Sorvete vermelho escrita por kicaBh


Capítulo 1
Capítulo 1




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JANE

Dois anos vivendo numa ilha e eu acabei sendo fisgado pelo truque mais velho do mundo : Uma mulher.

Na verdade, Kim Fischer.

Eu voltei a Austin enganado. As exigências que escrevi num guardanapo Abbott simplesmente ignorou, e como eu também não cedi ele acabou me trancando numa cela federal.

E isso já tem dois anos.

Neste tempo, nem minhas cartas a Lisbon eu pude mandar. As únicas pessoas que eu consegui ver, neste tempo todo, foi o próprio Abbott e Kim Fischer.

E a prisão federal passou a ser o meu lar. Eu tentei muito entrar em contato com Lisbon durante este tempo, mas diante da minha recusa em ajudar na solução de casos, Denis Abbott e Kim Fischer não permitiram. Eu pedi, pelo menos, que eles a avisassem que eu estava bem.

O que eu imagino que foi feito, porque ambos não pareciam mentir quando me confirmaram. Mas não deram notícias de como ela estava, o que fazia. Quatro anos sem ver a Lisbon, eu tinha muita saudade dela.

Acho que motivado por esta saudade eu comecei a pensar em sair deste lugar. Ficar preso não era minha ideia inicial, eu sei que deveria cumprir pena por matar o Red John, nunca me enganei que isso aconteceria de alguma forma. Mas essa pena já foi o suficiente.

Dois anos isolado numa ilha e quase dois numa cela é um tempo suficiente para pensar na vida e saber que é necessário seguir adiante.

Então eu bolei um plano. Eu não sou bobo, eu sei que desde que Kim me conheceu naquela ilha, o interesse não foi totalmente fingido. Então eu comecei, nas visitas que ela fazia com o Abbott a minha cela, a tentar seduzi-la. Acho que ela pensava o mesmo, talvez na intenção de me fazer colaborar.

Mas o jogo funcionou e ela começou a me visitar sozinha. E eu intensifiquei meu flerte e funcionou, porque algum tempo depois Denis Abbott cedeu e eu pude sair da minha cela federal para um apartamento especial, um lugar maior e mais privativo, mas igualmente vigiado.

Ainda insatisfeito eu resolvi ceder uma parte e aceitei trabalhar no FBI com uma exigência atendida. Trabalhar diretamente com Teresa Lisbon.

E eu não via a hora de rever Teresa após todo este tempo.  Quase quatro anos, eu senti muita falta dela, mais do que posso admitir a mim mesmo que seria adequado a alguém que eu chamava de amiga. Mas eu sentia falta de Teresa como do ar que respiro. Minha liberdade, sem a presença dela, não seria completa.

Quanto a Kim e ao nosso envolvimento, eu sei que deveria ter parado quando ela admitiu o interesse. Mas eu também fico carente. E mesmo sem ter consciência de como a carência nos leva a decisões equivocadas, e eu e Kim acabamos adquirindo uma amizade colorida.

Não tínhamos nada além de alguns encontros fugazes, mais por iniciativa dela do que minha. Kim era uma mulher atraente, não vou negar. Além de ser bom se sentir desejado, eu venci a batalha do flerte. E eu detesto perder.

Acabei gostando do fato de estar na cama de uma mulher depois de tanto tempo, mas nunca imaginei que isso virasse um algo mais sério. Achei que sairíamos algumas vezes e então cada um seguiria sua vida.

Só que contra meus prognósticos, Kim se mostrou realmente empolgada em estar comigo. Eu percebia, ao transar com ela, que havia mais para ela ao estar ali cedendo ao desejo físico. Havia algo que eu não conseguia retribuir.

Estar com ela era satisfatório, mas eu não me rendia, eu ainda era capaz de controlar cada fala, cada momento nosso.

Em suma, eu não me apaixonei, nem sei se sou capaz de me apaixonar novamente. Talvez eu fosse, hoje em dia, capaz de me relacionar com uma mulher novamente desta forma física e superficial.

Para a Kim não parecia ser o caso e eu pensei que quanto antes isso terminasse, menos dano causaria. Principalmente agora que alguém muito importante estava voltando para a minha vida.

LISBON

Quatro anos. Quase 4 anos sem ver o Jane.

Quando o FBI me chamou hoje eu quase não acreditei.

Eles me disseram que o pegaram a um tempo atrás, quando Abbott e depois uma mulher, Agente Fischer, vieram ao meu condado me “visitar” e fizeram muitas perguntas. Naquele dia eles queriam que eu desse a eles todas as dicas sobre um prisioneiro deles, para fazê-lo colaborar, como controla-lo. Com muito custo confirmaram ser o Jane e eu disse que se não falasse com ele, não iria colaborar.

