She escrita por Mavelle


Capítulo 2
Capítulo 01


Notas iniciais do capítulo

Oie!!!
Depois de alguns séculos, eu retornei. Desculpem a demora, precisava arrumar umas coisas na minha vida e agora finalmente as coisas estão mais tranquilas. Acredito que vou ficar postando apenas uma vez na semana, nos sábados, como fazia antes com a SKD, maaaas as coisas podem mudar, então coloquem a opção de acompanhar a história para serem notificades toda vez que postar um capítulo.
E GENTE
AGORA É OFICIAL: TEREMOS UMA SOPHIE NA SÉRIE!
Estou ansiosíssima pra conhecer quem vai ser, mas, enquanto não temos mais notícias, digam o que acharam do prólogo e desse primeiro capítulo nos comentários! Amo receber o feedback de vocês

Beijos,
Mavelle



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Desde muito nova, Sophie Beckett acreditava que devia ter alguma coisa bem errada com ela. 

Sua mãe havia morrido no parto, portanto nunca chegou a conhecê-la, e seu pai... Bom, ele simplesmente ignorava que ela existia na maior parte do tempo. Moravam na mesma casa, mas ele era um homem muito ocupado, sempre dizendo o quanto a exportação das flores da floricultura da família tinha crescido por causa de seu trabalho duro e que não tinha tempo para ela por causa disso. 

— Mas olha, te comprei mais uma boneca. - ele dizia, com um sorriso cheio de dentes. 

Ela apenas forçava um sorriso e um agradecimento e ia para o seu quarto, onde a boneca logo se juntava a várias outras bonecas completamente iguais, da cor dos cabelos, passando pelo vestido e chegando até os sapatos. A essa altura, no auge dos seus sete anos, ela já tinha desistido de tirá-las da embalagem. No final do ano, as recolheria e daria para o natal beneficente para as crianças da cidade.

— Eu não preciso de tantas bonecas. - ela dizia à Jacqueline, sua babá. - Com certeza, as meninas da cidade vão gostar mais que eu.

Mesmo quando muito mais nova, ela era gentil e generosa, e qualquer um que passasse uma hora na presença dela saberia disso, mas essa era apenas uma das muitas coisas que Richard Beckett não sabia sobre a filha. Outra coisa é que Sophie era muito observadora. Percebia que o pai voltava para casa depois do trabalho, jantava cedo com ela e depois se despedia, dizendo que precisava passar a noite no escritório, trabalhando. Entretanto, ela via quando ele saía de casa novamente, cerca de 20 minutos depois da hora que acreditava que ela tinha ido dormir.

Sophie não se incomodava com ele passar a noite fora, não de verdade, mas ele podia ao menos não fingir que passaria a noite trabalhando. Se ele arranjava tempo para sair à noite praticamente todos os dias, definitivamente poderia arranjar tempo para montar um quebra cabeça com ela depois do jantar, não é? 

— Não. - ele respondia sempre que ela perguntava.

— Mas vai ser rápido, papai. 

— Eu preciso trabalhar, docinho. 

Depois de ter ouvido a mesma coisa pelo que parecia ser a milésima vez, Sophie simplesmente desistiu. Se ele fosse um pai melhor, provavelmente teria percebido que ela tinha desistido de tentar e feito um esforço para arranjar algum tempo para fazer isso com a filha, mas não era. 

Cerca de um ano depois disso, Richard se casou. Sophie não entendia como ele não tinha tempo para ao menos perguntar como ela estava se saindo na escola, mas tinha arranjado tempo para encontrar uma esposa. 

E tudo tinha sido de uma forma meio abrupta. Um dia, ele levou essa mulher e suas duas filhas para jantar com eles e, depois de uma hora com poucas palavras trocadas, anunciaram que iriam se casar dentro de três meses.

Sophie ficou encantada com a ideia de ter uma mãe e duas irmãs. Finalmente teria alguma companhia de verdade e teria alguém para brincar com ela. Imaginou que eles morariam na casa Pennwood, onde ela vivia com o pai, e que ela e suas novas irmãs Posy e Rosamund poderiam brincar no quintal (bem longe da plantação de lírios, claro). 

