Hernan não apreciava a presença do desconhecido. Pensou que ter mais alguém perto seria uma vantagem, mas a sensação de segurança nunca veio. Jurgis conhecia o suficiente da Floresta, notou como ele o encarou após ver seu braço, olhar de condolências. Como ele, Jurgis também sabia que a Floresta o estava tomando para si. Lenta, porém incansavelmente. E não gostou de ser visto daquela forma, tão… já morto. Recusava-se a pensar assim. Proibia-se. Era assustador, paralisante, então ignorava aquele destino, ainda tinha Ascian e Eiren para guiar até em casa.

Que fosse lenta a conquista da Floresta; Hernan precisava de mais tempo.

*

Jurgis observava as árvores, silencioso. Falar era um esforço inútil naquela situação. Ainda ansiava que Svajone saísse das sombras a qualquer momento. Talvez assustada, como ele também estava, mas ainda assim, ilesa. Temia não vê-la mais, principalmente quando a última visão que teve dela não foi o sorriso alegre que costumava mostrar, mas o olhar faiscante de uma briga. Culpa dele, verdade. Svajone não era uma criança impulsiva, jamais teria ido ali de propósito. Seu vilarejo sabia que pessoa alguma deveria andar sozinha ali, mas naquela noite, nenhum dos dois queria a companhia do outro. A Floresta a levou, como levara dezenas de outros, aquela Floresta predatória… Jurgis não conseguia dormir ali. Devaneava o desejo de extirpar aquelas sombras, todas as suas folhas tingidas pelo brilho rubro do fogo.

O vento agitou os galhos em desdém. Como se fosse adiantar… Ela cresceria de novo. Da terra queimada, dos troncos partidos, das criaturas cujos corações dominara e que não estavam presas ao chão. Ela era o coração de todas as florestas, mas também devia ter seu coração. Apenas ele importava, todo o resto cresceria de novo.

As folhas se agitaram novamente, então Jurgis percebeu que não era o vento.