Valente escrita por Morgan


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Essa é a primeira fanfic sobre Andromeda e Ted que eu faço, ela surgiu em um surto de hoje à noite e deve ser por isso que eu tô postando de 1h da manhã kkkkk. Eu amei escrever sobre eles e espero que vocês gostem de ler também. Boa leitura ♥



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Andromeda Black não se lembrava de estar em Hogwarts sem estar apaixonada por Edward Tonks. É claro que isso só tinha acontecido em algum determinado momento – ela só passou a conhecê-lo no fim do segundo ano, mas era assim que ela se sentia e isso era muito mais importante do que datas. Suas lembranças eram tão claras que ninguém acreditaria que não haviam acontecido ontem.

Ela estava muito brava por não conseguir acompanhar a aula de Slughorn que fechou o livro com força e o jogou na lixeira.

Claro que ela voltou dez segundos depois e o tirou de lá, mas Ted já havia assistido tudo de longe.

— Do que você está rindo? – questionou Andromeda no seu melhor tom altivo.

— É só que você não vai aprender Poções jogando seu livro no lixo. Da última vez que eu verifiquei, nós tínhamos que lê-lo, sabe?

Andromeda olhou incrédula para o lufano a sua frente. Nunca tinham falado de maneira tão atrevida com ela antes, seu sobrenome sempre a cercou de um muro de proteção que ninguém ousava tentar escalar. Acontecia o mesmo com as suas irmãs. Andromeda estava prestes a dar uma resposta atravessada quando o garoto abriu a boca novamente, jogando seus cabelos castanhos para o lado e piscando os olhos divertidos para ela.

— No que você tem dificuldade? Talvez eu possa te ajudar.

Andromeda pensou em dizer não. Pensou mesmo. Não só porque não gostava de receber ajuda de estranhos e aquele estranho em especial havia começado com o pé esquerdo, mas também porque se fosse vista com um lufano suas irmãs encheriam a sua paciência até o dia que voltassem para casa ou Lucius Malfoy respirasse perto de Narcisa.

Ela não estava contando com esta última.

Mas ela também sabia que estava por um fio e o como todo lufano, o garoto parecia inteligente. Então mesmo meio contrariada, Andromeda se aproximou. E estava certa porque Ted Tonks realmente sabia muito sobre Poções a ponto de fazer Slughorn elogiá-la, coisa que nunca havia acontecido antes.

Depois daquele dia, os dois passaram a se encontrar “coincidentemente” na biblioteca quase todos os dias. Primeiro apenas sentavam-se lado a lado enquanto liam qualquer coisa, mas então, em uma tarde qualquer, Andromeda viu Ted com um exemplar de A Bruxa da Natureza que era, na opinião dela, um dos piores livros já escritos. 

— Passei uma semana dizendo que a literatura tinha que acabar depois de ler isso – explicou ela arrancando uma risada do lufano.

Ted sempre ria de tudo que ela falava. Gostava de seu humor ácido mesmo que ele quase nunca compartilhasse dele.

Eles trocaram muitas cartas naquele verão. Ted entendeu desde o primeiro momento porque Andromeda não poderia ser vista com ele. Ele sabia que existiam pessoas preconceituosas demais no mundo e algumas pessoas que não eram, infelizmente, às vezes nasciam nessas famílias. Ele achava injusto pedir que Andromeda andasse com ele pelo castelo como seus amigos faziam se quando ela chegasse em casa fosse ser castigada por isso. 

Ted Tonks sempre entendeu. 

Então, no terceiro ano, Ted entrou para o time de quadribol e embora tivesse muito menos tempo junto com as disciplinas adicionais, ele ainda arranjava tempo para Andromeda. Sempre ia até ela depois dos treinos, fosse na biblioteca ou nas cozinhas. Era impossível para os dois não conversarem por pelo menos meia hora todos os dias.

Andromeda também passou a ir aos jogos de quadribol da Lufa-Lufa – jamais deixaria de assistir o primeiro jogo de Ted como apanhador. O que causou muitos questionamentos em suas irmãs, fazendo com que Andromeda tivesse que ir em todos os jogos da Sonserina e das outras casas para convencê-las de que na verdade ela era agora uma grande fã de quadribol e só não fazia um teste para o time porque a Sonserina não aceitava garotas.