Entretanto, suas ideias logo foram frustradas.

Araminta, sua madrasta, trabalhava em Londres e, de acordo com ela, simplesmente não fazia sentido que eles morassem no campo quando tanto ela quanto Richard trabalhavam na cidade. Assim, aos oito anos, a vida de Sophie virou de cabeça para baixo: saiu da casa que tanto amava e se mudou para uma cidade barulhenta e completamente estranha, onde não conhecia ninguém. 

Ela conhecia as meninas (suas novas irmãs), claro, mas sabia que apenas uma delas a acolheria. Apesar de serem gêmeas, eram diferentes em todos os aspectos. Rosamund poderia ser uma modelo, loira, magra, linda e com um sorriso que dizia que tinha nascido para as câmeras mesmo aos 8 anos, a réplica fiel da mãe, enquanto Posy era gordinha e tinha os cabelos e olhos castanhos, parecidos com os do pai, e comuns demais para que a mãe se importasse. 

Seu único consolo era que Posy estudaria com ela. Rosamund também, mas ela era bem mais... inacessível que a irmã, que, apesar de tímida, tinha tentado se dar bem com ela. Sophie não achava que elas tinham recebido ordens da mãe para não se darem bem com ela, mas também não achava que tinham sido encorajadas. Pelo menos, essa era a impressão que tinha. Posy era legal com ela porque isso era parte de sua natureza, mas Rosamund, apesar de alguns raros momentos de iluminação, era parecida demais com a mãe e queria imitá-la em tudo, inclusive no desprezo à Posy e Sophie. 

Sophie não podia apontar qual o momento em que a antipatia de Araminta por ela começou, mas suspeitava que estava ali desde o princípio. Antes do casamento, ela a tratava muito bem, mas, assim que a cerimônia passou, Araminta a chamou de lado e lhe disse que ela não devia se acostumar com Londres porque provavelmente seria enviada para um colégio interno muito em breve. 

Essa, para a sorte de Sophie, foi a única vontade dela que seu pai resolveu não satisfazer. Uma noite, ela escutou os dois conversando sobre o assunto no escritório dele: 

— Não, Araminta. - Richard disse. - Eu não vou mandar a Sophie para um colégio interno na França. 

— Mas Rick, vai ser tão bom para ela... Ela vai poder praticar o francês dela e a experiência vai abrir muitas oportunidades no futuro.

— Eu não vou mandar minha filha para passar a maior parte do ano em outro país, não importa o quanto você queira, Minty. - Sophie fez uma careta ao ouvir o Minty. Ela não parecia uma “Minty”. Isso remetia a um doce e Araminta, antes mesmo de tentar mandá-la para fora do país, era qualquer coisa menos doce. Ela ouviu o pai respirar fundo. - Se você acha que vai ser uma experiência tão boa, porque não sugeriu que as meninas vão com ela também? 

— Posy não fala francês. Ficaria perdida na escola e seria uma vergonha para nós. - Não seria uma vergonha, Sophie pensou. Ela ia ter um pouco mais de dificuldade, mas eu ia ajudar ela a melhorar. Não que eu queira ir pra um colégio interno na França, claro, mas se eu fosse, ia querer Posy comigo

— Rosamund fala francês. Já vi ela conversando com Jacqueline e parecia que sua fluência só ficava um pouco atrás da de Sophie, que basicamente aprendeu inglês e francês ao mesmo tempo. Se seria uma oportunidade tão boa para a Sophie, por que não mandar a Rosamund junto? 

Um momento de silêncio ensurdecedor se seguiu.

Sophie prendeu a respiração. Sentia que, se se movesse, por mais sutil que fosse o movimento, denunciaria que estava ouvindo por trás da porta. Ela sabia que era errado e sabia que não devia estar ali, mas não conseguia evitar. Não lembrava porque tinha parado para escutar a conversa, mas agora ela estava completamente investida e não sairia sem saber no que a conversa daria.

