Filhos da Noite escrita por Scar Lynus


Capítulo 12
Capitulo 12 - Laços




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[Belle – Ruas de Londres]

Era um novo dia, um novo amanhecer para mim, eu estava linda, assim como todos os dias, mas, hoje havia mais. Mais tempo, mais cores, mais energias... Eu estava feliz, radiante e sorridente, eu havia sonhado com esse dia, planejado o que faria quando estivesse livre e nesse momento, eu havia mudado completamente meu plano inicial. A única coisa que tive vontade foi sair, comprar um maravilhoso café da manhã e ir até a cada de Alexander. Que por algum motivo estava vazia, mesmo sendo um sábado de manhã... Quando cansei de esperar, saquei meu telefone pra descobrir onde ele estava.

— Oi. – Foi a única palavra dele, e pelo tom da voz, ele estava de mau humor, normalmente era assim quando ele não dormia direito.

— Bom dia para você também querido! – Respondi. – Onde está? Vim até a sua casa com um belo café da manhã e fiquei trancada para fora...

— Eu estou na Romenia. – Isso sim era inesperado. – Tivemos um contratempo familiar.

— Archie está na Romenia! O que aconteceu? Ele está bem? Adrienne está com você? – Disparei as perguntas.

— Tivemos que vir busca-lo. Sim, ela está comigo e foi um contratempo como eu já disse... Interessante ficar preocupada agora.

— Não senhor! Não vai usar esse tom comigo mocinho! – Eu não iria deixar o mau humor dele estragar logo esse dia.

— Faz três dias que você não fala comigo ou conosco, nem sinal de vida você deu Belle! – Explicou ele. – Se coloque no meu lugar pra variar um pouco! – Ele suspirou, eu ainda não tinha respondido. – Olha, você estava fora e considerou o que quer que estivesse fazendo na hora, mais importante do que falar conosco...

— Eu estava fazendo algo por nós Alexander! Nós juntos! – Respondi já irritada.

— Eu não deveria ser informado nesse caso? – Ele sabia ser um pé no saco quando queria. – Olha, eu vou resolver o que tenho de resolver, quando terminar nós nos falamos se você quiser tudo bem?

— Não se incomode comigo! Seu babaca! – Falei antes de desligar.

Eu não ia permitir que ele me ouvisse soluçar, algumas lagrimas fugiam dos meus olhos e o tal café da manhã, já estava destruído no chão. Caminhei de volta pra casa enquanto acompanhava uma tempestade pesada que estava escurecendo o céu.

...

[Adam – Torre Vermelha]

Conjurar uma tempestade, um truque muito útil para quando um vampiro precisa sair enquanto o sol ainda está no céu... Claro que não é qualquer vampiro comum que consegue alterar parte da natureza quando necessário, mas, felizmente, comum é o ultimo adjetivo que poderiam atribuir a mim.
Eu não gostava de caminhar entre humanos, mas, não é possível manter o céu fechado quando estou transformado e essa conversa jamais, em circunstância alguma, poderia esperar. Caminhei direto pela entrada daquele prédio, permitindo o feitiço se desfazer do lado de fora.

— Bom dia. Ligue para a mulher que está lá no topo e diga que o compromisso de hoje já está aqui e vai subir! – Eu não tinha a necessidade de falar com aquela recepcionista, mas, manter a ilusão do mundo humano era necessário.

— Senhor! Não pode ir sem... – Ela tentaria me impedir em vão, eu já havia visto as três seguranças que também viriam na minha direção em seguida, tudo em câmera lenta como de costume, humanos e suas limitações...

— Posso sim e vou! – Respondi apertando o botão do elevador, só para ver ele abrir e minha mãe segurar a porta.

— Podem deixar, é o meu filho. – Ordenou ela. – Bom dia Adam. Vamos subir! – Ela apontou para cima.

Entramos no elevador sem dizer uma palavra, contudo, ainda pude ouvir parte da conversa daquelas pessoas. “nem sabia que ela tinha um filho”. “deve ser por isso mesmo”. “mais um herdeiro mimado no mundo”.
Humanos são criaturas tão simples e invejosas...

