Just Take Me Home escrita por gabimts13


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

O projeto BS sorteou aleatoriamente uma música da Taylor Swift e um gif do universo de Crepúsculo com o objetivo de escrever sobre o tema aniversário tendo esses dois elementos como guia.

O combo de inspiração para esta história foi:
?” Tema: Aniversário
?” Música: Style, da Taylor Swift.
?” GIF: Bella em Eclipse contando para o Charlie que é virgem.

Eu amo Taylor Swift e Crepúsculo com todo meu coração, quando soube desse projeto foi quase como se ele tivesse sido feito exclusivamente para mim. Amei escrever uma história baseada em uma das minhas músicas favoritas e que nos mostra o quanto uma relação pode ser complexa. Obrigada @asatwilight por betar e pela capa linda!

Espero que gostem, boa leitura!



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BPOV

Parte 1: Midnight, you come and pick me up, no headlights/ Long drive, could end in burning flames or paradise/ Fade into view, it's been a while since I have even heard from you/And I should just tell you to leave 'cause I know exactly where it leads/but I watch it go round and round each time.

Hoje é sexta feira, 12 de setembro. Eu voltei para Forks para passar o fim de semana do meu aniversário com meu pai. Nós jantamos no restaurante preferido de Charlie, como uma comemoração antecipada, pois amanhã sairei para comemorar com alguns amigos. Eu não sou uma grande fã de festas, mas nos últimos meses eu não tenho estado na minha melhor fase e Alice disse que talvez uma festa fosse me animar. Apesar de não estar totalmente convencida do plano dela, resolvi dar uma chance... eu preciso urgentemente me distrair.

Assim como eu, Alice também é de Forks e estuda em Seattle, mas ela cursa Arquitetura na Universidade de Washington, e eu estudo Moda na Pacific Seattle University.

Quando eu era mais nova, eu não pensava muito sobre o que vestir, como qualquer criança, desde que fosse confortável e prático para brincar, estava satisfeita. Minha mãe, Renée, por outro lado adorava brincar com diferentes tecidos e estampas. Se vestir era verdadeiramente uma fonte de diversão para ela, e eu me divertia apenas vendo-a escolher diferentes composições.

Mas quando eu tinha 13 anos, uma tragédia nos atingiu. Renée foi vítima de um acidente de carro e não resistiu aos ferimentos. Naquele instante meu mundo desabou, mas mesmo não estando presente fisicamente, minha mãe sabia exatamente o que fazer para melhorar meu ânimo e me fazer sorrir.

Alguns dias depois do funeral de Renée, Charlie me contou que em algumas dessas conversas sobre o que fazer na hipótese de alguns deles partir cedo demais, Renée havia comentado que queria que suas roupas preferidas ficassem comigo.  

Renée me deixou suas peças mais amadas, talvez para eu usá-las ou talvez porque ela sabia que eu a veria naqueles tecidos e, por consequência, a sentiria perto de mim. A verdade é que cada item que sobrou do seu guarda-roupa era, sem sombra de dúvidas, sua essência.

E foi aí que eu entendi por que roupas, e como nós as usamos, eram tão importantes para a minha mãe, elas eram uma outra forma de expressar o que somos. Depois disso, não só comecei a me aventurar nas minhas próprias escolhas de figurino como também comecei a me interessar por moda, tecidos, combinações e tudo mais que envolve esse universo. A princípio, era por pura curiosidade e diversão, mas à medida que fui crescendo e precisava escolher um curso na faculdade, passei a enxergar Moda como uma possível carreira.

De início, Charlie ficou preocupado com minha escolha, sem saber como essa indústria funciona, ele não achava que eu conseguiria estabilidade financeira nesse ramo., mas ele também entendia de onde vinha meu amor pela moda e sabia que seguir esse caminho era uma forma de manter a memória de Renée viva.

Faz algumas horas que voltamos do restaurante e embora jantar com meu pai tenha sido uma boa forma de desviar meus pensamentos dele, infelizmente não foi uma forte o suficiente. Sabendo que o sono hoje não vai chegar fácil, estendo o braço e pego meu celular na mesa de cabeceira ao lado da cama e abro uma rede social.

Estou tão concentrada olhando a vida de outas pessoas que tomo um susto quando a barra de notificações do celular aparece na tela: Cheguei. Não preciso olhar o nome para saber quem me enviou a mensagem. Eu penso seriamente em não descer, já tem um tempo que a gente não se vê e que eu não tenho notícias dele. Seria mesmo mais responsável da minha parte mandá-lo embora já que eu não sei exatamente o que ele quer.

Quem eu quero enganar? Eu sei exatamente onde isso vai dar.

Aceitando o fato de que não consigo e nem quero resistir a ele, troco o pijama por uma roupa confortável, mas aceitável de ser vista pela sociedade. Eu amo me produzir, mas já tinha feito isso para o jantar mais cedo e agora só seria perda de tempo. Pego meu celular e uma bolsa pequena com meu documento de identidade e algum dinheiro e saio de casa rumo ao que pode ser meu inferno ou o paraíso.

Agora é meia-noite e o carro dele, um Volvo prata, está parado na frente da minha casa com os faróis desligados. Se fosse qualquer outra pessoa, em qualquer outra circunstância eu nem teria cogitado sair a essa hora, mas é ele.  Me aproximo do carro rapidamente e abro a porta. Dou de cara com os olhos verdes que assombram e abençoam meus sonhos. Sento e enquanto coloco o cinto de segurança, pergunto:

— Pra onde a gente vai?  

— Minha casa.

Sinto a garganta seca. E sei que é um pouco de nervosismo, mas também é expectativa, o tipo bom de expectativa. Eu aposto que se ele  se concentrar bem,  pode ouvir meu coração acelerando. Eu acho que ele sabe como me sinto, e o fato dele estar aqui me faz pensar que talvez ele sinta o mesmo.  

Olho pela janela e lembro da noite em que nos conhecemos.

[Flashback]

Alice tinha feito um esforço enorme para me levar naquela festa. Não é que eu não goste de festas, mas naquela sexta-feira de janeiro eu não estava no clima.

— Vamos, Bella – Alice me pediu pela quinquagésima vez – eu conheci esse carinha na biblioteca e ele falou que estaria na festa de hoje.

— Alice, não estou com muita vontade!

— Por mim, Bella, eu fico te devendo uma – Ela implorou.

— Arghhh, tudo bem, mas eu vou te cobrar depois!

— Melhor amiga do mundo!! – Alice disse me abraçando enquanto eu revirava os olhos.

Apesar de ter feito um charme para aceitar, agora que eu iria, ia aproveitar a oportunidade para me produzir, às vezes eu me divertia mais montando meus looks que na festa de fato. Hoje era dia de minissaia e batom vermelho, eu queria a autoconfiança que só aquela peça e aquela cor me trariam.

A festa era numa casa de fraternidade e, apesar de ser uma casa grande, estava lotada, aparentando ter mais gente do que sua capacidade permitia. Alice encontrou o carinha da biblioteca, Jasper, em menos de 15 minutos e já estava sumida há um bom tempo. Eu estava sozinha me distraindo olhando as pessoas e analisando suas roupas. E foi quando eu o vi.