— Sua resposta é música para os meus ouvidos. - Richard por fim disse. Araminta não tinha argumentos para não mandar Rosamund, pensando pela mesma lógica que usou para dizer que Sophie devia ir para o colégio interno. - A minha filha não vai a lugar nenhum, entendeu? Boa noite, Araminta. 

Ao perceber que a conversa tinha acabado, Sophie rapidamente entrou no banheiro que ficava de frente para o escritório e fechou a porta. Araminta foi embora, mas Sophie só saiu quando verificou que o corredor estava livre.

Naquela noite, quase não conseguiu dormir de tanto sorrir. Seu pai a tinha defendido! Com certeza as coisas iam mudar e ele ia passar a ser mais atencioso com ela. Se ele tinha se recusado a deixá-la ir estudar do outro lado do Canal, era porque queria melhorar sua relação com ela, certo? 

Errado.

As coisas continuaram exatamente do mesmo jeito que antes. Richard praticamente a ignorava, como sempre tinha feito, mas, de alguma forma, doía mais saber que ele tinha exigido que ela ficasse ali apenas para continuar a ignorá-la. Quase a fazia ter vontade de ir para a França só para ver se isso mudaria alguma coisa.

E então, poucos dias depois do aniversário de 15 anos de Sophie, Richard morreu. 

Tinha sido repentino demais. Ele simplesmente foi dormir uma noite e não acordou. A autópsia disse que ele tinha sofrido um infarto fulminante.

E foi isso. 

Do dia para a noite (na verdade, da noite para o dia), ela estava sozinha no mundo. Certo, seu pai não era a melhor companhia e na maior parte do tempo mal a notava, mas, ainda assim era melhor do que pensar que estava completamente sozinha. Se não recebia nenhum tipo de demonstração de afeto, ao menos tinha casa, comida e recursos, que, até a leitura do testamento dele, tinham se tornado três incógnitas em sua vida. 

Não que achasse que Araminta iria jogá-la no olho da rua assim, sem mais nem menos, mas era uma possibilidade que não descartaria.

Ela não pôde estar presente na leitura do testamento, mas o advogado de seu pai estava lá como seu representante. Ela recebeu a casa em Kent e Araminta ficaria com a casa em Londres, se sustentasse Sophie até ela completar 24 anos ou terminar a faculdade, se ela fizesse. 

E esta foi a primeira surpresa de Sophie: ela muito provavelmente não poderia ir para a faculdade. Apesar de ter feito um testamento se assegurando que ela viveria confortavelmente e que alguém olharia por ela (mesmo que muito a contragosto, como seria o caso), não tinha separado o dinheiro para que ela pudesse fazer faculdade. Tinha confiado que estaria ali para isso e planejava pagar por tudo quando o momento chegasse. 

Além da casa, Sophie ficou com “o que quer que esteja na conta bancária no momento da morte” e toda a parte de Richard da floricultura...

...cujos rendimentos ela só poderia acessar com 21 anos.

Sophie quase bufou quando ouviu essa parte. 

Ela imaginava que, com esses rendimentos, poderia muito bem pagar pela faculdade e ter seus diplomas em História da Arte e Francês, como planejava desde que visitara o Louvre pela primeira vez, aos 8 anos, numa viagem para a qual seu pai a levou. Era uma de suas poucas memórias em que ele mostrava se importar de verdade com ela além de dar coisas materiais e a viagem realmente a tinha marcado. Naquela época, não saberia ainda dizer que queria fazer aqueles dois cursos, mas era exatamente aquilo que queria aprender. 

E então seus sonhos tinham sido arruinados.

Depois da leitura do testamento, Sophie e Araminta basicamente concordaram que não queriam se ver mais que o necessário, então Sophie iria para Kent e Araminta ficaria em Londres. 

