She escrita por Mavelle


Capítulo 22
Capítulo 21


Notas iniciais do capítulo

BOM DIAAAAAA
Venho pedir antecipadamente que não me matem.
Isto é tudo por hoje, espero que gostem

Beijos,
Mavelle



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As duas semanas seguintes se passaram num piscar de olhos. Depois de passar a informação para Andrea, Sophie ficou sem nenhuma notícia dela, o que definitivamente a preocupou depois de algum tempo. Era normal que às vezes ela sumisse por algum tempo, mas mais de uma semana sem responder uma única mensagem? Alguma coisa devia ter acontecido. Foi nesse ponto que mandou uma mensagem para Conrad, que definitivamente devia saber de mais do que ela, perguntando se estava tudo bem. 

“Conrad: Várias reuniões

Conrad: Muito ocupados para responder 

Conrad: Se descobrir algo muito urgente, fale com Ravenscroft ou Riverdale” 

E isso foi tudo que conseguiu de comunicação com qualquer um dos dois durante todo aquele período. Tinha certeza de que deviam estar ajudando a organizar alguma coisa importante pela ausência relativamente longa, mas ainda assim estava angustiada. 

Andrea só reapareceu no domingo seguinte, bem no momento mais inconveniente. 

Era o fim da tarde e Benedict tinha ido para o apartamento de Sophie depois do almoço, após um pedido dela.

"Sophie: Meu bem

Sophie: Vai fazer o que hoje de tarde? 

Benedict: Nada importante 

Benedict: Por que? 

Sophie: Tô com saudade 

Sophie: Mal te vi essa semana… 

Sophie: Mas o que era o nada importante? 

Benedict: Eu ia pro parque treinar desenho

Sophie: Entendi

Sophie: Se você quiser vir pra cá e me usar de modelo, fique bem à vontade

Benedict: Muito tentador

Sophie: Vem 

Sophie: Uso a roupa que você quiser

Sophie: (que também pode ser nenhuma)

Benedict: Vou estar aí em 15 minutos

Benedict: Eu não tô brincando

Sophie: Isso é uma ameaça? 

Benedict: Uma promessa

Benedict: Chego já"

Então os dois tinham passado a tarde juntos, aproveitando que tinham o apartamento inteiro só para eles, já que Posy tinha saído e disse que só voltaria à noite. Como ambos sabiam como terminaria se Sophie realmente posasse nua para um desenho, ela primeiro posou completamente vestida, apenas segurando uma xícara sobre a mesa enquanto os dois conversavam. Benedict pediu desculpas por ter praticamente desaparecido durante a semana, mas garantiu que tinha um bom motivo: tinha terminado a nova exposição. Sophie ia se levantar e ir abraçá-lo, mas ele reclamou que ela ia se levantar (e mudar de posição) e disse que ela teria que parabenizá-lo mais tarde, depois que ele terminasse, o que ocorreu mais ou menos uns 15 minutos depois disso. 

Para “parabenizá-lo”, ela disse que ficaria nua para que ele treinasse o desenho. Convenientemente, decidiram que o melhor lugar para isso era com ela deitada na cama. 

Não levou nem dez minutos até que Benedict decidisse se juntar a ela. 

Como artista, podia fazer aquilo o dia inteiro sem se afetar, mas também era humano e sua namorada estava lhe despindo com o olhar. 

E foi logo depois de terem acabado o segundo round, enquanto ambos estavam suados e levemente cansados, que o telefone de Sophie apitou, indicando que alguma mensagem tinha chegado. Ela não fez nenhuma menção de pegar o telefone, mas Benedict foi se levantando da cama. 

— Vou na cozinha. - ele anunciou, colocando a cueca. - Você quer alguma coisa? 

— Água, por favor. 

Ela esperou que ele saísse do quarto para se sentar e pegar o telefone, que estava dentro da gaveta da mesa de cabeceira. 

 Como ela imaginava, era Andrea finalmente dando sinais de vida. 

"Andrea: Estamos mobilizando todos os agentes disponíveis para a tarefa de desmontar as brigadas

Andrea: Esqueça a sua missão atual

Andrea: Você vai começar no trabalho na próxima segunda feira" 

Sophie quase caiu da cama. 

Claro que sabia que isso aconteceria qualquer dia, e achava que realmente tinha conseguido passar bastante tempo naquela mesma posição, considerando que estava há algumas semanas sem conseguir informações concretas pelas escutas, mas ainda foi um baque. Teria de sair da Bridgerton, onde adorava trabalhar, e aquilo seria mais difícil do que imaginava inicialmente. 

Ela escutou passos se aproximando pelo corredor e logo colocou o telefone do trabalho dentro da gaveta. 

