O Arqueiro Real (Osasuna) escrita por Linesahh


Capítulo 1
OsaSuna I One-Shot


Notas iniciais do capítulo

SAHH NA ÁREA

Oiê, pessoal! Hoje trago a penúltima one-shot da “Saga dos Sete Reinos”, e estou muito contente e ansiosa, pois essa foi a minha primeira vez escrevendo sobre o casal Osasuna, e digo que AMEI a experiência ♥️♥️

Sem mais delongas, boa leitura ♥️



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O Arqueiro Real 

Por Sahh

 

◾◾◾

 

“O Reino de Inari, comandado pelo calmo e agradável rei Osamu Miya, é considerado uma das nações mais aconchegantes e agradáveis de se morar, com seus habitantes educados e honestos. A região é pacífica e segura, contudo, sofre com a presença de estrangeiros e caçadores de outras nações que, por vezes, capturam e assassinam suas raposas, animal zelado por todos e modelo do reino, comumente domesticado por alguns moradores. Pela lei, é terminantemente proibido a caça e a violência de tais animais.” 

 

◾◾◾

 

Era mais uma tarde no pacífico e reservado reino de Inari. O dia estava fresco, o céu limpo e bonito, e cada ser daquela nação, fosse humano, animal ou planta, era agradavelmente refrescado por uma brisa tênue e duradoura.

Apesar de todas essas virtudes, aquele, também, era somente mais um dia que Osamu Miya era irritado e incomodado por seu zombeteiro e despreocupado irmão, Atsumu Miya.

Osamu suspirou, tentando, pela centésima vez, não perder a paciência. Era verdade que geralmente conseguia ser mais complacente com as outras pessoas, mas, com seu gêmeo, as coisas sempre saíam "um pouco" do controle. 

No momento, Osamu, o jovem e relativamente sossegado rei de Inari, tinha seus olhos azuis-escuros pregados exaustivamente sobre Atsumu; uma perfeita cópia sua, não fosse os cabelos de mechas brilhantes e amareladas.

— Tsumu, achei que você já estivesse a caminho do reino de Itachi. — o jovem de cabelos acinzentados deixou bem claro que a presença do outro estava beirando a quase "dispensável". — Precisa de um abraço de despedida do seu irmão mais novo ou algo assim? Imagino que você não conseguiria partir sem antes fazer isso. Puxa, que comovente.

Os destacados olhos-castanhos de Atsumu se estreitaram, revelando que ele não gostou nem um pouco do que ouvira. O loiro sempre mostrava-se inclemente na hora de desassossegar alguém, no entanto, quando o contrário acontecia, com certeza ele não apreciava em nada.

Podia não parecer, mas Osamu — que estava longe de ser besta — sabia ser tão competitivo e insistente quanto ele. Portanto, calar-se diante de uma discussão ou coisa pior? 

Nunca.

— Você é realmente um idiota, Samu. — Atsumu falou. Logo, ele pareceu recuperar-se da momentânea raiva, o canto de seus lábios alargando-se num relaxado sorriso; algo típico dele. — Bem, lá no fundo isso pode ser apenas um desejo reprimido seu, estou errado? — encolheu os ombros em descaso, levando a mão à cintura. — Sinto informar, mas não foi pra isso que vim vê-lo.

Podia-se esperar que Osamu fosse se estressar ainda mais, todavia, este não foi o caso. Não era de hoje que sua relação com Atsumu baseava-se exatamente como fora mostrada; velada por indiretas e provocações. No fundo, sabiam que essa era uma forma de se cumprimentarem.

Por isso, Osamu apenas abriu um tranquilo sorriso, suas sobrancelhas escuras e grossas assumindo um formato mais sereno.

— O que foi dessa vez?

O sorriso de Atsumu adquiriu um aspecto mais ácido, os olhos encarando Osamu com um quê de chacota e sarcasmo.

— Nossos pais. — anunciou. — Estão querendo saber outra vez quando você largará essa vida de rei solitário e começará a correr atrás de alguma esposa.

O semblante de Osamu fechou, tornando-se incomodado.

— Isso de novo? — murmurou em meio a um suspiro, balançando a cabeça e voltando a encarar o irmão. De repente, franziu as sobrancelhas, levemente desconfiado. — Espero que você não esteja contribuindo para que eles continuem com essas ideias na cabeça, Tsumu...

— Que maldade, Samu, claro que não. — Atsumu ergueu os braços em defesa, esquivando da visão analítica do outro. — Bem... talvez um pouco.

— Atsumu!

— Ai ai, Samu; o que há de tão ruim nisso, afinal? — o loiro revirou os olhos. — Olhe só você: um líder sempre solitário, governando esse reino sozinho.

— Você e Kita me ajudam a governá-lo.

— Não é disso que estou falando. — Atsumu desconversou. Seus olhos apresentaram um breve ar meditativo, como se tentasse escolher as palavras certas. — Vamos, Samu, você precisa de alguma companhia. — reforçou. — Pense só: uma bela e amável esposa, que seria sua amiga e parceira. — ele pareceu se animar ao lembrar de algo. — Melhor ainda: imagine só quando você tiver pequenos pestinhas brincando por aí!

— Credo. — Osamu se desanimou. — Eu lá quero ter filhos? Não tenho cabeça para isso...

— Ah, Samu, eu só achei que seria melhor se...

— Você não achou nada. — O acinzentado cortou-o. Agora sim estava ficando enfezado. — É sério, Tsumu; pare de colocar minhoca na cabeça dos nossos pais. Eu já falei com eles centenas de vezes sobre isso, e falarei para você agora: eu só me casarei quando estiver com vontade, está bem? Enquanto esse dia não chegar, encerraremos com esse assunto e ponto.

Atsumu fez uma cara azeda por um tempo.

— Eu só estou preocupado com você, sabia?

— Guarde sua preocupação para algo que seja realmente importante. Não vê que estou ótimo do jeito que as coisas estão?

— Pode até ser, mas, mesmo assim, não venha me chamar de insensível depois que você se arrepender dessa vida de solidão e... AH!

Blam!

De um segundo para o outro, após Atsumu gritar e pular no lugar de susto, o rapaz se desequilibrou e acabou por cair com tudo no chão.

E, em sua canela, haviam dentes perigosamente afiados fincados em sua pele.

Osamu não conseguiu se segurar e soltou uma sonora gargalhada. 

Suster*, sua raposa, realmente nunca decepcionava.

— Você devia ser mais respeitoso comigo, Tsumu; Suster não gosta nem um pouco quando sente que estou sob ameaça.

Atsumu bufou, desvencilhando-se bruscamente dos dentes da raposa. A fêmea havia mordido mais para assustar do que para machucar.

— Maldita raposa! Eu a detesto! — reclamou, levantando-se e limpando as vestes. Suster continuou a encará-los com seus belos olhos amarelados e astutos, atenta aos movimentos do irmão de seu dono. Sua pelagem marrom-alaranjada, mesclada a um suave branco, proporcionava um incrível contraste com as orelhas e o focinho preto, tornando as cores mais brilhantes e fascinantes para quem quer que olhasse. 

