Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de Seiya escrita por Masei


Capítulo 103
O Tigre Negro de Valhalla


Notas iniciais do capítulo

Shun e Geist chegam ao Palácio Valhalla e enfrentam o Guerreiro Deus que venceu Aldebarã no Santuário.



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O Palácio Valhalla era uma construção na ponta mais alta de Asgard, além do passadiço do castelo, subindo por uma grande rua sinuosa entre casarões e antigos restaurantes, bodegas e mercearias que agora estavam abandonadas ao léu; os poucos aristocratas que ainda viviam escondiam-se em suas mansões, aquecidos por lareiras tímidas. Antes dos grandes portões do Palácio Valhalla existia uma grande fonte congelada onde outrora juntavam-se as crianças para as grandes feiras de outro tempo.

Ao redor da fonte subiam largos degraus em arco até um pátio onde se abria a entrada do Palácio Valhalla. Não havia um portão que a trancasse, pois Valhalla ficava eternamente aberta ao povo de Asgard. Essa entrada, no entanto, era colossal, à semelhança de uma torre; a entrada-sempre-aberta parecia estreita, mas apenas pelo tamanho da fenda na torre, pois em verdade uma comitiva inteira poderia passar de uma vez.

Atravessando essa enorme fenda-sempre-aberta, mas agora abandonada, levava a um corredor amplo onde se podia vislumbrar as muitas colunas frias e escuras da parte de dentro. Era, de todo modo, uma construção sombria e abandonada, tomada pela neve e até mesmo por teias de aranhas em muitos pontos, uma vez que já não era cuidada como em seus tempos áureos.

Uma construção triste com grandes zonas sombrias e abandonadas, torres altas e dois ou três andares, dependendo de suas câmaras internas, bem como ao menos cinco níveis subterrâneos onde escavavam-se os calabouços e outros mistérios. Ao fundo do Palácio, já a um nível mais alto do que sua entrada, outro corredor levava a um enorme pátio que se abria debaixo do Colosso de Odin. Onde Hilda, por vezes, orava por seu Deus.

Na sacada de um segundo andar, olhando para a Espada que Odin empunhava na estátua de pedra, Siegfried estava ajoelhado diante de Hilda.

— Parece que dois dos Cavaleiros de Atena já chegaram ao Palácio Valhalla.

— Tem razão, senhorita Hilda, mas você não tem porque se preocupar. Aqueles dois são os sobreviventes da batalha contra Mime e não estão completamente ilesos. Não serão páreos para Sid de Mizar, que foi capaz de vencer um Cavaleiro de Ouro em seu próprio Santuário. Eu ousaria dizer que Sid só não é mais poderoso que eu entre os Guerreiros Deuses; eu tenho plena confiança de que ele não irá falhar.

Hilda olhou para o horizonte e esboçou um sorriso que Siegfried não percebeu.

— Eu devo concordar com você. — e então dirigiu um olhar ardiloso para o enorme homem ajoelhado perante ela. — Mas Siegfried, nem mesmo você conhece o verdadeiro poder de Sid.

Siegfried surpreendeu-se quando um trovão estalou próximo à coroa de ouro de Odin.

— Sei que um dia entenderá isso. — comentou ela, deixando escapar uma risada poderosa enquanto a leve neve caía ao redor de ambos.

 

—/-

 

A nave principal do Palácio, que era acessada imediatamente após sua entrada, era toda de pedra, de modo que os passos calmos de quem havia acabado de entrar ecoavam mesmo que tentassem disfarçar, de tal modo o local estava deserto e abandonado. Algumas tochas e até mesmo velas em mesas afastadas davam a pouca iluminação do lugar, que jogava-se em muitas sombras pelos cantos. Além dos passos cuidadosamente calculados que ecoavam pelas pedras antigas do Palácio, de repente soou também o roçar tenso e metálico de correntes arrastando-se. Os passos pararam e os dois Cavaleiros de Atena sussurraram entre si suas suspeitas, quando por detrás de uma coluna surgiu a sublimação de uma névoa de gelo lenta e hipnotizante.

