Encontros de Líridas - KakaSaku escrita por LoreyuKZ


Capítulo 8
Desencontros de Líridas, porque homem só faz merda


Notas iniciais do capítulo

Sem revisão, como de costume KKKKKKKKKKKKKKK
VEM COMIGO!



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Ao sair do banho, Kakashi olhou para Sakura deitada na enorme cama com o livro nas mãos. Estava de barriga para cima, uma perna dobrada e os braços esticados para o alto, deixando o livro aberto contra a luz bem na frente do seu rosto.

Segundo sua vasta experiência com leitura, Kakashi poderia dizer que aquela posição era muito interessante porque o livro ficava longe demais, a iluminação contrária fazia com que fosse necessário forçar a vista, e além disso, em algum momento, o livro ia pesar nos ombros.

Ninguém conseguia ler muito tempo daquele jeito.

Mas Sakura parecia confortável e entretida o suficiente, com aquele sorrisinho breve no rosto de quem está numa parte divertida da leitura. As vezes ela soltava uma pequeníssima risada entre os lábios curvados, só o suficiente para que ele escutasse e se sentisse curioso sobre o que, em específico, os personagens estavam fazendo para que ela se divertisse daquele modo.

Por isso, sem pensar muito, Kakashi apenas se deitou na cama e pendeu a cabeça para o lado, tendo visão das páginas brancas sob a penumbra da contraluz. Passou os olhos rapidamente entre os caracteres e sorriu também sem nem perceber. Era uma cena boa, pensou se aproximando um pouco mais, se fazendo confortável do lado da moça.

Leram juntos por um momento até que Sakura abaixou o livro com uma risada alta. Precisou apenas virar a cabeça para seus olhos encontrarem os de Kakashi ao seu lado, e riu como se ambos tivessem presenciado algo constrangedor. Um segredinho.

Kakashi gostava de como ela vivia os livros daquele jeito, com reações tão honestas. Ela não era o tipo de leitor discreto que consegue se conter diante das palavras. Não... Sakura ria, colocava a mão no rosto com vergonha, mordia o lábio com tensão, arregalava os olhos, franzia o cenho, se indignava... Era maravilhoso assisti-la ler.

— Eu já teria dado uns cascudos nessa menina – Sakura disse com seus ombros encolhidos — Céus, ela fica colocando o pobre Doko em cada situação.

— Às vezes eu acho que ele gosta.

— Ele é tímido demais para dar um sacode nessa menina. – E deu uma pausa enquanto seus olhos revelavam algum pensamento — Sei lá, ele me lembra a Hinata.

— Hyuuga Hinata? Sério?

— Sim! – Sakura disse se sentando na cama em reflexo dos pensamentos acelerados — Ele é super doce! Nunca pensa mal de ninguém, e aí acabou nessa aventura aleatória com essa menina espevitada que só coloca ele em furada – Riu arrumando o cabelo para trás da orelha, enquanto colocava o livro fechado sobre o peito de Kakashi — Olha a mentira que ela acabou de inventar para que pudessem ficar numa casa chique no vilarejo! Onde que o Doko sabe fazer rituais de purificação? Ele não é monge!

Kakashi riu pegando o outro travesseiro para colocar nas costas, elevando seu tronco brevemente para vê-la ali, bem do seu lado, sentada em uma quase posição de lotus enquanto gesticulava. Ele nem se importou em ser feito de móvel quando ela apoiou o livro nele.

— Eu só consigo imaginar a Hinata virando para essa menina com os olhos arregalados e dizendo “Eu?” – Riu — Eu totalmente consigo enxergar a Hinata em todo esse menino.

— Acho que não conheço ninguém parecido com o Doko – O homem falou dando os ombros — No máximo o Iruka, quando mais novo, mas são semelhanças mais pontuais.

— Oh, Iruka-sensei? Vocês eram amigos quando crianças?

— Não éramos muito próximos. Começamos a interagir mais depois que eu fui designado como um tutor de time de genin.

— Ah... – Ela soltou como quem perde o interesse — Bem, veja só, eu acho que já descobri o porque do título desse livro.

Ele sorriu diante daquela clara empolgação da moça em falar e falar sobre sua leitura. Mal conseguia se conter e ele adorava isso.

— Qual sua suposição?

— Eu acho que é um paralelo com o cotidiano, sabe? A primeira cena é do Doko chupando laranja, e depois elas voltam a aparecer naquele bolo, no capítulo seguinte eles passam por um pé de laranja, e a filha do chefe os recompensam com balas sabor laranja.

— Mas nada disso tem um significado muito claro.

— Sim, porque é o cotidiano. – Ela deu os ombros — Não precisa ter um significado. É algo simples, que está ali no dia-a-dia deles, acompanhando-os enquanto eles evoluem nessas desventuras— Riu — Não significa nada. Não precisa significar. E é por isso que é perfeito!

O homem pensava nas palavras dela, pegando as imagens do livro e entendendo um pouco mais do que ela estava falando. Fazia sentido em algum aspecto, afinal, as tais laranjeiras jamais apareciam e sequer eram citadas, mas em todo o livro haviam laranjas – as frutas.

— Faz sentido. – Ele disse por fim, vendo-a sorrir satisfeita com aquele orgulho pessoal.

— Está me devendo uma – Disse logo em seguida, e foi a vez de ele abrir um sorriso.

— Ah é?

— Você disse que ia ficar me devendo uma se eu desvendasse o título.

— Certo... Tudo bem. Eu te devo uma. – Ele concordou curioso — O que você quer?

— Eu quero que você leia Crônicas de um Samurai.

Puta que pariu.

— Sakura... – Ele implorou.

— Ah, vai! É uma aventura super épica de guerreiros honrados!

— São sete livros, Sakura... Só lutinha de espada.

— Não é lutinha! São combates dramáticos! Pessoas lutando pelos seus ideais!

— Eu soube que o protagonista morre no quinto livro, e se ele morre, então a história deveria ter acabado.

— O protagonista não é o Samurai, e sim seu ideal! Quando ele morre, o ideal dele continua vivendo em seus companheiros, que lutam para manter sua honra! É sobre liberdade e laços! São as crônicas dele, não a vida dele.

Tudo bem, ele já tinha lido quatro livros do sete, e sim, Sakura até tinha alguma razão no que falava, mas o fato era que o autor gastava tantas páginas em combates ridículos que Kakashi se sentia cansado. Qualquer coisa se resolvia com uma conversa regada a muito sangue, e raramente o oponente do Samurai ficava vivo.

Estalou a língua vendo os olhos verdes determinados a fazê-lo ler aquela porcaria.

— Tá bom, eu vou ler isso.

Sakura sorriu como se tivesse ganhado algum prêmio, completamente satisfeita.

— Você vai me agradecer.

Hm..

— Melhore essa atitude, mocinho. – Ela pegou o livro de cima dele apenas para folheá-lo — Eu já li duas indicações suas, você tem que me retribuir de alguma forma.

— Retribuir lendo sete livros?

— Sim. – Deu os ombros — Eu acho justo.

Ele riu deixando seu olhar pender para além de Sakura.

“Justo”

Sakura era mesmo abusada e tinha sorte que ele gostava dela.

