R U Mine escrita por LelahBallu


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

LEIAM OS AVISOS!!

E eis que estou de volta!!!
Alguém aí ainda querendo ler minhas fics? Alguém? Qualquer um? Não?Sim? :)

Brincadeiras a parte, é bom estar de volta, seja quem for que estiver aí do outro lado lendo essas notas, obrigada por continuar me acompanhando mesmo após meus períodos de sumiço, e se você é um novo leitor, seja bem vindo. Tem sido um ano difícil, para todos nós, e eu poderia passar um bom tempo aqui explicando em especificamente como tem sido para mim (emocionalmente), e me desculpando pelo meu atraso, mas sei que não é para isso que vocês estão aqui.

Então, eu tenho alguns avisos importante:

1- Essa one passa no mesmo "ambiente" que "Fire Breather", uma fanfic de minha autoria que caso você tenha lido e esquecido, ou ainda não chegou a ler, basta ir no meu perfil que você vai encontrar lá, é curtinha e não vai tomar muito tempo, eu acho.
2 - Embora seja uma sequência, não é preciso ler uma para compreender a outra, então fica ao seu critério.
3 - One dedicada a Izabel Seliger, uma amiga e leitora a quem eu devia esse presente há muito tempo. Já entreguei a ela dias antes de vir aqui deixar vocês lerem, mas é sempre bom lembrar: Aqui está meu presente mais uma vez Iz, agora revisada, foi feita com carinho e deixo aqui meu "Xoxo" especial para você.
4 - One com "SnowMerlyn" como casal principal, teremos Olicity? Sim. Teremos nossa diva Helena Bertinelli? Sim. Mas Tommy e Caitlin são o casal da one, então, estão avisados. Eu particularmente amo a dinâmica que construí entre os dois desde que escrevi anos atrás Fuckin' Perfect, não é uma novidade, mas é bom lembrar que não é a primeira vez, nem será a última que vou aborda-los como casal..
4 - Ainda essa semana estou voltando com o último capítulo de "A Mesma Face".

Desejo a todos uma ótima leitura e espero que gostem!!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/800978/chapter/1

Keep imagining meeting, wished away entire lifetimes
Unfair we're not somewhere misbehaving for days
Great escape, lost track of time and space
She's a silver lining, climbing on my desire.

 

CAITLIN SNOW

Ergui meu celular no alto fingindo tirar uma selfie, e Helena colou seu rosto ao meu, nossos olhos fixando na figura no canto esquerdo que sem dúvida alguma estava com os olhos fixos em nós duas.

— Ele veio de novo. – Helena murmurou, o sorriso em sua voz. Tirei a foto, apesar de ter sido apenas uma desculpa e abaixei o celular. Ela me lançou um olhar divertido. – Duas semanas. – Apontou erguendo os dedos. Ergui minha bebida aos meus lábios pensando em como eu iria fugir da insinuação que ela certamente faria em breve.

Ela não estava errada. Era a segunda semana seguida que ele vinha para o bar, tal como as outras vezes assumiu o costumeiro lugar e sentou virado para nós duas. Ajudaria a ignora-lo se eu não soubesse quem era ele, mas havíamos sidos apresentados na primeira vez que ele veio até o bar.

Tommy Merlyn.

Ele era o melhor amigo do namorado da minha melhor amiga, Felicity smoak. Ele é moreno, alto e bonito. Tem um charme que chega a ser insultante e é pecaminosamente sexy. Ele também era o segundo na liderança de um clube de motoqueiros, o que significava que ele era assim como Oliver Queen, muito perigoso.

Tommy Merlyn era problema.

— Talvez ele esteja aqui para proteger Felicity. – Argumentei.  Ela meneou a cabeça em uma rápida negativa, seu sorriso se ampliando notando que eu estava procurando uma saída irracional.

— Ele está fazendo um trabalho de merda então. – Olhou por cima do ombro em direção a que eu sabia estava Felicity. Na última vez que eu havia a visto, ela estava confortavelmente sentada entre as pernas de Oliver. – E eu não acho que precise quando o chefão não consegue afastar suas mãos de sua namorada. Tommy Merlyn obviamente está interessado em você.

— Pode ser você. – Retruquei. – Sempre estamos juntas. – A esperança em meu tom quase era palpável.  – Ou ele apenas está por aqui pela bebida.

— Sim, mas não foi a mim que ele comeu com os olhos quando fomos apresentados.  – Lembrou-me. – Nem fui eu, quem ele chamou de docinho com aquela voz de “Eu quero sexo, e quero com você”. Eu realmente espero que ele não esteja aqui pela bebida. São duas semanas seguidas Caitlin, o homem seria um alcoólatra. É por você. – Frisou.

— Eu tenho um namorado. – Puxei o cartão comprometida, sabendo que quanto a isso ela não teria argumento. Para ter certeza quanto a isso, fiz questão de acrescentar.  – E eu o amo.

— Quanto tempo faz que você não vê Barry? – Inclinou sua cabeça me analisando.  – Três ou quatro meses?

— Seis. – A corrigi automaticamente. É claro que me arrependi de imediato, tão logo suas sobrancelhas se ergueram e um sorriso perspicaz assumiu seu rosto.  – Nos falamos todos os dias, eu não acredito que tempo e distância sejam argumentos para se perdoar uma traição. Tudo vai se acertar quando o semestre acabar.

— Tecnicamente, o semestre ainda não começou. – Cortou-me. – Ele poderia ter vindo te encontrar, ambos estão de férias, mas inventou desculpas, entrou e saiu semestre, Caitlin, e seu namorado não a visitou.

— Ele está economizando. Vai precisar dar entrada em apartamento quando voltar, e se estabelecer exigirá mais dinheiro, ele não pode estar gastando dinheiro com coisas secundárias. – Repeti as exatas palavras que Barry havia me dito quando me informou que mais uma vez sua visita seria adiada. Mesmo eu não pude deixar de notar o tom amargurado com as quais eu disse. Helena percebeu é claro.

— Você é a namorada dele, ele que correu atrás de você, inferno. – Bateu no balcão quase derramando nossas bebidas. – Ele não pode classifica-la no mesmo grupo de “coisas secundárias”.

— Estamos fugindo do ponto. – Falei embora nem mesmo lembrasse qual era o ponto, Helena, no entanto parecia feliz em retornar.

— Isso. – Assentiu. - E o ponto é: Aquele motoqueiro te quer, e como eu não posso sentar naquela garupa, é seu dever sentar nele. – A encarei incrédula. Não pelas palavras, mas pelas imagens invocadas por elas.  – Não me olhe assim, você já meu viu falar coisas piores.

— O que você falou para ela? – Nós duas no viramos nossos rostos para encarar Felicity que havia abraçado nossos ombros.

— Eu estou tentando fazer com que ela transe. – Helena falou sem escrúpulos.

— Barry está na cidade? – Felicity franziu o cenho. – Eu não sabia.

— Barry não é o único homem com pênis. – Helena argumentou antes que eu pudesse abrir a boca. – E certamente não com o melhor. – Acrescentou. A encarei perplexa, não sabendo como responder. Tudo que vinha na minha mente era infantil demais.

— Desde quando você viu o pênis do meu namorado? – Perguntei por fim. 

— Desde quando você viu outros além do dele? – Retrucou.

— Por que estamos falando sujo hoje? – Felicity perguntou sentando-se entre nós duas, suas costas contra o balcão, sem dúvidas para evitar ter que ficar virando o rosto sempre que quisesse encarar seu namorado. Sua escolha de assento foi um alívio, possivelmente eu acabasse matando Helena.

— Porque como você já pegou aquele espécime para si... – Helena se virou sem qualquer descrição e acenou para Oliver, sabendo assim como eu, que onde Felicity estivesse, os olhos de Oliver Queen estariam a acompanhando. – Eu não posso fazer coisas sujas com ele, e o outro espécime ali... – Acenou para Tommy que ao invés de aparentar surpresa acenou de volta e piscou para ela, ele não podia escutar nossa conversa, mas certamente sabia ser o tema central dela.  – Só quer entrar na calcinha da vovó aqui. – Apontou para mim.

— Ela está exagerando. – Falei ansiosa para mudar de assunto. – E eu não uso calcinhas da vovó.

— Ela está certa. – Felicity falou me chocando. – Tommy definitivamente quer transar com você.

— Felicity...

— Ele mesmo me disse. – Interrompeu-me.  – Na verdade, ele não para de me encher o saco falando sobre isso, eu preciso dizer, estar rodeada de motoqueiros pode ser um pouco intenso demais. Minhas orelhas sangram com as coisas que Tommy quer fazer com você. – Virei meu rosto rapidamente para ela, como se querendo checar que ela realmente havia dito isso.  – E não se trata apenas de sexo, eles são possessivos demais, arrogantes demais...

— Sexy demais. – Helena se intrometeu.

— Definitivamente. – Felicity concordou lançando um olhar para Oliver e então voltou a me encarar. – Se você não está preparada, pode ser muito. Eu não estava, por isso fugi após passar uma noite com Oliver.

— Eu conheço essa história. – Falei. Helena havia me contado detalhadamente. Felicity nunca tinha me falado de Oliver, não até depois que eu vi os dois em meio a um abraço apaixonado no estacionamento da nossa faculdade, esse foi o mesmo dia em que vi Tommy pela primeira vez, a intimidade com que me encarou naquele dia me desconcertou, era como se tivesse chegado a uma resolução que eu desconhecia. Mesmo me falando sobre Oliver, coube a Helena preencher as lacunas com todos os detalhes, elas eram amigas há mais tempo, e Helena meio que havia conhecido Oliver também. – Vocês se conheceram em uma festa da irmã dele, Helena e Roy te abandonaram, o que eu preciso dizer fazem dos dois os piores amigos do mundo, e você foi seduzida por ninguém menos que o presidente do clube.

— Sortudas. – Helena meneou a cabeça enquanto levava sua cerveja a boca e tomava um gole. – Eu só arranjo os mesmos caras entediantes, e vocês literalmente só precisam aparecer em frente a dois homens super sexys, e pronto, foda do milênio garantida.

— Eu não...

— Você vai. – Interrompeu-me. – Em algum momento ele vai desistir de apenas te encarar, e quando isso acontecer... – Ela fingiu se abanar. Felicity e eu trocamos olhares divertidos.

— Você está obcecada com minha vida sexual. – Suspirei olhando meu relógio, imaginando se a essa hora eu ainda poderia pegar Barry acordado para uma ligação.

— Não, eu estou obcecada com a ausência dela. – Negou.

— Não a leve a sério. – Felicity murmurou empurrando meu ombro com o seu. – Ela está apenas te provocando. Eu sou uma fonte segura: Ela está na seca também.

— Como vai a procura por emprego, Smoak? – Helena murmurou como se desejasse mudar de assunto, fato que Felicity percebeu de imediato.

— Embora eu saiba o que está fazendo, vou responder. – Felicity sorriu. – Começo segunda na redação do novo jornal. Vou ganhar uma merda de salário e reclamar que mal posso pagar meu aluguel com ele, possivelmente vou expressar minha vontade de me demitir umas dez vezes por semana, mas estranhamente, estou entusiasmada.

— Diga-me, cobrindo e escrevendo sobre crimes... Quantos deles você terá que fingir não conhecer os autores? – Helena a provocou. Felicity a encarou sem humor.

— Não é assim Helena. – Falou simplesmente.

— Relaxe, a certa honra nos seus garotos. – Sorriu tentando amenizar o comentário. – E você sabe que eu, assim como você, nunca vi as coisas apenas no preto e branco.  E eu jamais falaria nada contra Oliver. Não há sério, mais vale um gângster do meu lado do que contra. – Completou levando sua bebida aos lábios, Felicity revirou os olhos com seu último comentário.

— Talvez ela devesse focar nas fofocas. – Tentei mudar de assunto e apaziguar os ânimos. – Começando com o deserto árido entre suas cox...

Helena cuspiu sua bebida interrompendo minha frase. Ela e Felicity me encaram atônitas, a reação cômica quase me fazendo rir. Eu sabia que era por que eu não sou conhecida por falar coisas do tipo. Tudo bem, talvez eu estivesse devolvendo as provocações de Helena, ela que começou aquilo tudo, de qualquer jeito.

— O quê?

— Isso não vai durar muito. – Helena falou dando de ombros ignorando minha frase. – Eu já tenho um alvo. – Felicity a encarou surpresa. Com a cabeça Helena indicou o outro moreno sentado em uma mesa mais distante. – Ali está meu alvo.

— Ray Palmer? – Perguntei atônita. – Ele é seu professor! – Helena sorriu com desdém, não se importando. Cheguei questionar minha própria frase, afinal era Helena. Ultrapassar regras nunca a impediu de nada, na verdade sempre a instigou.

— Eu gosto de ser uma garota má. – Sorriu confirmando meu pensamento. Olhei para Sr. Palmer o observando ainda vestindo com seu colete e gravata, eu não poderia imaginar um par mais inadequado.

Na verdade, eu podia.

Tommy Merlyn não poderia ser mais inadequado para mim.

Notei que Felicity ainda olhava na direção de Ray. Seu cenho franzido, como se considerasse dizer algo, ou talvez pensasse como eu sobre o absurdo de tudo aquilo e, talvez estivesse até mesmo imaginando a reação do pobre homem a uma aproximação de Helena. O quão estranha seria.