Ela era realmente uma linda e inteligente raposa.

Osamu continuava a rir bem-humorado, e Atsumu, por outro lado, parecia soltar fogo pelas ventas.

— Raposa idiota... — murmurou mais uma vez com raiva, antes de apontar acusadoramente para o irmão. — Você vai ver, Samu, não vou trazer nenhum dos quitutes de Itachi para você!

O riso de Osamu cessou.

Droga... Ele realmente gostava da culinária do Reino de Itachi...

Mas ainda precisava mostrar alguma dignidade na frente de Atsumu, e, por isso, apenas fez que não ligou; no entanto, lá no fundo, sentiu-se imensamente mal-humorado. 

Logo, não demorou para a "bela" confraternização dos gêmeos ser interrompida por uma figura séria e que, quando avistada, ganhou a atenção total dos Miya.

Tratava-se do conselheiro de Osamu, e, de certa forma, de Atsumu também — este que, diferente do irmão, era apenas o príncipe de Inari —: Shinsuke Kita.

O rapaz de semblante calmo aproximou-se dos dois irmãos com uma postura profissional e sólida como sempre. Seus olhos de um marcante castanho-opaco demonstravam uma habitual seriedade, o brilho contido nos mesmos sendo ressaltado pelos cabelos cinzentos e a cor preta na ponta das mechas. 

Kita cumprimentou rapidamente Osamu, e logo voltou-se para Atsumu.

— Imagino que esteja pronto para partir, príncipe Atsumu.

Tanto Atsumu quanto Osamu pareciam ter engolido uma barra de chumbo. Estavam trêmulos.

— Hã... com certeza! — o loiro abriu um largo sorriso, parecendo uma careta assustada. — Eu ia procurá-lo agora mesmo... 

— Então é conveniente que isso já não seja mais preciso. — olhou, então, para Osamu. — Voltaremos em uma semana, majestade. Me certificarei de tomar conta do seu irmão no reino de Itachi.

De acordo com seu exterior, Atsumu provavelmente surpreendeu-se antes de seu interior azedar por completo "como assim tomar conta?", enquanto que, com Osamu, ocorreu o contrário; o gêmeo de cabelos cinzas só fez abrir um simples e humorado sorriso.

— Não há dúvidas de que fará um trabalho excelente, como sempre. — expressou um satisfeito voto de confiança, decidindo por extrapolar um pouco; aparentemente o estado "alerta/perigo" que tinham em relação a Kita, como sempre, não demorou a evaporar do interior dos gêmeos. — Fique de olho para ver se ele não faz besteiras, Kita, e certifique-se principalmente de que ele não incomodará o pobre rei Sakusa.

Atsumu iria protestar, mas pareceu mudar de ideia ao dar-se conta de que Kita continuava ali. O belo conselheiro, percebendo a troca de farpas entre os gêmeos, mostrou, inusitadamente, feições mais leves e bem-dispostas, tais que contradiziam passageiras crenças de que ele era um robô.

Kita, afinal, estava mais do que acostumado com a relação entre Atsumu e Osamu.

— Entendido. — acenou. — Está na hora de irmos, senhor Atsumu. O cocheiro deve estar esperando. 

Atsumu concordou, retirando-se junto de Kita; no entanto, não escondeu a carranca enfezada quando olhou para Osamu uma última vez. 

Assim, os dois se retiraram.

Osamu, por outro lado, seguiu com uma aura mais leve e satisfeita, balançando a cabeça em negação enquanto abaixava-se para fazer carinho em sua raposa. 

Atsumu realmente era um idiota. Mas isso não era novidade, não? Ao menos ele estaria junto de Kita, que era a personificação viva de alguém que faz seu trabalho com dedicação e profissionalismo. Era como se Shinsuke, desde sempre, executasse qualquer ação ou afazer existente da maneira mais correta possível, nunca fazendo nada pela metade. 

E, por outro lado, sua fama um tanto "assustadora" havia crescido pelo fato de o conselheiro não medir esforços para falar qualquer coisa, sempre soando direto e com uma fria sinceridade. Era nítido que Kita jamais buscava alcançar a mágoa de alguém com suas palavras; ele somente era alguém sério e verdadeiro demais.

Bem, tanto Osamu quanto Atsumu, mesmo prezando extremamente a presença, ajuda e amizade de Shinsuke, não conseguiam esconder o leve medo que sentiam dele. 

Não demorou a Osamu proporcionar sua total atenção sobre sua treinada e prendada raposa; Suster tinha seus grandes olhos sobre sua face, a boca aberta e a língua para fora enquanto respirava. Desde que Osamu começou a criá-la, desde que ela era um filhote, o animal demonstrava extrema confiança e adoração à Osamu, e o Miya mais novo, por sua vez, possuía um imenso carinho por ela. 

Afinal, Suster havia sido um presente particularmente especial que havia recebido há alguns anos, e cuidar dela havia se tornado um dos seus maiores prazeres e agrados.

Suster realmente era sua fiel escudeira. 

 

[...]

 

Na manhã seguinte, a primeira coisa que Osamu notou foi que Suster não estava em seu jardim particular, como era comum ela estar naquele horário.

Até aí, tudo bem. Afinal, Osamu sabia que sua raposa, com a alma independente que tinha, costumava desaparecer de vez em quando. Nada fora do comum.

No entanto, seus pensamentos não permaneceram tranquilos por muito tempo; normalmente era esperado que Suster se ausentasse por um dia — dois no máximo —, mas, no instante que Osamu acordou na 3° manhã daquela semana e não avistou a raposa, viu que havia algo muito errado.

Preocupou-se na mesma hora. Não era possível... onde Suster havia se metido? É verdade que ela gostava de se aventurar pelos terrenos do castelo, e Osamu não possuía motivos para se preocupar com essas "diversões" do animal, uma vez que todos que a viam a mimavam e tratavam-na muitíssimo bem, mas...

Mesmo assim, se ausentar por três dias inteiros? Era demais. E pior que a irritante solidão que Osamu começava a sentir o estava incomodando, e, mesmo não querendo admitir (preferia engasgar até a morte, de preferência), sabia que a ausência do idiota do Atsumu contribuía — e muito — com isso.

E, agora, era assim que Osamu se encontrava: sem o gêmeo e sem a raposa.

Logo, decidiu tomar medidas drásticas; Osamu, ordenando um grupo de guardas com uma energia rara de se demonstrar, comandou que eles vasculhassem cada perímetro dos terrenos do castelo atrás de Suster. Ela certamente devia estar brincando com as raposas domadas dos residentes do castelo, ou salivando pelas galinhas do galinheiro.

Sim. Osamu pensou — ou forçou-se a pensar — que não podia ser algo diferente disso. 

Conclusão: eis que um dia inteiro se passou e sinal algum de sua raposa foi captado por quem quer que fosse.