— Pode se sentar ali. – Ela apontou para duas poltronas no centro da grande sala, com uma mesa pequena entre elas. – Quer um café?

— Eu não vim aqui para tomar café! E Você sabe porque estou aqui! – Não era hora de cerimonia.

— Sim eu sei, mas, não significa que não pode ser civilizado. – Ela trazia duas canecas. – Eu sei que você foi muito bem educado! – Aceitei o café.

— Vocês mentiram pra mim! – Comecei.

— Ninguém mentiu nada para você, em momento algum! – Ela não perdia a postura, enquanto isso meu interior já estava pra explodir.

— Vocês me disseram que ela estava morta! – Respondi.

— Não. Não disse. – Ela fez uma pausa pra tomar um gole do café. – Você simplesmente não perguntou sobre ela desde que despertou. Como sempre, você tirou conclusões, fez planos, agiu sozinho quando ficou irritado ou quando é contrariado...

— Isso não é uma sessão de críticas! – Me levantei nessa hora, encarando a grande claraboia dela, feita do mesmo vidro que as minhas paredes no Neftis. – Eu quero saber onde ela está! Eu preciso ver a minha irmã!

— Sente Adamas. – Pediu minha mãe. A contragosto eu obedeci. – Sua irmã não quer contato, nem comigo, nem com Lilian e nem com você... Ela não nos quer por perto.

— Esse é sem dúvidas o maior absurdo que já te ouvi dizer! – Chegava a ser até cômico. - Minha vida toda eu lutei por ela, honrei a memória dela, fiz de tudo pra traze-la de volta. E eu teria conseguido se não tivessem me derrubado! Por que motivo ela voltaria dos mortos e não iria querer estar conosco?

— Sua irmã nunca morreu! Pelo menos, não completamente. – Isso era uma novidade.

— Não entendi.

— Demorou, mas, nós descobrimos as propriedades do feitiço, era antigo o suficiente para não estar em nenhum papel ou pergaminho e muito menos na mente dos imortais... Estava marcado nos ossos do que um dia foi um ser titânico nesse mundo, hoje conhecido como a maior caverna do mundo, está nas “pedras”.

— Continue.

— Era um conhecimento compartilhado da linhagem dos Meyer, apenas de mãe ou pai para um único filho. E nós descobrimos graças a uma Meyer língua solta que queria enganar a maldição que Lilian e eu colocamos na linhagem, a mesma maldição que você desfez ontem. – Ela tinha que falar isso. – Me surpreendeu... E eu agradeço por corrigir nosso erro.

— Eu fiz o que precisei fazer. – Respondi. – Não desvie do assunto por favor.

— O feitiço não entregava a morte eterna ou apagar a pessoa da existência, mas, um limbo eterno, Nefertari ficou todos aqueles séculos presa, entre mundos, assistindo, sempre observando... – Eu podia imaginar o que ela iria listar. – Ela viu nossa vingança, viu o pior de cada um dessa família, viu nossas guerras, viu o sofrimento de todos, viu o que você havia se tornado... Você não era mais o irmão dela, não o mesmo irmão gentil... Você era apenas um assassino sádico com desejo de vingança que justificava sua carnificina com a memória dela.

— Eu não...

— NÃO OUSE MENTIR! – Ela ficou de pé nesse momento, eu não ousaria continuar a frase, não com esse tom e muito menos nesse momento. – Você foi aprendeu a lutar, a caçar os caçadores, se tornou o bicho papão das histórias deles, nós voltamos exatamente aonde estávamos antes do seu pai, dando motivos para a humanidade nos temer e continuar a tentar expurgar nossa espécie!

— Eles vivem tentando expurgar a si mesmos! Violência está no DNA deles! – Isso eu podia dizer. – Eles não são inocentes!

— Os assassinos dela! Eles não eram inocentes. Crianças, irmãos, bisnetos, filhos, aqueles que nasceram tão depois que nem imaginavam os nomes deles... Estes eram e não mereciam o destino que demos a eles! Nenhum deles deveria pagar por um erro tão antigo!

— A Nefi...

