Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de Seiya escrita por Masei


Capítulo 105
O Palácio Valhalla


Notas iniciais do capítulo

Os Cavaleiros de Atena reúnem-se no Palácio Valhalla após passarem por imensas provações em Asgard. Chega o momento final daquela batalha e enquanto um grupo decide ir enfrentar o último dos Guerreiros Deuses, o outro irá se embrenhar pelo coração do Palácio para encontrar a Relíquia do Mar.



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O frio de Asgard é tão profundo quanto antigo; o vento que balança a copa das árvores da Floresta Proibida parece soprado pelos Deuses antigos do Norte. Congelam os ossos e enregelam a alma de quem se aventura pelas ruas de Asgard, pelas planícies nevadas ou as escarpas da montanha onde se erguia o Palácio Valhalla.

No topo da construção, em um enorme pátio aberto, Hilda estava de pé sobre uma plataforma diante de um abismo; e do outro lado do abismo erguia-se o Colosso de Odin, segurando uma espada sobre a quilha de um navio partido ao meio. Uma estátua encomendada aos gigantes antigos da região e cultuada por milênios. Ela acariciava o anel de ouro que trazia no dedo, presente daquele Deus antigo. Atrás de si, como sempre, estava o mais fiel dos Conselheiros de Valhalla, o Guerreiro Deus Siegfried.

— Não posso acreditar que Bud me traiu. — comentou Hilda, com ódio na voz. — Não a perdoarei nunca. Quando isso estiver resolvido, ela será caçada e jogada nas masmorras, que é o lugar de todo e qualquer traidor de Odin.

Siegfried ouviu quieto a ira de Hilda, calando fundo em seu coração, pois ele tinha alguém também muito querido jogado nas masmorras. 

— Confiar naquela mulher talvez não tenha sido muito prudente. — ponderou ele, desviando sua própria atenção. — Ela era apenas uma Sombra e não uma verdadeira Guerreira Deusa. Ela jamais foi de verdade.

Hilda virou-se para ele.

— Diga-me uma coisa, Siegfried. Você será capaz de proteger a Valhalla e o Deus Odin?

— Eu protegerei você com a minha própria vida, Divina Hilda.

— Espero que nunca se esqueça disso.

E outra vez virou a face para a nevasca leve que caía para encarar os olhos de pedra de Odin.

 

—/-

 

Quando a silhueta de Bud desapareceu pela entrada do Palácio Valhalla, a única coisa que se escutou entre aqueles Cavaleiros de Atena foi o choro de Shun. Ele chorava copiosamente. As mãos nos joelhos suportando a dor de sua tristeza.

— Podia ter sido a gente. — repetia ele aos soluços. — Por quê!?

Shun perguntava-se, inconformado, até onde iriam aquelas batalhas. Até quando ele precisaria apartar aquela enorme tristeza. Sentia-se responsável por ter dividido aqueles irmãos, sem ter a menor ideia da trágica história que os havia separado desde crianças e criado aquela mágoa terrível. Ele não sabia. Se soubesse talvez pudesse tentar algo diferente.

— Eu não aguento mais, Ikki. — confessou ele, olhando para a irmã, que nunca havia visto o garoto tão movido. — Podia ser você. Eu não consigo imaginar a dor que Bud deve ter sentido ao perceber que a morte do irmão ia lhe doer tanto. Talvez, talvez, o melhor fosse mesmo que ela continuasse a odiá-lo.

— Não fale isso, Shun. — tentou Ikki.

— Viemos até essa Terra em paz. Em busca de paz. — lamentou Shun. — Se eu fecho os olhos eu ainda posso ver a tristeza das pessoas em busca de alimento na praça. Um lugar que sofre dia após dia com um frio terrível. A tragédia de Mime. — falou ele, buscando o olhar de Geist, mais afastada. — E agora esses dois irmãos que a vida impediu de se amarem. E nós os matamos!

E sua voz quebrou em lágrimas.