— O que vai querer jantar? - Benedict perguntou, entrando no quarto com o copo de água que ela tinha pedido e já entregando para ela. 

Ele deitou, apoiando a cabeça no seu colo, e Sophie começou a passar as mãos pelos seus cabelos, já pensando que aquela seria uma das últimas vezes que teria a oportunidade de fazer aquilo. Sua garganta apertou de repente. Seria difícil sair do trabalho, sim, mas deixar Benedict? 

Aquilo ia doer pra caralho.

Teria de fazer aquilo em algum ponto daquela semana, mas evitaria o momento enquanto fosse possível, então resolveu simplesmente responder a sua pergunta.

— Hm… Pizza? 

— A gente comeu pizza semana passada. 

— Ah verdade. - ela ficou em silêncio por um momento enquanto pensava, mas logo começou a rir. - Nós parecemos um casal velho. 

— Isso é bom ou ruim? 

— Bom. - ela disse com um sorriso, que logo lhe foi devolvido. 

Bom até demais, infelizmente, Sophie pensou, com pesar. De que valia aquilo se precisava terminar tudo? 

Deixou o pensamento de lado. Por aquela noite, fingiria que não estava prestes a abandonar a vida que tinha criado para si nos últimos 5 meses. Na manhã seguinte, encontraria as forças para fazer isso, mas, naquela noite, apenas aproveitaria a proximidade com Benedict, sem se perguntar se estaria deixando passar algo importante quando a semana acabasse e ela tivesse que seguir seu caminho. 

***

Na tarde seguinte, Sophie já estava com tudo planejado. Tinha se sentado na mesa da cozinha de manhã e montado uma lista escrita das coisas que precisava fazer durante aquela semana. 

1. Segunda e terça-feira: parecer triste no trabalho

2. Quarta-feira de manhã: me demitir (ou encontrar com Araminta e irritá-la para que ela me demita antes) 

3. Quarta-feira na hora do almoço: dizer para a Posy que vou me mudar (se o primeiro parêntese acontecer, vai ser mais fácil)

4. Quarta-feira de noite: terminar com o Benedict

5. Quinta, sexta e sábado: ficar triste (e beber) pelo item anterior 

6. Domingo: terminar de arrumar as coisas e ir embora. 

Fingir estar triste na segunda e terça vai ser fácil, ela pensou, avaliando os itens da lista. Na verdade, não preciso nem fingir. Eu ainda amo o MI6, mas, em algum momento do último ano, o encanto se perdeu e de alguma forma surgiu aqui

A quarta-feira vai ser um dia difícil demais. Por que eu botei tudo pra quarta? Ah, é. 3 e 4 tem que ser depois de 2 e é impossível manter 2 em segredo de Posy e Benedict por mais do que algumas horas. Além disso, se for depois de quarta, eu não vou ter tempo pra 5 ou pra 6 e eu preciso estar inteira para começar a nova missão na segunda.

Quando terminou, ficou encarando o papel por um momento, memorizando a programação para a semana. Eram seis coisinhas que precisava fazer. Só seis coisinhas. Que uma delas partiria seu coração ao meio era apenas um detalhe.

Tentava repassar como faria cada um dos itens enquanto limpava a sala de Araminta, pelo que sabia que provavelmente seria a última vez. Ainda estava no meio da tarde, mas ela estava numa reunião que levaria a tarde inteira, de acordo com sua agenda, então pediu que sua sala fosse limpa nesse horário. Como Sophie viu que a bateria das escutas estava baixa, se voluntariou para limpar a sala, aproveitando para trocá-las enquanto ainda podia. 

Pensou que só teriam mais duas semanas ouvindo aquelas conversas, mas, ainda assim, estava tranquila. Tinham deixado de discutir as coisas importantes na sala dela, então provavelmente não perderiam nada, mesmo depois que as baterias acabassem. 

Sophie tinha acabado de trocar a última escuta quando ouviu passos se aproximando no corredor, então logo se levantou e começou a passar um pano pela mesa, que já estava limpa. 

— Ora, ora. Que surpresa te encontrar aqui, Sophia. - Araminta disse. 

— Boa tarde. - ela disse, apenas, já se afastando da mesa e dando graças aos céus que teve tempo de se levantar. Não fazia ideia do que inventaria para justificar estar sentada debaixo da mesa, sendo que aquela região não era uma parte do protocolo comum de limpeza que tinha de ser seguido. 

— Já acabou? - a ex-madrasta perguntou, andando até a mesa e sentando na sua cadeira. 

— Quase. 