A garota sabia que as irmãs estavam desconfiadas dos sumiços e das longas horas na biblioteca, mas também sabia que elas não se importavam tanto assim para procurar alguma coisa. Não Narcisa e sua obsessão pelo garoto Malfoy nem Bella e sua personalidade naturalmente indiferente à irmã mais nova.

Foi no quinto ano quando Ted virou capitão do time de quadribol que eles deram seu primeiro beijo. Ele havia acabado de ganhar seu primeiro jogo do ano contra a Corvinal e haveria festa na sala comunal da Lufa-Lufa, Andromeda sabia que não podia ir, sabia mesmo, mas realmente queria mais do que tudo felicitar Ted por ganhar seu primeiro jogo comandando o time. E seu desejo era tão grande que ela ignorou todo seu bom senso e trocou sua ronda de monitoria com Crabbe, que jamais faria perguntas que pudessem atrapalhá-lo a ter uma noite completa de sono.

Era exatamente meia-noite quando Andromeda parou em frente a entrada da Lufa-Lufa, se dando conta que jamais se arriscaria a acertar a senha deles, nem sequer sabia o que estava fazendo ali no canto escuro do lugar, porque é claro que Ted estava lá dentro e estava totalmente fora de cogitação bater na porta e ser vista por uma sala comunal inteira. Seu coração começou a acelerar ao se dar conta do erro que havia cometido. Podia ter esperado até a manhã seguinte, com certeza Ted não se importaria, não é? Ele sabia, ele entendia.

Já estava virando de costas para sair dali antes que alguém aparecesse quando a porta se abriu, iluminando o corredor das cozinhas com uma luz fraca e o enchendo de risadas e comemorações.

— Dromeda?

Ted fechou a porta atrás de si, chegando na garota em poucos passos. Não estava mais de uniforme, percebeu a sonserina observando os dois primeiros botões desabotoados da camisa do amigo. Seus cabelos castanhos continuavam meio bagunçados, mas ela sabia que era pela mania irritante dele de não conseguir manter nenhuma conversa sem enfiar os dedos nele.

— O que está fazendo aqui? – perguntou ele, puxando-a para trás de alguns barris onde eles não seriam vistos por ninguém. – Nem imagino o que as suas irmãs diriam se sonhassem com você aqui.

— Eu estou de ronda.

— Hoje? Achei que não tinha ronda para você, muito menos de madrugada.

— Troquei com Crabbe para poder vir te dar parabéns, é claro! – disse Andromeda com um sorriso. – Você ganhou seu primeiro jogo como capitão hoje, Ted e foi incrível! Não podia esperar!

Os lábios de Ted se entreabriram em um momento de surpresa antes de sorrir abertamente.

— Você jogou muito bem hoje, Ted, eu estava na arquibancada vendo tudo! Quando você pegou o pomo-de-ouro...!

Ele a interrompeu com um abraço apertado. Eles nunca se abraçavam muito, não que tivessem algum problema com isso, só nunca parecia ter uma oportunidade para isso a não ser em seus aniversários. Andromeda ficou feliz por Ted ter visto aquele momento como uma oportunidade para enrolar seus braços ao redor dela. E ficou mais feliz ainda quando sentiu o coração dele bater junto com o dela. Ela repousou a cabeça na curva de seu pescoço, aspirando profundamente apenas para sentir o cheiro de flores silvestres que parecia sempre ter em Ted.

— Fico feliz, Dromeda, mas você não precisava se arriscar tanto por mim – disse ele, afastando-se, mas sem soltar a cintura da garota.

— É justamente porque é você que eu fiz isso.

Ted sorriu e Andromeda não conseguiu não corresponder na mesma medida. Sempre que Ted Tonks sorria, ela também sorria. Era automático, como se um puxasse o outro.

Naquela época, Andromeda ainda não sabia que seria assim para o resto da vida.

Mas o sorriso do amigo estava diferente, não era aquele tipo de sorriso divertido que ia até seus olhos ou aquele meio convencido que ele dava quando sabia de uma coisa e Andromeda não. O ambiente ficou diferente no mesmo instante e seria impossível para qualquer um dos dois não notar.

