Encontros de Líridas - KakaSaku escrita por LoreyuKZ


Capítulo 6
O barqueiro, o rabugento e a honra de uma CDF


Notas iniciais do capítulo

Gente, aquilo né... Revisão pra quê? O negócio tá pronto ai AHAHAHAHA
VEM COMIGO, VEM SEM MEDO

MAS ENFIM!

TEM CAPÍTULO NOVO!



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O movimento no porto começava muito cedo, principalmente quando se tratava dos barcos pesqueiros e todo o ecossistema que rondava o comércio de frutos do mar na região fronteira entre o País da Água e do Fogo, afinal, o mar era majoritariamente dominado pelas embarcações vindas de todos os cantos daquela enorme ilha onde ficava Kirigakure, mas não significava que o tão desenvolvido País do Fogo não se apropriasse de uma parte desse comércio.

Ele havia acabado de chegar com o barco cheio de pessoas e encomendas. Trabalhava com tudo, de frete à transporte de animais, tudo que pudesse carregar em seu barco e fosse legalizado entre as nações, o barqueiro chamado Hiro carregava. Dinheiro nunca é demais, e depois da guerra, a tensão entre as nações havia diminuído de tal forma, que os pedidos de especiarias e itens de luxo de sua terra natal – Kirigakure – estavam em alta.

Descarregou o que tinha, vendeu, trocou, fez alguns bons negócios, anotou algumas encomendas e fez algumas, riu com um colega que não via a muito tempo antes de ele partir naquela fragata surrada, deixando para trás as três caixas com tecidos de luxo – cortesia dos tecelões mais finos do País do Fogo – que seriam vendidos em sua terra natal assim que possível.

Tinha acabado de chegar e estava pronto para passar pelo menos uma semana no território de Konoha. Fazia tempo que não ia naquela espelunca à beira-mar para encher a cara. Suspirou satisfeito com o sol batendo em seu rosto, olhou para o horizonte, na direção de sua terra natal, sorriu antes de reparar na pintura nova de seu barco à vapor, um dos mais rápidos da região, e quando mirou o casco...

Seus olhos arregalaram em descrença.

Havia um enorme arranhão ali. O que diabos tinha acontecido?? Ele não fazia ideia, mas acabou apenas correndo para dentro do barco, descendo as escadas para o depósito e encontrando ali aquela lata de tinta pela metade. Pegou o pincel amarrado numa vara, alguns trapos, um pouco de selador... Correu para fora, tirou a camisa com um movimento simples, se agachou na beirada da passarela de embarque e começou a pintar da melhor maneira possível.

Não era nenhum bom pintor, mas o remendo iria disfarçar aquela falha até que pudesse fazer um reparo melhor quando retornasse ao País da Água. Ficou um bom tempo ali, e quando finalmente se deu por satisfeito, ele recuou, suado e cansado. Os pelos do corpo grudados na pele dourada pela exposição ao sol, os cabelos castanhos desbotados pelo excesso de sal eram levados pelo vento refrescante, apoiou um braço na cintura e o outro segurava a vara longa que sustentava o pincel num flexionar de braço que salientava seus músculos nada discretos.

Fechou os olhos por apenas um segundo, e quando os abriu...

...

Kakashi pigarreou um pouco mais alto dessa vez tentando recuperar a atenção de Sakura que, do nada, havia parado de falar para ficar encarando o homem seminu logo mais à frente, e para sua surpresa, quando saiu do torpor, ela apenas olhou para o ninja como se nada tivesse acontecido e respondeu sua pergunta com um simples “nesse caso, quanto mais rápido melhor” antes de voltar sua atenção ao senhor de respeito que a olhava embasbacado.

Soltou o ar com um ruído enquanto se aproximava do homem para perguntar quem diabos era o comandante da embarcação à vapor, porque se conseguissem partir ainda naquela tarde num barco tão veloz, então chegariam à tempo de pegar o início do festival e Sakura ficaria menos preocupada com uma possível bronca que Tsunade pudesse lhe dar. Para seu azar, no entanto, após um surto de gagueira, o homem respondeu apenas que ele era o dono e capitão do barco.

Olhando para Sakura pelo canto do olho, a mulher continuava ali com seus olhos verdes completamente presos naquele homem suado e fedido à maresia, com os pelos do peito grudados na pele. Na opinião nada relevante de Kakashi, o barqueiro não tinha nada muito relevante à mostra, de maneira que ele não compreendia aquela encarada tão compenetrada que Sakura estava dando ao homem, mas não é como se ele se importasse.

Não mesmo.

Suspirou de maneira quase imperceptível antes de continuar seu diálogo estranho com o barqueiro, afinal, este também não estava tendo reações comuns diante de Sakura: corava, gaguejava, não conseguia manter contato visual com ela e parecia meio nervoso. Ela era bonita mesmo, tudo bem. Mas o fato é que precisavam saber se o barco iria para Kiri ainda naquela manhã, e Kakashi foi muito contundente ao elevar a voz para se fazer escutar no meio daquele clima, afinal, ele não tinha nada a ver com aquilo.

—.. V-vocês estão à caminho d-de Kirigakure?

... Pelo santo Rikkudou...

— Arrã. Precisamos partir o mais rápido possível.

Se tivesse sorte, o barqueiro diria que estava se preparando para zarpar em uma hora apenas, mas se tivesse ainda mais sorte, o barqueiro diria que não, não pretendia sair do porto no próximo ano e eles iriam para o próximo barco, um mais lento, mas que o capitão tivesse quase cem anos e vestisse mais roupas.

Kakashi era, de fato, um homem de sorte... Mas não de muita sorte.

— Então partiremos em uma hora! B-bem-vindos à bordo!

Em um dia comum, Kakashi perguntaria o valor daquela viagem e tentaria, na maior cara de pau, negociar um preço a baixo do valor, porém seus planos foram sumariamente alterados por uma Sakura quase hipnotizada por aqueles músculos que pareciam ser algum tipo de pedra esculpida, e o ninja apenas constatou que quanto mais rápido tirasse Sakura da frente do cara, mais rápido ela voltaria ao normal.

Colocou a mão na cintura dela e a guiou suavemente pelo lugar até a rampa de embarque. Assim que perdeu contato visual com a pilha de músculos, Sakura maneou sua cabeça como quem considera alguma coisa, e não parecia nenhum pouco constrangida, o que chocou seu acompanhante de alguma forma, afinal, se ela estava olhando com tanta dedicação era porque... bem...

De toda forma, logo conheceram alguns outros tripulantes que pareceram chocados em saber que logo partiriam. É claro... Kakashi pensou resignado enquanto compreendia a natureza por trás da atitude do barqueiro.

Foram acomodados num quarto com duas camas estreitas paralelas uma à outra, onde Sakura apenas largou suas coisas e se sentou confortável, abrindo o zíper das botas com um ruído de relaxamento.

— Agora é só esperar – Ela disse colocando seu par de sapatos ao lado da cama — E logo estaremos em Kiri!

— Se o barco for mesmo rápido, então chegaremos em cinco dias. – Kakashi falou olhando brevemente pela escotilha.

Ficaram um momento num breve silêncio.

— Você acha que é melhor resolvermos as coisas da missão assim que chegarmos? – A voz dela era um pouco mais baixa, mais discreta.

— Não vamos nos apressar. Ainda precisamos confirmar a localização do alvo, e a partir dai poderemos fazer algum tipo plano.

Sakura concordou com a cabeça.

— Então vamos apenas curtir o festival, é?

— Inicialmente, sim. – Ele disse voltando para sentar-se na cama à frente da moça.

— Perfeito! Quero provar todas as comidas nas barraquinhas! – E então a moça deixou o corpo tombar na cama com um ruído satisfeito — Nunca andei de barco durante uma missão. Será que vou enjoar?

