A vez de Lacey escrita por Camélia Bardon


Capítulo 6
Camélia


Notas iniciais do capítulo

Oi! Hoje temos uma coincidência do nome do capítulo e do nome da senhora autora que vos fala KKKKKKK ai, gente, tive um surtinho de amor em ver no material oficial do filme que a flor preferida da Fallon era a camélia ♥ achei muito fofo!



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As visitas de Fallon ao palácio foram encurtadas de maneira significativa desde a chegada de Aidan. Seguindo a tradição da família iniciada pela Rainha Isabella de nomear os filhos por ordem alfabética. Fallon era o tipo de regente que fugia aos costumes de deixar a criação dos filhos com as babás e as tutoras; portanto, como mãe presente, era bem mais fácil encontrá-la em casa, no reino vizinho. Deixando o caderno de anotações de lado para concentrar-se nas paisagens, Lacey decidiu que não queria por à prova mais uma vez a teoria de que escrever em carruagens causava enjoos.

Sendo a segunda – e última até o momento – a casar-se com alguém de nobreza semelhante, Fallon adquiriu para si todo um reino... Além do amor de um príncipe, é claro. Com a sensibilidade aguçada de sempre, era até um pouco engraçado que ela tivesse mesmo conseguido dançar com um lindo príncipe. Era mesmo maravilhoso que  Princesa Fallon, Sua Alteza número 6, a romântica incurável e amante de animais não-rastejantes, conservasse sua essência mesmo após tantas variantes de tempo. Mesmo em reinos vizinhos, Lacey sentia-se em casa.

A vista da entrada por si só já era reconfortante. A fachada de camélias inspirava a pensar num dos significados do arbusto verdejante – era mesmo um jardim divino. Com o clima predominantemente mais fresco, Lacey sorriu ao vê-las tão bem cuidadas. Em casa, é impossível cultivá-las... Já sei bem onde vou colher minha amostra. Seu sorriso alargou-se ainda mais ao ver a irmã e o sobrinho caminhando pela entrada de terra, de encontro à carruagem.

— Ah, você chegou bem na hora! Aidan e eu estávamos dando nossa voltinha matinal! Dê oi para a tia Lacey, querido.

Lacey estendeu os braços para a figurinha que cambaleava em sua direção. Era impossível não sorrir com a visão daqueles bracinhos e perninhas rechonchudas correndo para a titia por um pedido tão carinhoso da mamãe. Aidan riu enquanto Lacey fingia estar erguendo um peso gigantesco.

— Como você cresceu! — ela exclamou, enchendo-o de beijos. — Ou será que sou eu quem está encolhendo?

Apesar de não compreender o que a tia havia lhe dito, Aidan riu pelas cócegas dos beijos.

— Tia Ace!

— Quase lá, meu amor — Fallon sorriu postando-se ao lado da irmã para beijar-lhe a bochecha. — Estávamos a esperando.

— Contou ao Aidan que eu vinha? Ora, mas era uma surpresa!

— Para Aidan, não, mas digamos que eu tenha a usado de desculpa para convidar outra pessoa.

Lacey ergueu uma sobrancelha, com a curiosidade atiçada. Trocando o peso dos pés para poder sustentar o sobrinho nos braços, ela ecoou:

— Outra pessoa?

— Sim. Mas entraremos em breve, pois agora estamos praticando a caminhada.

A mais nova aquiesceu, “devolvendo” Aidan ao chão. Exprimindo um muxoxo de descontentamento, o menino apoiou-se nas pernas da tia para voltar aos tropeços para o conforto da mãe.

— Ele está se acostumando a andar sem se apoiar — Fallon explicou, segurando a mão de Aidan para colocá-lo de volta no caminho. — Aqui a terra é macia então se cair não irá machucar. Caminhamos de manhã e à tardinha, para criar uma rotina.

— É bem esperto, na verdade — Lacey elogiou. — Acho que é bom para a criança crescer... Falo por nós, que crescemos numa redoma... Pelo menos da nossa parte.

— Blair e os dois pares de gêmeas não contam, certamente.

— Ah, céus, não. Aquelas são monstruosas por si só.

Fallon gargalhou, apoiando as mãos na barriga para manter o equilíbrio. Aidan, que já não o tinha, caiu de joelhos na terra fofa; porém, logo estava levantando de novo para recomeçar o trajeto. Apesar de ostentar a personalidade da mãe, Aidan era uma cópia exata da aparência do pai. Com os olhos tendo as pálpebras superiores sem dobras – herança do lado oriental da família –, cabelos lisos e castanhos, Aidan era por vezes chamado de “pequeno Ben”. De tão difundidas as culturas através do tempo, o próprio príncipe Benjamin também era fruto de duas etnias diferentes. Não era raro Fallon fazer a piada típica de uma mãe injustiçada: “Veja bem, carreguei este filho por nove meses para que ele nascesse com a cara do pai”. E todos riam, não importasse o quão batido o comentário fosse. Era Fallon, afinal. Ninguém nunca se cansava de Fallon.