Ele passou pela porta da casa e eu juro que todos ali o olharam. Eu soube imediatamente que quem quer que ele fosse, era o tipo de pessoa que você não consegue desgrudar os olhos, que chama atenção para si sem querer, que atrai olhares e sussurros sem pedir. E eu não fui imune ao seu charme, em segundos estava totalmente vidrada nele. Ele apareceu naquela festa com seu rosto anguloso e bem desenhado, o cabelo cor de cobre, usando calça jeans, uma camiseta branca e uma corrente longa prata com um pingente. Ele tinha um ar confiante de quem sabia que era sempre notado. Eu apostei comigo mesma que ele deveria ser arrogante. Ele tinha todos os motivos pra ser.

Eu não sou nada como ele. Eu não me acho feia, é só que pele pálida e cabelos e olhos castanhos não são considerados nada extraordinários. Eu sei que eu sou comum e, para o bem ou para o mal, pessoas comuns não chamam atenção. Exceto, aparentemente, naquele dia.

Balançando a cabeça, desviei os olhos do estranho hipnotizante e me concentrei nas portas de vidro que davam passagem para o jardim no fundo da casa. Eu estava encostada na bancada da cozinha posicionada estrategicamente para observar tudo e todos. Senti uma presença ao meu lado e um segundo depois uma voz suave falou:

— Hey, tudo bem? – me virei com a total intenção de dispensar quem tinha falado, mas era ele, o cara bonito da camiseta branca, sorrindo. E seu sorriso era de tirar o fôlego. Eu queria poder dizer que não tinha sido afetada pela sua presença, mas estaria mentindo.

— O-oi. – foi tudo que minha mente embaraçada conseguiu pensar.

— Eu me chamo Edward Cullen – ele falou estendendo a mão.

— Isabella Swan, – falei segurando sua mão e decidindo naquele instante que gostava muito da temperatura, da textura e da sensação da mão dele na minha. – Mas todos me chamam de Bella.

— E com motivo – ele falou dando uma piscadela e soltando minha mão. Eu revirei os olhos, ele riu e eu sabia que a piada tinha sido feita já sabendo que ia soar cafona. – Prazer te conhecer, Bella. Desculpa o trocadilho, foi mais forte que eu.

— Sempre é – respondi dando de ombros, a verdade é que eu já nem ligava tanto.

— Te vi aqui sozinha e pensei em dizer um oi... quer uma cerveja? – Ele falou e o sorriso continuava lá. Um forte candidato a ser meu ponto fraco nesse rosto perfeito.

— Desculpa, não posso, ainda tenho 20 anos – a verdade é que eu já bebia sim, mas naquele momento não queria meus sentidos mais bagunçados. Eu descobri que olhar em seus olhos (verdes!) já me deixava tonta.

— Sem problemas, um refrigerante então? – perguntou ainda com um sorriso e baixei mais o olhar até sua corrente. O pingente era um avião de papel.

— Pode ser, obrigada. – falei ainda sem entender exatamente o que estava acontecendo. Edward saiu para buscar as bebidas e Alice resolveu aparecer e me tirar do transe em que me encontrava.

— Bellaaa, te achei!! – Alice era naturalmente animada, mas julgando pelo tom que ela usou e pelo abraço empolgado que me deu, eu sabia que ela já estava animada demais.

— Você deu uma bela sumida, hein? Eu fiquei aqui abandonada... – as vezes eu gostava de fazer um drama.

— Abandonada?? Eu bem vi você falando com um ruivinho, não vem me enganar não.

— Sim, mas eu não estava planejando conhecê-lo, eu poderia muito bem estar sozinha agora.

— Desculpa, amiga, eu vou ficar com você agora já que...

Mas não consegui prestar atenção na justificativa de Alice, pois naquele momento vi Edward voltando com as bebidas.

— Aqui, Bella, Heineken pra mim, Coca-Cola para você – ele falou enquanto me passava uma latinha.

— Brigada – eu disse e quando olhei de volta para Alice ela estava olhando para nós com os olhos apertados. Melhor apresentar de uma vez.

— Alice, esse é Edward Cullen. Edward, essa é Alice. – Alice acrescentou:

— A Bella não soube me apresentar direito, eu sou a melhor amiga dela, muuuito importante na vida dela, o tipo de amiga que você precisa agradar se quiser se aproximar e manter contato com ela.

Apesar de eu ter certeza que Alice falou brincando, vi Edward ficar tenso por um segundo. Depois ele relaxou e estendeu a mão para ela. – Um prazer te conhecer, Alice, tenho certeza que ainda vamos nos ver mais vezes.

Alice olhou nos olhos dele por alguns instantes como se quisesse confirmar o que ele tinha dito, quando pareceu satisfeita, soltou sua mão e se virou para mim. – Bella, você ainda quer que eu fique com você ou...

— Não, tudo bem, Jasper deve estar sentindo sua falta – respondi rápido – a gente se fala por mensagem pra se achar na hora de ir embora? – perguntei querendo confirmar que voltaríamos juntas para casa.

— Siiim, não esquece de mim!!

— Eu?? Mais fácil você me largar aqui, não seria a primeira vez...

— Não sei não, – ela falou e puxando meu braço, falou baixo no meu ouvido – ele parece bem interessado, e você também. - Infelizmente além de naturalmente animada, Alice também era naturalmente perceptiva.

— Vai ficar tudo bem, pode ir – digo dispensando-a. Com um último aceno ela foi embora.

— Então, Bella, Alice era o motivo de você estar sozinha hoje? – Edward pergunta com um tom divertido.

— Sim, ela insistiu pra vir porque queria encontrar esse cara, – expliquei – mas amigas são pra isso mesmo, e eu só cumpri o meu dever. Ela faria o mesmo por mim.

— Bem, fico feliz que ela te convenceu a vir, de outra forma eu não teria te conhecido. – Ele falou com uma intensidade que me deixou sem palavras por alguns segundos.

— Eu não vou admitir pra ela, e por favor não conte, mas eu também estou feliz de ter vindo. – falei quase hipnotizada.

A partir daí a conversa com Edward fluiu como nunca havia acontecido. Descobri que tínhamos gostos parecidos para livros, filmes e música. 

— Eu acabei não perguntando antes, mas você cursa o que? – falei entre um gole e outro.   

— Música, meu instrumento principal é o piano, mas eu amo violão e guitarra e sempre tento aprender algum instrumento novo quando tenho a oportunidade. – Ele falou e eu vi o brilho nos seus olhos quando ele falava sobre o assunto. – E você?

— Moda – respondi sorrindo automaticamente, eu sempre lembrava da minha mãe. – Me intriga o porquê das pessoas se vestirem como se vestem, o que elas querem expressar quando usam uma determinada peça, se tem uma história por trás... assim que descobri que poderia estudar isso e fazer uma carreira, nunca mais quis outra coisa.

— É quase uma arte, certo? Não é muito diferente de música, as duas são usadas para mostrar o que você pensa e sente... parece que até nisso a gente combina.