— Eu ajudei a matar.

— Shun, nós somos…

— Não, Seiya! — interrompeu ele o amigo, que também se aproximava. — Eu sei que é nosso dever. Eu sei todas as vírgulas de nosso juramento. Eu sei de nosso destino. Eu sei de nossa história. Eu sei de nossa força. Eu sei o que você vai dizer. Mas não é possível que a única coisa que vamos ver atrás de nós é o rastro de sangue de nossos inimigos.

Sua irmã Ikki aproximou-se feito uma sombra sobre ele e o garoto ergueu os olhos para encará-la. Se por um lado Shun sabia de cor as palavras que Seiya e todos usavam para justificar suas batalhas, por outro ele também sabia a dureza com que Ikki recebia suas lágrimas e sempre o empurrava para ser mais forte. O que ele não imaginou foi que Ikki o abraçaria tão forte como fez. E Shun desabou ainda mais em prantos, chorando no peito de sua irmã. Era o que ele precisava. E junto a ela, Seiya deixou suas palavras para si e também apertou Shun nos seus braços. Mesmo Shiryu, cega, percebeu que o garoto precisava de seus amigos tão perto quanto possível dele. Hyoga, que certa vez recebeu o calor de Shun para voltar à vida, ali buscou retribuir, ainda que um pouco, para que o menino pudesse se recompor.

E o menino chorou aninhado pelos amigos amados naquele terno abraço.

Um pouco distante, próximo a uma das pilastras caídas, Geist notou que Shaina se aproximava.

— Está atrasada. — comentou ela com a amiga.

— Bom ver que está viva, pelo menos. — retrucou Shaina ao ver o estado lamentável de Geist e, principalmente, as rachaduras que espalhavam-se pela Armadura de Prata que ela mesma havia emprestado à amiga.

Ela deu de ombros e juntas observaram como os cinco Cavaleiros de Bronze finalmente apartaram o abraço em que estavam enlaçados com Shun ao centro. Ele parecia mais calmo, embora ainda tivesse o rosto inchado de tristeza.

— Me desculpem, amigos. — começou Shun, recuperando-se de seu breve descontrole.

— Não há pelo quê se desculpar, irmão. — corrigiu Ikki, muito séria. — Sua maior força é o seu coração.

— Acho que é importante que nenhum de nós se esqueça pelo que lutamos. — adicionou Shiryu entre eles. — Mas é igualmente importante que também a gente não se esqueça de nossa humanidade.

— Ou daquilo que perdemos pelo caminho. — adicionou Seiya. — Eu não sei as circunstâncias da batalha que tiveram de enfrentar, Shun, Ikki, mas não tem um dia que não penso na dor que Hyoga deve ter sentido com a morte de seus dois mestres.

Hyoga permaneceu calado, mas assentiu carinhosamente ao amigo pelos sentimentos.

— Aquela foi a primeira vez que eu vi alguém morrer em nossas batalhas e nunca me esquecerei daquela noite na Sibéria. — continuou Seiya. — É terrível que seja assim, mas nossas lutas são sempre de vida ou morte.

— Eu sei. — concordou Shun. — Eu sei.

Shun limpou as lágrimas do rosto, afastou-se brevemente do círculo e recolheu as Safiras de Odin que Bud havia deixado no chão e as trouxe de volta para junto deles. Hyoga abriu a mão e mostrou a eles as outras quatro Safiras que tinham conseguido na Floresta junto de Seiya. Ao todo, tinham seis delas e faltava apenas uma última.

— Ainda temos uma última batalha. — anunciou Shun, olhando para seus amigos.

