O Despertar Infernal- Interativa escrita por Lady L


Capítulo 5
V- À Bordo da Kombi Voadora


Notas iniciais do capítulo

Olá! Essa semana o POV é do Pietro, então já podem esperar um leve toque de veneno, hehe! Boa leitura :)



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07 de Dezembro de 2022; Kombi voadora, Algum lugar do espaço aéreo brasileiro

 

                                                           Pietro->

 

Eu sou uma pessoa razoável.

Quero dizer, eu não tinha problema nenhum em dividir uma kombi com outras oito pessoas por alguns dias. Mas era melhor que nenhum deles saísse da linha.

Luciano havia se voluntariado para ser o primeiro motorista do dia (“Não confio em nenhum de vocês no volante”), e depois Atlanta ou Tony assumiriam quando ele deixasse (o que eu não achava muito provável). Cassandra havia se oferecido para dirigir durante a noite, caso necessário, e dentro da cidade, uma vez que ela era de lá. Era bom que eles soubessem mesmo dirigir. Eu estaria de olho.

A kombi decolou às sete em ponto, e voar foi uma sensação bem esquisita. Olhando pela janela, foi possível ver o veículo começando a sair do chão, com um solavanco um pouco brusco. Eu podia ouvir Cassandra e Luciano discutindo na cabine do motorista, separada do resto da kombi por um painel. Supus que era culpa de Luciano, que estava dirigindo no momento, o que me fez soltar uma risada debochada.

—E ele disse que não confiava em nenhum de nós no volante- eu zombei. Celina Campos deu um sorrisinho, e Laiza Neves soltou uma risada sonora.

—Eu deveria ir ver se está tudo bem- Celina comentou, com um sorriso sereno- Cassandra, ao que tudo indica, vai precisar da minha ajuda.

Eu não entendia muito bem exatamente como Celina ajudava Cassandra, mas parecia funcionar, então eu não me interessava o suficiente para perguntar.

Alguns minutos depois de Celina entrar na cabine, a discussão parou completamente, e logo a kombi voava suavemente. Celina ficou por lá, mesmo depois que a briga acabou, e eu achava que ela não voltaria tão cedo.

Os resto do grupo parecia sonolento. Talvez por causa do horário, talvez porque ninguém tivesse dormido direito devido à ansiedade. Antônio e Catarina cochilavam em um dos sofás, recostados um no outro, e Cora e Atlanta conversavam, mas era em um tom baixo e desanimado. Sobrou apenas Laiza, observando a paisagem do lado de fora, distraída.

—Acha que vamos chegar vivos a São Paulo?- eu perguntei, me assentando ao lado dela.

Laiza me olhou, arqueou uma sobrancelha, e então deu de ombros.

—Agora parece que Luciano parou de tentar nos matar. Mas não duvido que possamos cair a qualquer segundo- ela disse, e eu ri.

—Bem, se cairmos, pelo menos aí não vamos ter que completar essa droga de missão- eu debochei, conseguindo arrancar mais uma risada dela.

  –Cassandra não vai deixar que isso aconteça- ela zombou também- É capaz de vir encher nosso saco mesmo depois de mortos.

Nós provavelmente rimos bem alto, porque Catarina Carvalho acordou de sua soneca, esfregando os olhos e bocejando. Tony mal percebeu quando ela acordou, e se virou para o outro lado do sofá, continuando seu sono.

—Bom dia, gente- ela disse, se espreguiçando.

—Bom dia, Cat- Cora cumprimentou, e Atlanta acenou e sorriu- Dormiu bem?

Eu estava prestes a fazer um comentário ácido sobre essa interação açucarada, quando Cat disse:

— Dormi sim! Acho que vou fazer um misto quente, alguém quer também?- e eu percebi que estava com fome demais para desprezar a oferta.

—Eu aceito- Laiza disse, e Atlanta e Cora acabaram aceitando também.

—Então me descola um misto também- eu disse, e Cat concordou alegremente:

—Vou passar um café fresquinho, então. Para espantar o sono.

Nós acabamos assentados ao redor de uma das mesas grandes, e Cat resolveu que levaria mistos para Celina, Luciano e Cassandra também. Eu os ouvi discutindo por uns breves segundos, mas logo Cat apaziguou a discussão e voltou para comer conosco.

—Eles concordaram em revezar a direção enquanto o outro come. A não ser Celina. Ela não sabe dirigir, mas acho que está ali para impedir que se Luciano e Cassandra se matem- ela comentou, pegando a garrafa de café e a levando para mesa- Eu deveria acordar o Tony para ele comer com a gente.