Edward se aproximou mais ainda de mim e, notando que ele era pelo menos 20cm mais alto que meus 1,64cm, tive que erguer a cabeça para poder olhar em seus olhos.

Com a mão direita, ele colocou delicadamente meu cabelo para trás do meu ombro e depois a apoiou no meu pescoço, acariciando minha bochecha com o polegar, a outra mão segurou minha cintura com um mínimo de pressão. E então ele beijou minha bochecha, e logo em seguida minha boca e aprofundou o beijo. Naquele momento ele arruinou todos os outros beijos da minha vida. 

***

Volto do meu devaneio e Edward está olhando para mim. Ele aproxima o rosto do meu e me beija como se soubesse o que eu estava pensando.

— Senti sua falta – ele fala com o rosto ainda perto do meu, olhando nos meus olhos, tão perto que sinto sua respiração quase como se fosse a minha. Olho para baixo, um erro porque minha visão agora é da sua boca, e admito: - Também senti a sua.

Ele se afasta e volta a se encostar no banco. Dá partida no carro e apenas alguns minutos depois de começar a dirigir ele vira a cabeça na minha direção.

— Olhos na estrada, Edward. – Falo séria, porque pode ser perigoso, mas também porque estou tentando não ler muito dessa situação. Já é difícil resistir a ele sem seu olhar em mim. Quando ele me encara muito, eu perco qualquer mínima vontade que tenho de me afastar. E lembro que desde o começo foi assim.

[Flashback]

Depois do dia que nos conhecemos na festa, Edward e eu nunca mais paramos de nos falar. A atração que sentíamos um pelo outro era constante, mas também tínhamos um senso forte de amizade que me confundia e me fazia questionar a natureza da nossa relação.

Na minha percepção, qualquer rótulo mais sério poderia interferir com o que éramos e eu não queria perder a facilidade do que tínhamos. Edward era bonito demais, popular demais e eu achava que ele não assumiria um namoro comigo, uma amizade com seus benefícios era diferente do compromisso de um namoro. E ainda se assumisse, sempre correríamos o risco de nos separar. E eu o perderia para sempre.

Ele também nunca deu nenhuma indicação de que queria oficializar o que quer que a gente tinha e para mim era um sinal claro de que as coisas não iam evoluir. Mas o que nós tínhamos era suficiente, pelo menos eu achava que era na época. Tinha carinho, risos e apoio entre nós, e bastava.

No começo de março, estávamos no carro de Edward a caminho de Forks. Eu tinha combinado de passar o fim de semana com Charlie e achei que era uma boa ideia apresentar os dois já que Edward tinha se tornado uma parte importante da minha vida.

— Sabe o que eu queria? – Perguntei quando estávamos entrando na cidade e sabendo que tinha um posto de gasolina perto.

— O que? – ele falou ainda olhando para frente.

Cinnamon rolls.

— Ok, onde a gente compra? – Edward quase nunca questionava meus pedidos aleatórios e fazia seu melhor para conseguir o que eu queria.

— Bem ali – falei apontando para a loja de conveniência atrás do posto.  

Entramos e Edward resolveu que já que estávamos por lá era melhor comprar outras comidas também. Foi quando estávamos pegando uma lata de Pringles que ouvi:

— Bella Swan?

Eu conhecia aquela voz irritante que me perturbou durante todo o ensino médio.

— Oi, Jessica. Tudo bem? – Perguntei, mas vi que ela tinha seus olhos fixos  em Edward.

— Tudo ótimo – Jessica respondeu ainda olhando para ele – Parece que as coisas andam muito bem pra você também.

É exatamente por isso que eu achava difícil manter o mínimo de contato com Jessica, qualquer comentário que ele tinha a fazer soava mal intencionado.

— Sim, sim. – Falei tentando dispensá-la – Olha, foi muito bom te ver, mas eu tô com pressa...

— Não vai apresentar seu amigo não?

Sabendo que ela não ia deixar passar em branco, achei melhor fazer a vontade dela.

— Jessica, esse é Edward, Edward, Jessica. – Tive certeza que Edward sentiu que eu não era fã de Jessica quando ele simplesmente acenou com a cabeça enquanto Jessica estendia a mão. Três segundos mais tarde, ela percebeu que ele não a cumprimentaria com mais que isso e para disfarçar passou a mão no cabelo. Foi difícil segurar a gargalhada na hora.

— Já pegou tudo que a gente precisava, Bells? – Edward falou colocando o braço que não segurava a comida por cima dos meus ombros e me virando em direção ao caixa.

— Sim, vamos embora. – Eu ainda sentia o olhar de Jessica em nós. Ela que pense o que quiser.

Pagamos pela comida, e de volta ao carro, retornamos à estrada. Depois de alguns minutos dirigindo, notei pela primeira vez que ele tirou os olhos da estrada para olhar pra mim. Fiquei presa nos seus olhos por alguns segundos que pareceram muitos minutos, até que olhei para frente.

— Edward, sinal vermelho!! – falei com um pânico na voz. Ele freou imediatamente e a parada brusca fez nossos corpos chacoalharem no banco.

— Você tá bem? – Ele perguntou preocupado.

— Sim, e você?

— Também.

Ficamos em silêncio por segundos até nos darmos conta do ridículo da situação. E então começamos a rir.

— Que susto, Edward!

Eu percebi ali que seus olhos também eram minha ruína.

***

Balanço a cabeça para me livrar do pensamento e olho para o lado esquerdo. E como, aparentemente, ele nunca aprende, seus olhos estão em mim de novo. A imagem do seu rosto desesperado depois de frear bruscamente naquele dia me faz querer sorrir.

— E esse sorriso? – ele pergunta e noto que de fato estou sorrindo.

— Eu lembrei daquele dia que a gente veio em Forks, quando você desaprendeu a dirigir – falo rindo, ele sabe que sempre que tiver a oportunidade, vou trazer esse tópico à tona.

Ele volta a olhar para a estrada, mas não sem antes eu vê-lo revirando os olhos.  

— Você nunca vai esquecer isso, não é? – Ele pergunta, mas sorri enquanto balança a cabeça, então sei que ele não está realmente chateado.

— Foi divertido, depois que passou o susto.

— Você me distraiu. Você sabe que eu sou atento no trânsito – Ele fala agora olhando para frente, e sinto que ele tem um ponto a provar.

— Não vem colocar a culpa em mim não, você não prestar atenção no caminho foi escolha sua.

— Eu estava preocupado, te olhei pra verificar se você estava bem depois de ter encontrado aquela chata. – Ele diz enquanto se vira pra me olhar rapidamente nos olhos e dessa vez sei que ele falou sério.

— Tudo bem, eu aceito essa justificativa. – Falo um pouco arrependida de ter feito graça, já não parece tão divertido provocá-lo – Mas e agora? Não tem motivo nenhum pra você estar preocupado.

— Agora? – Ele olha pra estrada, respira fundo e olha de novo pra mim – Agora eu só não consigo tirar os olhos de você. Faz um tempo que eu não te tinha assim tão perto, e eu quero apreciar cada segundo possível.

