Xeque-Mate escrita por Dani, Sannybaeez, Braguinhah


Capítulo 9
Especial de natal: Lucas & Bela- Como salvar (ou destruir) o Natal - Parte 1




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Há 2 anos atrás…

Era Natal. Na verdade, véspera de natal, mas os enfeites que ornavam todo o acampamento, a neve que caía calmamente e formava um tapete branco e o cheiro quente e aconchegante de chocolate, tornava impossível distinguir os dias. Na verdade, parecia mais que aquela semana inteira no acampamento havia sido natal.

Os treinamentos de combate haviam diminuído, as corridas de biga estavam suspensas e as missões haviam cessado, aparentemente até mesmo os deuses haviam decidido dar uma folguinha para seus filhos.

Por todo o lado era possível ver a habitual decoração natalina, os pinheiros ao redor do acampamento haviam sido decorados com bolas e enfeites brilhantes pelas ninfas, o excesso de neve era limpo por alguns campistas que desenhavam caminhos na porta de cada chalé não eliminando completamente o gelo que os rodeava, e além disso cada chalé tinha sua própria decoração festiva.

Os filhos de Ares haviam enfeitado o arame farpado que cobria seu telhado com algumas grinaldas e espessos festões, dando um ar mais alegre e até mesmo - por incrível que pareça - acolhedor. O chalé de Hefesto estava rodeado por fios e mais fios de pisca pisca. O de Hermes tinha um boneco de neve em tamanho real na frente vestido com uma armadura grega completa. E assim por diante.

Cada chalé havia tentado dar seu toque especial na decoração, até mesmo o estábulo estava decorado, com uma imensa rena alada na frente sorrindo alegremente com seu nariz brilhando em vermelho vivo.

Pela primeira vez em muito tempo a paz reinava na vida daqueles semideuses, sem o perigo da morte iminente ou tristeza de passar datas comemorativas sozinhos. Era como uma lufada de ar fresco. 

Contudo, havia um semideus que não conseguia se contentar com aquela calmaria e serenidade. Em um chalé dourado, coberto de grinaldas e festões, tendo a sua frente uma escultura feminina de gelo usando apenas uma toga grega, e ao lado um pequeno pinheiro de natal com fotos dos campistas de Apolo em poses de modelo pendendo sobre seus galhos. Um garoto de longos cabelos escuros e presos de forma frouxa, olhava sorrindo de maneira quase maligna para outra parada repleta de fios vermelhos e imagens.

— Finalmente! — Ele celebrou — Finalmente terei minha vingança.

Uma risada digna de vilões de filme infantil ecoava pelo quarto vazio.

— Bom velhinho é o escambau! — O garoto apontou o dedo para a imagem de um papai Noel sorridente em seu quadro — Pode me aguardar ein Noel.

E então dando uma última olhada para o quadro, o garoto puxou uma mochila grande sob um dos beliches. Este que, conferindo uma última vez se tinha tudo que precisava, desligou as luzes e saiu sorrateiramente pela noite.

Seus irmãos de Apolo haviam todos saído, o chalé estava encarregado de compor o coral de Natal do dia seguinte e estavam ensaiando uma última vez, Lucas havia sido o único que se recusara, vendo ali uma oportunidade para pôr seu plano em ação.

Lucas andava com o máximo de normalidade pelo meio do acampamento, tentando não levantar suspeitas ou trombar com algum de seus irmãos, para a sua sorte haviam poucas pessoas rondando o lugar naquela noite, a maioria estava reunida em alguma fogueira ou tomando chocolate quente no anfiteatro.

O que fez com que sua chegada a espessa floresta onde faziam a caça-bandeira não tivesse sido notada por ninguém.

Ao menos era o que ele imaginava.

— Ótimo — Ele falava sozinho enquanto ria — Agora eu só tenho que esperar. 

O garoto se aconchegou em meio a alguns arbustos, os chacoalhando antes de se sentar para garantir que não houvessem vizinhos indesejados, e então esperou.

1, 2, 3 horas se passaram, os já poucos barulhos de conversa e risada que tomavam o acampamento começavam a cessar, dando espaço apenas para o barulho incessante dos grilos e de alguns poucos animais estranhos que tinham como hobby gritar a plenos pulmões a noite.