—Acho que vai ser difícil- eu zombei- Ele dorme que nem uma pedra.

—Meu Tony é assim mesmo- Cat disse, em um tom leve. Não tinha tanta graça zombar dela, ela nunca levava nada para o pessoal- Amor, acorde.

Tony acordou, com a cara toda amassada e os olhos inchados.

—Bom dia- Cat disse, sorrindo- Eu fiz café.

Ela deu um selinho nos lábios dele, o que me fez esboçar uma careta.

—Vão pro quarto- eu resmunguei.

Tony me olhou com uma cara feia, mas decidiu ignorar.

—Bom dia pra você também, amor- ele disse para Cat- A comida está com um cheiro bom. O que você fez para nós?

—Misto e café fresquinho!- ela respondeu, e os dois se assentaram à mesa- Do jeitinho que você gosta.

—Deuses, acho que estou ficando diabética- Laiza sussurrou no meu ouvido, e eu ri alto. Os outros nos encararam com expressões que iam de raiva (Tony) à confusão (Cat e Atlanta). Cora não esboçou nenhuma reação, mordendo seu misto, tranquila, e agindo como se tudo estivesse bem.

—Pode me passar o açúcar, Cat?- Cora pediu, e isso foi o suficiente para Tony decidir nos ignorar novamente.

—Claro- Cat respondeu, entregando o açucareiro para Cora- Como estão os mistos?

—Muito bons!- Atlanta elogiou.

—Pior que está gostoso mesmo- Laiza disse, meio à contragosto- Que tipo de queijo você usou?

—Mussarela e um pouquinho de parmesão. É o parmesão que dá esse sabor diferente, adoro!- Cat respondeu, com um sorriso satisfeito.

—Parmesão?- Laiza perguntou, confusa, enchendo a boca com mais uma mordida do sanduíche- Mas não tem parmesão no refeitório, até onde eu saiba.

Cat deu um sorrisinho que era metade travesso, metade convencido.

—Não tem mesmo não. Esse aí você só descola comigo.

Laiza fez uma careta.

—Óbvio que isso era mais um esquema para angariar clientes- ela murmurou- Mas vou morder a isca: quanto custa esse queijo?

—Trinta reais a fatia. Eu só gastei metade disso para fazer todos esses sanduíches, então você pode ver que compensa- ela respondeu.

—Como assim vocês precisam traficar queijo?- eu interrompi, um pouco embasbacado- Que tipo de prisão é aquele Acampamento?

Cora arqueou uma sobrancelha.

—Héstia não compra nenhum alimento que não seja saudável. Por isso só temos peito de peru, e não presunto; e queijo fresco, não defumado. E absolutamente nada de fast food- ela explicou.

—Bem, ela tem boas intenções, e não é tão ruim assim- Atlanta opinou- Eu nem tinha reparado até agora, então não faz tanta falta.

—Você só chegou há alguns meses- Tony ponderou- Nós vivemos lá há anos. E, acredite, faz falta.

—Isso é uma loucura- eu resmunguei- Vocês precisam cometer crimes para comer?

—Bem, não é exatamente um crime- Cat disse, dando de ombros- É comércio paralelo. E também não é exatamente necessário. Só aconselhável.

—De qualquer jeito- eu retruquei- Ainda é estranho.

—Você se acostuma- Cora garantiu- É até bom, a longo prazo.

—Eu nunca me acostumei- Tony resmungou- Perdi cinco quilos nos primeiros meses de Acampamento, e teria perdido mais se Cat não começasse a fazer negócios.

—Também nunca me acostumei muito- Laiza admitiu- Mas é porque nunca fui de comer nada tão simples.

—Bem, pelo menos nessa missão poderemos comer o que quisermos- Atlanta comentou, com um sorriso otimista.

—Verdade- Cat concordou- E eu talvez aproveite a oportunidade para abastecer meus estoques.

—Não conte comigo para isso- eu grunhi- Não vou ser preso de novo por causa de um crime tão estúpido.

Eu percebi que tinha deixado algo possivelmente polêmico escapar quando vi os olhos de Tony e Atlanta se arregalando. Merda.

“De novo”?- Tony questionou, e eu senti apreensão em sua voz. Ele estava prestes a começar um interrogatório, quando Laiza o interrompeu:

—Você tem cara de bad boy mesmo- ela comentou, dando de ombros. Por algum motivo, eu gostei do fato dela não ter ficado muito chocada- Não me surpreende.

—Ah, a lei tá lá pra ser quebrada mesmo. A não ser que você tenha matado alguém, aí eu vou te julgar- Cat comentou, com um gesto despreocupado.