Todos olharam para ele e ele para todos. E finalmente olharam-se uns aos outros debaixo da luz que entrava pelos buracos formados no teto daquela nave central. E perceberam que era a primeira vez em muitos meses que os cinco estavam juntos novamente. Seiya tinha cicatrizes pelo rosto, os punhos marcados pela prisão e o sobretudo longo muito rasgado; Hyoga tinha um torniquete enorme na coxa que ainda sangrava levemente, espalhando a cor vermelha na calça grossa que usava, a camisa de linho simples também extremamente surrada e o rosto cansado. Ikki tinha rachaduras na sua Armadura de Bronze, algumas de suas tranças desmanchadas, algumas de suas penas destacadas, enquanto seu irmão Shun também tinha seções da Armadura danificadas e o rosto derrotado de tristeza. Shiryu era a única que parecia ter acabado de chegar ali, pois embora tenha lutado contra Hyoga agora já há muitas horas atrás, ainda tinha sua Armadura completa e o espírito intocável.

— Estamos parecendo um grupo de miseráveis.

— Ora, eu já te vi muito pior, Seiya. — falou uma voz da entrada.

Olharam todos para a bonita silhueta que surgiu emoldurada pelo branco do dia de fora e perceberam que se tratava de June; ela ainda usando a tiara de sua Armadura de Camaleão e vestida com o sobretudo que os tripulantes haviam levado para o Esperança de Atena pelos Sete Mares. Aquela aparição esquentou o coração de Shun, tão dolorido pela primeira vez, e ela caminhou tranquila, mas decididamente entre todos para dar um longo abraço no amigo.

E ao fazê-lo, seu Cosmo, que era da cor do pôr-do-sol, iluminou também Shun e trouxe uma tranquilidade e um vigor que o garoto lembrava-se perfeitamente de sentir nas noites mais frias da Ilha de Andrômeda quando June o abraçava para curar seus ferimentos. Ele não sorriu de volta, sua expressão ainda muito dolorida pelas tragédias daquela terra, mas também não parecia mais tão desesperado quanto antes.

— E quanto à Princesa Freia? — perguntou Geist, aproximando-se deles.

— Ela ficará ao lado de seu amigo convalescido. — respondeu June.

Shaina adiantou-se perante todos, feito a Mestre-de-Armas do Santuário que era.

— Agora que estamos todos juntos, devemos concluir nossa Missão e selar a Relíquia dos Mares de Asgard. — anunciou Shaina. — Ainda está com o Selo de Atena, Shiryu?

Ela apenas tirou o cilindro de ouro que carregava e todos puderam ver o brilho dourado daquele artefato.

— Ótimo. — falou Shaina.

— Aquela Princesa comentou que devemos chegar ao Corredor de Antigamente se quisermos chegar até a Caverna de Surtr. — lembrou Ikki.

— Que é o lugar onde está escondida a Relíquia do Mar. — adicionou June.

— E nossas Armaduras. — completou Seiya.

Estavam todos de acordo, mas Hyoga lembrou de algo importante.

— O Corredor é protegido por Hilda, a sacerdote de Valhalla em posse do Anel de Nibelungos; somente a Espada Balmung pode vencê-la. — falou ele ainda com enormes dificuldades para se locomover. — E para isso precisamos das Sete Safiras de Odin que protegem os Guerreiros Deuses de Asgard.

— Isso significa que falta um miserável para que consigamos todas elas. — falou Ikki, confiante.

— Não acho que será necessário. — falou Hyoga, atraindo para si toda a atenção.

E todos efetivamente olharam para ele, tentando compreender.

— Alberich, um dos Guerreiros Deuses estava tramando para despertar a tal Espada Balmung. Eu acredito que seja uma mentira que Hilda somente possa ser vencida ou convencida pela espada. — àquela altura, o garoto já duvidava de absolutamente tudo que ele havia falado.

— O que tem em mente, Hyoga? — perguntou Shaina.

— Acho que devemos ir direto a esse Corredor de Antigamente e selar a Relíquia.

— E abandonar a irmã de Freia à sua sorte? — perguntou June.

— Nossa missão é selar a Relíquia do Mar, não resolver uma crise de Asgard. — falou Shaina.

