Malfeito feito escrita por Fanfictioner


Capítulo 1
Marotices de Halloween


Notas iniciais do capítulo

Uma one-shot extremamente bobinha, romcom puro, apenas para desejar vibes melhores para a Carter (https://fanfiction.com.br/u/64635/) nessa semana que recém começou e já está muito louca.
Vai tudo melhorar amiga, espero que dê um risinho (ou ao menos se esconda na coberta de vergonha alheia de mim por ter escrito isso). ❤❤



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/801260/chapter/1

O banquete de Halloween que era servido no dia 31 era, provavelmente, o evento mais esperado do primeiro trimestre do ano, e fora nisso que Lily Evans passara a última semana do mês inteiramente envolvida.

Era esperado que os monitores-chefes se dedicassem ao evento, pensando em decorações para enfeitiçar o salão e propondo as comidas servidas no banquete de cada casa, e uma vez que James Potter estava indisponível naquela semana, o serviço se acumulara.

Por algum motivo, as semanas de lua cheia eram também muito intensas para James, Sirius e Peter, embora só Remus fosse lobisomem, ao menos segundo o que Lily sabia, mas ela supunha que todos ficavam envolvidos e preocupados com a saúde do amigo. Compreensível, já que ela mesma se sentia muito aflita ao pensar nas transformações dele.

Claro, era estranho que todos eles estivessem sempre cansados pela manhã, como se tivessem passado a noite em claro, e vez ou outra um dos três tinha algum ferimento no rosto. Mas as brincadeiras dos marotos eram violentas, e já fazia tempo que ela parara de tentar entender.

De qualquer maneira, acordar na segunda-feira de manhã e tomar café no salão principal todo decorado com abóboras e velas tinha um sabor todo especial quando se sabia que fora fruto de seu trabalho também. Ainda que isso significasse ter dormido muito pouco na madrugada.

— Caiu da cama, Lily? – perguntou James, risonho, ao vê-la com o olhar distante e cansado, encarando uma xícara de chá.

— Engraçadinho. – retrucou ela revirando os olhos.

— Alguém está de mau humor hoje.

— Não estou, estou normal.

— Prongs é uma decepção, não é ruiva? – provocou Sirius, com um sorriso maldoso. – Nunca satisfaz suas necessidades da maneira adequada.

Já tinha se tornado meio público o fato de que Lily Evans estava saindo com James Potter, já que os dois eram frequentemente vistos andando e estudando juntos, e boatos corriam rápido em Hogwarts. Mas não, certamente ainda não era um namoro, e essas piadinhas inoportunas de Sirius podiam ser bem constrangedoras às vezes.

— É baseada em alguma experiência pessoal essa sua colocação então, Sirius? – devolveu, ficando levemente irritada.

Era demais querer um café da manhã em silêncio? Quer dizer, ela mal tinha dormido! Os dois bonitos tinham se enfiado em algum lugar com Pettigrew e ela tivera que arcar com todo o trabalho que deveria ser de James na organização do banquete, e ainda aturar piadinhas de manhã cedo.

— Ah, só quando o dormitório fica vazio, certo, Prongs? – ele cutucou James com o ombro. – Mas afinal, foi bom ou não foi? Aquele pomo idiota deixou Pontas hábil com as mãos?

— Ai, Sirius, me erra! E você. Melhor não esquecer da reunião de hoje, porque estou quase para entregar seu nome para Mcgonagal por omissão da função de monitor.

Lily se levantou da mesa com um bolinho em mãos e saiu, irritada, deixando Dorcas e Mary olhando a confusão recém acontecida.

— Ela está de TPM ou o que? – perguntou Sirius.

— Ela está cansada, seus idiotas! Ela não dormiu nada essa noite para organizar o salão, cobrindo sua função, James. Mas os dois imbecis nem mesmo a parabenizaram pelo trabalho, e ainda fizeram piadinhas indecentes, mesmo sabendo que James mal olhou na cara dela semana passada. – explicou Mary.