Lacey continuou acompanhando os dois e jogando conversa sobre assuntos triviais. Entre tombos e recomeços, Fallon permitiu que Lacey carregasse o pequeninho de volta para casa. Aidan gargalhava com as gracinhas da tia Ace, e a própria Lacey tinha de se segurar para não amassá-lo de tanto amor. A mais velha parecia estar se segurando para não revelar um grande segredo, mas Lacey a desmascarou quando escutou risinhos vindos de outro cômodo. Erguendo uma sobrancelha, Lacey voltou-se para a mãe ao seu lado.

— Ah, eu falei para ela ficar quieta, a monstrinha.

Ela?

Fallon abriu as portas do salão de visitas com seu melhor sorriso ansioso. Do outro lado das portas, outra figura loira sorriu para as duas irmãs ao vê-las. Genevieve repousava sentada sob uma poltrona, segurando sua preciosa gatinha ruiva no colo.

— É oficial: pela segunda vez na vida não estou atrasada!

Lacey era mesmo uma garota de sorte por ter uma família como aquela.

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Twyla miou para cumprimentar as mulheres cruéis que tinham a despertado de seu precioso cochilo. Como havia se autodenominado guardiã de Genevieve e de tudo que envolvia a dona – inclusive, um serzinho que mal havia dado as caras e não passava de um leve relevo no ventre da princesa –, Twyla não desgrudava dela a menos que envolvesse alguma necessidade básica.

Como Fallon explicou à Lacey, Genevieve estava ansiosa para saber tudo sobre como lidar com a maternidade. Segundo ela, Ashlyn era mãe há mais tempo e talvez não fosse lhe dar dicas recentes do que fosse precisar. Lacey achou graça do comentário, uma vez que mães eram mães a qualquer idade e pais estavam mais propensos a esquecer-se de pequenos detalhes que envolviam os filhos. Era uma característica masculina, o que se podia fazer a respeito?

— Então, soube que estaria aqui e como viria para mim depois pensei em ficar mais um tempinho e voltarmos juntas para casa, o que acha? — Genevieve sorrindo, acariciando os cabelos da mais nova. Sempre havia tido algum laço especial entre as duas que Lacey não sabia identificar com exatidão quando havia surgido.

— Ótima ideia. Eu topo!

— Está bem, então. Não vou roubar muito do tempo de vocês. Quer deixar o Aidan comigo, Fallon?

A mais velha assentiu, relaxando os ombros.

— Eu não ia conseguir me concentrar. Obrigada, Genevieve — sorrindo, Fallon conduziu o filho pela mão exalando paciência e gentileza. Lacey teve vontade de trocar de lugar com o sobrinho, porém recordou-se de que de certa forma já havia sido criada com sete mães diferentes. Sorrindo sozinha, Lacey passou para o lado da irmã. — Mamãe já volta, tudo bem? Mereço um beijo?

— Tá bom — Aidan inclinou-se para abraçar o pescoço da mãe, dando-lhe um beijo estalado na bochecha. — Tchau!

Fallon acenou para ele, tomando para si o braço da irmã como apoio. Genevieve, solícita, passou a entreter o menino desde o mesmo instante. Voltando toda sua atenção para Lacey, Fallon abriu um sorriso receptivo.

— Então, o que iremos aprender hoje? Não se preocupe, Ben está numa reunião na extrema Ala Leste, o som não irá atrapalhar.

— O que te faz pensar que eu vou fazer sons que atordoariam ministros e comissários, hein? — Lacey indagou muito bem-humorada. — É só música, não poesia. É bem menos perigoso.

— Por que poesia seria atordoante, Lace?

— Se recorda daquele livro pelo qual Courtney é apaixonada? Poesia pode “alimentar o amor belo e vigoroso, mas se é apenas uma vaga inclinação, um pobre soneto o liquidará” — Lacey entoou orgulhosamente, piscando um olho para a irmã em seguida. — Uma dança é bem mais eficiente para se conquistar a afeição do parceiro.

Fallon ergueu uma sobrancelha, surpresa com a “vaga inclinação” para leitura que a mais nova demonstrava.

— Não sabia que estava sofrendo influências de Courtney!

— E não estou... Mas é que ela falava tanto naquele livro que minha curiosidade falou mais alto. Ela está lendo alta fantasia agora, seus romances ficaram um pouco de lado.

— Bem, de qualquer modo esse tal livro está certo. Duvido que Ben fosse se impressionar com um par de letras organizadas de forma bonitinha.

Lacey sorriu para a irmã, de maneira solidária.

— No lugar dele, eu teria. Você é uma bela combinação de coisas lindas e organizadas.

— Que gentileza — Fallon sorriu até as bochechas coradas. Era dificílima de aceitar elogios com facilidade. — Mudando de assunto, Genevieve está radiante, não está?

— Se considerar que ela está radiante sempre, fica um pouco injusto atribuir todo o brilho à gravidez... Mas existe alguma coisa que mudou nela... Parece que é uma felicidade diferente. Não sei explicar.

— Ah, é verdade. Pode soar clichê, mas só é entendível quando se torna mãe. Se algum dia assim o desejar, saberá.