Sophie ainda precisava terminar de espanar as estantes, o que infelizmente a deixava bem perto de Araminta. Torceu para que o acordo implícito delas de não se falar se não fosse necessário estivesse válido, mas Araminta tinha outros planos. 

— Sabe, a Posy deixou algo muito interessante escapar no nosso último jantar. - ela disse. - Alguma ideia do que pode ter sido?

— Não faço ideia. - Sophie respondeu, realmente não fazendo ideia do que Posy podia ter revelado sem querer. - Pensei que você se considerasse superior à fofoca. 

— Bom, fofoca é uma forma de informação e eu sempre amei informação, apesar da fofoca não ser o modo mais digno de a conseguir. De qualquer forma, ela disse que você estava saindo com uma pessoa. 

— É verdade. Por mais chocante que possa parecer, eu saio em encontros e tenho uma vida amorosa, como a maior parte das outras pessoas adultas do planeta. 

— Bom, a maior parte das outras pessoas adultas do planeta não saem com Benedict Bridgerton. 

Nada na frase dela deveria parecer uma ameaça, mas Sophie entrou em modo de alerta. Tudo que saía da boca de Araminta parecia uma ameaça, e Sophie não conseguiu evitar entrar num modo defensivo. Fingiu que tinha terminado de limpar as estantes e simplesmente saiu de perto da mesa. 

— Fodendo o segundo Bridgerton… - Araminta disse, com um aceno de aprovação que fez Sophie se arrepiar. - Você é mais esperta do que eu imaginava. Acho que aprendeu mais comigo do que deixou transparecer, porque isso definitivamente parece com uma página do meu livro. 

— O que quer que você esteja imaginando, pode ter certeza que não é essa a razão. Tudo o que eu percebi que você fazia, eu tentava fazer exatamente o contrário. E não traga o Benedict para essa conversa. - ela disse, em tom de ameaça. Araminta podia ser tão desprezível quanto quisesse com ela, mas não tinha direito de falar nada sobre Benedict ou sobre o relacionamento deles. 

Sophie percebeu o olhar da madrasta se demorar no seu, como se estivesse procurando alguma coisa. E então, quando encontrou o que estava procurando, a desgraçada  começou a rir.

— Calma lá. Você se apaixonou pelo rapaz? - ela soltou uma risada de escárnio, e Sophie não disse nada, nem afirmando nem negando a informação. - Ah, Sophie. Acha mesmo que um homem como aqueles vai querer algo de verdade com você? O filho de uma das famílias mais influentes de Londres não vai querer ter nada a ver com uma faxineirazinha. Sinto muito pela franqueza, minha querida, mas alguém precisa falar a verdade para você. 

Eu sou a pessoa que não quer assumir nada. 

— Então minha primeira impressão estava certa: você é mesmo burra. 

— Eu tenho minhas razões e nenhuma é problema seu. Agora, se me permite, eu tenho outras salas a limpar antes de ir embora. 

Sophie ia sair da sala, mas Araminta a parou.

— Seria uma pena se essa informação saísse desta sala, não acha? 

— Não. - ela disse, simplesmente. - Acho que somos todos grandinhos o suficiente para saber que essa informação não vale o que quer que você tenha em mente para que eu faça ou não faça ou sei lá o que. É um segredo mal guardado de qualquer forma. Tenha uma boa semana.

Sophie saiu da sala de Araminta, sentindo que tinha vencido. 

***

Na manhã seguinte, Sophie acordou com uma fresta de luz que entrava pela janela e batia bem em cima do seu rosto. Era algo que geralmente a incomodava quando se esqueciam de fechar as cortinas à noite, mas naquele dia ela acolheu o calor do sol e a claridade. Virou devagar para o outro lado, tentando não acordar Benedict, que ainda dormia. 

Ela sentiu o coração bater mais forte ao vê-lo mergulhado naquele sono tranquilo. Era tão bonito que seu peito chegava a doer quando pensava naquilo. Queria acordar e ver seu rosto todos os dias, não só algumas vezes por semana. 

Será que estava indo muito rápido? 

Não que aquilo importasse no momento, dado que, em menos de 48 horas, teria terminado tudo com ele. O que ela queria não importava de verdade naquele momento. 

Então Benedict abriu os olhos, fechando-os de novo em seguida. 

— Bom dia, flor do dia. - ele disse, a voz rouca de sono. 

— Bom dia. - Sophie respondeu, já se aproximando mais dele. Queria aproveitar aquela proximidade enquanto podia. 

— Feliz seu dia. - ele disse, depositando um beijo em seu queixo.

— Por que meu dia? - ela estranhou.

— É o dia internacional da mulher. 

— É? 

— É sim. 

— Ah. Nesse caso, obrigada.

Ele sorriu. 

