Pontos Cardeais escrita por Coffee


Capítulo 1
Um: Leste


Notas iniciais do capítulo

Mais uma historinha curtinha, espero que gostem!



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PONTOS CARDEAIS

Escrita por Coffee 

Um: Leste

 

Demorou pelo menos cinco minutos para que ele reconhecesse o chakra.

Límpido e leve, exatamente como ele se lembrava.

Resultado de alguém que meditava muito, treinava muito e tinha um exímio controle de chakra.

Sakura.

 

O chão tremeu — mais um sinal que era realmente ela.

O que diabos ela fazia ali? No País da Nuvem, separado do País de Fogo por milhares de quilômetros e por um maldito oceano.

Ela tinha descoberto que ele estava ali?

Não... Não tinha como.

Ele andava constantemente com o chakra oculto, não ficava muitos dias em um único lugar e seus relatórios para o Hokage eram assunto confidencial.

O melhor a se fazer era dar as costas e ir embora. Ela nunca saberia que eles estiveram tão perto.

Ele virou-se. Deu um passo. Dois passos. Três passos.

E virou-se novamente andando rumo ao barulho e ao chakra.

Era um erro. Essa era a sua jornada de redenção. Só dele. E ele fora bem claro que não manteria contato com nenhum dos ex-companheiros de equipe. Ainda sim algo o instigou a ir até lá. A saber o porquê ela estava tão longe de casa.

Tinha mais um chakra com ela. Ninja. Ele se aproximou no topo da colina, olhando para depressão abaixo onde ela se encontrava.

— Sakura-sama, vamos levá-lo para prisão? — Parecia um garoto de uns vinte anos. Tinha os cabelos azuis arroxeados e olhos claros. Um Hyuuga.

— Sim, vamos, eu vou só guardar esse pergam—

Por algum motivo, ela pareceu perceber que ele estava ali, observando-a. Ela virou-se e olhou diretamente para ele, mesmo seu chakra estando oculto e ele sendo extremamente silencioso.

Seus olhos se encontraram em meio aos raios de sol.

— Eu... Você pode levá-lo, por favor Tyrio-san? Eu o encontro na vila em breve.

O garoto olhou para ela, seguindo o seu olhar e o encontrou no topo da colina. Fez uma careta de reconhecimento, mas não disse nada, apenas desviou o olhar.

— Sim, Sakura-sama.

O garoto pegou o outro homem desacordado nas costas feito um saco de batatas. O ninja estava preso com correntes de chakra e algumas partes do corpo começavam a ficar roxas.

Sakura esperou em silêncio que o mais novo se afastasse até que não pudessem ser ouvidos.

— Sasuke-kun.

Ela saldou em reconhecimento. Os olhos estavam arregalados e ele notou que suas mãos tremiam levemente. Ela não parecia ter saído de uma luta árdua. Os cabelos estavam amarrados em um coque frouxo, e ela tinha sim, um hematoma pequeno no braço direito e o corpo um pouco sujo de terra, mas nada que mostrasse que ela tinha feito muito esforço.

Ele não respondeu. Passou tanto tempo reparando nesses detalhes que sentia que o tempo de resposta já tinha se esvaído.

— Eu... Não fazia ideia de que você estaria por aqui.

Acenou positivamente, mais rápido dessa vez.

— O que você faz aqui?

Tão longe... Ele quis completar, mas não disse mais nada.

Ela tremeu, deu um passo para trás e ele notou que talvez sua voz tenha saído mais ríspida do que ele planejara. E mais do que ela merecia.

— Eu não fazia ideia, Sasuke... Que você estaria aqui. Eu...

Ela gaguejou palavras entrecortadas e ele se sentiu estúpido por ter dado a entender tudo errado.

— Eu sei, Sakura...

Desculpe.

Ele quis completar. Mas aquela simples palavra também ficou enroscada na sua garganta.