— Fala sério! Com a coisa do Moony, eu esqueci completamente esse banquete de Halloween! É disso que estava falando, da monitoria. Que idiota!

A percepção de que havia deixado suas responsabilidades nas costas de Lily estava realmente pesando na consciência de James. Não só isso, ele havia negligenciado seu relacionamento com ela durante uma semana toda! Sirius, por outro lado, não parecia muito disposto a admitir sua parcela de erro.

— Não foi nada indecente! Eu vi que a Lily estava estressada, mas ué, achei que umas piadinhas iam ajudar a relaxar. Não tinha como saber que ela ia ser irritar, qual é!

— Sinceramente, vocês têm algum pedaço de cérebro? E você, tem um único galeão de emocional, Sirius? – disse Dorcas, fuzilando-os com os olhos. – E estamos todos estressados. Seria bom vocês dois aprenderem a segurar a língua.

— Eu estou muito na merda com a Lily. O que ainda pode piorar hoje?

— Poções no primeiro horário. Com Slug. – comentou Peter, arrependendo-se logo em seguida, ao ver James afundar a cabeça na mesa, dando um gemido de desgosto.

Ainda havia algum tempo para que tomassem café da manhã com calma, e mais alunos iam chegando conforme a hora avançava em direção ao início das aulas. Lupin apareceu quando restavam uns dez minutos. Uma aparência meio abatida, claramente pálido e com alguns cortes bem fundos e vermelhos no rosto. Ainda assim, havia um sorriso amável de bom dia.

— O que eu perdi, e por que Prongs está com cara de que engoliu uma meia?

Houve risinhos, e James levantou a cabeça para revirar os olhos para o amigo e mostrar-lhe o dedo do meio.

— Você perdeu a minha brilhante ideia para aplacar a ira da ruiva. E de todo mundo aqui, aparentemente.

Dorcas e Mary reviraram os olhos, nada satisfeitas. As ideias de Sirius sempre envolviam confusão.

— Sem mais das suas ideias, Sirius. – gemeu Peter, abocanhando um bolinho de amora.

— Não, não. É sério, escuta só, e-

— Por que Lily está irada? O que vocês aprontaram enquanto estive doente? – perguntou Remus, torcendo a cara.

— Prongs furou uns compromissos da monitoria.

— E deu um perdido na Lily a semana toda! – acrescentou Mary, irritada. – E Black fez piadinhas constrangedoras no café.

Remus o olhou em tom de advertência, com uma expressão nada boa.

— Era uma piada! Evans é quase uma santa! Claro que ela não sabe das habilidades manuais do Pontas ainda. Ninguém mais sabe rir aqui, não?

— Sirius Black! – protestou Mary, vermelha de constrangimento, enquanto Dorcas e Peter seguravam um risinho, e James reclamava baixinho, envergonhado.

— Ela só está cansada... essa coisa de monitor deve ser um saco e irritar muito. Por isso eu nunca quis ser um.

— Você nunca foi chamado, porque se comporta como um hipogrifo mal educado.

Sirius ignorou Remus e continuou falando, como se nada tivesse acontecido.

— Ela precisa relaxar, e nós vamos dar uma tarde de relaxamento à monitora Evans. Aliás, eu vou dar uma tarde de relaxamento a todos vocês, porque, sinceramente, vocês estão um porre hoje!

Havia um brilho maroto no olhar de Sirius, que por mais que James quisesse evitar, era muito atrativo, e não era como se ele conseguisse resistir completamente à ideia de uma boa pegadinha. Mesmo que fosse com Lily.

— No que você está pensando?

— Sabia que ia se interessar, Prongs. – sorriu sacana. – Começando, o Lago Negr-

— Você pirou?!

— Sem a menor chance, Almofadinhas.

— Eu ‘tô fora, Sirius. Quero distância daquela Lula. – disse Peter, logo depois de o sinal para as aulas soar.