Possivelmente chegando a mesma pergunta que eu.

O que Ray Palmer estava fazendo aqui afinal?

— Ele é tão... – Comecei.

— Chato. – Felicity completou me surpreendendo. Ela era mais parecida comigo do que com Helena, mas ainda assim sempre ficou um pouco no meio termo. Como Helena já havia dito, nada era apenas preto e branco para Felicity, o que talvez justificasse sua tranquilidade e facilidade em estar com Oliver. Ela poderia estranhar a escolha de Helena, mas por conhecê-la por mais tempo e muito melhor do que eu, não pensei que tentaria direciona-la na direção contrária. – Talvez você deva mudar de alvo, Helena.

— Ele é gostoso, e é isso que importa. – Helena interveio. – E trata-se de ying yang aqui, vocês são certinhas demais, vocês precisavam do tipo bad boy.  – Explicou. – Sr. Palmer precisa de mim.

— Eu não... – Apressei-me a corrigi-la.

— Você vai. – Repetiu incisiva. Felicity riu ao observar meu desgosto ao ser cortada mais uma vez.

— Certo, e como você vai conseguir ter a atenção dele? – Perguntei dando-me por vencida. – Ray Palmer é conhecido por ter regras rígidas, todo mundo sabe que outras garotas tentaram e ele nunca cedeu.

Felicity soltou um riso irônico, uma reação involuntária que me fez encara-la com curiosidade. Uma suspeita surgindo enquanto Helena ainda encarava a mesa em que ele estava. Ela percebeu meu olhar e deu de ombros. Abri minha boca surpresa quando cheguei à conclusão: Felicity Smoak já tinha sido a garota má de Ray Palmer.

Por quanto tempo, eu não sabia.

— Isso porque nenhuma delas era eu. – Helena sorriu alheia nossa troca de olhares. Ela voltou a olhar na direção da mesa do Sr. Palmer e pegou sua bebida. – Sinto muito garotas, está na hora da garota má seduzir o Sr. Certinho. – Nos deu uma piscadela e partiu com determinação em seus olhos e marcando seus passos.

— Isso vai ser desastroso. – Murmurei a observando realmente ir em direção a mesa dele e com um leve toque em seu ombro cumprimenta-lo com um sorriso.  Ray Palmer parecia um cervo parado diante as luzes de um carro.

— Ele não está preparado para lidar com Helena Bertinelli. – Felicity concordou.  Acenei com um sorriso, Felicity se virou me observou por alguns segundos, pela sua expressão eu sabia, ela estava apenas esperando o momento em que me pegaria sozinha para abordar algo que eu provavelmente não queria. – E você Caity, está preparada para lidar com um Merlyn?

Abri a boca e fechei novamente. Não entendia o porquê da pergunta e muito menos o porquê demorei em responder.

— Eu tenho um namorado. – A lembrei por fim. Por que eu parecia ser a única a lembrar disso?

— Eu sei. – Assentiu. – Mas pelo o que você vem me contando, vocês não estão tão bem. – Observou. Talvez eu tenha exagerado para Helena ao afirmar que conversava com Barry todos os dias, nossas ligações se tornaram cada vez mais curtas, sem emoção.

— Mas não ao ponto de considerar traição.  – Falei firme.

— Eu sei, você não é assim. – Concordou. – Mas... – Ela olhou para trás, eu sabia sem precisar olhar também, que dessa vez não era Oliver que ela estava encarando, mas Tommy.  – Ele não vai tornar isso fácil.

— Ele é o tipo de idiota que não aceita não? – Indaguei surpresa.

— Ele é o tipo de idiota que faz com que você queira dizer sim. – Respondeu direta.

— Não comigo.  – Neguei.

— Eu realmente espero que você esteja certa, odiaria te ver fugindo. – Falou se erguendo.  – Eu fugi, e bem, não fez grande diferença. Agora, está na hora de eu voltar para o meu tipo de idiota.  – Brincou. Felicity era louca por Oliver, e pelo pouco que eu tinha convivido com ele. Ele estava longe de ser considerado um idiota. Ele era igualmente louco por ela.

— Vá em frente, eu vou esperar mais alguns minutos antes de começar meu turno. – Avisei. Ela assentiu concordando. Mas antes de se afastar ela me dirigiu um olhar.

— Sobre Ray...

— Não é da minha conta.

— Durou pouco, talvez mais do que eu estava acostumada, mas foi sem importância, tanto que Helena não sabe. – Ela falou. – E vendo o interesse dela nele, não vejo porque trazer isso à tona agora.

— Oliver sabe? – Em nenhum momento percebi Oliver dirigir o olhar para a mesa de Ray, nem mesmo com curiosidade, mas até então eu não estive particularmente interessada em observar nenhum dos dois. Agora, eu estava curiosa sobre a reação dele.

— Imagino que sim. – Deu de ombros não parecendo se importar. Isso me fez me questionar, Oliver tinha uma fama, todos os temiam, mas Felicity parecia não levar isso a sério. – Ele confessou que matinha Tommy me observando, algo como meu anjo protetor. Fiquei puta quando soube, é claro, e isso resultou em algumas noites solitárias, para ele, mas aqui estou. – Sorriu.

— Não sei se conseguiria.  – Confessei. – Ter isso que vocês dois tem.

— Ninguém vai ter o que nós dois temos. – Informou-me séria. – É único a sua maneira, assim como será o seu com quem quer que você decida ficar no final.

— Desculpe? – Já era muito lidar com as insinuações de Helena, eu não precisava de Felicity embarcando naquele barco.

— Hora de voltar para meu motoqueiro. – Desconversou, com uma última piscada se afastou. E então sumiu me deixando com meus próprios pensamentos.

Olhei para minha bebida quase intocada, sem álcool para não irritar meu chefe ao beber antes de começar a trabalhar, não que ele estivesse por perto, segurei um suspiro. O som alto da música retumbava em minha mente, era a favorita de Helena. Isso me fez suspeitar que ela havia pedido por isso, olhei para trás apenas para perceber que de alguma forma ela havia conseguido encurralar seu professor e jogava um braço por sobre seu ombro, e embora Ray parecesse incomodado com o gesto, ele não conseguia desviar os olhos de seus lábios. Sorri diante a atmosfera, mas não me sentindo verdadeiramente alegre. Meus pensamentos voltaram para Barry, questionando-me o que ele estava fazendo agora, se ele estava sentindo minha falta. Percebi que vinha fazendo isso constantemente, perguntando-me constantemente sobre Barry, mas nunca perguntando a ele. Na tentativa de evitar conflitos acabava guardando as coisas para mim.

Coloquei meu celular sobre o balcão e o girei em um pequeno jogo, incerta se eu o desbloqueava e mandava uma mensagem ou não.

— Se tem tanta dúvida não o faça. – Girei meu corpo, surpreendida ao escutar a voz masculina sussurrar em meu ouvido. Meus olhos deslizaram pelo rosto de Tommy Merlyn, que se afastou quase de imediato para uma distância mais segura.

— Eu não entendi. – Confessei.

— Você parece estar em um dilema. – Respondeu. – Eu não sei no que você está pensando, mas se é algo que a faz relutar tanto, seria melhor esperar até ter a mente mais clareada, antes de tomar qualquer decisão. 

Sua frase soava como se eu tivesse que decidir sobre algo extremamente urgente, quando na verdade se tratava apenas sobre uma mera mensagem. Dei de ombros, não sabendo como reagir a Tommy Merlyn. Ele me lançou um olhar duvidoso e então apontou para o banco ao meu lado.

— Posso? – Perguntou parecendo segurar um sorriso. Não vendo uma razão sólida para dizer não, assenti. - Tommy Merlyn. – Falou erguendo sua mão em um cumprimento, agindo no automático estendi minha mão para encontrar a sua, tentei ignorar ao máximo o contato que sua pele na minha, e a reação a este pequeno gesto.

— Já fomos apresentados. – O lembrei.

— Oh. – Deixou aquele sorriso que parecia ter sido impossível de conter deslizar por seus lábios.  Algo a mais para me preocupar, aquele sorriso. – Então você se lembra, por um momento pensei que tinha sido o único a viver aquela situação. – Não pude evitar sorrir sem graça.

— Eu...

— Percebeu meu óbvio interesse e se assustou? – Perguntou direto.

—... Tenho um namorado. – Não era isso que eu ia dizer, mas não esperava que ele fosse falar tão abertamente sobre aquele “Óbvio interesse”.  Ele fez um gesto de descaso com a mão, e não disse mais nada. O encarei incrédula. Barry havia sido totalmente desprezado. – Eu realmente tenho um namorado. – Repeti achando que ele não havia acreditado.

— É, eu soube. – Assentiu parecendo entediado. – Onde ele está?

— E isso importa?

— Deveria, para você. – Respondeu direto. Oh Deus. Idiota.

— Você não sabe nada sobre meu relacionamento. – Reagi na defensiva.

— E eu não quero saber. – Inclinou sua cabeça me analisando. – Estou mais interessado em saber sobre você.

— Você não está interessado em mim. – Respondi por fim. – Está interessado em me levar para cama.

— Podemos começar por isso. – Assentiu. – Sempre acreditei que a natureza dos corpos não nos deixa mentir para nós mesmos.

— Você é um babaca. – Murmurei perplexa.

— Já ouvi isso antes. – Assentiu. – Seu namorado já escutou isso?

— O quê? – Perguntei confusa com a direção de sua pergunta.

— Só um babaca deixaria que sua garota ficasse preocupada dessa forma. – Ele apontou para minha testa. – Suas sobrancelhas estavam tão unidas que quase desisti de me aproximar, confundi com uma “monocelha”. Não é um visual muito atraente. – Brincou.

— Por favor, desista. – Praticamente implorei. – Não vai acontecer.

— Acho difícil de acreditar. – Poderia alguém ser mais arrogante? Eu duvidava.

— Pelo charme irresistível que demostrou até agora? – Desdenhei.

— Porque consegui te fazer sorrir. – Murmurou fazendo com que o sorriso que até então eu não havia percebido, morrer.  – Ouch, eu deveria ter ficado calado.

— Você deveria. – Concordei.

— Já me disseram antes que minha boca foi feita para muitas maravilhas, nenhuma delas envolviam falar.  – Piscou.

— Inacreditável.

— Já escutei esse elogio. – Seu sorriso ampliou. O encarei incrédula.

— Caity! – Virei meu rosto para encarar Roy. – Está na hora.

—Obrigada, Deus. – Deixei escapar.

— Já escutei muito isso também. – Não sei o que me tomou, mas foi impossível não o fazer, empurrei seu ombro e escutei sua risada, nunca tinha ficado particularmente encantada com uma risada.

Até agora.

— Caity. – Pisquei diante o chamado de Roy, percebendo que havia continuado fitando Tommy, e que sua risada havia morrido, seus olhos tão fixos nos meus quanto os meus estavam nos dele.

— Estou indo. – Respondi quebrando o estranho efeito que esse homem havia provocado em mim. Ele ergueu sua mão, se despedindo com um pequeno adeus, o que foi estranhamente fofo. Esse homem. Pelo o que escutei, era o segundo no comando de uma gangue. Ele supostamente deveria ser perigoso, certo? Meneei minha cabeça, precisando afasta-lo de meus pensamentos. Percebendo que querendo ou não, foi exatamente isso que ele fez com Barry.

Contornei o balcão ficando ao lado de Roy que me olhou de soslaio. Esperei até que Tommy se erguesse e fosse até seus companheiros para encara-lo.

— O quê? - Murmurei cansada não só do seu silêncio, mas também do seu olhar, havia julgamento nele. E eu não gostava disso.

— Você estava flertando? – Sua pergunta me incomodou, porque fez com que eu mesma me questionasse quanto a isto.

— Eu não flerto. – Neguei.

— Você estava sorrindo. – Insistiu.

— Eu sorrio. – Murmurei indignada. - O tempo todo.

— Não. Não sorri. – Retrucou.

— Não importa, só porque uma mulher está sorrindo, não significa que ela esteja flertando. – Murmurei indignada com o que disse. – E apesar do que parece todo mundo esquecer...

— Você tem um namorado. – Interrompeu-me. – Você vem falando tanto isso, que parece estar repetindo para não se esquecer.

Talvez eu estivesse.

Mas não era da conta de Roy. Eu mal conhecia Roy, ele passou a trabalhar no bar nas duas últimas semanas, e não era nenhuma coincidência. Ele estava aos poucos voltando ter contato com as meninas, não era nada difícil já que foram grandes amigos, mas ele não me conhece, não somos amigos. Apenas colegas por assim dizer.

— Onde está sua namorada? – Perguntei tentando fazer com que ele se tocasse e percebesse que havia uma linha na qual nenhum de nós dois deveríamos ultrapassar.

— Continua sendo ex. – Deu de ombros não se importando em responder. – Eu não sei, talvez dessa vez a coisa toda foi para valer. – Apesar do tom casual, percebi que ele se importava com isso mais do que queria demonstrar. Não queria ter pena de Roy, não conhecia todos os nuances do seu relacionamento com Thea Queen, apenas o que foi dito por Felicity e Helena, mas ele parecia se importar de fato com a princesinha da gangue dos motoqueiros.