Lacey sorriu com a colocação de palavras. Se algum dia assim o desejar. Não era uma obrigação entre elas, afinal. Quem poderia imaginar Delia ou Hadley e Isla sendo mães? Só de pensar na possibilidade, Lacey tinha de reprimir um riso maldoso.

— Respondendo sua pergunta, eu gostaria de tentar a harpa, por favor. Ou... A harpa pequena.

— Ela se chama lira — Fallon corrigiu com um sorriso travesso.

— Claro que sim, eu já sabia. Era para ver se você estava prestando atenção.

A mais velha gargalhou, conduzindo Lacey para sua sala de música particular. Não tão pomposa quanto a que tinham em casa, era consideravelmente menor e aconchegante. Como se estivesse lendo seus pensamentos, Fallon adiantou-se na explicação:

— Para melhorar a acústica ainda mais seria necessário uma sala maior... Mas substituí isso por um cômodo todo de madeira e vazio. Vai ver que o som fica incrível e bem isolado.

— E qual era mesmo sua preocupação com atrapalhar a reunião, Alteza?

— Era para ver se você estava prestando atenção — Fallon piscou um olho para a mais nova. — Enfim. Sente-se no banquinho que daremos início. Já sabe como funcionam notas musicais?

Lacey assentiu um pouco enérgica demais. Harpa deveria ser mais fácil de ser tocada... Tinha de ser. Ela já estava perdendo suas esperanças. Fallon ajeitou a harpa nas mãos de Lacey, mostrando onde cada nota podia ser localizada. A diferença para a flauta era de que os fios eram coloridos, fazendo a identificação das notas serem infinitamente mais fáceis.

— Temos três posições básicas... A primeira que é fá, lá, dó, fá. Assim — enquanto explicava, Fallon ajeitava os dedos da irmã. — Uma cordinha, aí pula três, outra cordinha, pulamos mais dois e fim.

— Certo.

— A segunda posição você desloca o dedo que está na faixinha azul para a sua direita.

Lacey fez conforme o pedido, sem maiores dificuldades.

— Estes são lá, dó, fá, lá. É a segunda posição. Para a terceira posição você coloca o dedo que está na corda entre a linha vermelha e a azul... Está vendo aí?... Para sua esquerda.

— Assim? — Lacey olhou-a de soslaio.

— Isso! Mas vamos usar apenas as duas primeiras agora, sim?

— Então por que estamos vendo a terceira?

— Ah, porque... Porque é assim. Enfim. Hum... Tente colocar a sua mão esquerda na primeira posição e, do outro lado, a mão direita na segunda posição. Consegue?

Lacey reproduziu o movimento, obtendo a aprovação visual da irmã.

— Exatamente. Agora, dedilhe cada uma que seus dedos estão segurando, da esquerda para a direita, devagar.

A mais nova o fez, obtendo um resultado musical das notas que já conhecia: dó, ré, mi, fá, sol, lá, si, dó. Lacey tinha o ligeiro palpite de que aqui não eram esses os nomes, porém a associação musical era inevitável. Uma vez que Fallon a instruiu a fazer o mesmo, porém deslocando os dedos corda a corda, Lacey temeu que a flauta houvesse bagunçado sua cabeça suficiente para errar todos os nomes das cordas. E isso parecia um componente muito importante na execução do instrumento.

Apesar de se perder nas explicações nomes, Lacey continuou tentando. Era fácil enquanto os dedos estavam indo num ritmo mais lento, porém ao aumentar a “oitava” completa – certo. Essa fazia sentido por ter oito notas no conjunto –, Lacey já contava com os dedos das mãos cheios de atrito. Queimavam, céus...!

— Eu... Acho que por hoje é suficiente — Fallon franziu a testa, avaliando a vermelhidão das mãos da mais nova. — Como conseguiu se queimar tocando harpa, Lace?

— Do mesmo jeito que consegui me queimar jogando badminton...

Fallon segurou a risada por puro respeito às tentativas da irmã.

— Olhe, se te consola, na primeira vez que toquei eu estourei duas cordas. Saímos no lucro.

— Ah, meu Deus. Eu poderia ter estourado uma corda? — Lacey murmurou.

— Poderia, mas não estourou. Suas mãos são tão delicadinhas... E acho que a harpa teve compaixão das pipocadas vermelhas da peteca.

— É... Você tem um ponto. E... Fallon?

Ela inclinou a cabeça, indicando que estava ouvindo.

— Obrigada pela paciência. Eu... Posso colher uma das flores lá do jardim? Uma que não esteja tão na frente das outras e que vá desfalcar o jardim?

Fallon inclinou-se para beijar os cabelos macios da irmã, oferecendo as duas mãos para que Lacey se levantasse do banquinho estofado. Novamente, Lacey sentiu a influência de suas habilidades maternas ferverem em seu sangue. Sorrindo, ela aceitou as mãos.

— Por mim, pode colher buquês inteiros, se isso for fazê-la contente, pequena Lacey.


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Notas finais do capítulo

Até semana que vem ♥



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