O grupinho se levantou, saindo em direção às aulas do primeiro horário. Mas Sirius continuou tagarelando sua ideia mirabolante, de como fazer Lily relaxar, durante todo o caminho até as masmorras, para a aula de poções dos NIEMs.

A cada segundo parecia mais absurdo, acrescentava mais regras a serem quebradas e maiores pareciam os pontos que perderiam se fossem pegos. E Lily, com toda certeza do mundo, jamais aceitaria aquela loucura.

— Tem tantos problemas nessa sua ideia, que eu nem quero começar a listar. – disse Remus ao se sentar na mesa, com James e Sirius.

— Ah, fala sério! Ela ia adorar!

— Ela ia detestar!

— Não ia, não.

— Claro que ia, Padfoot! Você nem conhece a Lily direito!

— Pode ser que ela gostasse. – disse James baixinho, pensativo. – Quer dizer, com o estímulo certo.

Um enorme sorriso presunçoso brotou no rosto de Sirius, enquanto Remus se limitava a insistir que aquilo era um plano absurdamente ridículo, cheio de chances de dar errado. Mas uma vez que James e Sirius colocassem uma ideia de brincadeira na cabeça era praticamente impossível tirá-la, e a experiência dizia a Remus que era melhor ajudá-los e minimizar os danos, do que deixar que os dois se ferrassem sozinhos.

Mesmo que, nesse caso em questão, James fosse o monitor-chefe. E que estivesse planejando uma brincadeira com a monitora-chefe. E que envolvesse mais de meia dúzia de pessoas, aparentemente.

— Vocês dois tem certeza de que vão fazer isso? Fala sério, por que a gente só não aproveita o banquete de halloween, e o Prongs pede desculpas e dá uma velinha perfumada para a Lily, ou algo assim?

— E qual seria a graça? – perguntou Sirius, revirando os olhos enquanto tentava amassar vagens.

— Não perder uns cem pontos para a grifinória?

— Vamos ganhar a taça de quadribol, nem vamos precisar disso.

— Evitar morrer afogado também me parece um bom atrativo! – sibilou Remus, dando um chute em Sirius por debaixo da mesa.

— O casal de idosos pode fazer silêncio? Eu estou tentando me concentrar aqui. – murmurou James, com o olhar atento nas gotas que pingava no caldeirão. – Ninguém vai morrer, e ninguém vai perder pontos. Podemos superar essa fase e começar a planejar quem vai fazer o quê?

A ideia de que o próprio quase-namorado de Lily endossava aquela maluquice de Sirius foi o suficiente para que Remus desistisse de tentar impedir aquela insanidade. Seria, definitivamente, um Halloween muito agitado para quem acabara de sair de uma semana de transformações de lua cheia.

— O que você quer de mim, Pads? – murmurou cansado.

— Gosto mais assim.. – sorriu com arrogância. – Primeiro, com quem ficou o Mapa?

**

— Lils?

— O que você quer?

O corredor estava bastante lotado. As aulas haviam acabado mais cedo naquela segunda-feira para que todos pudessem participar dos eventos comemorativos de Halloween, como a festa de aniversário de morte de Sr. Nicholas-Quase-Sem-Cabeça, o chá dialético que Helena Ravenclaw e Frei Gorducho serviam na torre de astronomia, e as atividades de outros clubes, antes do baquete.

Era nesse horário que aconteceria a reunião de monitores, já tradicional das segundas. E era para ela que Lily se encaminhava. Ainda muito, muito irritada com James.

— Espera. – pediu ele, correndo na direção dela. – Indo para a reunião?

— Meio óbvio. E você, fugindo dela de novo?

— Lily. – disse ele, meio constrangido. – Desculpa. Eu fiquei envolvido com as coisas do Remus, e acabei me atrapalhando todo.

O jeito como James lhe segurou a mão pareceu amolecer um pouco seu coração.

