Scorose - Quase sem querer escrita por Aline Lupin


Capítulo 30
Em quem confiar




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P.O.V Rose

Eu me senti mergulhar no vazio. A sensação de sufocamento é angustiante. Exasperante. Se eu tivesse que explicar para alguém o que senti naquele momento, não saberia como colocar em palavras à sensação da água entrando por todo meu corpo, inundando e não permitindo que o ar entrasse por meus pulmões.

A inconsciência estava vindo e eu me sentia dormente. O desespero deu lugar à apatia e parei de me mexer. Eu apenas cai no vazio. Caindo, caindo...até que uma luz forte me cegou.

 

P.O.V Scorpius

Eu deveria saber que algo estranho estava acontecendo quando vi Rose sentada com Leon, em uma espécie de piquenique. Algo estava muito errado, quando vi ele a levando até o lago da Lula Gigante. Eu os acompanhei por puro despeito e ciúme, mas prometi que nunca mais iria me aproximar de Rose. E Leon prometeu guardar meu segredo. Não que o que aconteceu naquele verão, quando tinha quinze anos fosse completamente culpa minha. Eu nunca teria machucado ninguém. Nem um trouxa. Mas, Leon parece ter uma ideia distorcida sobre como deve tratar aqueles que não têm sangue puro e os que são diferentes de nós, bruxos.

Eu lutei contra Leon, em seguida. Nós travamos uma batalha, enquanto Rose se afogava no largo. Quando consegui estupora-lo, apenas tirei meus sapatos e meia e mergulhei. A água estava gelada, fazendo meus dentes trincarem. Meu corpo amorteceu com a queda, mas forcei a me mexer. Tentei manter os olhos abertos, mas era difícil enxergar na escuridão. E eu temia demais os sereianos. Contudo, não podia deixar que meus medos tomassem conta da minha mente, ou eu iria paralisar e me afogar. Então, Rose estaria morta àquela altura e eu seguiria pelo mesmo caminho.

Precisava de algo para clarear o caminho, então, usei o feitiço Lumus, para iluminar o lugar. Consegui ver Rose caindo, como se ela estivesse flutuando e simplesmente continuei a nadar para baixo, batendo as pernas e os braços com uma força que eu não sabia que tinha.

Quando consegui alcança-la, eu já não tinha forças para puxa-la para cima e nadar. Considere que foram os segundos mais excruciantes da minha vida. E a única forma de escapar no Lago Negro foi usar o único feitiço que me recordava. Primeiro veio Aguamenti, o que não me ajudaria. Precisava de uma que me impulsionasse para frente. Então, lembrei-me do Aqua Eructo, que produz um jato de água. Isso me ajudou a continuar a nadar e conseguimos submergir a superfície do lago. Tomei ar o máximo que pude, antes de me mover para fora do lago. Rose estava com a cabeça inclinada e precisei força-la mais para cima, para que ela não se afogasse ainda mais. Me preocupava o tom cinzento da sua pele, porém, eu não tinha tempo para verificar se ela estava respirando. Se estava viva. Os sereianos estavam com suas cabeças do lado de fora, uns quinhentos metros de nós, nos observando, com seus tridentes e cabelos que pareciam cobras, como medusas.

Bati as pernas e o braço o máximo que pude. Precisava puxar Rose comigo, mas a cada braçada na água, eu sentia meu corpo doer. Doer tanto que queria apenas parar. Mas, temia os sereianos. Temia que eles fizessem algo contra nós, afinal, nós éramos intrusos naquele território. Quando consegui sentir a superfície do chão arenoso sobre meus pés descalços, como se fosse lama, eu senti a exaustão bater. Mas, também, o alivio. Consegui colocar Rose sobre a margem do rio. E me deitei ao lado dela. Respirando. Apenas respirando. O ar é tão subestimado. Não sabia que era tão precioso. Então, percebi que eu deveria estar tentando acordar Rose. O que fazer quando se esta com alguém afogado? Eu sabia por Alvo, que aprendeu com seu pai, que era preciso reanimar a pessoa que se afogou. As instruções ainda estavam frescas em minha mente, afinal, Lily havia se afogado no ano passado, na praia trouxa. E vi como os médicos trouxas tentaram reanima-la, usando as duas mãos pressionadas na altura do peito. Fiz esse mesmo processo com Rose. Ela estava tão cinzenta. Tão sem vida. Nem parei para prestar atenção ao meu redor. Se estávamos sendo observados. Se Leon ainda estava caído no chão, devido a ter sido estuporado. Apenas foquei todas as forças restantes que eu tinha no meu corpo para acorda-la. Pensei como mesmo que não poderia suportar um mundo sem Rose. Sem seu sorriso. Sem sua risada. Sem sua presença.

— Vamos Rose - eu disse, entre lágrimas, vendo que a massagem que fazia em seu peito não funcionava. Lágrimas caíram no rosto dela. Ou era chuva? Eu não sabia dizer.

Então, ela cuspiu água. E virou o rosto para o lado, cuspindo e tentando respirar. Eu fiquei expectante, ajoelhado sobre o gramado. Ela estava viva. E isso me enchia de esperança.

Rose deitou de novo, respirando profusamente, sem abrir os olhos. A boca estava levemente aberta. Seu peito subia e descia. E eu, na minha preocupação com ela, beijou sua bochecha sofregamente, assim como a ponta do seu nariz, a outra bochecha, seus dois olhos cerrados, sua boca, seu queixo...Eu murmurava palavras de agradecimentos a Merlin, ou quem que tenha a devolvido de volta para mim.

