — ele sorriu com o assunto fácil. — Tenho esperanças de chegarmos à final do campeonato.

— Finalmente nos dará a taça? 

— Pai, o time não depende só dele. — Rose o olhou brava.

— Sim, mas é o mais bem pago e precisa fazer valer todos os investimentos que o Cannons faz nele. 

— Estou treinando muito e fazendo de tudo para entregar o título ao time. O senhor pode ter certeza. 

— Mas, será que seu tudo será suficiente? Assim como está fazendo tudo para deixar minha filha feliz, não é mesmo? Se um dia você falhar, uma mísera linha do seu esforço diário, eu saberei, e…

— Hum, hum! — Hermione pigarreou. — Vamos mudar de assunto e falar do futuro? Quando pretendem me dar netos?

— Mãe!? — Rose olhou indignada sua mãe. 

— Gina já tem netos, e é mais nova do que eu, quero estragá-los já que não pude fazer isso com vocês dois. 

— Hugo está num relacionamento há mais tempo do que eu. — a ruiva esticou as mãos no ar jogando a responsabilidade em seu irmão.

— Não pretendo ter filhos, eles já sabem disso. — respondeu à irmã automaticamente.

— Rose, minha filha, você sabe que já tem quase trinta anos, uma mulher perde quase 90% dos óvulos até os trinta anos, depois disso é muito complicado engravidar, fora as doenças e ser bem mais perigoso para você…

— Mãe, estamos jantando. JAN-TAN-DO!

— Vou te levar no seu ginecologista, segunda mesmo marco uma consulta. Precisa colher preventivo também.

— Está querendo dizer que ela está tendo relações sexuais com o filho do Malfoy? Antes do casamento? — Ron perguntou preocupado para a mulher. 

— Ela já estava praticamente casada quando resolveu morar com ele… - Hermione virou o rosto para a filha. — Antes de nos apresentá-lo.

Tudo caminhava para a beira do colapso, Scorpius sabia disso, foi tentando apaziguar os ânimos que falou:

— Sou bem-educado com ela em relação a isso. 

— Como pode ser bem-educado com ela na cama? — Ron perguntou para ele nervoso.

— Não vou falar da minha vida sexual enquanto como camarão! Parem todos! — Rose gritou com o rosto tão vermelho que parecia a própria personificação de um camarão. Hugo gargalhava enquanto todos comiam em silêncio.

— Tudo bem, filha. Você tem toda razão. Vamos mudar um pouco de assunto então… Sabemos sua profissão, conhecemos sua família… — Hermione começou.

— Infelizmente. - Ron completou.

— Quais são seus hobbies? - Hermione completou rapidamente.

— Gosto de correr com meu cachorro e agora de assistir séries com a Rose. — ele sorriu diante da pergunta tranquila que se seguiu.

— Ele é um ótimo aluno para aprender hábitos trouxas. — Rose constatou.

— Devíamos jogar videogame depois! — Hugo disse empolgado para Scorpius. 

— Nunca joguei, o que é isso? - perguntou curioso. 

— Não entre na dele… — Rose o avisou com a voz baixa, virou seu olhar para Hugo. — Não vá usar seus truques com ele!

— O que foi? — perguntou na defensiva. — Só queria jogar com ele.

 — E o massacrar no futebol. — Rose concluiu. 

— Jogos? — Ron exclamou pensando consigo. — O que acha de xadrez, meu rapaz?

— Pai! Você me prometeu! — Rose explodiu receosa. 

— Jogava xadrez com a Rose quando estávamos em Hogwarts — Scorpius respondeu incerto.

— Tenho uma regra em casa, quem namora meus filhos precisa passar no teste do xadrez…

— Não usou essa regra com a Íris! — Rose protestou.

— Ela não namora você! — Ron respondeu enquanto encarava Scorpius. — E, aí? Aceita o desafio?