Ted levou uma das mãos até a bochecha da garota, que ficou rosada com tanta velocidade que Andromeda pensou que seria melhor se tivesse uma grande placa brilhante em cima de sua cabeça avisando. Junto dela poderia vir um aviso por escrito dos batimentos cardíacos de Andromeda também quando percebeu os olhos castanhos de Ted fixos no seu rosto, primeiro nos seus olhos claros e depois em sua boca.

— Dromeda, eu quero muito fazer uma coisa... – murmurou Ted, um dos dedos escorregando pelo lábio inferior dela enquanto falava.

— Acho que eu também quero fazer uma coisa, Ted – murmurou ela de volta.

E então ele a beijou. Sem hesitar nem pensar duas vezes, sem esperar nem mais um segundo, Ted Tonks juntou seus lábios aos de Andromeda Black como vinha querendo fazer desde o ano anterior. E ela correspondeu com tudo que tinha de si, porque também queria beijá-lo a mais tempo do que gostava de admitir.

Aos quinze anos, Andromeda e Ted se beijavam atrás de tapeçarias gigantes, atrás da cabana de caça, em salas vazias, nos corredores menos movimentados da biblioteca e também embaixo da arquibancada depois dos jogos.

Aos dezesseis, eles continuaram fazendo tudo isso, mas sentando muito mais perto um do outro nas aulas para que pudessem trocar bilhetinhos sem ninguém notar e para que os professores, ao quererem formar duplas de casas opostas, apontassem para eles. Costumava funcionar.

Eles trocavam olhares bobos, divertidos e igualmente maliciosos à distância. Andromeda nunca se sentiu tão feliz pelas mesas da Sonserina e Lufa-Lufa ficarem tão próximas. Ela amava ver a carinha de sono de Ted e como ele nunca se recusava a ouvir o que um primeiranista tinha para dizer – mesmo que estivesse atrasado para aula. Ou, algumas vezes, para se encontrar com ela. Mas ela não se importava porque isso queria dizer que Ted era doce e ela amava ter um namorado doce.

Ela amava Ted Tonks.

E aos dezessete, Narcisa percebeu. Andromeda estava no próprio dormitório terminando de revisar seu dever de Adivinhação quando a irmã entrou, sentando-se em sua cama e indo direto ao ponto.

— Desde quando está saindo com Ted Tonks? – Andromeda piscou tentando manter sua expressão sem emoções enquanto fingia achar a ideia ridícula a fim de ganhar tempo para pensar em uma história convincente para a irmã mais nova. – E nem adianta mentir, eu vi vocês dois com meus próprios olhos. Um nascido-trouxa, Andromeda, sério? Você sabe que papai vai esfolar você viva, não é? Isso se Bella não fizer o trabalho por ele antes.

— Eu não faço a menor ideia do que você está falando.

— Dromeda, eu vi. Fui até a biblioteca pegar o livro de Feitiços emprestado porque perdi o meu e eu vi vocês dois de mãos dadas embaixo da mesa. Não me tome por idiota.

Andromeda fechou os olhos, sentindo-se a garota mais imbecil do mundo, porque Narcisa não havia perdido o livro de Feitiços, Andromeda havia o pegado para apoiar seu enorme trabalho de Transfiguração e ele estava naquele exato momento em cima de seu malão.

Madame Atwood era a professora de Adivinhação e ela sempre falava sobre Efeito Dominó. Andromeda não conseguia parar de pensar que havia atraído aquilo para si mesma.

— Não faz muito tempo – respondeu por fim. – Você vai contar?

Narcisa pareceu ofendida por um momento.

— É claro que não. Você faz o que quiser da sua vida, não é da minha conta. Só vim para confirmar, dizer que foi burrice e que você devia tomar mais cuidado se não quer que ninguém saiba. Dessa vez foi eu e eu não vou contar, mas não posso garantir o mesmo pelos amigos de Bella que ainda estão por aqui. 

Andromeda assentiu. Bella provavelmente faria um escândalo tão grande que nem o diretor conseguiria controlá-la. A sonserina se sentiu de repente muito grata à irmã mais nova e quis pedir desculpas por todas às vezes que pensou mal dela dentro de sua cabeça (ou fora dela quando estava desabafando com Ted), mas então ela abriu a boca novamente e tudo se foi.