— Sabe, eu amo conversar com você de manhã. Eu ainda estou completamente desorientado, enquanto você parece já estar desperta o suficiente pra ter feito meio bilhão de coisas, apesar de nunca saber a data e de eu saber que você acabou de acordar também. 

— Você sabe quando eu acordo? 

— Sim. Sempre uns três minutos antes que eu. 

— E como você sabe? 

— Você tenta virar sem se mexer muito, mas sempre puxa o lençol. E sabe, ainda estamos no inverno. 

O queixo de Sophie caiu. 

— Por que você não disse isso antes?

— Porque eu prefiro ser acordado por um pouquinho de frio e ver seu rosto do que continuar dormindo e ser acordado pelo despertador dez minutos depois. 

— Isso é muito fofo, mas, se fosse o contrário, esteja avisado que eu puxaria as cobertas de volta. 

Então ele riu. 

Foi uma risada tão gostosa que Sophie teve a certeza de que queria escutá-la o tempo todo, se possível. E de que faria o que fosse para que essa risada se mantivesse, mesmo que isso quisesse dizer que ela não escutaria mais essa risada. 

— O que foi, Soph? - Benedict perguntou, preocupado. - Você ficou séria de repente.

— Nada não. - ela forçou um meio sorriso. 

— Certeza? 

Sophie estreitou os olhos.

— Por que você está insistindo?

— Porque você está fingindo que não passou alguma coisa estranha nessa sua cabecinha linda. - ele disse, afastando o cabelo dela do rosto. - Não precisa me dizer o que foi, mas também não precisa fingir que tá tudo bem. 

— E se eu quiser fingir que está tudo bem? Não por você, mas por mim. 

— Então tudo bem. Eu só quero que você saiba que pode me dizer, se quiser. 

— Eu sei que posso te dizer o que quiser ou precisar. 

— Ótimo. E você pode mesmo. - ele disse, beijando sua têmpora e afagando seus cabelos enquanto ela deitava por cima de seu peito, se aconchegando nele. 

E naquele momento, simplesmente deitada lá, com o peito dele subindo e descendo embaixo de sua cabeça e ouvindo o seu coração bater forte, Sophie percebeu que o amava. 

Amava que podia falar de qualquer coisa com ele, amava o seu abraço, amava o jeito como ele a fazia se sentir segura ao simplesmente segurá-la em seus braços, amava as manhãs preguiçosas ao seu lado, assim como as noites agitadas. Amava sair com ele para ver a cidade, amava posar para os desenhos dele, amava ver o rosto dele concentrado enquanto pintava e também a forma como suas bochechas ficavam vermelhas quando saíam e estava frio do lado de fora. 

Ela o amava por inteiro. Por tudo o que fazia, por tudo o que compartilhavam, por tudo que ele era e por tudo que ainda seria um dia. 

Entretanto, só conseguiu ficar feliz por um momento. Nunca achou que encontraria alguém para amar, então estava feliz por ter aquilo, por amar aquele homem maravilhoso, mas logo sentiu seu coração apertar. 

Não importava que o amasse; ainda tinha que terminar tudo com ele, não importava o quanto doesse.

A parte mais difícil e arriscada da missão iria começar muito em breve. Ela seria parte de um time maior que iria descobrir onde as brigadas do Sturoyal estavam e desmontá-las. Havia um grande risco de ser descoberta naquele momento e Araminta sabia que ela estava com Benedict. Podiam muito bem usá-lo para tentar atingi-la, e ela não admitiria que ele se machucasse por sua causa. 

Amá-lo, na verdade, era uma razão ainda maior para deixá-lo. Não podia se dar ao luxo de ser egoísta. 

Sabia desde o início que aquele momento chegaria, mas tinha protelado o quanto pôde. Jamais se arrependeria dos últimos três meses, mas tinha que admitir que aquilo era muito mais difícil agora que sabia que o amava do que teria sido antes, quando acreditava que só estava (loucamente) atraída por ele. 

Então o despertador tocou, indicando que já eram 7 horas. 

— Droga. - Benedict resmungou. - Esqueci que tenho uma reunião com um cliente às 8 e meia. 

— Tudo bem. - Sophie respondeu, mas ele percebeu algo estranho na voz dela. 

— Tem certeza de que está tudo bem? 

— Eu só queria poder congelar esse momento. - ela respondeu, passando a mão pelo peito dele. 

— Nós vamos ter outros momentos como esse. Outras manhãs de terça-feira tentando evitar a vida adulta. - ela assentiu, enfiando o rosto ainda mais no peito dele. 

Sophie queria muito acreditar naquilo, mas tinha certeza de que aquela seria sua última manhã de terça-feira com ele.


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