— Talvez num primeiro momento, mas você sempre pode usar chakra pra compensar. – Kakashi respondeu não muito preocupado — Eu particularmente não gosto de barcos. São muito vulneráveis.

A moça ergueu seu corpo, apoiando-se nos cotovelos para vê-lo.

— O que você quer dizer?

— Se afundarmos no meio do mar não há muito o que fazer.

— Então você tem medo de barcos? – Ela perguntou com humor.

— Não. Eu só os evito.

Kakashi viu Sakura se levantar e sentar ao seu lado, colocou a mão no joelho masculino com naturalidade antes de lhe dizer como se contasse um segredo.

— Não se preocupe. Eu cuido de você, Kakashi.

Ele riu do tom de voz divertido, da expressão provocativa, e de como ela colocou aquilo em palavras. Colocou a própria mão em cima da dela.

— Conto com você, Sakura.

Riram daquela súbita promessa fajuta feita no camarote mal iluminado de uma embarcação qualquer. Ela mantinha sua expressão esperta, e ele balançou a cabeça em desistência. Ficaram um segundo em silêncio e Sakura arqueou sua sobrancelha vendo a expressão levemente distante de Kakashi.

— O que foi? – Ela perguntou genuinamente interessada.

— Ah... Eu estava pensando sobre Kirigakure. Já faz algum tempo que não vou lá e provavelmente muita coisa mudou, mas acho que as grutas a oeste da vila ainda devem existir. É um lugar bonito, acho que você vai gostar.

— Será que vai dar tempo de irmos lá?

— Creio que sim. Eu espero que sim, na verdade. Não vai levar mais que um dia para irmos e voltarmos.

— Não é como se tivéssemos muitos compromissos. – Ela deu os ombros — É mais bonito que o templo que vimos a caminho?

— Mil vezes.

Sakura sorriu e ele sentiu os dedos dela pressionarem levemente seu joelho.

— Ok, então com certeza nós vamos lá. – Ela respondeu animada e ele se sentiu satisfeito — Eu também preciso comprar algumas coisas para Ino. Ela me fez uma lista.

— É, eu também tenho algumas encomendas. Ah! E tinha um sebo que vendia livros fantásticos, eu quero ver se ele ainda existe.

— Você é mesmo um viciado em leitura.

— Posso te emprestar algum outro se já estiver pronta.

— Não... Mãos que não se entrelaçam ainda está sendo digerido. Droga, eu adoro aquele livro.

— Sabe o que ajuda a superar ressaca literária?

— O que?

— Ler.

Sakura riu e ele emendou sua voz na dela, compartilhando daquela risada enquanto seus dedos pressionaram os dela brevemente sem que sequer percebesse.

— Você é apenas um viciado que está tentando me viciar também.

— É bom ter alguém com quem discutir a leitura.

— Vamos fazer um clube do livro particular, mas você também vai ter que ler os livros que eu gosto.

Céus...

— Ei! Qual o seu problema com meus livros?

— É tudo um grande clichê.

— Clichês só são clichês porque são bons.

Bem...

— Vamos lá, você tem que ler Crônicas de um Samurai.

— ... hm...— Ele suspirou — São sete livros, Sakura...

— E daí? São ótimos.

— Só pancadaria.

— Tem uma história maravilhosa por trás de tudo!

— Eu não sei... Se eu ler os 7 livros, você vai ter que ler Icha Icha então. A trilogia.

— Ah, Kakashi... Você de novo com essa história de Icha Icha.

— Porque não? É um clássico.

— Só putaria. – Ela disse revirando os olhos com suas bochechas assumindo um breve tom vermelho.

— Tem uma história maravilhosa por trás de tudo.

Cala a boca— Ela disse rindo quando percebeu o que ele estava fazendo.

A verdade é que ele já tinha lido Crônicas de um Samurai e, de fato, não era tão ruim quanto ele estava fazendo parecer, mas definitivamente não era o gênero dele, por isso ele parou no quarto livro, satisfeito em saber mais ou menos do desfecho do pseudo casal principal. De toda forma, Kakashi estava se divertindo com a reação da mulher, e antes que pudesse continuar sua provocação barata, ouviram um bater na porta.

Sakura girou o rosto na direção do ruído.

— Deixa comigo.

Disse antes de escorregar sua mão do joelho dele para se adiantar em ir até a porta. Foi só nesse momento que Kakashi se seu conta que estava com a mão sobre a dela o tempo todo, e logo afastou o pensamento quando viu o homem surgir na porta.

O barqueiro, é claro.

— Ah... Sakura-san. – O barqueiro disse parecendo um tanto desajeitado — Eu só vim para, é.. dizer que vamos zarpar agora, e... hã... logo teremos o almoço, mas... antes, que tal se... hm...

Kakashi suspirou antes de se levantar vagarosamente e ir para o encontro de Sakura. Colocou a mão na cintura dela com um toque leve e Sakura apenas se ajeitou um pouco mais para o lado, assim Kakashi apenas afastou a porta e teve contato visual com o barqueiro.

— .. Se eu levasse vocês para conhecer o barco, é claro..

— Não vamos atrapalhar? Você é o capitão afinal. – Kakashi falou com seu semblante indiferente.

— Não se preocupem, o imediato está no passadiço e... Está tudo certo. Posso mostrar o barco para... – E então olhou para Sakura antes de corar, desviando logo em seguida — .. para vocês.

Olhou discretamente para Sakura e a viu encarar o homem daquele jeito de mais cedo, porém um pouco mais amena, e Kakashi apenas reprimiu aquela velha vontade de suspirar.

— Você quer ir? – Ele perguntou para Sakura de maneira muito direta.

— Ah, eu não sei, acho que sim. – A mulher respondeu depois de um segundo, dando os ombros como se não estivesse secando o cara.

— Certo. Eu vou ficar por aqui, e acho vocês na hora do almoço.

— Você não vai?

— É... Vou descansar um pouco.

Ela o olhou por um longo momento, avaliando aquela expressão dele. Cansado. Ele não parecia cansado. Talvez um pouco impaciente? Mas provavelmente era por conta de seu desgosto por viagens de barco.

— Tem certeza? Quer que eu fique?

— Ah, não. Vá dar uma volta no barco, aprecie a vista. Eu vou apenas deitar e ler um pouco.

Franziu o cenho e queria perguntar novamente se ele tinha certeza, mas não o fez. Ao invés disso, Sakura apenas concordou com a cabeça e Kakashi lhe plissou os olhos como fazia habitualmente.

— A gente se vê no almoço, certo?

— Certo.

— Então tá bom. Boa leitura, Kakashi.

E assim, a viagem de barco começou.

A vista do oceano era simplesmente fantástica, e geralmente fazia muito calor no período em que o sol reinava absoluto entre as nuvens do céu limpo. Quase não havia nuvens, mas ventava bastante. A maresia era refrescante, mas Kakashi achava que o odor de mar era enjoativo em alguns horários do dia.

Passava a maior parte dentro da cabine na companhia de alguma boa leitura, às vezes saia para tomar sol, mas quase sempre estava quente demais e assim ele acabava voltando mais rápido do que pretendia. Achou um lugar próximo ao passadiço onde conseguia se escorar para observar a paisagem. Era silencioso e ventilado, mas a parede lateral impedia que o vento chegasse com força, beneficiando sua leitura já que as páginas não ficavam revoltas como nos locais onde as lufadas de vento chegavam com força.