Tomei meu tempo para servir algumas bebidas e voltei a ficar ao seu lado enquanto preparava uma rodada de tequilas.

— O que aconteceu? – Murmurei cedendo a curiosidade. Ele me encarou com suspeita, eu não era muito discreta em afasta-lo da minha vida pessoal, mais precisamente romântica, que eu estivesse interessada na dele levantava perguntas. – Sério, o que aconteceu? – Ele tirou a garrafa da minha mão e pediu um minuto, assenti concordando, o observando servir as bebidas. Em teoria seu turno já havia acabado, mas talvez ele não se sentisse tão à vontade assim falando sobre a própria vida e precisasse ficar em movimento, concentrei-me em atender mais pedidos antes de finalmente parar novamente. Para minha surpresa Roy não contornou o balcão de volta, esticou-se para pegar uma garrafa, e sentou-se em uma banqueta.

Ao que parecia ele estava pronto para se servir de um pouco de veneno e abrir seu coração.

Esse, senhora e senhores, era o poder que irradiava de um bar.

— Ok, conte-me. – Murmurei apoiando meus cotovelos no balcão. Eu não estava sozinha no bar, mas não queria deixar apenas uma pessoa cuidando por muito tempo, principalmente quando essa pessoa em especial tendia a errar quase todos os pedidos. – Antes que volte a encher de pedidos.

— Na verdade aconteceu o de sempre. – Deu de ombros. – Tenho certeza que Felicity e Helena falaram um pouco como funciona tudo lá no clube, e como Thea sempre foi ansiosa por se separar dessa parte específica da vida.

— Por alto. – Concordei.

— Não entenda errado, ela ama seus irmãos, e o todo mundo ali de uma forma ou de outra faz parte da sua família, mas ela odeia a forma que o simples fato de estar relacionada a eles fecham inúmeras portas para ela. Sempre a olharam torto, nunca foram agressivos com ela, mas sempre a odiaram, principalmente porque a temiam.

— Temiam? – Só encontrei Thea uma vez tirando a primeira vez que vi o trio inquietante formado por Tommy, Oliver e Thea no estacionamento da faculdade. Mas para ser sincera naquele dia eu mal a registrei. Quando a vi novamente ela estava sorrindo, tinha um humor ácido e estava claro que tinha Tommy e Oliver na palma das suas mãos. Thea possuía uma alegria tão contagiante, juvenil. Não há como ter medo de uma pessoa assim.

— O que você acha que esses caras fariam diante uma queixa de Thea? Por menor que fosse? – Roy perguntou. – O inferno cairia em cima daquele que a machucasse ou a magoasse, não tenha dúvidas. Acho que só estou inteiro porque ninguém nunca duvidou, por um minuto sequer, que eu realmente amo aquela garota.

— Então por que tantos términos? – Perguntei confusa.

— Escute. Amar não impede que estejamos sempre discutindo. – Respondeu sorrindo. – Na verdade a menor decisão se torna uma verdadeira guerra entre nós dois. E no que poderia ser ironia do destino a pior de todas é que da mesma forma que Thea deseja loucamente se afastar do clube, eu quero entrar de cabeça em cada aspecto que o envolve.

— Por quê? – Perguntei seriamente curiosa sobre isso. O que fazia uma pessoa ignorar completamente a extensa lista de crimes cometidos pela gangue de Oliver. Eu podia entender Felicity, ela estava apaixonada, mas parte de mim, a que nunca diria isso a Felicity, se perguntava por quanto tempo isso iria durar. Roy amava Thea, Thea queria se afastar daquilo, ele não precisaria se envolver, a não ser que realmente quisesse isso. E era isso que confundia, ele não tem motivos para se envolver. Tem?

— Eu não quero que você fique zangada com o que vou dizer... – Alertou-me. – Mas você jamais entenderia.

— Estou sentindo um pouco de dificuldade em não me sentir ofendida. – Confessei levando uma mão na cintura. – Eu não sou idiota, e consigo praticar um pouco de empatia, se me derem a chance. – Debochei.

— Caitlin, eu não conheço sua vida a fundo. Felicity não é de ficar comentando sobre a vida dos outros. Presumo que sei de você o tanto quanto sabe de mim, coisas que ela falou ligeiramente. – Falou. – E sei que não é certo me apoiar em dedução, mas aqui está o que eu sei: Seus pais estão vivos, você teve uma casa. Conforto. Saiu apenas para estudar fora, tudo em sua vida é previsível, até mesmo seu namorado. Não há morte, não há violência, você não precisou se preocupar com o que diabos ia fazer depois de sair do colégio, porque seu futuro na faculdade estava garantido, você vai ser uma médica, por Deus.

— Você está sendo muito superficial. – E cruel. Acrescentei embora apenas para mim.

— Eu sei que não a conheço muito bem. – Garantiu. – Sei que deve ter tido suas dores, e jamais serei idiota ao ponto de ficar comparando quem sofreu mais.

— Pois me parece que está fazendo exatamente isso. – Respondi.

— Estou tentando fazer com que entenda. – Explicou. – Eu nunca pertenci a um lugar, nunca tive uma família, nunca fui aceito por outra pessoa exceto por Helena e Felicity, e mesmo nós não tínhamos uma visão muito boa de como seria nosso futuro. Exceto Felicity, ela sempre disse que queria fugir dessa cidade o quanto antes, ela poderia entrar em uma grande universidade, mas teve que se contentar com a daqui, por causa de dinheiro, perdeu tanto tempo batalhando por grana, que perdeu até os prazos das universidades de fora. Honestamente? Eu não tenho ideia de como Helena conseguiu entrar em uma tendo faltado mais aulas do que compareceu no último ano... E eu? Eu sempre estou à deriva, mas pela primeira vez eu sinto que me encaixo em um lugar.

— Você tem Thea, ela não o aceita? – Perguntei ainda tendo dificuldade em compreender.

— Claro que sim. – Respondeu em tom firme. – Eu acho que Thea ainda não se aceitou. – Confessou.

— Entendo. – Parecia mais confuso, mas de fato consegui entender ao menos um pouco a perspectiva de Roy. Lembrei do que ele falou alguns minutos atrás. – Você disse irmãos.

— O quê? – Murmurou confuso.

— Disse que Thea ama seus irmãos. – Expliquei. – Eu pensei que havia só Oliver.

— Oh.  – Murmurou. – Não posso adentrar muito, porque essa é história deles, mas talvez seria bom lhe dar essa dica, afinal você estava flertando com ele mais cedo. Tommy Merlyn, ele é meio irmão de Thea, assim como Oliver.

— Eu não estava flertando com ele. – Voltei a protestar.

— Pode ser. – Sorriu. – Mas ele definitivamente estava com você. Cuidado, se eu fosse você conversava um pouco com Felicity, ela pode ter algo a te dizer sobre como é pertencer a um dos motoqueiros do clube.

— Como é? – Roy riu diante minha perplexidade.

— Ela segue odiando essa palavra, embora ame a prática em si. – Brincou. – Tenho que ir. Boa sorte com seu motoqueiro.

— Ele não...

— Um conselho. – Falou se levantando. – Passe mais tempo tentando convencer a ele e a você sobre isso, do que aos outros, talvez assim você tenha alguma chance.

— Roy...

— Eu conheço Tommy. – Falou. – Ele é um cara legal. Divertido. – Não chegava a ser uma novidade, o pouco que tive de Tommy pode me mostrar isso. Ele também tinha aquele maldito charme barato que faz uma garota odiar suas frases clichês, os galanteios comuns e ainda assim desejar ser o objeto de seu desejo. Mas o erro estava aí, eu não seria o objeto de ninguém. - Ele e Oliver são muito diferentes entre si, em vários aspectos, exceto um.

— E qual seria?

— Nenhum dos dois são conhecidos por desistirem fácil. – Respondeu.

Eu não entendia.

Por que todo mundo falava comigo como se Tommy Merlyn já exercesse um papel em minha vida?  Ele era um desconhecido, só nos falamos duas vezes e muito brevemente, a primeira mais do que a segunda. Então eu não conseguia compreender o porquê de todos aqueles avisos, nem gostava nem um pouco.

O comentário de Roy serviu apenas para me deixar aborrecida. Com Tommy Merlyn, com Barry e até mesmo com o próprio Roy. Não tornei a ver o braço direito de Oliver durante aquela noite, ele deveria ter saído em algum momento em que eu estivera distraída, porque apesar de tudo, e de evitar o máximo, estive ciente de sua presença. Felicity foi a primeira a ir embora, ela se despediu rapidamente carregando consigo Helena. Fiquei surpresa, pois pensei que Felicity iria acompanhada por seu namorado.

Não notei que Oliver havia permanecido no bar até o momento em que tive que fechar.

— Sinto muito, mas acho que essa é sua deixa. – Murmurei após olhar em volta e perceber que não tinha mais nada a fazer. Geralmente eu não fechava o bar sozinha, um dos rapazes me fazia companhia, e nem sempre era eu a responsável por fechar tudo, mas estávamos com pouca gente e Roy saiu correndo após nossa conversa. Deveria ser estranho, que eu não me sentisse com medo estando sozinha literalmente com o chefe de um grupo criminoso, mas a única razão pela qual eu não estava entrando pânico, era por Felicity. Eu tinha que dar algum crédito as suas escolhas. Apesar de Oliver ser simpático à sua maneira, ele também era muito calado, sério. Sua atenção nunca se desviava da de Felicity por mais do que alguns segundos. Todas as palavras que trocamos foram breves, ele era intimidante, mas ao mesmo tempo conseguia parecer um urso carinhoso quando se tratava de Felicity. – Talvez queira levar isso para viagem. – Apontei para a garrafa em sua frente.

Leve a garrafa, leve tudo. Apenas vá embora, por favor.

Talvez eu não estivesse tão tranquila assim.

Ele parecia confortável sentado sobre a cadeira que estava encostada a parede. Suas pernas estendidas, tornozelos cruzados apontados em minha direção, seus braços também estava cruzados diante seu peito. Oliver parecia relaxado demais.

Homem nenhum ficava relaxado assim.

Parecia uma postura cuidadosamente criada para enganar.

— Sem problemas. – Falou balançando a garrafa. – Está vazia.

— Então... – Murmurei. - Eu tenho que ir. – Falei por fim. Vá embora.

— Ótimo. – Assentiu antes de se levantar rapidamente e se esticar. – Eu te acompanho até seu apartamento.

— Perdão?

— Está tarde. – Falou simplesmente. – Vamos. – Incentivou-me a seguir em frente com um aceno.

— Eu posso ir sozinha. – Eu queria ir sozinha.

— Você geralmente não vai sozinha. – Retrucou. – Não vamos mudar isso hoje.

Não, eu não ia, mas não gostei do seu tom.

— Eu...

— Você quer ir para casa. – Cortou-me. – E eu quero ir para casa, eu não sei o que te espera no seu apartamento, mas eu sei muito bem o que me espera no meu, acredite, eu não tenho nenhum interesse em perder meu tempo explicando a você, uma mulher crescida, o porquê é preferível não andar sozinha.

— Acredite, não seria um homem que me alertaria sobre o perigo de ser uma mulher. – Murmurei entredentes.

Ele me encarou exasperado.

— Não estou procurando uma briga Caitlin, você é uma das melhores amigas de Felicity. – Falou. – Ela se importa com você, então eu me importo com você, tudo o que estou fazendo é um favor.

— Felicity pediu para cuidar de mim? – Perguntei hesitante. Algo ecoou em minha mente. Felicity falando sobre Tommy, como seu anjo protetor, atuando em favor de Oliver. Ele soltou um suspiro.

— Não, mas você já sabe disso. – Murmurou passando por mim.

— Tommy. – Ousei murmurar seu nome.

— Fico feliz por não fingir surpresa. – Falou sem se voltar para mim. O segui movida pela curiosidade. Eu também estava muito irritada com o que disse. Ocupei-me de fechar tudo e correr até ele. – Olhe, eu teria ficado mesmo sem seu pedido. – Oliver falou quando parei ao seu lado. – Como eu disse, Felicity se importa com você.

— Por que ele está se intrometendo dessa forma em minha vida? – Questionei ignorando seu comentário. – Ele não pode fazer isso, eu tenho um namorado, eu falei isso para ele, e mesmo que não tivesse, eu não estou interessada nele.

Oliver me encarou por alguns segundos. Parecia analisar minha reação, talvez até mesmo estivesse julgando. Seus olhos se estreitaram, como se analisasse a veracidade das minhas palavras. Como se tivesse chegado a uma conclusão, ele assentiu para si mesmo e tornou a andar.

— Ei, volte aqui. – Falei, mas invés de ficar parada, tornei a segui-lo, não percebendo que esta havia sido sua intenção, e que mesmo sem eu informa-lo, ele ia em direção a minha rua. – O que acontece com sua moto?

— Depois volto para pega-la. – Falou. – Há uma regra básica, apenas aquela chamada de Smoak, pode subir na minha garupa.

— Eu não queria...

— Você terá de se contentar com a de Tommy. – Alfinetou-me.

— O inferno que vou. – Rebati.

— Guarde seus protestos para Tommy. – Falou me lançando-me um olhar de esguelha.

— Ele acata suas ordens, certo? – Perguntei. – Mande-o cuidar de sua própria vida.

— É exatamente isso que ele está fazendo. – Deu de ombros.