— Mas e se Freia tiver razão e somente com a Espada nós tivermos alguma chance de completar nossa missão? — perguntou Seiya.

— Então derrotaremos o último Guerreiro Deus. — concluiu Ikki.

— Não será tão fácil assim, Ikki. — falou Hyoga. — As batalhas que enfrentaram deixaram muitas marcas em todos vocês. E em mim. Não seremos páreo para este Guerreiro Deus, nem mesmo se lutarmos todos nós juntos.

— Você fala agora como um Guerreiro Deus dessa terra.

— IkkI! — censurou Shun, mas Hyoga não se moveu.

— Não sabe do que está falando, Ikki. Este homem é diferente dos Guerreiros Deuses.

Ikki o encarava.

— O último Guerreiro Deus é o maior de todos eles. Seu nome é Siegfried, protegido pela Estrela Alfa. — fez uma pausa antes de concluir. — E é um guerreiro imortal.

A palavra caiu feito uma maldição.

— Imortal!? — surpreendeu-se Seiya por todos eles.

— Sim. — continuou Hyoga. — Sua força e lealdade são incomparáveis. Conta-se em Asgard que sua força é maior até mesmo que a de seu irmão mais velho, que por anos defendeu essas terras sozinho.

— Imortal. — debochou Ikki. — É o que vamos ver.

— Não menospreze Siegfried, Ikki. — alertou Hyoga. — Ou não poderá voltar das cinzas como sempre faz.

Ikki de Fênix finalmente dedicou a Hyoga um olhar atravessado, que Hyoga não desviou ou se queixou.

— Há no entanto uma esperança, se realmente for preciso derrotá-lo.

— Fale de uma vez, Hyoga. — pediu Seiya.

— Um ponto fraco. — falou o garoto, com muito mistério. — Alberich chegou a dizer que, embora seja imortal e nunca tenha sido vencido em batalha, Siegfried tem um ponto fraco que ele seria capaz de usar para vencer Siegfried e conseguir sua Safira protetora.

— Um ponto fraco. — ponderou Seiya.

— Alberich não era um guerreiro. — continuou Hyoga. — De modo que, seja o que for esse ponto fraco de Siegfried, talvez seja algo em suas motivações ou até mesmo em sua mente. Talvez o seu próprio irmão aprisionado.

— Nesse caso, eu sou a pessoa mais indicada para lutar contra ele. — concluiu Ikki, já imaginando usar suas técnicas para acabar com seu inimigo.

— Você está muito machucada. — alertou Shun, preocupado, ao que ela imediatamente tentou interromper.

— Não vamos começar…

— Eu lutarei contra ele. — falou Shiryu para todos.

Todos olharam para ela. E era muito claro e evidente que, entre todos eles, ela era mesmo aquela que melhor condição tinha para suportar uma batalha terrível como aquela diante deles. Sua única luta havia sido contra Hyoga já há tantas horas na entrada de Asgard, que pouco fizeram contra sua Armadura, que parecia nova em folha, bem como seu rosto era o mais vívido entre todos. E, além disso, pensou Hyoga sozinho, a força que ela havia demonstrado contra Alberich era algo completamente além da capacidade deles próprios.

— Então está decidido. — falou Shaina por todos, que também sabia do potencial de Shiryu àquela altura. — No entanto, eu acho que Hyoga também tem um bom ponto. Devemos tentar as duas coisas. Lutar contra esse Guerreiro Deus, se ele não se convencer de nossa missão, mas se possível também tentar alcançar o Corredor de Antigamente e selar a Relíquia do Mar sem precisar das Safiras.

— Sem a influência de Poseidon nessas terras, talvez Hilda caia em si. — ponderou Shun.

— Então vamos nos dividir. — falou Geist olhando para Shaina, que assentiu de volta.

— Aquele Guerreiro Deus Alberich chegou a comentar que havia um caminho pelo Palácio Valhalla que levava até o Corredor de Antigamente. Acha que ele poderia estar falando a verdade? 

