Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de Seiya escrita por Masei


Capítulo 33
Salto de Fé


Notas iniciais do capítulo

Seiya, Shun e Hyoga perseguem os corvos que sequestraram Saori.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/800469/chapter/33

 

Uma imagem absolutamente impossível: a de um corpo voando pelos ares. Tão desacostumados a olhar para o céu e muito mais afeitos a olharem espelhos e telas de celular, os habitantes acordados daquela noite sequer perceberam nada de errado.

Seiya, Shun e Hyoga seguiam o bando de corvos que voavam carregando o corpo desacordado de Saori. Atravessaram avenidas, ruas, jardins e tomaram a direção das montanhas às quais eles já conheciam de batalhas passadas.

Mas os corvos subiram para escarpas ainda mais altas e desconhecidas.

Exímios guerreiros treinados, os três saltavam de pedra em pedra, escalando de maneira muito hábil as enormes alturas da montanha. E, como nada carregavam, muito rapidamente chegavam no bando que se esforçava para alçar vôo.

De uma pedra mais alta, Shun atirou suas correntes e atingiu alguns corvos grandes que debandaram, fazendo o corpo de Saori pender perigosamente.

— Cuidado, Shun! — alertou Seiya, seguindo adiante.

Hyoga lançou também uma rajada de gelo que cruzou o céu, afastando outras aves do bando.

— Vou agarrá-la com as correntes, Seiya! — disse Shun, lançando novamente sua corrente, que prendeu-se nos punhos de Saori impedindo que os corvos continuassem.

Parte do bando que não carregava o peso da garota voltou-se para eles, mas esses foram logo afastados pelo cosmo congelante de Hyoga. 

Lentamente, Shun conseguia trazer no braço o corpo de Saori, pois no ar os corvos ainda lutavam para avançar; até que não resistiram mais à força de Shun e dois deles abandonaram a carga, para desespero de Hyoga, que tentou alertar o amigo.

Pois Saori iria cair no precipício.

Seiya saltou da pedra na sua direção.

— Não, Seiya! — gritou Shun, vendo o amigo sem armadura lançar-se na escuridão em busca do corpo que caía ainda preso à corrente do amigo.

Ela ainda estava longe e Shun sabia que ia ter que confiar em Seiya, pois a queda seria fatal se ele mantivesse a corrente presa à garota; a parada brusca poderia quebrar-lhe o braço ou o momento do pêndulo poderia chocá-la mortalmente contra o paredão de pedra. Recolheu a corrente e torceu. Viu o corpo cair contra o céu e o vulto de Seiya pulando em sua direção.

— Voe, Seiya. — rezou o amigo.

E Seiya caía na direção do corpo de Saori. Seu vestido branco cada vez mais perto; ele esticou os braços adiante e finalmente segurou-a da queda no abismo; ele ainda teve a destreza de abraçá-la e virar no próprio eixo para que o impacto contra o paredão à frente deles fosse todo em seu corpo. E dali voltaram a cair pela escarpa, a altura era muito menor, mas o braço de Seiya estalou quando ele esticou-o à sua frente para parar a queda que poderia ser fatal aos dois.

Pararam imediatamente; Saori caiu de alguns centímetros na pedra, enquanto Seiya rolou para o lado, chorando de dor. Seu braço quebrado. Ele olhou à sua direita e viu o vestido branco de Saori com seu braço para fora do abismo que se precipitava ainda mais para baixo. Puxou-a para encostar-se no paredão e sentiu uma dor enorme no braço.

Ao menos ela estava segura. Estava viva. Respirou fundo, buscando o ar.

 

—/-

 

Ouviu do paredão seus amigos descendo a escarpa para ajudá-los e sentiu o peito encher-se de esperança e ao mesmo tempo desanimar-se, pois sabia que teria que passar mais um tanto de tempo no hospital. Ele odiava o hospital.

— Vão ter que me ajud…

Não eram seus amigos.

Era Shaina.

Do outro lado, outro Cavaleiro de Prata.

Era Shaina novamente.