— Desculpe. É claro que ficou, desculpe. – sacudiu a cabeça em negativa. – Vamos juntos, então?

— Ahm.. não. Você vem comigo.

Havia um brilho maroto e sapeca no olhar dele, o que imediatamente despertou um alerta de precaução em Lily, que puxou a mão da dele e o encarou com severidade.

— James, o que você está aprontando?

— Tenho uma surpresa, vem.

— A gente tem reunião. E eu tenho que levar uns papeis para a Mcgonagal, e conferir as co-

— E você está muito estressada. Estou tentando roubar você para ir comigo lá fora uns segundinhos, não posso? Ninguém vai sentir falta, Lil.

— Lá fora? O que quer fazer lá fora?

— Comemorar.

— Comemorar o quê, James? – perguntou, cansada e agoniada pelo atraso. – Não invente, vamos logo para a reunião.

— ‘Tô falando sério! Vamos comemorar... sei lá. O final do mês de outubro, o.. o começo do inverno, o Halloween!

Lily revirou os olhos, irritada, levantando uma das mãos para apertar um ponto entre o nariz e as sobrancelhas, evitando perder completamente a paciência.

— Eu estou com zero paciência para você hoje, James. Então, por favor, diga logo: o que você está aprontando? Aliás, isso tem cara de coisa do Sirius. O que vocês vão aprontar?

— Você só vai saber se for comigo. Olha aqui. – puxou um pedaço de pergaminho, já meio amassado e gasto, de dentro das vestes. – Eu juro solenemente não fazer nada de bom.

O mapa do maroto se revelou, apresentando seus cumprimentos, e passou a exibir os nomes de todos os alunos do castelo, nos respectivos lugares em que estavam naquele momento. Lily arregalou os olhos e abriu a boca, em espanto genuíno, ao ver a complexidade do que lhe estava sendo apresentado.

— Mas o que, por Merlin, é isso, Potter? – murmurou, chocada, segurando uma pontinha do papel em vívida curiosidade.

— Chama-se Mapa do Maroto, mas é uma coisa secreta. Mostra todos aonde estão no castelo, a qualquer momento. – Lily parecia enfeitiçada pelo atrativo que era o mapa.

— Você fez isso?

— Eu, Moony, Pads e Wormtail. Agora você pode focar aqui, por favor.

— James! Isso ia ser muito mais eficiente para as rondas, se a Mcgo-

— A Mcgonagal nem sonha que isso existe, e não vai ser você que vai contar. – advertiu, com uma expressão séria, puxando o mapa para si. – Posso confiar, Lily?

Muito curiosa e interessada, embora levemente frustrada por não poder fazer uso indistinto da ferramenta maravilhosa que o mapa era, Lily concordou.

— Você pode olhar mais depois, se quiser... mas quero que veja isso. Olha bem aqui, vê? Dorcas, Mary... todas elas já estão lá, estamos atrasados já!

Os nomes de Dorcas e Mary juntavam-se ao de Marlene, Alice, Frank, Remus, Sirius e Peter, flutuando próximo ao local que marcava o Lago Negro no mapa. Àquela altura a curiosidade de Lily suplantou toda e qualquer tentativa de priorizar suas obrigações, e até diminuiu a irritação que sentia por James durante todo o dia.

— Eu não faço ideia do que você está inventando, Potter. Mas é bom, para seu pescoço, que seja importante. Anda, vamos logo. – resmungou ela, decidindo que não adiantava ir para a reunião estando com a cabeça nas loucuras de James.

— Sabia que eu tenho um gosto particular pelo jeito que “Potter” soa na sua voz?

— Sabia que eu tenho um gosto particular por quando você não me tira do sério?

James gargalhou, sabendo que Lily estava segurando um risinho pelo jeito como o flerte dele a afetara, principalmente porque ela segurou a mão dele durante todo o caminho que fizeram, descendo o gramado até a beira do Lago Negro.