— Por que ele está tão interessado em mim? – Murmurei aborrecida, esquecendo-me momentaneamente com quem eu falava. – E por que mandar você para me vigiar? Pensei que você fosse o chefe dele, não o contrário. – Tive que parar já que Oliver havia parado bruscamente. O olhar que me lançou fez com que eu me arrependesse de imediato das palavras escolhidas. Ops, talvez eu tivesse irritado o namorado da minha amiga. O chefe da liga de assassinos. – Eu quero dizer, ele poderia ter mandado alguém menos importante. – Tentei amenizar.

— Eu preferia que fizesse suas perguntas para o próprio Tommy. – Reclamou. – Ele não está aqui porque eu, precisava dele em outro lugar, não vou lhe dar detalhes porque além de não ser da sua conta, você não está preparada para isso. – Seu timbre de voz gélido alertou-me, esse não era o momento de questiona-lo sobre nada. – Eu estou aqui porque eu sou o melhor amigo dele, trata-se de confiança não de uma hierarquia a ser obedecida. Quando não pude estar perto de Felicity, Tommy cuidou dela para mim. Eu estou devolvendo o favor. Você tem um namorado? Não o vejo por perto, eu não me importo com isso e você pode ter certeza, Tommy muito menos. E sim, eu sou o chefe de Tommy, mas eu não mando nele no que se refere a você. Vai ter que encontrar sua própria maneira de lidar com ele. É o suficiente para você Srtª Snow, ou preciso responder mais alguma pergunta?

Meneei a cabeça em negativa.

Era melhor eu não empurrar mais seu limite.

Não havia dúvidas que apenas uma mulher poderia lidar com Oliver Queen, e ela não estava por perto nesse momento. Talvez essa fosse a fonte do seu mau humor. De urso carinhoso Oliver muito rapidamente havia se transformado em um leão.

Parecendo aprovar minha resposta ele tornou a andar, embora parecesse mais controlado ainda pude escutar alguns resmungos e palavrões. Ele amaldiçoou Tommy, tenho certeza que escutei murmurar meu nome, e para minha surpresa havia até mesmo o de Felicity.

Acho que Oliver Queen não gostava de se intrometer na vida romântica dos seus amigos.

Quando chegamos em frente ao meu apartamento ainda exibia o semblante fechado, mas parecia ligeiramente mais calmo.

— Obrigada. – Forcei-me a dizer.

Algo semelhante a frase “De nada” saiu de sua boca.

Jurei nunca mais deixar Oliver mal humorado.

Assenti me despedindo e abri minha porta. Ele não se afastou, provavelmente só iria embora após confirmar que eu havia entrado.

— Posso fazer uma última pergunta? – Murmurei após me encher de coragem. Fui contemplada com mais um palavrão.

— Sim. – Cedeu. – Seja breve.

— Você a teria deixado ir? – Oliver franziu o cenho ao escutar minha pergunta. Provavelmente esperava algo relacionado a Tommy novamente, mas se eu podia ser honesta comigo mesma, era. – Quando veio encontra-la de novo, após o tempo que ela pediu que mantivesse afastado. Se ela tivesse dito que não queria mais ficar com você, que mudou de ideia. Você teria a deixado ir?

Seus olhos pareciam preocupados, analisando o cenário que impus, mas estranhamente, não parecia ser a primeira vez que ele fazia isso.  Não era a primeira vez que Oliver contemplava essa possibilidade.

— Por muito tempo tive medo de escutar exatamente isso. – Confessou. – E ainda tenho, ela pode mudar de ideia, é claro. E eu odiaria isso, perderia minha cabeça, talvez até mesmo cometesse alguma estupidez, mas nunca foi minha intenção prende-la. Ela é livre. Ela é Felicity, ela jamais me perdoaria se me apropriasse dessa forma de sua vida. Ela me escolheu. Tudo o que posso fazer é não dar motivos para ela voltar atrás. Cada dia que passo com Felicity é mais um dia em que ela escolhe permanecer comigo. Apesar de qualquer coisa, apesar de tudo, ela me escolhe. Eu quero ser sua escolha, para sempre.

Pisquei diante tamanha sinceridade.

Droga Felicity, não seria fácil deixar esse homem, não porque ele não permitira. Mas como dar as costas para alguém que te ame assim?

— Se Felicity tivesse um namorado, você recuaria? – Arrisquei mais uma pergunta.

— Ele não importaria para mim. – Respondeu. – Felicity é quem teria que se importar com ele, você se importa com seu namorado Caitlin? – Perguntou direto.

— Claro que sim.

— Bem, então não precisa se preocupar com Tommy. – Falou. – Ele não a forçaria, nem tentaria seduzi-la apenas para abalar um relacionamento. Tommy só irá se aproximar de você, se ele sentir que seu coração é livre.

— Por que um motoqueiro se importaria com meu coração? – Perguntei sincera.

— Talvez porque também temos um. – Respondeu divertido. – Tranque as portas, e se quer meu conselho, Tommy é alguém que vale a pena conhecer, ainda que não possa retribuir o que ele deseja te dar.

Assenti uma última vez, e para seu alívio sem nem mesmo uma última despedida o deixei para trás. Tranquei as portas e apesar de estar muito cansada, me permiti tomar um banho de banheira.

Eu havia ficado irritada com Roy, mas ele estava certo. Eu tinha uma vida repleta de privilégios. Nunca havia sido abandonada, meus pais me amavam ao ponto de ser sufocante em alguns casos, e amavam um ao outro com semelhante intensidade, sem morte de parentes próximos, mesmo meus avós ainda estavam vivos. Não tive uma época ruim no colégio, não fui a garota popular, mas nunca fui a excluída também, tive amigos, colegas e desde que descobri a atração entre o sexo oposto, quase nunca fiquei solteira. Meu futuro esteve garantindo desde que nasci, a única dúvida com relação a faculdade era qual eu iria escolher, porque tive mais de uma opção, e optei por aqui porque era perto o suficiente para visitar meus pais com frequência, mas longe o bastante para criar certa independência, eu estava no último ano da faculdade, mas sabia que não ia precisar me preocupar com dividias de empréstimos. Eu trabalhava no bar porque não queria que além de tudo meus pais precisassem arcar com o aluguel do apartamento e minhas despesas pessoal, e foi especificamente esse bar porque Helena estava largando o emprego e me indicou, era perto do meu apartamento, o dono não era um babaca, ao menos não costumava ser, e os rapazes estavam sempre prontos para jogar porta fora qualquer um que procurasse por encrenca.

Eu era previsível demais.

Roy estava certo.

Eu estava surpresa por ele não ter usado a palavra chata.

O que tornava o interesse de Tommy ainda mais inquietante e estranho.

Eu poderia entender o porquê de estar com Barry. Eu sempre estive com um “Barry”. Ele era confiável, era fofo, gentil e inteligente, fez Biomedicina na mesma universidade que eu e Felicity, até que preferiu mudar de curso, Barry ia ser físico, um engenheiro, e decidiu isso quando estávamos apenas no começo do namoro. É claro que pensei em terminar, eu já havia tido um relacionamento a distância antes, não deu certo. Mas não queria desistir de Barry, do que havíamos começado, nem ele parecia querer isso. Eu não queria julgar meu relacionamento através do fracasso de um anterior. Então disse que faríamos dar certo.

Ele concordou.

Ele foi ótimo, compreensivo e romântico... Nos primeiros meses.

Agora Barry parecia distante. E eu sentia que sequer poderia atribuir a culpa tão somente a ele, já conhecia aquele roteiro.

Fiquei tensa quando percebi por fim, eu estive com vários Barry, mas nenhum Tommy, já conhecia cada aspecto do meu relacionamento com Barry porque já o vivi antes. Mas Tommy era diferente. Nunca tinha experimentando as que sentia quando estava com ele. Tommy Merlyn me irritava em muitos níveis, e me intrigava em tantos outros. Ele me tirou da zona de conforto sem fazer mais do que se aproximar e conversar comigo. Eu que sempre soube como agir e o que enfrentar, agora  flertava com um motoqueiro de barba espessa, perfeitamente cuidada, olhos azuis brincalhões, sorriso de menino e uma mente sorrateiramente maliciosa. Deus, quem conseguiria resistir a isso?

Esperava pode dizer que eu sim.

Segui minha rotina como qualquer outro dia. Acordava, fingia que o café da manhã que comia era decente, estudava por uma hora e meia e então tomava meu banho e ia para faculdade. Voltava no final da tarde, deixando esse horário para resolver qualquer problema do dia a dia, estudar, jantar me arrumar e então ir trabalhar já com a noite avançada por que eu sempre ficava até perto das 03:00h. Duas vezes na semana essa rotina mudava porque eu tinha plantão no hospital, meu estágio. O bar abria todos os dias exceto na segunda, estava sempre cheio porque era perto da faculdade, e tinha comida, então quando não estavam enchendo a cara comemorando ou lamentando o resultando de um exame, os estudantes estavam se entupindo de comida devido ao estresse de estudar para um.

Quando cheguei ao bar não pude evitar, meus olhos dançaram pelo recinto em busca de certo motoqueiro, mas ou ainda não havia chegado, ou não ia vir hoje.

— Aí está você. – Felicity murmurou parando em minha frente.

— Por que você está vindo com mais frequência a um bar, se você mal gosta de beber? – Perguntei apoiando meu cotovelo no balcão.

— Eu sinto falta de vocês. – Deu de ombros. – Você e Helena ficaram mais próximas depois que terminei o curso, e me deixaram de lado.

— Estamos respeitando sua privacidade. – Respondi. Ela me encarou sem compreender.

— Felicity. Eu estava limpando os banheiros outro dia, e eu tive que sair de lá, tapando os ouvidos, porque você e Oliver são muito gráficos quando estão...

— Transando?

— Vocês não estavam transando. – Neguei a surpreendendo. - Transar é papai e mamãe seguido de conchinha, transar é ficar por cima no sofá e afagos quando termina. É fazer no chão e depois apoiar a cabeça no ombro, ou diante uma lareira e pensar sobre o futuro... Não, espere aí já é amor... A questão é – Frisei. – Ele estava fodendo você. – Ela sorriu divertida, então inclinei a cabeça considerando. - Ou matando. Você está viva, então...

— Ele estava me fodendo. – Concordou. – Duro.

E forte e mais rápido, de novo, isso.— Ela riu. - Eu escutei – Sorri. – Vocês se reencontraram e tem toda essa energia reprimida, eu admiro e respeito, preferia que não fizesse isso onde trabalho, mas... – Dei de ombros. – Eu e Helena estamos felizes por você, e é por isso que estamos lhe dando esse espaço, por que sabemos que você não é o tipo de amiga que deixa de sair com a outra porque está com o namorado, nem queremos ser as amigas que obrigam a amiga a ir conosco mesmo sabendo que ela poderia muito bem está representando um pornô em sua casa com seu namorado.

— Muito exagerado. – Repreendeu-me com um sorriso nos olhos. -  Foi só uma vez, aqui pelo menos, e peço desculpas por isso, só que... Bem não tenho desculpa, eu olhei para ele e queria arrancar as roupas dele – Deu de ombros. –Como estão as coisas com Barry? – Perguntou precisando mudar de assunto.

— Eu não sei, ele não tem respondido minhas ligações, ou mensagens. – Falei sincera. O pior de tudo é que odiava o fato de não estarmos nos comunicando, mas não sentia falta disso. – Talvez esteja muito ocupado.  – Dei de ombros.

— E como vão as coisas com ele? – Perguntou apontando para a porta. Olhei na direção indicada e observei Tommy entrar, sua segurança nítida em cada passo, a arrogância masculina presente em cada aceno que dava ao encontrar um conhecido. Então seus olhos caíram em mim, e Tommy Merlym sorriu, como se a minha presença ali por si só fosse uma razão para isso, ele me abalou, com apenas um olhar ele me abalou, e então virou as costas e foi até o fim do bar, numa área onde eu não atendia e ali ficou.

— Eu não sei. – Falei após um suspiro, então notei o interesse de Felicity.  – Eu quero dizer, não vão. Ele é um cara que sem vergonha alguma está dando em cima de mim, mesmo sabendo que tenho um namorado.

— Oh Caitlin.  – Felicity sorriu.  – Observar vocês dois é como ler um livro no qual você já conhece o final, e ainda assim se ver ansiosa para ler cada pequena cena, porque você sabe a jornada vai ser tão cativante que não importa quão previsível o final seja. Em seu caso, eu preciso acrescentar... Há certa dosagem cômica.

— Onde está seu namorado? Ele não está te esperando em alguma cabine de banheiro? – Perguntei começando a ficar irritada com ela.

— Dessa vez sou apenas eu. – Sorriu feliz. – Acho que hoje vamos ficar com transar no sofá e afagos e depois fazer amor na cama.

— Tanta informação. – Meneei a cabeça. – Você não era assim. Você costumava corar.

— Eu não estou no ensino médio, ou neste caso no primeiro período. – Alertou. – E se depois de Oliver eu ainda conseguir corar, bem...

—Entendi. – Assenti. – Vá procurar Helena, eu preciso trabalhar em... – Olhei para o relógio em meu pulso. – Cinco minutos.

— Ela não está aqui, já procurei. – Informou-me.

— Você acha que ela teve sucesso? Com Sr. Palmer? – Perguntei curiosa.

