Havia uma pequena cidade no interior da Inglaterra. Era modesta, as pessoas viviam do campo, cultivando os alimentos que eram vendidos para os moradores da capital. Não havia eletricidade, tudo era feito a papel e caneta. Mas nenhum deles nunca passou fome ou sede, o solo era bom para o plantio, as colheitas eram fartas e os clientes pagavam bem. Os habitantes eram muito unidos e felizes.

Até aquele dia.

Foi tudo tão rápido que sequer tiveram a chance de processar os acontecimentos. Em uma madrugada a cidade foi invadida por uma criatura com asas, dentes afiados e um olhar faminto no rosto que lembrava vagamente o de um ser humano. A criatura atacou as casas, uma a uma, derrubando velas e lamparinas por onde passava. Em pouco tempo, não apenas as casas, mas também as plantações estavam em chamas. Se a criatura ateou fogo em tudo intencionalmente ou não ninguém sabia e não se importava. Só estavam preocupados em salvar suas vidas. Todos corriam de um lado para o outro desnorteados. Mulheres gritavam, crianças choravam, algumas à procura dos pais.

E uma criança em particular, que já tinha perdido os pais bem antes disso, observava tudo em silêncio, escondida embaixo de uma carroça quebrada. Olhava atentamente enquanto o monstro mordia os pescoços de seus vizinhos e amigos, sugando-lhes o sangue e então jogava o corpo inerte no chão e procurava por uma próxima vítima.

O menino cerrou os dedos com tanta força que sentiu as unhas se enterrarem nas palmas das mãos. Queria salvá-los. Aquele monstro estava matando seus amigos, não queria ficar ali escondido sem fazer nada! Mas o que ele poderia fazer? Os homens que tentaram enfrentá-lo foram mortos. As mulheres que tentaram fugir dele morreram também. Apenas algumas poucas escaparam, chorando enquanto carregavam seus filhos nos braços. Ele não seria páreo para aquele monstro…

Espere, aonde ele foi?

Só piscou os olhos por um momento e ele desapareceu. Não pode ter evaporado no ar!

De repente a carroça onde estava escondido foi levantava e o menino viu a criatura bem a sua frente, olhando-o de cima.

— Ora, é só uma criança? Você não serve nem para a sobremesa — ele falou com decepção na voz. Jogou a carroça que havia erguido com apenas uma mão para o lado e bateu as asas,levantando voo.

— Espera! — o menino conseguiu reunir forças para falar — Quem é você? Por que matou meus amigos?

— Não é nada pessoal, pirralho. Vampiros precisam se alimentar — ele respondeu — Se eu fosse você daria o fora daqui enquanto ainda tem chance — bateu as asas novamente e logo sumiu de vista.

— Um vampiro — o garoto repetiu para si mesmo — Então é isso que ele é.

Olhou ao redor e viu os restos do que horas atrás fora sua cidade. Agora não passava de uma plantação em chamas e uma montanha de corpos.

Chorou pelo que pareceram horas. Como aquele vampiro se atrevia a aparecer assim e destruir sua cidade? Matar seus amigos? Aquilo teria troco. Ia caçar aquele vampiro e destruí-lo, nem que fosse a última coisa que fizesse na vida.