— Nefertari evoluiu muito mais do que todos nós enquanto estava em seu “exílio”. – Eu não iria ganhar uma discussão aqui. – Ela aprendeu, ela observou e ela repudiou cada ato que cometemos. E quando finalmente a tivemos de volta...

Eu esperei, o tempo é relativamente diferente para nós, uma pessoa normal teria visto aquilo como uma pausa de segundos, uns quatro segundos no máximo, mas, para mim... Minha mãe havia congelado por quase uma hora, completamente absorta na lembrança.

— Ela nos rejeitou. Rejeitou a mim, a própria mãe dela... – Lagrimas vermelhas saíam do rosto dela. – Eu não pude toca-la, “LONGE!” Foi o que ela gritou me olhando nos olhos. Lilian, ela a culpou pelo que aconteceu com você, doutrinado na crença de superioridade, achando que associar um nome a sua causa tornaria sua vendeta sem fim justa...

— Eu vivi minha vida toda por ela... – Eu não iria desistir, eu não poderia simplesmente deixar tudo. – Esse sempre foi meu objetivo, nos reunir, completar nossa família.

— Essa família já está quebrada a muito tempo meu filho. – Respondeu minha mãe tocando meu rosto. Eu estava sentindo as lágrimas escaparem de mim. – Não dá pra consertar...

— Eu preciso dela. Por favor! – Eu já estava praticamente implorando.

— Eu não sei onde ela está... E duvido que a encontremos se ela não quiser ser encontrada.

— Quantos anos faz?

— Como? – Ela questionou confusa.

— Que ela voltou, quantos anos do despertar dela? – Perguntei secando as últimas lágrimas e recuperando minha postura.

— Sessenta e três!

— Então tenho muita área pra cobrir! – Comecei a caminhar para a porta.

— Você vai se machucar! – Ela ficou no caminho. – Não vá! Deixe-a ter seu próprio tempo. Nós somos eternos e graças a mim, incógnitos! Temos tempo de sobra.

— Eu não vou esperar! Se ela não me quiser por perto eu irei me afastar, mas, eu quero ouvir isso dela!

Era uma desgraça que o dia ainda estivesse ensolarado. Eu iria conjurar a tempestade novamente, mas, agora iria chover e pela primeira vez em anos, essa cidade iria sentir o que era o poder da natureza contra suas construções...
Eles podem até não se lembrar ou nem saber quem eu sou e quem eu fui um dia, mas, eles não deixariam de sentir como funcionam as coisas quando o mundo mais uma vez começa a tirar de mim o que me é mais precioso!

...

[Alexander – Romenia]

— Que forma sutil de terminar uma conversa. – Adrienne ironizou quando desliguei.

— Não pode ficar do lado dela. – Me defendi – Ela está errada. E nós temos mais coisas a fazer! – Apontei o tablete dela. – E então, me atualize.

— Bom, os caçadores da área já mobilizaram as coisas durante a madrugada. O hotel está isolado devido a um “vazamento de gás”. Pra garantir que ninguém procurasse pelo Archie, foram feitas orientações pra ninguém sair do quarto e de bônus, internet fora do ar na área.

— Você é a melhor! – Respondi orgulhoso. – Vai ser entrar e sair. Eu entro, mato eles e tiro nosso irmãozinho de lá!

— Nós entramos você quis dizer! – Eu sabia que ela diria isso.

— Não é necessário. Eu resolvo rápido e voltamos rápido. – Eu não precisava arriscar ela também.

— Já pensou que essa atitude é o que nos deixa irritados com você? Eu, Archie, Belle... Essa sua pose de guerreiro solitário, “eu resolvo sozinho”. – A voz dela tinha afinado bem nessa parte.

— Eu só estou tentando garantir a segurança de vocês.

— E quem nos garante a sua? – Ok, ela me pegou nessa.

— Se eu tiver problemas eu vou te chamar! – Respondi e virei para o lado, ainda tínhamos uma hora até o destino, tempo suficiente para uma soneca pré-batalha.

...