Como Sophie tinha previsto que seria, Araminta enviava apenas o suficiente para que ela pudesse comprar o almoço na escola, comprar algumas coisas para poder cozinhar durante o fim de semana e o básico para manter a casa, e pagar água, energia e internet. Quando estava com um bom humor excepcional, mandava um pouco mais para que ela pudesse comprar uma pizza no final de semana ou algo do tipo, mas nada mais. 

A sorte de Sophie é que a casa era usada, em partes, como anexo da floricultura, que ficava a 10 minutos de caminhada dali. A maior parte dos lírios vinha de uma plantação que ficava no quintal, então, várias vezes por semana, algum funcionário aparecia e o senhor Gunningworth, o administrador da floricultura, sempre mandava alguém limpar a casa. Era amigo de Richard e sentia muita simpatia por Sophie, principalmente porque via que Araminta podia ajudar mais a menina. 

Entretanto, apenas aquela ajuda não era suficiente. 

A casa era gigantesca e, apesar dos melhores esforços de Sophie, que teve que aprender a fazer tudo o que era necessário dentro de uma casa, nada ficava completamente do jeito que era para ser. Ela fechou vários quartos, deixando os móveis cobertos para evitar juntar poeira, e deixou funcionais apenas os cômodos que realmente usava da casa. Lembrava-se, porém, de abrir portas e janelas para deixar o vento circular ao menos uma vez por mês, o que diminuía o cheiro de mofo. 

Ainda assim, a casa ia se deteriorando e não havia nada que Sophie conseguisse fazer para mudar isso. Teria de tirar do que tinha sobrado do dinheiro que seu pai lhe deixara, mas essa quantia já estava consideravelmente diminuída, principalmente porque odiava pedir para Araminta e não queria correr o risco de ela tentar cobrar gratidão pelos “anos de cuidado, dedicação e investimento”. Sophie suspirou. Depois de gastar um bom dinheiro no conserto do telhado, suas reservas estavam perigosamente baixas. Ela teria de arranjar um emprego logo. Não é que ela fosse contra trabalhar (queria começar o quanto antes, para falar a verdade), mas, como não iria para a faculdade, quis aproveitar os três anos do ensino médio da melhor forma possível, então postergou o quanto pôde.

No verão depois de sua formatura do ensino médio, Sophie começou a procurar por um emprego. Queria algo que a levasse mais para perto de onde planejava chegar inicialmente, mas logo descobriu que precisaria de um diploma para ser guia ou restauradora ou da curadoria de um museu. A única coisa que podia fazer com o diploma do ensino médio era vender os ingressos, limpar as exposições ou trabalhar como segurança. 

Um dia, ela pensava em suas poucas possibilidades de realizar seu sonho quando ouviu um barulho vindo do quintal da casa. 

Estranho. Era uma quinta-feira, mas os funcionários da floricultura só iriam na sexta nessa semana. Ela então foi olhar pela janela de seu quarto e viu um casal de namorados. A moça estava parada em frente aos lírios e o rapaz segurava uma câmera, tirando fotos dela. Estava meio distante para que Sophie pudesse ver seus rostos, mas era claro que eles estavam rindo. 

Eles eram livres.

Sophie continuou olhando discretamente da janela, tentando passar despercebida. Como tinha inveja deles. Ali estavam, livres, jovens e desimpedidos, entrando no quintal de uma casa aparentemente abandonada para tirar fotos. E então se afastou um pouco para pegar a câmera, querendo registrar os dois ela mesma, mas tropeçou enquanto voltava. Eles perceberam que ela estava ali, então simplesmente saíram correndo. 

Sophie sentiu inveja deles. Podiam ir para onde quisessem, enquanto ela estava ali, presa àquela casa. 

Será que eu realmente estou presa aqui?, ela pensou. O que está me prendendo aqui de verdade? Se eu for embora, Araminta com certeza não vai reclamar de não ter mais que me sustentar. Eu não vou reclamar de ser ignorada por ela. Aqui eu tenho um teto, mas por quanto tempo mais? A casa precisa de manutenção e ela não quer me enviar o dinheiro e nem eu tenho como desembolsar o necessário para ajeitar tudo, mesmo que eu comece a trabalhar nesse momento. A essa altura, talvez seja mais barato alugar um apartamento pequeno do que tentar manter esse lugar.