Eles não permitiram que eu o visse, ou falasse com ele, ou mandasse uma carta. Então eu não colaborei

Desde então eu rezei para que tudo estivesse bem com o Jane e claro, pensei em obter informações de uma fonte confiável que eu tinha no momento.

Na verdade, eu tinha essa fonte a quase 2 anos.

Quando as cartas de Jane sumiram eu me senti muito mal e um tanto quanto carente também. Nesse meio tempo, durante uma operação em Washington, não a capital, a cidadezinha simplória onde sou xerife, passou por uma rota de roubos de arte eu conheci Marcus Pike.

Ele veio até mim, pedindo permissão para montar uma operação numa galeria de arte, algo tão prosaico nessa cidade que eu me vi envolvida naquela operação como se fosse algo de vida ou morte.

Eles conseguiram pegar o ladrão de antiguidade e no fim de tudo eu consegui algum prestígio e um convite para um encontro.

Imaginei que sair com Marcus Pike pudesse me dar informações sobre Jane, mas não tive coragem. Na verdade ele estava tão somente interessado em mim, nunca tinha ouvido falar nada desse “fugitivo” e me perguntou se eu era uma mulher esperando o homem amado.

Eu neguei, mas contei a história de vida do Jane, o que o impressionou. E não o impediu de me convidar de novo para sair e de novo e de novo. E apesar de certa distância entre Austin e minha cidadezinha, eu e Marcus Pike nos envolvemos romanticamente.

Namoramos e o que eu posso dizer ? que ele é um homem maravilhoso, que é compreensivo, divertido e muito bonito.

Seria tudo perfeito se eu o amasse tanto quanto ele me ama. Ele diz abertamente que me ama e eu fico me perguntando se eu sou capaz de alguém de amar desse jeito intenso na vida, porque até hoje, em nenhum dos meus relacionamentos anteriores, ou com o Marcus, eu consegui me render. É sempre muito bom estar com ele, mas eu ainda sou eu mesma, eu consigo pensar , eu consigo decidir.

Jamais tivemos uma briga e essa semana, mesmo eu estando distante porque saber que posso rever o Jane, o Marcus entendeu.

Nesse tempo ele bem quis que eu fizesse um teste para o FBI, mas eu sempre recusei, porque eu entraria para o governo federal somente interessada em informações sobre Patrick Jane. E não seria correto, então como jurei nunca pedir a ele que pesquisasse o Jane, também jurei não entrar para o FBI para encontra-lo.

JANE

Rever Lisbon foi possivelmente das maiores alegrias da minha vida. Da minha nova vida, aquela que eu tive que reconstruir após perder minha esposa e filha, rever Teresa é a minha maior alegria. Eu sabia que sentia falta dela, eu escrevi para ela, mesmo na cela onde sabia que o FBI não entregaria minhas cartas, eu escrevi muito para ela.

A presença de Teresa em minha vida era sinônimo de equilíbrio e agora eu constatava, de felicidade. Eu era um homem feliz se eu via Teresa todos os dias.

Quando entrei naquela sala e pude abraça-la foi um misto de sentimentos para mim. Eu me senti completo, no lugar certo, disposto e com uma felicidade que eu julgava jamais ser capaz de sentir novamente.

Mesmo reticente com os termos e achando que estava sendo chamada para ser uma espécie de babá minha, Lisbon cedeu e aceitou vir trabalhar no FBI, junto comigo.

Achei, neste momento, que Kim desistiria de mim, já que minha predileção por Teresa, profissionalmente falando, era escancarada. Pessoalmente também, porque eu pedi que meu sofá fosse colocado exatamente atrás da mesa da Lisbon.

Eu sei que ela questionou Lisbon sobre nossa relação mais estreita. A própria Kim me contou quando apareceu no trailer onde agora eu morava, sem avisar. E mesmo que eu demonstrasse desagrado dessas aparições e dissesse que não queria ser controlado, Kim de vez em quando vinha me ver.

Teresa, se desconfiava de alguma coisa, nunca me perguntou. Mantivemos a mesma relação de camaradagem e privacidade que sempre tivemos. Estar perto de Teresa é suficiente, pois coloca a minha vida no lugar e eu me sinto completo tendo ela perto de mim. E assim a vida seguiria, eu teria Lisbon ali próxima de mim e até Kim entender, de vez em quando ela me procuraria e nós viveríamos alguns momentos.

Em minha inocência só não imaginei o que houve na minha ausência, Teresa arranjou um namorado, Marcus Pike.

Quando a parabenizei, numa ironia fingida, sobre o namoro, Teresa deixou escapar que sabia de mim e Kim e para minha surpresa, que a própria Kim tinha contado a ela. E que ela também me desejava a mesma felicidade que eu sonhava para ela. Se foi ironia, não percebi, ao contrário, o que percebi é que nós dois parecíamos fingir que os namoros eram da mais normalidade em nossas vidas.