Como sua aluna 14 anos mais jovem, é claro.

Kakashi a olhou novamente deixando o ar escapar com uma breve risada. Sakura virou para ele por reflexo, curiosa com a repentina reação.

— O que foi?

— O livro parece um pouco maior quando você segura porque suas mãos são pequenas.

Ela arqueou uma sobrancelha.

— Suas mãos que são grandes. – Retrucou.

Kakashi sorriu esticando a mão para pegar o livro, que se acomodava perfeitamente na pegada masculina, ao passo que parecia pesado demais para uma só mão de Sakura. Ela revirou os olhos quando ele sorriu para ela.

— Exibido. – E pegou o livro de volta, colocando-o ao seu lado antes de continuar — Me dá sua mão aqui.

Ele sequer questionou.

Relaxado em sua posição, Kakashi esticou o braço na direção dela com a palma voltada para cima. Ela pegou no seu punho para fazê-lo girar, a palma agora estava frente ao rosto dela com todos os cinco dedos esticados, e só nesse momento que Sakura levou sua mão de encontro à dele de maneira cuidadosa para que a base iniciasse na mesma altura.

— Sua mão é enorme – Ela riu vendo o resultado daquilo.

O homem tinha mãos calejadas pela vida ninja, com algumas cicatrizes aqui e ali, ao passo que Sakura tinha aquele toque mais áspero de alguém que passava boa parte da vida esterilizando suas mãos. Os dedos dele eram mais grossos que os dela, e quando flexionava as falanges, as almofadas de seus dedos conseguiam tocar o topo dos dedos dela sem muita complicação.

— Bem, eu sou mais alto que você, então...

— Perto de você, eu sou uma nanica.

Kakashi riu ainda flexionando seus dedos naquela brincadeira de tocar o topo dos dedos dela.

— Faz assim.

A moça pediu escorregando seus dedos entre os dele e fechando brevemente, e Kakashi a acompanhou. Suas mãos se ataram.

— Mal consigo ver minha mão!

— Exagerada.

Ela o olhou com humor e ele estava com aquela expressão tranquila, mas tudo mudou muito rapidamente quando o silêncio durou mais que um segundo, o suficiente para eles perceberem que... Estavam de mãos dadas.

Assim, do nada, Kakashi e Sakura deram as mãos.

E ao invés de apenas se soltarem para continuarem suas vidas, Kakashi e Sakura permaneceram naquele silêncio enquanto sentiam o toque um do outro com seus olhos presos, quase assustados pelo ato, afinal... O que estavam fazendo? Por que, de repente, aquela conversa boba sobre tamanhos de mãos havia se transformado em algo que os faziam ficar ansiosos?

Não havia resposta.

Nenhum dos dois queria uma resposta de verdade, porque no fundo eles sabiam. No fundo era evidente, não era?

As mãos se apertaram minimamente por um brevíssimo segundo antes de se libertarem uma da outra, com uma Sakura que habilmente desviou seu olhar ao sair da posição em que estava para se levantar. Pegou o livro no processo, largando-o na mesa de cabeceira rapidamente.

— Vou apagar a luz – Disse de costas enquanto fazia seu breve caminho para o interruptor.

Seria redundante ressaltar aquela tonalidade de suas bochechas, e sua ação foi puramente por querer aquele pequeno nível de privacidade até que conseguisse deixar o que havia acontecido para trás. A sensação da mão dele presa a sua com tanta naturalidade...

— Certo.

Respondeu com a necessidade de fazer sua voz ser ouvida, tentando parecer o mais tranquilo possível, mas assim que a luz se apagou e a escuridão quase absoluta pairou, Kakashi abaixou sua máscara com descrição, sentindo que precisava respirar sem filtros.

E se arrependeu amargamente.

Porque o cheiro dela estava em toda a parte, e a sensação da mão dela ainda estava em seus dedos.

Sakura estava bem do seu lado enrolada no cobertor e seus cabelos espalhados no travesseiro. Não precisava chegar muito perto para sentir o cheiro dela tão forte, odiando essa habilidade de ser tão sensível à odores.

Principalmente o dela.

Porque... Ele gostava muito do cheiro dela.

E quanto mais sentia, mais gostava.

E quanto mais gostava, mais ele pensava.

E quanto mais pensava, mais ele se aproximava daquele momento onde...

Sua aluna 14 anos mais jovem estava deitada ao seu lado tentando dormir e ele ali, perigosamente sem máscara, se torturando por algo que nem mesmo existe em sua cabeça.

Recolocou a máscara com discrição, o cheiro dela diminuindo drasticamente no processo, mas ele ainda lembrava com nitidez, e só por isso ele se virou para o outro lado tentando controlar toda aquela repentina urgência que surgia nesses momentos, que começavam a se repetir com certa frequência.

— Kakashi..?

A voz dela surgiu, fazendo com que o homem virasse sua cabeça por cima do ombro.

— Sim?

E escutou ela se virar pelo barulho gentil dos lençóis atritando. Quando o silêncio pairou por mais tempo do que ele esperava, Kakashi se virou também, mas não conseguia vê-la direito, apenas aqueles olhos brilhavam levemente.

— Eu quero ver as grutas mágicas.

Ela revelou por fim e ele gargalhou com aquilo. De novo as grutas... Ele pensou com divertimento, porque era o que ela falava desde que o adjetivo “mágicas” foi anexado. Nem ele sabia porque daquele floreio, mas Sakura parecia particularmente interessada no motivo.

— Podemos ir amanhã, se acordamos bem cedo.

— Então é melhor você dormir rápido, porque eu vou te acordar junto com o sol, Kakashi.

O homem sorriu.

— Boa noite então.

— Boa noite!

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Nunca imaginou que, de fato, Sakura fosse acordar tão cedo e praticamente enxotá-lo da cama.

A moça acordou até mesmo antes do sol, abriu as cortinas, lhe deu um grande bom dia daquele jeito animado demais para quem acabou de levantar, e anunciou, de maneira muito enfática, que estariam de partida em meia hora.

Kakashi queria dormir um pouco mais, mas sentiu que precisava fazer aquilo por ela. Sim, afinal, Sakura estava tão curiosa sobre a parte mágica das grutas que ele não ousaria tentar minar o clima de aventura que a rodeava. Ao invés disso, o homem bocejou com humor antes de se levantar, piscando para a claridade breve que começava a entrar pela janela.

Não demoraram para sair, de fato, e logo estavam de partida pelo meio da aldeia que começava a acordar também em sua busca por um lugar que pudessem comprar alguma coisa para comer no caminho.

Foi saindo daquela barraquinha solitária onde compraram algumas frituras e guloseimas que Sakura e Kakashi acabaram esbarrando em duas figurar já bastante conhecidas. O Senhor Feudal e Terumi Mei estavam diante de uma fonte que jorrava água por lindas esculturas em pedra e pareciam debater sobre alguma necessidade de modificar a estrutura daquela região.