**

— Meu padrinho contava sua história não como sendo o menino que sobreviveu duas vezes, como os tabloides costumam narrar, mas como aquele que foi salvo três vezes por causa do amor de uma mãe. A primeira vez que isso aconteceu foi com sua mãe, Lily, que com seu puro amor materno protegeu o filho ao se sacrificar. A segunda foi com a minha avó Molly, que o acolheu e o resgatou como uma mãe e lhe deu todo o amor que ele não se lembrava de ter recebido de Lily. E, por último, você, senhora Malfoy... — nesse ponto da narração  da história de Rose, ela encarava Narcisa. — Que motivada pelo amor que sentia pelo seu filho e pensando somente nele, mentiu a Voldemort quando disse que Harry Potter estava morto. Você salvou meu padrinho por causa do seu amor de mãe e foi por isso que os Malfoys foram absolvidos contra todas as atrocidades que aconteceram nessa mansão, como a tortura que minha mãe sofreu e as mortes de nascidos-trouxas que ocorreram sob este teto. Ainda que haja muita coisa para se mudar, o mundo bruxo só está assim agora em paz, com respeito e novas leis sendo implantadas graças ao amor que a senhora demonstrou pelo seu filho. 

Todos ficaram calados diante da nova informação jogada à mesa de jantar. Draco encarava a mãe enquanto absorvia a revelação de Rose chocado com as novidades.

— A senhora checou se Harry estava vivo naquela floresta? Mentiu para me salvar? — a voz de Draco estava fraca e perplexa ao mesmo tempo.

— Entenda que eu estava desesperada para saber se estava vivo, nunca me senti tão no escuro. Tão sem saber como agir. Eu sou mãe! 

— E mesmo assim me sacrificou, sacrificou minha esposa e meu filho todos esses anos, por termos nossas próprias opiniões, por eu ter me arrependido de lutar do lado errado, por eu ter escolhido criar Scorpius ensinando-o a respeitar os trouxas, respeitar o diferente e nunca revidar as represálias que sofreu pelo sobrenome que carrega!

— Por que está atacando sua mãe?

— Não estou atacando ela, só quero entender qual é o problema de vocês?! Por que não assumem que erraram? Por que esconderam essa informação durante todos esses anos?

A discussão que se seguiu fez Draco se levantar da mesa indignado, fazendo Astoria se preocupar com o marido e Scorpius tremer de medo. 

— Me desculpe. — Rose suspirou olhando o amigo arrependida do jeito que jogou a informação.

Ele negou com a cabeça para que ela se acalmasse.

— Está tudo bem, vamos embora daqui.

Scorpius segurou as mãos dela e a arrastou para o hall de entrada. Antes de aparatarem para longe daquela mansão, Rose o chamou.

— Eu não sabia que seus avós escondiam isso de vocês… — ela tinha que falar, sentia um nó em sua garganta. — Você me perdoa? 

Se lançou nos braços dele o abraçando, sentiu ele chorar enquanto retribuía o abraço enquanto ouviam os gritos na sala de jantar. A apertou no abraço, recebia conforto ao mesmo tempo que descarregava anos de injustiças e injúrias que ouvia de seus avós. Era um assunto delicado que ela não devia ter disparado assim.

— O que posso fazer para te animar? — perguntou desesperada. Não era esse o plano inicial de um jantar, com verdades esfregadas na cara de ambos, na mansão Malfoy. 

— Você já fez. Obrigado por me contar. — ele depositou um beijo em sua testa ainda com lágrimas nos olhos, segurou sua mão e aparatou para o apartamento.

**

Rose estava parada batendo os pés com os braços cruzados, observando a cena de assassinato ao iniciante em xadrez. Seu pai mexia as peças de xadrez com o sorriso mais aberto do mundo no rosto, enquanto Scorpius piscava nervoso e engolia em seco em todas as peças que eram mortas no tabuleiro. 

Dois jantares desastrosos, um seguido do outro, dois jantares em que ela se sentia culpada por ter feito ele se sentir mal.

— Ele já era… — Hugo comentou abanando a cabeça. O único capaz de derrotar seu pai era seu irmão. 

Em menos de cinco minutos Scorpius foi massacrado no xadrez por Ronald Weasley. 

— Então você perdeu! — ele riu enquanto esfregava as mãos uma nas outras. — Isso significa… 

— Não significa nada!!! Estou muito chateada com você, papai! — Rose quase chorava de ódio. — Precisava disso? Você o humilhou! O jantar todo foi humilhante! Você tinha me prometido que ia se comportar e não ia o chamar para o esmagar no xadrez. 