— Não acredito... — Osamu estava descrente. Havia recebido as más informações (ou melhor: a falta delas) fazia poucos minutos, no momento em que estava tomando um solitário e farto café da manhã, enquanto se entretinha com um bom livro. No entanto, agora encontrava-se num irrefreável atordoamento.

Onde Suster estava?

Sua confusão e perplexidade era tanta que mal percebeu quando a sala foi preenchida por sons de passos.

Leves e, ao mesmo tempo, ágeis. Como uma espécie de...

— Majestade.

A voz séria e desprovida de emoções, fossem sutis ou não, despertou Osamu de seus preocupados pensamentos. Seus olhos, que outrora estavam parados nas mãos sobre a mesa, distantes, desviaram para a figura alta e, para muitos, misteriosa que estava agora à sua frente.

Era Rintarou Suna; o Arqueiro Real. 

Como todas as vezes que o via, Osamu não deixou de reparar no quanto os olhos do arqueiro pareciam ainda mais destacados do que o habitual, sendo essa a característica principal que todos costumavam lembrar, admirados, da estética de Rintarou Suna. O formato levemente estreito das orbes, assim como a cor amarelo-acinzentado totalmente brilhante e marcante — a qual dava a ele um ar astucioso, inteligente e, por vezes, traiçoeiro —, fazia Rintarou ser conhecido como o "rapaz dos olhos-de-raposa".

Sim. Aqueles olhos, os quais compunham o destaque principal no rosto indolente do jovem caçador, era o que fazia Osamu cogitar que eles eram as características mais impressionantes que já havia visto em uma pessoa; e olha que Osamu conhecia figuras bastante interessantes, especialmente no que dizia respeito aos monarcas das outras nações. 

Com sua aparência singular e personalidade reservada, Rintarou Suna realmente era alguém interessante de várias maneiras. Osamu, na verdade, sempre achou isso — e não era só porque ele carregava um arco gigante nas costas.

Afinal, os Miya eram amigos de Suna desde que se conheciam por gente.

— Rintarou... — a postura de Osamu aprumou-se, tornando-se nitidamente interessada. — Houve alguma coisa?

A expressão sempre vazia do arqueiro não alterou-se em nada; seus olhos amarelados apresentaram um aspecto indiferente, ainda que particularmente mais sérios.

— Penso que sim... — Suna proferiu as palavras com certa lentidão, como alguém que tenta evidenciar algo óbvio. — Sua raposa não está desaparecida?

Osamu arqueou levemente as sobrancelhas grossas. Tudo bem... não era bem aquilo que estava esperando.

— ... Bem, é o que estou achando. — respondeu após se recuperar. — Você a viu por aí?

— Não. — Rintarou falou, e logo olhou para algo a seus pés. Osamu acompanhou o movimento, e se surpreendeu por não ter reparado que havia mais um ser presente na sala. — No entanto, Broer parece estar impaciente para encontrá-la. Afinal, Suster é sua irmã.

Osamu olhou melhor para a única raposa de pelagem preta em todo o Reino de Inari: Broer*, à primeira vista, totalmente ameaçador. Todavia, todos que o conheciam sabiam que da mesma forma que o animal era esperto e destemido, era totalmente amoroso — especialmente com Rintarou, seu mestre, e Suster, sua irmã. 

No entanto, era evidente que Broer não estava em seus melhores dias; mostrava-se inquieto, como esperando que a irmã fosse surgir de qualquer lugar e a qualquer momento. Pelo visto, não era só Osamu que estava sofrendo com a ausência da raposa.

Desse modo, o Miya suspirou.

— Mandei os guardas continuarem com a procura, mas acho que isso não será muito produtivo. — o jovem rei de cabelos acinzentados massageou o pescoço, exausto e preocupado com aquele assunto. — Talvez tenhamos que olhar a aldeia...

— Isso não é necessário. — Rintarou se pronunciou de repente, surpreendendo Osamu com suas palavras. Seus olhos continuavam a se parecer com duas luzes brilhantes e tediosas em meio à face inexpressiva. — Não gosto quando Broer está triste. Acharei a raposa para você. 

Seria mentira se Osamu dissesse que não se espantou com a boa vontade de Suna em prontificar-se para algo assim. Tudo bem; isso até fazia certo sentido, considerando as condições entre as duas raposas, mas, mesmo assim...

Rintarou Suna se oferecendo para executar algo benévolo para Osamu? E, aparentemente, sem segundas intenções? O Miya mais novo podia até ser o monarca de Inari, mas isso não desfazia os antigos, amigáveis e imorredouros tratamentos que possuía com os amigos, e Osamu tinha a impressão de que Rintarou continuava a guardar rancor das inúmeras brincadeiras que ele e Atsumu bolavam para o arqueiro quando mais novos.

É. Era mesmo uma situação um tanto estranha.

Mas não seria agora que o platinado reclamaria. Rintarou Suna, juntamente com Broer, faziam uma dupla e tanto quando o assunto era rastrear algo ou alguém. Osamu, na verdade, só não havia pedido a ajuda do arqueiro até o momento porque previa que, no processo, não seria tão bem recebido...

Engano seu, pelo jeito.

— Oh, realmente? — um sorriso tranquilo abriu-se no rosto de Osamu, agora de traços mais leves. — Agradeço pela iniciativa, Suna. De verdade. — falou, sincero. Começava a sentir-se mais confortável.

Rintarou, por sua vez, continuou com aqueles olhos vazios sobre Osamu por mais alguns segundos. Por alguma razão, o monarca conseguiu captar uma mínima mudança em sua postura e aura.

Não demorou para Suna desviar as orbes amareladas para outro canto, confundido Osamu.

Era impressão sua ou o arqueiro havia ficado... desconfortável?

— Tentarei encontrá-la o mais breve possível. — Rintarou Suna somente acenou, os olhos ainda longe das orbes azuis e, agora, interessadas de Osamu. O arqueiro fez um sinal para Broer o seguir, no que foi atendido imediatamente.

Assim, se retiraram. 

Ficando sozinho outra vez, Osamu permitiu-se continuar com um sorriso tranquilo sobre a face, enquanto encarava a porta por onde Rintarou havia saído. 

A ação do arqueiro realmente foi inusitada, mas Osamu, no fundo, sabia por que ele estava fazendo aquilo, e sentiu-se satisfeito com isso. Afinal, confiava totalmente nas capacidades de Suna.

Voltando a ler o livro pacificamente, Osamu só não sabia de uma coisa; que, da mesma forma que Rintarou Suna realmente estava ajudando na procura de Suster por conta dos motivos que havia especulado, tal decisão do caçador também possuía suas próprias razões, além das já esperadas.

E o monarca certamente ficaria surpreso se soubesse-as.

 

[...]

 

— Pelo jeito somos só eu e você, Broer...

Rintarou Suna, com sua postura séria e profissional de sempre, andava a passos lentos pelos corredores do castelo. Broer, por sua vez, acompanhava-o com energia, como se o animal soubesse nitidamente que estavam saindo à procura da irmã.