[Archie – Romenia]

Alexander vai me matar quando chegar... Já passavam de doze horas sentado ali e eu ainda não havia me libertado, não por falta de tentativas, atualmente minhas pernas, braços, cintura e testa estavam amarrados. Eu não conseguia escutar muito além daquele quarto, mas, eu sabia que alguma coisa estava acontecendo. Os vampiros já estavam tensos há algumas horas e bem, o sol já havia nascido, seja quem for a vampira que alertaram, não seria agora que iria aparecer.
Continuei a mover meu braço no sentido do braço da própria cadeira, se não dava pra me resolver com as cordas, eu faria essa porcaria entortar. Eles não apareciam já fazia um tempo, com sorte eu estaria livre em breve.

...

Eu estou pronto! – Disse o Archie no auge de seus 14 anos de idade.

— Não enquanto eu não disser que está! – Alexander respondeu desarmando facilmente o mais novo. – Ainda te falta muito treino.

— Você já tinha matado vampiros e outros monstros na minha idade! – Reclamou dando as costas ao mais velho e se sentando no balcão da sacada.

— São circunstâncias completamente diferentes. – Alex sentou ao lado dele. – Era necessário e eu tive muito mais mestres, mestres mais experientes, mais exposição a todo o caos obscuro dentro do mundo humano... – Ele ficou de pé no balcão. – Você vai ser um grande caçador, ou ao menos vai ter o melhor treinamento possível, mas, por hora. – Alex estendeu a mão pra ele. – Vamos ver como se sai lutando no balcão, o primeiro a cair perde!

...

 

— Por que pensar nisso logo agora? – Perguntei a mim mesmo, perdido na memória. – Talvez eu realmente não esteja pronto...

...

[Alexander – Romenia]

Não foi difícil passar do bloqueio, felizmente o caçador da área tinha uma boa influencia na prefeitura e garantiu que haveria um ponto cego para que eu pudesse entrar no hotel e sair com o Archie sem chamar muita atenção.
Adrienne estava do outro lado da rua, sentada numa pequena lanchonete, observando, mantendo contato e garantindo que ninguém indesejado entrasse sem meu conhecimento.

— Pode ir direto pra lateral, você entra pela entrada dos funcionários, duvido que consigam esconder o Archie ou os rastros por muito tempo. – Ela orientou.

— Deixa comigo. – Respondi já abrindo a porta lateral.

Uma vez ali dentro eu me desfiz da jaqueta, removendo dela todos os equipamentos, os mais adequados para brigas rápidas, apertadas e com tempo apertado.
Dois punhais de prata abençoada cujo os punhos eram socos ingleses, discos de prata, pequenas esferas de água benta no cinto e uma pequena surpresa caso a situação fugisse do controle ou eu me sentisse em desvantagem.

— Segue a direita, até o final do corredor, vai ter uma porta de entrada pra manutenção. Desça a escada e vai estar na área onde estão mantendo o Archie. – Eu ficaria perdido um tempo se tivesse vindo sozinho.

— Obrigado. – Respondi seguindo as orientações à risca. Assim que cheguei à escada eu usei uma lanterna UV para tentar encontrar rastros, eram vampiros meticulosos, quase não havia nada por ali, mas, até profissionais erram as vezes. – Achei o suor do Archie, um pequeno caminho. – Informei Adrienne. – Vou manter contato mínimo agora.

Pulei para o fim da escada, pousando em silencio graças ao solado especial das botas, não parecia que alguém estava ali, mas, eu sei que vampiros adoram uma boa armadilha. Tirei do meu bolso uma pequena esfera de vidro, lançando-a no ar e atingindo com outra esfera de água benta, no momento, não apareceria nada, nada mudaria na sala, ao menos não de uma forma evidente.

— DESGRAÇADOO!! – Escutei o primeiro gritar e cair do teto direto a minha frente. – Vou te mandar direto pro inferno junto dos seus parentes! – Ameaçou em minha direção, eu felizmente não precisaria de muito.

— Vai na frente! – Respondi enquanto evitava suas garras, primeiro de cima, e então esquerda, cima, esquerda, direita, esquerda, baixo... Ele tinha algum problema com a direita, estava evitando colocar o próprio peso na perna, esse era o ponto de ataque. – Nunca vi um vampiro com deficiência antes...

— Pelo menos o outro não falava durante a luta. – Reclamou ainda atacando. Agora eu entendi, Archie com certeza acertou esse idiota.