— Não acho. – Negou. – Ontem eu a levei para casa.

— Helena e Ray Palmer. – Considerei. – É tão errado que poderia dar certo.

— Está aí uma história que gostaria de ler. – Assentiu. – Agora já que você está ocupada, e Helena não veio, eu vou embora. Sinto muito, mas terei que levar seu motoqueiro. Ele é minha carona hoje.

— Ele não é... Esqueça, apenas vá. – Resmunguei.

— É interessante. – Murmurou.

— O quê?

— Todo o tempo daquela noite em que estive com Oliver, ele disse que eu era dele. E eu lutei contra isso, neguei e ainda faço careta quando escuto essa maneira tosca de se referir a alguém dessa maneira, mas de certa forma, aceitei. Eu sou dele, e ele é meu.

— Hum... – Acenei absorvendo aquelas palavras. – E?

— Eu não o vejo afirmando que você é dele. – Deu de ombros. – Eu só vejo você negando, lutando, protestando, que ele seja seu.

— Ainda não entendi.

— Apenas... É interessante. É como uma história cujo final eu já sei, mas assim gostarei de ler. – Piscou.

— Apenas vá!

— Eu te amo. – Falou indo em direção a saída.

— Eu te odeio. – Devolvi e recebi apenas um aceno, sem que ela se desse o trabalho de se virar, mas eu a conhecia, Felicity estava sorrindo. O que me fez sorrir em resposta, com ela saindo e Tommy a seguindo logo após eu respirei aliviada, não precisava de outra noite lembrando-me constantemente que tinha um namorado, negligente, mas ainda tinha um.

O pior de tudo foram os dias seguintes, e então semanas, com exceção de uma mensagem ou outra, Barry quase não fez contato, até que chegou o mais completo silêncio. E enquanto Barry sumia... Tommy virou uma constante. Ele até mesmo ousou mais, saía de seu refúgio no canto e vinha conversar, a princípio tentava usar apenas respostas educadas, mas então ele me provocava até que nos víamos em uma discussão que conduzia em uma conversa animada e então eu estava sorrindo, para ele. De novo. E considerando, comparando e lamentando que ele não era Barry.

E Tommy fazia mais do que apenas brincar, do que provocar. Ele era aberto, de certa forma, como o que fazia, falava sobre sua família, e eu podia perceber o carinho em suas palavras quando falava em Oliver e Thea, e até mesmo Felicity, ele parecia muito próximo e amigo dela.

Apesar de sua presença ter se tornado uma constante, minhas escoltas se limitavam a Oliver, as vezes por Felicity e Helena, que estranhamente mantinha para si sua história com Ray, se houve, ou então eu era escoltada até mesmo por Roy. Nunca por Tommy, pelo menos até então.

Até hoje.

— Então, hoje Oliver não será minha escolta. –Comentei encostando-me contra a mesa de sinuca e cruzando meus braços, Tommy sequer fez questão de fingir arrependimento, ou vergonha por interferir dessa maneira em minha vida. Ele me dedicou um sorriso amplo antes de se curvar para uma nova tacada. – Não se anime, não disse que concordava com você me acompanhando.

— Por que ir sozinha, quando posso te fazer companhia? – Perguntou parando ao meu lado. – Só a estou protegendo, não vou entrar ao menos que me convide.

— O que não vai acontecer. – Respondi prontamente.

— Isso significa que posso acompanha-la? – Ignorei seu sorriso confiante e tornei a encarar ao redor, não tinha mais ninguém, eu provavelmente deveria fechar tudo e ir para casa agora, mas por algum motivo, preferi ficar observando Tommy jogar sozinho.

— Quer jogar comigo? – Perguntou após ler minha expressão.

— Eu não sei jogar. – Confessei. Uma fagulha brilhou em seus olhos. – Eu não quero que me ensine. – Avisei prontamente.  Ele pareceu decepcionado com o que eu disse.

— Por que não?

— Você só quer uma desculpa para me tocar. – Respondi sincera. Ele deixou o taco encostado contra a mesa e se aproximou de mim.

Não acho que tenha gostado de minha resposta.

— Eu quero te tocar. – Falou direto. – Eu quero muito. – Fiquei presa observando sua expressão. - Mas eu não sou homem de usar desculpas, não preciso. – Falou arrogante. - Sempre fui direto, e talvez não tenha notado, respeitei seu espaço. – Alfinetou.

— Me vigiar do canto de um bar, não é exatamente me dar espaço. – Não pude me conter. – É assustador.

Tommy me avaliou, seu semblante tornando-se mais sério.

— Eu odiaria isso. – Falou me surpreendendo. – Assusta-la. – Pisquei assimilando o que disse, a necessidade de explicar, de deixar em evidência isso. – Você tem medo de mim? – Questionou ficando em minha frente.

— Eu... – Comecei incerta de qual seria minha resposta.

— Você pode ser sincera. – Interrompeu-me, como se temesse uma resposta evasiva, dirigida talvez pelo próprio medo de contrariá-lo. Tommy estava acostumado em ser temido, mas não parecia realmente gostar de provocar essa reação em mim. - Sempre que precisar que eu vá embora, basta dizer. – O encarei assimilando a veemência imposta em cada palavra dita.  – Eu irei.  – Seus olhos correram por meu rosto. Ansioso por não perder nada, nenhum pequeno movimento que pudesse me denunciar de que estivesse sendo menos que sincera. - Devo ir?

Curiosamente, as palavras de Tommy me fizeram voltar de imediato para conversa com que tive com Oliver. E por alguns momentos, vi em seus olhos, o mesmo medo que vi nos olhos de Oliver.

Fugindo de avaliar o significado daquilo, preferir tentar mudar o rumo que aquela conversa tinha tido. Uma meia verdade em forma de pergunta, sempre seria a melhor escolha.

— Por que eu sinto que você só está me perguntando isso porque sabe que minha resposta será não? – Perguntei sincera. Tommy pareceu contente com o que escutou.

— Eu não sabia qual seria sua resposta, não sabia se não aceitaria que a acompanhasse, podia ser não. E eu respeitaria. – Assentiu. - Mas receber um não hoje, não me impede imaginar um sim amanhã. – Murmurou por fim, então voltou a se concentrar em seu jogo, como se aquilo, aquela intensidade, aquelas palavras, não tivesse sido nada.

— Continua sendo errado. – Murmurei tentando me manter firme. Convicta, e barrar qualquer esperança de sua parte. - Na verdade, está ainda mais errado. Insistir não é legal. – Falei indo até ele, já que havia se deslocado novamente. Mesmo aos meus ouvidos, minhas palavras soam fracas, porque parecia que estava atribuindo a ele, um papel que não lhe pertencia.

— A única razão pela qual insisto é isso. – Falou acertando a bola. Inclinei-me mais perto dele. Já que ele insistia em manter sua atenção nas malditas bolas.

— “Isso”. – Repeti. -  Isso o quê? – Tommy se ergueu e eu percebi, que embora estivéssemos perto demais, e seu espaço invadisse o meu, embora eu tenha tido que erguer minha cabeça para fitar seus olhos estranhamente sérios e cálidos, em nenhum momento Tommy havia se aproximado de mim.

— Isso. – Repetiu. Seus olhos desceram até meus lábios. – Você veio até mim.

Ele parecia contente demais com aquilo.

Embora sua expressão fosse séria, e seus lábios não exibissem, seus olhos sorriam. Até que respirei fundo molhei meus lábios antes de abrir minha boca em busca de alguma desculpa que justificasse minha aproximação, qualquer que fosse. A esse ponto, Tommy não mais sorria, apenas me devorava com o olhar.

— Eu...

— Você pode inventar mil desculpas, eu fingirei que acreditarei em cada uma delas, mas meu corpo sempre irá reconhecer o desejo que irradia através do seu. – Ergui meu queixo em desafio ao escutar aquelas palavras. – E quando eu finalmente souber como é a sensação do seu corpo contra o meu, de ter a sua pele sob meus lábios, quando eu sentir o sabor salgado do suor entre seus seios e puder sentir suas unhas aterradas fortemente contra a minha própria pele... Quando eu souber se a sensação é tão boa quanto imaginei, ou mesmo mais... – Engoli em seco ao escutar o que ele descrevia. Sabia que devia me afastar, sabia que deveria interrompê-lo, mas não conseguia. – Deus Caitlin...Quando eu descobrir se seus lábios são tão doces quanto acho que são, quando eu  por fim descobrir se você é do tipo que abraça os ombros, ou se suas mãos movem-se inquietas durante um beijo... – Respirei fundo ao perceber  seu rosto inclinar e um sorriso pequeno aparecer. - Quando eu descobrir o segredo por trás de cada canto de sua boca, será porque você me beijou primeiro.

O encarei inerte e confusa. Confusa com relação aos meus sentimentos, confusa com aquela atração, chateada comigo mesmo porque eu estava considerando. Eu estava. Com meus olhos presos em sua boca, eu queria, precisava saber também, se seria tão bom. Se ia valer a pena. Eu queria. Por mais que odiasse aquilo. Eu o queria.

— Pronta?

Pisquei surpresa com sua pergunta.

Surpresa por ver seus lábios se moverem, mas não sob os meus, por vê-lo recuar quando eu queria tanto que se aproximasse. Eu estava surpresa e decepcionada.

— O quê? – Murmurei fracamente.

— Perguntei se estava pronta. – Repetiu levando o taco que havia usado para o suporte junto a parede. – Para irmos. -  Esclareceu. - Eu preciso estar em outro lugar.

— São 3h da madrugada. – Murmurei franzindo o cenho e movi-me inquieta. – Para onde você precisa ir agora se não para sua própria cama? - Percebi como isso havia saído errado. Eu não podia me queixar, resmungar ou pedir explicações a um homem que não era nada meu.  Tommy se voltou e me encarou com diversão. – Apenas esqueça que eu perguntei.

— Eu vou receber um carregamento cheio de coisas ilícitas que você não quer nem está preparada para ouvir.  – Falou. – Você sempre pode me fazer perguntas docinho, eu só não posso garantir que irá gostar das respostas.

— Você não deveria responder então.

— Eu gosto de sinceridade. Exceto quando estou em frente a um policial. – Deu de ombros. – E a frase “sua própria cama” me diz que na verdade você queria saber se não estava indo atrás de outra mulher.

— Você tem estado em cima de mim, o tempo todo. – Retruquei. Não ia agir com timidez, ele queria sinceridade? Ok. – Não pode me culpar por querer saber de quem mais. – Tommy sorriu. Não estava aborrecido ou constrangido com o que eu disse, ele parecia contente. Idiota. Provavelmente já confundia com ciúmes. Ele parecia pronto para dizer algo, provavelmente mais uma de suas frases que me faria ficar toda confusa e excitada novamente, mas o som do meu celular tocando chamou sua atenção.

Fiquei tensa de imediato.

E culpada.

Porque esse era o tom que Barry havia escolhido para si. E embora eu tenha passado os últimos minutos imaginando para onde Tommy iria e com quem ele estaria, eu não havia dedicado um segundo para imaginar o que Barry, meu namorado estava fazendo, e com quem.

— Vejo que sequer precisa ver para saber quem é. – Tommy murmurou. – Vou te esperar lá fora. – Informou-me, não parecia aborrecido, ou irritado, mas certamente seu humor já não era o mesmo. Não esperou resposta, passando pela cadeira que havia ocupado por toda a noite pegou sua jaqueta e caminhou até a saída. Forcei-me a ir até o balcão e encarei o celular, o tom insistente ainda ressoava pelo bar. Estava claro que Barry não ia deixar a ligação para mais tarde.

— Oi. – Murmurei quando finalmente atendi sua chamada. – Está tarde, por que ainda está acordado?

Eu sinto muito, pensei que ainda estaria no bar... Eu acordei você? — Se apressou a falar.

— Não. Eu estou fechando tudo. – O tranquilizei. – Já estava pronta para ir embora.

Não está sozinha, certo? É perigoso...

— Eu tenho companhia. – Falei. – Um dos rapa...

Bom.— Murmurou interrompendo minha pequena mentirinha. – Isso é bom.— Não gostei, parecia que ele tinha feito a pergunta apenas por fazer, eu tinha a impressão que poderia ter dito que estava voltando sozinha e a resposta seria a mesma. Ele não parecia preocupado em nada.

Tentei evitar esse tipo de pensamento. O tipo “Preciso vilanizar meu namorado apenas porque minutos antes eu fantasiei estar beijando outro”. Então deixei a sensação de lado e tentei prosseguir com a ligação que agora havia sido dominada por um silêncio desafiador.

— Então... – Comecei.

Então?— Questionou arrancando um suspiro meu.

— Você me ligou, Barry. – Falei sem paciência. – Talvez tenha um motivo?

Oh, sim.— Respondeu.  – Eu vi suas ligações perdidas...— Apesar de querer muito evitar uma briga a menção as ligações me fez ficar irritada. Principalmente porque parecia que ele havia se sentido obrigado a retornar.

— Todas as minhas ligações? As que fiz durante toda a semana? – Questionei ficando cada vez mais aborrecida.

Eu estava ocupado, Caitlin.— Retrucou.

— Você poderia ter mandado uma mensagem, Barry. – Devolvi no mesmo tom.