Tudo então aconteceu muito rápido: a Corrente de Andrômeda disparou na direção da névoa e Shun sentiu como ela travou em seu alvo. Onde antes via-se apenas a precipitação da névoa, revelou-se, como uma capa revelando um mágico, a figura de um Guerreiro Deus. Seu seidr brilhava em seu corpo iluminando tudo ao seu redor; uma luz branca e terrivelmente fria.

— Vocês têm sorte por terem chegado até aqui. — falou Sid, com a corrente presa nos punhos. — Parabéns.

— Você é Sid de Mizar. — adivinhou Geist.

Sua Robe Divina era escura, embora brilhante, e tinha detalhes entalhados na proteção maciça; seu rosto era adornado por um elmo em que brilhavam dois olhos carmesins e duas presas enormes caíam pelos dois lados de seu rosto, como se o elmo fosse, de fato, a cabeça de um enorme felino predador.

— Vejo que não estão ilesos da batalha contra Mime. — observou ele ao ver que Geist tinha apenas parte de uma Armadura de Prata, bem como o semblante cansado. Shun, por outro lado, tinha na face e nos braços, que eram desprotegidos por sua Armadura, as marcas vermelhas dos fios prateados do violino de Mime. — Eu não deveria e nem acredito que vocês merecem, mas darei a chance de irem embora. Deixem a Safira de Odin de Mime e voltem para o Santuário de onde vieram.

Shun lembrou-se do ataque à Aldebarã, pois ali diante dele estava alguém que foi capaz de vencer o Touro Dourado, colocando-o à nocaute de modo impensável. O Cavaleiro de Andrômeda lembrava-se perfeitamente da força de Aldebarã, de modo que se Sid fosse mesmo forte assim, aquela batalha seria terrível. Já Geist lembrava-se bem das palavras de Freia sobre a sombra de Sid, que ela desconfiava ser o trunfo daquele Guerreiro Deus.

— Escute, Sid de Mizar. — começou Shun, atraindo até mesmo a atenção de Geist. — Tudo o que queremos é selar a Relíquia dos Mares que está escondida na Caverna de Surtr.

— Voltem para o Santuário. — tornou Sid novamente, pontuando pausadamente sua última oferta.

— O que o garoto diz é verdade. — pisou Geist ao lado de Shun. — Selamos seis Relíquias ao redor dos Mares e apenas a de Asgard impede Poseidon de dormir nos Oceanos. Pois é exatamente ele que oprime seu povo com esse Inverno tão rigoroso.

Sid fechou os olhos e a Corrente que ainda tinha nos punhos simplesmente caiu inerte no chão, para assombro de Shun, que tentou recolhê-la para seu punho, mas nem sequer isso ela fez; ela ficou estendida entre eles. Sid colocou-se em posição de batalha.

— Suas palavras são calmas, mas suas ações já vitimaram quatro Guerreiros Deuses nesta terra. Para um povo de paz, me parece incompatível o número de cadáveres que se estendem às costas de suas missões. — falou Sid duramente e abriu os olhos, encarando-os. — Farei deste Palácio Valhalla o túmulo de vocês. O tempo de misericórdia acabou.

O seidr branco feito a neve iluminou o corpo do Guerreiro Deus e sua voz bradou, ecoando pelas paredes antigas de Valhalla.

— Garras do Tigre Negro!

Geist e Shun foram arrasados por uma técnica veloz e terrível, que simulava cortes no ar como as garras de um tigre enfurecido, que levaram ambos para o alto e então para o chão. Shun levantou-se, pois por incrível que parecia ele estava em melhor estado que Geist e tinha toda sua Armadura à disposição. Mais do que isso: tinha suas correntes. Ou pelo menos a Corrente Circular para protegê-lo, uma vez que a Corrente Triangular continuava inútil. 