— Então o problema está aqui! – Falei antes de apunhalar seu joelho direito, obrigando-o a parar devido a dor. – Pelo menos nessa ele acertou. – Puxei uma esfera de água benta, estourando-a direto no rosto dele, um vampiro cego e ferido não é uma ameaça.

— AAAHHHHH! – Ele gritou desorientado, tentando atacar em todas as direções possíveis. O estado desse vampiro deixa bem claro que não está no comando e nem é grande coisa, Archie teria acabado com ele se não houvesse pelo menos um segundo vampiro presente.

— Acabou pra você. – Falei quando o punhal já estava no pescoço dele, um corte limpo. Sangue espirrado e logo depois cinzas sobre o piso. Não foi um desafio, mas, eu tinha certeza de que havia pelo menos mais um ali. – Já matei seu amigo, quer parar de se esconder ou quer brincar de gato e rato mais um pouco? – Comecei a caminhar pela área. – Eu sei que está difícil de respirar, me certifiquei de igualar o jogo com vocês.

— Então era pra contaminar o ambiente! – Finalmente apareceu. – Alho? – Questionou alguns metros a minha frente. – Não somos os únicos e você não vai sair com seu irmão!

— Eu diria que estou indo bem. Vim aqui exatamente pra tirar ele daqui e matar vocês! – Ironizei. Ele estava se movendo pouco, evitando que o alho e a água benta no ar fizessem muito efeito no seu corpo. – Tem algum trunfo na manga vampiro?

— E você nem imagina Belmont! – Ele respondeu avançando. Essa eu esperava que fosse uma luta mais memorável.

Ele não era igual o outro e com certeza não estava ferido, era mais rápido, mais disciplinado e a todo custo estava me “guiando” para longe de uma porta especifica.
Esquivei de alguns golpes dele por pouco, ele estava analisando os meus movimentos e mudando os próprios, com certeza ele já havia visto muitas batalhas.
resolvi mudar para a ofensiva. Alguns socos diretos no corpo, não precisava matar rápido, mas, golpes certeiros fariam o efeito desejado. Ainda não havia tentado usar as lâminas, eu queria interrogar esse vampiro, se tem alguém maior, eu preciso saber.

— Alexander. Você tem que acabar com isso rápido e sair dai com o Archie! Sério! – Adrienne chamou no comunicador, o tom completamente diferente de antes. Acertei um soco no meio da garganta do vampiro ao mesmo tempo que depositei um dos punhais em sua clavícula.

— Como assim? – Questionei. – O que aconteceu? – Voltei ao vampiro que com esforço removeu o punhal, pelo menos ele tinha coragem e avançou mais uma vez.

— Acha que pode se dar ao luxo de conversar enquanto me enfrenta? – Ele estava mais feroz... Assim como todo animal ferido.

— Não acho! – Respondi antes de disparar os discos de prata, não foi difícil pra ele se livrar dos discos, exatamente como planejei. Focou nos discos e esqueceu de mim. – Eu tenho certeza! – Finalizei nossa luta com ambos os punhais no seu peito.

Fui direto pra porta que ele estava evitando, felizmente era a porta certa.

— Você demorou! – Reclamou Archie que estava amarrado. – Foi bagunçado aí fora né. Eu escutei sua luta.

— Vamos conversar em casa! – Respondi cortando as cordas. – Idiota! – Xinguei-o antes de abraça-lo. Meu irmão estava bem, estava ali e estava vivo, eu não precisava de muito mais. – Agora vamos logo! Adrienne está lá em cima.

— Não vou ficar na viagem? – Ele questionou.

— Não! Vamos informar a escola que te busquei na madrugada. Em casa te passo tudo. – Respondi enquanto ele me seguia direto pra fora. Assim que atravessamos a porta, eu vi que o dia não parecia o mesmo, o céu estava escuro, carregado e o vento marcando uma poderosa presença.

— Vocês trouxeram isso? – Archie questionou apontando o céu.

— Nós não! Mas, talvez a Adrienne saiba o que está acontecendo. – Corremos para a lanchonete, parando ao lado de Adrienne.