O barco era realmente rápido e a tripulação era tranquila. Não enfrentaram nenhuma tempestade ou clima adverso, ao invés disso, o sol brilhava bonito enquanto a porção de terra longínqua se aproximava mais e mais. Logo estariam no país da Água, mas enquanto não chegavam, Sakura aproveitava a companhia do barqueiro. Sim... Eles haviam ficado amigos muito rapidamente, e Kakashi geralmente só via Sakura perto do anoitecer, quando ela retornava cheirando a maré e tagarelando sobre alguma aventura que o tal Hiro-san havia contado a ela.

Não negava que estava sentindo falta das conversas aleatórias que eram pautas em sua não tão longa viagem, e isso fez com que ele se surpreendesse em saber que já estava tão acostumado com a presença dela a ponto de, às vezes, apenas sair do quarto e ir em busca dela nos cantos daquele barco, mas ao ouvir as risadas, os pedaços de conversa, Kakashi apenas desistiu e voltou para o quarto naquele final de tarde do quarto dia de viagem, deixando que Sakura se divertisse com alguém novo.

Um alguém que ela estava apreciando bastante a companhia.

Ele se deitou sentindo-se quente, puxou um livro velho do bolso, aquele já muito conhecido de capa laranja. Icha Icha Paradise. Já estava na hora de rever seu velho e precioso amigo, e por isso abriu a primeira página com carinho. Escrito por Jiraya. Um gênio incompreendido, de fato. Leu a primeira linha: Saindo do escritório do Kage, ele não poderia saber, mas durante aquela missão, o ninja encontraria o amor.

...

— Isso não está dando certo!

— Não é questão de força, e sim de jeito!

— Eu acho que isso tá muito longo pra mim.

— É o tamanho ideal, você vai ver.

— Não podia ser mais rígida pelo menos?

— Sakura-san, confie em mim, tem que ser um pouco flexível, senão quebra.

— Mas eu sinto como se fosse quebrar a qualquer momento!

— Eu já disse que é questão de jeito!

— Droga, eu acho que tá escapando!

— Segure firme e puxe!

— Shanaroō!

E então, sob o comando do barqueiro, Sakura puxou a vara de pesca com certo nível de delicadeza, tentando equilibrar força e jeito, seja lá o que isso significasse. O homem ao seu lado vibrava a medida que a corda ia sendo puxada. O peixe se debatia no mar, ele podia ver pelo modo que a água se agitava, mas Sakura era muito habilidosa e conseguiu vencer tal batalha, içando o peixe para dentro do barco com um sorriso no rosto.

— Consegui!

— É um dos grandes!

Hiro pegava o peixe completamente satisfeito antes de ergue-lo como um troféu diante de Sakura.

— Eu declaro Sakura a vencedora deste duelo! – E então fez um ruído com a boca, simulando uma torcida. Sakura riu.

— Obrigada a todos que me apoiaram! Eu sinto que este momento não seria possível sem o meu instrutor, o Hiro-san! – Ela disse como se estivesse dando um discurso.

— Você é incrível, Sakura-san. Primeira vez pescando e já pegou um desses... Você é jogo duro. – O homem dizia com bom humor antes de jogar o peixe de volta ao mar. — Esse aqui a gente não pode comer, é proibido porque está na época de reprodução.

— Ah... Tudo bem. – Deu os ombros — Foi divertido pescar.

— Quer tentar mais um?

— Não – Ela riu — Acho que vou encerrar minha carreira.

— É um bom momento para se aposentar, já que chegaremos ao seu destino ainda nessa madrugada.

— É mesmo.. – Ela disse olhando para o horizonte na direção de Kirigakure que já estava tão próxima. — O pôr-do-sol é lindo aqui. – Suspirou de repente, olhando com intensidade para as ondas breves refletirem o alaranjado do céu.

Hiro contemplou a expressão de Sakura.

— É bonito mesmo, não é? – Disse se virando para ver a paisagem também — Eu vejo tanto a mesma cena que às vezes esqueço como é bonito.

— Acho que eu sempre me pegaria pensando isso quando visse um pôr-do-sol como esse.

Ela fechou os olhos por um momento sentindo o sol na pele, o mar, o vento... Sakura se deixou sentir isso por um breve instante e esqueceu de tudo. Quando abriu os olhos, Hiro estava ao seu lado contemplando o horizonte. Eles se olharam, e o homem pareceu corar.

— Sakura-san, eu... Naquele outro dia, eu fiquei muito feliz quando vi você no porto. – Ele disse de repente enquanto mantinha um sorriso tímido na face. — Eu só iria partir do país do Fogo hoje, mas quando vi você querendo partir imediatamente, eu simplesmente soube que não podia perder essa oportunidade.

Sakura arqueou as sobrancelhas, de repente, sentindo-se confusa.

— Oportunidade de quê?

— De conhecer a kunoichi que salvou minha esposa durante a Grande Guerra Ninja. – Falou ainda naquele tom tímido — Minha esposa retornou a Kiri com seus dois braços, duas pernas e um sorriso no rosto, e foi tudo graças a você.

— Hiro-san, eu... – Soltou o ar ainda confusa, surpresa.

— Você certamente não deve se lembrar dela, mas se lembra muito bem de você. Disse que havia um inimigo poderoso demais para uma chunin como ela, e que, durante a luta, ela se feriu gravemente. Ela achava que iria morrer de verdade, até sentir seu chakra, e quando abriu os olhos, disse que viu essa kunoichi de Konohagakure com beleza inconfundível, olhar feroz e punhos mais poderosos que o aço. –  Hiro passou a mão nos cabelos um tanto constrangido, olhava para baixo enquanto dizia aquelas coisas — Quando eu vi você no porto, seu olhar era distraído, seus punhos não pareciam tão fortes, e quanto a beleza... Se me permite, sim, ela é inconfundível. – Riu nervoso — Eu soube que era você, e eu queria conhecer essa kunoichi da qual minha esposa não para de falar sobre! Então eu parti imediatamente, e agora, depois desses dias, eu vou voltar para casa e dizer a minha esposa que conheci essa kunoichi de Konoha, que tem o olhar animado, punhos delicados e beleza sem igual, e que consegui agradecer por ter permitido que minha esposa retornasse a salvo.

Ela não sabia o que dizer, seus ombros encolheram e ela sabia que estava corada enquanto o homem a sua frente curvava.

— Hiro-san, por favor... Você não precisa ser tão formal. Eu... Eu quem agradeço pela viagem segura, pela boa conversa e pela companhia – Sakura disse em resposta, ainda sem saber o que estava fazendo, sem saber lidar com tamanho reconhecimento.

— É o mínimo que eu posso fazer depois de tudo o que você fez por mim. Espero que tenha gostado da viagem, da comida, e mesmo que seu namorado não tenha aproveitado muito, espero que ele tenha apreciado também. – Ele disse mais vivo, sorrindo de maneira realmente genuína.

Mas Sakura deixou a vergonha de lado por um momento para focar em uma parte especifica daquela fala.

— Namorado?

— O homem que veio com você... Ele é seu namorado, não é...?

Havia certa cautela na maneira com que Hiro pronunciava tais palavras, observando Sakura franzir o cenho antes que o tom avermelhado surgisse com muito mais violência em sua bochecha. Ela se apressou em balançar as mãos na frente do corpo num gesto de vergonha, nervosismo e, claro, negação.

 — Não! Não... Ele, o Kakashi, ele não é meu.. Nós não... Ele e eu não somos... Não temos esse tipo de relacionamento.

De repente, Sakura parecia ter uma imensa dificuldade em terminar frases de maneira coerente. Particularmente, Hiro achou um tanto fofo, mas não diria aquilo em voz alta, ao invés disso ele apenas reprimiu o próprio constrangimento em ter suposto algo daquela maneira, ainda que achasse que aquele excesso de nãos era um indicativo de algo.