— Eu não vejo problema nisso, sabe, em se divertir um pouco com algum sangue-ruim. Não é como se vocês fossem se casar. Na verdade, vocês vão se separar até o fim do ano, não é? Não tem como você manter isso fora de Hogwarts.

Ela pensou quanto dano traria a si mesma se apenas erguesse a perna e chutasse a irmã com tanta força que ela atravessasse o quarto até a parede oposta. Mas ao invés disso, apenas abaixou os olhos de volta para o seu pergaminho e agradeceu por ela não contar.

Narcisa podia ter escolhido o pior jeito para dizer, mas estava certa como nunca esteve antes.

Faltando um mês para saírem de vez de Hogwarts, o clima entre Andromeda e Ted mudou. Os dois não sabiam muito bem como falar um com o outro, pareciam sempre distantes mesmo quando estavam juntos e Ted pareceu ter muito mais treinos do que jamais tivera. Foi em uma das madrugadas na Torre de Astronomia que eles finalmente conseguiram dizer o que estava acontecendo. Ted estava sentado no chão, suas costas estavam apoiadas em um dos enormes pilares em volta da grande engrenagem do relógio e Andromeda havia repousado a cabeça em seu colo.

— 25 dias.

— O que?

— Faltam 25 dias para nossas aulas terminarem.

— Ah.

— Ah – repetiu Ted. – Como vamos fazer, Dromeda? O que faremos sobre nós?

Sua voz estava cansada. Andromeda ergueu-se, deixando seus olhos na mesma altura do que os do garoto. Estava claro que ele estava farto daquele assunto rondar em sua mente formando um enorme elefante azul no meio da relação deles e Andromeda se sentiu mal por tê-lo deixado ter que ser a pessoa que tocaria nele, afinal não era culpa de Ted. Nunca seria. Quem vinha de uma família problemática era ela.

— Vamos continuar assim?

— Você quer terminar? – questionou a garota. Andromeda sempre fora o tipo de pessoa defensiva. Isso nem sempre a ajudava.

Quase nunca a ajudava na verdade e especialmente naquele dia, isso fez questão de atrapalhá-la ainda mais.

— Você sabe que eu te amo, Dromeda. Essa é a última coisa que eu quero fazer. Só quero saber como vamos continuar namorando se não mudarmos... isso – ele apontou para os dois. – Vamos ter que trabalhar no mesmo lugar e torcer para sobrar algum tempo para nos encontrarmos às escondidas ou você vai me apresentar para os seus pais?

— Você sabe que eu não posso fazer isso, Ted. Meus pais nunca aceitariam você!

Ele passou as duas mãos pelo cabelo, frustrado e nervoso.

— É, eu conheço essa história.

— História? – o tom de voz de Andromeda aumentou. – Por que está agindo como se não tivesse ouvido todas as histórias que contei sobre eles, sobre as pessoas que eles são?

— Não estou agindo assim, Andromeda – disse Ted fazendo a sonserina recuar. Ele nunca usava o seu nome, nunca mesmo. Ouvi-lo substituir o Dromeda de sempre foi como um tiro no coração da garota Black. – Eu acredito em você, acredito que sejam pessoas horríveis e eu nunca, nunca mesmo, te pedi para dizer nada a eles ou me exibir por aí, embora mostrar ao mundo que você é a minha namorada seja tudo que eu sempre quis. Nunca quis que fosse obrigada a voltar para casa e passar o inferno só por causa de mim, mas quero saber como vai ser agora, porque nós vamos embora. Não temos como negar isso: nós vamos embora e esses encontros de madrugada aqui, nos corredores, na biblioteca ou em qualquer lugar vazio que pudéssemos encontrar vão acabar.

Ted falava rápido, mas sua voz não gaguejava, era como se ele tivesse ensaiado, mas Andromeda sabia que não. Sabia que ele apenas havia pensado nisso tanto quanto ela, talvez até mais.

— E eu só quero saber se o que temos aqui vai continuar nas paredes deste lugar ou se poderemos ser você e eu lá fora também – ele procurou a mão da garota e a segurou. Sua mão estava fria, mas Andromeda não se incomodou, porque tudo que sentia eram as lágrimas que começavam a se formar no canto de seus olhos acinzentados.