— O que está fazendo aqui? — perguntou ele sem acreditar.

— Essa é Atena? — perguntou ela, de forma direta, franca e odiosa.

— Sim. — respondeu Seiya.

— Não seja ridículo. — falou a voz esganiçada do rapaz muito magro ao seu lado. — Meus corvos derrubaram essa garota como se não fosse nada. Ela jamais poderia ser Atena.

— É essa a Deusa Atena que está ao seu lado? — debochou Shaina novamente para Seiya.

Ele se levantou, sentindo muita dor com o braço quebrado e sangrando.

— Essa é a Deusa Atena. — reforçou ele. — Não me digam que vieram até aqui para sequestrá-la apenas para terem certeza de quem ela é.

— Não seja ridículo. — respondeu o rapaz. — Já sabemos, no Santuá…

— Cale a boca, Jamian! — repreendeu Shaina.

Ele calou-se.

— Eu não posso compreender o que faz uma garota indefesa e ridícula como essa tentar se passar por nossa Deusa Atena. E é justamente por isso que essa farsante precisa pagar junto com todos vocês. Isso já passou de todos os limites, Seiya.

— Tem de acreditar em mim, Shaina. Ela é a Deusa Atena! — tentou ele.

— Não seja idiota.

Jamian, ao seu lado esquerdo, foi até o corpo desacordado de Saori, mas Seiya levantou-se e, como pode, girou uma voadora, fazendo-o se afastar. Como tinha o braço imóvel e quebrado, Seiya desequilibrou-se e parou na parede novamente. Ajoelhou-se e puxou o corpo desmaiado de Saori com seu braço esquerdo.

— Fiquem longe dela! — disse ele. — Não vão tocar na Saori.

Shaina tremeu de raiva.

— E o que vai fazer, Seiya? — perguntou com sua voz irascível. — Atrás de você se levanta um paredão enorme, à sua frente uma queda de muitos metros. Está cercado. Não há escapatória. Entregue-se de uma vez. — ordenou.

— Nunca!

— Ora, Pégaso. Dizendo assim me parece que ela é muito importante para você, não é mesmo? — debochou com sua voz odiosa o Cavaleiro de Prata.

Seiya olhou para o sorriso malicioso em seu rosto e não vacilou.

— Tem razão. Ela é mesmo muito importante para mim. E não farão nada com ela! — esbravejou.

— Importante… — ralhou Shaina entre os dentes.

Encararam-se esperando o que Seiya poderia fazer, mas Shaina deu um passo adiante ameaçando fechar o cerco sobre eles.

— As estrelas… 

Saori acordava lentamente nos braços de Seiya; ele olhou para ela e viu seus olhos se abrirem, sua expressão delirante.

— As estrelas estão lindas.

E, com efeito, as estrelas que brilhavam no céu daquelas montanhas eram realmente muito lindas. Espalhadas e vibrantes.

Ela tentou apoiar-se com a perna, mas vacilou com uma dor em seu calcanhar e precisou apoiar-se no pescoço de Seiya.

— Senhorita…

— Só Saori, Seiya. — corrigiu ela.

— Saori… — começou ele. — Esse é o pior momento de todos pra você acordar. Era melhor que ficasse desmaiada.

Ela sorriu e ao sorrir sentiu uma dor em seu peito.

— Sinto que eu sou sempre inconveniente. — disse ela.

— Não diga isso, não foi o que eu quis dizer. — entendeu ele um pouco errado errado. — Sou um Cavaleiro.

— Tem razão. — concordou ela, sorrindo. 

Claramente delirava, pensou Seiya. Fosse o que fosse que tivesse naquelas penas negras muito pesadas, pareciam agir sobre ela de forma diferente a eles.

— Vamos ficar aqui parados, Shaina? — perguntou o odioso Cavaleiro de Prata.

— Calado! — disse ela, tremendo de ódio olhando os pombinhos conversarem.

Seiya apertou Saori mais perto de si, segurando-a pela cintura.