— Você está inteiro! – Adrienne começou a examinar nosso irmão antes de abraça-lo. Em seguida dando um tapa na sua cabeça. – Nunca mais faça isso com a gente! Em casa nós...

— Vamos conversar. Alex já me disse isso. – Reclamou ele de novo.

— E então. Por que o desespero? – Perguntei pra ela que apontou para dentro do Hotel.

— Uma mulher morena, bem alta acabou de entrar, pouco antes dela aparecer o tempo mudou dessa forma drástica. – Explicou nossa irmã procurando a tal mulher com os olhos.

— Vai com o Archie, pede um Uber na rua lateral, eu vigio aqui! – Respondi sem tirar os olhos do hotel enquanto eles saíam.

Não seria difícil identificar uma vampira e no momento, ela não poderia me atacar, não sem expor completamente o próprio disfarce naquele local.
Demorou alguns minutos, ou talvez, fosse a minha ansiedade. Entretanto, ela apareceu, parada diante do vidro e sem demora olhando pra mim, ambos sabendo que não seria hoje, mas, em breve. Aproveitei o momento pra memorizar suas feições e deixar um recado na mesa que estava, eu sabia que ela viria para cá depois que deixasse o local.

— Alex! – Archie me chamou do lado de fora, antes de acompanha-lo eu olhei mais uma vez pra ela. A fúria estava presente nos seus olhos verdes em cada segundo que passamos nos encarando e ao invés de mudar ou ceder, apenas parecia que as chamas aumentavam.

— Até a próxima. – Declarei antes de segui-lo. Se eles iriam ameaçar a minha família e vir atrás de mim... Esses vampiros não sabem a guerra que começaram!

...

[Belle – Londres]

 

Certo, a chuva havia sido uma desagradável surpresa, contudo, minha alegria inicial já tinha sumido graças a Alexander. Então eu resolvi testar um pouco dos poderes que agora me seriam mais acessíveis. Para o mundo, eu parecia estar tomando aquela chuva e sendo uma vitima do vento que varria a cidade, na verdade, nem a água e nem o vento me tocavam, como uma película protetora finíssima.

— Ontem eu nem teria sonhado em usar magia para algo tão frívolo... – Falei para mim mesma assim que cheguei ao meu destino, não tinha uma pessoa por ali. – Com licença? Me dirigi ao segurança.

— Estamos fechados, sem previsão de abertura mocinha. – Respondeu ele.

— Passa um rádio pro chefão. Ele vai me receber! – Pedi com meu melhor sorriso. – Fale que é uma feiticeira querida.

Não foi difícil pra ele abrir a porta e me deixar entrar, tudo estava escuro, escuro de mais pra uma balada, literalmente com entrada e presença zero de luzes. Visão noturna era outra habilidade que nunca imaginei que seria útil... Pelo menos até agora, havia um mundo todo de novas possibilidades magicas para mim agora e eu estava pronta para experimentar.

— Não achei que voltaria tão cedo. – Comentou quando entrei. – E com tanta presença de magia em si...

— Bom, eu tenho um relógio novo e muitas possibilidades. – Respondi indo até o balcão do bar. – Não achei que estaria aqui.

— Estou me preparando mentalmente ainda. – Respondeu e apontou o bar. – Ali em cima!

— Argiano Brunello di Montalcino 2018 – Li o nome no rotulo.

— O melhor de 2023 – Completou ele.

 

— Está sozinho? - Questionei abrindo a garrafa.

 

— Agora não estou mais! - Respondeu fazendo duas taças flutuarem até a pequena mesa a sua frente.

— Esse tempo... Foi você não foi?! – Conclui me sentando com ele e servindo-as.

— Foi necessário caminhar durante o horário do sol e bom, eu não estava muito contente. – Ele deu de ombros. – E o mundo precisa sofrer um pouco. – Finalizou. – A que vamos brindar?

— Podemos só beber? – Perguntei tirando meus saltos, me encostando de lado na poltrona para poder olhar pra ele enquanto conversávamos.

— Eu posso viver com isso. – Ele tomou o primeiro gole e imitou minha pose. – E então... O que te trouxe de volta?


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