Desde quando você cobra mensagens? Ligações? — Ele estava certo, eu nunca cobrei ligações, não éramos assim, mas para ser justa, eu nunca precisei cobrar, e esta era a primeira vez que eu tinha certa necessidade de que houvesse um lembrete de que eu estava namorando. Maldito Tommy Merlyn. – Caitlin?

— Desde quando você parou de se importar o suficiente para enviar uma. – Respondi. – Eu só queria um “Oi, estou ocupado essa semana, não se preocupe, eu estou bem.” Eu só queria isso. – Murmurei sincera. Nunca fomos pegajosos, mas ele sempre foi importante para mim, eu gostava de saber como ele estava, eu me preocupava com ele, e até onde eu sabia, ele também se preocupava comigo, Barry foi o primeiro a dizer “Eu te amo”. Ele era o cara que foi meu amigo antes de qualquer coisa. Ele aparecia todos os dias na frente do meu apartamento apenas para acenar antes de ir para suas aulas. Ele não era o tipo que ignorava ligações e evitava responder uma maldita mensagem. - Eu queria saber que você estava bem, que ainda estamos bem.  Nós estamos bem, Barry? – Perguntei direta.

Eu não acho que deva responder uma perguntar da qual você já formulou a resposta.— Respondeu em tom de acusação. – Você sugeriu que tentássemos Caitlin, e quando eu disse que teria que diminuir as visitas, invés de agarrar a oportunidade, você disse novamente que poderíamos fazer dar certo...

— Oportunidade? – Murmurei incrédula. Era quase como ele desejasse essa briga, como se estive esperando por... Espere. – Você estava me dando uma chance, para terminar? – Meneei a cabeça. – É isso que está fazendo? Está tentando fazer com que eu termine com você, que seja a que liga e diz, “sinto muito, mas não está funcionado.” – Respirei fundo tentando conter minha fúria. – Seu fodido covarde.

Caitlin... Eu tentei ok.— Falou. Para dar certo crédito, seu tom carregava certa tristeza. – Eu gosto de você, você é doce, divertida, tão inteligente, mas não dá mais. Não sentimos tanto a falta do outro quanto antes, não pensamos mais no outro como antes. Eu não quero que termine de uma maneira feia.— Continuou. - Eu tenho evitado a ir a festas porque não quero ser aquele que acaba traindo a namorada quando bebe e...

— Sério, você precisa se policiar para não me trair? – Fechei meus olhos. – Como se fosse um grande sacrifício?

Caitlin...

— Você conseguiu Barry, nós terminamos. Júnior está livre, pode soltar o zíper de sua calça. – Ele parecia querer falar alguma coisa, talvez pedir desculpas, talvez me acusar de infantilidade, ou apenas comemorar seu novo status. Não me importei. – Não se preocupe comigo, é como Helena disse, você não é único homem com pau, e certamente não com o melhor. – Escutar seu arquejo foi satisfatório. – Parabéns, você acabou não só um namoro, mas me perdeu como amiga, e eu posso lhe adiantar, isso é mil vezes pior.

Encerrei a chamada e resisti a vontade de jogar meu celular contra a parede. Eu não ia pagar por um parelho que valia mais do que dois meses do meu aluguel porque terminei com um babaca.

— Babaca.  – Murmurei. – Fodido babaca.

— Tudo bem aí? – Virei-me para encarar Tommy. Ele segurava no batente, não entrou, apenas colocou a cabeça para dentro e me encarava preocupado.

— Não esse babaca. – Falei passando por ele que me encarou sem entender. Ele me observou em silêncio, esperando que eu fechasse o portão do bar.

— O que eu fiz para ser babaca? – Questionou-me por fim. Dei um passo pretendendo ignora-lo, mas voltei, o encarei e dei de ombros, meneei a cabeça, troquei o peso de um pé para o outro e ergui minhas mãos sem saber como o responder.

Eu estava uma bagunça.

Era deprimente.

Era patético.

Era tão eu.

— Você existe. – Falei por fim. – Você está aí me encarando com esses olhos que dizem tanto que sua boca nem precisa se mover para convencer uma mulher de que a quer, mas ainda assim você diz. E quando você diz... É quente. Você exala sexo, sexo com pernas foi como Helena o chamou uma vez, e ela está certa. E qualquer um esperaria que você se interessasse por ela, mas não... Você se interessou por mim, eu nunca chamo atenção de caras como você, Tommy. Eu sou a namorada perfeita, eu me orgulho disso, eu chamo atenção dos caras certinhos. – Expliquei. Tommy inclinou a cabeça, seu cenho franzido, como se tentasse compreender onde eu queria chegar, como se desejasse me interromper e corrigir, mas se conteve, porque claramente, eu não lhe daria chances para falar. Não agora. - Eles querem me apresentar para a mãe deles, eu estou falando sério, o máximo que demorei a conhecer a mãe de um namorado foi um mês. Você não quer conhecer meus pais, meus pais ficariam horrorizados se conhecesse você, você é a razão pelas quais os pais são protetores com as filhas, eu fui alertada para evitar caras como você por toda minha vida, mas eu nunca tive que me preocupar com isso, porque caras como você nunca olham para mim, não porque não sou bonita o suficiente, ou boa o suficiente. Nós dois sabemos que esse é o problema, eu só boa demais.

Ele sorriu, e assentiu. Tommy parecia até mesmo encantado com o que eu disse.  Caminhei até ele, mais próximo do que deveria, mas do que era incapaz de me manter afastada.

— Eu sou a definição de compromisso, sou certinha demais, doce demais, por Deus, eu estava vestida com um jaleco quando o vi pela primeira vez e havia corrido por todo o campus para devolver a Felicity um bloco que ela nem sequer se importava. – Sempre que me lembrava daquele encontro me sentia um pouco patética, Felicity estava me entrevistando para uma matéria da faculdade, e eu estava mostrando a ela o laboratório. Quando ela saiu e esqueceu as anotações eu poderia ter deixado para outra hora, cogitei até, mas me vi correndo para alcança-la apenas para vê-la beijando Oliver e tendo aquela estranha dupla como plateia. Eu não tinha ideia de que se tratava de um reencontro e os interrompi, e então o vi. Tommy ergueu as sobrancelhas em desafio e sorriu. E foi ali que minha vida começou a mudar de eixo, de forma tão sútil que só percebi tarde demais, por que até mesmo agora, tentava negar. - Em um dia normal você nunca teria olhado para mim, mas você olhou. Você olhou e sorriu e parecia me prometer algo que eu desejei mesmo sem saber o que é. Você veio dia após dia, e olhou para mim, sorriu e conversou e me fez querer coisas que eu não deveria querer, você olhou para mim dessa maneira tão... Sua. – Respirei fundo. – Você me fez desejar ser sua e eu o rejeitei para ser fiel a alguém que estava mandando dicas de que queria que EU terminasse com ele, para não ter que ficar com a consciência pesada quando me traísse. – Tommy ergueu uma sobrancelha. – Eu sei que é irônico e que estou sendo um pouco hipócrita já que minutos antes eu estava considerando seriamente em mostrar a você que não sou do tipo que abraça ombros, eu movo minhas mãos, eu gosto de tocar, e gosto de envolver meus dedos nos cabelos e puxa-los, e eu queria fazer isso, muito, com você. E eu sei que é errado, que estou sendo hipócrita, mas isso me faz odiar ele ainda mais, porque mesmo sem saber, me fazer me sentir culpada, quando ele devia estar se sentindo assim.

Tommy se aproximou, apenas meio passo. Foi tudo o que ele ousou. Porque ele ainda se mantinha fiel ao que disse. A sua promessa.

— Caitlin... – Sua voz soava rouca, necessitada. Meu nome era um apelo que eu fiquei tentada a responder.

— Não. Eu não vou escutar nada vindo de você. – Ergui uma mão, mais para me manter afastada, do que para afasta-lo. – Eu vou para casa, vou tomar um banho, vou gritar no meu travesseiro e vou beber. – Ele assentiu como se eu tivesse lhe fazendo uma pergunta. –Definitivamente vou fugir de você, porque eu estou irritada, e magoada, até mesmo um pouco frustrada. Eu poderia cometer a estupidez de te beijar, provavelmente, e se você for tão bom beijador como parece ser, não ficaríamos só no beijo porque eu estou solteira, e você é sexo com pernas. – Repeti o divertindo. -  E por mais que deseje fazer tantas coisas indecorosas com você, eu não vou. Porque eu estaria usando você.

— Você pode me usar. – Murmurou em tom doce. – Sempre que quiser. – Meneei a cabeça em negativa. Ele ergueu a mão me impedindo de protestar. - Não precisamos fazer nada, eu também sou bom em abraçar.

— Eu não quero o transformar em um objeto, Tommy, mas a última coisa que faria com você hoje em uma cama seria abraçar. – Murmurei o surpreendendo. - Eu mereço continuar solteira por pelo menos uma noite, a última coisa que preciso agora é de um pau. Mesmo que seja o seu.

— Parece justo.  – Tommy acenou. – E estou lisonjeado. – Exibiu aquele sorriso dele. Aquele maldito sorriso cretino.

— Se for me acompanhar, que seja de longe. – Alertei lhe dando as costas. Não obtive resposta, ao menos não até dado um, dois... Cinco passos.

— Eu não sabia que era tão irresistível assim. – Ergueu a voz.

— Está ficando cada vez menos. – Respondi e logo em seguida escutei sua risada em resposta. Optei por ignora-la, como seria sábio, ao menos do meu ponto de vista, ignorar qualquer coisa relacionada a Tommy Merlyn.

— Amanhã. – Eu podia escutar o sorriso em sua voz, maldito seja. – Amanhã eu receberei meu sim, e então faremos todas essas coisas pecaminosas que desejamos.  Eu não vejo a hora de ser usado por você, Caitlin Snow. - Respirei fundo, ao me dar conta que talvez ele estivesse certo. Não era apenas arrogância. Toda aquela resistência que tinha hoje, provavelmente não existiria mais amanhã.

Independente de estar ou não preparada para o que aquilo significava.

Mas Tommy não veio no dia seguinte.

Nem mesmo nas semanas seguintes.

No começo fiquei aliviada, por ter que adiar aquele momento em que eu sabia, acabaria jogando tudo para o alto, por me livrar da culpa de substituir meu ex-namorado tão rapidamente.

Eu também fiquei curiosa.

Porque Oliver também não apareceu por uns dias, e Felicity parecia inquieta, quase preocupada. Resisti a vontade de perguntar a respeito, porque não queria entrar a fundo e descobrir qual crime eles deviam estar cometendo, eu também não queria dar motivos para Felicity pensar que eu estava interessada em Tommy.

Embora fosse evidente que eu estava.

Quando Oliver apareceu depois de uma semana e meia e ele não, eu comecei a ficar preocupada. Queria acreditar que ele tivesse desistido, que tivesse encontrado outra garota mais interessante, mas isso não combinava com ele. Não a parte de se interessar por outra, poderia acontecer, mas não acho que ele simplesmente sumiria, não era como se me devesse algo.

E Oliver voltou sozinho, sem os demais membros de sua infame gangue.

O movimento no bar também diminui, porque a partir do momento em que Oliver e seus motoqueiros passaram a frequentar, grande parte do público ficou voltado para eles, e quando eles sumiam, bem, suas fãs também.  Algo que incomodou o dono do bar que resmungou sobre os malditos motoqueiros e suas putas, segurei minha resposta mordaz, principalmente porque sabia que ele disse isso ciente que minha melhor amiga namorava um deles e aquela frase foi dita para provocar.  Oliver não estava por perto e apenas isso fez com ele tivesse coragem de dizer algo do tipo, não era surpresa nenhuma que embora gostasse do lucro que os malditos motoqueiros traziam, ele quase nunca estivesse no bar quando estavam por perto, era um covarde e preguiçoso, todo o trabalho ficava nas minhas costas e do restante e ele só aparecia para pegar o lucro.

Tão logo Oliver voltou, o dono do bar curiosamente sumiu novamente.

Cheguei a suspeitar que havia algum acordo, que de uma forma ou outra aquele bar passou a pertencer a liga como muitos outros estabelecimentos. Mas quando perguntei a Felicity se ela sabia algo sobre isso, ela negou, disse que o clube tinha seu próprio bar, nos limites da cidade, que o pequeno grupo que vinha aqui eram próximos de Oliver, homens a quem ele confiava e tinha maior controle. E que só passaram a vir para esse lado por culpa dela e de outro interesse de certo motoqueiro sumido.

Ignorei aquela última alfinetada.

— Agora eu tenho dois acompanhantes? – Perguntei encarando o casal que me esperava do outro lado do balcão. Oliver deu de ombros e virou o rosto. Felicity sorriu e encostou sua cabeça no ombro dele. Helena havia vindo, mas após dar uma olhada ao redor inventou uma desculpa e partiu, como se eu não soubesse bem por quem ela procurava.

— Ele não sabe conversar com quem está fora do seu grupo de amizades. – Murmurou. – Ele é bruto com as pessoas quando não estou por perto.

— Eu não acho que sua amiga precise que eu fale mansamente em torno dela. – Oliver retrucou. – Ela não é uma criança.

— Ele também é bruto quando estou por perto. – Felicity com um sorriso. – Mas gosto de pensar que minha presença ameniza as coisas.

Oliver a encarou com um sorriso nos olhos.