Tendo se afastado há uns bons minutos da sala onde Osamu Miya estava, Rintarou Suna finalmente permitiu-se repreender por sua decisão em procurar Suster. Aquilo, afinal, não era seu trabalho, e certamente tinha coisas mais importantes para fazer.

No entanto, era verdade que ele possuía motivos concretos e compreensíveis para fazer isso; considerando que Suster fora um presente que o próprio Rintarou dera à Osamu há alguns anos, é natural que o arqueiro se prontificasse para tal tarefa.

E era exatamente esse motivo que encorajou-o a falar com Osamu sobre sua iniciativa de investigar o paradeiro da raposa fêmea. Afinal, o Miya mais novo também devia ter tido a mesma linha de raciocínio.

Ah, se ele soubesse que não era apenas por conta disso...

Afinal, através do belo e inexpressivo rosto de Rintarou Suna, era difícil acreditar nos variados tipos de sentimentos que o sério e desinteressado arqueiro de Inari carregava por dentro.

... Especialmente aqueles que tinham a ver com o gêmeo de cabelos cinzas, aura calma, centrada e particularmente tranquila.

Suspirou internamente. Suna conhecia os gêmeos Miya desde que era criança, mesmíssima situação que compartilhava com outros amigos do castelo, como Shinsuke Kita e Ojiro Aran. Quando mais novo, achava os gêmeos particularmente irritantes, especialmente Atsumu, que, com seu eterno sorriso preguiçoso e personalidade descontraída, arrumava motivos para zombar ou atazanar alguém "amigavelmente".

Era cansativo. Mesmo hoje, Atsumu vivia amolando Rintarou, sempre insistindo para ele tirar a expressão vazia do rosto. Zombava de sua formalidade e seriedade com a qual tratava a ele e Osamu, sempre alegando que eram conhecidos de anos e que por isso certamente não precisava disso.

Bem, era verdade que, em parte, Suna só fazia isso para irritar o gêmeo loiro, mas isso era apenas um detalhe.

O fato era que, até hoje, Rintarou Suna questionava-se o motivo para sua convivência com Osamu Miya ter tornado-se diferente da que possuía com Atsumu. Desde que era adolescente, o arqueiro começou a perceber aspectos que antes não se dava ao trabalho de notar no Miya mais novo.

Eram coisas simples, mas que faziam-no reparar que, por causa delas, passava mais tempo que o necessário encarando Osamu. Coisas como notar o quanto seus olhos azuis-escuros pareciam adquirir um aspecto cinzento de manhã, combinando perfeitamente com seus cabelos que, ao sol, pareciam adquirir um brilho igual a prata; sua personalidade entre inexpressiva e descontraída, que, mesmo às vezes aparentando preguiça, não media esforços para cuidar da nação de Inari com o mais perfeito zelo possível; e, por fim, sua paixão por gastronomia. Não foram poucas as vezes em que Rintarou flagrou Osamu junto com os cozinheiros, ajudando nos preparos das refeições.

Osamu era tão... natural. Podia ser o rei, mas seu espírito não passava de um ser humano normal; um que nunca abandonou os hobbies e pequenos hábitos que carregava desde pequeno. Era verdade que o sonho de Osamu nunca foi ser rei, e, na verdade, Rintarou Suna tratava-se de um dos poucos que sabia que o cargo, na verdade, nunca pertenceu à Osamu.

Para o povo e grande parte dos residentes do castelo, Osamu Miya sempre foi o herdeiro do trono, por ser "mais velho" que Atsumu. No entanto, isso era apenas uma mentira baseada na decisão de uma confusão ocorrida há muito anos.

Quando os gêmeos nasceram, ficou dito que Osamu havia vindo ao mundo primeiro, assim, fazendo-o o primeiro na linha de sucessão ao trono. No mesmo dia, anunciaram a novidade para o reino inteiro. No entanto, após alguns dias, as parteiras finalmente descobriram o erro, avisando a um rei e rainha perplexos que o gêmeo mais velho não era Osamu, e sim, Atsumu. 

Visando não confundir o povo e evitar constrangimentos — afinal, o que pensariam dos monarcas sabendo que eles haviam anunciado o herdeiro errado para toda a nação? —, os soberanos decidiram manter Osamu como o gêmeo mais velho, e, portanto, o próximo herdeiro destinado a se tornar o rei de Inari.

Rintarou só havia tido o conhecimento de toda a história pelo motivo de estar presente na hora em que os próprios Osamu e Atsumu descobriram tudo. O assunto não rendeu muita repercussão entre os príncipes gêmeos, pois ambos eram crianças na ocasião; mas, ainda naquela época, era evidente que o pequeno Osamu tinha ciência de que, mesmo que houvesse tido a chance, desde que nasceu, de não ter de governar Inari, seu destino foi escolhido com base de um erro cometido entre as pessoas que realizaram seu parto e do irmão.

Atsumu, em contrapartida, não ficou nem um pouco triste; o loiro podia amar Inari, mas não a ponto de abdicar de toda sua liberdade para dedicar-se cem por cento ao reino. Atsumu era alguém livre, que gostava de viajar e explorar outras nações e o mundo em geral. Logo, fazia sentido que o loiro não sentiu-se incomodado de ter perdido o trono.

Rintarou Suna, por sua vez, não podia ficar mais admirado em relação à Osamu; mesmo não sendo a vida que ele expectara, ainda assim, ele fazia o trabalho de rei com cuidado e satisfação. Osamu era realmente alguém admirável.

... Assim como, também, o homem que mesmo sem saber havia fisgado completamente o coração de Rintarou Suna.

O arqueiro de olhos-de-raposa realmente não fazia ideia de como aquilo exatamente começou, mas, de um instante para o outro, viu-se amando Osamu infindável e devotamente. Seus pensamentos estavam sempre flutuando sobre o Miya de cabelos acinzentados, seu rosto perfeitamente moldado, e sua personalidade totalmente agradável. 

Sim. Por trás de todo aquele véu de desinteresse e seriedade, assim como os olhos marcantes e sem grandes emoções para mostrar, residia, em Rintarou Suna, uma alma totalmente apaixonada.

E era exatamente por isso que havia se prontificado para encontrar Suster. Sabia que quando Atsumu estava fora, Osamu sentia-se solitário e desconfortável, mesmo fazendo de tudo para parecer que não; em compensação, o monarca sempre tinha Suster em tais ocasiões, o que o relaxava extremamente.

Mas agora que ela havia sumido...

Rintarou olhou para a própria raposa. Havia encontrado Broer e Suster quando as duas eram apenas filhotes recém nascidos, enquanto viajava por terras estrangeiras. A mãe havia sido morta por caçadores, e Rintarou Suna, nascido em um reino onde raposas eram domadas e bem tratadas, acolheu os dois filhotes e levou-os para Inari. 

Decidiu criá-los, no entanto, havia um porém; assim que regressou para casa, Rintarou lembrou-se que era aniversário dos herdeiros de Inari. Suna já tinha um presente para Atsumu, mas, por conta dos acontecimentos envolvendo as irmãs raposas, esqueceu-se de arrumar algo para Osamu — e olha que ele só havia partido para outras terras com intuito de procurar um bom presente para o platinado, por quem já começava a nutrir sentimentos na época.