Eu não consegui revidar Lisbon naquele momento, dizer que não eu e Kim não tínhamos nada. Acho que meu orgulho ferido por Lisbon não se esconder com seu romance me fez não dizer nada e eu a deixei entender que havia algo mais do que realmente havia entre mim e Kim.

Mas o destino não facilita e diante deste arranjo consolidado, ou seja, Lisbon e Pike assumidíssimos, mesmo ambos no FBI, e eu Kim, num quase relacionamento, quase conhecido e assumidíssimo por ela, me fez entrar numa situação que eu não quis.

A agente Fischer, simplesmente num movimento calculado, nos convidou para um jantar, um encontro como se fossemos dois casais amigos saindo para comemorar.

Eu me sentia um rato acuado, primeiro porque não me considerava um casal com Kim Fischer, e segundo porque não queria estar participando da vida de Lisbon e Pike como um casal. Era um relacionamento que me causava um ciúme até então desconhecido.

Eles estão juntos a mais de um ano e eu convivo com esse arranjo a apenas alguns meses, mas não consigo ser normal sobre isso.

Tudo bem que eu nunca cogitei ter outra mulher, oficialmente em minha vida, depois da Angela. Eu não me sentia capaz o suficiente de manter um relacionamento estável, de amar tão grande novamente como foi meu casamento e como foi minha filha.

Acabei assumindo que mulheres fortuitas na minha cama seriam minha realidade e emocionalmente eu estaria a salvo, desde que Tereza estivesse ao meu lado.

Acreditei que Lisbon também mantinha esse arranjo na sua vida, porque sei que alguns homens passaram pela cama dela, mas nenhum forte o suficiente para vencer a barreira dos sentimentos de minha amiga e parceira. Até esse agente Pike.

E agora me estranho por não conseguir burlar o ciúme de ver minha amiga num namoro oficial, aberto e conhecido por todos. E eu não tinha nada para falar de mal de Marcus Pike. Ele era educado, gentil, compreensivo e me soava muito, muito apaixonado. E diante dessa constatação de que Teresa era capaz de despertar tamanho sentimento num outro homem, e até corresponder a isso, num momento infantil de minha parte, aceitei participar deste encontro proposto.

Não sei o que pensei, se quis causar ciúme em Lisbon como ela estava causando em mim. Mas o que eu pude perceber, de início, foi que Teresa ficou um pouco decepcionada com esse compromisso. E ao invés de me sentir feliz, meu coração sentiu uma ponta de tristeza.

Sempre foi complicado administrar o que Teresa causa em mim num nível mais pessoal. Nunca sei como agir, porque sempre penso que nenhum dos meus truques funciona com ela. Toda tentativa de mantê-la longe da minha vida foi frustrada, ela sempre esteve lá, eu sempre quis que ela estivesse. Eu sempre confiei nela e mal percebi que não sei viver sem sua presença.

E desde de que Lisbon e Pike esfregam seu romance sobre meu nariz eu venho pensando em como viver com essa realidade, em que lugar eu estou nesse relacionamento. Sei que soa ridículo essa minha frase, o relacionamento dela com Pike é amoroso e comigo é fraternal. Mas nada dentro de mim se conforma com esse arranjo.

Sua cabeça está longe, Patrick. A voz de Kim me chamou enquanto ela estacionava no restaurante. Eu não dirigia, essa era outra mulher que achava que eu era muito veloz no volante. Mas diferente de Teresa, onde eu brincava e ela acabava cedendo, não tinha conciliação com Kim.

Não gosto de encontros duplos. Eu respondi estoicamente.

Ah, mas a Lisbon e o Pike ficaram tão animados. E eu quase ri de Kim neste momento. Pike se mostrou desconfiado, porque o que ele sentia em relação a minha amizade com Teresa era isso, desconfiança. E Lisbon olhou para o teto, assim como eu, querendo se livrar daquele compromisso.

Não respondi nada a isso, porque eu sabia que Fischer não lia mal as pessoas. Ela estava forçando a barra, fazendo parecer que esse arranjo poderia funcionar. Que nós quatro poderíamos nos tornar casais que eram amigos e quem sabe até viajavam juntos.

O problema é que eu cada vez mais tinha certeza de que não queria ser amigo de Teresa se ela tivesse um namorado. Essa realidade me atingia forte toda vez que eu via Pike buscar Lisbon no FBI. Outro dia descemos o elevador juntos e eles de mão dadas, carinhos, afagos me causou um mal estar desconhecido.

Eu realmente não gosto dessa realidade onde Teresa não é minha e mesmo que eu afirme que não terei um relacionamento sério novamente, admito que não quero perder Teresa Lisbon para Marcus Pike.


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