Não passava muito das quatro da tarde, mas o sol já começava a baixar e a temperatura caía um pouco, embora isso não parecesse afetar nenhum pouco os alunos reunidos na beira do lago. Ao se aproximar mais, Lily pode perceber que havia música tocando, embora fosse impossível reconhecer de onde, e, por Merlin, o que eram aquela enormes esferas transparentes em torno de alguns de seus colegas?

— O que vocês inventaram agora? – perguntou ao chegar, muito confusa. – O que está acontecendo?

— Eu chamo de desestresse de halloween na beira do Lago Negro. Mas o Prongs acha que é um nome muito grande. – respondeu Sirius com displicência, conjurando uma outra esfera transparente em volta de Peter.

— É só um jeitinho de relaxar e passar um tempo divertido juntos. – disse James, descalçando os sapatos.

Lily ficou calada um momento, observando o que acontecia ao seu redor. Metade das pessoas ali estava envolta por uma espécie de bolha transparente, embora conseguissem andar normalmente por ali. A música d’As Esquisitonas vinha de uma espécie de vitrola enfeitiçada, que parecia ter sido conjurada por Remus, e todo mundo parecia muito empolgado e à vontade.

— É sério isso, James? – perguntou, puxando James para um canto, pela borda da veste. – Passar um tempo?

— Para descontrair, ficar um pouco entre amigos, se divertir.

— Eu tenho obrigações, Potter! Eu sei que você não liga, mas eu li-

— Claro que ligo! – Lily o encarou, séria. – Eu levo tão a sério quanto você isso de monitor-chefe, Lily.

— Bom, não parece.

Lily estava séria, e parecia tão irritada quanto antes. James já sabia, àquela altura, que não valia a pena medir forças com Lily, ou tentar retrucar igualmente chateado, por mais injusta que ela estivesse sendo. Às vezes os dois podiam ser muito cabeças-duras, e era mais fácil que um cedesse, como a própria monitoria vinha ensinando.

— Eu juro que resolvi tudo antes, e já disse que ficarei na responsabilidade de desmontar tudo do salão depois do banquete. Só quero que a gente tenha tempo de ser gente normal, Lily.

A feição de Lily suavizou, parecendo meio culpada pela dureza com que se referira a James. Era cansativo ser nascida trouxa quando o mundo bruxo estava em uma guerra de limpeza étnica, e às vezes, era fácil esquecer que eles tinham apenas dezessete anos e que precisavam ser adolescentes também.

— Desculpe. É só... difícil. Tem muita coisa acontecendo lá fora, e é como se eu tivesse sempre que provar que estou à altura dos outros. É como se não desse mais para ter a nossa idade.

— Hogwarts é o lugar mais seguro do mundo, você pode ser cem por cento você aqui. Cem por cento você comigo. Não tem que provar nada ‘pra mim, ruiva. Podemos não pensar demais hoje? Em nada... sem guerra, sem Você-Sabe-Quem. Só nós e nossos amigos, sendo adolescentes e quebrando umas regras, pra brincar no lago.

A ideia era tentadora, e James falava de um jeito tão suave e paciente que fazia seu coração esquentar. Sirius e Peter corriam disparando feitiços coloridos, e Mary fazia uma dancinha abobada e, aparentemente muito divertida. Não havia como recusar aquilo, havia? Ela cedeu. Merlin sabia o quanto ela precisava de um desconto para suas ideias, ultimamente tão perturbadas pela overdose de obrigações e preocupações.

— O que é isso, afinal? – perguntou Lily enquanto James conjurava uma bolha transparente em torno dela.

— Pads, explique o conceito, por favor. – pediu, com uma pompa desnecessária.

— Duelo na água. As bolhas são flutuantes, e Monny garantiu que podíamos usar o feitiço impervius para não molhar os pés, mas é claro que vamos sentir a água.