O problema não era ela estar ali. Bom, na verdade, era..., mas não do jeito em que ela estava pensando. Ele não estava bravo por ela estar ali. Ele sabia que ela não tinha ido procurá-lo. Era apenas que... A presença dela... Trazia tantas lembranças... Tanto boas quanto ruins, coisas que ele se lembrava com carinho e coisas que ele gostaria de esquecer para sempre.

— Eu vim capturar um ninja. Ele roubou um pergaminho de família do Daimyo do País do Fogo. Notaram tarde demais, ele já estava longe e... Foi muito trabalhoso encontrá-lo. Como deu para perceber ele estava bem longe... Tyrio-san veio comigo, nós vamos apenas levá-lo para prisão daqui e ele vai ser deportado para o País do Fogo, o Daimyo quer que ele seja julgado lá.

Era mais explicações do que ele precisava, ainda sim, ele acenou.

— Eu... Como você está?

Ele já tinha notado que ela tinha o examinado silenciosamente com seu notável olhar médico. Procurando alguma coisa fora do lugar, algum machucado, alguma ferida, qualquer coisa que pudesse estar atrapalhando sua saúde.

— Estou bem.

Ela acenou positivamente, envergonhada.

— Eu... Eu já vou indo então. Eu...

Ela acabou de colocar o que quer estivesse guardando na mochila. Mais uma vez entendendo tudo errado.

Seu silêncio para ela devia ser uma evidência que ela estava o atrapalhando.

Mas... Na verdade não era.

Ele apenas não sabia como lidar bem com aquela surpresa.

— Espere.

Ela olhou-o novamente com os enormes olhos verdes arregalados.

— Você... Poderia dar uma olhada no meu braço?

Sakura acenou positivamente, rápida e animada demais em expectativa.

— É claro, Sasuke-kun, eu—

Ele não deixou que ela terminasse, apenas se moveu e em questão de segundos eles estavam frente a frente.

Ela sorriu sem graça, tirando as luvas de batalha e pegando um par de luvas de látex da mochila. Depois ela murmurou um pedido de permissão, sem olhá-lo nos olhos, e pôs-se a desenfaixar o braço (ou o que havia sobrado dele).

— Naruto está bem. Está terminando o treinamento para ser Hokage. Está namorando com Hinata e parece que finalmente tomou um pouco de juízo naquela cabeça oca dele.

Ela tagarelou, como forma de aliviar o clima, ele sabia.

Conhecia e não conhecia Sakura bem o suficiente para notar os detalhes mais simples da sua personalidade.

— Sasuke! — Ela ralhou. O nome não veio acompanhado do kun. Era uma médica irada pelo estado do paciente — Como diabos você deixou que isso chegasse a esse ponto?

Ele moveu os ombros em um “tanto faz”, e sentiu o chakra leve sendo infundido em seu corpo. Um exame, ele sabia, para avaliar a real extensão do problema.

— Você teve muita sorte de não ter se espalhado. O que estava pensando? Se eu não tivesse te encontrado, o que você faria?

Ele moveu os ombros novamente. Ele estava indo para a vila mais próxima justamente em busca de ajuda médica, mas não disse isso em voz alta.

— O material que você usa para enfaixar deve estar esterilizado. Sempre. Isso provavelmente foi causado por uma bactéria porque você enfaixou com material contaminado, ou porque foi estúpido o suficiente para não enfaixar.

Era, provavelmente, a primeira vez que ela o tratava daquela forma. Ela tinha o chamado de estúpido. Mas ele sabia que merecia. Tinha sido negligente e poderia ter perdido a sua vida por aquilo, não que ele achasse que ela valesse muito, de qualquer modo. Sakura o olhava irritada, esperando uma resposta, e balançou a cabeça negativamente quando notou que não receberia uma.

— Eu... Vou influir algum chakra para eliminar um pouco dessa infecção, e depois vou preparar um remédio para você tomar. E claro, fazer um curativo decente nesse braço. Sente-se, por favor.

Ela mexeu na mochila, puxando toalhas brancas enroladas em material esterilizado, assim como todo um aparato médico que ele não fazia ideia para o que servia. Ela enrolou a manga fantasma da sua blusa até o ombro e começou a preparar o que usaria.

