Scorose - Quase sem querer escrita por Aline Lupin


Capítulo 35
Uma visita inesperada




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Escutou o barulho vindo da janela, como se tivesse sido aberta. Abriu os olhos, sentindo-os ressecados. Levantou-se da cama, indo até a janela, muito irritada. Não dormia há dias. Não depois de ver Scorpius. Sentiu seu coração disparar, apenas de pensar nele. As bochechas ruborizaram. Não viu ninguém, do lado de fora. Havia alugado um apartamento no segundo andar, em um prédio na cidade de Londres. Dividia o quarto com uma garota trouxa, que não fazia ideia que ela era bruxa. Melanie, no entanto, era uma universitária muito ocupada, fazendo residência médica em um hospital trouxa. Muitas vezes, não estava em casa e nem ao menos perguntava a Rose onde era o hospital o qual trabalhava. O trato entre as duas era nunca se meter uma na vida da outra. E nada de garotos dentro do apartamento. Rose conseguia cumprir muito bem esse trato. Não havia nenhum cara que realmente se interessasse. E não iria se meter na vida de Melanie. 

Abriu a cortina da janela, olhando para fora, mas não viu nada, apenas a luz do poste iluminando a rua deserta. Deveria ter imaginado coisas. Bocejou e se virou, para voltar a cama. O que viu a seguir, a fez gritar muito alto. E isso acordou sua colega de quarto, que escancarou a porta. 

— Mas, o que...

Ela iria perguntar o que Rose tinha visto. De fato, Rose não tinha certeza do que vira, pois o quarto estava mergulhado em penumbra e apenas um pequeno facho de luz iluminava sua cama. Apesar disso, não havia ninguém ali. Tinha certeza de ter visto alguém sentado na cama. Tinha certeza disso. Não estava tendo alucinações. 

— Sinto muito Melanie - pediu Rose, muito envergonhada. Talvez, a quantidade de trabalho que tinha estava a sobrecarregando mentalmente. 

— Por que gritou tão alto? - a colega de apartamento perguntou, irritada - Poxa, eu achei que alguém estivesse aqui, ou tivesse tentando matá-la...

— Eu achei ter visto um rato - mentiu Rose, pois não saberia explicar o que viu. Que virá alguém ali, sentado em sua cama. 

— Um...ra...to? - Melanie gaguejou. Isso realmente a deixara nervosa - Ah Deus. Por que fui alugar um apartamento tão barato? Tem certeza que viu um rato?

Rose se sentiu culpada mentir para ela. Não poderia dizer que viu alguém ali. Seria muito pior. Pois, de fato, não havia ninguém no quarto. Com a visão mais ajustada a escuridão, podia verificar que o quarto estava vazio, exceto pelas duas. 

— Não tenho certeza. Devo estar cansada.

— Sim, claro...eu...Acho que vou apenas avisar a imobiliária - Então, Melanie fechou a porta com força.

Rose passou a mão pelo rosto, tentando reorganizar os pensamentos. Quando se aproximava da cama, pode ver o exato momento em que uma cabeça se materializava no ar. Ela gritaria mais uma vez, mas a cabeça falou primeiro:

— Shhh...não grite! - sussurrou.

Ela conhecia aquela voz. Conhecia muito bem. Fazia muito tempo que não o via e isso a fez querer chorar. Sentou-se na cama, abraçando-o pelo pescoço. Sentiu seu cheiro de floresta. E infelizmente, sangue. 

— Seu idiota - ela falou baixinho.

— Eu sei - ele riu.

David estava ali. E fazia tanto tempo que não o via. Abraço-o com força, fazendo com que ele a empurrasse. Ela riu, sentindo-se pela primeira vez em tanto tempo feliz. Ele tirou a capa de invisibilidade que o cobria e deixou na cama. 

— O que faz aqui? - perguntou Rose.

David deitou na cama, como se estivesse muito a vontade e se espreguiçou. Rose fez o mesmo, entrelaçando seus dedos ao dele. Seus dedos eram gelados, mas era reconfortante estar perto dele. Fazia um bom tempo que não o via. Ele continuava sendo protegido pelo Ministério, evitando se expor em público, afinal, era um meio vampiro. Muitos bruxos não concordavam em ajudar um ser como ele, por medo de serem atacados.  Claro que, a ajuda viera de Harry, afinal, David havia contribuido muito para as investigações sobre Adrien e os Dragões.