— Oh.. Eu peço desculpas por ter assumido isso – Riu passando a mão na nuca — Então vocês são o quê?

Sakura abriu e fechou a boca, ainda completamente vermelha. Seus olhos viajaram por todos os locais daquele cenário como se procurassem algum tipo de resposta, e Hiro estava quase arrependido da pergunta.

— Kakashi e eu estamos de férias juntos. Nos conhecemos a muito tempo, então apenas resolvemos viajar juntos. – Ela disse tentando articular as palavras sem demonstrar tanto de sua repentina vergonha.

Mas ela ainda não tinha respondido a questão, e Hiro apenas maneou a cabeça. Ela poderia ter dito amigo, colega, companheiro de viagem, entretanto, a moça apenas havia dito qualquer coisa que soasse como uma resposta e o barqueiro apenas sorriu de maneira gentil.

— Ah, sim. Bem... Então devo ter entendido os sinais errado.

— Sinais?

Ela perguntou com seus enormes olhos verdes brilhando sob o sol que sumia calmamente no horizonte. Estava começando a esfriar, mas talvez ela não estivesse percebendo, tão corada daquele jeito. Olhar feroz, é? Hiro lembrou-se da descrição da esposa, mas não conseguia imaginar olhos ferozes quando ela fazia aquela expressão tão honesta.

O homem segurou na barra de metal na beirada da embarcação olhando para a Kirigakure não-tão-distante que escondia o sol por trás de seus prédios e relevo. O vento soprava gostoso, levando os cabelos e o cheiro da maresia era tudo o que ele mais gostava. Ficou em silêncio por um momento apenas para apreciar a vista.

É verdade... Aquele pôr-do-sol era lindo mesmo.

— Kakashi-san sempre parecia mal-humorado quando eu chegava perto de vocês, dando um jeito de te tocar sempre que podia na minha frente. – Ele disse lembrando do jeito que o ninja o olhava — Achei que ele pudesse estar com ciúmes.

Ciúmes?— Sakura repetiu naquela voz de quem está processando aquela informação de uma maneira muito nervosa. Hiro riu de maneira comedida — Oh, não! Você está enganado. Kakashi só não gosta de barcos, eu te disse, por isso o mau-humor! E... sobre os toques, bem... Não tem nada de estranho! Nos conhecemos a muito tempo, ele costuma colocar a mão no meu ombro ou coisa assim. Não é nada significativo. – Ela riu nervosa — Nada relevante.

Hiro virou o rosto na direção dela com um sorriso, os cabelos voando com o vento forte.

— Ah, então que bom! Por um momento eu fiquei preocupado de estar causando problemas, mas... Eu realmente queria conhecer você, kunoichi de Konoha! – Ele disse de maneira orgulhosa, e Sakura sorriu um pouco mais confortável com o rumo da conversa, ainda que estivesse vermelha. — Acho que eu só enxerguei essas coisas porque muitos casais vão a Kiri nessa época do ano.

— Hm? Como assim? – Ela se aproximou, também colocando as mãos na barra de metal pintada a não muito tempo.

— O festival de Líridas. – Respondeu como se explicasse tudo — Você não sabe? Tem uma lenda que contam sobre essas pessoas, um casal que se encontrava todo o ano sob as luzes de Líridas. Eu não sei direito, nunca me importei, mas aparentemente eles não podiam ficar juntos sempre e combinaram de se ver todos os anos nesse mesmo local, onde Líridas pode ser vista em sua máxima intensidade.

— Eu... Eu não fazia ideia.

— Tudo bem, não é grande coisa. Eu só sei porque acabo levando bastante casais nessa época do ano. Gente de toda a parte vêm para Kirigakure em busca de um encontro sob o céu de Líridas. – Disse olhando para a moça tão atenta, e até mesmo um pouco confusa, com seus olhos verdes e cabelo rosa. — Romântico, não é?

— ... Sim. – A moça deu uma risada baixa, deixando o ar escapar pelos seus lábios — Nós viemos pelo festival, sim, mas não fazíamos ideia de que...

Hiro sorriu quando ela não conseguiu terminar a frase.

— E se me permite um pouco mais, minha esposa, que com certeza já é sua maior fã, disse que havia esse comentário entre os ninjas do pelotão de que você estava lutando para salvar um grande amor. Então eu vi você e o Kakashi-san depois da guerra indo a esse festival e só juntei as coisas.

 Sakura o olhou surpresa antes de soltar o ar com uma risada fraca. Maneou a cabeça ainda constrangida pela ideia absurda de que ela e Kakashi pudessem estar envolvidos de alguma forma romântica, mas o que a fez rir com um humor ínfimo foi o tal boato que circulou na guerra.

Não deveria ser nenhuma grande surpresa que sua vida tinha se tornado de conhecimento público. Na verdade, todo o time 7 tinha passado por esse momento onde as pessoas estavam tão aficionadas que os boatos começaram a circular antes mesmo que eles pudessem saber. O próprio Naruto estava passando por uma fase onde suas fãs não respeitavam sequer seu momento de recuperação hospitalar; Kakashi já era uma figura conhecida, e depois de tudo, todos ficaram ainda mais admirados com a força do homem; também tinha Sasuke... e Sakura.

O último Uchiha, aquele que matou Deidara e Danzou, invadiu a reunião dos cinco Kages, tentou assassinar Killer Bee, apareceu na guerra no último minuto para ajudar a selar Kaguya e, depois de tudo, ainda queria mudar todo o sistema ninja à força, como se não tivesse ouvido uma palavra do que fora dito durante o combate com a Deusa.

Deu trabalho a todos até o último instante, quando finalmente fora derrotado por Naruto naquele fatídico combate onde perdeu o braço.

Lutando para salvar um grande amor.

Bem, a guerra, definitivamente, não foi sobre isso; e ela, definitivamente, não estava lutando só para salvar um grande amor.

Sakura estava lutando pelo mundo ninja, por Naruto, por seus companheiros, família... por sua vida. E sim, Sasuke também foi um dos motivos pelo qual ela lutou, mas já fazia algum tempo que ele não era seu único motivo.

A mulher apoiou os cotovelos na barra antes de pousar seu rosto nas mãos, trocou o peso do corpo para o outro pé, ajeitando-se numa posição um tanto confortável enquanto olhava Kirigakure se aproximando de acordo com a velocidade do barco.

— Acho que os boatos foram um pouco exagerados— Ela disse depois de um momento — Quero dizer, eu não estava numa guerra apenas para salvar um grande amor, que aliás, não era o Kakashi.

Hiro permaneceu em silêncio enquanto contemplava a expressão da mulher sem sabe direito o que estava sendo transmitido através de seus olhos. Era óbvio que havia uma história, mas ele deveria perguntar? Já estava sendo intrometido demais, não é? ... Mas o silêncio era o convite que ela precisava para simplesmente se deixar falar.

— Havia esse garoto quem eu me apaixonei a muito tempo atrás, e aconteceram muitas coisas, mas foi por ele que eu consegui me tornar a ninja que sou hoje. Eu treinei de verdade para ter uma chance de salvá-lo, e tanta coisa aconteceu, Hiro-san... Eu fiquei feliz quando o vi chegando na guerra disposto a ajudar todos, mas ao mesmo tempo eu sabia que não era só isso... Eu sabia que ainda iriamos precisar lutar. – Ela ficou em silêncio por um momento enquanto a memórias da chegada de Sasuke na guerra retornaram juntamente aos sentimentos que a invadiram no mesmo momento. — E antes da última batalha, aquela que ninguém pôde presenciar, eu disse que poderíamos retornar aos dias que ficávamos juntos na vã esperança que meus sentimentos fossem maiores do que qualquer coisa que ele estivesse planejando.

