It's Quiet Uptown escrita por Siaht


Capítulo 7
VII. forgiveness, can you imagine?


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas lindas!!!
Tudo bem com vocês?
Bom, não vou enrolar aqui, porque preciso postar dois capítulos em menos de uma hora haha
Então, espero apenas que gostem! ♥



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{forgiveness, can you imagine?}

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“forgiveness, can you imagine?”

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Ele sempre fora um amante do silêncio. Passara a vida inteira ansiando por ele. Sonhando com ele. O perseguindo. Finalmente o alcançara, apenas para perceber que jamais detestara tanto um som. Ou a completa ausência dele. Percy Weasley não era uma boa pessoa. Nesse ponto de sua vida, estava bastante ciente de todas as suas falhas e pecados. De cada um de seus equívocos miseráveis. Fazia sentido, portanto, que seu inferno pessoal fosse justamente aquilo que imaginou ser o seu paraíso. 

Crescer com seis irmãos fora difícil. O rapaz gostaria de ser nobre e abnegado e falar sobre as maravilhas de uma família grande, mas estaria mentindo. Percy, afinal, não era nobre ou abnegado. Era mesquinho e egoísta. Sempre havia sido. Sendo assim, tudo em que conseguira se concentrar enquanto crescia, eram nas desventuras daquela situação. O rapaz amava sua família. Realmente amava. Porém, era impossível para ele não se magoar por tudo o que não tinha: roupas, livros, materiais escolares, espaço, silêncio…

Talvez todos os outros Weasley estivessem bem vivendo empilhados e em completo caos, mas não Percy. Porque o barulho o fazia enlouquecer. Entrava em seu cérebro e embaralhava seus pensamentos, impedia sua concentração, o irritava tanto que fazia com que desejasse sair da própria pele. Porque estar cercado de pessoas o exauria, sugava suas energias, o deixava desconfortável. O rapaz não queria se sentir desse modo, especialmente próximo a própria família, a pessoas que obviamente o amavam, ainda assim, não conseguia evitar.

O desconforto fora gradualmente levando ao ressentimento. O ressentimento se misturou a ambição que sempre correra forte pelas veias daquele Weasley. O resultado daquela equação fora desastroso, como já era de conhecimento geral. Percy havia rompido com a família, lançando adagas em formas de palavras no processo e ferindo todos ao seu redor. Havia escolhido acreditar no Ministério. Havia permanecido impassível durante a maior parte da Guerra Bruxa. Até o último instante. Quando finalmente percebera que estava errado, quando finalmente resolvera agir. Reparar seus erros. Fazer algo bom. E então falhara mais uma vez. 

Pelo resto de seus dias, Percy achava que estaria preso naquela cena. Estático naquele corredor, assistindo seu irmão morrer de novo e de novo e de novo. Ele havia fracassado com Fred durante todos anos em que não conseguira ter paciência para ouvi-lo ou apreciar suas piadas. Havia fracassado com Fred quando abandonara a ele e ao resto da família. Havia fracassado com Fred quando fora incapaz de salvá-lo. Agora o irmão estava morto e não havia nada que Percy pudesse fazer para reparar suas falhas. Não havia nada que pudesse fazer além de se afundar na culpa.

E como não se sentir culpado, quando estivera a centímetros do rapaz, enquanto ele morria. Como não se sentir culpado quando sua vida inteira era uma sucessão de equívocos? Não havia outra escolha, portanto, a não ser se afogar em martírio. Se trancar em si mesmo. Se trancar em seu quarto. Se afastar para proteger as pessoas que amava da trilha incessante de danos que causava por onde passava. Desaparecer da vida de todos.

Seria melhor assim. Uma forma de poupar sua família de ter que encarar seu rosto miserável e seus pecados vergonhosos. Isso era algo que Percy poderia fazer. Um último ato de misericórdia. Uma única ação decente e digna. Suas intenções poderiam ter  sido atendidas, se Bill não houvesse aparecido em sua porta. E se não houvesse continuado a aparecer diariamente, mesmo quando o irmão insistia em manda-lo embora aos berros. Às vezes ele trazia a esposa, o que era bom, já que Fleur lhe era uma estranha e, dessa forma, Percy não precisava se sentir errado ou culpado em torno dela. Eventualmente, o rapaz perguntou ao mais velho o motivo dele insistir nas visitas. O motivo descontinuar retornando. Bill apenas lhe respondeu que já havia perdido um irmão e se recusava a perder outro. 

Charlie fora o próximo. Viera informá-lo que em breve precisaria voltar para a Romênia e não queria deixar os pais sozinhos, especialmente porque estava claro que Ginny retornaria a Hogwarts assim que possível. Antes de partir, entretanto, o rapaz prendera Percy em um abraço e confessara em um sussurro: “eu sinto falta do Fred. Sinto sua falta também. Sinto sua falta há muito tempo, Percie. Todos nós sentimos”.