Promessas não reveladas em uma mera troca de olhares.

Forcei um sorriso.

— Eu acabei de acabar um relacionamento longo. – A lembrei. – Casais felizes me dão náuseas. Vão embora.

— Pelo o que soube ele era um babaca e você deveria estar celebrando sua mudança de status. – Oliver retrucou.

— Ele não foi sempre um babaca. – Respondi. – Garotas não lamentam fim de namoro pelo o sapo que seu ex se tornou, e sim pelo príncipe que um dia ele já foi. – Não resisti, tive que provoca-lo, sabia que Oliver odiaria as comparações infantis.  Ele bufou, um som repleto de desdém.

— Pobre Tommy. – Murmurou me surpreendendo.

— O quê? – Perguntei não por não ter escutado o que disse, apenas fiquei confusa com seu nome sendo citado após dias sem que ter nenhuma notícia sua. Odiava o fato de apenas seu nome vindo à tona trouxesse tanto impacto dentro de mim. Meu pulso acelerou, e eu tive que resistir a vontade de olhar envolta, como se seu mero nome saindo da boca de alguém em uma conversa, resultasse também em sua presença repentina.

— Se esse é o ideal que ele precisa alcançar, ele está fodido para caralho. – Oliver respondeu, seus olhos me fuzilando, por algum motivo bobo me sentia como se fosse um alvo seu, como se fosse sua inimiga. Felicity apertou seu braço, como um pequeno aviso, um que ele prontamente ignorou. – Você não vai encontrar príncipes encantados em meu MC, Caitlin. E Tommy? Ele pode ter seus encantos, mas acredite, ele está longe de ser o menino de ouro que você apresentaria a seus pais.

Como se eu já não soubesse.

Como se isso não fosse o motivo que me faz ficar acordada mesmo após chegar em casa cansada. Minha mente ia mil, indo contra minhas convicções, meus valores duelando e as vezes, perdendo. E ele nem estava por perto para tornar todas as decisões ao seu favor tão influenciável. Era eu. Era apenas eu, quem chegava sempre a mesma conclusão.

Maldito Tommy Merlyn.

— Qual o seu ponto, Oliver? – Questionei irritada. Oliver fazia parecer que era eu quem corria atrás de Tommy.

Oliver mudou seu peso de pés e cruzou os braços em uma posição defensiva. Encarou-me duramente.

— Oliver. – Felicity o chamou, sua mão indo até a curva de seu braço, forçando-o encara-la. – Coloque seu modo protetor no volume baixo. – Oliver se limitou a encara-la por mais alguns segundos, a troca de olhares quase como um duelo, Felicity ergueu as sobrancelhas em desafio. – Ela é minha amiga.

— Você tem Helena.  – Ele respondeu. A resposta rápida e afiada. Fácil demais. O observei atônita.

Felicity tinha Helena.

Simples assim.

Ela não precisa de outra amiga? Eu sou descartável? 

Espere... Esse diálogo. Esse chefe de um MC chamado de League of Assasins dizendo que eu sou descartável... O que significava? Ele não podia estar seriamente discutindo minha possível morte em minha frente, certo? Encarei Felicity esperando qualquer reação que me indicasse que eu estava errada, que eu estava exagerando, para meu alívio ela leu meu olhar e sorriu.

— Agora, você a assustou.  – Falou apertando ombro de Oliver. – Ela deve estar imaginando o corpo dela sendo jogado em um rio.

Estava claro que Felicity estava brincando, quase sorri em resposta, mas então Oliver limitou-se a me encarar, como se considerasse o que ela disse. Como se cogitasse...Mais parecia que o que Felicity havia dito era uma sugestão.

— Não é assim que fazemos. – Murmurou por fim. O encarei em choque. Oliver fez uma careta quando recebeu um beliscão de Felicity.

— Não me faça deixa-lo aqui sozinho. – Repreendeu.

— Apenas tente. – Oliver sorriu atrevidamente. – Eu me veria tentado em joga-la em meu ombro. – Pelo seu rosto, o ato estava longe de ser considerando um sacrifício, pelo contrário, Oliver parecia ansioso por Felicity contrariá-lo.  Esperava que Felciity retrucasse, e deixasse claro que não aceitaria semelhante comportamento, mas isso em vez de instiga-la a rebatê-lo, fez com que ela lhe lançasse um olhar enfurecido.

Então percebi.

Já havia acontecido antes.

Pensei em me afastar silenciosamente. Deixar o casal para trás e ignorar minha obrigação em fechar o bar. Os conhecendo, sabia que quando percebessem estar sozinhos, eles apenas iam aproveitar e deixar as faíscas que estavam sempre presentes em cada interação explodirem, mas Oliver relutantemente desviou o olhar dos lábios de sua namorada e me encarou.

— O ponto Caitlin... – Murmurou como se em nenhum momento a conversa tivesse sido interrompida, e ignorando completamente as ameaças que haviam ficado no meio de sua pergunta. – Tommy é forte, duro, exibe um sorriso de bom moço, mas sabe ser cruel. Esteve perto da morte mais vezes do que gostaria de admitir, já foi espancado, alvejado, e esfaqueado, o homem já escapou até mesmo de uma explosão, mas eu suspeito que ele dificilmente se recuperaria de ter seu coração esmagado.

Meneei a cabeça pronta para negar qualquer envolvimento com Tommy. Qualquer intenção em estar próxima emocionalmente o suficiente para ser capaz de atingi-lo dessa maneira.

— Apenas seja honesta. – Cortou-me. – Com ele, com você. Não mergulhe de cabeça a não ser que saiba nadar.

Felicity suspirou ao seu lado.

— Onde estava todos esses avisos na minha vez? – O questionou sem paciência. Sem esperar sua resposta, ela me encarou. – Ignore-o. Ele está todo super protetor, e com ciúmes porque vai ter que disputar a atenção de Tommy com você...

Oliver revirou os olhos diante o último comentário.

— Eu...

— Você nada. – Ela o interrompeu. – Eu juro por Deus Oliver Queen, se você continuar ameaçando minha amiga, eu vou voltar para casa sozinha. E você sabe o que isso significa. – Oliver ficou tenso diante sua frase, seu olhar a avaliando com intensidade.

— Fe-li-ci-ty.- Murmurou fazendo com que sorrisse.

— Sim, querido? – Isso o quebrou. A pose arrogante se foi, Oliver exalou e a encarou como se fosse um problema complicado, difícil de resolver, e ao mesmo tempo também fosse a solução.

— Eu vou parar de ameaçar sua amiga. – Murmurou por fim. Então me encarou. – Desculpe. – O pedido veio tão rápido e inesperado que fiquei atônita.

Esperava mais relutância de Oliver.

O encarei surpresa.

Oliver Queen estava fodido. Felicity Smoak o tinha na palma da mão. Mais precisamente suas bolas. Segurei um sorriso ao chegar nessa conclusão. Não queria fazer com que ele considerasse que ficar sem sexo poderia valer a pena ao jogar meu corpo naquele rio, mas algo me denunciou. Porque vi sua carranca voltar.

— Está desculpado.  – Murmurei rapidamente, tentando não voltar a ser seu foco, precisando dar a noite por encerrada e me livrar da bomba que Felicity tinha arranjado como namorado. – Eu entendo, ele é importante para você. Para seus “negócios”, como família e como amigo, você quer a cabeça dele no lugar, entendi. Tentarei deixar as coisas ainda mais claras quando voltar a vê-lo.  Se eu voltar a vê-lo.

A última frase foi dita até mesmo com certa acidez.  O que me fez ficar irritada comigo mesma. Eu não podia estar seriamente irritada com o sumiço de Tommy Merlyn. Resisti a vontade de perguntar algo a Oliver, ainda mais agora que tinha certeza de que ele mal me tolerava.

— Podemos ir? – Felicity murmurou parecendo estar tão ansiosa quanto eu em deixar para trás aquela estranha e assustadora conversa.

Para ser justa, assustadora deveria só para mim. Felciity parecia entediada.

— Sim. – Concordei. Falhando em mascarar minha ansiedade. Oliver me lançou mais um olhar de alerta e então voltou a se concentrar em Felicity. Ele assentiu concordando e com um gesto irônico ergueu o braço nos mostrando a saída. Felicity revirou os olhos e se afastou, puxando meu braço, com ela empoleirada ao meu lado caminhamos pelas ruas desertas, apenas o eco dos nossos sapatos perturbando o silêncio. Felicity me lançava olhares ansiosos, como se cogitasse falar algo, mas olhava de relance para trás e deixava o assunto morrer antes que saísse de seus lábios.

Considerando que Oliver nos seguia de perto, eu podia muito bem imaginar qual era o assunto em questão. Então não lamentei o fato dela ter deixado a conversa de lado.

Eu estava admirada por Oliver não parecer se importar em ficar para trás, eu precisava admitir, pelo pouco que eu havia visto de Oliver, ele parecia trazer a estranha combinação de possessivo, mas não ciumento. Ele sempre se manteve afastado de Felicity quando ela estava conosco, dando-lhe espaço, e exceto por hoje, ele nunca havia se estranhado comigo, e nem teve a ver com ela.

— Pronto.  – Murmurei contente quando chegamos em frente ao meu prédio, o cansaço caindo sobre meus ombros e cabeça em um rompante, como se soubesse, só em chegar em casa, que apenas minha cama seria capaz de combatê-lo. – Obrigada por me acompanhar.  – Murmurei com sinceridade para ambos.

— Descanse. – Felicity sorriu. – Amanhã espere uma ligação minha, acho que precisamos uma noite de garotas, podemos chamar Helena.  – Sugeriu, ela foi até Oliver que a estudou como se considerasse o que disse.

— Vocês poderiam chamar Thea. – Oliver falou me surpreendendo, sua voz saindo suave. Ele parecia sério e na defensiva, e ainda assim tímido.  – Eu acho que ela gostaria disso.

— Oh, claro, é claro que podemos chamar Thea. – Felicity assentiu e sorriu antes de beija-lo suavemente nos lábios, mais uma vez me senti desconfortável em estar entre os dois. Oliver ainda sorria quando ela me encarou buscando ajuda.

— Definitivamente. – Acenei rapidamente. Depois de hoje, eu posso afirmar que eram poucas coisas as quais me fariam ir contra Oliver. – Eu adoraria conhecer sua irmã. – Murmurei sincera. De fato eu estava bastante curiosa sobre a Queen mais nova.  - Até. – Acenei um adeus.

— Boa sorte! – Felicity murmurou para minhas costas. Fiquei confusa e sem compreender, até que minutos depois, uma batida soou em minha porta.

Tommy havia voltado.

Eu soube, mesmo antes de ir até a porta, mesmo antes de indagar quem era e escutar sua voz rouca através desta. Eu sabia de quem se tratava tão logo escutei as pancadas sobre a madeira.

— O que você está fazendo aqui? – Murmurei entre choque e irritação. O homem não dava um sinal de vida há quase três semanas, e então aparecia em plena madrugada na porta da minha casa. – O que...

— Eu poderia responder todas suas perguntas aí dentro? – Sugeriu com mais um de seus sorrisos. Mas este era diferente, seu sorriso foi rápido, seguido de uma pequena contração, indicando-me que ele havia tentado esconder uma careta de dor. Tommy estava machucado.

— Você está ferido. – Era uma pergunta, ao menos foi a intenção, mas se perdeu em meu tom de afirmação. Tommy inclinou a cabeça e atreveu-se a negar.

— Não. – Meneou a cabeça. Meus olhos correram por seu corpo em busca da razão pela qual, obviamente se encolhia de dor, mas sabia que o orgulhoso não admitiria nada, ao menos não agora e ainda estando fora. Então peguei pelo braço e o forcei a subir as escadas até e entrar em minha sala.  Apesar do esforço em disfarçar Tommy praticamente se jogou em meu sofá e soltou um som de alívio, sem demora, e sem dar um segundo pensamento a isto, minhas mãos foram a sua jaqueta, em busca de seu ferimento.

— Hey! – Segurou meus pulsos. – Não sem antes me pagar uma bebida, eu tenho princípios! – Gracejou.

O encarei sem humor.

— O que aconteceu? – Perguntei, soltando meus pulsos e levando minhas mãos a sua camisa escura, meus dedos por dentro da jaqueta tateando. Tommy segurou a respiração e soltou um gemido de dor quando meus dedos encontraram o ferimento, e tocaram o tecido pegajoso e úmido em seu ombro. – Por favor, me diz que eu não tenho que tirar uma bala do seu ombro no meu sofá.

Eu nem sabia se poderia.

— Facada. – Respondeu por fim. – Basta costurar e eu poderei carrega-la apenas com esse mesmo braço... Até sua cama. – Apertei na lateral do ferimento apenas levemente, mas o suficiente para ele soltar um protesto rouco. – Isso machuca!!

— Mesmo? – Questionei erguendo minhas sobrancelhas e pressionando meus lábios. – Tire sua jaqueta e camisa... – Ele sorriu com atrevimento e voltei a apertar ali, logo o comentário que deveria estar na ponta de sua língua morreu e se transformou em outro gemido. – Vou pegar meu kit, se for profundo demais, você vai a um hospital. – Alertei.

— Eu não vou a um hospital. – Negou rapidamente, me afastei não querendo ouvir aquilo e precisando pegar o kit. Mas sua voz me alcançou. – Muitas perguntas.