“...Se eu ainda tiver um lugar no seu coração, por menor que seja, por favor... não vá. Se ficarmos juntos de novo, tenho certeza que poderemos voltar para aqueles dias...”

Ela se lembrava nitidamente daquelas palavras tão fortes que escaparam antes mesmo que pudesse percebesse o que estava dizendo. Seus olhos miravam a água que era jogada para os lados pelo navio que abria caminho velozmente. Suas memórias tinham um gosto agridoce, e não tinha dito isso a tanto tempo assim, mas ao mesmo tempo parecia que um século já havia se passado.

Suspirou.

— Ele jamais me respondeu. Eu fui posta num genjutsu e a batalha aconteceu sem que eu pudesse interferir. Quando acordei, Naruto tinha resolvido tudo, e ele, meu grande amor, retornou a vila. – Sakura deu uma pausa — Mas como você pode ver, não ficamos juntos.

— Vocês não se falaram?

— Eu consegui ter uma conversa com ele, finalmente. Ele está preso na verdade. É um criminoso de guerra em julgamento, mas Tsunade-sama disse que ele será solto em breve. Talvez já esteja solto, eu não sei. – Deu os ombros em seu devaneio — Mas nós conversamos sim, apesar de não ter conseguido olhar nos olhos dele. Eu reforcei minhas palavras e meus sentimentos, mas... Sabe, depois de tudo que conversamos, eu concordo com ele... Jamais poderíamos voltar para aqueles dias.

Eles ficaram em silêncio enquanto Sakura revivia aquela conversa que teve do início ao fim com aquele sentimento de estranho de algo que foi acabado sem mesmo ter começado, como planos frustrados. O silêncio perdurou sendo quebrado pelo ruído do vento forte e das ondas batendo no casco da embarcação. Hiro a olhou pelo canto do olho, mas Sakura tinha seus pensamentos em outro lugar.

— Nós nos magoamos demais, ele me magoou demais, mas isso não significa que eu não o ame, eu só acho que agora eu entendo um pouco mais sobre sentimentos para saber que amor é só uma coisa dentre muitas outras. Mas eu não me arrependo de amá-lo, afinal, foi esse amor que trouxe até aqui. Sem ele, eu certamente seria uma outra pessoa. Além disso... Bem... Ele é meu importante companheiro de time, e eu jamais o abandonaria. – Sakura riu dando os ombros com a memória distante — Quem abandona os amigos é pior que lixo.

— Então você desistiu do seu grande amor?

— Oh... Hiro-san, quando você fala assim, eu me sinto como se tivesse treze anos novamente – Ela riu — E não, eu não desisti. Não tem nada para desistir. Eu vivi esse amor genuinamente, e agora, com Sasuke-kun finalmente de volta nesse tempo de paz, eu sinto que cumpri o meu papel. Ele me disse coisas interessantes, coisas que eu nunca irei esquecer, mas em resumo... – Soltou o ar com um suspiro quase animado — Acho que depois de todas as palavras, quando eu finalmente saí da cela e vi o sol brilhando, eu percebi que quero descobrir quem eu sou agora que tudo está resolvido. Quem é Haruno Sakura longe da busca pelo amor? Quem sou eu sem Sasuke-kun? Eu tenho dado um passo de cada vez, e confesso que sou resistente com mudanças, mas essa viagem veio em boa hora.

Ela tinha um sorriso bonito nos lábios e não havia nenhuma hesitação em suas palavras, magoas ou arrependimentos. Sakura transparecia honestidade com aqueles olhos verdes prestes a receber o último suspiro dos raios de sol antes que eles se extinguissem para dar lugar ao roxo do início da noite. Hiro sorriu contagiado pelo humor estranho e solene, pelo sorriso sincero e pelos dizeres tão poderosos.

— Se é de alguma ajuda, Sakura-san, eu gostaria de dizer que a pessoa que eu conheci nesses últimos dias é uma mulher muito espirituosa.

— Espirituosa? – Ela riu maneando a cabeça. Não era o tipo de palavra que usavam para descrevê-la, mas ela gostava de como soava novo e empolgante. — Obrigada, Hiro-san!

O barqueiro sorriu gentilmente e num instante já estavam em outro assunto, um mais leve sobre a amiga dela querer empurrá-la para todos os caras que encontravam na vila. Era engraçado como a descrição da sua esposa sobre tal ninja era tão imprecisa. De fato, a Sakura que lutou na guerra já não deveria ser mais a mesma Sakura que estava ali tagarelando sobre sua melhor amiga num barco a caminho de Kirigakure, e Hiro se permitiu apreciar a sensação de ventos bons que sopravam.

Não conversam por muito mais tempo, afinal, ele tinha que fazer os preparativos para atracarem e, em seguida, aportarem às margens da Vila da Névoa Oculta. Se despediram com um até logo, afinal, ainda se veriam mais uma vez antes que ela pisasse em terra firme em busca de si mesma, mas Hiro já a considerava uma companheira de navegação, uma amiga.

A viu se afastar enquanto virava para adentrar à sessão de camarotes e sorriu uma última vez ao olhar a grande vila de aproximando. Sua esposa nunca iria acreditar que ele havia conhecido Haruno Sakura, kunoichi de Konoha.

E Sakura apenas fez o seu caminho até a cabine designada para seu pernoite sem pensar muito em nenhuma parte da conversa. Não havia o que pensar. Abriu a porta com cuidado, encontrando Kakashi deitado numa posição estranha com o livro “Laranjeiras” descansando sobre seu peito. Parecia relaxado apesar de tudo, e sua respiração era profunda o suficiente para que seu peito levantasse e descesse.

Teve vontade de arrumá-lo, mas sabia que caso se aproximasse demais, ele certamente despertaria com um breve yo, e pouco antes de deixá-lo para tomar um longo banho, as palavras de Hiro ecoaram no fundo de sua mente, fazendo com que suas bochechas reagissem de imediato. Oh, céus... Limpou a garganta com um ruido censurando novamente a fala do homem “mas que ideia!” e chutou o pensamento para o fundo de sua mente.

 Entrou no banho, lavou os cabelos, pensou na vida, em Ino, em Kiba, descobriu que estava com saudades de casa, pensou que talvez pudesse fazer um encontrinho do time Kakashi – incluindo Sai e Yamato – antes que Sasuke saísse pelo mundo, e seus pensamentos estavam assim, aleatórios, passageiros e divertidos. Se olhou no espelho depois de colocar aquele suéter verde claro que sua mãe comprou de presente, e sim... estava com saudades de casa, mas ao mesmo tempo, sua viagem estava realmente boa a um ponto que ela ainda queria continuar viajando.

A saudade espera. Pensou divertida terminando de escovar os dentes.

Saiu do banheiro e viu Kakashi ainda cochilando de maneira relaxada, mas aquela posição não parecia nenhum pouco confortável. Hesitou por um momento, imaginando se ele acordaria caso ela simplesmente o ajeitasse, e a resposta era óbvia... É claro que ele acordaria. Olhou para ele por mais um momento e depois desviou o olhar pensando, porque ele certamente teria um torcicolo caso não arrumasse a postura enquanto dormia.

Mas talvez Kakashi fosse sensitivo, porque ele apenas abriu seus olhos preguiçosamente e a flagrou olhando para ele.

— Yo.

Sakura riu. Previsível.

— Esse livro é tão chato assim? – Perguntou sem mesmo esperar que ele bocejasse.

— Você vai tirar suas próprias conclusões. Vai ser sua próxima leitura.

— Eh? É você quem decide os livros do nosso clube de leitura?

— Desde que só eu trouxe livros, então sim, eu escolho.

— Não acho que é um motivo muito bom.

— Não precisar ser.