Então, o filho pródigo retorno À Toca. Retornou para o lugar que passara anos amaldiçoando, mas que, ainda assim, sempre fora sua casa. Para o lugar no qual continuava a se sentir inadequado. Talvez fosse a sensação de que devia algo aos pais. Talvez fosse ter percebido que sua estratégia de desaparecer não  estava funcionando. Na verdade, que estava apenas piorando o que já era difícil.

Molly ficara estonteante com a novidade. Conseguira até encontrar forças em si mesma para sorrir, perdoando o filho tão facilmente que parecia errado. Com Arthur tudo fora um pouco mais delicado. Nenhum dos dois sabia muito bem como se comportar ao redor um do outro e, por algum tempo, se equilibraram de forma frágil e estranha. Eventualmente, o pai viera falar com Percy. O rapaz esperava uma bronca, mas recebera um sorriso e a afirmação de que era bom que o filho houvesse cometido erros. Isso era crescer. Isso era estar vivo. 

Ginny lhe dissera somente que se ousasse ir embora de novo, ela iria quebrar cada osso de seu corpo pálido e magricelo. Parecia mais uma súplica para que ficasse do que uma ameaça. Já Ron fora menos sutil ao lhe dizer que ele havia sido um otário, mas que, na vida, o que importava era o que você fazia para redimir seus erros, não os erros em si. 

Nada disso fora suficiente para curar a ferida que existia no peito de Percy. Para diminuir o peso que carregava sobre os ombros. Para aliviar a agonia na  qual se afogava. Para afastar a culpa que o devorava. Até George invadir seu quarto, sem qualquer aviso ou solicitação. Em outros tempos, isso teria sido o bastante para iniciar uma briga. Mas não agora. 

— Você precisa parar com essa merda. — o irmão disse com muita seriedade. Percy mal conseguia encará-lo. George era o reflexo de Fred. A personificação de cada ação vil que cometera e de suas consequências. 

— Do que você está falando? — ele sabia exatamente do que o mais jovem estava falando. 

— De ficar se culpando pelo que aconteceu ao Fred. É ridículo e inútil.

— Não é ridículo. Foi minha culpa. 

— Não seja patético, Percy. Você fez um monte de burrada na vida, isso é inquestionável, mas acho que se tornar um Comensal da Morte e assassinar pessoas não foi uma delas. Então, pare de ofender a memória do nosso irmão com essa palhaçada. 

— George…

— Fred não era criança. Ele sabia pelo que estava lutando e quais poderiam ser as consequências. Ele fez sua escolha. Ele foi um herói. Respeite isso. — o rapaz suspirou, passando a mão pelos cabelos ruivos. Parecia muito mais velho. Muito mais maduro. Muito mais cansado — Percy, tudo o que o Fred sempre quis foi que você realmente fizesse parte dessa família. Que sorrisse mais, risse mais e fosse mais leve. Então, não faça exatamente o contrário disso e diga que é por ele. Não o desonre assim. 

— Você não entende. Poderia ter sido eu. Deveria ter sido eu. Seria melhor para todo mundo, se eu tivesse morrido no lugar do Fred.

George balançou a cabeça negativamente e se aproximou do irmão, colocando uma mão sobre seu ombro. 

— Sua morte não faria bem a ninguém, seu imbecil. Não é assim que funciona. Todos nós já te perdoamos. Todos nós te amamos.

— Não deveriam. Não acho que mereço esse perdão ou esse amor.  

George sorriu tristemente. 

— Como você pode ser tão esperto para algumas coisas e tão estúpido para outras? Não é assim que funciona também. Você não precisa merecer, Percy. Somos sua família. Amamos você. Te perdoamos. Simples assim. Pare de ser um idiota e se perdoe também. E, se realmente se importa com o Fred, comece a viver sua vida como ele gostaria que você vivesse. Faça de seus dias uma forma de honrá-lo. Ou, pelo menos, tenha a dignidade de não arrastar o nome dele para a sua miséria pessoal.

E foi isso que Percy fez. Foi o que continuou fazendo por todos os dias de sua vida. Sempre carregaria um pouco de culpa consigo, porém, resolvera usá-la como combustível para algo bom, para ser alguém melhor e não mais como um oceano no qual se afogar.


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Notas finais do capítulo

Ok, esse foi de longe o maior capítulo da história, mas eu não podia falar sobre o Percy sozinho, porque não conseguia imaginar seu luto como algo isolado. Na verdade, imagino o Percy no pós-guerra sempre entrelaçado com a família e todos os seus erros. Então, precisava colocar um pouco dos outros Weasley aqui também. E, de alguma forma, precisava ser o George a dar o perdão definitivo.
No geral, gostei muito desse capítulo e espero que tenham gostado também! ♥
Beijinhos,
Thaís



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