Sakura foi rápida em segurar o braço de Kakashi como num sinal para que eles pudessem fugir antes de serem percebidos, mas não tiveram nenhuma sorte nessa empreitada. Ryuuji parecia ter um detector de mulher bonita, olhando do nada na direção dos ninjas de Konohagakure. Abriu um sorriso, daquele que encantava quase todas ao seu redor antes de simplesmente deixar o que estava fazendo de lado para ir na direção da moça de cabelo cor-de-rosa.

Kakashi evitou um suspiro, ao invés disso, acabou bocejando. Sua mão foi parar em Sakura antes que ele mesmo pudesse perceber, apoiando-se levemente no quadril da moça enquanto ele se inclinava para sussurrar no ouvido da moça que tentaria se livrar dos dois, assim, sem respeito nenhum pelo Chefe de Estado e sua representante administrativa.

O problema é que o Lorde Feudal era um homem muito escorregadio, e a Mizukage era uma mulher que perspicaz. Sakura sorria polidamente para os dois tentando esquivar-se das sutis investidas que Ryuuji dava para saber sobre o destino deles para o dia, enquanto que Mei apenas declarou ter o dia livre, como se a vinte minutos ela não estivesse planejando alguma mudança estrutural na própria vila.

Dia livre, né...

O mascarado logo percebeu que seus esforços seriam em vão e apenas tratou de não prolongar mais a conversa estranha que estava presente. Revelou, sem muito entusiasmo, estarem indo às grutas mágicas e Sakura o olhou na mesma hora com um sorriso discreto que dizia eu vou matar você.

Sim, ela estava sendo agradável em sua conversa polida, mas o homem que a conhecia bastante notava os sinais do mau humor dela, e ele não entendeu o porquê daquele sorriso assassino ser direcionado logo a ele, que estava no mesmo barco que ela. Kakashi não queria plateia! Se ele pudesse, teria se livrado dos dois, mas foi impossível e todos os quatro acabaram dentro de uma carruagem pomposa na direção das grutas mágicas.

Sakura quase não falou por todo o caminho, apenas concordava com a cabeça e sorria para o Senhor Feudal, que estava muito empenhado em agradar a moça de qualquer maneira. Ficou para Kakashi o papel de dar atenção à Mei e tentar responder todas as perguntas do Senhor Feudal antes que Sakura o socasse. E isso podia acontecer a qualquer momento.

— É muito fácil falar em interligar as vilas quando vocês têm bastante território terrestre para a construção de trilhos. O investimento é ínfimo se comparar com as construções de mais barcos e portos.

— Além disso, com certeza as outras nações não nos apoiariam financeiramente. – Ryuuji complementou — Sempre que falam sobre novas rotas marítimas, tudo fica a cargo daqueles que dependem unicamente disso para alcançar o continente. Ou seja, nós, o País da Água.

— Eu ainda não estou a par da situação financeira da vila, mas tenho propriedade para dizer que os portos da nossa costa serão construídos com recursos próprios. Podemos financiar a construção de alguns barcos também. – Deu os ombros — A contra partida está aí, Mei.

— E de quantos navios e portos estamos falando?

— Teríamos que fazer uma estimativa de fluxo primeiro.

— Nós já temos isso, não é, Mei?

— Sim, Ryuuji-sama. Para o País do Fogo... Cerca de 7 novos portos.

Kakashi riu.

— Vocês querem todo o nosso litoral para vocês?

— Os portos serão seus, Hokage-sama. Estou apenas dizendo que com novos portos podemos fornecer mais materiais de consumo e fomentar o turismo.

— Podemos até dividir em portos para descarga de pessoas e de carga, cobrar mais fiscalização. Kirigakure pode entrar com essa contra partida.

Sakura revirou os olhos discretamente em sua resignação. Eles achavam que Kakashi era burro?

— Com todo respeito, mas vocês estão querendo que nós construamos sete novos portos para vocês administrarem? – Kakashi olhou para o Senhor Feudal e depois para a Mizukage — O que Konoha construir será administrado por Konoha.

— Só estamos oferecendo pessoal qualificado. – Ryuuji justificou recendo de Mei uma negativa mínima. Se justificar àquela altura era apenas se envergonhar.

— Agradeço a generosa oferta. – Kakashi disse quase como quem ri.

O homem já ia zombar se oferecendo para cuidar das estradas internas do território do País da Água, mas acabou deixando o pensamento para trás com o anúncio de que acabavam de chegar ao seu destino.

Ele olhou para Sakura, que parecia tão puta que sequer olhou de volta. A moça pulou para fora do veículo sendo seguida pela sua nova sombra, Ryuuji, que tratou de se adiantar para tentar empolgá-la um pouco com o que estava por vir.

Kakashi já estava pronto para uma interferência suave quando Mei o alcançou com seu braço enlaçando o dele. Ao olhar confuso para a Mizukage, Kakashi recebeu aquele olhar de raposa, discreto e dissimulado. Ela levou seus lábios para o ouvido dele e o fez entender o que queria com a repentina mudança de planos em sua agenda.

É claro...

O que ele não entendeu foi o arquear de sobrancelha de Sakura ao ver a cena pelo canto do olho, e sentiu, no mesmo momento, como se estivesse sendo pego fazendo algo muito errado.

Bizarro.

— Vamos entrar? – Ryuuji perguntou com aqueles olhos azuis iluminados quando Mei e Kakashi se aproximaram.

— Oh, Ryuuji-sama... Que tal você ir na frente com a Sakura, hm? Eu quero mostrar à Kakashi os arredores. Quero que ele veja nossos moinhos.

— Mei... Já falamos demais sobre política no caminho – O homem disse com um suspiro — Não aborreça o Kakashi-san em suas férias.

— Ela não me aborrece – Kakashi disse daquela forma blasé.

— Então vocês podem ir.

Foi a vez de Kakashi arquear a sobrancelha ao olhar para Sakura, que se pronunciava com aquele tom quase afetado.

O homem demorou seu olhar na moça de cabelos cor-de-rosa, perguntando através daquele contato visual se havia algum problema, se ela queria que ele ficasse, se... qualquer coisa. O que recebeu em resposta, entretanto, foi apenas a frieza de olhos irritados.

Ela se despediu de Mei com um sorriso e simplesmente se virou para seguir pela pequena trilha que levava às grutas. Ryuuji pareceu confuso, mas resolveu apenas seguir a moça o mais rápido que pôde, se despedindo como o moleque que era. Te vejo mais tarde, Mei.

Tch.

Kakashi ficou um tempo olhando para as costas da kunoichi que se afastavam de maneira quase indiferente. Na verdade, tal palavra tinha seu uso inadequado para o modo com que ela agiu. Irritada era mais certeiro, o problema é que parecia que ela estava irritada com ele, e o homem não conseguia encontrar um motivo para tal. O que ele tinha feito além de estar com ela?

— Vamos seguir por aqui – Mei disse apontando para a estrada larga de barro enquanto iniciava sua caminhada sem esperar pelo homem. — Sinto muito colocar você numa situação complicada com Sakura. Eu sei que vocês querem alguma privacidade, mas precisamos aproveitar esse momento para tratar do motivo pelo qual vocês estão aqui.

Kakashi a seguiu com o cenho franzido.

— Situação complicada? – Perguntou enfiando a mão nos bolsos.