— Só retribuí anos de humilhações que sofremos com a família Malfoy. — Ron deu de ombros nem um pouco arrependido, enquanto Hermione se encaminhava para perto do garoto pedindo inúmeras desculpas. 

— Sinceramente, esperava qualquer coisa de você, papai, menos isso. Esperava que respeitasse meus desejos. Esperava que me apoiasse. — nessa altura de seu surto estava chorando completamente chateada em colocar Scorpius naquela situação. 

— Está chorando? — Ron se levantou tentando chegar perto da filha, arrependido de tudo o que fez. Fazer doer seu coração não estava nos seus planos. 

— Me desculpe, filha… Eu não sabia que você ia ficar tão chateada. 

Rose deu um passo para trás quando seu pai tentou abraçá-la. Chegou perto de Scorpius puxando sua mão. 

— Amanhã conversamos. — avisou-o.

— Foi um prazer jantar com vocês. — Scorpius disse enquanto era arrastado porta afora por Rose. 

Ela bateu a porta do lado de fora ignorando os chamados de seu pai e puxando Scorpius para o corredor escuro ao lado. 

— Eu não queria te fazer passar por isso em dois jantares seguidos, me sinto culpada, me desculpe. — Ela chorava sem vergonha nenhuma de mostrar sua fragilidade a ele. 

Scorpius negou com a cabeça a abraçando tentando tranquilizá-la. Ele se sentia perdido e sem saber como agir, já que não estava acostumado a vê-la chorar. 

— Está tudo bem, Rose. Fique tranquila. — passava suas mãos por toda costa dela tentando fazer suas lágrimas cessarem se sentindo impotente. 

— Prometo que vou te compensar amanhã.

xx

Rose fez um jantar completo para ele no domingo: cozinhou carne assada recheada e risoto de alho-poró. Ele a ajudou a cortar os temperos.

— É assim? — ele perguntou após picar as cebolas.

— Isso! Assim 'tá ótimo! Obrigada, Scorpius. — ela falou sorrindo. — Ah! Oi, Gryffin. — ela disse quando o cachorro entrou na cozinha abanando o rabo se aproximando da bancada da cozinha. — Veio ajudar também?

— É, Rose, parece que você tem um fã. Gryffin esqueceu de mim, agora só vive seguindo você pela casa! Pronto, acho que terminei aqui! O que a gente faz agora? — ele perguntou olhando para ela.

— Agora eu vou terminar de misturar os ingredientes e você colocar o timer.

Depois de tudo pronto, Scorpius colocou as taças na mesa e pôs uma garrafa de vinho à mesa. Ele realmente havia prestado atenção ao que ela havia dito durante o jantar na mansão, ela não pôde deixar de notar.

— Pinot Noir! Adoro esse vinho! Não sabia que você conhecia.

— Dizem que é ótimo para acompanhar carnes vermelhas.

— Você pesquisou?

— Não... Quer dizer, foram só um cliques aqui e ali...

— Você pesquisou! - ela repetiu sorrindo.

— É... Bem... Enfim, é melhor a gente comer logo antes que esfrie, né?

— Você tem razão. Ei Gryffin, não me olha assim, não. Se quiser batatas tem que pedir pro seu pai. — ela disse enquanto jogava um pedaço de batata não tão disfarçadamente assim.

— Vai deixar ele mal-acostumado desse jeito, dona Rose! — ele sorriu para ela enquanto a servia de vinho, erguendo a taça em seguida. — Um brinde às nossas famílias cheias de defeitos!

— E à nossa brilhante atuação em jantares que faz todo mundo acreditar que somos um casal!

Quando as taças se tocaram, Scorpius por um momento pensou que agora que haviam passado pela pior parte na mentira sobre o namoro, talvez estivesse na hora de aproveitar a melhor.


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Notas finais do capítulo

Então, não fiquem bravas com meu Ron, ele se redime eu prometo. Sobre o jantar malfoy, não quis abordar temas muito fortes por motivos de não querer mudar a classificação da fic. Pesquisei bastante para dizer certas cenas Canons aqui, se tiver algo muito absurdo me digam o que acharam nos comentários. No mais, será que agora eles vão aproveitar a parte boa? Um agradecimento especial para minha beta novamente, sempre me ajuda nos detalhes por aqui. Obrigada a você que está lendo e comentando, vale demais ❤️