— Eu infelizmente não sei o que era real ou falso em Alberich. — respondeu Hyoga à Shaina. — No entanto, ele certamente tinha seus próprios planos e ambições de conseguir a Espada Balmung. E eu não consigo desviar da ideia de que, no final das contas, tanto a Espada como a Relíquia estão no mesmo lugar.

— A Caverna de Surtr. — lembrou-se June ao que Geist completou.

— O local onde ficam guardados todos os tesouros de Asgard.

— E nossas Armaduras. — lembrou Seiya novamente.

— Então talvez seja verdade que Alberich tivesse um caminho para chegar escondido ao Corredor de Antigamente. — animou-se Shiryu.

— Talvez. — concordou Hyoga.

Ficaram todos em silêncio, pensando sobre as possibilidades; respiraram fundo e a decisão foi tomada por Shaina. Iriam se dividir seguindo adiante: junto dela, partiriam Hyoga, Shun e June para encontrar o caminho escondido de Alberich até o Corredor de Antigamente.

— Talvez eu possa encontrar o caminho. — falou Hyoga confiante.

Seiya, Ikki, Shiryu e Geist seguiriam pela nave central do Palácio Valhalla até o pátio externo onde se erguia o Colosso de Odin que podiam ver de quase toda Asgard. Os irmãos se despediram e todos juraram se encontrar na Caverna de Surtr, com ou sem as Safiras, que eles deixaram nas mãos de Geist.

E assim se separaram novamente.

 

—/-

 

O corredor central do Palácio Valhalla, onde havia se dado a batalha contra Sid e Bud, cortava o Palácio exatamente ao meio. Mais adiante, uma enorme escadaria levava ao Salão das Valquírias, onde queimava o fogo de chão dos aposentos comunais dos Conselheiros de Valhalla e onde erguiam-se o trono e as cortinas de Hilda. Seiya, Ikki, Shiryu e Geist romperam esse local abandonado e seguiram por um largo corredor por trás das cortinas que levavam a alguns andares mais acima, onde desembocaram finalmente para a área externa na qual um imenso pátio de pedra se abria para o céu branco de Asgard velado pelo enorme Colosso de Odin.

Mas o grupo de Shaina, Shun, June e Hyoga não tomou o caminho central, mas se embrenhou na primeira esquina à esquerda, descendo alguns lances de escada buscando chegar o mais longe possível no coração daquela antiga e abandonada construção. Shun e June escoravam Hyoga, ainda com muitas dificuldades para caminhar, enquanto Shaina iluminava o caminho às costas com uma tocha improvisada de um galho que quebraram de uma misteriosa árvore escura que encontraram pelo caminho.

Tudo que a Mestre-de-Armas lembrava-se era de que Alberich havia alertado para um caminho pela lateral da montanha em que se erguia o palácio; sem exatamente saber o caminho, o grupo jogou-se à sorte de encontrar o atalho por conta própria. Julgaram que precisariam chegar até os limites do Palácio e, obviamente, olhar para o lado de fora. E assim fizeram, atravessando corredores estreitos entre tantas câmaras e antessalas as quais não se atreveram a explorar.

E enquanto caminhavam com certo cuidado pelos corredores de Valhalla, Shun quis saber mais sobre os meses de June no Esperança de Atena, e ela contou a eles de suas desventuras junto àquela tripulação, sobre cada uma das Relíquias e lugares que visitaram, mas também sobre a tragédia de terem perdido o Capitão Meko Kaire em sua própria terra-natal. Outra vez Shun silenciou de  tristeza, enquanto Shaina deixou escapar seu desagrado com aquele relato.

— Moisés estúpido. — reclamou ela da atitude heróica do outrora companheiro de ordem que o vitimou nas águas da Oceania.

Ninguém ousou censurá-la pelos modos, pois no fundo também estava claro que a morte de Kaire lhe doía também, à sua maneira. 