Tirou as luvas, lavou as mãos com um líquido que também tirou da mochila e colocou outras. Em pouco tempo ele sentiu o chakra fluir. Era uma sensação estranha que ele não sabia descrever. Um formigar leve, talvez.

— Pelo amor de deus, Sasuke-kun. Você não pode deixar as coisas chegarem a esse ponto... Se notar que está doendo, que está ficando avermelhado, você precisa procurar ajuda. Isso poderia ter se espalhado pelo seu corpo e você poderia... Poderia... — Ela mordeu o lábio inferior enquanto ainda tratava o seu braço — Você poderia ter perdido a vida por uma besteira dessas.

Ele sabia que não era exagero dela. Estava realmente indo a um hospital, embora soubesse que por mais treinado que fosse o médico que o atendesse, jamais seria tão competente quanto ela.

— Se você ao menos aceitasse a prótese...

Acenou negativamente. Aquilo era algo fora de cogitação. Ele não merecia. Não merecia a prótese, um novo braço, ele já tivera mais segundas chances do que tinha direito.

— Naruto se acostumou bem com a dele. Ainda tem que enfaixar e tudo mais, mas o risco de infecção cai drasticamente, seria muito mais fácil para você cuidar, após dois ou três meses de adaptação, e seria muito melhor para você se virar sozinho em suas viagens.

Não respondeu. Não importava o quão mais fácil sua vida e suas viagens ficariam, ele não aceitaria a prótese.

— Sasuke-kun, você não tem que pagar penitência o resto da vida. Você já foi perdoado. Você é um homem livre, e—

— Isso está fora de cogitação, Sakura.

Ela moveu a cabeça em dúvida, e continuou curando o seu braço em silêncio. O chakra sendo infundido no seu braço lhe dava uma sensação de sonolência bem-vinda, como se ele pudesse dormir sem que seus pecados e seus pesadelos o atormentassem  

Sakura finalizou o tratamento com chakra alguns minutos depois, e o local já parecia melhor, menos avermelhado. Ela pegou um potinho escuro da mochila, passando delicadamente no local, uma pomada, que trouxe uma sensação refrescante para o machucado. Em seguida, ela enfaixou o que restara do seu braço mutilado com faixas incrivelmente brancas.

Eles permaneceram em silêncio, enquanto ela procurava outras coisas na bolsa, espalhando uma infinidade de potes no chão, sobre uma das toalhas, e começou a macerar e misturar algumas ervas com cheios estranhos. Ela fazia tudo no automático, como se já tivesse feito aquilo centenas de vezes – e ele sabia que sim.

Parecia presa em outros pensamentos, e curiosamente ele se pegou imaginando o que seria.

— Aqui tem o suficiente para quinze dias. É o tanto certo para tratar o que restou da infecção. Tome duas vezes por dia, de doze em doze horas, tente não atrasar.

Ele acenou positivamente, pegando das mãos dela o frasco âmbar e colocando na própria mochila.

— Vou deixar esse material com você. É esterilizado, então mantenha-os na embalagem e só abra quando for usar. Esse frasco tem álcool 70, e aqui tem luvas.

Ele quis dizer para ela que era muito coisa para ele carregar na sua pequena mochila de viagem, mas preferiu ficar em silêncio. Ela estava sendo muito prestativa ao ajudá-lo, e se fosse para deixá-la mais tranquila ele daria um jeito de enfiar tudo aquilo na sua mochila.

— Durante esses quinze dias de tratamento precisa trocar o curativo todos os dias, e aplique essa pomada aqui — Céus, mais um frasco para enfiar na bolsa — Sempre use luvas, nunca reutilize faixas. Lave bem as mãos.

Era algo que sabia, tinha ouvido tudo aquilo (dela própria), no hospital, um ano e meio atrás quando saíra de Konoha.

— Eu sei — Ele a cortou, quando ela recomeçou as recomendações que ele já sabia de cor.

— Parece que não, ou seu braço não estaria nesse estado, não é mesmo?