— Vamos duelar na água? – perguntou Alice, quase lívida. – Vamos morrer! A lul-

— A lula gigante não faz nada, garanto. Mas fizemos o Wormtail dar pão a ela antes, só por garantia, então não tem qualquer risco. – explicou James, embora Lily e Alice não parecessem muito convencidas.

— Por via das dúvidas eu evitaria que fossem muito longe Não sabemos quanto tempo as bolhas flutuam totalmente. – pediu Remus, com algum grau de advertência. – Mas é, é quase seguro.

Quase seguro não era lá o que se esperava ouvir, mas Sirius saiu correndo para dentro do Lago Negro e, de repente, eram quase uma dúzia de pessoas flutuando em bolhas transparentes sobre a água escura. De fato, era possível sentir o gelo que era a temperatura da água do lago, embora os pés continuassem secos.

Era boa a sensação de andar sobre as águas, e Lily riu com a ideia de contar isso aos familiares. Iriam dizer que ela parecia Jesus. Durante um tempo, todos brincaram de duelar sobre o lago, correndo de um lado para o outro e fazendo a água respingar em todas as direções, ainda que ninguém se molhasse. O céu começava a escurecer, e Lily estava realmente aproveitando aquela leveza e sensação de liberdade que havia em estar flutuando sobre o lago.

— Não é tão ruim, vai.

— Nem um pouco, está sendo ótimo. – ela sorriu de volta, desejando que pudesse segurar na mão de James naquele momento.

— Melhor que uma reunião de monitores, admita. – Lily riu.

— Essa ideia toda foi só para comemorar o halloween mesmo? E por que algo me diz que foi invenção do Sirius?

Havia um risinho malicioso na boca de Lily, e James soube que havia sido pego nas reais intenções.

— Era para ser um pedido de desculpas, meu e do Pads. Por termos sido dois babacas no café da manhã. A ideia inicial foi dele, mas juro que a execução foi minha!– murmurou na defensiva, achando graça e, ao mesmo tempo, constrangido, ao que Lily gargalhou.

— James Potter sem graça é novidade para mim. Quer dizer que vão inventar essas coisas toda vez que forem babacas? Eu tenho uma listinha memorável de momentos a serem considerados...

James deu de ombros, com uma careta de quem tinha culpas demais no cartório para se redimir com meras generosidades de distração dos estudos.

— Será que pode parar de flertar com o Prongs e aceitar logo meu convite para um duelo, Evans?

— Quando quiser, Black! – disse ela, dando um sorriso maldoso e puxando a varinha de dentro das veste, atacando Sirius e logo em seguida correndo sobre a água.

Independente da razão, ninguém poderia negar que um sorriso ficava sempre muito bem em Lily Evans, e quando ela abraçava aquele lado leve, de quem sabia que era uma bruxa fenomenalmente talentosa, tudo nela parecia brilhar. 

A despeito de qualquer cobrança pessoal que Lily fizesse sobre seu rendimento, ou que qualquer purista de sangue pudesse querer implicar.

E por mais que James amasse observar Lily estudando, concentrada, admirar a bruxa fenomenalmente talentosa que ela era, o sorriso e as gargalhadas de Lily naquele entardecer, sobre o lago, era algo que fazia suas entranhas se revirarem de felicidade genuína e um afeto quase doloroso de tão intenso.

Ela era muito talentosa em feitiços, e ainda que seu repertório de azarações não fosse, nem de longe, tão vasto quanto o de James e Sirius. Os sorrisos dela faziam o mundo de James queimar feliz como uma estrela.

— A gente deveria voltar. Eu estou morrendo de fome! – gemeu Dorcas.

Já estava muito escuro e, à exceção de Frank e Alice, que haviam retornado para o castelo quase meia hora atrás, todos estavam deitados no gramado, ou recostados na árvore à beira do lago. Sirius arranjara um cigarro, que dividia com Peter e Marlene, e todos passavam o tempo falando nadas, aproveitando o brilho prateado que a lua minguante deixava nas águas escuras do Lago Negro.