Shun levantou-se, mas caiu novamente de joelhos; a pele ardia onde a técnica de Sid o havia atingido. Ele puxou sua Corrente Triangular com as próprias mãos e notou, com assombro, que ela estava na verdade totalmente congelada e por isso não respondia ao seu chamado.

— Shun! — ouviu o garoto a voz de Geist, pois outra névoa parecia mover-se perto deles.

O garoto imediatamente espalhou a Corrente Circular ao redor dos dois para protegê-los de qualquer investida; a névoa circundava os dois corpos estendidos no chão enquanto Shun verificava se Geist estava bem. Ela estava, embora claramente sem condições de seguir adiante com aquela batalha. A voz do Guerreiro Deus soou na escuridão e a impressão era que aquela névoa ameaçadora era quem lhes falava.

— Na Mitologia Grega, a princesa Andrômeda deveria ser sacrificada para Poseidon, o Deus do Mar. Agora você, meu caro, será sacrificado pelas minhas mãos em nome de Odin, o Senhor de Asgard.

Shun percebeu o que a névoa fazia: os círculos que sua Corrente havia feito, próximos à névoa, congelavam-se conforme ela os rodeava, como se devorasse pouco a pouco a capacidade de Shun se defender. Ele percebeu a tempo e recolheu sua Corrente, fazendo-a subir ao redor de seu corpo na matriz giratória que ele tão habilmente podia controlar. 

As Garras Afiadas de Sid outra vez atacaram ambos e grande parte de sua fúria parou nas Correntes de Bronze, mas elas tampouco foram suficientes para apartar a fúria do Tigre e outra vez os dois foram lançados para longe.

— Droga. — reclamou Shun.

— Não poderá lutar enquanto se preocupar comigo, Shun.

— Não fale isso, Geist. — pediu ele.

— Ele tampouco será convencido.

— Sim, eu já entendi. — retrucou Shun, que estava acostumado a ouvir aquilo sempre que tentava convencer seus inimigos pela paz, e comentou de volta, resignado: — Eu vou ter de lutar.

— É o dever dos Cavaleiros de Atena. — lembrou Geist. — Mas lembre-se, Shun: ele é forte, mas sua maior força está oculta.

— A sombra de Sid. — lembrou-se Shun das conversas que teve com Geist no caminho até ali.

— Não deve subestimá-lo. Eu vi o quanto você é forte contra Mime. — animou ela.

— Eu sei o que fazer. — comentou Shun, de certo modo entristecido.

 

Ele então levantou-se e deu alguns passos adiante, como se ela tivesse de ficar ali esperando o final da batalha, mas Geist chamou-o pelo nome e Shun parou novamente para escutá-la.

— Escute, Andrômeda. — começou ela, também colocando-se de pé. — Eu tenho uma ideia, mas preciso que você concorde com ela.

— Uma ideia?

— Sim. Me dê a sua Safira. Eu seguirei adiante com ela. — falou finalmente Geist. — E deixarei o Guerreiro Deus com você. Não tenho problemas em admitir que você está em melhores condições para essa batalha.

Os dois entreolharam-se na escuridão. Shun não titubeou e deu a Safira para ela.

— Eu afastarei a sombra de Mizar desse local para que você possa lutar em paz.

— Já entendi. — falou Shun, olhando para a escuridão e para o Guerreiro Deus que já se aproximava, agora caminhando calmamente na direção deles. — Faça isso, Geist, e em breve estarei com você debaixo do Colosso de Odin. Mas escute bem: se a Sombra de Sid é o que o faz ser tão forte, você deve também se cuidar mais à frente.

Ela assentiu.

— Decidiram retornar ou serão cadáveres no Salão dos Mortos de Asgard? — perguntou Sid, colocando-se à distância deles.

Os Cavaleiros de Atena não responderam. Shun queimou seu Cosmo e a força de seu coração descongelou suas correntes; Shun lançou novamente sua Corrente de Andrômeda, que caçou Sid enquanto ele buscava escapar se transformando em névoa apenas para reaparecer adiante enquanto a Corrente o caçava. Geist aproveitou a manobra para desatar a correr na direção do corredor; tarde demais, Sid percebeu o estratagema e virou-se para impedir Geist de fugir, mas então Shun já o caçava com suas duas correntes e elas prenderam-se em um punho e no calcanhar do Guerreiro Deus, aproveitando sua breve hesitação ao mudar de direção.