Não demorou para a ideia perfeita lhe ocorrer. As raposas, já muitíssimo bem cuidadas, estavam perfeitas para serem entregues de presente. Assim, Rintarou preparou a pequena e doce fêmea, Suster, presenteando Osamu com a linda filhote.

Osamu pareceu ter ficado bem contente na época. O Reino de Inari era altamente conhecido pelas florestas apinhadas de raposas, e esses animais — parcialmente perigosos com estrangeiros —, eram totalmente amáveis com os residentes do reino, e por isso sempre foi comum a domesticação de raposas na região.

Era terminantemente proibido o assassinato desses animais em Inari, motivo para Rintarou ter se perturbado na ocasião que avistou a mãe de Suster e Broer morta nas terras distantes as quais visitava.

É. Precisava encontrar Suster logo. Mesmo não parecendo, gostava dela tanto quanto gostava de Broer.

Logo, Rintarou voltou a refletir sobre o dono da raposa perdida. Se havia algo que o jovem arqueiro temia naquela vida, seria o dia em que Osamu finalmente arranjaria uma esposa. É claro que Suna já vinha se preparando para isso há anos, como forma do baque não ser tão grande quando, enfim, acontecesse. Mas...

O que mexia com sua ansiedade era o posicionamento de Osamu em sempre declarar que ainda não desejava se casar. Rintarou Suna não tinha uma opinião concreta sobre isso, e sempre evitou pensar em especulações a fim de não se confundir ou se decepcionar mais tarde.

Mas era isso. Osamu, até hoje, não havia arrumado e mostrado disposição alguma para arranjar uma esposa. 

E, obviamente, Rintarou Suna — mesmo evitando adquirir falsas esperanças —, tinha o coração aliviado e acalentado por isso.

 

[...]

 

Acabou que a busca de Rintarou e Broer por Suster provou-se tão frutífera quanto a procura dos guardas. Ou seja: totalmente fracassada.

Simplesmente não haviam achado rastro algum da raposa.

Enquanto regressava ao castelo, Rintarou Suna não escondia a irritação. Não era possível que não havia sido capaz de encontrar a fêmea. Ele era especialista nesse tipo de coisa!

E o mais preocupante: onde raios estava Suster?

Ainda não acreditava que ela corresse perigo, pois Suna não achava que alguém burlaria as leis do reino somente para fazer mal a uma raposa. Afinal, o que se ganharia fazendo isso? 

Suster certamente estava por aí, mas onde? 

Não tinha como especular sem nenhuma pista. Havia passado o dia inteiro procurando a raposa, a lua já estava alta no céu; certamente perdeu o jantar, mas não estava chateado com isso.

O jeito era retornar ao castelo e dar as más-notícias ao rei.

 

[...]

 

Na cozinha real, Osamu Miya entretinha-se com sua melhor terapia nas noites que não conseguia pegar no sono: cozinhar.

Não estava fazendo nada tão elaborado; biscoitos de canela e bolinhos recheados com geleia de jabuticaba deviam servir para fazer seu dia terminar um pouco melhor. 

Osamu sempre se interessou por gastronomia. Lembrava que desde pequeno, entrava escondido na cozinha real e olhava, fascinado, os cozinheiros preparando as refeições. Simplesmente amava todos aqueles movimentos e técnicas de preparo para cada alimento.

Seu hobbie de prontificar-se para ajudar os cozinheiros com coisas simples inicialmente começou sendo visto como algo fofo e engraçado; no entanto, quando Osamu cresceu, seus pais começaram a pressioná-lo para que parasse de ir à cozinha. Afinal, ele já tinha quem fizesse sua comida, então para quê gastar seu tempo cozinhando? Além disso, o espaço dos cozinheiros era um tanto perigoso para Osamu ficar, visto os inúmeros utensílios afiados e mais: Osamu precisava focar em se tornar rei, então não teria muito tempo para trivialidades.

Com a ajuda de Atsumu — que sabia o quanto Osamu gostava de ir à cozinha —, acabou que aquela foi uma guerra que Osamu conseguiu ganhar, mas sob certas condições: seu pai ainda não estava satisfeito em ver o filho num ambiente agitado, onde panelas quentes e pesadas poderiam cair sobre si ou facas pudessem voar das mãos dos cozinheiros na sua direção.

Foi criado para Osamu, então, sua própria cozinha particular; uma sala em anexo com a cozinha real. O espaço tinha um bom tamanho — até mais que o necessário —, e, ali, Osamu tinha tudo o que era preciso para cozinhar quando bem queria. 

Aquela definitivamente foi uma das melhores coisas que seu pai fez por ele.

Num dado instante em que Osamu encontrava-se absortos a tudo ao redor, focado apenas no preparo da massa dos biscoitos, sua concentração foi totalmente cortada quando uma voz — já conhecida — soou à suas costas:

— Esperava que você estivesse aqui. Típico.

Osamu olhou para trás, deparando-se com a imagem inesperada de Rintarou Suna. 

Ele estava sozinho, sem a companhia de Broer ou do arco e aljava presos em suas costas. Como uma impressão costumeira, seus olhos pareciam, à Osamu, mais brilhantes e enigmáticos do que o normal. 

Atentou-se, então, à fala anterior do arqueiro. O Miya abriu um meio sorriso.

— Bem... você me conhece. — virou-se, continuando com o preparo dos doces. — Não estava conseguindo dormir, e me distrair na cozinha é o método mais eficaz e agradável de passar o tempo. E considerando tudo que está acontecendo... — olhou de relance para Suna, já assumindo uma postura entre incerta e conformada. — Você não conseguiu achar a Suster, não é?

Rintarou negou com a cabeça.

— Não. Infelizmente.

Osamu voltou a olhar para frente. As sobrancelhas estavam franzidas, e as mãos pressionaram a mesa de mármore com mais força.

Droga... não conseguia nem encarar o arqueiro, tamanha a frustração que sentia.

— Rintarou, eu... Minha nossa, eu sinto muito. 

Um ar de leve confusão sondou as vagas feições de Suna.

— Por que está se desculpando? — ele franziu minimamente o cenho.

Osamu suspirou.

— Suster foi um presente seu, afinal. Acho que eu devia ter tomado mais cuidado, talvez dando-lhe menos liberdade... Ela sempre foi muito solta.

O arqueiro não pareceu convencido.

— Acha que ela seria mais feliz se tivesse crescido presa? — perguntou, como quem ressaltasse a ideia como algo estupido.

Osamu ficou surpreso com suas palavras, olhando-o novamente. 

E então, da mesma forma que ocorrera mais cedo, as orbes amarelas-acinzentadas se esquivaram ligeiramente das azuis-escuras.

Rintarou suspirou.

— Na verdade, só dei Suster à você para que não ficasse tão sozinho quando Atsumu viajasse. Ademais, ter alguém para cuidar é sempre um bônus. 