— Sim, oras. – A Mizukage dava os ombros em seu rebolado — Eu imagino que ela tinha outros tipos de planos com você para esta manhã, mas tem sido difícil tirar Ryuuji do meu pé desde que ele veio para a vila. – Suspirou cansada — O Senhor Feudal quer minha sincera opinião sobre a capacidade do filho em assumir seu lugar.

— Você deveria mesmo estar me contando isso?

Mei deu os ombros antes de olhar para Kakashi com aquele olhar presunçoso.

— Mas eu não te disse nada que não seja óbvio, Hokage-sama.

Kakashi deixou o ar sair rapidamente pelo nariz com uma risada que não chegou aos seus lábios.

— Felizmente, Ryuuji parece ter se encantado com Sakura, o que cria a oportunidade perfeita para que possamos ajustar seus planos, Kakashi. – Ela deu uma breve pausa, rindo logo em seguida com seus próprios pensamentos. — Mal sabe ele que não tem nenhuma chance.

Lançando ao homem um olhar pretencioso por cima do ombro, Mei sorriu feito a mais ardilosa das raposas. Kakashi continuou impassível, mas o silêncio que se fez após a fala o incomodou. Que tipo de resposta ela estaria esperando? O que ela queria saber?

... Não precisou pensar muito para encontrar a resposta.

— Não se engane, Mei. Muita coisa mudou depois da guerra. – Foi a única coisa que ele disse, incomodado com a sondagem da mulher.

Mas ela apenas arqueou uma sobrancelha em dúvida.

— O que a guerra tem a ver com a disponibilidade de Sakura à relacionamentos? – Ela questionou de maneira genuína e Kakashi começou a se questionar o que estava acontecendo naquela conversa.

— Sasuke ainda está preso, mas mesmo quando ganhar sua liberdade, não acho que ficarão juntos – Kakashi disse lembrando das palavras do homem mais informado na vila, Shiranui Genma. Transa com todo mundo e acaba sabendo de tudo o que acontece.

O barulho dos passos na terra batida se fez mais audível por um longo momento. Kakashi seguia a mulher de maneira relaxada pelo caminho sereno, e lentamente o sol se fazia um tanto mais quente. Olhou para o céu. Vai chover, pensou vendo uma cumulonimbus no horizonte.

Mei entrou por uma bifurcação e ele apenas a acompanhou, ainda com suas mãos nos bolsos.

Interessante.

Foi o que ela disse depois daquele longo silêncio, parecendo pessoalmente divertida, e ele sentiu que havia alguma coisa por trás daquela única palavra.

— O que tem de interessante nisso?

Ora...— Ela falou olhando por cima do ombro para o homem — Isso significa que Ryuuji tem alguma chance. Imagine só... Uma ninja da estirpe de Sakura sendo anexada ao nosso arsenal. – Ela riu — Além disso, bonita como é, os herdeiros do País da Água seriam altamente cobiçados.

O homem fez silêncio, considerando as palavras dela com amargor.

— Não sei como são as coisas aqui, mas ninjas de Konoha precisam de autorização para se desligarem de suas funções.

— Você negaria, caso ela quisesse ficar aqui, Hokage-sama?

Kakashi ficou sério. Muito sério.

— Eu convocaria uma assembleia, conforme a Lei – Ele respondeu tentando não transparecer sua repentina mudança de tom — Os conselheiros que decidiriam.

Sério...?— Mei respondeu quase inocentemente. Quase... — Imagine, Sakura apaixonada pelo Ryuuji, querendo desesperadamente estar com ele, e vocês a impedindo... Que romance trágico, Hokage-sama.

...

O homem não respondeu.

A dupla iniciava a subida de um morro íngreme assim que a estrada se tornava mais estreita. A vegetação ainda era apenas relva selvagem, sem muita forma ou amparo. O céu ainda estava claro, mas Kakashi sabia que logo choveria.

— Ryuuji não para de falar sobre Sakura. – A mulher recomeçou como se quisesse apenas compartilhar algo engraçado — Se encantou assim que percebeu que ela era muito mais que um rostinho bonito. Vive me pedindo motivos para arrastá-la para algum lugar onde ele possa estar com ela casualmente.— Ela riu — Por que esses homens mais novos valorizam tanto encontros casuais? Como uma mulher, eu posso afirmar que não há nada melhor do que ter certeza das intenções de uma pessoa. – Comentou dando os ombros — Mas talvez isso seja apenas por conta do clima do festival. Ryuuji chegou a me comentar, todo apaixonado, que Sakura seria seu encontro de Líridas.

Taciturno, Kakashi continuava andando brevemente atrás da mulher que rebolava em seus saltos. A voz dela soava entre o vento chegando firme aos seus ouvidos, e era uma bela voz. Mei, de fato, era uma mulher sem igual, mas naquele momento o homem só queria que ela se calasse de uma vez.

Viu Mei o olhar por cima do ombro daquele jeito capicioso. Sabia da personalidade perniciosa que podia adotar diante de algumas situações, que ela era provocativa de um jeito pouco amistoso, mas sempre tinha conseguido conversar com ela sem muita animosidade.

Até aquele momento.

Porque aquele sorriso dela, tão vitorioso, fez Kakashi perceber que sua expressão não era das mais tranquilas, e apenas por isso, para tentar virar o jogo, Kakashi resolveu perguntar.

— E o que isso significa?

— Oh, você não sabe?

Ela riu com o silêncio irritadiço dele e não esperou uma resposta.

— Há uma lenda sobre o festival, é claro. – Disse maneando a cabeça — Sabe, há pessoas com o dom de fazer essas histórias soarem interessantes, mas eu não faço parte desse grupo então me desculpe se soar como um monte de besteiras – Alertou dando os ombros sem realmente se importar — Dizem que a esposa do Rikudou Sennin nasceu aqui, no território do País da Água, e que eles se encontraram numa dessas peregrinações que ele fazia pelo mundo.

— Ah, não me diga que foi amor à primeira vista.

Kakashi disse zombeteiro, sem realmente estar tentando ser engraçado.

— A lenda, até onde eu sei, não fala nada sobre isso – Ela devolveu com humor — Só diz que ele teve esse primeiro encontro com a esposa, mas que não podia se dar ao luxo de ficar em um só lugar. Ele era um nômade afinal, espalhando a palavra do ninshū pelo mundo, mas ele sempre voltava para encontrá-la na mesma época do ano, quando as estrelas caíam através da constelação de Lira. A ponte do Grande Dragão de Água, que liga os Picos Gêmeos, faz parte dessa lenda, já que dizem que o Rikudou dividiu o grande pico em dois para encontra a Lágrima do Dragão, a joia que marcou a união definitiva dos dois.

— Uma bela história – Kakashi comentou sem muito interesse.

— De fato – Mei riu — Mas os jovens adoram. Casais apaixonados surgem de todas as partes do mundo para terem o vislumbre da chuva de meteoros. Não é difícil para alguém como Ryuuji achar que encontrará o amor durante o festival, principalmente quando Sakura surge em sua vista, assim, repentinamente. Amor predestinado é algo que fascina os jovens.

Ele continuou subindo o morro, em silêncio, mas Mei não estava disposta a ceder.