P.O.V Narrador

Rose estava deitada na cama da enfermaria, enquanto Scorpius explicava detalhadamente a quem quisesse ouvir, que Leon era culpado do afogamento dela. E ela não saiu nem um segundo do lado da cama, nem mesmo para trocar as roupas. Alvo, que veio assim que soube da notícia, usou um feitiço para secar as roupas do amigo, preocupado com sua saúde. Mas, Scorpius estava tão apavorado com a possibilidade de perder Rose, que nem percebeu que estava sendo cuidado por ele.

Minerva, a diretora, iria avaliar o caso e conversar diretamente com Leon, que não era visto desde o jantar. Simplesmente, havia desaparecido do castelo. A madame Pomfrey estava prestes a jogar Scorpius fora da enfermaria e fez isso, quando já passava das onze horas da noite. Scorpius saiu de lá, não sem antes beijar a testa de Rose e deixar um bilhete na mesinha de cabeceira, ao lado da cama, explicando o que tinha acontecido e que ele viria em breve vê-la. Até aquele momento, Rose não havia acordado, mas havia recebido todo o apoio medibruxo que poderia receber para sua recuperação.

Ela acordou, algumas horas depois que Scorpius saiu da enfermaria. Sentia a garganta seca. Os olhos secos. As pontas dos dedos enrugadas. Sentia tanta sede. Ela abriu os olhos, demoradamente, focalizando o local em que estava. Então, lembrou-se de que havia caído no lago. Será que Leon, tentou salva-la de se afogar no lago? O que a fazia se questionar para saber o motivo para ele estar tão obcecado por ela. O que havia acontecido com o garoto que ela havia conhecido no começo do ano? Por que ele havia mudado drasticamente? Ela sentia nojo dele. Das palavras que ele havia dito. Sobre o ritual que ele havia feito e o qual Scorpius fazia parte. Seria possível que Scorpius tivesse pensado em matar uma trouxa? Uma pessoa inocente? Ela sentiu náuseas somente de pensar nisso. Olhou para o teto e sentiu a cama macia. Parecia estar na enfermaria. Alguém a salvou da morte certa. Será que Leon teve a decência de tentar salva-la, então? E se sim, ela poderia perdoa-lo pela forma como ele a tratou no lago? Não sabia ao certo. Ele parecia tão estranho. Estranhamente obcecado e havia mudado sua forma de ser com ela. Ele era gentil. Era disso que ela se recordava. No Lago Negro ele parecia outra pessoa. Alguém que causava a ela asco e nojo.

Ela sentia muito sede. Não queria pensar sobre Leon. Ela olhou para o lado e focalizou a mesinha de cabeceira. A luz de fora, que vinha das janelas altas iluminava um pouco o ambiente. Ela pode ver o papel sobre a mesinha e uma jarra da água e um copo de vidro. Tentou se erguer, com dificuldade, pois todo seu corpo estava dolorido, até as juntas dos seus dedos estavam assim. Parecia que havia caído de cima de uma vassoura, ou da Torre de Astronomia. Mas, sem a parte dos ossos quebrados, é claro. Era apenas dor muscular.

Quando conseguiu servir a água, com as mãos tremulas pela fadiga, ela verter o líquido, como se fosse algo sagrado. Tomou mais alguns goles, até sentir-se enjoada por estar com estomago vazio. Então, sua atenção voltou diretamente para o papel que estava sobre a mesinha. Puxou e desdobrou. Parecia ser um bilhete. Sem a varinha, não conseguia enxergar nada. Mas, a localizou sobre a mesinha de cabeceira. Usou o feitiço Lumus para iluminar o papel que segurava e leu.

"Rose, deixei você na enfermaria, mesmo sabendo que deveria estar ao seu lado até você acordar. Me desespera o fato de que você quase morreu hoje a tarde. E queria muito ter ficado para explicar o que aconteceu. A essa altura você já deve ter se lembrado que caiu dentro do Lago Negro. Eu observei você com Leon e a luta que vocês dois travaram. Eu deveria ter dado atenção a você, assim que você caiu dentro do lago. Mas, somente foquei em Leon, que estava bem consciente, quando percebeu que eu estava me aproximando dele. Nós lutamos e depois que consegui estupora-lo, mergulhei no lago, tentando salvar você. Eu achei que nunca iria conseguir fazer isso. Eu pensei que perderia você naquele instante. Mas, você está viva e é tudo que importa agora.

Espero que não tenha ficado chateada comigo por não estar ai com você. O mais provável é que você nem se lembre de que fui eu quem te tirou do lago. Eu volto logo pelo amanhecer. Madame Pomfrey vai comer meu fígado se eu continuar aqui ao seu lado.

Ass, Scorpius"

Rose sorriu diante do bilhete tão sincero dele, sentindo seu coração se aquecer. Ele estava lá por ela. Ele tentou defende-la, no momento em que ela mais precisou dele. Quase acreditou que nada do que tinham voltaria a ser igual. Mas, ali estava a prova de que ele se importava. Que se preocupava com ela. Mas, ainda rondava a dúvida, será que ele era culpado pela morte daquela mulher trouxa? Ou Leon havia feito tudo sozinho, como ele confessou? E passou um pensamento pela cabeça dela: E se ela pudesse ser testemunha de que Draco Malfoy não havia matado aquela trouxa e dizer que Leon havia confessado tudo? Ela não sabia se de fato, também, poderia confiar nas informações de Leon, nem se poderia confiar em Scorpius. Teria que confronta-lo e arrancar a verdade dele.

Ela tentou dormir, tentando acalmar sua mente, mas somente pensava que queria que o amanhã chegasse. E parecia uma eternidade até que dia clareasse.


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