— Eu lutarei com você, Sid!

Preso pela Corrente de Andrômeda, Sid sabia que aquela Cavaleira de Atena com apenas metade de uma proteção de Prata e o corpo em frangalhos cairia nas garras do temível Dragão de Asgard, que guardava o Colosso de Odin. Não haveria presa mais fácil, portanto ele deixou-a ir à sua perdição e virou-se para Andrômeda. Seus olhos eram gélidos como a energia que o circundava.

Quanto à Geist, ela de fato conseguiu escapar da nave principal do Palácio Valhalla, deixando para trás Sid de Mizar e Shun de Andrômeda para se enfrentarem. Mas se o Guerreiro Deus imaginou que ela cairia nas garras do Dragão de Asgard, deixou de considerar sua grande força na escuridão. Geist já sabia que havia algo estranho, mas nada poderia prepará-la para o mais profundo breu em que se viu; usando o brilho efêmero que luzia da Safira de Odin que ela trazia, muito tarde ela notou o vulto que a derrubou desacordada no chão.

 

—/-

 

Na clareira das ametistas, Seiya finalmente abriu os olhos, sobressaltado de um pesadelo, mas encontrou apenas o silêncio da Floresta Proibida. A neve caía muito sutilmente naquele ponto da Floresta e o solo branco tinha manchas de sangue espalhadas da batalha recente; lembrou-se de sua missão e colocou-se de pé, não encontrando mais o Guerreiro Deus e muito menos as terríveis ametistas que davam ao cenário aquele ar sombrio de antes. Conforme sua memória se reavivou em sua mente, ele ia aos poucos lembrando-se de tudo, até que procurou em desespero os olhos trancados de Shaina e também não os encontrou.

Pois ela não estava mais petrificada pela ametista, mas sentada em um galho acima de Seiya, observando-o acordar. Ela saltou às costas de Seiya e ele virou-se para ela e seus olhos furiosos.

— Shaina!?

Ela nada lhe disse de volta.

Ele ficou dividido entre abraçá-la, afinal ela estava bem, e conter-se, pois ela certamente o socaria se tentasse.

— O que aconteceu? — perguntou ele. — Eu lembro de ter visto Shiryu derrotar o Guerreiro Deus. Vi Hyoga muito ferido, mas onde estão todos eles?

— Hyoga e Shiryu seguiram adiante com as Safiras.

— Nós temos que ir então, Shaina. — falou ele. — Precisamos ajudar o Hyoga e a Shiryu e eu tenho certeza que Ikki e Shun devem estar por aí também.

— Você não está em condições. — falou Shaina muito fortemente.

— Ah, Shaina…

— Não deveria ter saído daquele casebre.

— Eu quase derrotei aquele Guerreiro Deus. — falou Seiya.

— E acabou preso nas Ametistas! — vociferou Shaina.

— Eu vou lutar!

— Vai desobedecer a mim? A Mestre de Armas do Santuário?

— Eu vou lutar. — repetiu Seiya. — Esse é o dever de um Cavaleiro de Atena. Não importa a dificuldade da missão, não importam nossos sentimentos, um Cavaleiro de Atena precisa seguir em frente para garantir a paz neste mundo.

Shaina ficou calada.

E Seiya percebeu que se ele estava consciente e viu, com certa clareza dentro de seu estado de torpor, que Shiryu havia vencido Alberich. Shaina certamente também deve ter visto sua luta contra Alberich e, como do fundo de um rio, escutado suas palavras na batalha. O garoto engoliu em seco.

— Ah, Shaina, você precisa me entender que esse é o dever de um Cavaleiro. — repetiu Seiya para ela, quase desculpando-se e Shaina imediatamente o interrompeu furiosa.