— Inclusive, isso me lembra quando Tsunade veio ao festival. Foi quando finalmente nos conhecemos, e estranhamente, ficamos muito próximas. Amor, naquela época, era muito mais... romântico. Nós enchemos a cara e o pobre do Dan, namorado dela na época, ficou tão preocupado – Riu — Eles eram um casal fantástico.  Tsunade sempre foi tão explosiva, e na época era mais animada. Dan ficava seguindo-a por todos os lugares, fazendo todos os gostos dela... Sabe quando alguém parece feliz só de ver a pessoa que ama feliz? Era o Dan.

Era época de guerra, mas Tsunade e Dan, de alguma forma, entraram no País da Água numa missão diplomática. Ficaram apenas três dias, mas foi o suficiente para criarem uma boa amizade que perduraria o tempo e à distância. A missão de Tsunade, pelo que Mei sabia, deu errado no fim, mas ninguém saiu ferido, e Dan morreria alguns meses depois.

Tsunade jamais seria a mesma depois disso.

Foi quando finalmente atingiram o topo, desbravando entre as poucas árvores para atingir a beirada. Uma lufada de vento os acertou com força, os cabelos balançando conforme sua intensidade, e a pele era aquecida pelo calor da caminhada juntamente aos raios de sol que atingiam sua pele à mostra. Kakashi olhou ao redor, ao noroeste, os Picos Gêmeos jaziam entre às nuvens e mais além, havia o mar.

— Ver Sakura aqui, nesta época do ano, me ter um pouco de saudade daquele tempo. Ela me lembra Tsunade, apesar de ser muito mais maleável.

Kakashi soltou o ar pelo nariz numa risada sem humor, esperando que Mei completasse, com seu olhar de raposa, que Ryuuji a lembrava de Dan.

Mas ela apenas o olhou por um momento longo, e seus olhos eram... divertidos? Quase sinceros de alguma forma, como se todas aquelas lembranças a tivessem feito desistir do que quer que estivesse planejando. O homem franziu o cenho brevemente e a mulher pareceu satisfeita com sua reação, virando-se para contemplar o horizonte, vendo os moinhos ao norte rodeados pelas plantações de trigo.

— Cuidar de Sakura, é?

Quase se passou despercebido, mas homem conseguiu escutar aquele sussurro perdido nos ventos fortes. É mesmo, não é? A Mizukage tinha dito algo assim quando no almoço que tiveram.

O que aquilo significava? Ele não fazia ideia.

Ficou em silêncio esperando pela mulher ligeiramente a sua frente. Mei abraçou a si mesma num gesto que poucas pessoas presenciaram, e ela parecia diferente de alguma forma, como se tivesse percebido algo mais engraçado. Kakashi, no entanto, se sentia por fora da piada.

Talvez ele fosse a piada.

Mizukage-sama – Ele chamou depois de um momento Quem reservou o quarto do hotel para minha hospedagem?

Que eu saiba, ninguém – Respondeu com divertimento Eu fiz a reserva de Sakura, seguindo as instruções da Hokage. Achei até que Sakura viria sozinha.

Mei abriu aquele sorriso.

Certo.

Entendo. – Kakashi disse impassível. E devo assumir que Tsunade-sama também contou sobre a situação de Sakura com Uchiha Sasuke?

...

Ela chegou a comentar. Disse que ela reagiu muito melhor do que ela esperava.

...

Kakashi riu, e Mei se deliciou com aquela reação.

— Compreendo. ­— Ele disse sem conter sua repentina mudança de atitude. Bem, minhas habilidades devem ser muito necessárias para a realização dessa missão, eu suponho.

— Ninja mais qualificado que você não existe – Ela retrucou com aquele lisonjeio dissimulado — Parece fácil, mas essa é uma missão delicada.

Eles trocaram um olhar cheio de significados, mas Mei não foi capaz de ter certeza sobre nada.

— Diga, como vamos executar essa operação? – Kakashi perguntou sem querer se aprofundar muito mais em qualquer coisa que viesse depois daquelas descobertas que eram, de alguma forma, um tanto óbvias.

— Oh, claro... – A Mizukage suspirou — Amanhã teremos a festa que Ryuuji dará no palacete, onde almoçamos. Aquelas instalações são exclusivas para os nobres, e o Senhor Feudal tem um escritório na ala leste, no piso superior, onde você encontrará o item em questão. Na noite da festa será mais fácil entrar e sair, se for pego, poderá dar qualquer tipo de desculpas sobre sua perambulação nos corredores.

— Como é a guarda?

— Não será reforçada. Por causa da guerra, não temos contingente para isso, então não espere dificuldades. Você deve lembrar do posicionamento de alguns durante nosso almoço.

— E o item? Como é o tal cristal?

— Lembra da lenda? O cristal, na verdade, é a Lágrima do Grande Dragão de Água. É um pingente em forma de gota, que estará exposto num quadro aveludado.

Kakashi maneou a cabeça.

— Acho que o Senhor Feudal certamente sentirá falta de um objeto tão característico como esse.

Disse se perguntando como diabos o Lorde Feudal do País do Fogo conseguiu ter posse desse item.

— Com certeza, por isso eu preparei isso para vocês – E então ela mostrou um pergaminho minúsculo que guardava dentro da sua cartucheira lateral — Libere com o selo de dragão e lebre para invocar uma cópia exata da Lágrima do Dragão. É só trocar com a que está em exibição na prateleira do escritório.

— E como eu vou saber que você já não fez essa substituição antes?

Mei sorriu.

— Cauteloso como sempre, Kakashi. – Comentou com seus olhos de raposa — Mas acredite, para nós ninjas, a diferença vai ser muito óbvia, no entanto, aqueles que não possuem certo nível de controle de chakra, jamais saberão a diferença.

Kakashi assentiu com a cabeça, guardando o pergaminho consigo.

— Então amanhã poremos em prática a operação. Em nome da Hokage, eu gostaria de agradecer pela cooperação. Sabemos o risco que está tomando.

— Estou apenas dando um voto de boa fé em nome da paz conquistada, mas espero que tal ato seja lembrado – Certificou-se com aquele sorriso presunçoso.

— Certamente será. – Kakashi respondeu enfiando a mão nos bolsos.

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Voltou para a vila juntamente à Mei, que realmente quis lhe mostrar os moinhos de perto. Teve que invocar Pakkun para avisar a Sakura que não voltariam juntos, mas não se preocupou muito com o retorno dela, já que ela estava acompanhada do nobre Senhor Feudal em treinamento que possuía uma luxuosa carruagem e muita boa vontade em fazer Sakura se sentir confortável.

Tudo bem. O homem podia admitir que não gostava nenhum pouco do fedelho, também o incomodava deixar Sakura sozinha com o paquerador barato, mas foram os ossos do ofício do dia.

Entrou no hotel pela janela, sem querer ver gente. Foi direto para o banho, porque sua cabeça estava confusa, custando a admitir que talvez a Hokage estivesse tramando alguma coisa. Afinal, se juntasse o que Mei tinha lhe dito com o que já sabia, Kakashi tinha a breve impressão de que Tsunade tinha planos ocultos para aquela ida de Sakura à Kirigakure.