— Eu amo você, Ted. Eu nunca pensei que poderia sentir isso por alguém, nunca pensei que era possível qualquer pessoa sentir isso por alguém, mas...

— Mas você não pode fazer isso – completou ele por ela quando sua voz parou. – Você não pode ir contra sua família.

Andromeda desviou os olhos de Ted, envergonhada e ele soltou sua mão, ficando de pé.

— O que poderíamos fazer? – questionou Andromeda com sua voz trêmula. – Para onde eu iria? Como eu ia sobreviver? Não tenho ninguém! O que eu poderia fazer, casar assim que sairmos daqui?

Ted, que já havia dado alguns passos, parou e virou-se para a namorada.

— Você tem a mim, Andromeda. E juntos nós podemos dar um jeito em qualquer outra coisa – tentou ele, mas a garota apenas balançou a cabeça, nada convencida. Ted suspirou. – Eu te amo, Andromeda. Se me perguntarem eu provavelmente vou dizer que te amo desde o dia em que te vi jogar aquele livro de Poções no lixo e eu sei que você me ama também, mas amor não serve de muita coisa no nosso caso se não houver coragem também. 

Andromeda sentiu como se Ted tivesse desferido um tapa em seu rosto. Ela se ergueu, franzindo o cenho e sentindo a irritação tomar conta de si.

— Eu estar todos os dias com você já significa coragem, Ted!

— E eu não estou dizendo que não. Sei que você é valente – disse ele. – Só não é o bastante. É uma merda dizer isso, mas é como eu me sinto, Andromeda. Eu trocaria todo meu sangue agora para ser exatamente como você se isso fizesse seus pais me aprovarem e sua vida ficar mais fácil, porque tudo que eu quero é que você seja feliz, mas eu não posso! Não posso nem fingir porque é fisicamente impossível!

— Ted... eu não...

— Eu sei que você não quer isso, sei que você não é assim e eu espero que um dia isso não faça diferença para ninguém assim como nunca fez para nós, mas ainda não muda nada.

— Você não está nem pensando em outra possibilidade!

— Eu estou! – ele riu sem humor. – É o que eu vim fazendo todo esse tempo, mas não temos o que fazer! – Ted suspirou, balançando as mãos em frente ao corpo e ela soube que ele havia acabado. – Andromeda, eu não quero que você mude toda sua vida por mim, se isso nos ajudar, bem, ótimo. Vou ficar com você para o resto da vida se deixarem, mas antes de tudo você precisa ter coragem por você mesma.

— Por mim?

Ele assentiu.

— O que você quer fazer? Para onde quer ir? Com quem quer ficar? É possível fazer tudo isso sem desagradá-los? É por você, Dromeda. Muito mais do que por mim, por você.

Aos dezessete anos, Ted Tonks parou de entender.

Os 25 dias que Ted havia dito passaram mais rápido do que o normal, talvez porque os dois não se falaram mais desde aquele dia na Torre de Astronomia. Andromeda teve seu coração partido aos dezessete anos e não conseguia nem culpá-lo por isso. Quando eles começaram a namorar, ela nem sequer achou que duraria muito tempo. Entenderia no minuto em que ele percebesse que aquilo não era mais possível para os dois, que fingir que não se conheciam, não se beijavam e não se amavam de todas as formas possíveis quando estavam em público era doloroso, cruel e de certa forma, humilhante.

Mas Ted nunca foi embora e nunca a pediu nada. Na única vez em que ele pediu, ela disse não.

Andromeda se sentia péssima, quebrada e envergonhada. Odiava quando sentia o olhar de Ted em si e o odiou quando ele sorriu para ela em um dia qualquer, porque aquela altura, Andromeda já havia chegado à conclusão que Ted havia feito a coisa certa em finalmente partir. Ela nunca poderia dar a ele o que ele merecia. E Ted Tonks merecia o mundo. Com certeza merecia muito mais do que só mais uma Black amaldiçoada pelo nome e pela história de uma Casa tão obscura quanto seu homônimo.

Andromeda aguentou todos aqueles dias. E ficou muito mais fácil quando pararam de perguntar sobre sua aparência bagunçada e seus olhos fundos.