Ele desvia o olhar e, como mágica, sou liberada do seu feitiço, a mente voltando a fervilhar com memórias.

 [Flashback]

Naquele dia em que visitamos Forks, depois de passarmos na conveniência resolvemos passear pela cidade e eu apresentaria Edward a Charlie no dia seguinte. Eu tinha acabado de fechar a porta de casa, e quando me virei Charlie estava na minha frente.

— Ahhh, que susto, pai! – Comentei colocando a mão no coração e respirando fundo.

— Desculpa, filha, eu não queria te assustar...

— Tudo bem, tem algum motivo pra você tá aqui me esperando? – Charlie não era o tipo de pai que pegava muito no meu pé, mas do jeito dele, demonstrava preocupação.

— Sabe, Bella – ele falou desconfortável – eu ouvi uma história que você tá namorando...

Inacreditável! menos de 24 horas que eu pisei na cidade e a notícia, falsa, diga-se de passagem, já se espalhou!

— Sabe, pai, a gente não deve acreditar em tudo que escuta... – disse um pouco desconfiada com esse tópico que ele escolheu para discutir.

— Hum...

— Pai, você tem mais alguma coisa específica pra falar? – Ele começou a conversa, mas agora parecia nervoso, até corado.

— Eu queria falar com você sobre a importância de se proteger, filha.

— Eu sei pai, você me deu até aquele spray de pimenta, me fez fazer umas aulas de autodefesa... 

— Isso também Bella, mas eu quero dizer outro tipo de proteção. – Ele desviou os olhos de mim, olhando para o chão. - Uma que envolve pessoas, geralmente, apaixonadas...

E então me deu um click: Charlie desconfortável, proteção, pessoas apaixonadas.

— Ah não pai, por favor não me diz que você tá tentando ter “a conversa” – pelo meu tom ele TINHA que saber a que conversa eu estava me referindo.

— Filha, é meu dever de pai. No mundo ideal, eu também escolheria não tocar nesse assunto.

— Então vamos fingir que é o mundo ideal. – POR FAVOR!!

— Mas agora você tem um namorado e pelo visto chegou o momento. – Charlie falou sério, sua persona de policial se apropriando do assunto.

— Pai, me escuta, como eu explico isso?! Talvez você não precise se preocupar tanto. Eu ainda não saí do mundo ideal que você criou.

Ele me olhou confuso.

— Eu sou virgem pai. – Falei rápido como quem puxa um band-aid. Quando tive coragem de olhar o rosto dele, vi o sorriso aliviado. Eu aposto que se pudesse ler na sua mente encontraria algo como “essa é minha garota!”. - Eu posso ir agora? A gente vai morrer de constrangimento, pai – implorei.

— Tudo bem, tudo bem. – Ele disse me dispensando.

Jessica Stanley você me paga!

No dia seguinte Edward veio até nossa casa para o almoço, ele tinha dormido no dia anterior na casa dos pais dele em Port Angeles. Eu tinha feito a lasanha favorita de Charlie na esperança de amansá-lo, eu não apresentaria Edward como meu namorado, mas meu pai é observador e eu não sabia o que ele ia ler da nossa amizade. 

Edward chegou pontualmente às 13h e ao abrir a porta de casa vi que ele parecia nervoso.

— Tá tudo bem Edward? – perguntei antes que ele entrasse – Você tá meio agitado.

— Eu não quero que seu pai tenha uma impressão ruim de mim.

— Relaxa, Edward – falei puxando-o pela mão – Ele não pega pesado com meus amigos.

Edward soltou minha mãe e passou sua mão no cabelo. Eu sabia que ele tava estressado. Charlie nos encontrou em frente a porta, e olhando de um para o outro limpou a garganta.

— Pai, esse é Edward Cullen, Edward, Charlie – falei enquanto gesticulava com minha mão de um para o outro. Edward estendeu a mão e falou mais tímido do que eu estava acostumada: - Prazer em conhecê-lo, senhor Swan.

Charlie apenas acenou com a cabeça e murmurou algo como “huh”, mas rapidamente apertou a mão de Edward colocando um pouco mais de força que o necessário ao cumprimentá-lo. Eu quis muito revirar os olhos.

— Vamos pra cozinha, a comida já está pronta. – falei tentando quebrar a tensão que eu não sabia que existiria. Charlie virou logo à direita em direção à mesa e quando dei um passo para segui-lo Edward me segurou pelo cotovelo e murmurou no meu ouvido com a voz tensa – Você não disse que ele não pegava pesado? Eu já acho que ele não gosta de mim e eu só tô aqui há 10 segundos.

— Mas é por isso mesmo que ele tá desconfiado, Edward – tentei aclamá-lo, me virando de frente pra ele e segurando sua mão continuei – já já ele vai ver que você é maravilhoso e vai te adorar.

Edward apertou minha mão e vi gratidão em seus olhos – Vem, vamos enfrentar a fera. – disse puxando-o para a cozinha.

— Tomara que ele espere eu acabar o almoço pra me matar, se tudo der errado pelo menos eu morri bem alimentado.

Revirei os olhos, mas não segurei o riso com seu drama. Apesar de não ter sido muito receptivo no começo, meu pai realmente pareceu simpatizar mais com Edward. Falamos sobre a faculdade, a vida em Seattle e ao longo da conversa acompanhei ao vivo o efeito Edward Cullen entrando em ação. Charlie não teria a menor chance contra ele pelo simples fato de que Edward não era simpático só de fachada, ele realmente tinha uma energia boa ao seu redor. Isso e a lasanha. Eu sabia que funcionaria. Como se lesse meus pensamentos, Edward comentou:

— A comida tá uma delícia, Bella, como tudo que você cozinha.

— Minha Bells poderia ser uma chef se quisesse – Charlie falou orgulhoso.

— Obrigada, obrigada! – falei fazendo uma reverência com a cabeça.

— Se ela não fosse tão talentosa com roupas eu a incentivaria a seguir carreira, tenho certeza que teria um restaurante de sucesso – Meu pai continuou.

— Tenho certeza que sim, – Edward concordou e olhando pra mim, disse – mas não se consegue ignorar totalmente sua verdadeira paixão.

Senti meu coração acelerar, será que ele disse o que eu acho que disse? Olhando de novo para Charlie, Edward acrescentou:

— Bella é uma das pessoas mais inteligentes que eu conheço e sempre me impressiona como ela fala apaixonada sobre roupas.

Eu acho que não.

— É, ela puxou a mãe - Charlie falou e apertou minha mão uma vez, sei que é motivo de alegria e de dor o quanto eu lembro Renée.

Depois do almoço, e depois de terem lavado os pratos, Charlie e Edward foram para a sala ver notícias sobre esportes enquanto não começavam os jogos do dia. Eu tinha levantado para pegar mais bebida para nós e ao voltar para a sala ouvi Charlie falando:

— Sabe, Edward, quando ouvi aquela menina Jessica falando que a Bella tava namorando eu fiquei meio desconfiado, mas vou confessar que você não é de todo mal.

Eu gelei, eu achava que tinha corrigido a informação maldosa da Jessica, mas aparentemente não.