— Eu também. E cansado. – disse Remus, levantando-se e batendo as vestes. – Vamos voltar.

A entrada atrasada daquele número grande de pessoas chamou bastante atenção, e na mesa dos professores era possível notar a expressão furiosa de Minerva Mcgonagal, que chegou a interromper o próprio jantar e ir em direção aos recém chegados, proibindo-os de juntarem-se à mesa da grifinória em um único e silencioso gesto raivoso.

— Eu me perguntava se todos os monitores do sétimo ano da grifinória teriam sido engolidos pela Lula Gigante. – ralhou ela, fazendo Sirius abafar um risinho irônico. – Eu tenho a mais absoluta certeza de que isso tem o dedo dos quatro, o que nem me surpreende mais.

Ela indicou James, Sirius, Peter e Remus, interrompendo-se e olhando-os com aspereza, e então continuou.

— Duvido que algum aluno jamais tenha tido seu histórico de detenções, sr. Black. E as senhoritas, sinceramente!

Dorcas e Mary encolheram-se, e Marlene desviou os olhos, enquanto Sirius apenas mordia os lábios para evitar rir.

— Professora, eu sinto mui-

— Sua prudência teria sido bem vinda horas atrás, Lupin, quando precisei de monitores para orientar os alunos do primeiro ano e não achei NENHUM! É bom, e muito bom, que os senhores estejam preparados para perder os duzentos pontos que pretendo tirar por essa pegadinha estúpida.

Houve uma explosão de protestos sussurrados.

Duzentos?! Não pode fazer isso!

— Pois eu já fiz, Potter. E sinceramente esperava que os NIEMs fossem ocupá-los o bastante para passarem a respeitar a escola, mas, aparentemente estão com tempo livre o suficiente para detenções. – sibilou ela, ajustando os óculos no rosto. 

Até mesmo Sirius tinha baixado o olhar arrogante de sempre, constrangido pela quantidade de pontos que estavam tirando da casa. Com dois meses de aula, eles nem tinham tudo aquilo de pontos na ampulheta e ficariam com saldo negativo. Por isso, foi uma surpresa geral quando Lily se pronunciou, soando mais séria e confiante do que se tinha memória de ela jamais ter se referido a um professor.

— Não foi o Potter, professora. Fui eu.

— Senhorita Evans?

— Eu estava estressada, e acabei convencendo todo mundo a ir ao lago comigo. O convite extrapolou e perdemos a hora.

Minerva Mcgonagal olhava de James para Sirius, e então Lily, tentando ler além de suas expressões. Não era possível saber quem estava mais surpreso.

— Está me dizendo que foi ideia da senhorita, voluntariamente, abandonar todas suas obrigações de monitora, e ainda convidou Potter e Lupin a se juntarem?

— Estou. – havia uma displicência nova no jeito de Lily falar com Minerva que estava, realmente, perturbando.

— E eu deveria acreditar? Com Potter e Black envolvidos, eu deveria acreditar que foi ideia sua, srta. Evans? – disse Mcgonagal, com os lábios crispados e os olhos esquadrinhando a expressão de Lily.

— Foi exatamente o que acabei de dizer, professora. Foi tudo culpa minha, ninguém tem nada a ver com isso.

— E eu saberei o porquê dessa rebeldia repentina?

— Só estava tentando algo novo. Uma pegadinha de Halloween, para variar.

Sirius deu uma risadinha da petulância de Lily ao se referir à chefe da casa da grifinória. A professora continuou encarando Lily mais alguns segundos, esperando que a confiança dela se quebrasse, mas a monitora sustentou a severidade do olhar e manteve-se impassível, quase sorrindo com alguma displicência.

— Acho que é a convivência. Não vai se repetir, eu prometo. – acrescentou, com um deboche perceptível.