— Cale a sua boca, Seiya! Eu não preciso da sua piedade.

E então a Cavaleira de Prata caminhou duramente na direção da trilha, batendo contra o ombro do Cavaleiro de Pégaso.

— Vamos de uma vez.

— Shaina, eu tenho certeza que você teria feito o mesmo. — falou Seiya às costas de Shaina.

Ela não respondeu e seguiu adiante, obrigando-o a segui-la para não perdê-la de vista; por outro lado, ela já não tinha tanta certeza de que teria feito o mesmo.

Por uma trilha na neve, entre árvores antigas e muito mais adiante de onde eles estavam, Shiryu escorava Hyoga para que pudessem seguir até o Palácio Valhalla. O Cavaleiro de Cisne tinha um ferimento profundo na coxa direita, pois havia sido atravessado por uma estaca de ametista, e agora tingia de sangue um tecido grosso que haviam amarrado ao redor de sua coxa. Os dois obedeceram ao pedido da Mestre de Armas Shaina, que ao acordar e ver-se ainda muito grogue da prisão de ametista, ordenou que ambos seguissem adiante com as Safiras que haviam conquistado.

Hyoga teimou que era imperativo Shiryu seguir sem ele, pois ele apenas a atrasaria com aquele ferimento profundo, mas ela ponderou que aquela não era uma missão contra o tempo, de modo que ambos podiam seguir juntos, tomando o tempo que fosse. E além do mais, por entre aquela Floresta antiga, os olhos de Hyoga poderiam guiá-la com mais rapidez ao destino final de todos: o Palácio Valhalla. Foi ela, inclusive, que ajudou-o a criar aquele torniquete para que seu ferimento parasse de sangrar.

A verdade é que Hyoga sentia-se ainda em dívida por tê-la atacado tão ferozmente quando estava sob o domínio berserkir da sua Safira de Odin; mais do que isso, sentia-se terrivelmente culpado por ter deixado para trás as vítimas de um terrível homem ambicioso que quase matou Seiya e a Mestre de Armas do Santuário. Um homem que o enganou perfeitamente e que havia desaparecido, deixando um rastro de sangue para trás; certamente de volta ao casarão para viver o resto de seus dias como a cobra falida que ele era. De todo modo, Hyoga sentia-se um pouco parte daquela desgraça.

Mas, escorado pela amiga, seguiu em frente.

— Então Jamian nunca retornou ao Santuário. — repetiu ele ao saber por Shiryu daquela desgraça.

— Não. — reforçou Shiryu. — Fomos convocados a vir para Asgard justamente porque muitas semanas se passaram sem que houvesse qualquer notícia de vocês.

Hyoga calou-se em mil pensamentos, quando precisou parar por um instante para recuperar o fôlego e suportar uma enorme dor na coxa, que começou a latejar. Shiryu o encostou contra uma árvore e Hyoga viu que o paredão do Palácio já se aproximava; estavam chegando. Shiryu sentou-se ao seu lado e sentiu as Safiras que trazia: agora eram quatro delas e a garota burilou com as pedras preciosas na mão, como se as pesasse.

— O que era aquela Armadura que você estava usando, Hyoga? — perguntou Shiryu, curiosa.

— Era uma Robe Divina. A que eu usava representava a Jörmundgander, uma gigantesca serpente do norte que era protegida pela Safira da Estrela Gama da Constelação da Ursa Maior.

— Ursa Maior?

— Aqui chamam por outro nome, mas é o mesmo conglomerado de estrelas, eu as reconheço no céu.

— Então as Safiras são representações das Estrelas.

— Exatamente, mas não são apenas isso.

— O que quer dizer?

— Elas também conferem uma força descomunal para quem as usa; Alberich somente pôde nos fazer cair em seus truques de batalha por conta disso. — falou ele, e então olhou para a amiga. — E eu só pude fazer frente a você pelo mesmo motivo.

Shiryu parou de tamborilar as pedras preciosas nas suas mãos e as guardou novamente.

