Peter Parker pousou no telhado do colégio no mesmo instante em que ouvia o barulho do sinal e o anúncio da aula começando. Vestia uma camisa de manga longa por baixo de sua camisa azul casual enquanto guardava uma parte da fantasia dentro de sua mochila.

Saltando do telhado para o gramado do campo de futebol, torcendo para não ser visto, o adolescente correu para dentro do prédio. Estava menos atrasado do que em dias anteriores, mas atraso é atraso e o professor Walton não toleraria mais um - mesmo sendo de seu melhor aluno. Sorrateiro, entrou pela porta traseira e se sentou no fundo e em silêncio.

—Parker, está atrasado de novo - falou o professor sem olhar para trás. Imediatamente a atenção dos alunos foi para Peter.

—Desculpa, professor. É que o trânsito estava uma loucura e aconteceu uma situação com o Homem-Aranha na Ponte do Brooklyn que precisou de minha atenção - justificou.

—Com certeza o Aranha resolveu sem sua ajuda, Parker otário - provocou Flash Thompson, o capitão e armador do time de basquete.

Peter ergueu o tom de voz.

—Corta essa, Flash! Não fui para ajudar o Homem-Aranha!

—Thompson, sem xingamentos. Parker, no próximo atraso, vai direto para a coordenação.

—Sim, professor. Peço desculpas de novo.

Peter abriu sua mochila e pegou o compasso para a atividade no quadro. Se iniciava uma longa manhã de colégio.

…

Na aula de Química, a atenção de Peter estava voltada para a criação do novo fluido de teia - torcia para que ninguém desse falta de alguns ingredientes. A professora Warren ministrava uma importante aula sobre números atômicos. Não muito longe do adolescente, o grupo dos 'descolados' discutia sobre o Homem-Aranha e outros super-heróis. Flash Thompson era quem liderava a discussão.

—Esse jornal está mentindo! É lógico que o Aranha não tentaria jogar alguém da ponte.

—Por que tem tanta certeza? - questionou Randy Robertson, ala da equipe de basquete. Vestia uma camisa esportiva e um chapéu verde.

—Ele é um herói. E heróis não matam.

—Fala isso pro Capitão América - brincou Kenny ‘King’ Kong, um corpulento rapaz cujo cabelo moicano era o que o impedia de ser totalmente careca.

—É diferente. O Capitão América lutou numa guerra, e nas guerras ou você mata ou você morre.

—Viúva Negra? - sugeriu Liz Allan, para Peter, a mais bonita garota do grupo.

—É uma espiã, não uma heroína.

—Que tal o Hulk? - disse Kenny novamente.

—É um monstro, nem sei porque ele foi dos Vingadores. O Aranha que deveria ser membro.

—Esse seu amor todo pelo Homem-Aranha... Deveria criar um fã-clube logo - disse Sally Avril, até então a mais quieta dos cinco.

—É uma boa ideia! E eu serei o presidente!

—Flash Thompson! - gritou a professora Warren. - Será que devo separar vocês cinco ou vão começar a prestar atenção na aula?

Flash pediu desculpas. A senhora Warren voltou a ministrar o conteúdo. Peter via graça na ironia de ser desprezado como Peter Parker, mas respeitado como Homem-Aranha.

...

Na saída da escola, Peter tirava seus livros do armário quando seu sentido-aranha vibrou. Em questão de segundos, fechou a portinha e se agachou, fingindo amarrar o sapato. Uma bola de basquete passou por cima de sua cabeça.

—Errou o nerd, Randy! - gritou Flash, que chutou Peter. - É assim que se acerta.

—Foi uma infelicidade - lamentou Randy Robertson, com um sorriso amarelo no rosto. - Na próxima miro nos pés.

Peter se levantou depois que os dois sumiram de vista. Era um desafio manter o autocontrole, mas faria o possível para proteger sua segunda identidade, mesmo que isso significasse continuar sendo um saco de pancadas de Flash Thompson.