Era uma missão ridícula que qualquer ninja minimamente qualificado poderia fazer, mas ela havia escalado Sakura em primeira mão. Depois havia a questão de que se passava durante um festival romântico, e Tsunade sabia bem disso já que já tinha estado em Kiri nessa época com seu namorado na época. Além disso, ainda havia o fato der escalado Kakashi de última hora, o que poderia justificar a falta de um quarto para ele – os hotéis deveriam estar mesmo lotados – mas ainda assim, mesmo com o benefício da dúvida, não fazia sentido tirá-lo da vila para uma missão tão...

Fácil.

Ele coçou a cabeça ainda debaixo d’água com o sentimento de incômodo lhe dominando. Pensar que Tsunade poderia estar querendo dar uma de cupido lhe deixava irritado, primeiro porque ele não queria ninguém se metendo na sua vida, segundo porque era perigoso brincar com as pessoas dessa forma, e terceiro porque... Sakura era sua aluna 14 anos mais jovem.

Entretanto, saber da arapuca lhe trazia um certo conforto. Todas as inquietudes vividas durante a viagem poderiam ser influência de Tsunade – ele não sabia até que ponto as coisas tinham sido manipulações dela – e isso lhe deixava menos inquieto, como se entendesse exatamente o que estava acontecendo. Nada era real, e isso o aliviava.

Sim, isso trazia alivio e silenciava aquela voz minúscula que lhe dizia coisas inapropriadas em momentos mais inapropriados ainda. Aquela voz, na verdade, era a voz de Tsunade em sua cabeça, e agora que ele sabia disso, poderia simplesmente continuar a tratar Sakura normalmente sem ter se esforçar para não pensar.

Sorriu para o seu reflexo no espelho satisfeito antes de se trocar. Deitou-se confortável na cama, mas não antes de pegar seu velho companheiro de viagem, Icha Icha, sentindo que agora era completamente seguro ler todas aquelas páginas de romance tórrido, ação, drama e... putaria. Sakura tinha razão quando dizia que tinha muita putaria naquele livro, mas ele gostava de como Jiraya era criativo, e nenhuma cena erótica era colocada apenas por colocar, todas tinham algum significado, o que tornava tudo ainda melhor.

Então ele leu. O ninja não sabia, mas ia se apaixonar durante aquela missão. Há! Se apaixone ninja! Está seguro agora.

Já estava no final da segunda página quando a porta do quarto se abriu. Ele abaixou o livro e viu Sakura entrar. Estava pronto para cumprimentá-la, mas o breve yo ficou preso no meio do caminho quando ele viu os olhos verdes da mulher lhe darem o pior dos olhares.

Foi rápido, muito rápido. Seus olhos se encontraram e Sakura desviou rapidamente, seu rosto endurecido num misto de raiva e o que mais? Ele não sabia dizer. Franziu o cenho vendo-a passar direto pela cama, sem dizer uma palavra, e entrar no banheiro como se não pudesse nem mesmo olhar para ele, batendo a porta de madeira ao fechá-la com tanta força que Kakashi podia apostar que sentiu o prédio tremer.

Certo... O que diabos tinha acontecido?

Ela estava irritada, era óbvio.

Na verdade, irritada era uma palavra muito branda para descrever a sensação de ser morto com apenas um olhar. Havia um certo desprezo ali, talvez decepção, mas a raiva era palpável, e de repente o ninja não estava mais tão tranquilo assim. Ele sentou-se na cama num gesto automático enquanto pensava o que poderia ter feito para que ela estivesse com tanta raiva. Chegou a pensar se Ryuuji tinha feito algo à ela, mas Sakura poderia quebrar o rapaz com um peteleco, e ele estava empenhado em fazê-la feliz, então descartou a possibilidade.

Ele sabia, no fundo sabia, que aquela raiva era toda para ele e apenas para ele.

O banho dela durou sabe-se lá quanto tempo, mas para ele foi como uma eternidade. Ela saiu de toalha, pegou algo na mochila e voltou para o banheiro sem nem olhar para o homem que continuava tentando desvendar o que diabos tinha acontecido para se tornar, de repente, merecedor de tanto ódio.

Voltou para o quarto com aquele blusão, os cabelos ainda úmidos. Sakura não o olhou. Passou direto pela cama mais uma vez para apagar as luzes. Queria que o dia acabasse e rápido, por isso não se importou em tentar dormir às seis da noite, ou se o seu colega de quarto não estava com sono. Se ele estivesse incomodado, então que fosse para outro lugar, como fez mais cedo quando lhe deixou sozinha naquele lugar.

Deitou-se furiosa.

E Kakashi foi capaz sentir aquela fúria em sua pele mesmo com a moça encolhida do seu lado da cama, imóvel, como se a raiva fosse tanta que até mesmo a necessidade de respirar tivesse sido descartada.

O que ele tinha feito, droga??

— Sakura – Ele chamou através da escuridão — Aconteceu alguma coisa?

...

Silêncio.

Sakura não se deu ao trabalho de responder.

Talvez já estivesse dormindo, mas ele duvidava.

— ... Eu fiz alguma coisa?

Perguntou em seguida, cauteloso, mas precisava saber para poder pensar no que fazer a partir daí.

Mais um momento de silêncio se fez, e de repente, Sakura deu uma breve risada sem nenhum humor.

Você não fez nada.— Sakura respondeu, sua voz seca em um sarcasmo que não combinava com ela.

Ou com eles, já que aquele clima pesado era algo tão diferente do que ele estava acostumado a ter com Sakura.

E ele considerou aquelas palavras por um longo momento, processando cada uma delas individualmente e em conjunto, tentando desvendar o código por trás daquela senha, porque aquilo era um código de que ele tinha feito alguma merda, com certeza.

Mas o X da questão era, que merda ele tinha feito?

Por que Sakura estava daquele jeito?

Como ele podia consertar isso?

Kakashi se sentia urgente diante do comportamento de Sakura, sua mente revisando tudo o que havia feito desde o momento em que abriu os olhos naquele maldito dia. Se ele pudesse voltar no tempo, ele teria simplesmente dormido o dia todo, só teria acordado quando tivesse, literalmente, passado vinte e quatro horas, e aí nada teria acontecido e Sakura estaria com seu humor de sempre, tratando-o como de costume, com seus sorrisos e aleatoriedades.

Mas como não podia, então o homem precisava lidar com o que quer que tivesse feito, assumir suas consequências e lidar com elas.

— Sakura, converse comigo. – Pediu sem saber muito mais o que dizer.

Mas novamente, Sakura soltou aquela risada seca.

— Ah, você quer conversar comigo? Tem certeza? Não quer que eu chame o Ryū aqui? Ou talvez a companhia de Mei-sama te agrade mais, Rokudaime-sama, já que ela não te trás nenhum aborrecimento.

Rokudaime?

Kakashi fez uma careta para as costas da mulher, que gesticulava para a escuridão enquanto falava aquelas coisas. Ela dizia aquelas coisas de maneira afetada, o deboche latente em todas as suas palavras, mas ele ainda não conseguia entender qual era o cerne da questão, porque ela ainda não estava sendo clara. Talvez ele não fosse tão perspicaz quanto a maior parte dos seus inimigos faziam questão ressaltar.