— O que o faz pensar que não farei essas mesmas perguntas? – Perguntei do meu banheiro, rapidamente peguei minha caixinha com o que precisava e retornei.

— Você não chamará a polícia após ouvir as respostas. – Parei hesitante, e refleti sobre o que disse. Questionando-me sobre isso, não gostando da minha própria conclusão.

Não. Eu não ia.

Tommy nunca fez mistério, nunca escondeu quem era. Oliver e o seus homens não escondiam a natureza de suas atividades. Era escancarado demais e ainda assim, ninguém ia contra eles, não a polícia da cidade pelo menos, não abertamente. Havia poder e corrupção, e havia muito dinheiro envolvido. Que eu não me incomodasse e não o expulsasse de minha casa me intrigava e amedrontava.

Eu gostava dele. Independente de tudo, eu o fazia.

Levantei minha cabeça e o encarei, ele havia feito o que eu disse, estava com o torso desnudo, e no ombro esquerdo havia um corte, que parecia ser um pouco longo, mas não profundo, havia alguns hematomas, me dizendo que houve socos também, talvez chutes.  Eu era uma médica, ou quase uma, na verdade, não temia sangue, não ficava nervosa com situações assim, hipotéticas, em forma de teste, ou reais. Mas pela primeira vez hesitei em me aproximar, vê-lo ferido me fez não ter as mãos trementes, mas o coração agitado, angustiado. Lembrei do que Oliver disse, de que ele estava acostumado com isso, com esse tipo de situação. Eu não liguei na hora, não pensei muito, me neguei na verdade.

Porque no momento que eu fizesse, eu iria até a questão do porquê não o levava a sério. Do porquê fugia de suas investidas. Do porquê não queria sequer cogitar a possibilidade de me envolver com Tommy Merlyn ainda que apenas um flerte, ainda que apenas sexo, não era cabível. Porque eu percebi desde o momento em que Tommy Merlyn sorriu para mim, desde aquele maldito sorriso, eu sabia que embora fosse fácil demais se apaixonar por ele, perdê-lo seria terrivelmente doloroso. Percebi que Tommy me estudava, como se tentasse ler meus pensamentos. Como se tentasse lê-los e compreender, e talvez então poderia argumentar contra.

 - É mais feio do que doloroso. – Adiantou. – Na verdade, se você quiser eu posso agora mesmo fazer quantas flexões desejar.  – Tentou brincar. A brincadeira soando fraca. – Nem mesmo farei caretas.

— Cala a boca. – Murmurei sem paciência e caminhei até ele, fiquei entre suas pernas e me concentrei em limpar o ferimento. – Você some por semanas e vem sangrar em meu tapete. – Reclamei após alguns segundos.

— Estava ocupado. – O encarei e percebei que estava concentrado em meu rosto, então rapidamente desviei os meus olhos, e forcei a me concentrar na ferida novamente.  – Eu não queria deixa-la preocupada.

— Não deixou. – Menti.

— Eu tive a impressão de que queria espaço. – Continuou sondando-me.

— Eu queria. – Respondi.

— Está irritada comigo? – Perguntou com um suspiro.

— Por que estaria? – Tentei soar indiferente.

— Talvez por eu ter feito promessas indecentes e então não ter aparecido? – Retrucou. Eu podia sentir o sorriso em sua voz, antes que eu pudesse me conter pressionei o ferimento com mais força do que intencionara. – Aí!!!

— Seria mais seguro se você se mantivesse calado enquanto eu cuido disso aqui. – Alertei. – Eu vou costurar e não tenho nada para que sirva de anestésico.

— Acho que devo agradecer o corte não ser perto do meu p...Ai!!

— Desculpe. – Murmurei.

Tommy me encarou, irritado, mas incerto se deveria dizer algo, pois minhas mãos ainda estavam sobre a pele ferida. E eu não menti, estava preste a costurar. Após um duelo de olhares em que saí vitoriosa ele recostou-se no sofá e optou por encarar o teto.

Com ele calado, pude por fim me concentrar em terminar de limpar e costurar seu ferimento. Tommy não fez mais do que estremecer e soltar um ou outro resmungo involuntário de dor.  Quando terminei, me ocupei de limpar minhas mãos e guardar tudo, só então encarei seu torso, ainda em busca de algum outro ferimento. Quando ergui meus olhos, foi fisgada pelos seus. Ele me encarava sério, mais uma vez me estudava.

— Doí em mais algum lugar? – Tommy olhou para baixo, ainda vestia sua calça é claro, e eu estava ajoelhada entre suas pernas, percebendo minha posição e a provocação em seu olhar, dei um soco em sua coxa e me ergui com intenção de me afastar, mas Tommy se endireitou e segurou meu pulso, mantendo-me na posição, e quando abri minha boca para perguntar do que se tratava fui surpreendida, com a seriedade em seus olhos, com sua mão esquerda em meu rosto, e então seus lábios no canto dos meus.

Não chegava a ser um beijo. Não, eu ainda me lembrava do que ele disse, de como seria se acontecesse, era uma pergunta. Tommy recuou, mas não completamente, ainda sentia seu hálito contra minha pele, a aquecendo. Meus olhos ainda eram cativos dos seus, tão próximos. Meus lábios estavam entreabertos, a resposta que ele queria não se fez audível, não foi traduzida em palavras, ele leu a palavra em meus olhos, na ansiedade por trás deles, e principalmente quando me aproximei. Então me lembrei, mais uma vez das palavras ditas na de como quando esse beijo ocorresse, porque ele nunca duvidou disso, seria eu quem o instigaria.

E foi o que aconteceu.

A mão de Tommy agarrou minha nuca quando finalizei a distância e então aqueles lábios estavam sob os meus. Moveram-se sob os meus como velhos amantes. Como se invés do primeiro beijo, esse fosse um reencontro, um encontrar no meio, havia desejo, urgência e saudade. Eram como velhos conhecidos, ele parecia conhecer cada pequeno centímetro de minha boca, sua língua escavou, buscando e então encontrando a minha. Foi um beijo de tirar o fôlego, um beijo de fazer exigir por outro, e outro, até chegar em um ponto que não sabíamos quando um terminava e outro começava.

Então fui puxada e logo estava em seu colo, meu cabelo ocultando seu rosto, suas mãos arrogantes espalmando meus quadris, bunda, e então subindo. E aquele beijo se tornou lascivo. Pecaminoso. Puramente viciante. Eu não sabia como algo que parecia ser feito de pecado podia nos levar ao paraíso. Minhas mãos o exploravam e as suas adoravam meu corpo, entre suspiros e gemidos minha sanidade se esvaia completamente, e meu corpo queimava pelo dele.

Foi reunindo o máximo de resistência que pude, que tentei recuar. Puxei seu cabelo, fiz com que seu rosto se afastasse do meu, pois precisava daquele momento, precisava pensar.

— O que você está fazendo? – Perguntei ofegante. Meu corpo ainda vibrando com suas carícias.

— Se precisa perguntar, nada de certo. – Falou igualmente sem fôlego, senti seus dedos entrando por minha blusa, trazendo novos arrepios.

Tentador demais.

— Você está ferido. – Murmurei tentando ignorar seus lábios que agora desciam por minha garganta e buscando algum resquício de razão. – Eu acabei cuidar de você.

— Você ainda está “cuidando” de mim. – Respondeu contra minha pele. Suas mãos apertando-me contra si, me fazendo entender exatamente o que dizia. Fiquei quente, perdi um pouco mais de controle. Senti o roçar de seus lábios em meu ombro, baixei meus olhos apenas para ver Tommy puxar a alça de minha blusa com os dentes.   – Muito bem, a propósito.  – Murmurou antes de chupar a pele. – Deliciosa para caralho. – Sussurrou deixando minha pele ainda mais abrasiva.

— Tommy...

— Sim? -  Questionou não se dando o trabalho de erguer a cabeça, segurei seus cabelos e fechei meus olhos, era tão bom, tão fácil de ignorar.

— Você está ferido. – Repeti. Puxei seus cabelos mais uma vez, mas isso só o fez gemer em contentamento. – Tommy!

Ele ergueu a cabeça. Seus olhos cobertos de desejo. Transbordando.

— Eu deixo você fazer todo o trabalho. – Prometeu. Respirei fundo e o encarei, não recuei, mas não fiz menção de continuar, suas mãos desceram, e descansaram em minhas coxas, e sua cabeça caiu sobre o encosto com desânimo. – Do que você quer falar?

— Onde você estava?

— Trabalhando, para Oliver. – Falou. – Você sabe o que isso significa.

— Oliver sabe que já voltou? – Perguntei levando minhas mãos até seus cabelos os penteando dessa vez, um gesto automático. Um carinho automático. Se ele percebeu, não comentou, nem protestou.

— Mandei uma mensagem no caminho. – Informou-me, seus olhos finalmente encontrando os meus. Então ele sabia. Oliver sabia que Tommy vinha ao meu encontro quando me deixou em casa, assim como Felicity. – Foi antes disso. – Inclinou a cabeça, e então eu soube que se referia ao corte. – Fui seguido, e encurralado, mas cuidei de tudo.

— Cuidou? – O encarei incômoda.

— Cuidei. – Repetiu. Seu silêncio era mortal, como se esperasse que eu recuasse, e o expulsasse, e se eu pudesse ser sincera com ele, comigo... Era o que eu desejava. Eu deveria questionar minha sanidade se não o fizesse. Minhas mãos desceram, o carinho sendo deixado para trás, os olhos de Tommy agora carregavam um pouco de mágoa, mas então minhas mãos moveram-se por si só e encontraram o ferimento, assim como meus olhos logo o fizeram, e então eu sabia, eu não me afastaria. Não agora, e eu temia, nem mesmo mais tarde.

— Antes ele do que você. – Falei ainda sem erguer meus olhos. E fiquei surpresa com minhas próprias palavras. Suas mãos me apertaram, e seus rosto encontrou a curva do meu pescoço, mas não para seduzir, e sim em busca de conforto. – Desculpe Tommy, não sou como Felicity. Não consigo aceitar tudo tão facilmente. Temi por você quando esteve fora. – Deixei a verdade cair não só em seus ouvidos, como nos meus. – E temo mais ainda o vendo assim. Fui criada com o certo e errado sendo sempre muito bem definido, sem espaços para exceções. Cada parte de mim sempre irá questiona-lo. Questionar o que faz, e questionar a mim mesma por continuar ao seu lado, mesmo após escutar cada resposta, cada dia que estiver com você, seja esses poucos ou muitos, sempre me questionarei, e a você. Isso se é o que você quer.

Tommy recuou e me encarou, um sorriso em seus lábios. Pois compreendeu o que eu dizia. Que apesar de tudo ainda estaria por perto. Seu sorriso se ampliou quando encontrou o meu.

Aquele sorriso cretino.

— Você está dizendo sim. – Não havia outra definição que não fosse felicidade, a que escutei em sua voz.

— Para uma pergunta que nunca nem foi feita. – Retruquei.

— Você é minha.  – Fiz uma careta, pela frase, pela maneira que disse. Seguia não sendo uma a pergunta. Mas me vi assentindo.

— E você é meu. – Murmurei apontando para o seu peito. – Eu converso com Felicity, Tommy Merlyn, eu sei o que isso significa. Ou pelo menos o que duas deixamos que signifique.

— Sabe. – Concordou. – Felicity não levou tudo facilmente Caitlin. Ela fugiu por cinco anos, deixou um bilhete para Oliver e confiou cegamente que ele iria até ela. Ela teve cinco anos para absorver tudo. Eu entendo, é muito. Vai além do certo e errado, e vou ser grato a cada dia que se questionar e a resposta ainda for sim, sejam poucos ou muitos.

— Bom. – Sorri. – Falando em Oliver... – Murmurei querendo chegar a conversa que tivemos antes de encontra-lo.

— Eu não sei se quero você falando em Oliver quando ainda está sentada em meu colo.  – Provocou-me.

— Eu apenas queria saber como funciona isso. – Confessei.

— Isso o quê?

— Quais as chances dele me jogar no rio caso eu quebre seu coração? – Tommy me encarou atônito, e então soltou uma risada alta. Já chegando à conclusão de sua própria pergunta, soquei seu ombro bom, mas me vi sorrindo. Tommy tinha uma gargalhada gostosa de se ouvir. Os olhos de Tommy varreram meu corpo e então sua atenção foi novamente desviada.

— Não se preocupe. – Murmurou pegando minha blusa e a subindo. Fui facilmente distraída quando seus lábios voltaram a provar minha pele, ergui meus braços, cedendo, facilitando, minha blusa sendo jogada de lado, então seus lábios estavam em meu ouvido. – Não é assim que fazemos.

O quê?

Tentei encara-lo e pronunciar aquelas exatas palavras, mas Tommy me calou com seus lábios. E desviou minha atenção com seu corpo.

Minha pergunta ficou sem resposta, pelo menos aquela noite.

Pois Tommy estava certo, tínhamos coisas bem mais interessantes do que falar sobre Oliver.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu realmente espero que tenham gostado, fiquei um pouco insegura se deveria ou não postar a fic, mas acabei optando por postar. Deixem-me saber o que vocês acharam, venham conversar comigo nos comentários.

Xoxo, LelahBallu.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "R U Mine" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.