Até o último jogo de quadribol do ano. Lufa-Lufa contra Sonserina. É claro que Andromeda foi e teve que usar toda sua força de vontade para não gritar por Ted quando ele era atacado, atacava ou estava perto de pegar o pomo. No fim, depois de quatro horas de uma partida acirrada, a Lufa-Lufa levou a Taça de Quadribol e Edward Tonks teve seu nome eternizado na prateleira de prêmios.

Andromeda sentiu que poderia chorar quando viu o sorriso do lufano ao descer da vassoura e ser abraçado pelos seus companheiros de time. Quis chorar porque Ted parecia feliz, porque ganhar a taça era tudo que ele sempre havia desejado e porque, por Merlin, tudo que ela queria era poder abraçá-lo também exatamente como seus amigos e dividir aquele momento com ele. Por que apenas ela não podia fazer isso?

À noite, a Lufa-Lufa também levou a Taça das Casas e isso, junto com o quadribol recém dominado por eles, fez os estudantes explodirem de felicidade ainda mais. Andromeda olhava para Ted quando tinha certeza que ele não perceberia e observou, com um aperto no peito, que o garoto não estava mais tão feliz quando havia estado no campo mesmo com várias pessoas gritando animadas ao seu redor.

A sonserina se recusava a pensar que aquilo era sobre ela, se recusava a deixar que seus sentimentos egoístas tomassem conta de si e a fizessem puxar Ted de volta a sua espiral de desgraças, então assim que o banquete terminou, Andromeda foi a primeira a chegar nas masmorras.

Estava encolhida na poltrona verde-musgo da Sonserina, deixando que o fogo crepitasse e a esquentasse, para que pelo menos alguma parte de seu corpo parecesse ainda estar viva quando Narcisa e Lucius apareceram no canto da sala trocando sussurros e risinhos.

Aquilo, pensou ela, vai fazer meus pais felizes. Um Malfoy. Nada poderia deixar a família Black mais em êxtase do que um dos clãs mais ricos e importantes do “Sagrado vinte e oito”. Alguém que prezasse das mesmas coisas que eles... dinheiro, fama, poder e achasse que o mundo bruxo estaria melhor se os nascidos-trouxas não estivessem envolvidos. Ela riu com amargura. Era isso mesmo que queria para si? Deixaria que eles a tornassem naquilo ou vivesse miseravelmente uma vida toda cheia de mentiras? Tudo que Andromeda Black tinha eram só essas duas opções?

Não.

Andromeda Black tinha Ted Tonks, seu sopro de verão no inverno que sempre havia sido a sua vida. Ted, que a fazia rir sem esforço algum e que ria dela da mesma forma, que gostava de suas piadas ácidas e de sua forma um pouco mais dura de demonstrar amor. Ted, que nunca a cobrou nada, que sempre repetiu que tudo que queria era que, no fim do dia, Andromeda estivesse bem acima de qualquer outra coisa. Que havia dito que mudaria quem era se pudesse, apenas para facilitar a vida dela.

Andromeda ficou de pé. Ela não queria que Ted mudasse algo mesmo que pudesse e não apenas porque ela havia se apaixonado por ele sendo exatamente quem sempre fora, mas porque não valia a pena, por eles e nem por ninguém.

A família Black não aprovaria nada das coisas que Andromeda queria. E Andromeda não aprovava nenhuma das coisas que eles queriam. Era um impasse. Um impasse que a sonserina ficaria mais do que feliz em quebrar.

Ela só percebeu que estava parada em frente aos barris da Lufa-Lufa quando já estava lá, os olhando como se de alguma forma fosse conseguir adivinhar a tal sequência. Estava prestes a tentar, sem se importar com o inevitável banho de vinagre, quando uma voz surgiu atrás dela.

— Ahn... posso ajuda-la?

Ela se virou, dando de cara com Amos Diggory, um dos amigos de Ted.

— Eu... – ela travou, mais por costume do que por qualquer outra coisa. Demorou alguns segundos para Andromeda entender que estando ali, não fazia mais sentido mentir. – Queria ver Ted Tonks.

Ela pensou que Diggory a olharia de forma estranha, mas tudo que ele fez foi sorrir.

— Entendo – disse ele, passando por ela e batendo em algum dos barris em um ritmo que Andromeda jamais conseguiria decorar. – Acho que ele quer te ver também.