— É uma técnica fabulosa essa que se esconde no seu braço direito, Shiryu.

Ela apenas sorriu e então levantou-se para ajudar Hyoga a seguir adiante.

— Precisamos chegar ao Palácio Valhalla. — falou ela. — Posso sentir o cosmo de Shun lutando.

— Será que ele está em perigo? — perguntou-se Hyoga.

— Não. — confirmou Shiryu. — Mas quem estiver lutando contra ele está.

Hyoga olhou para ela com um sorriso no rosto e juntos seguiram adiante.

 

—/-

 

O grito de Shun ecoava pelo enorme salão de batalha; a escuridão de antes agora parecia substituída por uma impossível névoa branca que dava uma iluminação própria ao local, como se o chão inteiro fosse um espelho de luz. Shun foi arremessado para o teto, abrindo um buraco antes de cair de volta, com parte das pedras do teto caindo em cima dele abrindo um rombo no salão para o lado de fora.

Novamente, ele levantou-se com dificuldades; suas correntes já estavam espalhadas pelo chão, congeladas, mas seu olhar ainda carregava certa obstinação.

— Eu vou derrotar você, Guerreiro Deus. — ameaçou Shun. — Sua rajada é fantástica. Se eu não estivesse usando essa nova Armadura de Andrômeda, eu poderia já ter morrido contra Mime e certamente agora contra você. 

Shun respirava com dificuldade.

— Mas o sangue quente dos Cavaleiros de Ouro flui nesta Armadura de Cavaleiro. — ele respirou fundo uma última vez e sua Cosmo-energia rosa apareceu cobrindo seu corpo. — Em outras palavras, os Cavaleiros de Ouro estão me protegendo e eles nos confiaram essa missão de Atena e é por isso que eu preciso vencê-lo para poder selar a Relíquia do Mar de Asgard.

— Os Cavaleiros de Ouro? — perguntou Sid, com um sorriso no rosto. — Pois saiba que o Cavaleiro de Ouro sequer foi páreo para minhas garras. Eu destruirei essa sua Armadura como destruí o elmo do Cavaleiro de Ouro que ousou me atacar no Santuário.

Sid então simplesmente desapareceu, o corredor largo inteiro iluminado todo de branco, um frio tremendo fez despencar a temperatura do ambiente e uma névoa espalhava-se por todo o lugar. A corrente de Shun reagiu, mas ele foi atacado por lados completamente inesperados; Sid sempre reaparecendo para rasgar o garoto com suas garras.

Shun saltou para escapar daquela névoa terrível e usou seu cosmo criando um vórtice de vento que soprou para longe aquela bruma, limpando a precipitação que podia cobrir seus pés no chão, como se o gelo-seco se espalhasse por todo o lugar. Sid apareceu às costas de Shun no ar e o atingiu, jogando-o para o chão. As dores o atormentavam no corpo inteiro, quando, deitado, seu corpo foi novamente coberto por aquela névoa terrível. Sid ria diante dele.

O ar congelante do Guerreiro Deus era mesmo mortal; mas ao contrário de Hyoga, que o usava como um tufão e rajadas violentas, Sid tinha uma névoa silenciosa e calma que parecia lentamente consumir todo o calor e a vida de quem se encontrava perto dela. E através dela, ele sim movia-se feito um felino terrível para estraçalhar suas vítimas. Fosse como fosse, Shun também perdia aos poucos por conta daquela maldita nébula fria.

— Irmã… 

Shun ouviu sua própria voz pensando em Ikki; e se aquele frio era de congelar cada átomo de seu corpo, dentro de seu coração para sempre bateria o calor das chamas da Fênix imortal que era sua irmã. Ele sabia o que fazer. Ele só estava vivo graças àquela Armadura, pois sua teimosia pacífica já o teria largado morto; era hora de Shun acordar para seu dever de Cavaleiro de levantar seus punhos, que ele buscava sempre controlar. Seu Cosmo apareceu ao redor de seu corpo não mais como aquele rosa que tão bem o transformava, mas agora era um brilho dourado que chegou a surpreender Sid pela claridade e força.