E então, como se fosse um sinal dos céus, seu telefone tocou. Era da agência de empregos onde tinha deixado seu currículo, informando que tinha sido escolhida para ocupar uma vaga como recepcionista numa clínica da cidade em que morava e que ela deveria deixar os documentos e assinar o contrato às 16. Apesar de ainda só serem 14:30, ela resolveu sair logo para tentar olhar os classificados do jornal e ver se achava algum lugar para morar. Ainda teria que ficar na casa por pelo menos mais um mês, até que recebesse o primeiro salário, mas, mesmo assim, queria começar a procurar o quanto antes. 

Assim, Sophie estava sentada no banco de uma praça lendo o jornal, procurando por um apartamento pequeno e de preferência perto de onde ia trabalhar, quando teve sua paz interrompida. Antes mesmo que a pessoa pudesse chegar, Sophie percebeu sua aproximação e teve certeza que algo estava prestes a acontecer. 

— Tudo bem, garota? - uma mulher de uns 35 anos se aproximou dela e sentou ao seu lado no banco. Ela parecia simpática demais. Além disso, Sophie podia perceber que, apesar de fingir olhar para ela, estava olhando para um ponto além de onde ela estava. Sophie deu um meio sorriso. - Ora, vamos. Se vamos fingir que estamos conversando para eu evitar meu ex, não posso ter uma comparsa que nem sorri direito com o que eu falo. Temos que parecer velhas amigas. 

Sophie sorriu de verdade dessa vez e colocou o jornal no colo.

— Minha senhora, eu não sei porque resolveu parar aqui, mas está bem claro que tem algo estranho acontecendo e eu não quero ser uma parte disso. - Sophie foi se levantando, mas a mulher a puxou de volta.

— Por favor, é sério. Meu ex...

— Ora, por favor. Não tem ex coisa nenhuma. Você estava olhando aquele cara que acabou de cruzar a rua para ir na loja de ferragens. Se tinha alguém querendo observar discretamente outra pessoa, esse alguém é você. 

A mulher estreitou os olhos. Definitivamente, aquela garota poderia ser um problema. 

— Você não devia estar na escola ou sei lá?

— Tenho 18 anos. Terminei o ensino médio no meio desse ano e o meu pai não fez nenhuma poupança para que eu pudesse ir para a faculdade. Além disso, ainda falta uma semana para as aulas voltarem. 

— Ah, verdade, ainda é agosto. De qualquer forma, o que está fazendo sozinha há uma hora no banco de uma praça no meio da tarde, se não está fugindo de uma aula? 

Sophie se controlou e não franziu a testa. Realmente, estava lá há mais de uma hora, mas não achava que ninguém a tinha notado. A estranha mulher na sua frente devia ser ainda mais observadora do que ela própria. 

— Eu estou planejando sair de casa. - ela admitiu. - Não tem mais nada para mim lá. 

— Seus pais? 

— Mortos. - não considerava Araminta qualquer coisa sua. A verdade é que tinha certeza que o maior sonho da vida dela era se ver livre da responsabilidade de olhar por Sophie. 

— Algum irmão ou irmã? - Nunca consideraria Rosamund minha irmã, mas Posy poderia ser, afinal sofremos o mesmo tipo de abandono por parte dos nossos pais, Sophie pensou, mas, antes que pudesse responder, a mulher fez outra pergunta. - Assunto complicado? 

— Sim. - ela percebeu uma movimentação por trás da mulher. - Não olhe agora, mas acho que aquele cara percebeu que você estava observando ele e agora está andando muito rápido na direção da principal.

A mulher olhou para Sophie por alguns segundos, e então tomou uma decisão. Se levantou e estendeu a mão para ela.

— Vem comigo? Eu realmente preciso pegar aquele cara e, bem, acho que você é minha dupla hoje. 