— Ele contou? – perguntou ela, alarmada.

— Não, ele jamais faria isso. Ele só é um capitão de quadribol que recusa muitos convites para sair, mas continua insistindo que não tem uma namorada – explicou. – E então ele ficou triste de repente e nós meio que percebemos que ele lança muitos olhares para uma garota na mesa da Sonserina. Dois mais dois são quatro, você sabe.

Andromeda riu nervosamente enquanto a porta se abria.

— Você acha mesmo que ele vai querer me ver?

— Tanto quanto acho que dois mais dois é quatro – disse ele novamente com um sorriso amigável no rosto enquanto os dois entravam na sala comunal.

Andromeda nunca havia entrado na sala comunal da Lufa-Lufa, tudo que sabia sobre o lugar era o que Ted havia contado e ela tinha que admitir que era tão bonita quanto sempre havia esperado, embora não tenha conseguido notar muitos detalhes porque logo seus olhos foram parar em Ted com as costas apoiadas em uma poltrona enquanto conversava com outro aluno.

Ele reparou nela assim que a porta se fechou.

Naquele momento, toda a sala pareceu em silêncio, mas nenhum dos dois soube dizer mesmo anos depois se ela realmente havia se silenciado ou não. A respiração de Andromeda era rápida e meio descompassada, nunca pensou que estaria ali, nunca pensou que seria assim que as pessoas saberiam que ela amava Ted Tonks.

Bem, isso se ele ainda a quisesse.

O que Andromeda logo percebeu que era uma dúvida boba de se ter, porque quando Ted sorriu para ela, aquele mesmo sorriso do dia em que eles se conheceram, com os olhos divertidos brilhando, como se ele tivesse acabado de vê-la pegar seu livro de volta, ela percebeu que sim, é claro que ele ainda a queria.

E então ela correu. Passou por cima de um pufe, empurrou uma pessoa, talvez até mais de uma, mas em poucos segundos estava com seus braços ao redor do homem de sua vida, tomando seus lábios para si depois da infinidade dolorosa em dias contados que eles passaram distantes.

— O que você está fazendo aqui? – perguntou ele quando se separaram.

Andromeda riu.

— Vim te dar parabéns por ter ganhado a Taça e tudo mais.

— Ah, eu sempre gosto quando você resolve me parabenizar por alguma coisa, amor – respondeu ele com uma voz melodiosa que fez Andromeda se arrepiar.

— Também vim para dizer que você tinha razão, sobre eu ter que fazer isso por mim, mas não sobre a parte de eu não ser valente o suficiente, Ted, porque eu sou e quero ser feliz do meu jeito. E se a única forma de fazer isso é tendo minha cabeça queimada na árvore genealógica dos Black, bem, eu acho que posso lidar com isso. 

Ted não conseguiu segurar a risada antes de colar seus lábios novamente.

— Edward Tonks, você quer não-casar-comigo-ainda-porque-só-temos-dezessete-anos, mas com toda certeza do mundo fazer isso muito em breve? – perguntou Andromeda com os lábios vermelhos. Seus olhos estavam brilhando de emoção e talvez de algumas lágrimas também. Ted sorriu.

— Andromeda Black, eu faria isso hoje se você quisesse. Não vejo a hora de você ser a minha Andromeda Tonks.

E então eles se beijaram de novo sem se preocupar com quantas pessoas assistiam, porque se amavam e já havia passado da hora de todo mundo saber disso e porque iriam embora na manhã seguinte para um futuro que nenhum dos dois sabia ainda como seria, mas que seria bom, pois estavam juntos e assim ficariam até o último dia de suas vidas. Talvez até depois.

Porque Andromeda Black sempre fora valente, mas agora também era livre e ela faria o que bem entendesse. 

 


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Notas finais do capítulo

Para mim, Andromeda é uma das personagens mais corajosas de todos os livros. Não é fácil deixar uma família, principalmente quando você sabe que nenhum deles nunca mais vai olhar para você, mas isso não quer dizer que não tenha existido um processo e medo com isso tudo, e foi isso que eu tentei mostrar aqui. Espero que vocês tenham gostado, por favor, me digam o que acharam!!

Até a próxima, beijo!