Lucas ainda estava escondido no mesmo lugar, em um sono leve e constantemente interrompido, onde sempre que acordava ele olhava para os lados em busca de algo. Abraçava forte uma bolsa preta em forma de machado, com diversos adesivos de galos espalhados, ao seu lado uma mochila se escondia embaixo das folhas, quase se misturando a terra escura de vegetação seca da floresta a noite.

E mais uma hora se passou.

As fracas luzes dos chalés haviam se apagado, deixando o acampamento iluminado apenas pela luz da lua cheia daquela noite. E Lucas mais uma vez se acordou. Dessa vez o garoto parecia estar de fato acordado, pois fez um rápido alongamento e começou a ajustar as bolsas em seu ombro.

Entretanto, um barulho nos galhos atrás dele chamara sua atenção, mas não havia nada.

Lucas vasculhou o espaço atrás de si com atenção, mas parecia impaciente e logo esqueceu aquilo, jogou a mochila no ombro e encaixou confortavelmente o machado do outro lado e seguiu seu caminho em meio ao acampamento.

Lucas caminhava focado pela trilha de terra no meio do acampamento, passando pelos chalés apagados e sonolentos de seus amigos. Suas pegadas ficaram para trás na neve branca e fofinha que cobria o lugar, as lufadas de ar frio faziam o pelo em seu pescoço e braços se arrepiarem.

Mas então ele parou, sentindo um calafrio subir pela sua espinha, quando ouviu aquele som.

Aquelas odiáveis 3 palavras, ecoando como trovões em seus ouvidos.

— Ho ho ho.

O papai noel chegou.

— Esse ano você não me escapa Noel  — Sussurrou para si mesmo, para então sair correndo.

Lucas se movia com cautela, porém de forma ágil, sendo o único som que produzia o de sua respiração. O garoto corria atrás da voz do bom velhinho, concentrado em não perder seu rastro, não o deixando perceber ser seguido por uma figura misteriosa.

Após correr e escorregar por alguns minutos, ele finalmente estava vendo, ao longe, em cima do chalé de Afrodite, uma enorme figura se projetava.

Um trenó vermelho claro e levemente brilhante como um enfeite de natal, descansava estacionado. Nada parecia puxá-lo como falavam as lendas e o bem velhinho aparentemente havia saído para fazer suas entregas.

Esse é o momento, Lucas pensou, ansioso.

E novamente se moveu sem fazer barulho, indo em direção ao trenó, começando a escalar o chalé das filhas do amor. Quando finalmente conseguiu tocar o telhado da pequena casa, ele parou ao ver uma bunda enorme e vermelha sair por uma misteriosa abertura que havia se formado ali.

Lucas sorriu vitorioso, se pendurou do lado, e puxou sua bolsa em forma de machado onde guardava seu machado de verdade. Sua estratégia era clara, ia encher a bunda daquele velho babão de porrada e fazer ele pagar por tudo.

Lucas se preparou, esperando ele sair só mais um pouco, e então… Lucas caiu, sendo puxado para baixo, fazendo seu machado bater em suas bolas de natal.

— O que você está fazendo aqui? Se as harpias nos pegarem estaremos mortos.

Uma voz feminina irritada, porém baixa, soava em meio ao silêncio noturno, mas Lucas não estava ouvindo muito bem, havia sido quase fatalmente ferido, prendendo um grito fino na garganta enquanto segurava seus preciosos Jingle bells.

Infelizmente Lucas não pôde pensar muito nos seus futuros filhos, pois conseguiu escutar um leve tilintar de sinos logo acima do chalé, ele iria perder sua chance, e se perdesse teria que esperar mais um ano novamente para colocar seu plano em prática, então sem pensar muito e de forma corajosa, Lucas se levantou ainda um pouco desequilibrado.

O garoto se jogou novamente do lado do chalé da deusa do amor, se pendurando e começando a escalar os enfeites da casa, enquanto vez ou outra deixava com que lágrimas de dor rolassem por seu rosto, contudo, a mesma pessoa que o havia atrapalhado antes o puxava para baixo.

—  Sai dai, você vai se machucar e depois vai matar a gente.

Lucas ainda não conseguia identificar quem era, seu objetivo o cegava. A garota o puxava, pedindo, implorando, que ele parasse com aquela ideia insana, enquanto que o mesmo tinha uma determinação inabalável que conseguiu o levar até a borda do telhado, onde conseguiu flagrar seu alvo prestes a levantar voo.

