P.O.V. Sophie

Acordo com as batidas na porta da minha casa. Assim que abro os olhos vejo que já havia amanhecido e Daryl ainda estava com os olhos fechados, mas tenho quase certeza de que ele está acordado. Pedi para que ele ficasse ontem e acredito que em algum momento pegamos no sono. Não posso dizer que não gostei de ter acordado com ele ao meu lado, é muito bom ter Daryl Dixon como sua primeira visão no dia quando ele não está sendo todo irritante. Não consigo aproveitar melhor o momento pois as batidas continuam, então me desvencilho dele e vou atender a porta.

—Vim ver como você está. –diz Aaron assim que abro a porta. –Fiquei preocupado com você, mas achei que pudesse querer espaço. –ele começa a olhar fixamente algo atrás de mim. Olho na mesma direção que ele e vejo Daryl vestindo apenas sua calça. –Me desculpem, eu não queria atrapalhar vocês.

—Não é o que você...

—Acho que eu não vim em boa hora. –Aaron me interrompe. –Depois a gente se fala.

E ele simplesmente vai embora sorrindo.

—Nada constrangedor.  –digo a Daryl.

—Vai ficar ainda melhor quando eu voltar pra casa depois de ter passado a noite fora.

Acabo sorrindo. Estou me sentindo péssima, mas fico muito feliz que ele esteja aqui comigo. Quem diria que Daryl acabaria se tornando essa ótima surpresa. É bom estar com ele, por incrível que pareça ele me traz um pouco de paz, eu acho. 

—O que vamos fazer hoje? -pergunto enquanto nos sentávamos para comer o que quer que Daryl estivesse fazendo.

—Vou passar em casa primeiro e depois vamos ajudar com a cerca.

—Eu estava brincando, não achei que fosse mesmo me incluir nos seus planos.

—Tarde demais.

[...]

—Onde você está indo? - Daryl pergunta quando começo a desviar o caminho para ajudar na cerca.

—Achei que você fosse passar em casa primeiro.

—Você não vem?

—É um convite para eu conhecer sua família? Não é meio cedo? -brinco e acabo retornando ao caminho original para acompanhá-lo. Ainda gosto de irritá-lo um pouquinho, para não perder as origens.

Nós continuamos em silêncio e vejo Daryl apressar o passo quando Morgan caminha em nossa direção. Daryl vai de encontro a ele e quando estão frente a frente. Ele segura Morgan pelo colarinho e algumas pessoas que passavam param para observar.

—Se você encostar nela de novo eu acabo com você. -Daryl o solta e nós continuamos andando lado a lado.

—O que foi isso? -pergunto e ele explica o que houve entre Carol e Morgan, Rick estava possesso por Morgan ter enfrentado a todos para poupar a vida de alguém do grupo que nos ameaçava. Daryl não estava nada feliz com essa situação também.

Daryl termina a história quando chegamos na sua casa. Decido esperar por ele na varanda, já fomos constrangidos o suficiente por hoje. Após alguns minutos acabo encontrando Rick de saída.

—Posso falar com você? -pergunta ele e eu confirmo com um aceno. -Todo esse tempo que você esteve aqui, recrutando pessoas, nunca ouviu falar do grupo que encontraram na estrada?

—Na verdade não, acha que pode haver mais deles? -ele faz que sim. -É o mesmo grupo de quem as pessoas que Daryl encontrou estavam fugindo, não é? O mesmo que atirou em nós e nos tirou da estrada.

—Há uma boa chance de que seja o mesmo grupo.

—Acha que devemos nos preocupar?

—Só quero saber com quem estamos lidando, já enfrentei inimigos antes. Eles só serão perigosos se nos pegarem desprevenidos.

—O que tem em mente?

—Nós temos que terminar a reconstrução das cercas o mais rápido possível. Vou montar turnos de vigia e rondas. A partir de agora as saídas só vão acontecer se forem em busca de mantimentos. Aaron, Eric, Daryl e você terão que ficar sem procurar pessoas por mais um tempo. Não podemos arriscar, nós precisamos das pessoas aqui dentro.

—Daryl vai detestar saber disso. -digo. -Já decidiu o que fazer em relação a Morgan?

—Ele salvou minha vida uma vez, também salvou a sua e a do Daryl. Vou dar outra chance a ele. –ele responde. –Mas até lá ele não vai sair ou ficar responsável por nenhuma tarefa importante. Pedi a ele que ajudasse a Olivia a trabalhar no estoque de comida.

—Daryl sabe disso? –pergunto e ele nega com a cabeça. –Boa sorte quando for contar a ele.

—Vocês se dão bem, achei que você pudesse fazer isso.

—Não mesmo, há uma razão para eu me dar bem com ele. Sou portadora apenas de boas notícias. –assim que digo isso Daryl aparece novamente. -Você trocou de roupa? 

—Aquela camisa ainda estava um pouco molhada, eu ia ficar fedendo. -brinca ele e acabo sorrindo.

—Tomar banho realmente não é uma opção, não é?

—Bom, eu vou indo. -diz Rick. -Sophie, não esquece de contar as novidades ao Daryl.

—Cretino. -digo antes dele sair com um sorriso no rosto.

—Que novidades? -pergunta Daryl desconfiado

Conto a ele sobre o que Rick e eu conversamos e como o esperado ele fica de mau humor. Ele fica irritado ao saber que Morgan vai passar por isso quase que ileso, mas fica bem mais irritado ao saber que não vamos poder sair por um bom tempo. Bom, pelo menos ele consegue se distrair com o trabalho de consertar a cerca.

Me sinto estranha estando no meio de todo mundo sabendo que tudo isso aqui poderia ter sido evitado, uma ou outra pessoa me dirige um olhar meio atravessado, mas eu escolho ignorar. Já Daryl prefere outra abordagem, quando ele percebe que estão me observando ele encara até a pessoa se sentir intimidada e desviar o olhar. Acabo sorrindo toda vez que percebo o que ele tá fazendo. Ele percebe isso também e acabo ficando com medo de estar encorajando-o.

Não consigo não apreciar o que está fazendo. A verdade é que eu estou encantada com o cuidado que ele está tendo comigo, como se eu fosse alguém da sua própria família. Não sei precisar em que momento isso aconteceu, mas me sinto diferente em relação a ele.  Acredito que só consegui pregar os olhos essa noite, mesmo depois de tudo que aconteceu, porque ele estava lá. Também não paro de pensar no quanto foi bom beijá-lo. Abraham estava certo, tudo isso estava na minha cara e só eu não percebi.