O rosto de traços finos e simétricos de Suna voltou-se, então, novamente para Osamu, enquanto o acinzentado refletia sobre suas palavras.

Curioso... então era isso que Rintarou pensava? Que Osamu via a presença de Suster dessa forma?

Assim, o Miya permitiu-se abrir um leve sorriso.

— Eu gostaria que ficasse ciente, Rintarou, de que Suster jamais foi para mim uma substituta de Atsumu. Na verdade, o que sempre senti na companhia dela é a aproximação de quem justamente presenteou-me com ela; que, no caso, é você. 

Rintarou calou-se por alguns segundos, como alguém que não soubesse o que dizer. Osamu pareceu não dar importância a isso, todavia, o olhar desnorteado de Suna era-lhe levemente intrigante.

De toda forma, não era nisso que o Miya estava pensando. Há muito tempo havia decidido não adentrar naquele assunto, já então — ao menos para si —, totalmente esclarecido no passado.

Mas o momento atual estava pedindo...

Assim, continuou virado na direção de Rintarou, disposto a direcionar toda sua atenção a ele. As mãos estavam pousadas uma de cada lado sobre a bancada à suas costas; os doces poderiam esperar um tempinho.

Enfim, respirou fundo: 

— Rintarou... durante nossa adolescência, você se afastou completamente. Sei que não faz muito sentido retornar com um assunto antigo desses, mas sempre questionei o motivo acerca disso. — os olhos de Osamu apresentaram um brilho um tanto melancólico, mas permaneceram sólidos. — Teve alguma razão?

Suna pareceu imensamente incomodado, de repente. Mais uma vez, não foi capaz de segurar o olhar de Osamu. 

Mesmo assim, foi capaz de falar algo:

— ... Tanto eu, quanto você e Atsumu, estávamos cada vez mais ocupados naquela época. — Rintarou começou a se explicar. — Eu já não tinha mais tempo para me divertir com vocês, da mesma forma que o contrário também acontecia. Pelo menos, é isso o que penso. 

Osamu sentiu-se um tanto decepcionado. Desse modo, respirou fundo.

— Suna... — olhou-o fixamente. — O que estou dizendo não tem nada a ver com Atsumu. 

 sobre nós dois que estou falando."

Alguns segundos passaram sem que ninguém dissesse nada. Após as palavras de Osamu, Rintarou ficou bastante incomodado, perdendo, pouco a pouco, sua pose de seriedade. 

Afinal, aquele era um assunto que adentrava diretamente nos sentimentos do arqueiro.

... E, gradualmente, ia despertando certas lembranças em Osamu, também.

Era nítido que o clima na cozinha havia mudado, mas nenhum dos dois parecia querer desfazer isso. Permaneceram somente calados, olhando-se, refletindo, possuindo mil e um pensamentos vagando, ao mesmo tempo, por suas cabeças.

Foi então que Osamu despertou. Em meio ao silêncio, de repente foi sua vez de desviar da visão de Rintarou, voltando-se para a bancada.

Piscou, buscando deixar aquela tensão que criou para trás. Desse modo, chamou normalmente por Suna, sem se virar:

— Quer provar a massa?

Sentiu a nítida hesitação do outro, e, por um momento, achou que o arqueiro sairia da cozinha. No entanto, Suna logo postou-se ao seu lado.

Compreendendo aquilo como sim, Osamu pegou uma colher contendo a massa dos biscoitos de canela, que apresentava uma textura grossa e brilhante, e deu-a à Suna.

Rintarou provou, dando sua resposta após poucos segundos:

— É muito boa. — elogiou.

O arqueiro então observou que aquela era a mesma massa de biscoitos de canela que Osamu fazia quando eram mais novos, na época em que o mesmo estava aprendendo a cozinhar.

De imediato, o Miya sentiu-se nostálgico. A época que Suna citava era bastante memorável. O jovem Osamu, viciado e encantado com a ideia de fazer sua própria comida, sempre tentava cozinhar alguma coisa, e as primeiras pessoas a quem ele pedia que experimentassem seus pratos eram Atsumu, Rintarou ou Aran.

Retornando à atualidade, logo os dois adultos, muito mais à vontade, puseram-se a mergulhar na infância, rememorando diversos momentos incríveis que ela carregava. 

Lembranças como as palhaçadas que faziam e que Kita, mesmo novo, colocava fim a qualquer balbúrdia; a ocasião em que Atsumu e Osamu, cansados de serem parecidos, compraram tintas de cabelos com um mágico charlatão e tingiram suas mechas, as quais permaneciam, até hoje, com as cores dourada e cinza bem vivas; a época em que Aran estava gostando da filha de um fidalgo e os amigos, buscando ajudá-lo, só fizeram atrapalhar sua declaração de amor, originando a terrível cena do Ojiro recebendo um belo tapa no meio da cara...

Sim, eram muitas memórias. Por um instante, Osamu e Rintarou pareciam ter esquecido do mundo lá fora, mergulhados totalmente na companhia um do outro. A leveza havia tomado conta do espaço, e Rintarou nunca havia se sentido tão bem. 

Apesar que...

Em dado momento, observando Osamu — o qual continuava relembrando o passado enquanto fechava o forno com as massas dos biscoitos e bolinhos já devidamente enformadas —, tudo que Rintarou conseguia focar era em seu rosto; totalmente sereno, um brando e belo sorriso preenchendo suas feições.

Os olhos brilhantes de Rintarou Suna encaravam Osamu Miya como se ele fosse uma miragem que não existia. Diante daquele clima nostálgico do passado, de repente, começou a relembrar e a sentir diversas cenas e ocasiões; sensações e sentimentos; paixão e devoção, todos, indubitavelmente, relacionados à Osamu Miya.

Estava embasbacado. Seu coração parecia querer sair do peito de tanto que começou a bater forte, e os nós dos seus dedos adquiriram um formigamento que surgia a partir da estima e desejo que sentia pelo homem a sua frente. 

Notando seu repentino silêncio, Osamu logo encarou-lhe, despertando em Rintarou mais uma explosão de sensações e o fascínio que já tomava total controle de seu espírito. 

E foi nesse momento que as palavras agiram mais rápido do que a racionalidade já comum em Rintarou Suna; simplesmente escaparam, sem a mínima chance de serem paradas ou brecadas:

— Osamu, eu... 

"Eu gosto de você."

Um silêncio mortificante instalou-se no recinto.

As tão temerosas palavras que estiveram escondidas no interior de Suna por todos aqueles anos, substituíram por completo cada vestígio da aura leve que anteriormente sondava o ambiente.

As sobrancelhas de Osamu arquearam-se lentamente, o rosto assumindo traços de gradual espanto.

Rintarou, por outro lado, entrou num misto de choque e pânico. Suas pupilas imediatamente diminuíram de tamanho, devido ao susto e surrealismo da situação.

Essa não... Definitivamente não havia dito aquilo em voz alta.

Ou havia?