Eu me peguei rindo.

—Não, eu não matei ninguém- respondi.

—Então tá tudo tranquilo. Tem mais é que minar os recursos dos grandes capitalistas mesmo!- Cat respondeu, alegre.

Cora disse alguma coisa para Atlanta que eu não ouvi direito, mas, vindo das duas, não devia ser nada demais, então a revelação acidental sobre meu passado obscuro acabou sendo bem menos dramática do que eu esperava.

—E não se preocupe em ser preso de novo- Laiza disse, em um tom de voz mais baixo, para que só eu ouvisse- Só teríamos problemas com a carga contrabandeada se tentássemos cruzar a fronteira.

Eu arqueei uma sobrancelha.

—Como você sabe disso?- eu perguntei.

Laiza abriu um sorrisinho malicioso.

—Só confia em mim.

Depois que acabamos de comer, Tony e Atlanta lavaram a louça enquanto Cora retirava a mesa.

—Da próxima vez, Pietro e Laiza lavam a louça- Tony disse, ao final da tarefa, e eu fiz uma careta, mas não discordei.

Acabamos ligando a TV, que ficava no canto da pequena sala, e assistindo Mais Você por tempo, até que Celina Campos emergiu da cabine, com uma expressão ligeiramente cansada, interrompendo o início do Encontro com Fátima Bernardes.

—Estamos quase chegando- ela anunciou, se assentando ao lado de Cora em uma das poltronas- Cassandra disse que devemos pousar por volta das onze horas.

Eu chequei o relógio no canto da televisão. Dez e quarenta.

—Você acha que dá tempo de eu tirar uma soneca?- eu ouvi Celina perguntar para Cora, que assentiu gentilmente.

—Eu te acordo quando chegarmos- Cora respondeu, e então Celina desabou no assento, e não se mexeu mais, mesmo depois do solavanco que a kombi sofreu ao chegar no chão.

Nós pousamos em uma pequena estrada paralela, vazia e meio abandonada, com o asfalto rachado e irregular, e então seguimos até a rodovia principal, entrando na cidade pouco tempo depois. Por detrás do barulho da televisão, eu conseguia ouvir Luciano e Cassandra discutindo.

—Me deixa pegar o volante!- eu a ouvi dizendo- Eu sei os melhores caminhos, morei aqui por anos!

—Então me diz o caminho que eu dirijo- ele replicou, seco.

—Luciano, eu odiaria ter que te apagar- ela disse, em um tom de ameaça.

—Você pode tentar, bruxa— ele respondeu, em uma voz não menos hostil.

Eu realmente não faço nem ideia de quem acabou dirigindo, até porque não me interessa muito, mas, no final, nós chegamos até um parque, e chegamos inteiros.

Cassandra e Luciano emergiram da cabine depois que estacionamos a kombi em uma área perto do parque. Os dois pareciam bem mal humorados.

—Chegamos- Cassandra anunciou, sem muita animação- Acho que devíamos nos planejar antes de sairmos para procurar a feiticeira. O que acham?

Luciano revirou os olhos.

—Ela não deve querer ser encontrada, então não adianta planejar. É sair e caçá-la até que ela não tenha mais onde se esconder- ele replicou.

Cassandra o olhou feio.

—Você realmente não tem nem noção de com o quem estamos lidando, tem, Luciano? Essa mulher poderia reduzir todos nós a cinzas com um mero olhar. Se vamos até ela, será com respeito e deferência, e não com essa postura de quem tem um desejo de morte tão forte a ponto de ofendê-la- ela replicou.

—Não tenho medo de bruxaria- ele insistiu- Vocês podem ter todos esses livros e feitiços complicados, mas ninguém é imortal atravessado por uma espada afiada.

Cassandra suspirou. De repente, ela não parecia mais brava, e sim apenas cansada.

—Estou insistindo em fazer um plano porque talvez eu saiba um jeito de descobrir onde ela está. Mas, para isso, eu precisaria da ajuda de vocês- ela admitiu, e Luciano arqueou uma sobrancelha.

—Por que não disse isso logo?- ele questionou, meio impaciente- Não importa. Só vamos logo com isso, não temos o dia todo.

E ele abriu a porta da kombi, saindo para o estacionamento.

—Bem- eu disse, com um sorriso debochado, ao me lembrar da piadinha que Laiza havia feito no dia anterior- Que comece a caça às bruxas, então.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do capítulo! No próximo já teremos o início da missão em si, e um pouquinho mais de ação. Vejo vocês nos comentários, até!