— Saori, teremos de arriscar nossas vidas. — disse ele, e os olhos da garota pareciam cansados, mas confortados pelos seus.

— Eu confio em você, Seiya.

A voz não soou vacilante ou delirante como ela parecia estar; foi a voz da Deusa Atena que disse confiar nele. Ele protegia Atena. Mas os olhos que o olhavam eram os de uma garota. Eram os de Saori, que confiavam nele. 

O garoto sentiu seu cosmo dentro de si esquentar.

Caminhou lentamente da plataforma em que estava sob os olhos atentos de Shaina e Jamian, que por qualquer motivo pareciam impedidos de fazer qualquer coisa, fosse pela presença de uma Deusa que os impedia ou apenas pela mais humana incredulidade de que aqueles dois jovens realmente se jogariam do precipício.

Pois debaixo daquelas lindas estrelas foi exatamente o que fizeram.

Os dois corpos jovens engolidos pela escuridão do abismo.

Jamian caiu de joelhos olhando para a imensidão escura abaixo deles sem compreender como era possível.

— Mas não é possível, que idiotas! Vão morrer dessa altura!

— Seiya… — falou Shaina muito baixo apenas para si.

E olhou para os astros acima quando viu rabiscar no céu uma estrela cadente. Sentiu-se invadida por uma sensação enorme que não soube precisar exatamente qual era, mas que lhe dava uma única certeza: Seiya iria sobreviver.

 

—/-

 

Gotas de uma chuva represada nas folhas de uma pequena árvore caíram sobre os olhos de Saori e a acordaram novamente. A noite continuava alta, mas onde estava a luz da lua pouco chegava, portanto ela acordou para um imenso breu em que não podia enxergar a um palmo à sua frente. Colocou-se sentada e lembrou de um pesadelo terrível em que caía de um precipício infinito.

Seu vestido úmido tinha galhos e folhas presas, uma das alças rasgadas no ombro e sangue lhe escorria misturado à água da chuva.

Pois afinal não havia sido um pesadelo.

E, assim sendo, lembrou-se de tudo.

Chamou por Seiya na escuridão, buscando sua voz.

Ela não veio.

Seus olhos cansados acostumaram-se melhor ao breu e, entre os vultos, percebeu alguns troncos de árvores nos quais se apoiou tentando manter-se de pé, embora a dor que sentia em seu calcanhar. Pulou de um pé só para procurar o corpo de Seiya, mas caiu novamente em uma cama de folhas. 

Uma voz então chamou por Seiya. Não era sua voz.

Alguém distante procurava por ele. Saori reconheceu ao longe quando o grito repetiu e ecoou naquela escuridão. Ela procurou por ele. Era Shun, e Saori chamou por ele várias vezes na escuridão.

E, na escuridão, viu descer como um anjo um garoto brilhante, uma aura rosa ao seu redor iluminando aquele pequeno pedaço de árvore em que estavam. Tal era a escuridão que o brilho do cosmo de Shun chegou a ofuscar por alguns instantes seus olhos escurecidos.

— Saori, é você?

O corpo do garoto iluminado de seu cosmo dava luz àquele breu e Saori abraçou-o como  quem encontra um anjo dentro de uma caverna infinita. 

— Seiya, onde está o Seiya? — perguntou ela, desesperada.

E juntos procuraram na escuridão entre folhas baixas e galhos retorcidos, Saori apoiada em Shun, com olhos ansiosos, até que finalmente encontraram o corpo inerte de Seiya. Saori imediatamente foi ao chão e ao choro.

Puxou o corpo desacordado de Seiya contra o seu pedindo que estivesse vivo por tudo que pudesse fazer. Sentiu-se novamente abandonada, sentiu-se novamente inútil, pois o que tentava fazer naquele silêncio de olhos fechados e respiração pesada era manifestar seu cosmo divino e trazer algum alívio para o garoto desacordado.

— Por favor, por favor, por favor. — falava ela baixinho como se pedisse ao universo que seu cosmo manifestasse e acordasse Seiya, o curasse de todas as dores e o fizesse sorrir novamente.