— Eu... Sakura, eu só estou tentando-

— Tentando o quê? – Ela cortou irritada.

— Tentando entender o que está acontecendo!

A mulher suspirou com irritação e o silêncio pairou por mais um momento, fazendo o homem sentir que estava enlouquecendo com a falta de informação. Tudo o que ele precisava é que ela dissesse o motivo, e então ele se desculparia apropriadamente, ou explicaria caso fosse alguma confusão. Ela só precisava ser razoável.

—  Sakura, por favor...

— Por favor? – Ela repetiu com sua voz incrédula — Por favor peço eu! Kakashi, quando você não quiser ir à um lugar comigo, apenas diga com todas as palavras. Diga que não quer ir, diga que quer passar seu tempo com qualquer outra pessoa, e tudo bem sabe? Eu sou grandinha, eu vou entender. O que eu não vou aceitar é ser largada sozinha no meio do nada enquanto você vai ver moinhos com Mei-sama.

— Mas você estava com o Ryuuji...

— E daí? Não foi com ele que eu tinha um compromisso.

Sakura suspirou exacerbada.

— Droga, Kakashi! Você disse que ia me levar lá, e supostamente era algo para fazermos juntos! Inclusive foi você quem falou que ia se livrar daqueles dois, mas só Mei-sama dizer que tinha o dia livre e estávamos todos felizes indo para o mesmo lugar, e como se não bastasse, assim que chegamos você simplesmente some com ela para horas depois mandar Pakkun me avisar que você estava voltando sem mim.

Ah..........

Então era isso...........

Não era muito comum, na história de Hatake Kakashi, que ele se sentisse daquele jeito, mas diante das palavras tão diretas da moça, que ecoavam pelo quarto escuro com a mágoa das expectativas frustradas, o copy-nin, futuro Hokage da folha, gênio de uma geração, homem de tantos títulos se sentiu... Idiota.

Tão idiota.

Sakura não pareceu exatamente ansiosa para ver as grutas quando ele falou, mas depois que descobriu o adjetivo que estavam atribuindo à elas, a moça simplesmente tinha colocado na cabeça que precisava desvendar esse mistério. Por que as grutas eram mágicas? Ele não sabia. Na época em que foi, elas eram apenas grutas, mas agora tinham se tornado uma espécie de ponto turístico, e mesmo perguntando aos comerciantes durante suas andanças, todos só respondiam que eles teriam que ir lá para descobrir o porquê de elas serem mágicas.

Não foi surpresa quando a curiosidade de Sakura só aumentou, e tudo bem, ela tinha razão quando o acusava de enrolar, mas só porque ele sabia que quando chegassem lá teriam que dividir o espaço com mais dezenas de pessoas que também estavam turistando por Kirigakure.

Oh, sim... Por algum motivo desconhecido, mostrar as grutas para Sakura só soava interessante se pudessem estar sozinhos.

Mas tudo bem! Sakura queria ir e ele prontamente iria com ela, afinal, mesmo que houvessem outras pessoas no local, eles não precisavam interagir com nenhuma delas e só isso já melhorava um pouco a experiência, só que... Eles esbarraram em Mei e Ryuuji, que logo se convidaram para ir.

Ryuuji, é claro, só queria passar o máximo de tempo possível com Sakura, e Kakashi deu isso de presente ao moleque quando foi com Mei para aqueles moinhos para pegar os detalhes da missão. Sim, porque ele só deixou Sakura lá para coletar informações, não fosse isso, Kakashi teria feito questão de ficar no meio dos dois o tempo todo, sorrindo para o Senhor Feudal e interrompendo conversas, porque o moleque o irritava com todo aquele papo mole para cima de Sakura, que merecia algo melhor.

E depois eles voltariam, talvez fizessem algo na cidade, aproveitado aquelas barracas de tiro ao alvo para parecerem ninjas incompetentes que nunca acertam, porque aquelas kunais que eles ofereciam não tinham equilíbrio, mas e dai? Sakura certamente o provocaria com isso a noite toda, e ele adoraria.

Ele certamente adoraria.

Só que...

Deu tudo errado.

— Sakura, eu só sai com a Mei porque ela queria me passar os detalhes da missão. – Ele se justificou apressado — Demorou mais do que eu esperava, e ela ficou me arrastando pelos lugares, mas eu não queria ter te deixado só com o Lorde Feudal. Acredite em mim, eu nem queria que eles tivessem ido.

Silêncio.

Sakura ficou em silêncio com as palavras dele flutuando no clima ainda pesado que havia ali. Ela não queria falar, não queria conversar, não queria entender ou... nada. Ela não queria nada. Tudo o que Sakura queria era ter tido um bom dia nas grutas, voltar para o hotel, ficar de bobeira enquanto deixava Kakashi sair à caça de seu jantar e fazer o que faziam.

De fato, ele não era o primeiro ou o segundo, nem mesmo o terceiro nome que lhe vinha à mente quando pensava em uma missão de férias, mas estava sendo bastante interessante passar esse tempo com ele, principalmente porque estava descobrindo um monte de facetas que antes nunca havia notado no homem mascarado. Ele podia ser surpreendente à seu modo, e ela gostava da presença tranquila que ele tinha, da calma e serenidade, dos olhares cheios de significados.

E ela gostava do silêncio.

O que era estranho, porque Sakura sempre se considerou um tanto falante de maneira que longos silêncios a incomodavam, mas isso não acontecia com Kakashi. Silêncios com ele soavam como uma boa conversa, daquelas acolhedoras e gentis, e talvez ela tenha ficado mal acostumada durante esses dias e confundido todos aqueles sinais, assim como Hiro fez alguns dias antes naquele barco.

Foi quando a vergonha de ter dito tudo aquilo a acometeu, e ela se odiou um pouco por ter deixado aquelas palavras saírem de um jeito tão afetado. Ele não devia nada a ela, e por algum motivo, as palavras de Sasuke surgiram em sua mente como uma pluma que cai dos céus. Você é tão irritante.

Ela sorriu abraçando a si mesma dentro daquele cobertor na tentativa de se dar algum conforto.

— Tudo bem – Disse por fim em tom mais baixo — Eu nem sei porque estou tão irritada com isso. – Divagou por um momento se sentindo estranha — Esqueça isso, Kakashi. Vamos apenas dormir. Boa noite.

...

— Sakura, me desculpa. Nós podemos voltar lá amanhã, ainda temos tempo.

— Kakashi, esqueça isso. Já passou. – Disse esvaída de irritação, mas munida de uma outra coisa, algo até pior na opinião do homem. — Eu que peço desculpas, você... Você fez o que precisava fazer.

Definitivamente, Kakashi não tinha feito o que precisava fazer.

Nem chegou perto.

E agora estava com aquela voz que soava livre de toda a raiva, que parecia até mesmo um tanto normal, mas que ele conseguia sentir com todos os pelos se seu corpo que tinha algo ainda mais errado por trás, e honestamente, Kakashi preferia a raiva, preferia que ela quebrasse todos os seus ossos, a ter que lidar com aquele clima de merda que pesava sobre eles.