— Essa ainda é a missão de Meko Kaire. Eu tenho certeza que Seiya e Geist também ainda se sentem assim.

— E onde foi parar o navio? — perguntou Hyoga.

— A Capitã Geist o mandou para os ares e apenas nós três descemos com o barco auxiliar até o porto de Asgard. Depois que fomos presos, não sei dizer. Mas tenho certeza de que estão todos bem.

Entre histórias e relatos, viram ao longe o corredor adiante iluminar-se do que sem dúvidas era luz exterior. Deram de frente a um bonito vitral colorido em que se adivinhava a enorme figura de uma linda árvore; não era possível abri-lo para o lado de fora, mas ao menos adivinhavam que aquela era a face da montanha. Não demorou muito e, mais adiante, finalmente encontraram uma janela que puderam abrir e colocar o rosto para fora, percebendo onde estavam.

Abaixo, a muitas léguas de onde estavam, caía um abismo até os pinheiros-nevados da Floresta Proibida, mas à direita perceberam uma ponte lateral que levava até uma pequena torre; se não era possível saltar daquela janela até aquela ponte, era possível ver que em breve encontrariam a saída para aquele acesso externo. E assim fizeram.

Seguiram pela mesma parede do Palácio até encontrarem, trancada, a porta que parecia levar àquela pequena passagem externa. Shaina a forçou e, com sucesso, abriu-a para o frio do lado de fora. Enregelaram-se, mas seguiram em frente, subindo os lances estreitos de escada até o corredor descoberto que levava à torre.

— Seiya deve ter sofrido muito neste vilarejo do Pólo-Sul. — observou Shun, experimentando o frio de Asgard. — Tudo que ele mais quer é encontrar sua irmã. Ter experimentado essa sensação novamente deve ter acabado com ele quando conseguiram selar a Relíquia.

June concordou com o amigo, mas Hyoga chamou a atenção deles.

— Vejam! — pediu ele.

A ponte colada ao paredão do Palácio Valhalla levava até uma torre onde uma única porta parecia ser a entrada de volta ao interior do Palácio; essa porta, no entanto, estava entreaberta. Os quatro entreolharam-se e avançaram torre adentro. Encontraram uma sala circular com um único objeto no interior: um brilhante cubo púrpura.

— Alberich. — adivinhou Hyoga.

— Não toque nisso! — alertou Shaina imediatamente, antes que June tomasse o cubo nas mãos. — Alberich me ofereceu um cubo parecido em nossa luta, dizendo que me tornaria praticamente indetectável ao caminhar pelo Palácio Valhalla.

— A Ametista pode sugar a nossa vitalidade. — explicou Hyoga para June.

— E em pouco tempo eu estava à mercê dele.

— Mas o que faz esse cubo aqui? — perguntou-se Shun.

— Acho que estamos no caminho certo. Alberich deve tê-lo deixado aqui para que ele mesmo pudesse usar quando bem quisesse.

— Mas eu nunca estive em um lugar que fosse tão abandonado. — apontou June para Hyoga. — De quem será que Alberich fugia?

— O Palácio Valhalla está abandonado, pois Asgard está sendo invadida. — apontou Hyoga para eles. — Hilda ordenou que todos os serviçais voltassem para suas casas e que os guardas palacianos ficassem além dos muros de Valhalla com suas famílias, pois temia que fossem vítimas dos invasores.

Ficaram um segundo em silêncio, interrompido pelo cubo, que foi jogado de onde estava para o canto, pois Shaina o havia chutado da frente dos garotos. Ela apontou para uma escada que descia em espiral e ordenou que seguissem caminho. E assim eles fizeram. O térreo daquela torre, após uma boa descida pelas escadas antigas, dava para uma simples sala de armazenamento que também tinha outra porta, dessa vez trancada. Depois de forçá-la, perceberam que voltariam para dentro do Palácio novamente.