Sakura revirou os olhos e Kakashi sorriu discretamente antes de finalmente se sentar, fechando Laranjeiras cuidadosamente para colocá-lo ao seu lado num repouso mais cômodo. Era um livro incrível.

— Como estava a pescaria? – Perguntou em seguida se perguntando que horas eram. Era difícil saber quando estava dentro de um barco.

O tom de voz de Kakashi era quase indiferente, e talvez fosse o recém despertar, mas não parecia o mesmo tom de voz de segundos atrás. Sakura o olhou enquanto suas bochechas assumiam aquele tom avermelhado.

Ciúmes?

Santo Rikkudou.

— Ahn... Normal, eu acho.

Kakashi arqueou a sobrancelha diante daquela reação, porque toda vez que ele perguntava sobre qualquer coisa que ela havia feito com o barqueiro, Sakura desatava a falar do quão incrível tinha sido seu dia como parte da tripulação, sobre as histórias de Hiro, e como ele era simplesmente incrível.

Mas ali estava uma resposta bem... muxoxa. Na verdade, ela estava estranha de repente, quase constrangida desviando o olhar. Kakashi estreitou os olhos.

— Aconteceu alguma coisa?

Sakura o olhou rápido demais, como se a voz dele fosse um comando, porque novamente seu tom de voz mudava, soando mais presente e sério. Ela o conhecia bem demais para saber que ele estava pronto para algo.

— Oh, não! Não! – Ela se adiantou vendo a expressão séria dele continuar estampada em seus olhos — Eu só lembrei de algo que ele disse.

— O que ele disse?

— Nada importante – Sakura disse sem entender porque ele estava tão sério com aquelas perguntas — Ele só confessou que me reconheceu no porto pelas histórias que ouviu da guerra.

Sakura viu o semblante de Kakashi suavizar quase instantaneamente, até a postura relaxou quando ele abriu aquele sorriso num misto de satisfação e alívio? Talvez ela estivesse confundindo as coisas por conta daquela conversa com Hiro, mas ele parecia mais relaxado com certeza.

— Eu falei que as pessoas contariam histórias sobre você.

— É verdade... Eu fiquei com tanta vergonha. – Riu encolhendo os ombros — Acho que eu nunca vou me acostumar com isso.

— Você merece toda a admiração. – Kakashi falou trocando um olhar cumplice com a moça, que sorria timidamente em resposta. Quando ela desviou o olhar, Kakashi esticou as pernas e riu brevemente quando tudo se ajustou na sua mente.

— O que foi essa risada?

— Ah, eu só pensei que faz sentido. – Ele respondeu e Sakura arqueou uma sobrancelha um visível questionamento — Você não notou o jeito que ele ficou gaguejando e todo vermelho quando te viu no porto?

Ela revirou os olhos com humor.

— Talvez ele tenha ficado um pouco sem jeito.

— Um pouco? – Kakashi riu — Achei até que fosse apenas porque ele te achou bonita, mas agora vejo que não foi só isso.

— Você achou que ele estava afim de mim? – Sakura perguntou com humor.

— Qualquer um diria o mesmo que eu.

Sakura colocou a mão sobre a boca com uma risada irônica. Kakashi não entendeu e ela não iria explicar.

— Oh, céus... Kakashi, ele é casado. – Sakura revelou ainda divertida — Eu salvei a esposa dele na guerra, e foi por ela que ele soube de mim.

— Casado, é? – Kakashi repetiu parecendo ter sido pego de surpresa — Bem, vocês ainda ficaram se olhando daquele jeito, então...

Vocês?— Sakura questionou — Você quer dizer que eu estava olhando para ele de alguma maneira não habitual?

— Você vai negar?

— Não tem o que negar. Eu não estava olhando pra ele desse jeito.

— É claro que você não gaguejou ou corou, mas... Você parecia bastante interessada na estrutura corporal dele.

Sakura franziu o cenho por um momento antes de começar a rir. Estrutura corporal? Ela apenas se deixou dar uma boa gargalhada enquanto Kakashi mantinha aquela expressão de quem não vai desistir de arrancar a verdade dela, e bem, naquele momento ela se sentiu capaz de admitir.

— Kakashi, eu confesso, eu olhei muito para aquele monte de músculos sim, mas não é dessa forma que você tá pensando.

Pela primeira vez na vida, Sakura viu Kakashi revirar os olhos.

— Você não precisa se justificar – Ele disse parecendo afetado e Sakura apenas queria rir um pouco mais.

— Kakashi, presta atenção – Sakura disse com humor, se empertigando na cama para perto dele — O corpo do Hiro-san é como um atlas do corpo humano ambulante. Eu consigo ver cada musculo de maneira muito nítida, e quando eu o vi, não consegui me segurar e fiz uma revisão anatômica na minha cabeça. Eu não consegui parar de nomear cada músculo até ter certeza que eu ainda sabia o nome de todos eles.

O homem ficou olhando para Sakura por um longo momento até dar uma boa risada. Soltou um breve inacreditável enquanto a voz escapava se misturando à dela, que também ria em um misto de constrangimento e divertimento. Sim... Ela era uma CDF de primeira categoria e tinha passado tempo demais com um livro de anatomia, a ponto de sim, ela poder nomear cada músculo do corpo apenas pondo os olhos nele e se orgulhava disso.

— Tsunade-sama te fez decorar tudo isso?

— Decorar? Kakashi, eu sei. Eu aprendi, ok? Não tem nada sobre decorar. Eu simplesmente sei.

Ele riu.

— Sakura...

— Você tá duvidando de mim?

— Eu? Não. Jamais duvidaria de você.

A mulher suspirou enquanto se levantava da cama.

— Ok, tire a camisa.

Kakashi arqueou a sobrancelha.

— O quê?

— Tire a roupa, eu vou mostrar pra você que eu aprendi a localizar cada músculo.

— Sakura..

Ele disse naquela voz de quem não vê sentido na situação, mas Sakura estava com aquele olhar de quem não está muito disposta a ser contrariada. Passou a mão nos cabelos com um longo yare-yare, se levantou em desistência de tentar explicar para ela que seria improdutivo demais fazer aquilo porque... bem... Ela poderia inventar todos os nomes, ele não saberia dizer se ela estava mentindo ou não desde que não sabia o nome de todos os músculos e nem tinha um Sobota à mão.

Mas se ela queria fazer aquilo...

Uma vez em pé, Kakashi puxou a camisa de manga longa azul marinho que habitualmente usava, ficando com aquela segunda pele sem mangas que se ligava à máscara. O homem olhou para ela, que continuava com aquela expressão de vou esfregar meu conhecimento na sua cara.

— Tira isso também. Esse tecido é grosso demais.

Ele reprimiu um suspiro indo até sua bagagem para tirar uma máscara avulsa de dentro e quando virou-se, Sakura sorriu.

— Pode tirar na minha frente, eu não me importo.

— Boa tentativa. – Disse dando as costas para ela com humor, afinal ela não perdia a chance de tentar ver o rosto cansado que havia por baixo daquela máscara. — Não olhe pra cá. – Completou divertido enquanto se livrava do tecido que cobria seu corpo e rosto.

Sakura riu enquanto sua mente automaticamente arquitetava cinco mil maneiras de conseguir flagrar o rosto dele naquele breve momento entre a troca de roupa pela máscara avulsa, mas sem realmente estar disposta a tentar, afinal, quem espera sempre alcança.