Porque assim que ela se calou, Kakashi se sentiu ainda mais urgente.

Ele tinha que consertar as coisas!

Coçou a cabeça num ato de quem precisava fazer alguma coisa, mas não sabia muito bem o quê. Acendeu a luz dos abajures sob as mesas de cabeceira e se virou para ela, que continua de costas, encolhida naquele cobertor enorme sem nenhum sinal de que pretendia se virar.

— Sakura, olhe para mim.

— Kakashi... Para com isso. Apague essa luz – Ela resmungou enquanto o sentiu agitar-se do seu lado. Olhou por cima do ombro e franziu o cenho — Para onde você vai?

Bem, ele estava pronto para sair da cama e dar a volta nela na tentativa de conseguir ver o rosto de Sakura, mas já que ela tinha virado brevemente, Kakashi resolveu apenas se empertigar ainda deitado, vendo o verde dos olhos tão bonitos.

Sakura era tão honesta que bastava um olhar para saber o que estava sentindo, e ali, naqueles olhos ele viu uma conformidade triste, como se ela tivesse acabado de aceitar alguma coisa que não era exatamente bom para ela, e Kakashi odiava que ela o tivesse feito. Odiava que ele pudesse causar isso de alguma forma.

Seus olhos podiam não ser tão honestos quantos o de Sakura, mas ele torcia para que ela conseguisse ver alguma sinceridade ali, porque ele estava sendo o mais honesto possível quando dizia aquelas palavras pequenas demais, mas eram as únicas que tinha, porque ele não era bom com palavras, nunca foi.

— Vem cá.

Sim, foi só isso.

Não houve um pedido de desculpas mais elaborado, apesar desta ser sua primeira intenção. O problema é que aqueles olhos verdes quebraram tudo dentro dele, e Kakashi não sabia muito bem o que fazer além de confortá-la. Era estranho, afinal, ele era o motivo daqueles olhos tristes existirem em primeiro lugar, mas dane-se! Ele precisava fazer alguma coisa, qualquer coisa, e por instinto, a única coisa que parecia realmente certa era abraçá-la.

Sakura o olhou por um momento antes de simplesmente ceder. Não pensou muito, apenas deixou-se ser aconchegada por braços convidativos e seus corpos pareciam se encaixar com conforto. Ainda se sentia chateada, mas agora era um pouco menos, principalmente quando sentiu o carinho discreto que ele fazia em sua pele.

Me desculpa, tá bom?

Sentiu a moça concordar com a cabeça brevemente numa confirmação emudecida. Tudo bem, ele não precisava que ela falasse qualquer coisa porque ele podia sentir aquele clima pesado se esvaindo pouco a pouco, e era tudo que ele precisava para aliviar sua mente tensa. Ele a ninou, e Sakura não se importou quando a mão dele invadiu seu blusão em busca de contato direto com a pele dela, Kakashi também não se importou quando ela passou uma perna por cima das dele, se fazendo mais confortável.

Tudo bem, eles sequer estavam pensando.

Sakura fechou os olhos e deixou que o afago dele lhe acolhesse, aquele calor compartilhado na noite que se iniciava fria era bem-vindo. Ela só precisava de alguns minutos assim, só uns minutos, ela dizia a si mesma enquanto Kakashi trabalhava com algo em torno de décadas. Para ele era como se fosse fácil esquecer o mundo enquanto a paz que tinha com Sakura havia sido recuperada, e mais ainda, Kakashi entendeu mil vezes mais como apreciava a sensação tranquila que era estar com ela.

Ficaram assim, abraçados, por sabe-se lá quanto tempo. Talvez pelos minutos de Sakura, ou pelas décadas de Kakashi. Não importava. Ele se sentia melhor, ela se sentia melhor. Estava tudo harmônico novamente, como nunca deveria ter deixado de ser, e só por isso ele se permitiu pergunta naquela voz bem humorada.

— Você pelo menos descobriu por que chamam aquilo de mágicas?

Ele sentiu os ombros dela se mexerem e compartilhou daquela risada breve que veio logo após sua fala. A mulher se empertigou no seu abraço, projetando o rosto para vê-lo através da penumbra branda da luz amarelada que produzia aquela baixa iluminação.

Os olhos se encontraram.

— Maconha.

Ela respondeu com humor.

— O que? Como assim?

— Tem uma parte na gruta principal em que o sol bate num principio de lago, aquilo produz vapor, mas por conta do relevo, o valor se espalha logo pelo vento que entra. Sabendo disso, fizeram uma plantação de maconha nas laterais, e por conta dos vapores brandos a erva cozinha, mas só o suficiente para que não morram e mesmo assim soltem suas substâncias recreativas e o vento carregue isso por todas as grutas – Sakura explicou com humor enquanto Kakashi a olhava completamente incrédulo.

— Aqui é mesmo a Vila da Névoa Oculta.

Eles se olharam por um segundo antes que Sakura começasse a rir do trocadilho mais ridículo que ela já tinha ouvido em toda sua vida.

— Cala a boca – Ela resmungou com humor enquanto o homem apreciava aquele som como se fosse a primeira vez que estivesse escutando. Ah, sim... Ele preferia Sakura desse jeito: Rindo. — Mas você precisava ser o Senhor Feudal, todo chapado. Ele me falou tanta besteira.

— Ah, eu consigo imaginar.

— Ele é fã do Naruto.

— Todo mundo é fã do Naruto.

— E ele já leu Icha Icha.

— Em que contexto ele te deu essa informação?

— Eu falei que eram seus livros favoritos.

— Ah... Mas... Por que vocês estavam falando de mim?

Ela deu os ombros.

— O tema surgiu.

— Assim, do nada?

— Eu tava com raiva e acabei falando um pouco mal de você.

Kakashi riu do tom de voz dela.

— Yare, yare... – E passou os dedos pelas costas da mulher lentamente com o breve silêncio — Eu mereci.

Foi a vez dela de soltar aquela risada mínima de quem concorda com a declaração feita antes de continuar falando qualquer coisa sobre seu passeio frustrado nas grutas mágicas, que de mágicas não tinham nada, e Kakashi continuou ali apreciando tê-la em seus braços sem sequer notar, sentindo aquele cheiro doce que ela emitia que transpassava o tecido grosso de sua máscara com intensidade devido a proximidade.

E quanto mais ele sentia, mais ele gostava.

E quanto mais ele gostava, mais ele se soltava.

E quanto mais ele se soltava, mais ele se aproximava daquele momento onde, inevitavelmente, algo se revelaria.

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Notas finais do capítulo

E AI?
sdifuohsidfsjdbf

vamo fazer uma enquete?
digite 1 se vc acha que a Tsunade tem q ser madrinha de casamento
digite 2 se vc acha que é COINCIDÊNCIA

PRÓXIMO CAPÍTULO TEM FESTINHA, MISSÃO, SENHOR FEUDAL GOSTOSO, MEI MARAVILHOSA, KAKASHI, SAKURA, e tem chuva de meteoros que eu AMO.

CONTINUEM COMIGO! As estrelas estão prestes a cair numa linda chuva em lira ♥



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