Não retrucou. Ela estava novamente no modo médica-irritada-com-o-seu-paciente-estúpido, e ele não iria confrontá-la.

— Depois dos quinze dias pode começar a trocar dia sim e dia não, quando a ferida já vai ter cicatrizado. E por favor, não ande mais sem curativo, eu sei que você pegou essa infecção porque estava lutando sem curativo, provavelmente foi atingido no local, e depois quando foi fazer o curativo, fez de qualquer jeito e pegou uma infecção.

Ele olhou para ela em dúvida. Como ela sabia daquilo? Como sabia exatamente o que tinha acontecido?

Que uma semana atrás foi surpreendido por um ninja enquanto almoçava na sombra de uma árvore na floresta, e que estava sem curativo? O ninja o atingiu com um raspão de espada no que restara do seu braço, e depois, quando ele foi limpar o local acabou infectando-o?

— Já faz quase dois anos. Era para o seu braço estar totalmente cicatrizado, sem feridas, sem pontos abertos, e principalmente, sem infecção.

Ela explicou, ao notar seu olhar surpreso.

Sakura começou a guardar suas coisas na própria mochila, enquanto ele se levantava do chão, e ajeitava a manga enrolada da blusa. Quando ela terminou de empacotar tudo, ela colocou a mochila nas costas, levantou-se e virou-se para ele.

Ele notou que havia lágrimas nos olhos dela, implorando para saírem.

— Por favor, Sasuke-kun, tome cuidado. Já me preocupo o suficiente com você ter que lutar com uma mão só, embora eu saiba que você luta melhor com uma única mão do que a maioria dos ninjas com duas, e agora tenho que me preocupar com os seus cuidados com o braço. Por favor, tome os remédios certos, mantenha a ferida limpa, e não lute mais sem curativo.

Acenou positivamente, um pouco culpado por tê-la deixado daquele modo, talvez tivesse sido melhor ele não a ter seguido, afinal.

— Se sentir algo diferente, se notar odor, aspecto, temperatura ou coloração diferente, por favor, procure um hospital.

Ela olhou-o por algum tempo, esperando alguma resposta por parte dele, mas ele não sabia o que dizer, e por fim, ela desistiu, movendo a cabeça e os pés.

— Naruto vai ficar feliz em ter notícias suas.

Mais uma vez, ele não conseguiu formular nada decente para falar.

— Bom... Eu vou indo então, imagino que você queira ficar sozinho.

Estranhamente um sentimento desconhecido o abateu. Ele gostaria de passar mais algum tempo na companhia dela, mas não devia. Estava na sua jornada de redenção, e ele ainda tinha muitos pecados para compreender antes de poder se juntar novamente aos seus ex-companheiros de time.

— Cuide-se por favor, Sasuke-kun.

Foi a única coisa que ela disse. Não pediu para ir com ele, nem para que ele voltasse, não perguntou para onde ele ia, nem se tinha previsão de volta, apenas sorriu fraco para ele, parecendo incerta se deveria se aproximar para despedir-se ou não, e por fim decidiu apenas acenar com a mão e dar as costas, começando a andar rumo a vila onde o companheiro de missão a aguardava.

— Sakura.

Ele chamou, quando ela já estava alguns metros de distância dele. Ela ouviu, e virou-se para ele, com o rosto brilhando pelas lágrimas.

— Obrigado.

Ela sorriu, acenou com a cabeça uma única vez, girou e continuou seu caminho.

Ele permaneceu ali, ainda sentindo no braço fantasma o toque dela, o chakra, e, de algum modo, a preocupação. Ele observou enquanto a figura dela se tornava cada vez menor, até que ele não pode mais vê-la.

Só então ele virou as costas e continuou a sua jornada.


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Notas finais do capítulo

Onde e como será o próximo encontro? Obrigada por ler!
.
Alguns leitores têm me mandado mensagens e comentários dizendo que não recebem notificações quando as histórias são atualizadas, por isso criei um perfil no instagram para avisar quando posto capítulos ou histórias novas, caso tenha interesse passe lá: @historiasdacoffee



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