Mas seu cosmo não se manifestou ali.

Shun percebeu, no entanto, que no fundo daquela escuridão um ponto dourado aproximava-se lentamente. E, conforme se aproximava, tudo ao seu redor se iluminava, banhado de uma luz de ouro absolutamente maravilhosa. A tudo podia ver agora: estavam em um tipo de grota aberta rodeada de muitas árvores baixas.

Dentro da parede de luz dourada, Shun viu uma silhueta absolutamente linda. Ao redor da silhueta e deles todos, Shun percebeu flutuarem graciosamente pétalas carmesins por todo o lugar. Olhou para sua mão direita e viu que havia uma rosa em sua mão.

— O Cavaleiro de Ouro. — adivinhou Shun, lembrando-se da figura dourada que Hyoga havia visto. Então desmaiou com aquele perfume doce que invadiu seu peito de conforto.

Saori finalmente deu-se conta da luz dourada e da decepção de que aquele conforto todo não era seu, mas de outro alguém. Seiya permanecia desacordado. 

Virou-se para ver o Cavaleiro de Ouro. Ele era absolutamente maravilhoso.

— Atena. — disse sua voz doce. — Eu vim buscá-la.

E ela sentiu o perfume de rosas e apagou em sonhos tranquilos.

 

—/-

 

Quando finalmente a manhã banhou aquele canto escondido nas montanhas, Shun foi acordado de sonhos deliciosos por alguém que o trazia de volta à luz. Era Hyoga debruçado sobre ele, procurando despertá-lo.

— Andrômeda. — disse ele.

— Você já pode me chamar de Shun, Hyoga. — disse o garoto.

— O que aconteceu? Onde está Atena? — perguntou ele.

Shun colocou-se sentado e apertou os olhos. Tirou o elmo e colocou-o de lado como se ainda tentasse acordar de algum tipo de feitiço.

— Diga, Shun. Seiya está muito mal e não encontrei nenhum sinal de Atena. O que aconteceu quando desceu durante a madrugada? — perguntou ele.

Shun olhou nos olhos claros do garoto.

— O Cavaleiro de Ouro esteve aqui. — disse Shun.

Hyoga levantou-se preocupado.

— Acha que o Cavaleiro de Ouro levou Atena?

Shun olhou para ele, preocupado, mas confirmou assentindo com a cabeça.

— O Cavaleiro de Ouro esteve nas Ruínas da Discórdia para selar Éris. — falou Hyoga.

— Você disse que ele havia respeitado a vontade de Atena. — comentou Shun e Hyoga confirmou.

— Quem será esse homem? — perguntou-se Hyoga.

— A Armadura de Ouro esteve sempre ao lado de Saori, ao lado de Atena. Agora só nos resta confiar de que onde quer que ela esteja, ela estará bem.

O garoto levantou-se finalmente e foi ao socorro de Seiya.

— Sinto que agora precisamos tirar Seiya daqui. Se ele se jogou dessa altura, eu não sei o que pode ter acontecido com ele. — falou, preocupado. — Shiryu e agora Seiya. Mas que inferno. — comentou o garoto.

— Ele vai ficar bem. — disse Hyoga. — Está respirando com dificuldades, mas vai sobreviver. E esse aí é duro de quebrar.

Shun levantou Seiya e Hyoga veio em seu auxílio, para que pudessem carregar o amigo para longe dali.

Mas era óbvio que havia mais pessoas naquele desfiladeiro interessadas em atrapalhar seus planos. Pois, com o amanhecer, desceram também as ameaças.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

SOBRE O CAPÍTULO: Busquei trazer de Saintia Sho o momento que um Cavaleiro de Ouro aparece no acampamento de Shoko para levar Saori até o Grande Mestre, mas fiz dentro deste contexto do salto de Seiya na montanha.

NO PRÓXIMO CAPÍTULO: LABIRINTOS DA MENTE

Saori estará diante de uma pessoa importante enquanto Shaina revisitará pesadelos de sua mente.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de Seiya" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.