— A Bella sempre fala o quanto te admira, Charlie, de como você segurou a barra em casa depois que bem... você sabe.

Meus olhos encheram de lágrimas, parece que Edward prestava mais atenção ao que eu falava sobre minha vida pós acidente da minha mãe do que eu dava crédito a ele. Ele continuou:

— É uma honra pra mim que Bella quis nos apresentar, eu sou muito feliz de fazer parte da vida dela.

Eles ficaram em silêncio e achei que era melhor fazer minha presença conhecida, entrando na sala como se não tivesse ouvido aquela conversa deles, dei a cada um uma cerveja e me sentei no sofá, com minha mente vagando sobre o que eles falaram, já não prestava atenção no que passava na TV.

— Namorando é? – Edward perguntou cutucando minhas costelas. Era o fim de uma tarde surpreendentemente agradável. Charlie e Edward se deram bem, conversaram sobre esportes e até, pra minha surpresa, pescaria.

— Para, Edward! – falei empurrando sua mão – Charlie ouviu isso da Jéssica e na correria de sair daquela conversa eu não esclareci as coisas direito. E você podia ter corrigido também!

— Eu fiquei sem graça – Edward falou baixo e me olhou de um jeito intenso – achei que ia ser complicado para o seu pai entender o que a gente é um para o outro.

Naquele momento eu podia jurar que ele queria uma coisa mais séria e, apesar do meu medo de perdê-lo, se eu soubesse que ele estava disposto a tentar, eu também estaria. Mas o olhar que me fez pensar que nós poderíamos ser algo mais foi embora tão rápido  quanto veio.

— Mas é óbvio que um namoro não ia funcionar com a gente. – Ele falou como se não tivesse amassado e pisado meu coração.

Que ótimo, algum cara que Charlie realmente se deu bem e não é (e pelo visto nem quer ser) meu namorado. O problema é que aquele olhar intenso foi suficiente para me dar algo que eu jurei que não sentiria: esperança.

***

Passamos o resto do caminho sem conversar, Edward havia ligado o rádio e uma música de fundo agora embala nossa viagem. A essa altura eu já não sei se temos muito a falar e me pergunto se só o que nos resta é o silêncio. Entre olhar as árvores pela janela e a estrada iluminada pelos faróis a minha frente, divago sobre o que essa noite significa. Meses de cumplicidade e risadas, meses afastados, me sentindo culpada e culpando-o pra depois ele aparecer do nada e me confundir de novo.

O problema é que todas as minhas memórias que envolvem Edward são intensas demais. Nós passamos por momentos felizes e tristes juntos, mas sempre intensos. Crises de riso, choro de frustração, a mão dele segurando a minha quando eu estava nervosa, a cabeça dele no meu colo quando ele estava cansado. 

Por um tempo, mesmo sem termos um rótulo oficial, Edward era uma constância na minha vida. E saber disso só me fazia temer perdê-lo ainda mais. Todos os motivos para me afastar dele estão ligados aos motivos que me fazem querer ficar. Nós éramos felizes juntos e, pela facilidade com que entrei em seu carro essa noite, eu sei que ainda podemos ser. E isso me assusta.

[Flashback]

Mesmo tendo passado meses praticamente juntos o tempo todo, no fim de abril Edward começou a agir estranho. E, não sei, achei que depois de ter conhecido Charlie talvez algo mudasse, eu queria que mudasse. E de fato mudou, mas para pior. Cuidado com o que você deseja.

Por um tempo os telefonemas ficaram mais curtos, as mensagens de texto menores, e os pedidos para remarcar as vezes que nos encontraríamos, mais frequentes.

E então, gradualmente, paramos de nos falar. Eu o havia perdido sem nem saber o porquê. O mês seguinte foi quieto para mim e eu foquei nas provas e trabalhos finais da faculdade.

Mas o verão chegou e todo o tempo livre me fazia pensar muito nele. O único dia em que me permiti uma dose de Edward foi no seu aniversário, em junho. Enviei uma mensagem de feliz aniversário mandando meus melhores desejos e a única resposta foi um seco “Obrigado.” A parte de mim que ficou feliz pela resposta foi instantaneamente substituída pela parte entristecida com a frieza do agradecimento. Eu decidi então que tinha chegado no meu limite.

Em um final de semana de julho, em Forks, encontrei Mike, um velho amigo da escola, na sorveteria da cidade. Numa conversa morna, ele me chamou para sair e eu achei que uma distração era bem-vinda.

Saímos juntos algumas vezes, jantares, cinemas, uns beijos. Só que por mais que Mike fosse legal ele não exercia um terço da atração que Edward exercia sobre mim. Acabei essa tentativa de romance apenas três semanas depois.

Numa tarde de agosto Charlie perguntou sobre Edward, não foi a primeira vez, mas foi a primeira vez em que eu não tinha uma desculpa convincente. E doeu ter certeza do quanto nos afastamos, doeu também saber que Charlie, do seu jeito discreto, também sentia falta dele.

Uns dias depois eu tinha combinado de encontrar Alice para um café. Ela que acompanhou minha história com Edward desde o início, sabia o quanto o sumiço dele havia mexido com meus sentimentos.

— Bella...

— Sim?

— Hum, você soube que o Edward tava saindo com a Tanya? – Alice me perguntou e logo em seguida baixou os olhos em direção a mesa e tomou um gole do seu café, estávamos nas mesinhas do lado de fora de um restaurante pequeno.

Tanya Denali era uma das meninas mais populares da faculdade de Alice. Ela era loira e bonita e eu realmente não tinha motivos para não gostar dela. Alice disse que das vezes que falou com ela, ela foi simpática e eu percebi que a pontada no meu coração apareceu não por ele ter ficado com ela, mas sim com alguém que não era eu.

— Huum, é mesmo? Eu não sabia. – Respondi tentando soar indiferente.

— Eu não tinha certeza se devia contar, achei que você ia ficar chateada de saber.

— É complicado, Alice, já tem uns quatro meses que a gente não se fala, eu não podia esperar que ele parasse a vida dele.

— E você realmente não liga? – ela falou desconfiada.

— Não é que eu não ligo, Alice – falei jogando todo o autocontrole no lixo – mas é que no nosso caso nunca foi preto no branco, certo e errado. Nós não éramos realmente namorados. Não é justo você me contar isso como se ele não devesse ter saído com ela. Eu saí com o Mike, eu fiz o mesmo que ele.

— Então você tá defendendo o que ele fez? – Ela me perguntou surpresa e erguendo as sobrancelhas.

— Se eu falar que tô defendendo vai soar como se ele tivesse feito algo errado e, Alice, as linhas do nosso relacionamento, se é que você pode chamar assim, sempre foram borradas. – falei já perdendo a paciência e na defensiva – Como eu disse, eu fiz o mesmo que ele.

— Tudo bem, não tá mais aqui quem falou.

Apesar do meu discurso para Alice sobre Edward não estar fazendo nada de errado, imagens dele com outra pessoa não saíam da minha cabeça. Cada cenário possível me entristecia de uma forma diferente. Porque sim, já tinha passado da hora de admitir que por mais que eu tentasse me convencer do contrário, eu sempre o quis só para mim.