Um desespero tomou conta do seu peito, ele não podia deixá-lo escapar. Lucas olhou ao redor, procurando algo que pudesse ajudar, até que ele sentiu algo bater na lateral do seu corpo, vendo uma corda pender de sua mochila.

Bingo!

Com certa dificuldade, o garoto conseguiu puxar a corda com uma das mãos, e em um rápido e ágil movimento que jamais se repetiria de novo, ele jogou a corda que já estava com um nó, em direção ao trenó, o nó se enroscou bem na base do trenó.

Lucas sorriu.

O Noel riu.

A garota gritou.

E os adolescentes saíram voando.

                                                 [...]

 

A noite estava tranquila, a neve branca como um véu cobria tudo o que os olhos tocavam, um clima frio porém agradável tomava conta de todos os lugares, as luzes das ruas brilhavam de forma aconchegante, e o aroma adocicado de chocolate quente e biscoitos recém saídos do forno se espalhavam. 

Havia dado meia noite, já era natal, e o estrondoso soar do sino do BigBen era o primeiro a desejar um Feliz Natal a quem pudesse ouví-lo.

Calma, peraí, Big Ben?

— A gente tá em Londres?! — A garota de antes gritou desesperada.

— Ah, é você Bela? O que cê tá fazendo aqui, também quer matar o Nicolau? — Lucas perguntava tranquilo, parecendo ignorar que estava a milhares de quilômetros do chão.

Pois é meus queridos leitores, uma informação que ficou faltando, foi o fato de que nossos queridos personagens não obtiveram uma decolagem muito boa. Ao conseguir prender a corda no trenó, Lucas se enroscou na corda de forma desajeitada e acabou por prender sua irmã Bela e ambos alçaram voo presos por uma corda pouco confiável.

Mas enfim, vamos continuar.

— O que eu tô fazendo aqui? — Bela gritava irritada se agarrando a corda que prendia o trenó como se sua vida dependesse daquilo, pois de fato dependia — Você me prendeu aqui! E como assim matar o papai Noel? Você tá ficando doido!

— Tá, eu posso ter exagerado — Lucas conversava de forma tranquila, como se não corresse nenhum tipo de perigo — Mas eu vou dar uma lição nesse bundão e ele vai aprender a não mexer comigo.

— Do que caralho você está falando?

Porém quando Lucas ia responder, ambos sentiram seus corpos serem atingidos por uma pressão avassaladora e que instintivamente os fizeram se segurar ainda mais forte na única coisa que os impedia de ter uma morte certa.

Em um momento estavam em Londres ouvindo o estrondoso sino do Big Ben, vendo as luzes sob seus pés, sentindo o cheiro da industrialização e poluição e no segundo seguinte ambos estavam caindo em queda livre, enquanto rajadas geladas açoitavam seus corpos.

Lucas gritava ameaças de morte ao Noel, enquanto Bela gritava xingamentos contra Lucas e que se sobrevivessem aquilo ela iria matá-lo pessoalmente.

E para suas sortes — Ou não — de fato sobreviveram a queda.

Os dois adolescentes caíram sob uma amontoado fofo de neve, deslizando rapidamente. Seus gritos não haviam parado desde a queda livre.

Era impossível controlar a direção que iam, eram levados pelo ambiente deslizando de um lado para o outro em meio a neve, se trombando e girando. Parecia um novo tipo de esporte radical na neve, mas com muito mais chances de morte.

Até que suas quedas, que já parecia infinita, tomou um fim quando deram uma cambalhota no ar caindo exaustos e talvez com as calças levementes borradas sob a neve.

— Eu… — Lucas falava, ofegante — Terei… Minha vingança.

Bela, com o resto de forças em seu corpo, jogou um punhado de neve na cara do garoto.

— Cala a… Boca.

Eles estavam com frio, cansados, com certeza machucados e eles precisavam se levantar, mas faltava força em seus corpos. Um sono e torpor começava a tomar conta de suas mentes. Eles iriam morrer ali e seria tudo culpa de Lucas.

Mas algo aconteceu.

Vozes açucaradas soavam de todos os lados, uma luz fraca começava a iluminar. Ao mesmo tempo que pequenas pontadas de calor acompanhavam aqueles pontos luminosos, sininhos tocavam e o cheiro de algo doce atacavam suas narinas com enorme violência. Quando pessoinhas pequeninas usando roupas coloridas se aproximaram de seus corpos quase inconscientes, Bela conseguiu ouvir Lucas perguntar antes de adormecer.

— Olha, a família do Fafá.


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