Minerva olhou um por um os alunos do grupinho. Potter sustentava uma expressão inocente, e Sirius tinha um sorriso solto. Peter estava encarando os sapatos, assim como Mary, a seu lado, e Lupin apertava as mãos, incomodado. Dorcas e Marlene observavam Lily, esperando o desenrolar, e se não fosse pela confiança que ela exalava, seria difícil que Mcgonagal tivesse mudado sua decisão.

— Bem, se temos uma confissão, eu receio que não possa ignorá-la, senhorita Evans. Sua detenção começa amanhã à noite, e espero que trabalhe para recuperar os sessenta pontos que acabou de perder para a grifinória.

— ‘Pera, mais sessenta?! Professora, não! – gemeu Peter, confuso e desesperado.

Sirius chutou a canela dele e Mcgonagal revirou os olhos, sabendo que todos os demais tinham entendido que ela voltara atrás sobre os duzentos pontos, de maneira que apenas continuou.

— E o salão principal vai esperar ansiosamente que você o organize depois do banquete. Algo me diz que Potter vai ficar satisfeito em ajudá-la. – a expressão de Minerva suavizara, e Lily pensou ter visto uma piscadinha sutil. – Dirijam-se ao jantar, e que eu não precise lembrá-los outra vez que o Lago Negro não é piscina para quando bem desejarem.

Sem esperar uma segunda chance de serem liberados, todos saíram em direção ao salão principal para jantarem de uma vez.

— E Evans. – chamou professora Mcgonagal. – Essa confiança fica bem na senhorita. E é muito nobre e leal da sua parte assumir a responsabilidade pelos amigos. Godric Gryffindor está orgulhoso.

Lily deu um sorriso largo ao ouvir o cumprimento da professora, e James, que estava mais ao final do grupo, pode ouvir a resposta dela, tendo que segurar um riso.

— Obrigada, professora. Mas eu realmente não faço ideia do que está falando... – o brilho inocente nos olhos de Lily fazia James querer explodir em gargalhadas.

O jantar passou sem maiores intercorrências, e rapidamente se espalhou pela mesa da grifinória o boato de que Lily Evans fora dar uns mergulhos com James Potter no Lago Negro, e os mais maldosos juravam tinham visto os uniformes dos dois formarem uma pilha na beira do lago.

Quem realmente estivera no lago só ria, sabendo que a maior surpresa fora o jeito como Lily assumira a culpa de tudo.

— Afinal, o que deu na sua cabeça para assumir a culpa sozinha? – perguntaria James mais tarde, quando só os dois estavam no salão, removendo decorações das paredes com acenos de varinhas.

— Eu nunca tinha levado detenção.

— É sério isso? – ele insistiria, achando graça e, ao mesmo tempo, ficando muito surpreso. – Nunca tomou detenção e resolveu fazer isso sendo monitora-chefe, no último ano?

Ela assentiu e ele riu, incrédulo, perguntando se ela não estava chateada pelas detenções.

— Vai ser interessante, uma vez, ser a pessoa que leva detenções, ao invés de aplicá-las. Fazer umas memórias e viver um pouco.

— O que eu estou fazendo com você, Lily?

Ela riria, olhando para ele com uma expressão entre o carinho e a brincadeira, e então sacaria a varinha para conjurar uns confetes que explodiriam sobre a cabeça de James, fazendo-o tossir lantejoulas.

— Não faço ideia, mas é divertido. Como foi que disse? Malfeito o quê?

— Malfeito feito, ruiva. - respondeu ele rindo, puxando Lily para um beijo. 

A organização acabou tarde, porque os dois simplesmente não conseguiam parar de inventar brincadeiras idiotas no processo, ou de pararem para se beijar. A torre da grifinória já estava vazia quando chegaram, e novamente passava da meia noite, mas nenhum deles reclamou por isso, e, na verdade, ambos foram dormir com um sorriso bobo no rosto, sentindo-se muito vivos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!