Parte 2: I say "I've heard that you've been out and about with some other girl, some other girl"/He says "What you've heard is true but I can't stop thinking about you and I”/I said "I've been there too a few times".

Levamos mais ou menos 1h para chegar em Port Angeles. Quando Edward diz casa, ele quer dizer a casa em que cresceu, e minha velha conhecida.

— Seus pais? – pergunto no caminho entre o carro e a casa. Ele passa o braço por cima dos meus ombros, me trazendo pra perto.

— Não estão aqui – ele responde com um sorrisinho de quem não quer entregar seus segredos.

Como em toda boa amizade, eu conheci os pais de Edward nos meses em que estávamos mais próximos. Esme e Carlisle Cullen eram a representação perfeita de um casal apaixonado e feliz. Edward me falava que eu não devia me deixar enganar, que eles tinham seus momentos de discordâncias e estresse, mas eu sabia que eram poucos e curtos.

Já na primeira vez que nos vimos, nessa mesma casa, eles me receberam de braços abertos. E era uma piada interna constante que os pais de Edward  gostavam mais de mim do que dele.

Partiu meu coração me afastar dos dois, outra injustiça com a saída de Edward da minha vida, eu tinha me acostumado com o carinho dos pais dele. Esme e eu frequentemente trocávamos mensagens sobre as coisas mais banais, mas também sobre coisas importantes. Em pouco tempo ela se tornou uma pessoa com quem eu podia confiar, uma figura materna que dava ótimos conselhos.

Entramos na casa e, ainda com as luzes apagadas, ele tira a jaqueta e a pendura atrás da porta. Como pode uma ação tão mundana se transformar em um movimento quase sensual? Ele pega minha mão e me puxa em direção ao sofá, sentamos e ele ainda segura minha mão, embora não esteja tão perto. A curta distância parece maior e eu me pergunto se ele se arrependeu de ter me trazido aqui.

— Bella, você quer alguma coisa para beber? – ele pergunta e eu estranho a formalidade em sua voz.

— Uma água, por favor – eu me encolho internamente, mais um pouco e vai parecer que estamos num restaurante. E eu não estou falando sobre estarmos em um encontro.

Ele vai até a cozinha, abre a geladeira e inclinando a cabeça olha atentamente para algum item que não consigo ver. Ele dá um sorriso carinhoso para o quer que esteja olhando, pega o item e depois de fechar a geladeira vem na minha direção com os dois braços atrás do corpo.

— Queria muito dizer que a ideia foi minha, mas... – ele coloca uma lata de chá gelado na minha frente – já estava aqui quando eu cheguei.

— Esme?

Edward odeia chá gelado. Ninguém na casa dele gosta de chá gelado, na verdade. Mas Esme sempre fazia questão de ter pelo menos uma lata em casa quando eu vinha aqui, o que me faz me perguntar se ela sabia que algum dia eu voltaria.

— Quem mais? Ela não perde a oportunidade de te mimar – ele revira os olhos.

— Eu sempre soube que sou a favorita – falo dando uma piscadinha. Edward demora seu olhar em mim e em seguida balança a cabeça de leve.

Tomo meu chá gelado e o silêncio na sala começa a me deixar nervosa. Não é o silêncio em si, lembro de outros momentos em que nos sentamos confortáveis sem falar, apenas curtindo a companhia um do outro. Mas o silêncio de agora é tão tenso que é quase palpável. Eu me recuso a aceitar que nos reduzimos a isso.

— Edward, por que...

— Bella, eu...

Nós falamos ao mesmo tempo e ele faz um gesto com a mão para eu falar primeiro.

— Por que você apareceu hoje? – de tantas perguntas possíveis, resolvo começar com a que parece ser mais lógica.

— Eu já falei, senti sua falta. – Ele fala e se aproxima, seu polegar faz círculos nas costas da minha mão e ele está olhando nos meus olhos. Sei que ele está sendo sincero, mas também sei que esse não foi o único motivo.

— Você sentiu minha falta só agora? – pergunto baixo, estou com medo da resposta.

— Eu sinto sua falta sempre – ele diz sem hesitar.

— Então por que só agora? Eu achei que... sei lá, você não se afastaria por tanto tempo, que a gente tinha algo especial. – Falo desviando o olhar. É difícil admitir isso sem saber como ele vai reagir.

— Você é, sempre foi especial pra mim, Bella.

Por um momento a saudade que senti dele é mais forte que eu e o abraço, meus braços envolvem sua cintura e minha cabeça está acomodada em seu peito. Os braços dele estão por cima dos meus ombros e ele beija minha cabeça. Me sinto em casa, lembro da nossa amizade fácil e nesse momento esqueço que não nos falamos há meses.

Mas a conversa com Alice volta à minha mente.

— Ouvi que você tava saindo com alguém? – falo, me afastando do seu abraço, mas pareceu uma pergunta.

— É verdade. - Ele confirma e meu coração perde o compasso.

— Eu também saí com outra pessoa. – Olho para o chão. Não quero que ele veja a culpa nos meus olhos e não quero me sentir culpada.

— Eu conheço?

— Mike Newton, a gente estudou juntos no ensino médio.

Depois de um tempo em silêncio, pergunto para confirmar a informação: – Tanya?

— Sim.

— Por quê? – pergunto

— Eu acho que eu tava tentando te esquecer.

— E deu certo?

— Não, eu não conseguia parar de pensar em nós.

— Eu sei exatamente o que você quer dizer.

Edward se aproxima e fecha a distância entre nós num beijo que só pode ser descrito como desesperado, uma mão segura minha nuca e sinto seus dedos em meu cabelo, seu outro braço envolve minha cintura me trazendo impossivelmente mais perto. Meus braços se encontram atrás do pescoço dele e quase por instinto monto seu colo. Nossos corpos se conhecem bem, mesmo depois de tanto tempo separados.

Ele para o beijo pra recuperar o fôlego, mas sua testa está colada na minha. – Eu realmente senti sua falta. – ele sussurra. – A gente devia ter feito isso antes.

Edward Cullen é possivelmente a pessoa mais frustrante que já conheci na minha vida. Do jeito que ele fala parece que eu fui conivente com seu sumiço. Eu também senti a falta dele, mas ele se afastou por escolha própria, por razões que até agora só ele sabe, razões que ele nunca se importou em me explicar.

— Por que você parou de falar comigo? Eu nunca parei de gostar de você – falei na minha tentativa de conseguir respostas.

— Eu não sei se tenho uma explicação boa o suficiente pra justificar o que eu fiz, agora eu sei que foi errado.

— Isso não esclarece nada, Edward. – Falo e sinto meus olhos encherem de lágrimas de frustração.

— Eu não estava pronto para assumir algo mais sério e eu devia ter dito.

— E por que não disse?

— Eu achei que me afastar era a melhor forma de não te magoar a longo prazo. Eu nunca me achei bom o suficiente pra você.