Não havia nada que lhe dissesse que devia confiar naquela mulher, mas, por alguma razão, Sophie soube que podia confiar nela. Então se levantou e passou o braço pelo dela e as duas começaram a seguir o mesmo caminho que o homem.

— Qual seu nome? - a mulher perguntou, enquanto as duas andavam de braços dados pela praça. A velocidade em que andavam não seria considerada suspeita, mas era um pouco mais rápido do que normalmente andariam num passeio. 

— Maria. - Sophie respondeu. Tecnicamente, não estava mentindo. Seu nome era Sophia Maria Beckett, então Maria era parte de seu nome.

A mulher sorriu. Sabia que não era esse o nome dela. 

— Meu nome é Andrea. 

— Esse é seu nome de verdade? 

— Como você me deu um nome falso, eu poderia te dar um também, mas não, é meu nome mesmo. 

Sophie se surpreendeu por ela ter percebido. Ninguém tinha duvidado em nenhuma das vezes que tinha dito isso ao longo da vida.

— Você me diria se tivesse me dado um nome falso? 

— Claro que não. - ela sorriu de novo. - Mas eu não dei. - então ficou séria por um momento. - Eu sei o que estou fazendo. - Sophie estranhou a última frase, mas desconsiderou. Estava cheia de adrenalina. Não tinha certeza do que estava acontecendo, mas queria descobrir. 

Essa era provavelmente a maior loucura que já tinha se prestado a fazer: estava perseguindo uma pessoa na rua acompanhada de uma mulher que tinha acabado de conhecer. As duas seguiram o homem pela rua principal, até que ele entrou num beco estreito, mas muito comprido, onde começou a correr. 

— Fique bem atrás de mim, ok? - Andrea disse, virando para ela antes de entrar no beco e começar a correr também. Agora tinha uma arma em mãos (Sophie não conseguiu ver de onde ela a tirou) e Sophie corria atrás dela com cuidado para não esbarrar. 

E então tudo passou como num flash: Sophie viu o homem virar para elas e apontar uma arma, porém, antes que pudesse tomar qualquer ação, um homem vindo do outro lado do beco o derrubou no chão e o imobilizou. A arma dele estava jogada no chão, fora do alcance. 

Logo Andrea se aproximou da cena e algemou o homem, que ainda estava sendo segurado contra o chão. Sophie foi atrás dela, mas ficou observando um pouco distante. 

— O que porra você estava pensando, Azul? - o homem, que devia ser seu colega, praticamente gritava com ela, enquanto colocava o suspeito de pé. Agora ele o segurava de um lado e Andrea do outro. - Ela não tem nenhum tipo de treinamento. Você arriscou toda a operação e a vida da garota! 

— Ela é um talento nato, Roxo! - Andrea argumentou. - Você sabe o quão raro isso é. Eu só conheci... - ela não continuou.

O homem engoliu em seco. 

— Só o Roger.

— Exatamente. 

— Eu sou um talento nato para o que? - Sophie perguntou, se aproximando dos três.

O futuro preso começou a rir e Roxo deu-lhe um soco no estômago, que o fez dobrar-se sobre o corpo.

— Você trouxe a garota e nem explicou o que estava acontecendo? - Roxo perguntou à Andrea. 

— Bem, vocês são obviamente de alguma divisão da polícia e o sujeito ia fazer alguma coisa estranha, já que estava rondando o prédio da prefeitura desde que eu cheguei lá. - Sophie disse, tentando defender a mulher. Tinha acabado de conhecê-la, mas tinha uma boa sensação sobre ela. Além disso, era razoavelmente simples de supor o que estava acontecendo, certo? 

— Você estava na praça o tempo todo? - o homem algemado questionou, parecendo um pouco inseguro de repente. 

— Sim. - ela disse, sentindo a confiança aumentar um pouco. - Inclusive, o que estava na caixa que você colocou na lata de lixo? 

Ele sorriu e Andrea e Roxo trocaram um olhar levemente desesperado.