Foi com esse pensamento que Sakura o assistiu colocar aquela outra máscara de costas para ela, e naquele curto momento ela finalmente percebeu algo inédito, porque Kakashi estava se despindo na sua frente, num quarto fechado e mal iluminado, minutos após ser sugerido que eles pareciam um casal. Oh, céus... Sakura queria poder voltar no tempo e engolir o seu orgulho, porque naquele instante, quando as palavras de Hiro vieram a sua mente, ela apenas corou como nunca antes, vendo toda a estrutura corporal das costas e braços de Kakashi se moverem para ajustarem a máscara. A moça desviou o olhar tentando chupar a voz de Hiro para longe, mas naquele mesmo instante Kakashi a olhou por cima do ombro.

— Devo tirar as calças também?

Sakura quase engasgou.

— N-não! – Ela se adiantou tentando esconder o rubor do rosto, dando passos para perto dele com seus olhos fixos no meio das costas dele. Você é uma médica, se controle. Pensou antes de continuar — Uma demonstração da parte superior é o suficiente.

Kakashi arqueou uma sobrancelha com ela bem atrás de si, e no momento em que iria se virar, a moça começou a falar.

— Aqui é o Oblíquo Externo do Abdome.

— Onde?

— Essa região aqui.

Ele olhou por cima do ombro.

— Sakura, eu não posso ver.

A moça engoliu seco.

— É claro... Hã... Aqui.

E então ele sentiu a ponta do indicador feminino tocar sua pele com uma suavidade que o fez simplesmente se calar. Ele abaixou a cabeça brevemente enquanto escutava a voz dela ecoar naquelas palavras às vezes eram complicadas demais para serem lembradas.

A verdade é que ele não estava prestando muita atenção no que ela dizia, apenas sentia o dedo dela se arrastar das laterais de suas costas para cima, para o lado... Às vezes ela circulava numa região, às vezes dava batidinhas extremamente suaves ao explicar alguma coisa, e continuava arrastando seu dedo, parando em alguns momentos, desenhando por todas suas costas sem saber que Kakashi estava enfrentando um processo de autoconhecimento, sem saber que suas costas podiam ser tão... sensíveis.

Ele se mantinha imóvel, não falava, não questionava. Kakashi se concentrou completamente na ação que estava sendo executava bem nas suas costas enquanto tentava apenas não pensar. Pensar era perigoso de diversas formas, e haviam momentos que o melhor a se fazer era apenas desligar a mente. E dai que sentisse um arrepio ou outro? E dai que a presença dela em suas costas era tão absoluta? E dai que ele se esforçando para manter a respiração calma?

E daí?

Sakura também estava! E o pior é que ela ainda tinha que lembrar de todos aqueles nomes complicados enquanto seus olhos acompanhavam o dedo que desenhava um caminho estranho pelas costas dele, que eram... um bom exemplo de costas. Kakashi era esguio, e uma vez vestido, ninguém poderia dizer se ele tinha ou não algum tipo de musculatura saliente, mas vendo-o sem as vestimentas, Sakura conseguia afirmar com toda certeza que o treino o favorecia.

Enquanto o barqueiro era uma pilha de músculos super desenvolvidos que soava até grosseiro aos olhos, Kakashi era do tipo mais... agradável. Haviam cicatrizes aqui e acolá, algumas ela tinha a mais absoluta certeza de que poderia apagar de sua pele com um jutsu, mas não sugeriu nada, apenas sentia o relevo da pele que delineavam suas costas, e ombros... Sim, porque ele tinha aqueles ombros, e aqueles braços...

“Sua missão é transar com um jounin bem gostoso nessa sua viagem!”

Por que a mente fazia isso? Nos momentos em que ela menos precisava lembrar dessa fala idiota que Ino fez horas antes de sair vila, sua mente simplesmente evocava como se quisesse brincar com toda a situação, principalmente porque já não havia mais o que dizer da parte anatômica, e agora ele precisaria ficar de frente para que ela pudesse continuar.

A voz de Ino soava em sua mente com uma risada perversa.

Oh, porca... Um dia você me paga.

— Ahn, você pode virar.

E Kakashi tomou um segundo para si, como se hesitasse, antes de apenas girar no próprio eixo, ficando de frente para a kunoichi baixinha de cabelos e bochechas rosas. Quer dizer... Vermelho era um tom mais apropriado para as bochechas, mas ele não se ateve a detalhes. Fixou os olhos no losango preto estampado na testa dela e sentiu aquele dedo indicador lhe tocar o peito.

Começou pelo óbvio, pelo mais fácil, mantendo sua cabeça baixa na tentativa de ignorar o olhar de Hatake Kakashi sobre si. Colocou quatro dedos naquele tanquinho saliente dele e deslizou para baixo dizendo musculo reto do abdome, que de reto não tinha nada. Era delineado o suficiente sem parecer grosseiro, só um breve relevo. Sakura umedeceu o lábio em um momento, voltando a falar quando levantou a outra mão, ambas fazendo o mesmo movimento em cada lado, como um espelho.

E Kakashi já não olhava mais para o selo de uma centena, não... Ele estava olhando para ela. Para os olhos, nariz, para a boca que brilhou assim que sua língua a contornou. Seu pensamento estava limpo, completamente limpo. Kakashi não pensava, ao invés disso o homem apenas se concentrava na parte prática do que estava acontecendo, simplificando o processo.

Sakura estava mostrando todo seu conhecimento anatômico, e ele era o modelo da vez.

Era só isso.

Todo o resto – os arrepios aqui e ali, a respiração controlada com certo esforço, os silêncios de quando a voz dela sumia por um momento antes de continuar, a baixa iluminação – tudo era sem significado. Eram só reações normais do seu corpo. Nada para se preocupar, nada para pensar sobre. Nem mesmo quando ele, inconscientemente, travou o maxilar quando a viu umedecer os lábios.

Foi quando os dedos dela subira pelo braço dele, ela rindo ao dizer que aqueles todo mundo já conhecia, e finalmente chegando à curva de seu pescoço, nomeando as partes de seu trapézio até que os quatro dedos, um atrás do outro, alcançaram sua nuca e de repente pararam. Ela repousou a mão e os olhares se encontram, e se ataram no mesmo instante enquanto a tensão era tão intensa que poderiam pegar e colocar num pote.

Os dedos dela sentiam os fios de cabelo, e mais ainda, sentiam o tecido negro da máscara que o homem usava. Oh, sim... Ele sabia, não era? Sabia que ela estava brincando com o tecido, colocando um dedo furtivo por dentro da borda, puxando levemente para sentir o quão firme estava presa, apenas para descobrir que não precisaria de muito para fazê-la cair.

Silêncio.

Apenas os sons de fora eram ouvidos como ruídos indistintos entre as ondas, o vento, e o tilintar de alguma coisa mais além. Sakura entreabriu seus lábios, de repente, esquecendo de controlar a respiração. A respiração mais intensa fazia seu peito subir e descer. Deveria? Poderia tirar? Ele era rápido, mas não tão rápido assim, e ele sabia que estava nas mãos dela. O segredo de seu rosto.

Kakashi não a tocava, sequer se mexia apesar de parecer rígido, tenso. Ela não sabia direito o que aquilo significava, se significava alguma coisa, mas os olhos não se separavam por nenhum segundo sequer e Sakura sentia que havia algo ali. Estava ansiosa, tão ansiosa. Se tirasse aquela máscara... Por que ele não se mexia? Por que ele não aproveitava sua hesitação para afastá-la?

Bem... Essa era uma pergunta que ele também se fazia.

As pontas dos dedos ainda estavam dentro do tecido, e Kakashi podia sentir toda a mão dela se preparando para puxar. Ela o faria? Por que estava tão hesitante? Ele viu o lábio dela tremer, o olhar vacilou, mas a mão dela ainda estava ai bem tranquila em sua posição. Ele conseguia sentir o cheiro do shampoo dela, e não entendia porque estava registrando isso em sua mente.

Ela sorriu.