— Mas a gente passou meses juntos, isso não faz o menor sentido – não consigo mais segurar as lágrimas. – Eu também achava que você merecia mais, e nunca pensei em simplesmente parar de falar com você.

— Desculpa, Bella, eu... – mas antes que ele termine suas desculpas me levanto do seu colo e ando de um lado para o outro na frente do sofá, preciso da distância pra pensar melhor. Junto com o sorriso e os olhos, o calor do corpo dele sempre me distraía.

— Sabe, o pior é eu não posso te culpar totalmente, não de verdade. Eu notei você se afastando e não fiz muito para impedir. Eu só queria que você tivesse me dito. Eu merecia uma explicação, senão por outra coisa, pelo menos pela nossa amizade.

— Eu sei, Bella, foi errado e eu devia ter lidado melhor com isso, mas eu me senti sobrecarregado com tudo e a coisa mais lógica parecia ser me afastar.

— Doeu muito te perder, Edward, mas doeu mais o fato de você não ter sido honesto comigo sobre o que estava sentindo. Eu ia entender você não estar mais gostando de mim, ia magoar, mas eu ia entender.

— Mas a questão é essa, Bella, eu não estava parando de gostar de você, – ele fala com aquele olhar intenso que me faz ofegar – eu estava completamente apaixonado.

Paro de andar e só consigo pensar na bagunça que nós somos. Levo as mãos ao rosto e massageio minhas têmporas como se pudesse aliviar a dor de cabeça que é essa situação.  

— Uma boa conversa teria poupado essa confusão toda.

Ele dá de ombros e acho que chegamos a um acordo implícito de que ambos cometemos erros.  

— Talvez não fosse nossa hora antes. – Ele fala reflexivo.

— Talvez nossa hora já tenha passado.

Edward franze a testa como se não esperasse minha declaração. Não sei muito bem o que me fez dizer isso, mas toda essa conversa me faz pensar que se não conseguimos nos entender quando estávamos mais próximos, não ia ser agora depois desse tempo afastados que acertaríamos. Eu sei que meus sentimentos por ele são reais, e estão presentes como nunca, mas isso inclui meu medo de perdê-lo de novo.

— O que você quer dizer? – ele finalmente pergunta.

— A gente acabou se machucando tanto, Edward, e eu sei que nenhum de nós queria isso.

— Então eu te magoei tanto indo embora que perdi minha chance de vez?

— Eu não sei... é complicado. – Respiro fundo – E cansativo. Eu acho melhor eu voltar pra casa. Eu vou chamar um taxi.

— Eu te levo, Bella. – Ele diz e seus ombros curvados, os cotovelos apoiados nas pernas e as duas mãos segurando a cabeça. A derrota dessa noite traduzida na sua postura. Eu não sei o que ele esperava hoje, mas com certeza não era isso.

— Mas é quase uma hora de viagem e já tá bem tarde, Edward.

— Eu faço questão, pelo menos vou saber que você chegou segura.

— Certo, obrigada – falo olhando para o chão, levanto a cabeça e, ao encarar seus olhos verdes, desejo ter a coragem de falar: Como eu vou saber que você chegou bem?

Menos de uma hora depois, ele para o carro em frente à minha casa, viro meu rosto em sua direção ele está com as duas mãos no volante, olhando para frente.

— Edward? – chamo seu nome sem saber exatamente o que quero dizer. Ele só me olha e sei que apesar de ter dito que talvez nossa hora tivesse passado, ainda não estou pronta para perdê-lo novamente – Eu vou te ver amanhã?

Ele apenas acena com a cabeça e o fato dele não ter emitido uma confirmação verbal me quebra mais um pouco.

Só quando entro no meu quarto um minuto depois é que percebo que ele foi embora e não me desejou um feliz aniversário.

Parte 3: Take me home/Just take me home.

Depois do que pareceu ser a noite mais inquieta da história, acordo e, ainda deitada, apenas olho o teto por alguns minutos. Imagens da noite passada invadem a minha mente e me pergunto se foi o nosso fim. O nosso fim de verdade. Ótimo presente de aniversário, Bella. Parabéns.

Sabendo que continuar na cama pensando besteira não vai mudar nada do que foi dito ontem, me preparo para enfrentar o dia. Meu compromisso é só à noite, no bar, mas minha cabeça está cheia demais para apenas ficar em casa até chegar a hora de ir.

Desço as escadas rumo à porta, mas antes que eu decida aonde ir, uma foto ao lado da televisão chama minha atenção. Não é a primeira vez que a vejo, mas é a primeira vez em algum tempo. Pego a foto para examinar mais de perto e tento absorver os detalhes, é uma foto dos meus pais no dia do casamento deles, Renée está com um vestido branco longo de mangas bufantes e Charlie está com uma camisa branca, gravata e terno pretos. Eles estão em frente à igreja e se olham sorrindo, tão apaixonados que me emociono só de olhar.

— Foi um dos dias mais felizes da minha vida – me assusto um pouco com a voz atrás de mim.

— Achei que você não tava em casa, pai – falo me virando para olhá-lo.

— Eu acabei de voltar... Feliz aniversário, Bells – ele fala e me abraça.

— Um dos dias mais felizes? – pergunto – o outro foi quando eu nasci né?

— Claro que foi, você era minúscula, mas já lembrava tanto sua mãe - Charlie não é exatamente emotivo, mas aniversários são sempre um lembrete que o tempo está passando e não a temos por perto, não fisicamente pelo menos. – Cada dia lembra mais.

Ele me dá um aperto final e me solta. Seus olhos se voltam para a foto que ainda estou segurando.

— Você sabia que quando eu pedi sua mãe em namoro ela não respondeu e sumiu por uma semana? – ele pergunta se sentando no sofá.

— O quê?? Por quê?

— Uhum, nós sempre fomos amigos e quando eu finalmente tomei coragem, ela me ignorou – ele fala essa última parte com um sorriso.

— E o que fez ela mudar de ideia?

— Eu fui na casa dela decidido a fazer ela mudar de ideia, preparei um discurso, e você bem sabe que eu não sou de falar muito, mas por ela, eu faria, e ai quando ela abriu a porta... eu nem precisei falar nada. Ela me abraçou e disse que aceitava. Disse que ficou com medo de estragar nossa amizade, mas depois de um tempo pensando resolveu que eu valia o risco.

Me prendo a cada palavra que ele fala, eu nunca soube disso, eles sempre me falavam que estavam juntos desde a escola então eu deduzi que nunca houve dúvidas entre eles.

— E aí ela pediu pra eu esperar na sala enquanto ela buscava algo no quarto. Quando voltou, ela me entregou uma gravata. Acontece que naquele mesmo dia ela estava decidida a ir na minha casa aceitar meu pedido. Eu sempre soube da relação da sua mãe com roupas e ele sempre disse que, pra ela, presentear alguém com uma peça de roupa era uma demonstração de amor.

Não consigo mais segurar as lágrimas, minha mãe não só achou seu próprio jeito de dizer que amava Charlie, mas também de me lembrar que ela me amava, deixando suas roupas pra mim.

— Foi essa mesma gravata que eu usei na nossa formatura àquele ano e alguns anos depois no nosso casamento.