— Odeio ter que fazer isso. - Roxo disse e simplesmente deu uma coronhada no homem, fazendo-o cair desacordado no chão. Pegou então um rádio que estava no bolso de sua calça e começou a falar com uma equipe policial, dizendo para evacuar a área. Ele se distanciou e deixou Andrea com o homem desacordado, prometendo que a viatura estava chegando. 

— Por que você não disse isso logo? - Andrea perguntou a Sophie, um pouco irritada, tanto consigo como com a menina. Ela, que fazia aquilo desde que a menina ainda usava fraldas, não tinha visto, mas a garota tinha. Maldito talento nato, Andrea pensou.

— Eu não sabia o que estava acontecendo até entrarmos no beco. - ela respondeu. - Se soubesse que ele era suspeito de qualquer forma, teria dito logo que ele colocou uma caixa dentro da lata de lixo. Quando vi, achei que fosse algo com vidro quebrado e ele estivesse sendo cuidadoso, ou sei lá. Não imaginava que ele quisesse ser pego como distração sei lá para que.

— Você tem noção do que acabou de acontecer e do que você acabou de fazer? - ela perguntou e Sophie sentiu sua coragem minguando, então apenas fez que não com a cabeça. - Você acabou no meio de uma operação do MI6 para prender um dos terroristas mais procurados da Europa e potencialmente evitou que ele fizesse mais vítimas quando prestou mais atenção do que dois agentes com mais de 15 anos de experiência.

Ela sentiu seu queixo cair. Não tinha como ser diferente. Ouviu seu telefone tocar e viu que era da clínica onde tinha conseguido um emprego. Aquilo parecia tão menor agora, tão fora da realidade...

Ainda assim, se afastou um pouco e atendeu. Tinha sido emocionante e empolgante ajudar naquela operação, mas essa não seria sua vida. 

— Alô?

— Srta. Beckett? Aqui é a Betty da Clínica da Avenida Oito. 

— Oi. O que houve? - ela perguntou, cínica. Sabia exatamente o que tinha acontecido, talvez soubesse ainda mais que a mulher que falava com ela.

— Nós vamos precisar remarcar o horário para você assinar o contrato. A polícia evacuou o quarteirão inteiro por tempo indeterminado. - Sophie conseguia ouvir o terror na voz dela. 

— Ok. Amanhã pela manhã, umas 9 horas, pode ser? 

— Pronto. 

— Tome cuidado. 

— Você também. 

Sophie desligou o telefone e voltou a olhar para Andrea, que a olhava com uma pergunta clara nos olhos. 

— Eu fiz uma boa entrevista de emprego semana passada e agora vou ser contratada. - ela respondeu, engolindo em seco. - Estava indo assinar o contrato de trabalho hoje de tarde. 

Andrea assentiu. Então uma viatura da Interpol parou no beco e ela ajudou o policial (que já estava com ela na operação) a colocar o homem na parte de trás do carro. E então alguém avisou pelo rádio que realmente era uma bomba e que o especialista que já estava lá de prontidão a estava desarmando. Aparentemente, ela devia ter sido detonada dentro dos próximos 5 minutos. Cacete, eu realmente encontrei uma bomba, Sophie pensava.  

— Bom, eu acho que já vou. - ela disse, se aproximando de Andrea. Não que achasse que ela fosse se importar que estava indo embora, mas achou que fosse o mais educado a fazer.

Deus, o que devia fazer logo depois de mostrar que havia uma bomba para ser desarmada? 

— Paul, se vira sozinho por um minuto? - Andrea perguntou ao agente da Interpol, que simplesmente assentiu. Ela então puxou Sophie mais para dentro do beco para que pudessem ter um pouco de privacidade. - Qual o seu nome? 

— Sophia, mas todos me chamam de Sophie. - ela disse, sem nem pensar em não falar a verdade dessa vez. Não sabia porque tinha se apresentado como Sophia, mas foi o que fez. 

— Bom, Sophia, eu tenho uma proposta para você.  


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