— Esperem. — pediu Hyoga, que ficou para trás enquanto Shaina forçava o trinco da porta, e por isso sentiu uma leve brisa rastejar por sua espinha. 

Ao olhar às suas costas, Hyoga notou que a pilha de caixotes encostada na parede parecia balançar sutilmente.

— O que tem ali, Shun?

O amigo avançou e moveu a pilha de caixas para descobrir um pedaço de madeira tosco que parecia fechar um rombo na pedra da torre. Ele tirou aquilo da frente e percebeu que havia mesmo uma passagem novamente para o lado de fora da torre, onde soprava o vento mais frio que sentiram. Alguns degraus rudimentares de pedra abaixo levavam à uma ponte de madeira através da qual apenas podiam caminhar um a um em fila indiana. Um caminho improvisado, porcamente suspenso sobre o abismo que se abria abaixo deles para a Floresta Proibida.

— Parece que achamos o caminho. — comentou Shaina, dando meia volta e tomando a frente naquela passagem. — Fique aqui, Hyoga. 

— Não se preocupem comigo. — retorquiu ele, fazendo menção de que seguiria junto.

E assim, um a um, inclusive Hyoga, passaram pelo lado de fora daquela montanha, equilibrando-se em cordas firmes que acompanhavam a ponte frágil para longe daquela pequena torre. Caminharam por alguns momentos até que finalmente perceberam que aquele caminho improvisado descia pela face da montanha até entrar por uma caverna.

Seguiram em silêncio guiados pelo fogo de Shaina por um caminho cortado dentro da montanha que descia em uma trilha por vezes leve, mas por vezes muito íngreme. Descia para sempre, ao que parecia, descia sem fim, sem chegar a qualquer lugar.

E enquanto isso, no andar mais alto do Palácio Valhalla, sem dificuldade alguma, Seiya e seus amigos surgiram para o pátio externo e vislumbraram com assombro o tamanho daquela estátua de pedra antiga do Colosso de Odin. Não havia vivalma para lado algum; aquele pátio era grande o suficiente para que todos em Asgard pudessem participar dos rituais ao Deus Odin em datas específicas e que há tempos sequer eram respeitados naquele lugar abandonado pelo tempo e arrasado pela fome.

Na mão direita estendida do Colosso de Odin estava uma enorme espada.

E, ajoelhado em uma plataforma diante do Deus-Maior, estava um único homem trajando sua Robe Divina.

Seiya, Ikki e Geist entreolharam-se, enquanto Shiryu já estava em guarda sentindo a presença daquele Guerreiro Deus.

Ele fez uma mesura diante da estátua e levantou-se; colocou o elmo na cabeça e virou-se para encarar os quatro Cavaleiros de Atena.

— Então você é Siegfried. — falou Seiya por todos, mas o homem pareceu se apresentar corrigindo o garoto.

— Siegfried de Dubhe, a Estrela Alfa.


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Notas finais do capítulo

SOBRE O CAPÍTULO: Um capítulo de transição e respiro, onde eu precisava ter todo mundo junto para que Shun tivesse o apoio de seus amigos. Eu achei que seria importante dentro da história de Shun que essa batalha entre irmãos de Sid e Bud fosse a gota d'água pra todo sentimento que ele guardava dentro de si durante todo esse tempo. E era importante que os cinco amigos estivessem ali com ele. A divisão dos grupos aconteceu exatamente para passar a contar a história a partir de duas alternativas, a da luta com Siegfried e da exploração de Valhalla. Aqui vemos que os planos de Alberich e as coisas que ele veio a falar, na verdade não eram mentiras. Pra sempre brincar com essa confusão de Alberich.

PRÓXIMO CAPÍTULO: NO CORAÇÃO DE ASGARD

O mistério do desaparecimento de Nicol ganha novos contornos no Santuario, enquanto o grupo de Geist finalmente chega ao ponto mais baixo de Asgard, mas depara-se com uma figura terrível entre eles e o Corredor de Antigamente.



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