Tímida, confusa.

Sakura sorriu.

— Devo?

Sua voz era discreta quase como um sussurro, seus olhos verdes pareciam cheios de uma expectativa que ele não poderia dizer sobre o quê. Kakashi precisou de um segundo para processar aquela pergunta, para entender sobre o que ela estava perguntando. Deve tirar, não deve tirar...

— Você quer uma resposta?

Sakura viu a mandíbula articular firme num movimento característico da fala. Como seria o rosto dele? Pelo que ela conseguia ver, Kakashi parecia ser, no mínimo, interessante. E tudo bem, sua pergunta tinha sido capciosa, não porque houvesse qualquer segunda intenção, não era isso, mas sim porque ela queria apenas se certificar sobre algo.

— Não sei. – E continuou olhando os olhos negros que pareciam reflexos dos seus — Você vai ficar com raiva se eu fizer?

Raiva? ...

— Talvez.

Ele não quis admitir e por isso optou por uma resposta insatisfatória, mas a verdade é que não, ele não teria nenhuma raiva. Na verdade, era confuso dizer, porque algo bem fundo dentro dele estava torcendo para que ela o fizesse, e quanto mais os segundos passavam, quando mais ele olhava aquele rosto cheio de tons expressões, quanto mais ele sentia a mão dela brincando com o tecido, mais essa voz se tornava nítida, e era assustador.

Faça o que quiser.

Tire.

Mas Sakura não tinha como saber, e podia apenas trabalhar com o que tinha na superfície, que se resumia a um simples talvez.

E ela não queria trabalhar com incertezas, com probabilidades. Sakura gostava do lugar onde ela e Kakashi estavam em termos de dinâmica e relacionamento. Durante aquela viagem, a moça percebeu que estava cada vez mais fácil conversar com Kakashi, que ela apreciava os momentos juntos e que estava descobrindo coisas novas sobre ele, sobre si mesma, e sobre tudo.

Se tirar aquela máscara fosse perturbar aquela harmonia em que estavam, então Sakura preferiria nunca removê-la. De repente, Sakura se deu conta que Kakashi era uma pessoa importante de uma forma que antes não era, e ela queria poder seguir naquela viagem regada a boas conversas com o homem que era completamente diferente do que conhecera anteriormente. Kakashi não era mais aquele Kakashi para ela, e talvez ela não fosse aquela Sakura para ele.

Ela esperava que não.

Mas não iria perguntar, e também não iria arriscar.

Então ela sorriu encolhendo os ombros, sua mão deixando aquela posição enquanto escorregava pela pele dele, pendendo finalmente para seu local de repouso ao lado do corpo feminino. Já não havia mais nenhum contato físico, mas os olhares ainda estavam atados.

— Eu não quero arriscar.

Foi a única coisa que ela disse antes de recuar com um passo. Kakashi permaneceu parado por um momento e ainda havia aquela tensão no ar. Eles se olharam mais uma vez antes de ela se virar, e o homem finalmente se libertou daqueles olhos verdes inflando o peito com o ar que entrava. Estava prendendo a respiração? Ele nem se deu conta.

Virou para o lado pela pura necessidade de um pouco de privacidade, e então a olhou por cima do ombro vendo que ela estava de costas para ele. Mas que diabos...? Se perguntou passando uma mão nos cabelos antes de pegar aquela camisa que estava usando antes para se cobrir finalmente.

— Eu não teria ficado com raiva – Ele disse após vestir-se — Não me importaria se você tivesse tirado.

Sakura o olhou.

— Então eu perdi uma oportunidade. – Disse numa voz de quem não estava arrependida.

— Talvez não haja outra – Ele respondeu como de costume, o ar tenso se dissipando.

— Tudo bem, eu decidi que vai ser você quem vai tirar ela. – Sakura sorriu de maneira significativa — Você quem vai querer que eu veja seu rosto.

Ele pensou naquelas palavras enquanto a voz dentro dele parecia se manifestar longínqua. Kakashi sorriu na tentativa de apagar aquele ruído dentro de si.

— Você está torcendo pela dor de garganta, não é mesmo?

Disse porque precisava voltar à normalidade com ela, precisava das piadas, das conversas...

— Eu não torceria pelo seu mal – Sakura resmungou se sentando na cama — Talvez você coma uma salada e precise se certificar que não há nenhum pedaço de alface no seu dente.

Riram.

— Certo. – O homem disse convicto — Prometo que se isso acontecer, você será a única pessoa a quem eu irei recorrer.

— Hm... É uma promessa.

E a normalidade os atingiam finalmente. A conversa rumou como sempre, e eles decidiram sentar no chão do quarto, com as costas apoiadas em suas respectivas camas. De frente um para o outro, Kakashi tinha os pés de Sakura ao alcance de um movimento de mãos, assim como Sakura estava apenas ameaçando conferir se o copy-nin sentia cócegas na planta do pé.

O tempo passou sem que eles pudessem perceber, e as vezes Sakura se pegava olhando para a pequena porção pele exposta do pescoço dele, sem entender porque seus olhos sempre acabavam naquela parte específica de seu corpo. Não pensou muito sobre isso, ao contrário, se distraía facilmente com as respostas imprecisas de Kakashi sobre uma fofoca que havia escutado sobre o instrutor da prova chunin da época de Sakura.

A madrugada entrou e movimentação para o atracamento da embarcação começou. Sakura se espantou com o fato de terem perdido a hora, mas Kakashi apenas deu os ombros, dizendo a ela que se preparasse para desembarcar. Não demorou muito para que Hiro-san aparecesse na porta declarando terem aportado com segurança em Kirigakure.

Ainda no barco, pouco antes de descerem a rampa, Sakura se despediu do barqueiro, agradecendo pelos dias preciosos, pelas histórias, e por ser tão bom ouvinte, mas a surpresa veio quando Hatake Kakashi, com humor revigorado, apenas disse que torcia para se encontrarem novamente quando fosse a hora de ir embora. É... talvez o homem só não gostasse de barcos.

E assim, Sakura e Kakashi finalmente colocaram os pés em Kirigakure na madrugada intensa.

— Kakashi – Sakura chamou enquanto eles faziam seu caminho para sair do porto — Onde vamos ficar mesmo?

— Tsunade-sama disse que articulou nossa estadia com a Mizukage antes de virmos.

— Então nós temos que passar no escritório da Mei-sama?

— Acho que à essa hora ela não estará lá. – Ele disse com um bocejo.

— Oh, céus... E o que nós vamos fazer? – Ela perguntou com um muxoxo.

— Não se preocupe com isso... – Kakashi disse de maneira muito calma — Veja ali – E apontou com a cabeça.

Sakura virou-se brevemente para ver um homem escorado na varanda de pedra que delimitava o contorno do porto. Ele parecia estar cochilando, mas tinha a hitaiate de Kiri estampada no braço, juntamente ao uniforme padrão dos ninjas de sua vila.

— Provavelmente a Mizukage colocou ninjas revezando horários no porto para nos receberem quando chegássemos.

— Estou me sentindo um pouco culpada pelo atraso de alguns dias.

— Não se sinta.

Sakura olhou para Kakashi esperando alguma continuação de sua fala, mas não veio. Ela riu brevemente com a falta de empatia e apenas seguiu junto a ele para finalmente, finalmente, dormir um pouco.

Mal sabia ela que a madrugada ainda tinha muito o que render.

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Notas finais do capítulo

E AI MEU POVO!!!

Capítulo fresquinho, uma delícia. E FINALMENTE CHEGAMOS EM KIRIGAKURE, PORR4!!
Próximo capítulo vai ser tudo, fiquem comigo ok? FIQUEM COMIGO!


TO PROMETENDO!!!!



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