Num ímpeto, tentou desconversar, seu corpo inteiro ficando tenso. Até pensou em complementar, dizendo que gostava de Osamu "como um amigo", mas sabia que já estava tudo perdido.

Sua respiração tornou-se falha, e Rintarou levou uma mão à testa, não acreditando na besteira que havia feito. Osamu permanecia calado, o semblante perplexo enquanto encarava Suna. Estava paralisado.

— Droga... — Rintarou estava atordoado. — Osamu... Meu rei, me desculpa, eu... — engoliu em seco, sentindo-se desmoronar. — eu não devia, eu... perdão, é melhor eu me retirar... 

— O que... Suna, não! Espere um pouco. — Osamu puxou-lhe pelo braço quando fez menção de sair, mantendo-o à sua frente.

Forçou Rintarou a encará-lo, e o platinado, então, aproximou seus rostos, olhando dentro daqueles olhos amarelos.

— Eu... não estou bravo. — tentou acalmá-lo. — Eu só... Isso que você falou é verdade?

Mesmo parecendo centrado, era nítido que Osamu estava totalmente perdido naquele momento. O medo, por outro lado, estava explícito no semblante de Rintarou. O arqueiro suava frio, e seu único desejo era sumir dali.

— Osamu, eu... não sei... — soltou o ar, sufocado. — Minha nossa, eu sinto muito. — com a mão livre, cobriu os olhos. Não conseguia sequer encará-lo. — Eu não devia estar pensando direito, não sei o que houve, eu... Eu simplesmente...

Rintarou estava perturbado ao extremo; Osamu jamais o vira de tal forma. Enquanto ele tentava se explicar, o monarca sentia como se o próprio peito estivesse abrindo perante as emoções que iam adentrando-o ininterruptamente.

Era exatamente como se...

... Como se, de repente, houvesse retornado à adolescência.

O Osamu de anos atrás nunca teria a coragem de fazer o que fez naquele momento, mas, como observado, ele já não era mais um garoto.

Era um homem.

E, num movimento célere e, ao mesmo tempo, cuidadoso, Osamu inclinou-se e, sem que Rintarou esperasse, juntou seus lábios com firmeza. 

De imediato, sentiu o arqueiro paralisar. Rintarou arfou, só não desequilibrando-se pelo motivo de Osamu estar o segurando.

Foi como um estouro. Tudo o que Rintarou Suna conseguia sentir era a pressão da boca de Osamu contra a sua, as mãos em seus braços sólidas e, ao mesmo tempo, passando total sensação de conforto e segurança.

Aquilo só podia ser um sonho. Não havia como algo assim estar acontecendo, havia? Tinha esperado, expectado, imaginado esse cenário mais de um milhão de vezes em sua cabeça. Simplesmente não tinha como aquilo estar acontecendo.

Mas não era isso que sentia enquanto Osamu passava a dominar cada vez mais aquele instante; o rapaz de cabelos cinzentos deslizou a mão ao seu pescoço, o polegar acariciando o maxilar de Rintarou enquanto, com cuidado, começava a aprofundar o contato, a boca movendo-se com apreço e desvelo.

Com isso, Rintarou Suna não teve como permanecer sem reação. Subindo uma das mãos à nuca e a outra às costas de Osamu, puxou-o com nítido ardor, retribuindo aquele beijo com o máximo de estima e nobreza possível.

O resto do mundo passou a ser ignorado, os dois rapazes, numa concordância muda, decididos a viverem somente para aquele momento. As emoções estavam às alturas, e não demorou para o beijo sofrer oscilações, ora decorrendo-se com calma e cautela, ora alterando-se para um contato mais íntimo, desejoso, lascivo. Osamu bateu a cintura contra a bancada ao cambalear para trás, enquanto Suna despejava sua paixão e tentações naquele beijo completamente apaixonado, os braços enlaçados ao redor do pescoço do Miya.

Rintarou Suna não sabia como era possível, mas era como se se sentisse três vezes mais apaixonado do que antes; o coração o triplo do tamanho comum. 

E mais uma vez, confirmava: amava Osamu Miya loucamente e com tudo existente no mundo e em si próprio. E por isso, esforçou-se para dar o máximo de continuidade àquele momento, sussurrando, rente aos lábios de Osamu, confissões que já não era mais possível de permanecer escondidas, expondo abertamente seu amor e sua realidade completamente apaixonada.

Somente após a separação dos rostos que a chama acesa em seus peitos enfim pôs-se a diminuir. Rintarou, inebriado, afundou o rosto sobre o ombro de Osamu, respirando profundamente. Os dedos roçavam suavemente na pele exposta da nuca do acizentado, este que, enquanto recuperava-se, afagava carinhosamente seus cabelos com uma mão, enquanto a outra envolvia-o num abraço afetuoso.

Permaneceram assim por um tempo. Ambos sentiam-se em paz, o silêncio confortável sendo uma espécie de calmante para as fortes sensações que iam, aos poucos, sossegando em seus seres.

Assim, restando apenas o mais sincero e puro amor.

Querendo olhar no rosto do arqueiro, Osamu inclinou-se para trás, fazendo Rintarou compreender sua vontade e desencostar-se de seu ombro. O aspecto rubro ia deixando o lindo rosto de Suna aos poucos, mas, ainda assim, o acanhamento era evidente.

Os olhos de Rintarou expressavam intensa gratidão, ainda que um evidente assombro. 

— Eu... jamais pensei que era retribuído. — o arqueiro admitiu, um sorriso envergonhado tomando forma em sua face.

Osamu olhou-lhe com uma afabilidade tão intensa que Rintarou sentiu as pernas perderem a força. O monarca sorriu, aliviado.

— Acho que posso dizer o mesmo. — suspirou. A mão, que antes afagava os cabelos do parceiro, deslizou para sua cútis, acariciando-a com leveza. — Rintarou, eu nunca disse isso para ninguém, mas... durante a adolescência, de repente vi-me fascinado por você. Isso me era assustador demais na época, no entanto, eu amava me sentir assim. Só que... bem, nunca acreditei que pudesse ser correspondido, então decidi esquecer esses sentimentos. Confesso que achava que havia conseguido fazer isso, mas, talvez, minha recusa, em todos esses anos, em arrumar uma esposa, sempre deu-se pelo fato de que, inconscientemente, estive esperando por você. — sua expressão suavizou. — E, ao que parece, finalmente nos encontramos.

Os olhos de Rintarou reluziram o brilho das lágrimas emocionadas que iam preenchendo seus olhos. Seu sorriso falhou, a emoção com aquela descoberta preciosa, de que sempre fora correspondido, acalentando-o e alegrando-o profundamente. 

Emocionado, levou as mãos ao rosto do platinado. Definitivamente jamais havia avistado algo mais encantador que aquele rosto belo e apolíneo. Estava deslumbrado.

— Tudo o que sinto neste momento, assim como o que sempre senti em todos esses anos... Não há dúvidas de que você, Osamu Miya, trata-se de uma valiosidade cujo sinto-me digno de ofertar o meu mais sincero amor. Se permitir, farei com que sinta-se a pessoa mais adorada dessa existência, pois você, acima de qualquer coisa, merece isso.