A névoa branca que permeava aqueles salões moveu-se finalmente, não dispersa por um sopro forte, mas simplesmente em tramas e padrões específicos no chão, o que deixou Sid absolutamente assombrado. Shun levantou-se e começou a caminhar calmamente na direção do Guerreiro Deus, que somente então percebeu que não podia mover qualquer membro de seu corpo, totalmente paralisado.

— Desista, Sid, não poderá mais se mexer. — falou Shun com calma. — Minha corrente de ar se equilibra para restringir qualquer movimento que você faça, de modo que não poderá mais se mexer.

— Desgraçado. — falou Sid entre dentes, já que até mesmo abrir a boca era quase impossível.

Shun aproximou-se do Guerreiro Deus e então facilmente tirou a Safira de Odin que ele tinha cravada em sua Robe Divina.

— Mime foi capaz de me confundir com sua música, mas o seu frio não é capaz de desviar o meu cosmo.

Assim que Shun retirou a Safira de Odin, ele viu como a aura de Sid simplesmente vacilou levemente; o Cavaleiro de Andrômeda desanuviou seu sopro de ar cósmico e Sid caiu no chão de joelhos, buscando ar como se estivesse sendo estrangulado e subitamente o soltassem. 

— Andrômeda. — falou ele, de modo arfante. — Se podia ter tomado a Safira dessa maneira desde o começo, porque deixou-se apanhar tanto?

Shun sentia as dores por todo o corpo e muitos ferimentos vertiam sangue de seu braço.

— Eu sempre acredito na paz. — começou ele. — Sempre acho que é possível convencer meus inimigos de que nossa missão é justa e evitar qualquer batalha sem sentido.

— Andrômeda…

— Somente em último caso é que faço uso de meus punhos.

— Entendi. — falou Sid, enquanto Shun já caminhava para seguir adiante.

Mas Shun enganou-se se todo o poder de Sid era devido àquela Safira de Odin. Às suas costas, Sid fez brilhar seu seidr divino e Shun surpreendeu-se ao vê-lo pronto para continuar lutando.

— Eu já entendi a sua técnica, Cavaleiro de Andrômeda. Não poderá me paralisar mais.

— Mas está sem a sua Safira, não será páreo para mim.

— Não me subestime, Cavaleiro! — falou Sid, furioso. — A Safira pode dar aos comuns um poder descomunal, mas nós, os verdadeiros Guerreiros Deuses, treinamos a vida inteira para termos todo o poder que um Guerreiro Deus deve ter. Com ou sem a Safira. Pela memória de Thor, o maior dos Guerreiros Deuses desta era, eu vou te derrotar e tomar essa Safira de Odin de volta.

— Não faça isso, Sid. Só há um jeito dessa batalha acabar se você continuar.

— E será com seu cadáver estirado nesse salão!

Sid saltou como uma pantera para atacar Shun, mas novamente os ventos do Cavaleiro de Andrômeda aumentaram de violência repentinamente, arremessando Sid para o fundo do salão. 

— Eu prometi que não usaria mais essa técnica. — falou Shun. — Aquela deveria ter sido a última vez.

— Do que está falando, Andrômeda? — perguntou Sid já levantando-se, enquanto os ventos sopravam ao seu redor.

— Você gaba-se de ter vencido um Cavaleiro de Ouro, mas saiba que eu também fui o responsável pela derrota de outro Cavaleiro de Ouro. Mas ao contrário de Aldebarã, que valentemente sobreviveu à sua batalha, Afrodite de Peixes, um valoroso guerreiro, não teve a mesma sorte ao ser atingido por minha técnica. E eu jurei que aquela seria a última vez que eu a usaria. Por favor, desista. Deixe-me partir para o lado de Geist.

A aura gélida e branca de Sid outra vez brilhou naquele lugar.

— Eu sou o Guerreiro Deus Sid de Mizar, servo de Odin.

O ar tornou-se ainda mais forte.