— Por que você tá me contando isso agora, pai?

— Eu sei que não sou o melhor dos conselheiros, mas achei que talvez você precisasse de um incentivo.

— Incentivo?

— Eu não sei exatamente o que aconteceu entre Edward e você, eu só sei que vocês eram carne e unha e você parecia feliz com ele e aí algo mudou e você não parecia mais tão feliz e eu notei que ele não tava mais tão presente na sua vida.

— Pai... nós dois fizemos uma confusão e agora eu não sei como resolver.

— Ele vai vir hoje?

— Eu acho que sim.

— Bem, eu aposto que ele vai aparecer, se ele for realmente como eu acho que ele é.

Eu percebo nesse momento o porquê de Charlie simpatizar tanto com Edward. Charlie sabia pelo que Edward estava passando, porque já esteve nessa situação anos atrás.  

— E se ele não vier?

— Aí vamos atrás dele, e eu mesmo te levo onde quer que ele esteja pra dizer umas verdades!

— Pai!! Não precisa, eu resolvo!

Ele ri do meu do meu desespero e bagunça meu cabelo como fazia quando eu era criança.

— As coisas vão se acertar, Bells.

— Eu sei – e depois de ouvir a história dos meus pais eu realmente acredito que vão – obrigada, pai.

 Depois da conversa com Charlie estou decidida a falar com Edward, ele aparecendo hoje ou não. Então me arrumo como quem se arruma para uma batalha, e hoje minha armadura é minha minissaia.

Assim que eu e Alice entramos no bar noto que ele está lotado, mas só algumas poucas pessoas estão aqui por mim. Alice me puxa pela mão em direção às bebidas e assim que pegamos nossas cervejas, Mike acena nos chamando para nos sentar com ele.

Já estamos aqui há mais de uma hora quando Mike decide ter uma conversa mais pessoal comigo.

 – Sabe, Bella – ele começa – Eu gostei tanto daquelas semanas que a gente passou junto.

Ah por favor, não fale o que eu acho que você vai falar!

— Talvez tivesse sido mais divertido se tivéssemos explorado mais o que aconteceu entre a gente.

— Mike, eu admito que foi legal, mas não vai ser mais que aquilo. – Ignorando totalmente meu comentário, Mike pergunta de supetão.

— Bella, você quer namorar comigo? – Fico em silêncio e um pouco em estado de choque. Eu realmente não achei que as vezes que a gente ficou fossem tão importantes.

— Mike, eu... – começo a falar, mas antes que eu encontre uma forma delicada de rejeitar aquela oferta, alguém me interrompe.

— A resposta é não. – A voz firme, familiar e controlada vem de trás de mim e me faz arrepiar toda.

Me viro em sua direção e logo acho seus olhos. Meu próprio James Dean com uma tendência a ter um olhar sonhador agora está sério como nunca vi.

— E quem você pensa que é pra responder por ela? – Mike fala indignado e não posso culpá-lo, apesar de estar grata pela interrupção, ainda é minha escolha aceitar ou rejeitar seu pedido.

— Eu sou... dela.

Com sua explicação simples Edward deixa claro que ontem não foi nosso fim. Agora os dois olham para mim e sei que esperam que eu escolha um, mas honestamente, nunca houve competição.

Me levanto da cabine onde estava sentada e ando em sua direção, paro há poucos centímetros dele e com a voz trêmula confesso o pensamento que martelava minha cabeça desde que ele foi embora.

— Eu não tinha certeza se você voltaria.

— Como se existisse outra opção. – E nesse momento eu sei que ele não se referia só à essa festa.

Ele tira o colar prata com o pingente de avião que está em seu pescoço e coloca em mim.

— Isso era pra ser seu há muito tempo, feliz aniversário.

— Eu achei que você tinha esquecido.

— Nunca, Bella, eu só estava sendo idiota.

Me aproximo e, ficando na ponta dos pés, sussurro no seu ouvido:

— Me leva para casa.

Uma das coisas que aprendi no meu curso da faculdade é que algumas tendências podem sumir por anos, mas sempre voltam para o seu lugar garantido no mundo fashion.

O tipo de conexão que Edward e eu compartilhamos é exatamente assim, como uma peça clássica e atemporal no guarda-roupa, esperando sua vez de ser usada de novo. Uma tendência que, não importa o tempo que passe, vai reaparecer. É uma constância, um lugar seguro que sempre me faz querer voltar porque sei que sempre existirá.

Ele me leva pela mão e saímos do restaurante, já comemorei bastante com todos os outros e agora era com ele que eu realmente queria estar. Dentro do carro, olho o rádio vejo que é quase meia-noite, com um sorriso percebo que eu sei exatamente onde isso vai dar.

Edward segura minha mão por todo o caminho, sinto a expectativa de novo, mas dessa vez acompanhada de alívio. Vamos ficar bem.

— Ontem eu passei a viagem de volta pensando no que você disse – Ele fala.

— É? Qual parte? Eu falei bastante.

— Sobre a gente ter se machucado quando nenhum dos dois tinha a intenção de fazer isso. A ironia é que eu quis proteger a gente.

— O nosso problema é o mais antigo do mundo dos relacionamentos.

— Que seria?

— Falta de comunicação.

— Eu só posso concordar.

— Mas isso é bom – continuo, mas vejo interrogações em seus olhos quando ele vira a cabeça na minha direção. – Quer dizer que pode ser consertado, e aí não vai ser mais um problema.

Edward leva minha mão aos seus lábios e deixa um beijo suave ali. – Tem razão.

— Como sempre. - Acrescento dando de ombros. Ele balança a cabeça sorrindo, mas não diz nada. É bem mais fácil fazer piada agora, sabendo que não o perdi.

— Bella?

— Sim?

— Eu acho que a gente pode trabalhar nossos problemas de comunicação a partir de agora – ele fala decidido - Eu não quero perder mais tempo sem te explicar o que eu sinto por você.

Dou um aperto rápido na sua mão, estou meio sem palavras e só quero que ele continue.

— Você me ganhou assim que eu te vi de longe apoiada naquele balcão da cozinha, eu tenho certeza que me apaixonei no instante que você me disse seu nome, o tempo que a gente passou junto... eu sempre te vi como muito mais que minha amiga, eu só não tive coragem de te dizer.

— Eu também, Edward, eu sabia que tinha amizade, mas também tinha muito mais. Eu poderia ter falado antes.

— O importante é que estamos falando agora e eu acho que devo perguntar oficialmente... namora comigo?

Depois de tudo que passamos, não tem outra resposta possível a não ser:

— Sim.

Ele sorri e eu não resisto e me aproximo, o cinto de segurança não me deixa ir longe e só consigo lhe dar um beijo rápido, mas é o suficiente... por agora.

Volto para o meu lugar e olho as árvores pela janela do carro, sorrio ao pensar que, assim como no dia em que nos conhecemos, estou usando batom vermelho e minissaia e ele jeans e camiseta branca. Sinto que um ciclo se completou, e agora tenho certeza que nós nunca sairemos de moda.

FIM.

 

 

 


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