Mergulhado naqueles brilhantes olhos amarelos-acinzentados que, por todos aqueles anos, apresentaram contínua frieza e inexpressividade, Osamu achou inacreditável as infinitas emoções que, agora, via refletidas nos mesmos.

Rintarou Suna era a prova viva de que uma pessoa, por mais reservada e fechada que fosse, podia carregar, dentro de si, um mar esmagador e atolado dos sentimentos mais puros e vibrantes que alguém poderia sentir.

O interior de Osamu desmanchou em emoção.

— Acho difícil me sentir mais adorado do que isso... — brincou, sereno. —, mas, confiarei nos seus esforços. — baixou a voz. — Assim como você também pode confiar que me dedicarei inteiramente a fazê-lo feliz e amado daqui por diante.

Não tendo mais nada a dizer, a felicidade o preenchendo por inteiro, Rintarou somente acenou em concordância, e, mais uma vez, aconchegou-se em Osamu, abraçando-o como quem tem sobre posse a verdadeira definição de alegria; assim como a fonte da mais leve e plena vida.

E, em suas auras, rondava afetuosamente a palavra que fechava aquele momento com total adoração, a qual refletia, perfeitamente, o sentimento que ambos os rapazes carregavam no peito:

"Gratidão".

 

[...]

 

— Espera um pouco: quer dizer que a Suster, por todos esses dias, esteve com você?

Osamu olhava, sem acreditar, para a imagem de Ojiro Aran, o qual tinha a seu lado a doce e bela raposa causadora de toda a agitação no castelo por conta de seu suposto "desaparecimento"; a linda fêmea limpa e totalmente leve, a língua para fora enquanto respirava com animação.

De imediato, Broer correu na direção da irmã, e ambos, parecendo muito felizes de finalmente encontrarem um ao outro, saíram correndo pelo cômodo, brincando e pulando enquanto travavam uma luta inofensiva.

Rintarou Suna expressou um misto de sarcasmo e divertimento em seus olhos felinos.

— Oh... já consigo imaginar o que deve ter acontecido.

— Mas eu não. — Osamu voltou-se novamente para Aran. — Eu não entendo... por quê Suster estava na sua casa, afinal?

O fidalgo parecia bastante perdido enquanto olhava para o amigo e soberano. Era evidente que Aran esperava tudo, menos uma confusão como essa quando retornasse para o castelo.

Assim, ele limpou a garganta.

— Bem... tenho que admitir que também estou particularmente confuso, majestade... — tentou escolher as palavras certas, buscando lembrar-se de qualquer erro que podia ter cometido, mas não encontrou nenhum. — Como você sabe, eu tirei uns dias de folga recentemente. Quando estava me preparando para partir para a Aldeia, acabei encontrando com o príncipe Atsumu e o Kita, que estavam prestes a sair em viagem para o reino de Itachi. — coçou a nuca. — O príncipe Atsumu falou comigo antes de ir embora, dizendo que você, majestade, havia dito que gostaria que eu levasse Suster comigo, pois estaria ocupado demais para cuidar dela. Como eu estava com pressa, mal consegui falar com o senhor; apenas fiz o que me foi pedido e levei Suster comigo. — à essa altura, Aran já parecia ter entendido o que havia acontecido. — Hã... você nunca pediu que me mandassem fazer isso, não?...

— O que você acha? — a expressão de Rintarou estava leve. Direcionou os olhos para Osamu. — Pelo visto, o príncipe Atsumu conseguiu pegá-lo dessa vez, majestade.

Osamu estava desacreditado. Fazer um pedido mentiroso daqueles para Aran em seu nome? Sabia que não devia estar tão surpreso assim, pois... bem, era de Atsumu de quem estavam falando. Mas, mesmo assim...

Após algum tempo, Aran se desculpou pelo engano cometido, retirando-se antes que acabasse sobrando para ele. Osamu, por outro lado, praguejou em irritação.

— Aquele pilantra... ele vai ver quando voltar. Fez tudo isso só por causa da mordida que levou da Suster, que infantil!

Rintarou Suna deu de ombros. 

— Pelo menos, ela estava em boas mãos. — os olhos amarelos analisaram as irmãs raposas, que continuavam brincando uma com a outra. Logo, pareceu ter uma ideia. — Estou indo caçar, agora. Se quiser me acompanhar para extravasar a raiva...

Osamu fez uma careta. 

— Você certamente lembra o quão ruim eu sou nisso...

— Isso porque, na época, não te ensinei direito de propósito. — revelou. — Afinal, você e Atsumu viviam pegando no meu pé.

Osumu suspirou, e seus olhos escuros encontraram-se com os de Suna. Era evidente que o arqueiro, antes sempre inexpressivo e profissional, mostrava-se agora mais leve em relação às coisas. E saber que essa bela mudança foi capaz de ser originada por conta do ocorrido entre eles...

Como ser capaz de recusar?

— Tudo bem, eu vou. — cedeu. — Mas já que estamos trocando hobbies, mais tarde te ensinarei a fazer taiyakis

O semblante de Rintarou na mesma hora apresentou desagrado. Osamu, mais do que ninguém, sabia o quanto Suna tinha zero familiaridade com culinária.

— ... Acho que não posso reclamar. — suspirou. Logo, suas feições suavizaram, os olhos encarando Osamu com nítido brilho e estima. — Enfim... vamos, meu rei. 

O sorriso no rosto de Osamu tremulou; era simplesmente impossível não se apaixonar ainda mais por Rintarou Suna.

A vida inteira tinham estado perto um do outro, mas, por conta de toda e qualquer falta de iniciativa, tiveram de tratar-se somente como dois amigos de infância. 

Mas, agora, essa situação havia mudado. E os dois não podiam estar mais felizes com isso.

Dessa forma, Osamu decidiu, mais uma vez, que se dedicaria e mostraria, com todo o coração, o quanto aquele rapaz de incríveis olhos-de-raposa tratava-se da peça que compunha a mais bela e radiante felicidade em sua vida.

Era isso. Agora que haviam finalmente experienciado aquela paixão um com o outro, nada faria-os abdicar dela. 

Nunca mais.

Assim, Osamu sorriu.

— É... vamos lá.


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Notas finais do capítulo

?… Suster ?”> significa “irmã” no idioma africâner.
?… Broer ?”> significa “irmão” no idioma africâner.

Eu simplesmente ADOREI escrever essa one, sério, esse shipp me derreteu e envolveu inteira ♥️ Espero que tenham gostado tanto quanto eu ❤️

Bem, é com tristeza que informo que a próxima one desse projeto será a última, mas isso não muda a felicidade que sinto em ver que esse trabalho está se concluindo. Sério, muito obrigada pelo apoio de todos ♥️♥️

Até lá, nos vemos no reino de Itachi, e o último shipp do projeto será… bem, vocês já devem ter uma ideia (SakuAtsu, animem-se! )

Até ♥️



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