— Droga. — reclamou Sid, enquanto ascendia ainda mais sua energia para mover-se mais livremente.

Ele abriu as pernas, fincando-as no chão, enquanto sua capa branca esvoaçava às costas; seus cabelos claros também batiam contra o elmo felino que cobria seu rosto. A névoa branca que antes movia-se de acordo com a vontade do cosmo de Shun, de repente começou a subir feito uma cascata ao céu, como um tufão branco; Sid assombrou-se, mas o que Shun quis fazer era claro e terrível: ele sugou todo o frio de Sid que permeava aquele lugar de modo horrível, deixando seus movimentos e pensamentos mais lentos, tal era a temperatura baixa daquela névoa. Pois toda ela foi sugada para fora do palácio pelo rombo que havia se aberto no teto.

Agora eram apenas Shun e Sid.

E no lugar da névoa gélida de Sid, agora espalhavam-se os ventos fortes de Shun. O jogo tinha virado.

— A correnteza de ar está ficando ainda mais poderosa. — observou Sid ao seu redor.

— É isso mesmo. Ela se torna mais poderosa conforme o meu Cosmo. E finalmente a correnteza de ar se transforma em uma terrível tempestade. Desista, Sid!

— Nunca! Pela honra de Asgard. De minha família!

O seidr brilhou, o tigre negro apareceu desenhado em névoa por trás de Sid e Shun teve a certeza que ele não tinha outra escolha. Sua voz precisaria ecoar fazendo seus ventos destruírem aquele inimigo; sua garganta secou de tristeza e, assim que ele gritou, começou a chorar junto.

— Tempestade Nebulosa!

Um clarão iluminou todo o salão e quando se apagou Sid havia sido arremessado contra o teto do Palácio, rompendo-o com força, fazendo com que ele vislumbrasse o céu de Asgard pela primeira vez em dias, já que a noite breve se avizinhava no Reino do Norte e as nuvens, talvez por milagre, aos poucos se moveram no céu. A constelação de Karlvagn estava no firmamento e sua estrela brilhava tênue quando seu corpo estilhaçou-se de volta no salão diante de Shun. Seu elmo destruído em duas partes. Sid estava derrotado por Shun de Andrômeda.

— Como é possível que um garoto possa ter tanta força, mesmo ferido desse jeito. É inacreditável. — sua voz embolou com o sangue que lhe apartava o pescoço. — Perdoe-me, divina Hilda. Glória à Asgard. — foram suas últimas palavras.

Shun respirou fundo, limpou as lágrimas correndo por seu rosto, pois outro cadáver à sua frente era uma visão que o deixava absolutamente arrasado. Ele caminhou até o corpo de Sid, mas quanto mais se aproximava, Shun percebeu na escuridão, já que a névoa branca que antes iluminava a tudo havia sido evaporada, um outro corpo muito ferido: o de Geist.

— Geist!? — correu ele até ela.

— Ah, Shun. Cuidado. — repetia ela. — Cuidado com a Sombra!

— A Sombra? — perguntou Shun.

— Atrás de você, Shun!

Outro clarão no salão atingiu Geist, que jogou-se outra vez na frente de Shun, e ela caiu novamente muito ferida com parte da Armadura de Prata em pedaços. Uma silhueta finalmente surgiu emoldurada por um seidr gélido e branco como a neve.


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Notas finais do capítulo

SOBRE O CAPÍTULO: Luta entre Shun e Sid é perfeita e não tem porquê mexer. Adicionei apenas a angústia de Shun ao ter de lugar e tirei o golpe Impulso Azul de Sid, pois esse golpe, originalmente, era de Alexei dos Bluegard que eu trouxe de volta como um Tenente Marina. Desse modo, eu não queria repetição de golpe.

PRÓXIMO CAPÍTULO: O TIGRE DAS SOMBRAS

Shun e Geist precisarão lutar contra a sombra de Sid em uma batalha terrível que fará o Cavaleiro de Andrômeda perder as esperanças.



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