— Estava de passagem - comentou ele, como se não fosse nada. Como se fosse uma mera visita. Mas, ela sabia que havia algo no ar. Ele viera por um motivo específico. Não sairia do seu esconderijo, apenas para vê-la.

— Sei - ela murmurou, sem se convencer. 

"Você sabe que está sendo um pouco idiota, não sabe?" David falou em sua mente. Rose revirou os olhos. 

— Não gosto quando invade minha mente.

"Eu sei". Pode escutar sua risada ecoar em sua mente, como se ele gostasse de provoca-la. 

— Por que sou idiota? - indagou ela - Por que me ofende desse jeito?

Não estava chateada. Na verdade, ela estava tentando contornar a situação. Não queria falar sobre o que aconteceu no hospital. Não queria falar sobre ele. 

— Você deveria ter perdoado o Scorpius, a essa altura - David falou, em tom irônico - Mas, eu acho que eu não perdoaria. 

— Não sei do que está falando - ela se retraiu, soltando a mão dele. Mas, David a agarrou com força - Ai, isso dói.

— Oh, desculpe florzinha - provocou ele, soltando sua mão. Então, se apoiou no colchão para olha-la. Seu olhar era firme, o que a deixava enjoada. Como se estivesse realmente sendo uma idiota, como ele havia dito - Você precisa parar de esconder no meio desses livros empoeirados. Na sua vontade implacável de ser melhor que sua mãe. E não me olhe assim. Eu sei exatamente o que você sente e o que pensa. Como se cobra. E o quanto tem ressentimento de Scorpius. Mas, ele fez tudo que fez, para proteger você e sua família.

Rose revirou os olhos, suspirando. Fechou os olhos, não querendo encara-lo. Não, ela não queria escutar justificativas. Havia seguido em frente. E continuaria seguindo. Sem Scorpius. 

— Você veio aqui para isso? 

— Talvez - David murmurou - Ou talvez eu só queria ver uma pessoa idiota como você. E estava sentindo sua falta.

— Desse jeito, você vai me fazer ter mais raiva e te enxotar pra fora - ela ameaçou, mesmo que de fato não quisesse fazer isso. 

— Eu sei que você não quer isso. Sente minha falta. Fico até nauseado só de sentir seus sentimentos. Argh! 

Rose riu baixinho. Ele gostava de provoca-la. E era disso que gostava. Ao menos, não estava mais tocando no assunto.

— O que tem feito? - perguntou Rose. 

— Nada - David respondeu, bocejando - Tenho ficado naquela droga de sede da Ordem da Fênix por tempo demais, escutando aqueles ancestrais de Black por tempo demais. São tão asquerosos. Acredita que falaram que eu era um imundo? Pior que um sangue ruim?

— Ah, eu não duvido. Por que tio Harry não removeu aqueles quadros? 

— Eu não sei. Sinceramente não sei. É tão insuportável. Mas, até que sua vó é legal. Ela faz muffins deliciosos. As vezes eu vejo Alvo, ou seu tio. Mas, fico me perguntando, quando é que você vai me visitar? Você só se importa com suas coisas. Não tem tempo para os amigos.

— Não seja tão dramático, David - replicou Rose, mas se sentia culpada. Estava fugindo. Estava realmente fugindo de tudo e de todos. Apenas uma coisa vinha em sua mente. Esquecer do passado e focar apenas no futuro. No seu futuro como medibruxa. 

— Ah, eu sei que você só se importa consigo mesma - Suas palavras doíam. Pareciam provocar o pior em si mesma. Mas, não iria dar atenção. David gostava de irrita-la - Mas, eu acho que posso entender. Passei minha vida toda tentando ficar longe daquilo que me machucou. Ou daqueles que me machucaram. Da droga da minha família. Mas, eu acho que você não precisa fazer isso. Eu acho que está sendo tola, esquecendo que tem uma família que a ama. Assim como um garoto que parece morrer por você...

— David, pare. Eu não quero ouvir. 

Então, se virou, tapando os ouvidos, sentindo que respirava profundamente. Estava com raiva. Estava...um tanto envergonhada. Mas, não queria sermões. 

— Tudo bem, florzinha - ele disse, tocando seus cabelos - Eu vou embora agora. Quem sabe nos vemos por ai. 

Rose esperou que ele se fosse. Escutou seus passos, se afastando, então a janela se abrir. Em seguida, silêncio. Não olhou para ver se ele ainda estava lá. Apenas se encolheu em posição fetal, tentando não pensar em suas palavras e o quanto elas faziam sentido. 

 


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